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O PAPEL DA COMUNIDADE NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA

O conceito de comunidade conforme nos orienta o Dicionário Aurélio (Ferreira, 2010), “é


um grupo local, de tamanho variável, integrado por pessoas que ocupam um território
geograficamente definido e estão irmanados por uma mesma herança cultural e histórica”
(p.156). Comunidade é por nós entendida como um agrupamento de pessoas que vivem dentro de
uma mesma área geográfica, rural ou urbana, unidas por interesses comuns e que participam das
condições gerais de vida. No entanto, as comunidades variam quanto ao seu tamanho e à
organização, compreendendo tipos bem diferentes, podendo ser uma aldeia ou uma grande
cidade. Entre esses dois extremos observa-se grande número de comunidades intermediárias,
onde todas apresentam qualidades comuns: o habitat definido e instituições sociais
suficientemente desenvolvidas para satisfazer as necessidades da população. O termo
comunidade ainda é usado para denominar uma forma de associação muito íntima, um grupo
integrado onde os membros se encontram ligados uns aos outros por laços de simpatia. Nesse
sentido, qualquer grupo pode constituir uma comunidade, por exemplo, comunidades que vivem
submetidas à mesma crença religiosa, ideológica ou educacional.

Nesse sentido, a escola possibilita uma rede de interacção onde todos participam, quer queiram
ou não, num raio de acções que não são apenas pedagógicas, mas também políticas, contribuindo
nesse sentido para o exercício da democracia participativa. Essa visão é de extrema relevância
para a compreensão do que seja o sentido de comunidade escolar da qual estamos falando no
contexto investigado, já que tal concepção acaba se reflectindo no tratamento dispensado aos
atores escolares no quotidiano da escola. Para Lück (2002) o relacionamento entre os pais dos
alunos e a comunidade escolar, quer em reuniões, quer em contactos individuais, é de imposição
pura e simples, ou ainda a de quem está "aturando" as pessoas, por interesse económico,
condescendência ou por falta de outra opção (p.78).

De um modo ou de outro, prevalece à impressão de que os pais ou responsáveis dos alunos


por sua condição económica e/ou cultural precisam ser tutelados, como se lhes faltasse algo para
serem considerados cidadãos por inteiro. Paro (1992) destaca que esse comportamento se
reproduz também no processo pedagógico em sala de aula, onde a criança é encarada "não como
sujeito da educação, mas como obstáculo que impede sua realização".
O Estado democrático de direito é um conceito que designa qualquer Estado que se aplica a
garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito pelos direitos humanos e pelas
garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma protecção jurídica. Em um estado de
direito, as próprias autoridades políticas estão sujeitas ao respeito das regras de direito. (Aurélio,
2001, p.112)

Diante dessa postura depreciativa em relação à comunidade escolar, muitos pais ou


responsáveis se sentem diminuídos em seu auto conceito, o que os afasta da escola para não
verem seu amor-próprio constantemente ferido. Outros conseguem perceber o preconceito com
que são tratados, e se afastam, diante da dificuldade de contribuir em condições democráticas de
direito. No entanto, para que se materialize na escola o sentido de comunidade seria necessário,
segundo Barroso (1998).

Transformar cada escola numa unidade autónoma de gestão, que concedesse aos seus sujeitos,
meios para definirem suas políticas de estabelecimento de ensino e de planos de acção de acordo
com a especificidade de cada um dos implicados no processo educativo, ou seja, alinhada aos
interesses de pais, professores, alunos, enfim, de todos os que trabalham na escola.

Esse sentido de comunidade no interior da escola se torna difícil por conta dos condicionantes
políticos que permeiam ou transversalizam a escola, materializada nas responsabilidades para
com ela, que se origina nos encaminhamentos do Ministério de Educação – MEC, instância da
qual emanam as leis de bases da educação, as quais também se materializam nas secretarias
estaduais e municipais de educação, se consubstanciando na escola através do PPP (Barroso,
1998). Para entender essa configuração de escola-comunidade precisamos buscar apoio nos
escritos de Delval (2006) na sua obra “Manifesto por uma escola cidadã”, quando o autor
considera as dimensões complementares dessa relação como sendo de conteúdo e de forma. Do
ponto de vista do conteúdo, o que esses novos processos educativos devem objectivar é trazer
para o dia-a-dia da escola a dimensão ética e de responsabilidade social de todos para com os
programas de educação básica, complementando e enriquecendo concepções multi, inter e
transdisciplinares de conhecimento.

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