Você está na página 1de 6

:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 1 de 6

RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº D.E.


2006.71.00.004533-6/RS
RELATOR : Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ Publicado em 05/11/2007
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RECORRIDO : GUILLERMO FRANCISCO NOVERASCO
ADV. (DT) : Carolina Finger Martinez Morales

EMENTA
PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA.
EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS SEM PROVA DO INGRESSO DOS VALORES
CORRESPONDENTES NO PAÍS. EVASÃO DE DIVISAS. ATIPICIDADE.
1. A não-comprovação de ingresso, no país, de valores que supostamente
deveriam ter ingressado, em virtude de exportação de mercadorias efetivamente operada, não
constitui conduta omissiva típica.
2. Se por evasão, nas palavras de Rodolfo Tigre Maia, se deve entender "a
saída clandestina do país" de moeda ou divisa para o exterior, não se pode ter por
configurado o delito previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86 quando o
agente, ao proceder à exportação de mercadorias, não efetua a operação de câmbio
correspondente. Hipótese em que os dólares não saíram, mas deixaram de entrar em
território nacional. A utilização da interpretação extensiva é perfeitamente aplicável em
Direito Penal (Damásio de Jesus. in Direito Penal, 1º vol. São Paulo: Saraiva, 1992,
pp.35/6). Esse recurso hermenêutico, contudo, não pode ser levado a um limite tal que não
mais se distinga da analogia em desfavor do réu.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar parcial
provimento ao recurso criminal em sentido estrito, tão-somente para afastar a declaração de
extinção de punibilidade do denunciado Guillermo Francisco Noverasco, mantendo a
rejeição da denúncia, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 24 de outubro de 2007.

Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ


Relator

RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº 2006.71.00.004533-6/RS


RELATOR : Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RECORRIDO : GUILHERMO FRANCISCO NOVERASCO

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 2 de 6

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso em sentido estrito oposto pelo Ministério Público Federal


contra decisão que rejeitou a denúncia apresentada contra Andreia Soares Silveira e
Guillermo Francisco Noverasco, como incursos no delito capitulado no art. 22, parágrafo
único, da Lei nº 7.492/86, pela prática dos seguintes fatos (fl. 131):

"(...) Durante o período de 28/04/1999 a 14/08/2000, os denunciados ANDREIA SOARES


SILVEIRA, na qualidade de proprietária da firma individual ANDREIA SOARES SILVEIRA
(CNPJ 03.033.587/0001-23), consoante documento de constituição da fl. 75, e GUILLERMO
FRANCISCO NOVERASCO, atuando como gestor de fato da referida empresa, em comunhão
de esforços e unidade de desígnios promoveram, sem autorização legal, a saída de divisas
para o exterior, sob a forma de mercadorias, no valor de US$ 236.025,00(duzentos e trinta e
seis mil vinte e cinco dólares norte-americanos), ao amparo dos Despachos Aduaneiros
indicados nas fls. 20/21, sem a comprovação do ingresso da correspondente moeda
estrangeira no País por meio de estabelecimento autorizado a operar com câmbio, nem tendo
comprovado o retorno das respectivas mercadorias, conforme apurado pelo Banco Central
do Brasil. (...)" (Grifos no original).

O entendimento adotado na decisão recorrida, proferida em 13/10/2005, é de


que a conduta atribuída aos denunciados não configura crime de evasão de divisas
(exportação de mercadorias sem a correspondente celebração de contratos de câmbio e sem a
comprovação de ingresso de moeda estrangeira no País).

Em suas razões recursais, o Parquet alega que os denunciados cometeram o


crime de evasão de divisas, por meio do expediente de exportar mercadorias, sem o ingresso
do valor correspondente ao negócio efetuado. Sustenta que a expressão mercadoria
equipara-se ao termo divisa por meio de interpretação analógica, o que permite
compatibilizar a exegese do art. 22 da Lei nº 7.492/86 ao caso concreto. Aduz, outrossim,
que a saída física de moeda ou divisas não é pressuposto necessário para configurar o delito
em exame, como já decidiram o STJ e o TRF da 3ª Região (fls. 143/157).

Após a interposição do presente recurso, o magistrado de primeiro grau


determinou a cisão do processo, porquanto foi informado nos autos que o denunciado residia
na Argentina (fl. 186).

Diante do insucesso da cooperação internacional instaurada para viabilizar a


intimação do cidadão argentino Guillermo Francisco Noverasco acerca da interposição
deste recurso (fls. 240/252), o juízo a quo manteve a decisão recorrida (fl. 253), bem como
determinou a remessa dos autos a esta Corte.

Nesta Instância, a Procuradoria Regional da República da 4ª Região opinou


pelo provimento da impugnação (fls. 256/260).

Foi nomeado defensor dativo para assistir ao recorrido.

É o relatório.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 3 de 6

Peço dia para julgamento.

Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ


Relator

RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº 2006.71.00.004533-6/RS


RELATOR : Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RECORRIDO : GUILHERMO FRANCISCO NOVERASCO

VOTO

A discussão travada nos presentes autos versa sobre a tipicidade da conduta de


enviar mercadorias ao exterior sem que haja o ingresso no País dos valores correspondentes à
operação de exportação.

O magistrado singular rejeitou a denúncia oferecida contra Guillermo


Francisco Noverasco, tido pelo Parquet como incurso no art. 22, parágrafo único, primeira
parte, da Lei nº 7.492/86, sob os seguintes fundamentos (fls. 141/142):

"(...) No caso concreto, descreve a denúncia a conduta de exportar mercadorias sem a


comprovação do ingresso da correspondente moeda estrangeira no País por meio de
estabelecimento autorizado a operar em câmbio, nem tendo comprovado o retorno das
respectivas mercadorias, conforme apurado pelo Banco Central do Brasil. (fl. 129).
A conduta descrita, consoante acima exposto, não configuraria (sic) crime de evasão de
divisas. Admite-se que há fraude cambial como infração administrativa, mas sem preencher
os requisitos da tipificação penal. Por outro lado, poderá configurar o crime do parágrafo
único do art. 22, parte final, da manutenção dos valores no exterior, mas para que possa ser
oferecida denúncia nesse sentido será necessário determinar-se o local, a instituição
financeira e os valores mantidos nas contas, dados estes que não se encontram descritos na
peça oferecida pelo Ministério Público Federal.
Destarte, diante da atipicidade do fato quanto ao delito de evasão de divisas, e ante a
ausência de descrição acerca do delito tipificado no parágrafo único do art. 22 da Lei
7.492/86, rejeito a denúncia e reconheço extinta a punibilidade dos denunciados ANDRÉIA
SOARES SILVEIRA E GUILLERMO FRANCISCO NOVERASCO, de acordo com o art.
43, inciso I, do Código de Processo Penal, combinado com o art. 267, inciso VI, e seu § 3.º,
do Código de Processo Civil, aplicável analogicamente por força do art. 3.º do Código de
Processo Penal e art. 4.º da Lei de Introdução ao Código Civil." (Original grifado).

Tenho que a decisão recorrida deve ser mantida. Com efeito, somente por
interpretação extensiva do tipo penal em exame poderia se chegar ao resultado típico
pretendido pelo órgão ministerial, já que a descrição objetiva do art. 22, parágrafo único,
primeira parte, da Lei nº 7.492/86 prevê apenas a saída de divisas do país. Decorre daí, que o
simples ingresso de valores no território nacional não se enquadra na hipótese de crime
contra o sistema financeiro nacional. Se é assim, muito menos se pode cogitar como típico o

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 4 de 6

fato de ter havido "omissão na entrada de divisas", como bem referiu o


julgador singular (fl. 140).

No vernáculo, o termo "evasão" indica fuga, escapada (Dic. Houaiss). Ao


comentar o tipo penal que foram condenados os apelantes (art. 22, caput, da Lei 7.492/86),
Tigre Maia ensina: "o tipo objetivo incrimina a efetivação de operações de câmbio
desautorizadas, quando efetuadas com o especial fim de agir de promover a evasão de
divisas. Por evasão entenda-se a saída clandestina do país e por divisa "qualquer valor
comercial sobre o estrangeiro que permita a efetuação de pagamentos na forma da
compensação" (Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. São Paulo: Malheiros, p.
133).

Da análise do referido tipo penal, conclui-se que o caput contém um crime de


intenção (elemento subjetivo do tipo) que só se perfectibiliza por via da conduta de efetuar a
operação de câmbio não-autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do país. Logo,
resta afastada a hipótese de crime omissivo. Idêntico raciocínio aplica-se ao primeiro delito
previsto no parágrafo único do artigo 22 da Lei nº 7.492/86. No julgamento proferido pela
Egrégia 7ª Turma deste Regional, em caso análogo a este (RCCR nº 2002.04.01.012440-5,
julgado em 30.04.2003), o eminente Desembargador Federal Fábio Rosa assim se
posicionou:

"A forma equiparada prevista no parágrafo único do referido artigo diz o seguinte: "incorre
na mesma pena quem a qualquer título promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou
divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal
competente". Essa forma de evasão importa a retirada da divisa de dentro para fora do País.
A descrição do tipo penal é clara nesse sentido. Promover a saída de moeda ou divisa para o
exterior. Ora, impedir que a moeda entre no território nacional não é conduta típica,
poderia ser equiparada, mas isso por meio de um raciocínio de interpretação extensiva ou
analógica do tipo penal, o que é vedado em malam partem.(...) Como bem ressaltou o
julgador 'o fato da não contratação de câmbio pode ensejar sanções de natureza
administrativa, mas é penalmente atípico'. Poder-se-ía dizer que essa forma de atuar
importa a mesma conseqüência, ou seja, a quebra da integridade do Sistema Financeiro
Nacional, porque se manda riqueza para fora do País, e o valor que deveria integrar o
Sistema Financeiro não entra no País, portanto, prejudica sua integridade. Na realidade,
esse prejuízo até pode acontecer, mas ele não foi previsto na descrição do art. 22 da Lei nº
7.492/86."

A propósito do tema, transcrevo alguns precedentes deste Regional:

"PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO . REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. EXPORTAÇÃO


DE MERCADORIAS SEM PROVA DO INGRESSO DOS VALORES CORRESPONDENTES
NO PAÍS. EVASÃO DE DIVISAS. ATIPICIDADE.
1. A não comprovação de ingresso, no país, de valores que supostamente deveriam ter
ingressado, em virtude de exportação de mercadorias efetivamente operada, não constitui
conduta omissiva típica. (...)" (Oitava Turma, RCCR nº 2004.71.00.001579-7/RS, Rel. Des.
Federal Paulo Afonso Brum Vaz, DJU de 07/06/2006).

"PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. NORMA PENAL.


IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE ANALOGIA. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. ART. 22, PARA. ÚNICO, LEI 7.492/86.
1. A norma penal, sobretudo a incriminadora, deve ser interpretada restritivamente, sendo
vedado o uso da analogia. 2. O fato praticado pelos recorridos, consistente em operações de

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 5 de 6

exportação de mercadoria sem a comprovação dos contratos de câmbio pertinentes, em que


pese ser tão ou mias danoso à economia e à produção nacional, na medida em que saíram
mercadorias do País, e não ingressaram, pelo menos ao que se presume, as respectivas
divisas, é penalmente impunível, por não se enquadrar no tipo penal contido no parágrafo
único do art. 22 da Lei nº 7.492/86, que trata de evasão de divisas. 3. Deve ser mantida a
decisão que rejeita a denúncia, quando a conduta descrita apresenta-se atípica .Precedente
desta Corte." (7ª Turma, RCCR nº 2001.04.01.011338-5. Rel. Juiz José Luiz Germano da
Silva, DJU 12/09/2001).

De fato, se por evasão, nas palavras de Rodolfo Tigre Maia, deve-se entender
"a saída clandestina do país" de moeda ou divisa para o exterior, não se pode ter por
configurado o delito previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86 quando o agente,
ao proceder à exportação de mercadorias, não efetua a operação de câmbio correspondente.
Os dólares não saíram, mas sim deixaram de entrar em território nacional. O professor
Damásio de Jesus entende que a utilização da interpretação extensiva é perfeitamente
aplicável em Direito Penal (Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 35). Esse recurso
hermenêutico, contudo, não pode ser levado a um limite tal que não mais se distinga da
analogia em desfavor do réu. Nesse sentido, reporto-me à valiosa doutrina de Andrei
Zenkner Schmidt e Luciano Feldens (O Crime de Evasão de Divisas: A Tutela Penal do
Sistema Financeiro Nacional na Perspectiva da Política Cambial Brasileira. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006, p. 226-7):

"(...) O primeiro diz com a constatação sobre se o não-ingresso de moeda ou divisa é conduta
que possa ser equiparada à sua saída, hipótese que, acaso afirmada, solucionaria a questão
em favor da primeira parte do dispositivo legal estudado. É dizer: ao não repatriar a
contraprestação financeira da mercadoria exportada, o sujeito ativo (exportador) teria
deixado de fazer ingressar a correspondente moeda ou divisa, incidindo, pois, nos limites do
tipo. Resta-nos negar a hipótese, porquanto não permitida tamanha extensão da tipicidade
em face do princípio da taxatividade da lei penal, corolário lógico do princípío da legalidade
(art. 5º, inc. XXXIX, da Constituição), precisamente no ponto que assevera inexistir crime
'sem lei anterior que o defina'. Parece claro que sob os postulados dogmáticos que
sobrepairam o Direito Penal incriminador não se é de considerar como legalmente definida
uma conduta que apenas por equiparação pode ser tipicamente alcançada. Atente-se: e por
uma equiparação que não é legal, a exemplo do que legitimamente ocorre no ambiente da
própria Lei 7.492/86 (art. 1º, parágrafo único, e art. 25, § 1º), mas por uma equiparação que
em nada se diferencia da analogia. Parece-nos inexistir qualquer dúvida quanto à lesividade
(à política cambial) da conduta sob exame, a qual, sob esse aspecto, em nada se diferencia
daquela consubstanciada em uma evasão (saída) de moeda ou divisas propriamente dita.
Nada obstante, o problema reconduz-se aos limites da tipicidade formal: o tipo, para além da
perda de moeda ou divisas, requer que esta conduta se tenha dado pela saída do território
nacional ao exterior. Indubitavelmente, trata-se de uma proteção legal de única mão e,
portanto, imperfeita. Sucede que por tal imperfeição não responde o cidadão. Ainda que
inegável a lesividade decorrente de sua conduta, esta não se subsume formalmente à hipótese
normativa.
O segundo problema refere-se à possibilidade de atribuir-se à elementar divisa um sentido
que nela se faça compreender a mercadoria destinada à exportação. Se respondida
afirmativamente, a questão estaria solucionada nos limites da 1ª parte do parágrafo único,
porquanto ao promover a saída de mercadorias o exportador não estaria senão promovendo
a saída de divisas, complementando-se, pois, a exigida relação subsuntiva. Trata-se, aqui, de
buscar o significado técnico de um elemento normativo do tipo; esse o núcleo da questão.
Como vimos, entretanto, uma tal equiparação não é de ser feita. Ainda que seja inegável a
existência de prejuízo à política cambial brasileira, os limites do tipo insculpido na 1ª parte
do parágrafo único não albergam essa hipótese. Uma tal incongruência, entretanto, não nos
parece o bastante para fazer enquadrar as mercadorias exportadas no conceito de divisas, o
qual, se não é unívoco, tampouco permite, notadamente para efeitos penais, que se lhe
agreguem sentidos substancialmente dissociados daqueles decorrentes de suas linhas
conceituais gerais. Em sede de Direito Penal, a interpretação acerca da restrição de direitos

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 6 de 6

fundamentais encontra-se alinhavada de forma sabidamente mais rígida. Demais de alocada


na lei, está assentada em uma interpretação estrita da lei. (...)"

De outra banda, cabe salientar que a decisão ora recorrida foi ratificada por este
Colegiado ao apreciar a irresignação ministerial no tocante à co-denunciada Andréia Soares
Silveira (RSE nº 2004.71.00.011010-1/RS, Rel. Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz, DJ de
10/05/2006), nos termos do acórdão abaixo transcrito:

"PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. EXPORTAÇÃO


DE MERCADORIAS SEM PROVA DO INGRESSO DOS VALORES CORRESPONDENTES
NO PAÍS. EVASÃO DE DIVISAS. ATIPICIDADE.
1. A não comprovação de ingresso, no país, de valores que supostamente deveriam ter
ingressado, em virtude de exportação de mercadorias efetivamente operada, não constitui
conduta omissiva típica. 2. Se por evasão, nas palavras de Rodolfo Tigre Maia, se deve
entender "a saída clandestina do país" de moeda ou divisa para o exterior, não se pode ter
por configurado o delito previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86 quando o
agente, ao proceder à exportação de mercadorias, não efetua a operação de câmbio
correspondente. Hipótese em que os dólares não saíram, mas deixaram de entrar em
território nacional. A utilização da interpretação extensiva é perfeitamente aplicável em
Direito Penal (Damásio de Jesus. In Direito Penal, 1º vol. São Paulo: Saraiva, 1992,
pp.35/6). Esse recurso hermenêutico, contudo, não pode ser levado a um limite tal que não
mais se distinga da analogia em desfavor do réu."

Destarte, pelos fundamentos expostos, mostra-se acertada a decisão recorrida


que considerou atípica a conduta descrita na exordial acusatória.

Para concluir, deve ser afastada a declaração de extinção de punibilidade do


denunciado. Com efeito, não está descartada a hipótese de o órgão ministerial coletar outras
provas que possam demonstrar a ocorrência de crime diverso do que se lhe pretendeu
imputar nesta denúncia, desde que seja derivado da conduta ora examinada, possibilidade
esta que o próprio julgador deixou registrada (fl. 142): "Por outro lado, poderá configurar o
crime do parágrafo único do art. 22, parte final, da manutenção dos valores no exterior,
mas para que possa ser oferecida denúncia nesse sentido será necessário determinar o
local, a instituição financeira e os valores mantidos nas contas, dados estes que não se
encontram descritos na peça oferecida pelo Ministério Público Federal".

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso criminal em


sentido estrito, tão-somente para afastar a declaração de extinção de punibilidade do
denunciado Guillermo Francisco Noverasco, mantendo a rejeição da denúncia.

Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ


Relator

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&doc... 9/6/2009

Você também pode gostar