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Fonte: https://fpmt.

org/mandala/archives/mandala-issues-for-
2011/january/nine-questions-about-vegetarianism/

Geshe Thubten Soepa:

Tradução livre. Peço desculpas antecipadamente por quaisquer


imprecisões na tradução e admito a responsabilidade por elas.

“Nove Questões sobre Vegetarianismo

Cuidando de si mesmo

Esta série de perguntas e respostas sobre vegetarianismo com o Geshe


Thubten Soepa é uma continuação de ‘Mantendo um Modo de Vida
Saudável por Meio do Vegetarianismo’ por Diana Gorbea, da edição de
janeiro-março da Mandala localizado à pag. 53.

1: Nos monastérios do Tibete as pessoas comem carne, o que contradiz


um pouco com o resto dos monastérios Budistas de outras tradições como
aqueles no Sri Lanka, Tailândia, Burma, Taiwan e China. Poderia nos
explicar o motivo disso?

Nos monastérios iniciais do Século IX, sete novos monges e seus


professores, Shantarakshita e Guru Padmasambhava, ensinaram novos
Budistas a não comer carne. Entretanto, os Tibetanos comiam carne
mesmo assim por causa que isso era uma tradição antiga – um hábito de
quando oferendas eram feitas com carne e sangue. Shantarakshita e Guru
Padmasambhava disseram que se eles continuassem comendo carne e
fazendo oferendas de sangue, eles não dariam ensinamentos e
retornariam à índia.

O rei Tibetano Chisong Dusenge se desculpou à Shantarakshita e Guru


Padmasambhava e prometeu uma nova lei. Ele tem fez uma coluna no
qual escreveu uma lei de maneira que monges e monjas não ingeririam
comidas negativas ou “pretas” como carne ou álcool. Monges e monjas
que permaneceram nos monastérios não podiam comer carne. O rei
seguinte, Lang Tarma, destruiu o Budismo. Por 80 anos não havia monges
ou monjas Budistas. Quando o Budismo foi restaurado, o velho hábito
prevaleceu e muitas pessoas comiam carne. Então no século XII, Lama
Atisha veio e sugeriu que as pessoas não deveriam comer carne. Seu
alerta não foi forte o suficiente, então nem todos os Budistas pararam de
comer carne.

Nos ensinamentos Hinayana, comer carne é geralmente não permitido.


Entretanto, se uma pessoa tem problemas de saúde e precisa comer
carne, então seus assistentes pode encontrar comida de um animal que
morreu de causas naturais. A carne é então cozinhada com açafrão e o
monge ou monja cobre seus olhos de forma que não veja a carne quando
a comer.

Isso é o que eu li nos textos e escrituras do Kangyur. Se for feito sem


apego ou desejo; apenas para questões de saúde; e se ninguém matar
com intenção de alimentar humanos, então comer carne é permitido de
acordo com a ética Hinayana.

2: Como alguém pode reconciliar a motivação fundamental de bodhicitta


do Mahayana com comer carne?

Nos ensinamentos Mahayana o Buddha proibiu completamente comer


carne. Em muitos diferentes sutras (o Sutra Lankarawatara, O Grande
Sutra do Nirvana no Sutra Angulimala, o Sutra Sobre a Capacidade do
Elefante, o Sutra da Grande Nuvem), foi ensinado que se alguém está
tentando viver com grande compaixão, então comer carne não é
permitido. Isso é porque a pessoa tem que ver todos os seres sencientes
como nossa mãe, irmão, filho, etc. Também no Sutra Angulimala,
Manjushri perguntou a Buddha, ‘Por que você não come carne?’ Ele
respondeu que ele viu todos os seres como possuindo natureza-búdica e
essa foi a razão dele para não comer carne. Portanto, se você pratica
Mahayana e come carne, é uma contradição.

No Elevado Ioga Tantra Mahayana, eles usaram cinco tipos de carne e


cinco tipos de néctar. Os cinco tipos de carne são: humana, elefante, vaca,
cão e cavalo. Os cinco tipos de néctar são fezes, urina, sangue menstrual,
sêmen e tutano. Pessoas com grande realização transformam essas cinco
coisas sujas em bom néctar, ultimamente vendo que, coisas sujas e puras
são a mesma. Eles usaram esses tipos de carne (as pegando de animais
que morrem de causas naturais) para a prática de tsog. Não é permitido a
praticantes tântricos ordinários sem grande realização oferecer as cinco
carnes e os cinco néctares na prática de tsog. Ao invés disso, eles
deveriam oferecer frutas, suco, biscoitos ou outros alimentos sem carne e
ovos. Mas se você possui grande realização, você pode transformar tudo,
você pode até oferecer ‘kaka’ (nota minha: termo sem tradução no
original) para o tsog.

3: Os textos Budistas dizem que você não deveria comer carne de um


animal que foi especificamente sacrificado para esse objetivo? Existem
mais menções nas escrituras a favor de não comer carne?

Sim, todas as tradições concordam. Todos textos Hinayana, Mahayana e


Vajrayana são contra comer carne. Se você acredita em karma, é claro,
você não tem permissão para matar qualquer ser, incluindo a si mesmo e
não é permitido matar ou mandar alguém, como um açougueiro, matar
com a intenção de comer carne.

Outra razão é que se você toma refúgio no Dharma, há um


comprometimento de não causar dano a nenhum ser vivo direta ou
indiretamente. Mais particularmente, a tradição Mahayana enfatiza a
grande compaixão e bodhicitta. Portanto, não é permitido comer carne. A
razão principal é que se você acredita que todos os seres possuem
natureza-búdica, então você deve necessariamente acreditar que todos os
seres querem ser felizes e não querem sofrer porque essas são as
características da natureza-búdica.

4: Havia exceções a essa regra sobre comer carne no Tibete. Você tem
conhecimento de grandes professores que eram vegetarianos?

Os primeiros professores dos séculos IX e X: Shantarakshita, Guru


Rinpoche e Master Kamalashila. Lama Atisha no século XII levou os
monges e monjas a parar de comer carne. Atualmente, no Monastério
Sera, o qual é residência de mais de 6.000 monges e monjas, pelas leis do
monastério a ninguém é permitido comer carne. Se algum monge-
segurança do monastério ver que alguém está comendo ou comprando
carne, então é dada imediatamente uma multa de 1.000 rúpias. O Colégio
Tântrico Gyudmed possui mais de 500 monges que são vegetarianos.
Também, os Monastérios Gaden e Drepung. Também os monastérios em
Ladakh, Nepal e Butão possuem leis proibindo de comer carne. Também
Gampopa, da Linhagem Kagyu e Pagmo Drugpa, Digun Chopa, Digan
Chengawa, Taklung Tangpa e Togme Sangpo são grandes professores
vegetarianos. Há muitos outros das linhagens Sakya, Nyingma e Gelug.
5: Como um forte proponente do vegetarianismo, você pode nos dizer
como foi levado a isso?

Quando eu era jovem, sim, eu comia carne, já que minha mãe me dava.
Então, quando eu era um adolescente, eu vi alguns açougueiros matando
um iaque. Eu vi como eles o abriram. Eu também vi outros açougueiros
matando uma ovelha. Foi então que eu mudei de ideia e percebi que
matar animais era negativo e eu parei de desejar comer carne.
Posteriormente, quando eu estava na 13ª aula de Filosofia Budista,
tivemos muitos debates com colegas de classe e tivemos acesso à textos e
escrituras autênticos e originais. Eu entendi muito bem o que Buddha
estava pensando e dizendo. Eu escrevi meu primeiro livro e dei uma cópia
ao Dalai Lama. Sua Santidade me pediu para falar com ele por em torno
40 minutos e disse que ele gostou do livro e me parabenizou. Ele disse que
meu livro era muito necessário e útil e que eu deveria escrever mais livros
necessários e úteis.

Outra razão é que eu visto mantos monásticos significando que eu sou


um praticante espiritual. Ser parte da Sangha significa ser um bom
exemplo. Portanto, eu não como carne.

6: Você pode citar os nomes dos professores Tibetanos atuais que


defendem não comer carne?

O professor Nyingmapa Chatel Sange Dorje Rinpoche, que tem 96 ou 97


anos de idade, não come carne ou ovos e aconselhou os monges
Nyingmapa dele a não comer carne.

Lama Zopa Rinpoche não come carne e possui muitos projetos de


salvamento de animais.

O 17º Karmapa Urgyen Trinley Rinpoche enfatiza o vegetarianismo e


instrui os estudantes a não comer carne.

Há outros mestres Tibetanos que não comem carne, como o Sakya lama
Pemaomgda de Nova Iorque, o lama Nyingma Pema Ongyel e o monge
Francês Matthieu Ricard.
7: Sua Santidade o Dalai Lama admite que ele tentou para de comer carne,
mas seus médicos recomendaram a ele continuar comendo carne. Como
isso é possível? Isso é um pouco chocante, porque na Índia milhões de
pessoas são vegetarianas ao longo da vida. Poderia nos dizer sua opinião?

Sua Santidade o Dalai Lama come carne uma vez por semana para sua
saúde.

Ele dá uma explicação perfeita. Ele diz que você não deveria comer carne,
mas se você precisa, pode comer um pouco, não toneladas. De qualquer
forma, ele diz que é melhor não comer carne. E ele também diz que se
você não comer carne, você é o melhor.

Quando o 14º Dalai Lama se tornou o líder do Tibete aos 16, ministros
deram uma festa com um monte de carne na comida. Quando ele viu
aquilo, ele decidiu que dali em diante, as festas seriam vegetarianas. A
partir de então, carne não é permitida nas festas, o que eu acho
fantástico. Além disso, quando ele dá ensinamentos do Dharma, todos
presentes são requisitados a se tornar vegetarianos durante a duração. Ele
também requisita isso aos restaurantes da área pela duração dos
ensinamentos; de outra forma, eles estariam matando muitos animais e
vendendo carne.

Sua Santidade o Dalai Lama diz que os humanos são os piores matadores
da terra. Se não houvesse humanos, então os peixes, frangos e outros
animais seriam livres.

Na minha opinião, o caso do Dalai Lama e o das pessoas ordinárias é


completamente diferente. Pessoas ordinárias querem comer carne por
causa do desejo ou mau hábito. Ele certamente é uma pessoa com
grandes realizações e ele não come carne por causa do desejo ou hábito.
Pessoas com grande realização podem comer carne por diferentes
motivos. Por exemplo, de acordo com sua biografia, Mahasiddha Tilopa
ficava o dia inteiro pescando e comendo carne. Ele era uma pessoa de
grandes realizações. Essa é minha opinião, mas por favor não apenas
acredite na minha opinião. Eu não sei a verdadeira razão pela qual ele fez
isso.

8: Você pode explicar brevemente os benefícios do vegetarianismo de um


ponto de vista espiritual ou de saúde?
Motivos de um ponto de vista espiritual são encontrados no Sutra
Lankavatara. Lá, o Buddha diz para parar de comer carne porque, de outra
forma, os resultados completos não serão alcançados com a prática de
mantra. Além disso, se você comer carne, os deuses vão te abandonar e
não virão quando os convidar. Portanto, o Sutra Lankavatara diz, iogues
não comem carne. Além disso, se você come carne, você não pode
desenvolver grande compaixão e sabedoria. O Pandita Kamalashila disse
que se você come carne não poderá realizar shamata.

Do ponto de vista da saúde, muitos médicos e cientistas estudaram o


vegetarianismo e descobriram que pessoas em países pobres que não
podem comer carne e são vegetarianos ficam menos doentes, são menos
propensos a ter câncer de pulmão e outras doenças. Pessoas ricas que
comem carne são mais propensas a ficar doentes. Vegetarianos possuem
menos problemas de pressão e problemas de coração, enquanto
comedores de carne ingerem muitos óleos na carne que entram em seus
corpos e causam o espessamento de seu sangue! Se você come carne, sua
digestão é muito pesada e o fígado é danificado. Também, comer carne é
um obstáculo em desenvolver sua mente e você se sente mais raivoso e
menos inteligente. Além disso, vegetarianos envelhecem mais devagar e
vivem mais.

9: Qual conselho você daria a um praticante Ocidental que come carne


regularmente?

Se você for um monge ou monja da Sangha e continuamente come carne,


achando difícil de controlar seu hábito, então é melhor fazer isso
reservadamente e não mostra a ninguém, porque você é um exemplo. Se
você não consegue parar de comer carne completamente, então tente
comer menos carne, o mínimo possível. Não coma apenas por desejo ou
pelo sabor. Veja a carne como um remédio, não como um alimento diário.
Se você veste mantos e segue o exemplo compassivo de Buddha, então
comer carne é uma contradição. Além disso, nos países do Ocidente você
pode encontrar várias coisas para comer para substituir carne, então não
há necessidade de come-la. Você deveria controlar seu desejo de comer
carne.

Nesse vídeo, Geshe Thubten Soepa continua seus argumentos em apoio ao


vegetarianismo.
Geshe Thubten Soepa é um professor-viajante “FPMT-registrado”
dedicado à promoção do vegetarianismo.”

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