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Gustave de Molinari foi o primeiro

economista do laissez faire a defender o fim do


monopólio da segurança e a sua oferta no livre
mercado – como qualquer outro bem. Sendo
considerado um dos percursores do anarquismo
de mercado.
O texto a seguir publicado em 1855 e
revisado em uma segunda edição em 1863, faz
parte do segundo volume do curso de economia
política criado por Gustave de Molinari.
Segundo Molinari tal expressão “as úlceras
das sociedades” esta relacionada ao caráter
antieconômico dos governos. Molinari também
enfatiza que tal frase foi inicialmente citada por
Jean Baptiste Say, que ao proclamar tal frase,
afirma que a existência do governo resulta
num desvio crescente de energia produtiva para
fora da sociedade através dos impostos e dívidas,
aumentando os custos de produção e permitindo
o enriquecimento fácil de uma categoria
particular que controla a oferta desses serviços –
e por essa análise (J.B Say) é considerado como
um dos primeiros teóricos liberais da luta de
classes, entendida como a luta política entre
espoliadores legais e espoliados.
A receita prescrita por Molinari pode ser
dividida em duas medidas:
1º – O fim dos monopólios setoriais do
governo e a sua transferência para o domínio da
atividade privada.
2º – Submeter os governos, como todas as
outras empresas e instituições, à lei da
concorrência e da liberdade de associação.
Curso de Economia Política, , 1863, 2e
édition. Vol. 2.
Segunda Lição, Por Gustave de Molinari
Sobre os serviços públicos:
O governo é a úlcera da sociedade e o
remédio para este mal é a simplificação e a
submissão dos governos à lei da concorrência e
da livre associação – assim como todas as outras
empresas e instituições, permitindo o
restabelecimento da ordem econômica.
Sob monopólio, a distribuição útil dos
serviços é artificialmente agravada pela
ignorância econômica dos princípios da
especialidade e pela proibição da concorrência,
elevando o custo na produção de serviços e
permitindo lançar parte da despesa dos serviços
fornecidos atualmente para a geração futura. O
que ocorre de fato é a promessa de uma
contribuição futura dentro da distribuição e
despesa dos serviços atuais.
Tal encargo recai principalmente
na parcela menos influente dentro do estado, ou
seja, sobre as classes mais pobres da sociedade,
que são aquelas que proporcionalmente
financiam a maior e recebem a menor parte dos
serviços públicos.
E como a totalidade das receitas nunca é
suficiente para cobrir a totalidade das
despesas, todos os governos são regularmente
obrigados a emprestar para completar os déficits
constantemente recorrentes e assim acabam por
ampliar os setores monopolizados.
No momento onde estamos (1864),
as dívidas reunidas – sem contar as de sub-
governos provinciais, cantonês ou comunidades,
ultrapassam os 60 milhões e elas aumentam de
ano em ano¹.
O que isto significa?
Isto significa que uma parte das taxas de
produção dos serviços públicos é colocado ao
encargo das gerações futuras, no lugar de ser
quitada genuinamente pela geração que
consumiu estes serviços.
Esta facilidade imoral de direcionar ao
futuro uma parte das taxas de consumo
presente não irá inevitavelmente
incentivar os governos a aumentar
incessantemente as suas despesas?
Imaginemos se uma prática análoga fosse
possível em bens privados. Quais dívidas
faríamos no armazém de especiarias, no alfaiate
ou no sapateiro, se pudéssemos, em se
autorizando de uma prática geralmente aceita,
rejeitar sobre “as gerações futuras” a obrigação de
os pagar!
Duas possibilidades seriam possíveis: ou as
gerações futuras sucumbiriam um dia sobre o
fardo dessas dívidas acumuladas, ou elas
rejeitariam, como será seu direito, de os quitar,
em outras palavras – entrariam em falência.
E é pela sua constituição antieconômica,
que os governos se tornaram, seguindo uma
expressão enérgica de J. B. Say, “as úlceras das
sociedades”².
A medida que a população e a riqueza
aumentam, graças ao desenvolvimento
progressivo das indústrias em concorrência, uma
massa crescente das forças produtivas é retirada
da sociedade, pelo meio da bomba aspirante de
impostos e empréstimos, pelo apoio ás taxas de
produção de serviços públicos ou por melhor
dizer, pela manutenção e o enriquecimento fácil
da classe particular que possui o monopólio da
produção desses serviços.
Não somente, os governos aumentam cada
dia mais o custo de suas produções
monopolizadas, sobre uma escala colossal,
direcionando recursos à empresas prejudiciais
(como a indústria bélica), à uma época onde a
guerra, tendo cessado de ter sua razão de ser,
tornou a mais bárbara e o mais odiosa dos
anacronismos.³
A esta úlcera que devora as forças vivas
das sociedades, à medida que o progresso os
faz nascer, qual é o remédio?
Se, como nós tentamos demonstrar, o mal
provém da constituição antieconômica dos
governos, o remédio consiste evidentemente a
conformar esta constituição aos princípios
essenciais que ela ignora, por assim dizer, a lógica
econômica. É necessário para isto, em primeiro
lugar, deslocar os governos de todas as
atribuições que foram anexadas a sua função
natural – de produtores da segurança, do ensino,
do culto, da monetização, do transporte e outros
para dentro do domínio da atividade privada e
em segundo lugar, submeter os governos como
todas as empresas, a lei de concorrência.
Já, a causa da simplificação das atribuições
governamentais ganhou na teoria bastante
apoio, mesmo que ainda não esteja em prática 4.
Em contrário, a ideia de submeter os governos ao
regime da concorrência é ainda geralmente
olhada como utópica 5. Mas sobre este ponto os
fatos retornam a teoria. O “direito de secessão”
que se traça hoje um caminho no mundo terá por
consequência necessária o estabelecimento da
liberdade de governo e da livre associação.
Quando este direito for reconhecido e aplicado
de forma efetiva, a concorrência política servirá
de complemento a concorrência agrícola,
industrial e comercial.
Sem dúvida, este progresso será lento à
realizar, mas é assim em basicamente todos os
progressos.
Quando observamos a quantidade de
interesses envolvidos e os obstáculos, entramos
em desespero e pensamos em jamais vê-los
realizados. Escutemos Adam Smith, que tão cedo
dizia no século anterior sobre a liberdade
comercial:
“Na verdade, esperar que a liberdade de
comércio seja um dia totalmente restabelecida na
Grã-Bretanha é tão absurdo quanto esperar que
um dia nela se implante uma Oceana ou uma
Utopia. Não somente os pré julgamentos, mas o
que é bem mais insuperável, são os interesses
particulares de um certo número de indivíduos
poderosos que se o opõem irresistivelmente.”
“Se os oficiais de um exército se opuserem a
toda redução das tropas com tanto zelo e
unanimidade que os mestres manufaturadores se
levantam contra toda lei tendendo a aumentar a
concorrência sobre o mercado interior; Se os
primeiros animassem os seus soldados como os
outros agitam seus trabalhadores para se
opor contra toda proposição de uma medida
parecida, não teria menos perigo a reduzir um
exército, que não o teve ultimamente a querer
diminuir a qualquer consideração sob
o monopólio que nossos manufaturadores
obtiveram contra seus concidadãos.”
“O membro do parlamento que vem ao
apoio de toda proposição feita por fortificar o
monopólio é certamente de adquirir não somente
a reputação em escutar o comércio, mas do favor
e do crédito em uma ordem de homens a quem
sua multidão e suas riquezas dão uma grande
importância. Se ele se opõem, ao contrário, e que
ele tenha suficientemente mais autoridade para
os atravessar em seus projetos, nem a probidade
mais reconhecida, nem o mais alto nível, nem os
maiores serviços feitos ao público podem o
colocar ao abrigo da detração e das calúnias mais
infames, dos insultos pessoais, e algumas vezes
do perigo real que produz o desencadeamento
dos monopolistas furiosos e decepcionados em
suas esperanças 6.”
Entretanto, a liberdade comercial acaba por
ter a razão dos “monopolistas furiosos” onde fala
o pai da economia política, e podemos hoje, sem
abandonar sonhos utópicos, esperar que antes
um século o sistema protetor não existirá mais
que ao estado de más lembranças na memória
dos homens. Porque os monopólios políticos não
desaparecem a seu turno como estão
desaparecendo os monopólios industriais e
comerciais? Se eles dispõem de uma potência
formidável, os interesses à que eles portam
aumentam também, cada dia, em quantidade e
em força. Sua hora suprema terminará então por
soar, e a unidade econômica se encontrará assim
estabelecida na fase da concorrência como ela foi
nas fases precedentes da comunidade e do
monopólio. Então a produção e a distribuição dos
serviços, enfim plenamente submetidos, em
todos os ramos da atividade humana, ao governo
de leis econômicas, poderão operar da maneira
mais útil.

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