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ENG06632-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos II-A 41

Nestor Cezar Heck - DEMET / UFRGS

13. LIQÜAÇÃO
13.1 INTRODUÇÃO
É a remoção seletiva de impurezas pela fusão de uma fase ‘impura’, de modo que o
líquido esteja em equilíbrio com uma fase sólida onde a concentração das impurezas seja
muito maior, sem a adição de um reagente, mas exclusivamente pela variação e ajuste da
temperatura do processo. Pelas características mencionadas, a liqüação se enquadra na classe
de métodos físicos de refino.
O metal ‘impuro’ deve apresentar propriedades adequadas, que se refletem em seu
diagrama de equilíbrio de fases. O caso mais favorável à liqüação se dá quando: (i) o
diagrama de equilíbrio mostra uma composição eutética de elevado grau de pureza, (ii) e o
líquido está em equilíbrio com um composto intermetálico contendo uma fração elevada do
elemento considerado ‘impureza’(Figura 13.1). Normalmente o ponto de fusão do metal de
valor é pequeno, muito menor do que o da impureza; note que o teor da impureza no metal é
maior do que aquela do eutético.
Durante a liqüação o metal a ser purificado é aquecido em um forno até uma
temperatura adequada (pouco acima daquela do eutético – normalmente próxima ao seu ponto
de fusão), mas somente a parte mais ‘pura’ da fase se liqüefaz. Ao escorrer para fora do forno,
com a ajuda de uma soleira inclinada, ela separa-se do restante da massa metálica.
Alternativamente, o metal ‘impuro’ no estado líquido pode ser resfriado até a temperatura
ideal, onde as ‘impurezas’ se solidificam; após o quê devem ser coletadas. A descrição do
‘verdadeiro’ processo de liqüação – que deu origem ao nome do processo – corresponde ao
primeiro caso. Exemplo dele é a eliminação do Fe no estanho e, do segundo caso, a
eliminação do Cu no chumbo.
Uma espécie de liqüação inversa ocorre quando a composição do metal a ser
purificado é tal que o teor da impureza é menor que o aquele do eutético (Figura 13.2). Nesse
caso, o metal é resfriado até uma temperatura adequada (pouco acima do eutético) e o metal
de valor se solidifica essencialmente ‘puro’, enquanto que a fase líquida restante vai
coletando as impurezas. O processo Pattison, hoje em desuso, para a extração da prata do
chumbo ‘bruto’ pode ser citado como um exemplo. O chumbo ‘impuro’, contendo 0,3% de
prata, ao ser resfriado lentamente se cristaliza com grau elevado de pureza, deixando uma liga
líquida com uma concentração crescente em prata até a composição final (eutética) de 2,5%
Ag. O fato da liga impura assumir um papel com relevância econômica é, nesta análise,
secundário.
Exemplos clássicos desse processo são a eliminação do Fe no Sn ‘bruto’ e do Cu no
Pb ‘bruto’.
A liqüação é feita, ou em ‘panelões’, ou em fornos com soleira inclinada.

13.2 CONSIDERAÇÕES TERMODINÂMICAS


A liqüação depende exclusivamente da presença de condições favoráveis de equilíbrio
termodinâmico, que são: (i) existência uma grande diferença nas composições das fases em
equilíbrio, determinadas pelas linhas ‘solidus’ e ‘liquidus’, (ii) concentração das impurezas na
fase (sólida ou líquida) ‘metal de valor’ muito baixa. Outras condições favoráveis como, por
exemplo, existência de uma diferença significativa na densidade das duas fases – para facilitar
a sua separação física – facilitam em muito o processo.
Essas características termodinâmicas importantes não são passíveis de serem
produzidas intencionalmente, mas podem ser previstas pela observação de diagramas de
equilíbrio de fases.
ENG06632-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos II-A 42
Nestor Cezar Heck - DEMET / UFRGS

Fig. 13.1 Liquação do metal ‘impuro’ A pelo seu aquecimento até pouco
acima da temperatura do eutético; 1: concentração original; 2 teor da
impureza no metal purificado; 3: teor da impureza no material
descartado

Fig. 13.2 Liquação inversa do metal ‘impuro’ A pelo resfriamento até pouco
acima da temperatura do eutético; 1: concentração original; 2 teor da
impureza no metal purificado; 3: teor da impureza no material
descartado

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