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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DO PARANÁ

Programa de Bacharelado em Teologia

Ficha de Leitura apresentada por:

LEIDMAR MAGNUS FESTA

O TESTEMUNHO DE DEUS PARA OS POVOS

Ficha de leitura apresentada como requisito


parcial para obtenção de nota na disciplina de
Introdução a Missões do programa de
Graduação da Faculdade Teológica Batista do
Paraná

Professor:
Uipiragi Câmara

CURITIBA
2008
1. FICHA DE LEITURA:

RICHARDSON, Don. , O Fator Melquisedeque – 2.ed. São Paulo: Vida


Nova, 1987.

2. OBJETIVOS DO TEXTO

O livro tem quatro objetivos principais e todos enfatizam a necessidade


de se realizar missões e que se os cristãos não o fizerem, talvez percam a sua
vez para outros que somente vêm para destruir.

O primeiro objetivo é mostrar que o testemunho de Deus foi deixado nas


diversas culturas em todo o mundo, ou seja, mostrar que a maioria dos povos
(até mesmo os “não alcançados”) já teve algum tipo de “preparação” para
receber o evangelho ável destes povos receberem e aceitarem a mensagem do
evangelho.
O segundo objetivo é mostrar que o evangelho também foi “preparado”
(sob medida) para o mundo levando-se em consideração as diversas culturas e
idéias existentes. A esta preparação do evangelho dá-se o nome de Revelação
Especial de Deus para um povo, ou Fator Abraão, o qual dissemina esta
revelação para outros povos.
O terceiro objetivo está em mostrar que aqueles que recebem a
Revelação Especial devem ter sabedoria e discernimento para que façam
aquilo que Deus ordenar. Todas as coisas que trabalham contra estas ordens
são chamadas de Fator Sodoma.
Por fim, autor também se propõe mostrar, no background deste livro, as
dificuldades dos relacionamentos transculturais, algumas abordagens
evangelísticas utilizadas com povos, até aquele momento, não alcançados, a
soberania de Deus em controlar os acontecimentos do prólogo e o posterior
trabalho dos missionários, bem como diversas situações vividas por
missionários em campo.

3. ARGUMENTAÇÃO

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Baseado em Gênesis 14, o autor demonstra que o rei de Salém,
Melquisedeque, representa a Revelação Geral, a qual é superior à Revelação
Especial (representada por Abraão). Sim, aquela é superior pois é mais antiga
e influencia 100% da humanidade (Salmo 19). Assim sendo, o autor enfatiza
que era apropriado que Abraão, representante de uma revelação mais recente
e menos universal, pagasse o dízimo de reconhecimento ao representante da
Revelação Geral no momento em que ambos se encontraram no Vale de Savé.
Nesta situação, o Fator Sodoma poderia ter atrapalhado caso Abraão não
tivesse o discernimento e sabedoria para escolher entre o certo do errado em
Gn 14:21-24 , quando o rei Sodomita faz uma proposta de “troca”.

Além disso, o autor faz uso da afirmação do apóstolo Paulo de que


“Deus não se deixou sem testemunho“ e também do versículo “Sabemos que
somos de Deus e que o mundo jaz no Maligno” (1 Jo 5.19) para mostrar que
toda a humanidade, até mesmo os povos mais afastados da nossa civilização
moderna, possuem condições de entender a mensagem do evangelho, pois
apesar de vivermos em um mundo que jaz no maligno, Deus sempre deixou
suas marcas pelo mundo.
Como exemplo do Fator Melquisedeque, são citados vários casos do
testemunho antecipado deixado por Deus, através de pessoas e eventos
passados, no meio dos povos pagãos como atenienses, incas, cananeus e
demais. Dentre estes podemos citar a história do povo Inca cujo rei Pachacuti
causou uma reviravolta em sua sociedade após contestar o culto ao deus sol,
dizendo que o mesmo não poderia ser o deus supremo pois sempre realizava o
mesmo trajeto no céu, podia ser facilmente encoberto por uma nuvem e não
tinha autonomia para sair de sua rotina. É de impressionar o fato de que
homens tidos como “selvagens” já possuíssem tamanha capacidade de
abstração para questionar a soberania de um deus no século XV. O mesmo rei
verificou que no passado, o povo Inca adorava o Deus Viracocha, o criador
soberano de tudo e todos o qual não foi criado por nenhum ser, e instituiu
então o culto à este Deus na alta sociedade Inca. Note que isso os remeteu ao
monoteísmo e com certeza teria evoluído caso o conquistador espanhol
Pizarro não tivesse chego logo após esta ordem do rei Inca e dizimado sua
população. Aqueles que sobreviveram acabaram sendo acolhidos pelos

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católicos espanhóis, que estavam preocupados em abolir a idolatria e
acabaram destruindo uma cultura monoteísta que serviu com efeito de um
Antigo Testamento Provisório (não Substituto) para abrir a mente de um povo
inteiro para as boas novas do evangelho de Jesus Cristo,o filho de Viracocha
enviado à terra para remir seus servos.
O autor também informa que qualquer pessoa, até mesmo um apóstolo,
pode encontrar dificuldades na comunicação com outros povos (transcultural),
isso devido à diferença dos usos, costumes, valores, língua etc. Foi o que
aconteceu com Paulo em sua viajem à Atenas, mas mesmo assim Deus já
havia ido a frente e dirigido os acontecimentos do prólogo quando o “Agnos
Theo” (deus desconhecido) foi adicionado ao panteon grego no episódio em
que um homem temente a Deus chamado Epimênides ajuda a cidade a se
redimir perante “o deus desconhecido”, pois a mesma estava sob o jugo de
uma pestilência.
Podemos também visualizar no livro vários paralelos entre Jesus e o
mundo dos gentios, a sua aceitação pelos “de fora” e a sua rejeição pelos
judeus (página 155 até 158), isso, defende o autor, mostra como o evangelho
foi feito sob medida para todos os povos. Informa ainda que o Fator
Melquisedeque é complementado pelo Fator Abraão pois ambos não possuem
qualquer ligação histórica, basta ver a descrição das genealogias do AT no
qual NÃO consta a genealogia de Melquisedeque. Por isso o segundo fator
complementa o primeiro (através do primeiro não se pode ter a salvação) e
este é um grande motivo para se fazer missões, pois as religiões populares são
apenas uma prévia e são insuficientes.
Ainda de acordo com Don Richardson, existe a tentativa do inimigo
sobrepor a “religião popular” pela “religião formal” (budismo, islamismo dentre
outras) antes da chegada de algum missionário. Este fato endurece o coração
do povo, que antes possuía uma cultura religiosa informal, monoteísta e
incrivelmente parecida com a doutrina cristã.

4. PRINCIPAIS IDÉIAS

• Deus se identifica claramente para os pagãos e dirige a seqüência dos


fatos para que tudo culmine no seu objetivo final: que as pessoas

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venham a conhecê-lo verdadeiramente, como exemplo citado temos o
episódio de Paulo em Atenas e seu prólogo (da página 19 a 22).

• Deus abençoa seus servos para fazer destes bênção sobre os outros
(página 22)
• É falsa a afirmação de que “... um povo pagão não pode compreender e
não deseja receber o evangelho cristão, sendo injusto fazê-los aceitar o
mesmo (esforço inútil e excessivo)”. Deus preparou tanto o evangelho
para todos os povos como também todos os povos para o evangelho
(página 28).
• Mesmo nos povos antigos existiam pessoas que possuíam percepções
bem modernas sobre o monoteísmo e um Deus criador (página 34 , o rei
Inca Pachacuti, e página 44 , o povo Santal).
• Evidenciar que Deus pode ser chamado por nomes diferentes em outras
culturas, desde que a história deste nome não seja desqualificável e se
enquadre na personalidade de Deus. Isso aproxima mais o povo pagão
de Deus (ou Tnakur Jiu como é chamado pelo povo Santal da Índia) , o
torna um Deus mais pessoal e não um deus imposto pela cultura
estrangeira (página 37 e 38). Uma geração inteira de teólogos foi levada
a desqualificar e considerar como distorções as religiões/crenças
paralelas à Bíblia. Isso dificulta muito o trabalho missionário (página 43).
A cultura religiosa de um povo pode na verdade possuir aspectos
redentores (não salvadores). Redimir significa que o povo pode ter
comunhão com Deus através de suas próprias tradições em separado
do Evangelho. Neste caso, redimir é contribuir para a redenção de um
povo mas sem concluí-la. Isso pode levar o povo a considerar o
Evangelho como algo precioso e não como algo imposto arbitrariamente
por um estrangeiro (página 49).
• Deus utiliza mensageiros improváveis para anunciar sua mensagem -
por exemplo : um negro para anunciar aos europeus (página 51).
• Sempre que a crença de um Deus criador e supremo é retirada do meio
do povo, seja qual for o modo pelo qual isso aconteça, é criado um
vácuo que precisa ser novamente preenchido. Foi assim com o culto a
Shang Ti (o Deus criador e supremo) na China, cujo culto foi limitado

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somente ao Imperador uma vez ao ano (pois, segundo os sacerdotes, o
povo não era digno de adorá-lo). Surgiram assim as outras religiões
(confucionismo, taoísmo e depois o budismo vindo da Índia) para
preencher o espaço deixado e saciar a “fome religiosa” do povo. O
problema é que para se preencher o espaço deixado pelo único Deus,
muitas pessoas precisam de muitos outros deuses. (página 53 até 56)
• A Bíblia prevê a existência de pessoas tementes à Deus (pessoas que
não conhecem a Bíblia nem o cristianismo) no meio de povos pagãos.
Provavelmente quando Deus falou à Abraão ele era assim, pertencia a
esta “classe especial” de pessoas. Como exemplo temos
Melquisedeque, Zofar, Elifaz e Bildade (página 87).
• As igrejas fundadas por missionários devem crescer autônomas, auto-
suficientes e autodivulgadoras. Após se tomar todos os cuidados com a
doutrina e outros fatores, deve-se cortar o cordão umbilical.
• O Espírito Santo é usado para preparar o caminho do Evangelho na vida
dos gentios e o poder do Espírito é concedido com um propósito muito
específico: evangelizar todos os povos (página 160 até 167).
• Lucas escreveu seu livro “Atos dos Apóstolos” como um manual
disfarçado para encorajar os outros apóstolos e seus convertidos judeus
a seguir o exemplo de Paulo e evangelizar os gentios (página 170).

5. CITAÇÕES IMPORTANTES

• “... Atenas, a cidade saturada de deuses. Com a mesma facilidade que


se tira uma pedra da pedreira, outro deus é trazido para a cidade”
(página 10).
• “Qualquer deus suficientemente grande e bondoso para fazer algo a
respeito da praga [...ou de qualquer tipo de maldição ...] é também
poderoso e misericordioso para nos favorecer em nossa ignorância se
reconhecermos a mesma e o invocarmos” (página 12).
• “... uma vez que os homens rejeitem o Deus único ... preferindo
divindades menores, eles finalmente descobrem - para sua frustração –

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que um número infinito de divindades inferiores é necessário para
preencher o espaço deixado pelo Deus verdadeiro” (página 16).
• “... o Deus que preparou o evangelho para todos os povos, preparou
todos os povos para o evangelho?“ (pagina 28).
• “... uma rosa qualquer que seja o nome pelo qual a chamam não
continua com o mesmo perfume? Num jardim, isso acontece, mas não
na memória! A própria palavra rosa tem o poder de evocar a
reminiscência da cor e do perfume...” (página 37).
• “... não se estuda o inferno. Nós pregamos o céu (página 48).
• “No plano de Deus, as coisas funcionam de modo que não caiba aí o
orgulho humano” (página 50).
• “ ... esse denominador comum é invariavelmente uma ilusão de
indepenência – uma confiança irreal na capacidade de forjar nosso
próprio destino” (página 87).
• “Nestes sacrifícios faz-se (judeus) recordação dos pecados todos os
anos, porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova os
pecados” (página 94).
• “A vida inteira de Jesus, sua morte e ressurreição estavam intimamente
ligados à promessa secular de Javé no sentido de repartir as bênçãos
de Abraão entre todos os povos da terra” (página 137).
• “Muitos cristãos acham que o livro de Atos dos Apóstolos registra a
obediência dos doze apóstolos à Grande Comissão, mas ele na verdade
relata a relutância dos mesmos em obedecê-la” (página 159).
• “Estender a bênção de Abraão a todos os povos da terra continua sendo
a incitabilidade do seu propósito! (página 169).

6. COMENTÁRIO CRÍTICO

As abordagens realizadas pelo autor nesta obra acabaram, de uma


maneira intrínseca, criando um “tratado missiológico transcultural”. Ao expor o
background da cultura de vários povos pagãos o autor abre os olhos do leitor
para uma realidade: a humanidade foi preparada por Deus, no decorrer dos
séculos através do testemunho divino deixado nos quatro cantos do mundo,

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para receber o evangelho. Estes povos possuem uma capacidade incrível para
assimilar o novo nascimento cristão, estão sedentos de um Deus que nem
mesmo conhecem (mas reconhecem a sua obra e seus feitos - pois entendem
que toda a criação manifesta a glória deste Deus) e precisam de pessoas
dispostas a pagar o preço para ajudá-los.

Esta ajuda começa a ser prestada no momento em que o missionário mergulha


no mundo do povo pagão, estudando a sua cultura, seus costumes, seus
valores e sua religião até o momento em que consegue, como cita o autor,
“encontrar um ponto de contato latente entre as culturas”. Este ponto de
contato latente, que deve ser coerente, é vital para o sucesso do missionário
em seu campo e vai servir de porta de entrada para todo o ensinamento sobre
o evangelho aos não alcançados.
Assim sendo, o missionário não deve ignorar os costumes religiosos
deste povo, pois se o fizer estará tentando mostrar a eles um deus enlatado e
limitado que não tem profundidade e nem proximidade com a humanidade. Ao
contrário disso, no momento em que se encontra o ponto de contato latente é
possível construir uma linha de pensamento da cultura religiosa popular que
seja paralela à linha cristã. Esta linha de pensamento paralela irá mudar de
direção e se encontrar com a linha cristã no ponto de intersecção chamado
Jesus Cristo e assim o evangelho poderá verdadeiramente ser assimilado por
este povo.
Por este motivo, concordo com a afirmação do autor de que “é
lamentável que alguns teólogos pensem que a singularidade do evangelho é
ameaçada por culturas pagãs [...] isso os torna hora muito defensivos e hora
muito ofensivos com os não cristãos”. Podemos facilmente notar que esta
singularidade do evangelho não é ameaçada, mas fortalecida e confirmada à
medida que as culturas religiosas pagãs se aproximam de suas narrativas. Esta
proximidade facilita a abstração de muitos fatos relacionados ao evangelho.
Já ouvimos muitas vezes a expressão que se tornou um dito popular
(utilizado por alguns cristãos e até por alguns cristãos não praticantes) ”a
Bíblia é o manual para a sua vida, tudo o que você precisa saber para viver
bem está nela!”. Acredito que esta expressão seja verdadeira! Deus inspirou a
Bíblia sob medida para todas as pessoas. O único livro que pode ser aplicado,

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estudado e seguido por qualquer pessoa de qualquer etnia e sem perder sua
contextualização e sua validade é a Bíblia Sagrada. No livro O Fator
Melquisedeque isto é abordado de uma forma não muito envolvente mas
incisiva. O autor vai direto ao ponto mostrando as implicações de Jesus, um
judeu de descendência real, andar por entre os pecadores e impuros.
Concordo com a visão de Don Richardson sobre a universalidade das
Sagradas Escrituras.
Concluindo, sabemos que apesar da humanidade possuir um censo
comum que a leva a procurar o “Deus criador”, isso não é suficiente para a sua
salvação. Por este motivo todos aqueles que já conhecem a verdade sobre o
Salvador devem levar a sua mensagem aos que ainda não a conhecem.
Sabemos que se cada cristão não fizer a sua parte no que diz respeito à
expansão do Reino de Deus, o inimigo fará a sua parte para tentar destruir este
reino e afastar ainda mais aqueles que, já foram alcançados mas, ainda não
tiveram seus olhos abertos para a verdade.

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