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ALGA 2010/11

Física, Eng. Biomédica e Biofísica, Eng. Física, Estatística Aplicada


Prof.: Isabel Ferreirim

Sistemas de equações lineares e matrizes


Exemplo
 1. Seja o sistema de 3 equações lineares em 3 incógnitas
 4y + 3z = 2
(S) x −z =0
2x − 8y − 4z = 4

ao qual se associa o quadro seguinte


 
0 4 3 2
A= 1 0 −1 0 
2 −8 −4 4
Este quadro designa-se por matriz ampliada do sistema
Resolução do sistema:

 4y + 3z = 2
(S) x −z =0
2x − 8y − 4z = 4

1. Trocar as equações (E1 ) e (E2 )



 x −z =0
(S1 ) 4y + 3z = 2
2x − 8y − 4z = 4

2. Eliminar x na equação (E3 ) multiplicando (E1 ) por −2 e somando-a a (E3 )



 x −z =0
(S2 ) 4y + 3z = 2
−8y − 2z = 4

3. Eliminar y na equação (E3 ) multiplicando (E2 ) por 2 e somando-a a (E3 )



 x −z =0
(S3 ) 4y + 3z = 2
4z = 8

11
1
4. Simplificar (E2 ) e (E3 ) multiplicando cada equação por 4

 x −z =0
(S4 ) y + 34 z = 12
z=2

5. Eliminar z na equação (E2 ) multiplicando (E3 ) por − 43 e somando-a a (E2 )



 x −z =0
(S5 ) y = −1
z=2

Finalmente, chegamos à solução x = 2, y = −1, z = 2.

Matriz do sistema
Vamos registar as operações sucessivas efectuadas nas equações do sistema
fazendo transformações nas linhas da matriz ampliada.
 
0 4 3 2
A= 1 0 −1 0 
2 −8 −4 4
 
1 0 −1 0
1. Trocar as linhas L1 ↔ L2 A1 =  0 4 3 2 
2 −8 −4 4
 
1 0 −1 0
2. Substituir L3 por L3 − 2L1 A2 =  0 4 3 2 
0 −8 −2 4
 
1 0 −1 0
3. Substituir L3 por L3 + 2L2 A3 =  0 4 3 2 
0 0 4 8
 
1 0 −1 0
3 1 
4. Multiplicar L2 e L3 por 14 A4 =  0 1 4 2
0 0 1 2
 
1 0 −1 0
5. Substituir L2 por L2 − 34 L3 A5 =  0 1 0 −1 
0 0 1 2

12
Chegámos ao último passo:
 
1 0 0 2
6. Substituir L1 por L1 + L3 A6 =  0 1 0 −1 
0 0 1 2
 x=2
a matriz que representa a solução do sistema y = −1
z=2

Do exemplo à teoria
Equação linear

Definição 2. K denota R ou C
Sejam a1 , a2 , . . . , an , b elementos de K e x1 , x2 , . . . , xn incógnitas.

1. Chama-se equação linear nas incógnitas x1 , x2 , . . . , xn sobre K à expressão

a1 x1 + a2 x2 + . . . + an xn = b (E)

2. Uma solução da equação linear (E) é qualquer n-tuplo (s1 , s2 , . . . , sn ) ∈


Kn tal que
a1 s 1 + a2 s 2 + . . . + an s n = b

Sistema de equações lineares

Definição 3. Sejam m, n ∈ N1 , aij , bi elementos de K, i ∈ {1, . . . , m}, j ∈


{1, 2, . . . n}.
Sejao sistema de m equações lineares nas incógnitas x1 , x2 , . . . , xn

 a11 x1 + a12 x2 + . . . + a1n xn = b1
 a21 x1 + a22 x2 + . . . + a2n xn = b2

(S) ..


 .
 a x + a x + ... + a x = b
m1 1 m2 2 mn n m

1. aij ∈ K, i ∈ {1, . . . , m}, j ∈ {1, 2, . . . n} chama-se coeficiente, na i-ésima


equação, da incógnita xj

2. bi , i ∈ {1, . . . , m} é o termo independente na i-ésima equação

Definição 4. 1. Um n-tuplo (s1 , s2 , . . . , sn ) ∈ Kn diz-se uma solução do sis-


tema (S) se é solução todas as equações do sistema

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2. Se os termos independentes são todos nulos (= 0), o sistema diz-se homo-
géneo

Classificação de um sistema quanto às soluções

Definição 5. Um sistema de equações lineares (S) diz-se

• impossível se não tem soluções

• possível

– determinado se tem uma única solução


– indeterminado se tem mais do que uma solução

Observação 6. Todo o sistema homogéneo é possível

Matriz ampliada do sistema

Definição 7. Seja (S) um sistema de m equações lineares nas incógnitas x1 , x2 , . . . , xn .


Chama-se matriz ampliada do sistema ao quadro de números
 
a11 a12 . . . a1j . . . a1n b1
 a21 a22 . . . a2j . . . a2n b2 
 .. .. .. .. 
. . . .
 
 
a a . . . a . . . a b
 
 i1 i2 ij in i 
 .. .. .. .. 
 . . . . 
am1 am2 . . . amj . . . amn bm

Definição 8. A matriz A = [aij ], dos coeficientes aij das incógnitas nas equa-
ções de (S), chama-se matriz simples do sistema

A matriz B = [bi ] chama-se matriz (coluna) dos termos independentes

A matriz ampliada de (S) denota-se abreviadamente por [A|B].

Definição 9. Sejam (S) e (S 0 ) dois sistemas de equações lineares nas incógnitas


x1 , x2 , . . . , xn , com coeficientes em K

(S) e (S 0 ) dizem-se equivalentes se têm exactamente as mesmas soluções.

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Princípios de equivalência
Sejam (S) e (S 0 ) dois sistemas de equações lineares nas incógnitas x1 , x2 , . . . , xn .
(S) e (S 0 ) são equivalentes sempre que (S 0 ) se obtém de (S) fazendo uma das
transformações seguintes:

I. multiplicando uma equação por uma constante não nula,

II. trocando de duas equações,

III. substituindo uma equação (Ei ) pela equação que resulta de somar (Ei ) ao
produto de uma constante k por uma equação (Ej ), com j 6= i.

Transformações elementares
A cada princípio de equivalência de sistemas, associa-se uma transformação nas
linhas da matriz ampliada

Definição 10. Chama-se transformação elementar nas linhas de uma matriz a uma
transformação do tipo

I. Multiplicar a linha i da matriz por uma constante a 6= 0

Li → a Li

II. Trocar a linha i com a linha j

Li ↔ Lj

III. Substituir a linha i pelo resultado de somar a linha i ao produto da linha


j, j 6= i, por uma constante b

Li → Li + b Lj

Proposição 11. Sejam (S) e (S 0 ) dois sistemas de equações lineares

cujas matrizes ampliadas são [A|B] e [A0 |B 0 ], respectivamente.

Se [A0 |B 0 ] se obtém a partir de [A|B] por aplicação de um número finito de


transformações elementares nas linhas, então (S 0 ) é equivalente a (S).

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Eliminação de Gauss
Matriz em forma de escada

Definição 12. 1. Uma matriz está em forma de escada se satisfaz as condi-


ções seguintes:

(a) Se há pelo menos uma linha nula, todas as linhas abaixo desta são
nulas.
(b) Sempre que uma linha é não nula, todas as entradas da matriz abaixo
e à esquerda da primeira entrada não nula desta linha são nulas.
(c) Em cada linha não nula, a primeira entrada não nula é igual a 1.

2. Numa matriz em forma de escada, a primeira entrada não nula de cada


linha (se existir) designa-se por coeficiente director ou pivot.

Matriz em forma de escada reduzida

Definição 13. Uma matriz está em forma de escada reduzida se satisfaz as


condições seguintes:

1. Está em forma de escada.

2. Em cada coluna contendo o pivot de uma dada linha, são nulas todas as en-
tradas restantes.

Eliminação de Gauss
Seja A = [aij ] uma matriz com m linhas e n colunas.

Passo 1. Identificar a primeira coluna (mais à esquerda) que não seja nula. Seja a
coluna j.

Passo 2. Trocar duas linhas, se necessário, para deslocar para a primeira linha
uma entrada não nula da coluna j.

Passo 3. Multiplicar a primeira linha pelo inverso da sua primeira entrada não
nula, para obter 1.

Passo 4. Somar cada linha i, i 6= 1, a um múltiplo escalar apropriado da linha 1,


de forma a anular cada uma das entradas da coluna j, abaixo da primeira.

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Passo 5. Repetir os passos 1–4 na parte da matriz abaixo da primeira linha, i.e.,
na submatriz constituída pelas linhas 2, 3, . . . , m.

O algoritmo termina quando a matriz estiver em forma de escada.


Eliminação de Gauss-Jordan
Seja A = [aij ] uma matriz com m linhas e n colunas, em forma de escada.

Passo 6. Trabalhando de baixo para cima, somar um múltiplo da cada linha j a


cada uma das linhas acima, de modo a anular todas as entradas acima e
na mesma coluna da primeira entrada não nula da linha j.

O algoritmo termina quando a matriz estiver em forma de escada reduzida.

Matrizes
Matriz

Definição 14. Sejam p, n ∈ N1 e K = R ou C.

Uma matriz de tipo p × n sobre K é um quadro da forma


 
a11 a12 . . . a1j . . . a1n
 a21 a22 . . . a2j . . . a2n 
 . .. .. .. 
 .
 . . . .

A=

 ai1 ai2 . . . aij . . . ain


 . .. .. .. 
 .. . . . 
ap1 ap2 . . . apj . . . apn

constituído por elementos de K, dispostos em p linhas e n colunas.

Definição 15. i. Para cada i, 1 ≤ i ≤ p, a linha i da matriz A é A(i) =


(ai1 , ai2 , . . . , ain ) ∈ Kn

ii. Para cada j, 1 ≤ j ≤ n, a coluna j da matriz A é A(j) = (a1j , a2j , . . . , apj ) ∈


Kp

iii. Para cada i, 1 ≤ i ≤ p, e cada j, 1 ≤ j ≤ n, a entrada-ij, na linha i e


coluna j da matriz A, é o elemento aij . Denota-se por vezes, por Aij .

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Notação 16. Mp×n (K) denota o conjunto de todas as matrizes de tipo p × n com
entradas em K.

Se p = n, escreve-se Mn (K).

Se A ∈ Mp×n (K), escreve-se A = [aij ] 1 ≤ i ≤ p .


1≤j≤n

Igualdade de matrizes. Sejam A = [aij ] ∈ Mp×n (K) e B = [bij ] ∈ Mt×m (K).


A = B se e só se p = t, n = m e aij = bij para quaisquer i ∈ {1, 2, . . . , p},
j ∈ {1, 2, . . . , n}.

Definição 17. 1. A diz-se matriz linha se é de tipo 1 × n, n ∈ N1 .


 
A = a1 a2 . . . aj . . . an

2. A diz-se matriz coluna se é de tipo p × 1, p ∈ N1 .


 
a1
 a2 
 . 
 . 
 . 
A=
 ai 

 . 
 .. 
ap

Matriz nula

Definição 18. Chama-se matriz nula de tipo p × n à matriz cujas entradas são
todas iguais a zero. Denota-se esta matriz por 0p×n ou 0.
 
0 0 ... 0 ... 0
 0 0 ... 0 ... 0 
 . . .. .. 
 . .
 . . . . 

0p×n = 
 0 0 ... 0 ... 0 

 . . .. .. 
 .. .. . . 
0 0 ... 0 ... 0
Matriz quadrada

18
Definição 19. Se A é matriz de tipo n × n, (i.e., A ∈ Mn (K)), diz-se matriz
quadrada de ordem n.
As entradas aii chamam-se entradas principais de A;
(a11 , a22 , . . . , ann ) ∈ Kn chama-se diagonal principal de A.
Definição 20. Seja A = [aij ] ∈ Mn (K) matriz quadrada. A diz-se
triangular superior se são nulas todas as entradas de A abaixo da diagonal
principal, i.e., sempre que s > t, ast = 0;
 
a11 a12 . . . a1j . . . a1n
 0 a22 . . . a2j . . . a2n 
 . .. .. .. 
 .
 . . . . 

A=
 0 0 . . . aii . . . ain 

 . .. .. .. 
 .. . . . 
0 0 . . . 0 . . . ann
triangular inferior se são nulas todas as entradas de A acima da diagonal prin-
cipal, i.e., sempre que s < t, ast = 0;
 
a11 0 ... 0 ... 0
 a21 a22 . . . 0 . . . 0 
 .. .. .. .. 
. . . . 
 
A=

 ai1 ai2 . . . aii . . . 0 

 .. .. .. .. 
 . . . . 
an1 an2 . . . an . . . ann
triangular se for triangular superior ou triangular inferior;
Definição 21. A ∈ Mn (K) diz-se
diagonal se todas as entradas não principais forem nulas, i.e., sempre que s, t ∈
{1, 2, . . . , n} e s 6= t se tem ast = 0.
 
a11 0 . . . 0 . . . 0
 0 a22 . . . 0 . . . 0 
 . .. .. .. 
 .
. . . . 

A=

 0 0 . . . aii . . . 0 

 . .. .. .. 
 .. . . . 
0 0 . . . 0 . . . ann

19
escalar se for diagonal e todas as entradas principais forem iguais;
 
λ 0 ... 0 ... 0
 0 λ ... 0 ... 0 
 . . .. .. 
 . .
 . . . . 

A=
 0 0 ... λ ... 0 

 . . .. .. 
 .. .. . . 
0 0 ... 0 ... λ

Definição 22. Chama-se matriz identidade de ordem n à matriz escalar de ordem


n cujos elementos principais são todos iguais a 1. Denota-se por In .
 
1 0 ... 0 ... 0
 0 1 ... 0 ... 0 
 . . .. .. 
 . .
 . . . . 

In = 
 0 0 ... 1 ... 0 

 . . .. .. 
 .. .. . . 
0 0 ... 0 ... 1

Operações sobre matrizes

Definição 23. Sejam A = [aij ], B = [bij ] ∈ Mp×n (K), α ∈ K.

i. A soma de A e B é a matriz A + B de tipo p × n sobre K cuja entrada-ij é


aij + bij , para quaisquer i ∈ {1, 2, . . . , p}, j ∈ {1, 2, . . . , n};

(A + B)ij = Aij + Bij

ii. O produto do escalar α pela matriz A é a matriz αA, de tipo p × n sobre K


cuja entrada-ij é αaij para quaisquer i ∈ {1, 2, . . . , p}, j ∈ {1, 2, . . . , n}

(αA)ij = αAij

Notação 24. Sejam A = [aij ], B = [bij ] ∈ Mp×n (K)

i. −A denota a matriz [−aij ].

ii. A − B denota a matriz A + (−B).

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Produto de matrizes

Definição 25. Sejam A = [aij ] ∈ Mp×n (K), B = [bij ] ∈ Mn×m (K).

Designa-se por produto de A por B, e escreve-se AB a matriz de tipo p × m


sobre K cuja entrada-ij é

ai1 b1j + ai2 b2j + . . . + aik bkj + . . . + ain bnj = cij

para quaisquer i ∈ {1, 2, . . . , p}, j ∈ {1, 2, . . . , m}.

Em esquema:
 
b1j
   b2j   
ai1 ai2 . . . ain  = cij
 
 ..
 . 
bnj

Ou ainda

   
a11 a12 . . . a1n   c11 . . . c1j . . . c1m
 .. .. ..  b11 . . . b1j . . . b1m  .. .. .. 
 . . .  b . . . a . . . b   . . . 
  21 2j 2m 
 ai1 ai2 . . . ain   .. ..  =  ci1 . . . cij . . . cim 
  
..
 . .. ..   . . .  
 .. . .  b  ... ..
.
.. 
. 
n1 . . . bnj . . . bnm
ap1 ap2 . . . apn cn1 . . . cnj . . . cnm

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Representação matricial de um sistema de equações lineares

Seja o sistema de equações lineares (S) nas incógnitas x1 , x2 , . . . , xn




 a11 x1 + a12 x2 + . . . + a1n xn = b1
 a21 x1 + a22 x2 + . . . + a2n xn = b2

(S) ..


 .
 a x + a x + ... + a x = b
p1 1 p2 2 pn n p

(S) pode ser representado pela equação matricial


   
a11 x1 + a12 x2 + . . . + a1n xn b1
 a21 x1 + a22 x2 + . . . + a2n xn   b2 
 = 
   
 .. .. 
 .   . 
ap1 x1 + ap2 x2 + . . . + apn xn bp

Esta equação pode ser reescrita na forma:


 
a11 a12 . . . a1n    
 .. .. ..  x1 b1
 . . .  x   b2 
 2
 ai1 ai2 . . . ain   .. =
   
.. 
 . .. ..   . .
 ..
  
. .  x bp
n
ap1 ap2 . . . apn

Abreviadamente, (S) pode ser representado pela equação matricial

AX = B

com A = [aij ] 1 ≤ i ≤ p , X = [xj ] 1 ≤ j ≤ n e B = [bi ] 1 ≤ i ≤ p .


1≤j≤n

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Propriedades das operações sobre matrizes
Teorema 26. Sejam A, B, C matrizes sobre K e α, β ∈ K. Sempre que as opera-
ções indicadas estão definidas, tem-se:
(a) A + B = B + A (prop. comutativa da adição)
(b) A + (B + C) = (A + B) + C (prop. assoc. da adição)
(c) A(BC) = (AB)C (prop. associativa da multiplicação)
(d) A(B + C) = AB + AC (propriedade distributiva)
(e) (B + C)A = BA + CA (propriedade distributiva)
(f) α(B + C) = αB + αC
(g) (α + β)C = αC + βC
(h) α(βC) = (αβ)C
(i) α(BC) = (αB)C = B(αC)
(j) 1A = A
Corolário 27. Sejam A, B, C matrizes sobre K e α, β ∈ K. Sempre que as ope-
rações indicadas estão definidas, tem-se:
(a) A(B − C) = AB − AC
(b) (B − C)A = BA − CA
(c) α(B − C) = αB − αC
(d) (α − β)C = αC − βC
Proposição 28. Sejam A ∈ Mp×n (K) e as matrizes nulas de tipos p × n, n × m,
t × p e t × n. Sempre que as operações indicadas estão definidas, tem-se:
(i) A + 0 = 0 + A = A
(ii) A − A = 0
(iii) 0 − A = −A
(iv) A0 = 0; 0A = 0

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