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O cancro do colo do útero afeta milhões de mulheres em todo o mundo, sendo o vírus do
Papiloma Humano (HPV) o principal fator de risco. Nos últimos anos, muitas investigações têm
sido realizadas no sentido de alcançar um tratamento eficaz, embora se tenham revelado, até
ao momento, infrutíferas. Na verdade, ainda não existem tratamentos devidamente
direcionados para este tipo de cancro. Sabe-se que o p53 funciona como um supressor de
tumor e que a sua sobreexpressão tem uma ação direta nas oncoproteínas do HPV, revelando
assim capacidade de inibir o desenvolvimento e progressão do cancro do colo do útero.
Palavras-chave: cancro do colo do útero, DNA mini-circular, quitosano, ácido fólico, aptâmero
ÍNDICE
ESTADO DA ARTE
O cancro do colo do útero é o quarto cancro mais comum na população feminina em todo o
mundo [1]. Apesar das inúmeras pesquisas em desenvolvimento e dos avanços médicos na
prevenção, diagnóstico e tratamento desta doença, a mortalidade permanece elevada em
países em desenvolvimento [2]. Geralmente, a taxa de sobrevivência é de 90% quando a
doença é diagnosticada em estágios iniciais, baixando para cerca de 15% quando
diagnosticada tardiamente [3].
No entanto, a degradação do DNA terapêutico pelas nucleases séricas tem sido um obstáculo
para a entrega funcional às células-alvo. Nesse sentido, será necessário desenvolver um
transportador de entrega de genes, capaz de proteger o DNA até atingir o seu alvo, sem
qualquer toxicidade ou respostas imunes [11]. O quitosano, um polissacarídeo catiónico
natural, aparece como um bom candidato, tendo em conta a sua eficiência de transfecção,
combinada com o reduzido nível de citotoxicidade. O quitosano rapidamente forma
complexos, microesferas ou nanopartículas com ácidos nucleicos, após a interação
eletrostática, e possui excelentes propriedades físico-químicas que parecem favoráveis à
entrega de ácidos nucleicos. A relação carga / carga entre o quitosano e o DNA é um fator
preponderante para o sucesso da ligação eletrostática do DNA ao quitosano. A relação entre
nitrogénio e fosfato (N / P), isto é, a relação entre o nitrogénio carregado positivamente do
grupo amino da molécula de quitosano para fosfatos negativamente carregados em ácidos
nucleicos, influencia potencialmente a eficiência do polímero de quitosano para condensar e
proteger o DNA [12].
Ainda assim, o peso molecular e o grau de acetilação são propriedades do quitosano que
afectam a sua solubilidade e hidrofobicidade aquosas, alterando assim a sua eficiência como
veículo de entrega de genes. Um dos fatores limitantes à sua ação é o pH, uma vez que o seu
desempenho é potenciado a pH neutro ou ligeiramente alcalino. Este polímero é solúvel em
soluções aquosas ácidas e insolúveis em soluções básicas ou neutras, sendo que a solubilidade
do quitosano está diretamente relacionada com a protonação dos seus grupos amina [13].
Neste sentido, será interessante contruir um vector de mcDNA que expresse o gene da
proteína p53 e desenvolver nanopartículas modificadas de quitosano para o direcionamento
do cancro do colo do útero.
OBJETIVOS
O cancro é um problema de saúde pública que representa uma das principais causas de morte
a nível mundial. Neste sentido, qualquer progresso científico que permita melhorar o
diagnóstico e tratamento do cancro constitui uma prioridade global. A procura incansável do
Homem por uma melhor qualidade e uma maior esperança média de vida, tem despoletado a
necessidade de encontrar alternativas para o seu tratamento.
O presente projeto tem como objetivo desenvolver um sistema para a entrega de mcDNA,
codificante para a proteína supressora de tumor p53, direcionada a células do cancro do colo
do útero. Este direcionamento pode ser alcançado pela funcionalização do quitosano com
determinados ligandos que reconheçam e tenham a capacidade de se ligar a receptores
específicos e exclusivos de células cancerígenas. Serão equacionados o ácido fólico e um
aptâmero como ligandos, utilizados individualmente e em simultâneo. O polímero de
quitosano será ainda acoplado à polietilenoimina (PEI) com vista a obtenção de melhores
resultados.
Esta abordagem pretende avaliar posteriormente, em estudos in vitro, qual a estratégia que
se revela mais eficaz na entrega do vector às células cancerígenas.
PLANO E MÉTODOS
O presente trabalho propõe o estudo de uma nova terapia que consiste no desenvolvimento
de um sistema para a entrega de mcDNA, codificante para a proteína supressora de tumor
p53, direcionada a células do cancro do colo do útero. Este sistema é baseado em
nanopartículas de quitosano, cuja funcionalização será realizada com os ligandos ácido fólico
e aptâmero, utilizados individualmente e em simultâneo. O polímero será ainda acoplado à
polietilenoimina (PEI).
Uma das estratégias adotadas é a utilização do polímero natural quitosano devido à sua baixa
imunogenicidade, toxicidade mínima, biocompatibilidade e biodegradabilidade. A natureza
catiónica do quitosano proporciona uma forte interação eletrostática com o DNA carregado
negativamente, protegendo-o da degradação da nuclease nos fluidos biológicos (4). Sabe-se
que o ácido fólico é um ligando atraente devido à sobreexpressão de receptores de folato no
número de células cancerígenas humanas. Acresce o facto de haver evidência de que as
nanopartículas de quitosano, compreendendo ácido fólico, mostram uma absorção
intracelular melhorada do vetor.
O aptâmero de DNA foi escolhido devido ao seu uso como um ligando de direcionamento de
cancro, com capacidade de inibir a proliferação de células cancerígenas. Além disso, os
aptâmeros são ligandos eficazes, na medida em que combinam fragmentos de biopolímeros de
alta afinidade (6).
Relativamente aos estudos in vitro irei avaliar o potencial das nanopartículas desenvolvidas,
no direcionamento da entrega de DNA mini-circular a células cancerígenas do cancro do colo
do útero.
Após a cultura e transfecção das linhas celulares, as metodologias utilizadas serão o Western
Blot, o ensaio MTT e citometria de fluxo para avaliar a apoptose celular.
O método Western Blot irá ser usado para extrair e quantificar as proteínas de cada grupo de
transfecção. Para separar as proteínas de uma amostra homogénea, tendo em conta o seu
peso molecular, a técnica utilizada é a eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida (SDS-PAGE).
Para determinar a viabilidade celular, após transfecção com cada grupo de nanopartículas,
será utilizado o ensaio MTT. Após redução, o MTT forma cristais de formazano, de cor azul,
que ao serem dissolvidos absorvem na região do visível, podendo desta forma ser
quantificados por espectrofotometria. A redução do MTT é feita através de desidrogenases
celulares, podendo-se avaliar a capacidade redutora da célula.
A morte das células por apoptose será avaliada utilizando a técnica de citometria de fluxo,
pela medição da intensidade de fluorescência após as células cancerígenas serem tratadas
com os reagentes anexina V e iodeto de propídio (PI).
TAREFAS
O mcDNA é construído através do plasmídeo parental (PP), no qual se irá incluir a sequência
nucleotídica do p53. Deve-se proceder, em seguida, à transformação por choque térmico de
células competentes de E. coli ZYCY10P3S2T [15].
Posteriormente, será necessário realizar uma reação de PCR com primers para o gene de
interesse, tendo como objetivo confirmar a transformação das colónias recombinantes. Após a
seleção das colónias positivas, deve promover-se o seu crescimento para posterior extração e
sequenciação do vetor, a fim de confirmar o sucesso da construção do mesmo.
A produção de mcDNA será induzida pela adição de uma solução estéril de L-arabinose
(0,01%). Após esta indução, o plasmídeo parental (PP) é convertido em mcDNA e mini
plasmídeo (mP), pela ação da integrase ΦC31, que reconhece sequências específicas. Estes
dois vetores são distintos pois contêm sequências genéticas diferentes, nomeadamente os
genes terapêuticos de interesse (mcDNA) e as sequências de origem bacteriana (mP).
Concomitantemente, a expressão endonuclease da I-Scel será também induzida com a adição
de L-arabinose, degradando os resíduos de mP e PP, através do reconhecimento de locais
específicos [10].
No entanto, alguns contaminantes do mP e PP não são totalmente removidos, pelo que será
necessário proceder-se a um processo de purificação para isolar o mcDNA e, torná-lo, dessa
forma, adequado para fins terapêuticos.
Esta tarefa irá permitir isolar o vetor de DNA mini-circular com o grau de pureza
recomendável para posteriormente ser utilizado nos estudos in vitro.
3.Caracterização
Tendo em conta o objectivo deste projeto, foram constituídos os seguintes grupos de
nanopartículas: 1) PEI-C-FA; 2) PEI-C -APT; 3) PEI-C-FA-APT; 4) amostra controlo.
A utilização de copolímeros é uma das estratégias exploradas para obter novos e melhores
sistemas de entrega de material genético, visto que a combinação de polímeros permite
juntar as características e vantagens das diferentes estruturas químicas numa só molécula
[17].
Para ligar os aptâmeros de DNA ao polímero de quitosano, estes são amplificados com primers
reversos marcados com NH2 e com fosfato, sendo posteriormente tratados com exonuclease,
adicionados gota a gota ao polímero de quitosano e incubados durante 6 horas sob agitação
(7). É de referir que a complexação do ácido fólico e do aptâmero ao polímero de quitosano
acima é efectuada de forma sequencial.
Os estudos in vitro têm como objectivo avaliar o potencial das nanopartículas desenvolvidas,
no direcionamento da entrega de mini-circular a células cancerígenas do cancro do colo do
útero.
Neste projeto serão usadas duas linhas celulares humanas: SiHa e HeLa, sendo que SiHa é uma
linha celular humana de carcinoma cervical infetado com o HPV 16, enquanto a linha celular
HeLa se encontra infetada com o HPV 18.
As linhas celulares SiHa e HeLa serão cultivadas em meio DMEM, suplementado com soro
bovino fetal 10% (v / v), a 37ºC numa atmosfera humidificada contendo 5% de CO2. Estas
linhas serão transfectadas com o vetor de expressão e partículas baseadas em quitosano (C),
PEI, ácido fólico (FA) e aptâmero (APT). Serão constituídos quatro grupos de transfecção, a
saber: (1) Células transfectadas com mcDNA, PEI, C e FA; (2) Células transfectadas com
mcDNA, PEI, C e APT; (3) Células transfectadas com mcDNA, PEI, C, FA e APT; (4) Células não
transfectadas (controlo).
As proteínas serão transferidas para uma membrana e incubadas com anticorpos específicos
para a proteína de interesse e com um anticorpo secundário, conjugado com a Peroxidase
Horseradish (HRP), que serão detetados posteriormente pela presença de reagentes
quimiluminescentes no meio. As bandas da membrana serão visualizadas em câmaras de
imagem com um sistema de dispositivo de carga acoplada (CCD), num ambiente escuro. A
absorvância das bandas positivas é quantificada por densitometria ou por espectrofotometria,
de modo a quantificar a quantidade de proteínas de interesse presente [18].
Com este procedimento, pretende-se verificar se a expressão da p53 nos diferentes grupos de
transfecção a fim de determinar as melhores estratégias de nanopartículas, na medida em
que a maior expressão da proteína indicia mais eficiência de transfecção. Em principio, a
amostra de controla terá menor expressão da proteína em questão.
Este ensaio tem como objetivo determinar a viabilidade celular após transfecção com cada
grupo de nanopartículas, incluindo o de controlo, que corresponde à linha celular saudável.
Pretende-se comparar o efeito das nanopartículas nas células cancerígenas e nas células
saudáveis para identificar as que não são tóxicas em células saudáveis.
Neste ensaio, a atividade metabólica das células é quantificada através da redução do MTT
(brometo de 3-[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5 difeniltetrazólio) por desidrogenases associadas ao
NADPH e ao NADH, resultando na produção de cristais de formazano, intensamente coloridos,
no interior das células [20].
Será de suma importância aferir a indução da apoptose das células infetadas pelo HPV, dado
que o facto de haver menor viabilidade celular não é condição sine qua non de morte
programada. Esta poderá ter a ver apenas com a formulação de nanopartículas ser tóxicas
para as células. A apoptose mediada por p53 em células transfectadas será avaliada através
da técnica de citometria de fluxo, pela medição da intensidade de fluorescência após as
células cancerígenas serem tratadas com os reagentes anexina V e iodeto de propídio (PI). As
células marcadas com anexina V encontram-se em apoptose e o PI marca os ácidos nucleicos,
significando que a membrana plasmática não se encontra viável. As células não transfectadas
são também usadas como controlo [21].