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Emissão de CO 2 na Lagoa das Furnas (São Miguel, Açores): resultados

preliminares CO 2 emission in Furnas lake (São Miguel, Azores): preliminary
results

Conference Paper · January 2014

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Cesar Andrade José Virgílio Cruz

University of Lisbon University of the Azores
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Fatima Viveiros R. Coutinho

University of the Azores IVAR - Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos
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IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014
Emissão de CO2 na Lagoa das Furnas (São Miguel,
Açores): resultados preliminares
CO2 emission in Furnas lake (São Miguel, Azores): preliminary
results
C. Andrade1*, J. V. Cruz1, F. Viveiros1, R. Coutinho1, P. Freire1
© 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP
Resumo: Com vista a investigar novas áreas e metodologias na
monitorização da atividade vulcânica no Arquipélago dos Açores,
desenvolveu-se um estudo pioneiro na região com o intuito de identificar
as zonas de desgaseificação anómala na Lagoa das Furnas.
No arquipélago dos Açores ocorrem vários locais onde é notória a
presença de fenómenos de desgaseificação, bem representados por
campos fumarólicos e por nascentes termais e de água gasocarbónica. No
entanto, a desgaseificação associada aos sistemas vulcânicos ativos
abrange áreas bem mais extensas, podendo surgir de um modo difuso
através dos solos e de sistemas lacustres, sendo apenas identificadas com
recurso a detetores de gases.
A Lagoa das Furnas foi o local escolhido para um primeiro estudo
sistemático da desgaseificação em lagos nos Açores, tendo sido
efectuadas 1537 medições, seguindo uma malha regular, sempre que
possível. Os valores de fluxo de CO2 medidos na Lagoa das Furnas
variam entre 0 g m-2 d-1 e valores superiores a 30000 g m-2 d-1.
Do valor total libertado na região do Vulcão das Furnas, 5% são emitidos
para a atmosfera a partir da lagoa (59 t d-1), o que equivale a um valor de
∼ 31 t km-2 d-1. Este valor faz com que este sistema lacustre seja uma área
importante a contabilizar e a ter em consideração quando comparada com
os restantes lagos espalhados por todo o mundo.
Palavras-chave: Lagos vulcânicos, Vulcão das Furnas, Fluxo de
CO2, Desgaseificação difusa.
Abstract: In order to develop new research areas and methodologies to
apply in the volcanic monitoring effort ongoing in the Azores
archipelago, a preliminary survey was made in order to identify
anomalous degassing areas in the Furnas lake.
Degassing phenomena occur in several areas of the Azores archipelago in
the form of fumarolic fields, thermal springs or carbonic mineral water
springs. Nevertheless, diffuse degassing through soils, or through lakes
also occur and the detection is possible only with gas detectors.
Furnas lake was selected as a first test site for degassing in lakes in the
Azores archipelago; thus 1537 measurements were made according a
regular grid. Results show that CO2 flux in Furnas lake range between 0 g
m-2 d-1 and values higher than 30000 g m-2 d-1.
From the overall CO2 degassing measured in the Furnas Volcano area,
5% is emitted from the lake (59 t d-1), corresponding to ∼ 31 t km-2 d-1.
This value reveals that Furnas lake corresponds to an important volcanic
degassing area when compared to other lakes spread in volcanic systems
worldwide.
Keywords: Volcanic lakes, Furnas Volcano, CO2 flux, Diffuse degassing.
1
Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, Departamento de
Geociências, Universidade dos Açores, Apartado 1422, 9501-801 Ponta
Delgada, Portugal.
*
Autor correspondente/Corresponding author: cesar.cc.andrade@azores.gov.pt
Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 647-650
ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X
Artigo Curto
Short Article
1. Introdução
No arquipélago dos Açores foram identificados 88 lagos,
distribuídos pelas ilhas de São Miguel, Terceira, Pico,
Flores e Corvo (DROTRH/INAG, 2001). Calcula-se que
do volume total de água contido nos lagos dos Açores
(90x106 m3), 93% corresponde ao armazenamento em
massas de água localizadas em São Miguel, que com uma
área igual a 747 km2 é a maior ilha do arquipélago dos
Açores, constituindo as Lagoas do Fogo, das Sete Cidades
e das Furnas os mais importantes ecossistemas lacustres da
ilha. As lagoas existentes na ilha das Flores contribuem
com 5% do volume total de água nos lagos dos Açores, e
os restantes 2% correspondem às várias massas lacustres
situadas nas ilhas da Terceira, Pico e Corvo.
A investigação sobre os lagos dos Açores incidiu
inicialmente sobre aspetos relacionados com a
eutrofização, mas nas últimas décadas foram
desenvolvidos trabalhos de âmbito mais alargado sobre a
hidrogeoquímica e suas relações com o ambiente
vulcânico (Martini et al., 1994; Cruz et al., 2003, 2006;
Antunes, 2003, 2008).
Um dos aspetos mais importantes relacionados com a
influência vulcânica sobre o quimismo dos lagos dos
Açores, e a sua relevância no contexto da monitorização da
atividade sismovulcânica, está associada às emanações
gasosas em geral, e de CO2 em particular face às suas
características. Com efeito, elevadas concentrações de CO2
estão frequentemente associadas a regiões vulcânicas, em
resultado de ser usualmente o primeiro volátil a ser
libertado a partir do magma e à sua baixa reatividade, que
faz com que atinja a superfície mais facilmente do que os
outros componentes. Em resultado, a desgaseificação
difusa de CO2 através dos solos tem sido alvo de
numerosas investigações nos Açores (Baubron et al., 1994;
Sousa, 2003; Marcos, 2006; Viveiros, 2003; Viveiros et
al., 2008, 2010).
Com o presente trabalho, pretende-se apresentar dados
preliminares relativos à quantificação do volume de CO2
emitido na Lagoa das Furnas. O presente estudo insere-se
num projeto mais amplo, que corresponde ao primeiro
 648
esforço para realizar a medição sistemática
desgaseificação em lagos no Arquipélago dos Açores.
2. Caracterização da área de estudo
A Lagoa das Furnas localiza-se no Vulcão das Furnas,
edifício poligenético com caldeira, que se distingue dos
outros dois vulcões centrais da ilha por ser o menos
definido morfologicamente. A sua atividade vulcânica
afigura-se complexa, uma vez que ao longo da sua história
eruptiva exibiu praticamente todos os estilos eruptivos
conhecidos, desde uma atividade moderadamente efusiva
até ao carácter paroximal, este último responsável pela
formação de caldeiras embutidas (Guest et al., 1999;
Pacheco et al., 2013).
A massa de água situa-se a 281 metros de altitude,
confinada no interior de uma caldeira de colapso no topo
do vulcão. Condicionada pela génese vulcânica da
depressão onde se situa, a lagoa apresenta uma área de
1,87 km2 e uma profundidade máxima de 13 metros, o que
corresponde a um volume de água armazenado da ordem
de 14,3x106 m3 (Fig. 1).
Junto à margem N da Lagoa localiza-se um campo
fumarólico, cuja composição química é dominada, para
além da presença de vapor de água, por CO2, H2S, H2,
CH4, N2, O2 e Ar (Ferreira & Oskarsson, 1999).
Fig. 1. Batimetria da Lagoa das Furnas (adaptado de Pacheco et al., 2010).
Fig. 1. Furnas lake bathymetry (modified from Pacheco et al., 2010).
C. Andrade et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 647-650
da 3. Metodologia
A primeira campanha de medição dos teores de CO2 na
Lagoa das Furnas decorreu entre o final de Outubro e o
início de Novembro de 2013. No decurso do trabalho,
foram feitas 1537 medições, seguindo uma malha regular,
sempre que possível (Fig. 2).
Fig. 2. Localização dos pontos de amostragem do fluxo de CO2 na lagoa
das Furnas (UTM-WGS84, zona 26S) e de realização dos perfis
hidrogeoquímicos (P1, P2).
Fig. 2. CO2 flux measuring network in the Furnas lake (UTM-WGS84,
zone 26S) and location of the hydrogeochemical profiles along the water
column (P1, P2).
Para a medição do fluxo de CO2 foi utilizado um
equipamento portátil que efetua medições pelo método da
câmara de acumulação (Chiodini et al., 1998), a qual foi
modificada para permitir flutuar na água e assim efectuar
as medições na superfície do lago (Fig. 3). Este
equipamento, fabricado pela empresa West Systems® S.r.l.,
é dotado de um detetor de infravermelhos (modelo LICOR
LI-800 (L-IR) com escala máxima de 20000 ppm, e
permite efetuar medições de fluxo de CO2 no intervalo
entre 0 e 30000 g m-2 d-1.
O CO2 proveniente da água do lago passa através da
câmara de acumulação e é aspirado para o sensor de
infravermelhos, sendo o valor de fluxo obtido pelo
incremento da concentração de CO2 ao longo do tempo. A
pressão barométrica e a temperatura do ar são registadas
periodicamente para efectuar a conversão dos valores em
unidade de g m-2 d-1.
Em cada ponto de amostragem foi tirada a referência
GPS e os dados foram projetados num sistema de
informação geográfica (ArcGIS® 9 software da ESRI),
após o que foram corrigidos se necessário. O mapa de
distribuição de CO2 da lagoa das Furnas foi obtido pela
interpolação dos dados com o método determinístico IDW
 Emissão de CO2 na Lagoa das Furnas: resultados preliminares
(Inverse Distance Weighting) interpolando seis pontos
vizinhos.
Realizaram-se simultaneamente dois perfis
hidrogeoquímicos (P1 e P2) ao longo de toda a coluna de
água (Fig. 2), sendo recolhida uma amostra a cada dois
metros com recurso a uma garrafa amostradora da marca
SEBA com um volume de 1000 ml.
Fig. 3. Medição de fluxo de CO2 no lago com a câmara de acumulação
flutuante.
Fig. 3. Measuring the CO2 flux in the lake with a accumulation chamber
coupled with a floating device.
4. Resultados e discussão
A elaboração dos perfis permitiu demonstrar que os
resultados obtidos não são influenciados por qualquer
processo de estratificação na massa de água (Fig. 4). O pH
da água é ligeiramente ácido, não diminuindo
significativamente ao longo da coluna de água. A
condutividade elétrica da água varia entre 161 e 165
µS/cm, o que mostra que se trata de fluidos fracamente
mineralizados.
Fig. 3. Variação da temperatura, pH e condutividade na coluna de água da
Lagoa das Furnas.
Fig. 3. Variation of temperature, pH and conductivity along the water
column in the Furnas lake.
649
Os valores de fluxo de CO2 medidos na Lagoa das
Furnas variam entre 0 g m-2 d-1 e valores superiores a
30000 g m-2 d-1. A interpolação dos dados permitiu obter
um mapa de anomalias referentes ao fluxo de CO2 na
Lagoa das Furnas (Fig. 5). A integração dos valores
médios pela área estudada permite estimar um valor de
aproximadamente 59 t d-1 para o CO2 libertado para a
atmosfera. A normalização deste valor por área fornece
uma estimativa de ∼ 31 t km-2 d-1.
O mapa agora obtido vem complementar os trabalhos
desenvolvidos nos solos por Viveiros (2010) e Viveiros et
al. (2010, 2012) nas áreas de desgaseificação do Vulcão
das Furnas. Os resultados preliminares permitem constatar
que as anomalias observadas na lagoa parecem
acompanhar as anomalias já detetadas em terra, com os
valores mais elevados localizados na parte N da lagoa,
junto ao campo fumarólico da Lagoa das Furnas.
Adicionalmente, os valores estimados de CO2 emitido para
a atmosfera não podem ser negligenciados e equivalem a
cerca de 5% do total de CO2 estimado para a emissão
através dos solos (Viveiros et al., 2010).
O estudo efetuado permite, ainda, verificar que a
localização e orientação das estruturas tectónicas
cartografadas na zona de estudo parecem ter continuidade
ao longo do fundo da lagoa, o que se depreende da
localização das anomalias de CO2.
Fig. 5. Mapa de fluxo de CO2 na Lagoa das Furnas (método de interpolação:
IDW com seis pontos vizinhos) (UTM-WGS84, zona 26S; tamanho da
célula= 6x6 m).
Fig. 5. CO2 flux cartography in the Furnas lake (interpolation method:
IDW with six neighbouring points) (UTM-WGS84, zone 26S; cell size=
6x6 m).
5. Considerações finais
O trabalho realizado é pioneiro na região, e contribuiu para
uma melhor definição das zonas anómalas apresentadas
por Viveiros (2010), ao incidir sobre uma massa de água
onde não existia informação sobre a distribuição espacial
dos valores de CO2. Este trabalho evidencia a similaridade
 650
bem patente das anomalias no solo com as determinadas
no interior da lagoa, concluindo-se o continuar das
mesmas para terra.
Os perfis hidrogeoquímicos realizados permitiram
constatar a não existência de estratificação da coluna de
água.
Segundo um estudo realizado por Pérez et al. (2011), a
Lagoa das Furnas é a par de outros lagos vulcânicos, um
dos 20 que emitem um maior fluxo de CO2 (∼ 31 t km-2
d-1) para a atmosfera.
O trabalho realizado com vista a caracterizar as
anomalias desta área permitirão numa próxima fase do
trabalho, e na posse de um conjunto de resultados mais
sólido, proceder à modelação numérica e constituir uma
base válida na monitorização da atividade vulcânica.
Agradecimentos
Os autores desejam agradecer a contribuição da Direção
Regional do Ambiente, na disponibilidade da embarcação e
do seu condutor. F. Viveiros possui uma bolsa de pós-
doutoramento financiada pelo FRC (M3.1.7/F/018/2011).
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