- O livro é uma obra de esclarecimento político sobre o neoliberalismo, entendido como uma lógica
normativa global.
- Primeira edição do livro: 2009. Objetivo era combater o erro de diagnóstico que surgiu com a
crise financeira de 2008 (“o fim do neoliberalismo”, reabilitação da intervenção governamental na
economia – ilusões). A crise não provocou o enfraquecimento das políticas neoliberais, e sim o seu
brutal fortalecimento com os planos de austeridade. Estados cada vez mais ativos na promoção da
lógica da concorrência dos mercados financeiros.
- Tese central do livro: o neoliberalismo não é somente uma ideologia e a política econômica
inspirada nessa ideologia, mas acima de tudo uma racionalidade que produz uma lógica normativa
(ou sistema normativo) que orienta internamente a prática efetiva dos governos, das empresas e
das pessoas, mesmo que elas não tenham consciência disso.
O neoliberalismo pode ser definido como um conjunto de discursos, práticas e dispositivos que
determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência.
Governo pela liberdade (e não contra ou a despeito da liberdade) – agir ativamente no espaço de liberdade
dos indivíduos para que se conformem por si mesmos a certas normas.
O neoliberalismo não apenas destrói regras, instituições, direitos, como também produz certos tipos de
relações sociais, certas maneiras de viver, certas subjetividades. Ele define uma norma de vida, a forma de
nossa existência: como somos levados a nos comportar, a nos relacionar com os outros e com nós mesmos;
rege as políticas públicas e as relações econômicas mundiais, transforma a sociedade e a subjetividade. O
neoliberalismo é a nova razão do mundo, global em ambos os sentidos (mundial / integradora de todas as
dimensões da existência humana).
Implantação de técnicas que visam a produzir formas mais eficazes de sujeição, com a marca das violências
sociais típicas do capitalismo: a tendência a transformar o trabalhador em uma simples mercadoria.
Corrosão progressiva dos direitos do trabalhador. Aumento considerável do grau de dependência dos
trabalhadores com relação aos empregadores. Naturalização do risco: exposição cada vez mais direta dos
assalariados às flutuações do mercado, pela diminuição das proteções e das solidariedades coletivas.
Transferindo os riscos para os assalariados, produzindo o aumento da sensação de risco, as empresas
puderam exigir deles disponibilidade e comprometimento muito maiores. As técnicas de gestão são usadas
para obter a adesão do indivíduo a essa norma de conduta e para medir o seu comprometimento
(avaliação), sob pena de sanções.
- Reflexão: a racionalidade neoliberal se impõe como a única racionalidade, como o único discurso
autorizado/legítimo (tentativa de suprimir o conflito / a política, reduzindo tudo a uma questão
técnica / econômica).
- Não se trata de um novo regime político, e sim da propensão da lógica normativa neoliberal de
apagar as diferenças entre os regimes políticos, a ponto de relegá-los a uma indiferenciação
(regime híbrido, democracia iliberal).
- O liberalismo pode ser democrático ou autoritário (liberalismo como limitação do poder, ainda
que seja da maioria); a democracia poder ser liberal ou totalitária (dirigentes eleitos pela maioria,
mas sem limitações ao exercício do poder).
- A crise financeira (2008) deu início a uma crise da governamentalidade neoliberal, mas esta teve
como resposta um reajuste de conjunto do dispositivo neoliberal Estado/mercado (dispositivo
global, de natureza essencialmente estratégica – Foucault), uma nova fase do neoliberalismo, e
não a sua superação.
- O neoliberalismo pode impor-se como governamentalidade (racionalidade) sem ser a ideologia
dominante: a racionalidade neoliberal pode articular-se a ideologias estranhas à pura lógica
mercantil, ainda que com tensões ou contradições. Exemplo: neoconservadorismo (hoje),
liberalização dos costumes (antes).
- A lógica normativa do neoliberalismo só poderia ser derrotada por revoltas de grandes extensões.
- Os autores afirmam que a única forma de resistir à racionalidade neoliberal é promover formas
de subjetivação alternativas ao modelo da empresa de si. Uma mudança de política governamental
ou de governo não são suficientes para sair dessa racionalidade/governamentalidade. Propõem
uma contraconduta (Foucault – luta contra os procedimentos postos em ação para conduzir os
outros e a si mesmo) que consiste em um dupla recursa: de se conduzir a si mesmo como uma
empresa e se conduzir em relação aos outros de acordo com a norma da concorrência. Para eles,
uma outra razão do mundo possível seria a razão do comum.
A recusa de funcionar como uma empresa de si, que é distanciamento de si mesmo e recusa do total
autoengajamento na corrida ao bom desempenho, na prática só pode valer se forem estabelecidas, com
relação aos outros, relações de cooperação, compartilhamento e comunhão. A invenção de novas formas
de vida somente pode ser coletiva. Exemplo: recusa coletiva a trabalhar mais.
- “O capitalismo neoliberal não cairá como uma ‘fruta madura’ por suas contradições internas”
(Dardot e Laval). “A história não faz nada” (Marx), cabe aos homens mudar o futuro por meio de
suas ações.