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Laboratério de Psicologia Experimental Programa de Estudos Pés-graduados em Psicologia Experimental: Andlise do Comportamento 2009 comportamento e causalidade Organizadores Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério e Nilza Micheletto 180 160 140 120 100 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0 de comportamento Tereza Maria Sério, Nilza Micheletto, Maria Amalia Andery Reforgamento extrinseco e intrinseco D Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério Respostas e eventos subse contingéncia 15 Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério Extingao Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério a Modo causal de selegao por consequéncias ea explicagao do comportamento a Maria Amalia Andery, Nilza Micheletto, Tereza Maria Sério Comportamento respondente condicional incondicional “9 Marcelo Benvenuti, Paula Suzana Gioia, Nilza Micheletto, Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério PUC/SP Algumas notas sobre o conceito de contingéncia de reforsamento 62 Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério Pontificia Universidade Catélica de Sao Paulo 2009 Andery, M. A.; Micheletto, N. e Sétio , T. M. (ORG). Comportamento e causalidade. (2007). ‘figura da capa representa uma curva acumulada do nimero de disertagées defendidas ae ano, no Programa de Puicologie Experimental Andlse de Comportamento da Pentificia Universidade Catélica de Sée Povo. Execupio gréfica: Marie Amalia Andery 1 Definigdo de comportamento Defini¢ao de comportamento * ‘Tereza Maria Sério, Nilza Micheletto, Maria Amalia Andery PUCSP, ‘Uma das caracteristicas que distinguem a teoria em psicologia chamada anilise do comportamento? é exatamente a proposi¢io do comportamento como objeto de estudo da psicologia. A histéria da construgio dessa teoria ¢ de sua difusio na psicologia mostra que essa proposta nem sempre foi bem compreendida, o que tem aferado a compreensio dos conceitos que compdem essa teoria ¢ das caracteristicas da explicagao que cla oferece para o comportamento. Nosso objetivo, neste artigo, é destacar alguns aspectos que pare- ccem set importantes para compreender ¢ avaliar a proposta do comportamento como ob- jeto de estudo da psicologia. Um primeiro aspecto a ser destacado é que o interesse central da andlise do com- portamento é a compreensio do comportamento humano; é esse interesse que conduz a0 estudo do comportamento em si, independentemente da espécie a que pertence o indivi- duo que se comporta. Esse caminho, ou possibilidade — estudar o comportamento em diversas espécies tendo como objetivo a compreenstio do comportamento humano — fun- damenta-se em uma determinada concepgio da espécie humana. A espécie humana, como todas as oxtras espécis, & um produto da selecao natural. Cada sum de seus membros é une organismo extremamente complexo, um sistema viva, objeto da anatomia eda fisiologi. Campos como a respiragao, a dgestio, a circulagao e a imunigagao foram separados com ojetos de estudo especiais e entre eles esté 0 campo que chamamos comportanento, Este envolve comamente 0 ambiente. Skinner, 1974, p.33) Dois aspectos intimamente relacionados marcam essa concepgao de espécie hu- ‘mana: (1) 0 compromisso com a teoria da evolugio por selecdo natural ¢ (2) 0 cariter rela- cional envolvido no comportamento. Vamos examinar, inicialmente, o primeiro aspecto. © compromisso com a teoria da evolucio por selegio natural conduz ao estudo de uma 1, Uma versio deste artigo foi publicada em Ciénsiat Comportamente ¢ Cognigio, 2007, 1, 17-24. 2. maneira como eta abordagem é nomeada pode vate, Termos como ‘paicologia comportamental, lise experimental do comportimento™ou-tbehavioismo’ por exemplo, tem sido empregades. A aden? os preferenin pls frees anc de nome eh qu mete dicate ct Ona S20 naclcabe aqui Neste arigo usaremos 1 expreseaoanalse do comportamento’ para nomeat ea teora 2 TM Sétio, N Micheletto, M A Andery longa histéria e a uma determinada mancira de descrever essa histéria Esta teoria se origina principalmente das proposicdes de Charles Darwin (1809- 1882), em especial, daquelas apresentadas em seu livro A origem das espécies (publicado pela primeira vez em 1859). Darwin € outros estudiosos que eram seus contemporiineos defen- diam a nogio de que as espécies mudavam no decorrer de sua histéria; esses pensadores opunham-se, assim, de forma clara, 4 suposicio adotada até entio pela grande maioria dos estudiosos da natureza de que as espécies seriam produtos imutaveis e independentes, isto €, de que cada uma delas havia sido criada separadamente: Eston plenamente convencido que as espécies nao so imutdveis ¢ que aguelas pertencentes 420 que chamantos de mesmo género so descondentes lineares de wma outra espécie, via de negra, extinta, (Darwin, 1998/1859, p. 23) Todo ser vivo esté relacionado, direta ow indiretamente, de mancira muito importante com ‘outros sees wives — vemos que a drea em que vem os habitantes de uma regido qualquer de ‘mancira alguma depends exclusivamente de condigies fiscas que mudam insensivelmente, ‘mas depende em grande parte da presenga de outras espécies. (Darwin, 1998/1859, p. 216) © que caracteriza a concepeao de Darwin sobre a mutabilidade das espécies ¢ que as espécies evoluiriam por um processo de selegao efetuado sobre uma variagio biolGgica abundante. Como afirma Gould (1990), um biélogo evolucionista contemporineo, Dar- win, partindo de indicios coletados que permitiram a ele estabelecer a evolucio como principio coordenador da histéria da vida, estabeleceu dois processos que constituiriam esta histéria: variagio € selecao. O primeiro proceso, a variagio, se origina da reproducio com desvios da descen- déncia com modificagdes, ou seja, observam-se, nos descendentes, difereneas individuais que constituem a variabilidade no interior de uma espécie, No subtitulo intitulado ‘circunstincias favoriveis & produgio de novas formas por meio da selegio natural, Dar- win (1998/1959) afirma: Uma grande quantidade de varibilidade, termo que sempre inclu diferencas individuats, widentemente soré favorével... Quanto mais diversifcados se tornam os. descendentes de uma espéie no que se rere & estrutura,consttuicao ¢ habites, tanto mais estado capacita- dos a predominar em lugares diferentes ¢ muito dversfiados.. podendo assim auamentar em imero, (pp. 133- 145) O segundo proceso, a selecio, ocorre quando, frente a alteragdes ambientais, seres 3 Definigdo de comportamento que apresentam variagdes mais adaptativas as novas condigdes sobrevivem ¢ se reprodu- zem, transmitindo, assim, suas caracteristicas a seus descendentes. A comparagio que Gould (1989) faz da proposta de Lamarck (1744-1829) com a de Darwin evidencia a importincia destes dois processos na descri¢io da evolugio das espé- cies. A teoria da selega0 natural de Darwin é mais complexa que o lamarckismo porque requer dois process separades, em vex de uma forga inica. Ambas as eorias tne ratzes no concei- 40 de adaptariaa — aida de que os organismos respondem as mudancas ambientais desen- twhendo uma forma, fungao, ou comportamento mais adequado as novas circunstincias. Assim, nas duas teorias, as informaries do anrbiente tém de ser transmitidas aos organis- ‘mos. No lamarckismo, a transmissdo € direta, Um organismo dé-se conta da mudanca ambiental, responde a ela da mancira “eorreta” ¢ passa diretamente & descendéncia a reagao spropriada. O darwinismo, por outra lade, & um processo de duas fases em que as forgas rsponsdves pela varigao e pela dregao sao diferentes. Os darwinistas referemese& primeira fast, a variacio genética, como send “aleatéria”. Tratase de umm termo infeliz, porque nao queremos dizer aleatévio no sentido matemétice, de igualmente provével em todas as dire- ies. Simplesmente, entendemos que a variagaa acorre sem orientagio preferida nas direcies adaptativas. Sea temperatura eta caindo e xm revestimento mais pelude ajudaria na sobre- vivéncia, a variagéo genética que aumenta a quantidade de pelos no comeca a surgr com fregitincia maior. A selegao, segunda fase, trabalba sobre variagtes nao orientadas e muda a ‘populacae, confrinds maior éxito repradutive as variantes favorecidas, Kista 6 a diforenca ‘ssencial entre lamarckismo ¢ darwinismo, jd que 0 lamarckismo & fundamentalmente uma teoria de variagao dirigida. Se os pelos sao melbores, os animais compreendem essa necessi- dade, desenvolvom-nas e passam o potencial @ descendncia. Assim, a variagao é dirigida automaticamente para a adaptagao, e nenbuma forza secundiria como a selegao natural é necesséria. (pp. 67, 68) Apesar de ambos 0s autores compartilharem a nogio de variagio, para Darwin ne- nhuma forga ou tendéncia orienta a variagio, nenhuma idéia de progresso orientou a his- t6ria da vida, isto 6, a histéria de diferentes espécies. Em decorréncia desta suposicao, se- gundo Gould (2001), Darwin resistiu ao emprego da palavra evolucdo € nao a utilizou na primeira edicio de Origen das Espécies: “a teoria basica da selegio natural nfo declara nada sobre o progresso geral e niio possui nenhum mecanismo generalizado através do qual se possa esperar um avango generalizado.” (Gould, 2001, p. 188) 4 TM Sério, N Micheletto, M A Andery romance da vida é a historia de remotes macicas seguidas de diferenciagio das poucas populagies sobreviventes, e nto a fébula convencional de wma caminhada segura em diregao 2 uma extelinca, complexidade e dversidade cada vex maiores. (Gould, 1990, p. 21) Algumas implicagdes para a concepgio da espécie humana decorrem desta nogio de variagio: a suposigio de que a espécie se transforma e nio se define por uma esséncia i- mutivel e que as mudangas nao ocorrem a partit de um propésito, de uma forga orienta- dora, ou no sentido de produzir necessariamente progresso. Além disso, sio 0s processos de variacio e selecio que petmitem compreender tan- toadi versidade entre as espécies de seres vivos como as caracteristicas peculiares de cada uma das espécies, dentre elas, a espécie humana. Ou scja, a partir da histéria de variagio © selegio podemos compreender como se originaram as caracteristicas que a espécie huma- na tem em comum com as demais espécies as caracterfsticas que tém sido consideradas peculiares aos seres humanos. Dessa forma, o compromisso com a teoria da evolugio por seleco natural fornece fundamentos para uma concepgio da espécie humana como pro- duto da natureza e como fendmeno histérico; é fenémeno com uma historia que revela uma conclusio surpreendente: a histéria da constituigo da espécie humana mostra que os seres humanos no sto apenas produtos da natureza, si0 também produtos do préprio homem. A mensagem principal da revoluaa darwiniana a espéce mais arrgante da naturega 6 a unidade entre a evolugao bunana ¢ a de todos os demais organismos. Somos parte inexctricé- el da natureza, 0 que nae nega 0 caréter nica do bomem... Nao é mero argulbo afirmar que 0 Homo sapiens ¢ especial em certo sentido, uma vex. que, a sen modo, cada espécie é Jinica....O canter tinica do homem tev como consegiténcia fundamental a intradugao de sm novo tipo de evolugao que permite transmitir 0 conbecimento e 0 comportamento adguirides ‘pela aprendizagem através de geraies... As sociedades bumanas mudam por evolucao eul- tural, ¢ nao como resultado de alteraries biligicas... A evolugao bioligica (darviniana) continua em nossa espéie; mas sew ritmo, comparade com o da evalugao cultura, tao des- ‘mesuradamente lento que sua influéncia sobre a bistéria do Homo sapiens foi muito peque- na. (Gould, 1999, p.346) Tomar a espécie humana como um dos resultados do longo processo de vatiagio € selecio pelo qual passaram os seres vivos faz, é claro, com que olhemos o comportamen- to também como um produto desse processo: “o que chamamos comportamento evoluit como um conjunto de fungées que promovem o intercimbio entre organismo e ambien- 5 Definigdo de comportamento te” (Skinner, 1987, p.51). Esta mancira de olhar o comportamento j4 contém o segundo aspecto que marca a concepeao de homem: o carter relacional envolvido no comporta- mento, Como afirma Skinner (1987), 0 termo comportamento desereve sempre uma rela- io —o intercimbio entre o oxganismo € 0 ambiente; mais especificamente, comporta- mento descreve uma relagio ou interagio entre atividades do organismo, que so chama- das gencricamente de respostas, ¢ eventos ambientais, que so chamados genericamente de estimulos, Concluindo, definimos comportamento como a rclagio entre estimulo ¢ res- posta. Afirmar que © objeto de estudo da psicologia € 0 comportamento € afirmar que o objeto de estudo da psicologia é a interacio entre o sujeito (suas atividades, suas respos- tas) € o ambiente (os eventos ambientais, os estimulos). Tal relacio s6 seri adequadamen- te compreendida se a cla acrescentarmos quase que um aviso: nenhum limite metodolégi- co deve ser imposto aos estimulos ¢ as respostas que constituem um comportamento. Com este aviso queremos destacar pelo menos quatro aspectos. O primeiro diz respeito 4 extensio do termo ambiente: o termo ambiente se apli- ca A situagio na qual o responder acontece € & situago que passa a existir apds o respon der, isto é, aos estimulos que antecedem a resposta (chamados de estimulos antecedentes) € aos estimulos que seguem a resposta (chamados de estimulos subseqiientes). Neste caso, © aviso ¢ importante porque € bastante comum restringirmos © termo ambiente (e, por conseqiiéneia, 0 termo estimulo) aos eventos que antecedem a resposta. Podemos ter comportamentos — ou relagdes — que envolvem apenas estimulos antecedentes e a respos- ta e relagdes que envolvem os estimulos antecedentes, a resposta e os estimulos subse- qiientes. Um segundo aspecto diz respeito ao que estamos chamando de atividades, de res- postas do organismo: em prinefpio um organismo vivo esti sempre respondendo, mesmo quando é muito dificil identificar que esta ocorrendo uma resposta; a facilidade ou dificul- dade para identificar a ocorréncia da resposta no € critério para falar da sua existéncia, Com isto estamos afirmando que 2 atividade do organismo envolve respostas manifestas (cespostas que podem ser observadas de forma independente por mais de um observador) € respostas encobertas (respostas que podem ser observadas apenas pelo organismo que se comporta). Se as respostas envolvidas na relagio (comportamento) sio encobertas ou manifestas, isto nfo € critério para incluir ou excluir a relacio como objeto de estudo da psicologia. TM Sério, N Micholotto, M.A Andory terceito aspecto que queremos destacar quando afirmamos que neshum limite metodolégico deve ser imposto aos estimulos ¢ As respostas que constituem um compor- tamento refere-se novamente 20 termo ambiente, Os eventos ambientais sio compostos por estimulos fisicos e estimulos sociais. Estimulos fisicos sio eventos cujas propriedades € dimensdes fandamentais tém sido deseritas pelas ciéncias dlitas naturais; por exemplo, os diversos objetos ao nosso redor. Estimulos sociais sio eventos cujas propricdades ¢ di- mensdes basicas sio derivadas do fato de serem produzidas por outro organismo; no caso de seres humanos, so produtos culturais Além disso, os eventos ambientais incluem estimulos piiblicos e estimulos privados. Estimulos pablicos sto estimulos acessiveis de forma independente a mais de um observa- dor; por exemplo, os diversos objetos a0 nosso redor. Estimulos privados sto estimulos acessiveis dirctamente apenas a0 organismo afetado por eles; por exemplo, formigamento nos pés O aviso da nfo restrigio metodolégica as nogdes de estimulo e resposta é impor- tante porque € bastante comum restringirmos o termo ambiente (e, por conseqiiéncia, o termo estimulo) aos estimulos fisicos € piblicos. Mais do que isso, a dicotomia entre e- ventos / fenémenos piblicos ¢ privados deixou marcas importantes na histéria da psico- logia c o tratamento dado pela anilise do comportamento a tal dicotomia é um dos aspec- tos distintivos desta teoria Antes de apresentarmos como a questio da dimensio pablico-privado do ambiente (dos estimulos) é tratada pelos analistas comportamento precisamos abordar um aspecto mais geral envolvido na compreensio do termo ambiente, Como ressalta Skinner (1969), do ponto de vista da anilise do comportamento, ambiente é muito mais do que © cenério no qual as coisas acontecem, Reconhecer isto ja implica superar uma concepedo bastante difundida € que, segundo este autor, persistiu até o século XVIT, quando pela primeira vez ‘© ambiente passou a ser visto como algo mais do que “o local no qual animais ¢ homens viviam e se comportavam” (Skinner 1969, p. 2). Este, entretanto, foi apenas o primeiro asso na construgio de uma nova concep¢io de ambiente. Para que ambiente pudesse ser efetivamente cons lerado como clemento constitutive do comportamento mais um passo seria de fundamental importincia: seria necessirio superar o que Tourinho (1997) chama de “concepgio naturalista de ambiente” (p.222). Fsta supetagio envolve uma dis- tingdo entre “ambiente enquanto elemento constitutive do fendmeno comportamental” € “mundo circundante”; nas palavras desse autor, quando falamos em ambiente no esta- iio de comportamento mos falando de “algo naturalmente existente, muito menos coincidente com 0 conjunto de tudo que esta a nossa volta” ou do “universo circundante a todos ¢ a cada um”. Segun- do Tourinho (1997): © abandono de uma perspectiva naturalista para 0 conceito de ambiente implica admitir que o universo 6, em larga medida, para cada wm, um material indiferenciado. FE: apenas a partir do momento em que interage com partes do universo de um modo particular que 0 individuo passa a se comportar discriminativamente diante das mesmas — e que elas, enti, se convertem em ambiente, (p.222) ‘Tourinho (1997) procura ilustrar esta distingao com o esquema a seguir. UNIVERSO AMBIENTE Figura 1. A distingao entre universo e ambiente (Adaptada: Tourinho, 1997, p. 222) ‘Tendo explicitado que a nocao de ambiente para a andlise do comportamento en: volve concebé-lo como constitutivo do fendmeno comportamental, é possivel voltar 4 discussio da dicotomia (entre estimulos) publico-privado. Para iniciar a discussao recorre- remos a alguns trechos de dois diferentes artigos de Skinner (1969 1974) nos quais sua posigio é explicitada de forma bastante clara. Em primeiro lugar, a existéncia da parte pri- vada do universo é afirmada: fato da privacidade nao pode, naturalmente, ser questionado. Cada pessoa estd em conta: ‘to especial com uma pequena parte do universo contida dentro de sua prépria pele... ela estd unicamente sujeita a certos tipos de estimulasao proprioceptiva e interoceptiva, (Skinner, 1969, p.225) ‘Mais do que isso, Skinner (1969) afirma a necessidade de uma ciéncia do comporta mento lidar com esta parte do universo, ou mais claramente, a necessidade de estudar co- ‘mo esta parte do universo ou partes dela podem se constituir em ambiente: E particularmente importante que uma citncia do comportamento enfrente 0 problema da privacidade .. Uma ciéncia adequada do comportamento deve considerar os eventos que 8 TM Sétio, N Micheletto, MA Andery cocorrem sob a pele de um organismo, nao como mediadoresfisioligicas do comportamento, ‘mas como parte de comportamento em si. Pode lidar com estes eventos sem assumir que eles tém qualquer natureza especial ou gue devem ser conbecidos de uma maneira especial. A pele nao € tao importante como unm limite. Eventos privados¢ palios tom o mesmo tipa de dimensoesfisicas, (p.227-28) Neste trecho ficamos sabendo que: (a) Skinner nao nega a existéncia de um univer- so privado, (b) propée como uma tarefa de uma ciéneia do comportamento estudar como esta parte do ambiente passa a constituir um comportamento ou, dizendo de outra manei- 1a, como esta parte do universo é transformada em ambiente. Skinner afirma (€) que a parte privada nfo “tem qualquer natureza especial” ¢, finalmente, (d) que para conhe- cé-la no precisamos necessariamente recorrer a nenhuma “maneira especial” de pro- coder, Considerando as marcas que a dicotomia piblico-privado produziram na histéria da psicologia, os dois iltimos t6picos merecem especial atengio, Discutiremos em primeiro lugar o t6pico relativo A natureza desta parte do universo. Em seu livro About Bebabiorim (1974) Skinner novamente reafirma sua posigio. No inicio do segundo capitulo, que tem como titulo © mundo dentro da pele, Skinner afirma: Uma pequena parte do universo estécontida dentro da pele de cada um de més. O fat desta (parte do universe estar situada dentro destes limites nao é raso para que ela deva ter qual- (quer status fsico especial... e, finalmente, deveremos ter, a partir da anatomia e da fisolegi- 4, uma descrigio completa dela. Nibs a sentinvos 6, em certo sentido, a observamos ¢ pareceria Joucura negligenciar esta fonte de informagao apenas porgue ninguim mais, além da pripria pessoa, pode fazer contato com 0 seu mundo intern. Entretanto, nosso comportamento, ao _fazer este contato precisa ser exantinads. (p.21) Algumas paginas adiante Skinner (1974) deixa absolutamente claro que discutir © “mundo privado” e enfrentar os problemas que gerou para a psicologia so questies centrais para o sistema teérico por ele construido: so as respostas que tal sistema ofe- rece para os problemas gerados que o transformam em uma alternativa diante das de- mais perspectivas teéricas presentes na psicologia: Uma ciénca do comportanento deve considera. os estimulos privados como coisas fsicas e «20 fazer iso ela fornece uma descrgao alternativa da vida mental A questaa, enldo é esta: 0 gue hd dentro da pele ¢ come nés conbecemes isto? A resposta é,aoredio,o cerne do beba- iorismo, (197A, pp.211-212) Finalmente, o quarto aspecto a ser considerado quando se assume que comporta- 9 Definigdo de comportamento mento é uma rclagao entre sujeito ¢ ambiente sobre a qual no se impéem limites metodo- logicos, refere-se a0 fato de a relacio organismo-ambiente poder envolver situagdes com niveis de complexidade aparente distintos. Uma relagio pode se r identificada em uma situagio aparentemente simples, como por exemplo, lacrimejar ao descascar cebolas, abrir ‘uma porta ao ouvir uma campainha, ou em uma situagio obviamente complexa como, por exemplo, solucionar um problema, abstrair, conhecer a si mesmo. Para o estudioso do comportamento nos dois casos, numa situagio aparentemente simples ¢ numa situaga0 obviamente complexa, hi desafios. Desafios detivados do fato de assumirmos como obje- to de estudo uma relagio que ao mesmo tempo é produto € construtora de uma hist6ria. E esta caracteristica que Skinner (1953/1965) destaca em uma das oportunidades em que presenta o comportamento como objeto de estudo da psicologia, Comportamento é xm objeto de estudo dificil, nto porgue é inacessivel, mas porgue é extre- ‘mamente complexe. Uma vee, que & um proceso, ¢ nite uma coisa, nao pade failmente ser imobilizado para observacio. F. mutével, fluido e evanescente e por esta razao coloca enor- ‘mes exigéncas sobre a engenbosidade ¢ energia do cients. (p. 13) O desafio que se coloca para a anilise do comportamento € descrever e explicar as interagées que constituem o comportamento ¢ a histéria que produziu estas interagdes. Os conccitos que foram propostos por esta teoria pretendem dar conta deste desafio. Referencias bibliograficas Darwin, C. (1998). The origin of species. New York, NY: Random House (Publicagio origi- ak: 1859), Gould, S. J. (1989). O polegar do panda. Sto Paulo: Martins Fontes. Gould, S. J. (1999). A fake medide do homem. Sio Paulo: Martins Fontes. Gould, 8. J. (1990). ida Maravilbosa. Sa0 Paulo: Gould, S.J. (2001). Lance de dades, Rio de Janeiro, Record. Skinner, B. F. (1965). Science and buman behavior, New York, NY: The Free Press. Publicagio original: 1953). Skinner, B. F. (1969). Contingencies of rinforcement. New York, NY: Appleton-Century Crofts. Skinner, B. F. (1974). About bebavioriom. New York, NY: Alfred A. Knopf. Skinner, B. F. (1987). Upon further rection. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall. Companhia da Letras. ‘Tourinho, E. Z. (1997). Privacidade, comportamento ¢ 0 conceito de ambiente interno Em R. A. Banaco (Org,). Comportamento ¢ cgnigao, Vol. 1. Santo André: ARBytes. 10 MA Andery, TM Sério Reforgamento extrinseco e intrinseco' Maria Amalia Andery, ‘Tereza Maria Sério® PUCSP Vimos, até aqui, que comportamento operante descreve uma relagao sujeito- ambiente (resposta-estimulo) especifica. O que caracteriza esta relagio & que a resposta produz alteragdes no ambiente e é sensivel a isto. Esta caractetizagao de comportamento operante envolve necessariamente, entio, dois elementos: (a) a produgio de alteragdes no ambiente ¢ (b) a sensibilidade a essas alteragdes, As alteracées produzidas pelo responder de um organismo sio denominadas con- seqiiéncias, chamamos de conseqiiéncias quaisquer eventos produzidos pelas respostas de um organismo. As conseqiiéncias produzidas pelo responder podem alterar o préprio responder ¢ quando alteram responder podem fortalecer ou enfraquecer a resposta que as produziu, Tratamos, até aqui, das conseqiténcias que fortalecem uma resposta, Quando estas alteragdes, produzidas pela resposta de um sujeito, retroagem, fortalecendo estas res- postas (aumentando sua probabilidade de voltar a ocorret) sio chamadas de reforgador (ou estimulo reforgador). Ref ‘cadres, como vimos, podem set divididos em dois grupos: (a) quando a res- posta produz a apresentagio - 0 acréscimo - de algo no ambiente ¢ (b) quando a resposta produz a temocio - a retitada - de algo no ambiente, Falamos em reforgamento positivo quando a resposta produz a apresentacio de algo ¢ falamos em reforgamento negativo quando a resposta produz. a remogio de algo no ambiente (em cada caso, este algo é cha- mado, respectivamente, de reforgador positivo c reforgador negativo). F, devemos lem brar, quando falamos em reforgamento, falamos em fortalecimento da classe de respostas que produziu seja a remogio, seja a apresentacio de estimulos. (Skinner, 1953) Em qualquer destes dois casos — seja do reforgador positive, seja do reforgador negativo — é importante fazer, ainda, uma outra distingio. Quando a conseqiiéncia é pro- dato direto da resposta estamos diante de uma rclagio resposta-conseqiiéncia ¢ quando a » deste artigo foi publicada em Costa, C.B., Lozia, J.C. San’Anna, H. H. N. (Org) (2004) em anlise ds comportamento cag, solame 2. Santo Andzé: Estee. Reforgamento extrinseco conseqiiéncia depende da propria resposta € de outros eventos estamos diante de uma outra relagio. No primeiro caso, dizemos que as conseqiiéncias so intrinsecas (naturais), no segundo caso, dizemos que sio conseqiiéncias extrinsecas (arbitrérias) Numa tentativa de ilustrar estas relagSes, apresentamos a Figura 1 remover algo) nao alteram R RESPOSTA CONSEQUENCIAS alteram R adicionar algo enfraquecem fortalecem Reforgamento intrinseco Reforgamento extrinseco Figura 1. Diagrama das relagées resposta-conseqléncia até aqui abordadas Segundo Horcones (1992): Consegiéncias intrinsecas orginamse no priprio compartamento; elas so 0s resultados naturais ow antometicos do responder ... Consegiténcias extrinsecas originant-se em otras fontes ali do priprio comportamento do funcionar como reforcadores. Consegiténcias intrinsecas on extrinsecas podem on Asin, um comportamento é naturalnente reforgado quando as consegiiéncias intrinsecas que ele produ funcionamy como reforradores. (pp. 71, 72) Para esclarecer esta distingao entre conseqiiéncias intrinsecas ¢ extrinsecas, Horco- nes (1992) utilizam © seguinte exemplo: conhecimento é uma conseqiiéncia intrinseca, enquanto que um comentitio aprovador do professor é uma conseqiiéncia extrinseca de estudar. Abordando a mesma distingio entre conseqiiéncias int ecas € extrinsecas, Vau- ghan e Michael (1982) recorrem 8 expressio “reforgamento automitico” para falar de rela- bes que estio sendo chamadas aqui de reforcamento intrinseco; segundo eles este refor- amento 0 reforgamento que nao é mediado pela agao deliberada de uma ontra pessoa ~ ‘deliberada’ no sentido de agao feita por causa das consegiléncias para a outra pessoa. O reforgamento € 2 MA Andery, TM Sério sum resultado ‘natural’ do comportamento quando ele opera sobre o pripria corpo daguele gue se comporta on sobre 0 mundo ao redor. Em geral, o reforcantento pode ser condicionade ‘01 incondicionado, positive on negative. Além disso, comportamento reforeado automatica- mente pode ser verbal ou no verbal. (p.219) Ja Ferster, Culbertson e Perrot-Boren (1977) referem-se a distingio reforgamento intrinseco ¢ extrinseco utilizando, respectivamente, as expresses reforcamento natural € atbitritio. Preocupados com a distingio entre estes dois tipos de reforcamento, estes auto- res ressaltam outros efeitos, além de fortalecer a resposta, que cada um destes tipos de reforgamento gera sobre o responder. Chamaremos aqui estes outros efeitos de sub- produtos do reforgamento € manteremos as expresses reforgamento intrinseco para o que os autores chamam de reforcamento natural e reforgamento extrinseco para 0 que cles chamam de arbitratio. ‘Tal como definimos aqui, Ferster, Culbertson ¢ Perrot-Boren (1977) caracterizam © reforcamento extrinseco como aquele reforgamento no qual as conseqiiéncias depen- dem da propria resposta ¢ de outros eventos. A estes outros eventos, os autores chamam de font adicional de reforcamento, Ou seja, quando se trata de reforcamento extrinseco, 0 re- forcador depende da emissio da resposta (sem resposta no ha reforcador) mas depende também de alguma outra fonte (na auséneia desta outra fonte a emissio da resposta niio produz aquele reforco). No caso de seres humanos, esta outra fonte é sempre outro(s) ser(es) humano(s), a quem os autores se referem como agentes controladores ao discutir 8 sub-produtos de cada um desses tipos de reforgamento. Ferster, Culbertson ¢ Perrot-Boren (1977) destacam sub-produtos relatives a qua- tro aspectos envolvidos na rclacdo sujeito-ambiente: a topografia da resposta, a situacio na qual a resposta ocorre, a manutencdo da resposta € a quem atende aquela relacio espe- cifica. Para Ferster € cols. (1977) respostas mantidas por reforgamento extrinseco tendem 4 apresentar caracteristicas limitadas ¢ especificas consideradas como necesséias para a- presentacdo / remogio do reforcador pela fonte adicional (agente controlados), tendem a ocorrer apenas na situagio em que foram anteriormente reforgadas e, mais, tendem a o- corret apenas na presenca do agente controlador. Finalmente, quando o reforgamento € extrinseco, aparentemente sio atendidas de imediato as necessidades do agente controlador e, possivelmente por esta raz4o, Ferster € cols, (1977) sugerem que © controle do responder por reforgadores extrinsecos tende a 13 eco e intrinseco gerar uma oposicio entre os sujeitos envolvidos, isto é, entre aquele que emite a resposta e aquele que participa do controle dos reforgadores, Podemos nos referir a esta oposigiio como uma situago de contra-controle: 0 sujei- to cuja resposta é submetida a reforcamento extrinseco passa a emitir respostas que pro- duzem como conseqiiéncia 2 minimizacao ou eliminagio do controle exercido pelo agente controlador. © Quadro 1 apresenta de forma resumida estes sub-produtos. Quadro1. Sub-produtos do reforgamento intrinseco e extrinseco, a partir de Ferster, Culbertson e Perrot Boren (1977) ‘Aspectos Sub-produtos Reforgamento Intrinseco Reforgamento extrinseco ‘Topogratia da repos | Ha variabiidade Estereotipada ta Situagdo em que | Em qualquer aituagdo em que | Apenas na situagdo em que fol refor- resposta ocorre pode haver reforgamento | cada Manuteng&o do res- | Enquanto houver reforgamen- | Depende da presenga da fonte adi- ponder to clonal de reforgo Aquem atende Fo aujeito ‘Ao agente controlador Imediatamente Gera conire-contrtole Voltando a0 comportamento de estudar, se a consegiiéncia controladora for o conhecimento produzido pelo proprio responder, enti o comportamento poderd variar em suas miltiplas dimensées (pode ocotrer em muitas situagdes diferentes € a resposta poderi variar em sua topografia, por exemplo, se o estudante estivesse lendo um texto poderia fazer uma leitura silenciosa ou nio) desde que produza esta conseqiiéncia. Por outro lado, se as conseqtiéncias controladoras forem notas ou elogios dos professores, os critérios para que estas consegtiéncias sejam liberadas (que sio estabelecidos pelo profes sot) acabario por limitar as dimensdes da resposta. Por exemplo, o estudante s6 lei o texto como supde que o professor estabeleceu, s6 0 fara quando solicitado ete... Além dis- So, as tespostas tenderio a ocorter, neste tiltimo caso, apenas naquelas ocasides em que a conseqiiéncia extrinseca tiver alta probabilidade de ocorrer e, dependendo dos critérios € da dificuldade para atingi-las, o aluno poder tentar produzir estes reforgadores por outras vias. Sabendo disso, o professor, por sua ver, tendera a recorrer a novas fontes de contro: le pata garantir a emissio da resposta de estudar. O final desta histéria todos nds conhece ‘mos ... muitos alunos gastam a maior parte de seu tempo tentando butlar as normas esta- 4 MA Andery, TM Séri belecidas © muitos professores gastam a maior parte do seu tempo tentando evitar tais burlas .. Referencias bibliograficas Horcones (1992). Behavior Anabsis, 25, 11-15. fatural reinforcement: a way to improve education, Jounal of Applied Ferster, C. B., Culbertson, S., ¢ Pettot-Boren, M. C. (1977). Principios do compartamento, Sao Paulo: HUCITEC / EDUSP. Skinner, B. F. (19 3). Science and human behavior. New York, NY: Me Millan, Vaugham, M. E., ¢ Michael, J. L. (1982). Automatic reinforcement: an important but ignored concept. Behaviorism, 10, 217-227. Roteiro de leitura Para preparar este roteiro de leitura, Jacalize no testo as respostas ds questies ¢ transereva-as. 1, As duas caracteristicas necessariamente presentes, ou melhor, definidoras do comporta mento operante sio: 4), e ). 2. As alteracdes produzidas pelo responder sio chamadas de © quando fortalecem 0 responder (classe de respostas) sio chamadas de que podem ser chamados de positivos s ed negatives se 3. Além de positive € negative os reforcadores podem ser se dependerem apenas do responder ¢ se dependerem do ede 4, Que nome cada um dos autores citados no texto utilizaram ao analisar esta caracteristi- ca dos reforcadores? 5. No caso dos scres humanos , quais so as fontcs adicionais de reforco? Como sao cha mados? 6, Em relagio a forma da resposta, qual dos dois tipos produz, como subproduto ou efei- to colateral, um responder com mais variabilidade? quanto 4 amplitude das situagdes em que o comportamento ocorre, qual o efeito pro: duzido pelos dois tipos? 8, Em telagio a beneticios para o sujeito, qual a diferenga entre os dois tipos de reforga- mento? 9. Analisando os efeitos produzidos pelos dois tipos de reforgadores, qual parece set 0 mais produtivo, ou seja, qual deveria estar mais presente nas interagées sujeito-ambiente humano? 15 Contig cont Respostas e eventos subseqiientes: contigiiidade e contingéncia Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério! pucsP Desde a aula passada estamos discutindo relagdes entre respostas ¢ alteragées ambi entais que ocorrem independentemente das respostas (isto é, as modificagdes ambientais ocorrem a despeito das respostas de um organismo) ¢, como vimos, ainda assim tais mo- dificagdes podem retroagit sobre 0 organismo. Ao reconhecermos este tipo de rela¢a0, devemos fazer alguns comentirios sobre os termos que até aqui utilizamos para descrever relagdes entre resposta ¢ mudangas ambien: tais: Conseqiiéncias ¢ eventos subseqiientes. Definimos comportamento como rela- io entre atividades de um organismo (respostas) € eventos ambientais (estimulos). Com a definigao de comportamento operante, nossa atengio se voltou para as relagées que en- volvem respostas ¢ estimulos que seguem tais respostas, que ocorrem depois delas. Tais eventos sio, por defini¢io, subseqiientes 4s respostas. Entretanto, no caso do comporta mento operante, tais eventos subseqiientes sio produzidos pelas respostas do organismo; como vimos, relagdes operantes sio aquelas nas quais respostas produ sm alteragées no ambiente € sfo sensiveis a isto, Estas alteragéies foram denominadas conseqiiéncias; pode- mos dizer, entio, que conseqiiéncias s40 eventos subseqtientes que sio produzidas pelo responder. Com a discussio do experimento rclatado por Skinner (1953), vimos que ha eventos que seguem respostas, mas no sio produzidos por elas, tais eventos devem ser distinguidos daqueles que seguem as respostas ¢ sfo seu produto. Chamamos aqueles e- ventos que seguem uma resposta, mas nao foram produzidos por ela apenas de eventos subseqiientes. Reservar este termo para estes eventos tem como objetivo enfatizar que a linica relagio que existe entre a resposta e tal evento é uma relagio temporal: 0 evento vem depois (segue) a resposta, Contingéncia ¢ contigitidade. Numa relacio operante, a mudanca ambiental se gue a resposta € é produto dela, Dizemos, nesse caso, que a mudanga ambiental é contin- 1. Acordem & meramente 16 MA Andery, TM Sério gente & resposta, Entretanto, como acabamos de ver, é possivel identificar relagées mera- mente temporais entre a resposta € os eventos que a seguem ¢, nesses casos, falamos de uma relagio de contigiiidade?, Assim, mudangas ambientais contingentes sio aquelas produzidas pelo responder; jf as mudangas ambientais que tém com a resposta apenas uma relagio temporal sio ape- nas contiguas. A distingio entre eventos que séo apenas contiguos a respostas € eventos que sio contingentes a respostas de um organismo coloca um problema adicional: néo saberemos distinguir um caso de outro apenas observando a ocorréncia de uma seqtiéncia temporal centre a emissio de uma resposta ¢ determinada altera¢io ambiental. Para sabermos se um evento ambiental é contingente a alguma resposta nao basta olhar para a sclacdo temporal entre a resposta ¢ tal evento, ndo basta ver o evento seguindo a resposta. Para identificar- mos uma relacdo contingente precisamos, pelo menos, saber o que acontece com esta mu- danca ambiental quando a resposta é emitida eo que acontece quando a resposta nfo emitida. Em outras palavras, devemos avaliar qual a probabilidade de a mudanga ambien tal acontecer quando a resposta é emitida e qual a probabilidade de a mudanga ambiental acontecer quando a resposta nao é emitida. F. s6 diremos que ha uma relagio de contin- géncia quando estas probabilidades forem diferentes; quando estas probabilidades forem iguais, ou seja, quando a probabilidade de a mudanca ambiental acontecer for a mesma, quer a resposta seja emitida, quer nfo, diremos que as relagdes so nfo contingentes (Canto faz o que faco, minha resposta nfo altera que acontece a minha volta), que as re- agdes so meramente contiguas. Um exemplo de relagdes apenas contiguas entre respostas ¢ eventos subseqiientes & © experimento sobre comportamento supersticioso apresentado por Skinner (1953), n0 capitulo 5 do liveo Ciéncia e Comportamento Humano. Como vimos, Skinner descreve tais re- laces como relagdes acidentais € chama as mudancas no responder que sto produto des- tas relagdes acidentais de comportamento supersticioso, ‘Além de Skinner, outros autores estudaram alteracées ambientais que ocorrem inde- pendentemente das respostas (relagdes apenas contiguas entre respostas € eventos subse- giientes) € nem sempre os mesmos resultados foram encontrados ou a mesma interpreta- 20 foi proposta para os resultados encontsados. Dentre estes outros estudos destacare- 2. Mais adiante no curso, discutiremos a contigiidade como um dos parimetros para descrigio de relages centre respostas € eventos contingents. v7 mos aqueles realizados por M. Seligman e seus colaboradores. Diferentemente de Skinner, para descrever tais relagdes, estes autores criaram 0 termo incontrolabilidade (Seligman, 1977) Segundo Hunziker (1997) [quando a] ocorréucia da respesta controla a ocorréncia do estimulo que a segue acs] que este estimula & contingente & resposta. Assim, estimulos contingentes sito também cha- ‘mados de estimulos controléveis, Inversamente, nas relagies em que ambas as probabilidades io iguais entre si, 0 estimulo acorre independentemente da ocarréncia (ow auséncia) da res- (posta, 0 que Ibe confere a denaminagao de estimula no contingente, on estiomula incontrolé- tel (p. 18) © estudo de relagdes de incontrolabilidade e dos possiveis efeitos dessas relagdes sobre © responder vem sendo feito cm laboratério de forma mais sistematica ha pelo me- nos trés décadas. ‘Tais estudos tém se constituido em uma area de pesquisa na anélise do comportamento € os efeitos da exposicdo @ esta situacio sobre o responder foram chama- dos por Seligman (1977) de desampare gprendide, pergunta bisica que esses estudos pre~ tendem responder pode ser diretamente relacionada com a propria definigio de compor- tamento operante; como afirma Hunziker (1997): se 0 controle do ambiente permite a construgdo de uom repertiria compertamental adaptative, qual a consegiéncia para o individuo do seu contato com eventos annbientais incontroléveis? Essa é a questao subjaente aos estudes sobre o decampare aprendide.(p.18) Seligman (197) afitma que chegou 20 fendmeno do desamparo por uma via qua- se acidental: Cerca de dex anos atris, quando realizdnames experimentos investigando a relagao entre condicionamento de medo e aprendizagem instrumental, Steven F. Maier, J. Bruce Overmi- er ¢ en descobrimos um fenimeno inesperado ¢ extraordinéro, (p.22) (Os resultados que estes pesquisadores encontraram, a0 realizar esses experimentos, foram surpreendentes pois os sujeitos experimentais (no caso, cfes) apresentaram com- portamentos bastante diferentes daqueles que os pesquisadores imaginavam. Em experi- mentos anteriores, os pesquisadores haviam observado que, em uma situacdo na qual os sujeitos experimentais podem emitir alguma resposta que elimina um choque periodica- mente apresentado, rapidamente passam a emitir essa resposta. Usualmente, os sujeitos, diante da apresentagio do choque, emitiam um conjunto de respostas que, mais cedo ou mais tarde, os levavam a pular uma grade, indo para o lado oposto do cubiculo em que es- 18 MA And TM Sério tavam, lado este onde nao havia choque; apés algumas vezes em que isto acontecia, basta- va a apresentacio do choque para que os sujeitos pulassem para o outro lado. Em outras palavras, a resposta de pular foi instalada estava sendo mantida por reforgamento negati- vo. O que surpreendeu os pesquisadotes foi que, no experimento em questio, o sujeito experimental apresentou: um padrio de comportamento sensivelmente diferente. A primeira reagio desse cia ao cho- (que, na gaiola de alternagio [eubicula dividido por uma grade, no qual a resposta de pular jn: corre disparado por cerca de trinta segundes, A «a grade desliga um chogue presente seguir, porim, prow de se mexer; para nossa surpresa,deiton-se ¢ xaniu mansamente. Apés um minuto desligaas 0 choque; 0 cao na tinha conseguido pular a barrera e nao eseapara do choque. Nia tentatina seguinte foi a mesma coisa; de inicio o co pulon um pouco e,entao, depois de alguns segundos, deu a impressio de que dessa eaceitana 0 chogue passivamente. Em todas as tentatvas subsegitentes, 0 cachorro nao conseguin escapar(Seligman, 1977, p.23) Tais resultados levaram os pesquisadores a analisar de forma mais detalhada a situa- io experimental. Verificaram que havia uma diferenga na histéria experimental entre os cacs que aprendiam a pular por meio de reforcamento negativo ¢ os ces que no aprendi- am ¢, nas palavras de Seligman, pareciam desistir ¢ aceitar passivamente 0 choque: este ‘timo grupo, em fungio da pesquisa que estava sendo realizada, antes das sesses na cai- xa de alternacio haviam passado por sessGes nas quais choque “era inescapavel” ... “seu inicio, témino, duragio e intensidade eram determinados somente pelo experimenta- dor.” (p., 22) © estudo experimental dos efeitos da experiéncia com estimulos aversivos inesea- paveis gerou os resultados nos quais se baseia a nogio de desampato aprendido, Hunziker (1997), destaca de forma clara e sintética as principais caracteristicas destes experimentos: Os estudos pioneiras consistivam na exposigao de ces a chaques elétrices incontroléveis,se- guides (24 horas aps) de um treino operante de fuga esquina [reforzamento negatvo: a resposta remove ou adia o estimulo reforgador negative eé ortaecida}. Obervou-se que esses sjetos nao aprenderam a respesta de fuga esquiva, ao contrério dos animais nao expastos previanente aos choques (on exposts aos mesmas chogues, port contraléveis) que a apren- deram rapidamente. Como apenas a experiéncia privia com chogues nao bastava para ex- plicar esses resultados, 0 efito da interferéncia na aprendigagem foi atribuido & incontrolabi- Jide dos chogues, (Overmier ¢ Seligman, 1967; Seligman ¢ Maier, 1967). Ese 19 Contigiiidade e contingéncia feito foi replicade com diversas espécies, dentre mamiferos, aves, peices e insetas, 0 que Vbe confere grande gencralidade (Eisenstein e Carson, 1997). Contudo, deve-se desacar que esse feito vem sendo investigado no laboratério animal quase que exelusivamente com eventos aver- sivas incontroléveis (mais especificamente, choques eléticos)... @ desamparo seria mais adequa- danente definido como 'difculdade de aprendizagem sob reforzamento negatvo em funcao da experiéncia privia com eventos aversivosincontroliveis. (Hunziker, 1997, pp. 18, 19, 20) ‘A delimitagao do fenémeno do desamparo (isto é, como afirma Hunziker, a dificul- dade de aprendizagem sob reforcamento negativo em funcao da experiéncia prévia com eventos aversivos incontroliveis) s6 foi possivel geacas & introdugio de um delineamento experimental especffico chamado de planejamento de triades que permite ‘isolar’ duas varid- veis: a exposigio ao choque em sie a exposi¢o a0 choque incontrolavel. Nesse planejamento de triades usamse trés grupos de sujetos: um grupo reebe, como ‘pré-tratamento, um estimulo gue pode controlar por intermédlo de alguma resposta. Ose- _gunda grupo & chamado de grupo emparetbado — cada sujito dese grupo recebe exatamente 0s mesmosestinlos que sew par do primeiro grupo, exceto que nenbuma de suas respostas tem possbilidade de influir sobre esses estinulos. Ure terceira grupo mio. recebe pris ‘ratamente, Mais tarde, todos os grupos so testados em uma tarefa diferente. (Seligman, 1977, p.26) Um primeiro aspecto que devemos destacar é que a tinica diferenca entre a experi- éncia do primeiro e segundo grupos de sujeitos esté na possibilidade ou nfo de controlar © choque: todos os sujeitos dos grupos 1 ¢ 2 sto submetidos a exatamente o mesmo nti- mero de choques, no mesmo momento, com a mesma intensidade e duragio: © choque que 0 sujcito do grupo 1 reece, o sujcito emparelhado do grupo 2 também reccbe; quan- do sujeito do grupo 1 interrompe o choque ele é interrompido também para o sujeito do grupo 2. Jé 0s sujeitos do grupo 3 ndo passam por experiéncia de choque. Um segundo aspecto a destacat é que, apés este primeito momento, todos os sujeitos dos trés grupos sio submetidos a uma mesma condigio experimental. Nesta nova condigio, uma nova resposta (diferente da resposta que climinava choque para os sujeitos do grupo 1) elimi- na choques periodicamente apresentados, isto é, todos os sujeitos que na presenga de um choque emitirem esta nova resposta desligam © choque. A pergunta que o delineamento responde é se hi diferencas na instalacao desta segunda resposta entre os sujeitos dos trés grupos. Seligman (1977) relata assim os resultados de um de seus experimentos com pla- nejamento de triades: 20 MA Andory, TM Sério O grupo de fuga {Grupo 1] ¢ 0 grupo controle ingénuo {Grupo 3} tiveran bone desempenbo; rapidamente aprenderam a saltar a barreira fresposta exigida na segunda condigao]. Eon con- trast, 0 grupo emparelbado {Grupo 2} revlow-sesinificativamente mais lento em suas respos- tas do que o grupo de fuga e 0 grupo controle ingénuo. Seis dos vito sujeites do grupo empare- hado sinplesmente nao conseguiram fugir ao chogue, Assim, nao foi o choque ene si, foi a im- possibilidade de controlar o chogue que producziu o posterior fracasso na fuga. (p.26) ‘A partir desta descoberta muitos estudos foram realizados na tentativa de analisar com mais detalhes 0 fendmeno do desampato aprendido. Estes experimentos indicaram, entre outras coisas, algumas varidveis que parecem interagir com a exposigfo a uma situa- cio de incontrolabilidade de maneira que os efeitos desta situacio séo amenizados ou nfo ocorrem, Seligman (1977) aponta pelo menos trés destas variveis: (a) a experiéncia ante- rior de incontrolabilidade (ama experiéncia rica de situagées de controlabilidade parece atenuar ou impedir os efeitos da incontrolabilidade jé descritos); (b) a possibilidade de i- dentificar no ambiente "sinais distintivos" de uma situacio incontrolivel (sto €, se s6 di- ante de certas caracteristicas do ambiente hé uma situacdo de incontrolabilidade,seus efei- tos nfo se estendem para além destas situagdes); (€) a importincia relativa das “conseqiiéncias" incontrokiveis (a importincia relativa de uma "conseqiéncia” pode ser uum fator facilitador do desenvolvimento do efeitos da incontrolabilidade). estudo da interacdo de outras varidveis com a exposicao a situacdes de incontro- labilidade parece ter especial importincia, pois as caracteristicas que definem uma situagio como de incontrolabilidade (Seligman, 1977) sio semelhantes as caracteristicas que defi- nem uma situagio como de reforgamento acidental (Skinner, 1953) Scligman (1977) ¢ Skinner (1953) deram nomes diferentes para 0 que parece ser u- ma mesma relagio entre resposta € ambiente, mas, mais do que isto,identificaram efeitos diferentes produzidos por tal relacio. Podemos dizer que © comportamento supersticioso € um dos possiveis resultados da exposic2o de um organismo a uma situagio em que uma mudanga ambiental acontece sistematicamente a despeito das respostas do organismo (Skinner, 1953). Porém, diferentemente do caso do desamparo aprendido, no caso do “comportamento supersticioso”, respostas sio reforgadas acidentalmente € 0 organismo passa a se comportar ‘como se estivesse produzindo modificagées ambientais’ que, na ver- dade, ndo dependem do que 0 organismo faz. Em sintese, em ambos os casos (comportamento supersticioso € desamparo apren- dido), eventos ambientais que podem ser considderados como potencizis reforgadores po- a sitivos ou negativos ocorrem independentemente do responder de um sujeito, Apesar des- ta condigio de semelhanca, no entanto, diferentes efeitos comportamentais tém sido des- critos na literatura: ou sujeitos no sio sensiveis ao fato de que as akteragdes ambientais independem de suas respostas € desenvolvem o que Skinner chamou de comportamento “supersticioso’; ou sujeitos so sensiveis a este fato € apresentam mudangas comporta- mentais que Seligman chamou de desamparo aprendido. Provocados por este problema, alguns pesquisadores tém se dedicado, especialmen- te, a produzir situagdes experimentais que possibilitem compreender quais so exatamente 8 fatores que interferem na produgio de um ou outro destes efeitos. Matute (1994, 1995), por exemplo, aponta como possiveis fatores moduladores dos efeitos da incontro- labilidade, pelo menos no caso humano: (a) a probabilidade de respostas (quanto maior for a probabilidade de o sujeito responder em uma situaco de incontrolabilidade, maior a chance de se desenvolver comportamento supersticioso); (b) a presenga ou nao de indf- cios de que o evento ambiental (“conseqiiéncia") € incontrolivel (a presenga de sinais que indiquem a incontrolabilidade do evento dificultaria o desenvolvimento de comportamen- to supersticioso); (6) se as "conseqiiéncias" so estimulos reforcadores positivos ou esti- mulos reforgadores negativos (a maior parte das pesquisas sobre desamparo aprendido tem usado reforcamento negativo. Este fato esta, als, implicito na definicdo proposta por Hunziker, 1997). (Os resultados até aqui encontrados sio inconclusivos com relagio & delimitacio das variaveis relevantes para a produgo de um ou outro conjunto de efeitos. Talvez a posigio de Matute (1994), indique melhor caminho para a solugio do problema: Una altemnativa possve!@ abordagem tudo on nada é que desamparo aprendido ¢ superst- $20 representam finais opostos de une mesmo continuo e, se ito for verdade, cada um dos fits deveria ser mais freqitente em algumas condigées do que em outras, (Mavute, 1994, p.230) Referéncias bibliograficas Hunziker, M.HLL. (1997), Um olhar critico sobre o estudo do desamparo aprendido. Es- tudes de Psicologia, 14, 17-26. Matute, H. (1994). Learned helplessness and superstitious behavior as opposite effects of uncontrollable reinforcement in humans Leaning and Motivation, 25, 216-232. Matute, H. (1995). Human reactions to uncontrollable outcomes: further evidence for 2 MA Andery, TM Sério superstitions rather than helplessness. The Quarterly Journal of Experimental Psychology, 48B, 142-157, Seligman, M. E. P, (1977). Desamparo: sobre depressio, desenvolvimento ¢ morte. Sao Paulo, SP: HUCITEC / EDUSP. Skinner, B. F. (1953). Seence and Human Bebavior. New York, NY: Mc Millan. Roteiro de leitura istimulos que ocorrem cm seguida ao responder si0, por definicdo, estimulos 2. Bstimulos subseqiientes que sio produzidos pelo responder sio chamados de 3. Que tipo de relacio existe entre uma resposta e eventos apenas subseqiientes? Que nome se dé a esta rclagao? 4. O que distingue uma relagio de contigiiidade de uma relagio de contingéncia? 5. Qual das duas relagdes caracteriza 0 comportamento operante? 6. Qual o critério para identificarmos uma relagao como contingente? 7. Qual € © comportamento que pode set produzido por uma relagio resposta-estimulo subseqtiente ou, dito de outro modo, que comportamento uma relagao apenas de conti giiidade pode ptoduzit? 8, Como Skinner chamou este tipo de relacao? 9. Seligman chamou estimulos contingentes _(conseqiiéncias) de _estimulos estimulos apenas subseqtientes de 10. Como Seligman chamou o fenémeno comportamental produzido por relagdes de in- controlabilidade? 11, Qual © estimulo incontrolavel a que tinham sido submetidos os sujeitos que participa. ram do expetimento de Seligman com cies? 12, Qual foi o procedimento aplicado? 15. Que comportamentos foram observados nos cies submetidos inicialmente a choques inescapaveis (incontrolaveis)? 14, Qual a melhor forma de definir desamparo aprendido? 15. Qual o delineamento experimental especifico que permitiu a delimitacio do fendmeno do desamparo? 16. Quais as trés varidveis que podem impedir ou amenizar 0 desampato aprendido? 17. Comportamento supersticioso — estudado por Skinner- ¢ desampato aprendido- estu: dado por Seligman- sio fenémenos diferentes produzidos por uma relagio sujeito- ambiente... Qual é esta relagio? 18. Quais as variaveis que parecem interferir na produgio de um ou outro fendmeno? 23 Extingdo Extingao Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sétio! PUCSP Quando falamos em comportamento operante estamos falando de uma relagio entre uma classe de respostas, as conseqiiéncias por ela produzidas e as alteragées sobre o responder promovidas por estas conseqiiéncias. Estudando esta relacao, alguns pesquisa- dores perguntaram: 0 que acontece quando respostas operantes deixam de produzir as conseqiiéneias que as mantem? O estudo gerado por esta pergunta originou um conceito — 0 coneeito de extin- $40 ~ que descreve exatamente o que acontece quando uma classe de respostas operante deixa de produzir os reforgos que vinha produzindo. Trés aspectos, entio, necessaria- mente devem compor a definigao de extingao: (a) uma relagao entre resposta ¢ reforso ja estabelecida, (b) a quebra desta relagio e (@) as alteragées no responder produzidas por esta ruptura. Como veremos, estes aspectos aparecem nas definicdes de extingio elabora das por diferentes autores, Keller ¢ Schoenfeld (1968) referem-se & extingao da sepuinte maneira: Operantes condicionados sito extintos rompendo-se a relacio entre o ato ¢ 0 efeito. A medida que respostas sucesivas deiscans de produsir reforeo, a recrréncia da resposta torna-se me- nos provével.. A forga de um operante condicionado pode ser reduzida pela no apresentagao do reforgo. (pp.10, 71) Skinner (1953), de forma bastante semelhante, afiema: Naguilo que é chamado ‘extingao operante’, uma resposta tornase cada vez, menos fre gitente quando 0 refergamento nao mais acontec. (p.69) Millenson (1970), a0 iniciar © capitulo sobre extingio de seu livro, afirma: Quando a cone entre uma resposta operante ¢ seu refrcador é abruptamente interrompi dia, um processo comportamental caracterstce & produséda, As caractertsticas deste process, gue é chamado exting&o, desempenbam uma parte importante na construcao ¢ manuten- a0 de padries complexes de comportaments. (p. 89) TA ordem & meramente alfubética 24 MAA lery, TM Sério Mais adiante, neste mesmo capitulo, Millenson apresenta 0 que chama de uma “definicao completa” de extinga Dabo. uma resposta operante previanentefortalecida. PROCEDIMENTO: retirar 0 reforgo do operante.. PROCESO: 1. wm declnio gradual um tanto irregular da tsca marcad por aumen- ‘os progressivos na frngiténcia de pertodas relativamente longos de nao responder. 2. um aumento na variabilidade da forma (topografia)e da magnitude da respasa. 45. ume reptura gradual dos elas erdenados que constituem 0 comportamento fotaleido, RESULTADO: os processes comportamentais aproximam-ce de estades de nivel operan- 4 como valores limites. (p. 104) Como podemos nota, nos trechos que citamos, Keller e Schoenfeld, Millenson Skinner incluem em sua definigio de extingio os aspectos a (ama relagio entre resposta € reforco ja estabelecida) ¢ b (a quebra desta relagio). Com selagao ao aspecto ¢ (as altera- Ges no responder produzidas por esta ruptura), pelo menos nos trechos citados, encon- tramos 0 enfraquecimento da resposta (a diminuicdo da freqiiéncia ou taxa das respostas de uma determinada classe) destacado como uma alteragio no responder produzida pela ruptura da relagio entre resposta e reforgo2, E, efetivamente, uma diminuigio na freqiién- cia das respostas anteriormente reforgadas pode ser o efeito que mais se destaca jé que no proceso de reforcamento toda nossa atengio estava voltada para o fortalecimento (ou aumento da freqiiéncia) da resposta reforcada. A telacio de complementaridade entre os conceitos de reforgamento ¢ extingio é tal que ha autores que sugerem que a extingio nio seria um proceso comportamental especial, mas parte do conceito de reforgamento. Catania (1999), por exemplo, afirma: O responder é mantido apenas enguanto 0 reforgo continua e nao depois que ele é suspense Assim, a redugaa no responder durante a extingdo nao é um proceso especial gue requeira um tratamento separado, é uma das propricdades do reforg. (p. 92) Esta maneira de olhar para a extingio (como uma das propriedades do reforgamen- 2.0 destaque do enfraquecimento do responder pode gerar confusio entre o processo de extingio e outros processos comportamentais que envolvem esta alteracio, como por exemplo, o que é chamado de esqueci- ‘mento, Como afirma Skinner (1953): [A extingio} nav dew ser confide com outros procedimentos plangads para ter 0 mesmo ecto fo en ‘quecimento de uma respata operant. (x) esquecimento jragientemente&confundido com extngio. No esquec- ‘mente, 0 efit do condiionament § perdido simplcmente 3 medida que o tempo passa, enguanto que a extingio requer que a mespotta soja enitie sem referents, Usalmente exquscimento ni ecrre repidamente carves de extn considers oram ebtida com pombos at 6 anes depois que a repostabavia side rforada See anor equivale a, preximadament, metade da expectatva de vida dem ponte. (p.71) 25 Ext to) marcou os primeiros estudos sobre extincao de respostas operantes. ‘Tais estudos fo- ram conduzidos em fungao da dificuldade de medir as mudancas que ocorriam no proces- so de reforcamento. Tal dificuldade era vista como decorrente da rapidez na qual o tefor- co alterava o responder; Skinner (1932), nos seus experimentos iniciais sobre os efeitos do reforgo, destacou tal rapidez caracterizando o processo de condicionamento como instan- tinco. F. esta mesma caracteristica que, parece, cle esta abordando quando, jé em seu livro Citncia e Comportamento Humano (1953), afirma: Una vez que a extingao operante ocorre muito mais lentamente que 0 condicionamento ope- rante, 0 proesso pode ser seguide mais facilmente. Em condigées apropriadas curvas rgala- rns podem ser obtdas, nas quais a taxa de respostadeclina lentament, talvez em um perio- do de muitas horas... As ourvas revelane propriedades que possivelmente nao podeviam ser observadas por meio de inspecao casual. (p.69) Neste contexto, a extincio eta vista como uma medida dos efeitos do reforco; mais precisamente, esta medida era chamada de resisténcia 4 extingio, Embora nio mais com as caracteristicas iniciais, Skinner (1953) continuou propondo o recurso 4 extin¢io como medida dos efeitos do reforco: O comportamento durante a extingiio € resultado do condicionamento que a preceden e, nesse A rsistincia & extingao nito pode ser predita a partir da probabilidade da respasta obsenvada sentido, a curva da extingao fornece uma medida adicional do efeto do reforcamente. em um dado momento. Devemos conbecer a bistiria de nforgamento (p. 70) Segundo Catania (1999), dois critérios vém sendo adotados quando se trata de me- dir a res ‘téncia 4 extingio: (a) o mimero de respostas emitidas durante a extingao, ou (6) © perfodo de tempo em que respostas sio emitidas. Em qualquer dos casos € necessitio es- tabelecer arbitrariamente um critério do que ser considerado como extingio, Para ilustrar esta medida e as conseqiiéneias da existéncia desses dois eritétios, Catania (1999) apresen- ta duas curvas hipotéticas que reproduzimos a seguir. parweto Doss registro cemulatnas hi potdicos da extingo dar prestder & berra por um rato apd reforco alimentar Pode-xe ‘ice qu tanto A com DB demonstrar mat i for resiaténca &extingba, dependendo de ne cxtingdo€ medida prio tempo teanacorridis led que se partom dots minafos sem a emt ‘sie de ua respesta ou pelo total de repos ar emda drat ves de eating 0 Reson: Figura 1. Curvas hipotéticas de e ingdo (Fonte, Catania, 1999) 26. MA Andory, TM Sério Falamos, acima, em ‘estabelecer arbitrariamente um critério” porque um dos proble- mas envolvidos na extineio diz respeito exatamente a “quando” ou em ‘que circunstin- cias’ podemos dizer que 0 efeito de enfraquecimento da resposta ocorreu. A pergunta “Quando uma resposta esta extinta?’ & apresentada por Keller e Schoenfeld (1968) como um dos t6picos abordados sobre extingo, e € assim que eles respondem a pergunta feita: Um cperante deve existr com alguma forca antes de poder ser condicionade; deve ser emitdo pelo menos de vex,em quando para poder ser refergado, Fscafregiténcia nao condicionada de emissio é chamada de nivel operante daguela resposta, ¢ aparece como parte da ativida- de geral do organisms, A partir da nogéo de nivel operant segue-se que wma. resposta extinta mio aleangari uma freqiiéncia zero, mas voltand dquela que existia antes do condicionamento. (p.91) Entretanto, como os préprios autores (¢ outros, como, por exemplo, Millenson (1970) reconhecem, é dificil, em experimentos e estudos realizados, prosseguit com a ex- tingao até atingir uma volta ao nivel operante, assim, recorre-se ao estabelecimento de um critétio arbitrério, como por exemplo, X minutos sem a emissio da resposta submetida ao procedimento de extingio. Apés estes comentitios, pademos voltar 4 comparagio das definigdes de extingao dadas pelos autores citados. Como vimos, as trés definigGes destacam como efeito da rup- tura resposta-reforgo o enfraquecimento das respostas que deixaram de ser reforcadas (¢, agora, conhecemos uma das possiveis razdes deste destaque). Entretanto, na “definigio completa” de Millenson (1970), podemos identificar outros efeitos da extingio, além do enfraquecimento da resposta, Se continuarmos lendo o texto de Skinner (1953), a partir da definicZo que cita- mos, encontraremos ai também a indicacio de alguns desses outros efeitos da extincio, além do enfraquecimento da resposta. Recorreremos, entio, a trechos do texto de Skin- ner para falar desses efeitos. Sob algumas circunstincias a curva ¢ perturbada por um efeito emocional, O nao reforea- ‘mento de uma respasta leva néo apenas a extingio operante, mas também a uma reagio comumente chamada de frustraio om rai Un pombo que nao recebeu reforgo afasta-se da chave, arrulba, bate suas asat.. O organism humano mostra um diplo efeito similar. A crianga cyjo velocipede no mais responde ao pedalar, nao apenas pira de pedalar, mas ambi exibe comportamento possivelmente violent... Assim como a crianga finalmente volta para o velocipeds... também o pombo soltari novamente para a chave quando as 7 Extinggo respostas emocionais desaparecerem. Na medida em que outras respostas [de bicar a chave, de pedalar} ocorrerem sem reforgo, outros episidios emocionais podem acontecer. Sab tais circunstancias, as curvas de extingo mostram uma oscilagio cilica & medida que as respos- as emocionais surgem, desaparecem surgem novamente, (Skinner, 1953, pp. 69, 70) Como podemos notat, muitas alteragées no responder ocorrem quando a relagio resposta-reforgo € rompida ¢ a extensio ¢ caracteristicas dessas alteragdes levam muitos autores a falar em “efeitos emocionais” da extingo. Keller ¢ Schoenfeld (1968), por e- xemplo, ressaltam estas mesmas alteragdes indicadas por Skinner, ao descrever uma curva de extingio, Reproduzimos, a seguir, a curva apresentada pelos autores ¢ sua deserigio. RESPONSES 04 }#——+ oun ——+| Figura 2. Respostas acumuladas em uma condigao de extingao (Fonte: Keller e ‘Schoenfeld, 1968) A curva de extingio para uma resposta até entao regularmente rforcada (sto 6, com som reforcamento para cada emissaa) égerabmente, seo sempre, bastante desigual. Comeca com uma inclinagae maior fregiiéncia de resposta mais alta) do que a inclinagao durante o refor- gamento regular, em parte porque as respostas nao sao mais sparadas pelo tempo gasto no ‘comer e-em parte porque o animal tende a atacar vigrosamente a barra... Deépois, a curva é marcada por mudancas de fregiténcia que se assemelham a ondas, as quais a distorcem localizadamente, embora ainda permitam tracar uma ‘curva padrao’ que desoreve a ten- dincia geral. Fises jor e depresses da reposta poderiam ser caracterigadas em termos ‘emocionais, 0 paralela das mais complexas frustragées e agessies vistas no bomem. (Keller ¢ Schoenfeld, 1968, p. 71) Millenson (1970) agrupa em dois grandes conjuntos as mudangas comportamentais que produzem uma curva de extingio com as caracteristicas apontadas por Skinner (1953) ¢ Keller e Schoenfeld (1968): (a) as mudancas na taxa de respostas ¢ (b) as mudancas to- pogrificas e estruturais. 28 MA Andery, TM Sério a) Com relagio as mudangas na taxa de respostas, Millenson (1970) afirma: “a taxa de respostas é altissima no inicio [assim que o reforgamento é suspenso] ¢ diminui gradu- almente.” (pp. 90, 91) Esta diminuigao ocorre de forma irregular: ha “muitos perfodos de alta atividade, intercalados com periodos de baixa atividade ... Estes iitimos tornam-se mais proeminentes no final da extingao” (p.90). Este intercalar de alta e baixa atividade € uma caracteristica tio marcante das curvas de extingao que alguns pesquisadores interpre: tam o processo de extingdo como produto do aumento dos perfodos de baixa atividade (p90) b) Com relagio as mudangas topogrificas e estruturais, Millenson (1970) afirma: “os efeitos da extingao nao se confinam de mancira alguma a mudancas na freqiiéncia da res posta sclecionada, Em particular mudancas marcantes ocorrem na forma do comportamen- to durante a extingio” (p. 91). Hé um aumento na variabilidade das respostas. Aparecem respostas com diferentes topografias € magnitudes. Por exemplo, o sujeito experimental tende, na extingio, a emitir respostas de pressio 4 barra de maneiras (com outra pata, com a cabeca) € com magnitudes (com a forga que coloca sobre a barra) que nfo ocorriam no reforcamento, Sao essas mudangas que levam alguns autores (por exemplo, Antonitis, 1950) a afirmar que a extingdo produz variabilidade comportamental Além disso, a seqiéncia de respostas estabelecida a partir do reforgamento se dege- nera na extingio. Por exemplo, se © sujeito experimental, no laboratério, apés a modela- gem, tipicamente emite uma certa seqiiéncia de respostas, do tipo, pressio A barra - des- cer ao bebedouro — lamber 0 bebedouro, durante a extingio tender a alterar esta se qin ¢, por exemplo, poder repetir um dos elos virias vezes (pressio A barra - pres- so A barra - pressfo A barra ou lamber o bebedouro - lamber o bebedouro - lam- ber o bebedouro). Quando falamos em extingao, entio, devemos ter claro que a ruptura da relagio resposta-reforgo produz um conjunto grande de alteragées no responder. Fi importante ressaltar algo que jé foi indicado: as dimensdes envolvidas nestas alteragdes (por exemplo, © tempo necessitio para que a alteracio ocorra, a magnitude da alteragio) dependem da hist6tia anterior de reforcamento. Voltamos a um trecho de Skinner (1953) pata ilustrar isto: © comportamento durante a extingi é resultado do condicionamento que a preceden 6, nesse sentido, a curva da extingao fornece uma medida adicional do sftito do reforcamento. Se gpenas umas poncas respostas tiverem sido reforcadas, a extingao acorre rapidamente. Uma 29 Ext Jonga historia de reforgamento 6 seguida {na extingao} por um responder que se mantém por ‘mais tempo. (posta observada em um dado momento. Devemas conbecer a histiria de reforgamento... Nao se pode predizer resistincia & extingdo a partir da probabilidade da res- ‘bi uma relagao simples entre 0 mimero de respostas refirradas e 0 mimero {de respostas} que aparece na extingit... a resitincia & extingao gerada por rforeamento intermitene listo 6, quando nem todas as respostas de uma determinada classe de respastas sao seguidas de r- _forgo} pode ser muito maior do que se 0 mesmo mimero de reforgos for dado para respostas consecutivas. (p.70) Podemos dizer, entio, que estaremos mais preparados para compreender as altera- bes no responder produzidas durante a extingio se conhecermos a historia de reforga- mento; no trecho acima, estio destacados alguns aspectos dessa historia que devem ser Ievados em conta (o ntimero de respostas reforcadas ¢ o critério para apresentacao do re- forgo). Entretanto, no caso das alteragdes produzidas durante a extingao, além dos aspec- tos que descrevem como ocorreu 0 reforcamento, é importante também considerar 2 exis- téncia de experiéncias anteriores de extingio, de tal forma que conhecer a histéria de re- forgamento envolve, na realidade, conhecer 2 hist6ria de reforcamento € de extingio. Se- gundo Millenson (1970), os efeitos dessa historia de reforcamento e de extingio sio tais que a primeira extingao pode ser considerada como “um fenémeno tinico”; se submeter- mos uma classe de respostas, sucessivamente, a perfodos de reforcamento seguidos de periodos de extingdo, cada nova extineZo produzicé mais rapidamente 0 enfraquecimento da resposta em questio, A interacio reforgamento-extinglo € tal que é possivel chegar a0 que Millenson (1970) chama de “extingio em uma tentativa”, o que quer dizer que, apos sucessivas experiéncias de extingo, uma Gniea resposta nao seguida de reforgo é emitida, (ou seja, apenas uma resposta sem reforco é suficiente para que o responder volte aos pa- drdes préximos ao do nivel operante daquela resposta. Referencias bibliogrdficas Antonitis, J. J. (1951). Response variability in the white rat during conditioning, extinc- tion, and reconditioning. Journal of Experimental Prycholagy, 42, 273-281 Catania, A C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagemt e cognigao. Porto Alegre: Art- med. Keller, F,S., e Schoenfeld, W. N. (1968). Princpios de psicoogia. Sto Paulo: Herder 30 MA Andery, TM Sério Millenson, J. R. (1970). Princios de Andlise do Comportamento, Brasilia: Coordenada Ti ra Skinner, B. F.(1953). Science and human bebavior, New York, NY: Me Millan, Roteiro de leitura 1. Qual pergunta o conceito de extingdo pretende responder? 2. Quais sto os ttés aspectos que compéem a definiczo do conceito de extingdo? 3. Quais as respostas dadas por Keller ¢ Schoenfeld(1968) e por Skinner (1953) para a questo: © que acontece quando uma resposta deixa de produzir as conseqiiéncias que a mantém? 4, O que Millenson acrescenta na sua formulagio sobre 0 conceito? 5. Qual a implicacio de se considerar a extingo como uma medida dos efeitos do refor- 0? 6. Quais os dois critérios para se medir a resisténcia & extingao? 7. Quando podemos dizer que uma resposta esta extinta? 8A cer com 0 sujeito quando o responder nfo mais produz a conseqtiéncia que o mantinha? do enfraquecimento do responder, que outra mudanca importante pode aconte- 9. Como Millenson detalha os dois tipos de efeito da extingao: (a) mudancas na taxa de resposta e (b) mudangas estruturais ¢ topogrificas 10. Qual bra da relagio resposta-reforco? varidvel fundamental na producto das alteragdes no responder durante a que- 31 0 por conseqiiéncias Modo causal de selegao por conseqiiéncias e a explicagéo do comportamento Maria Amalia Andery, Nilza Micheletto, Tereza Maria Sério' PUCSP Nosso tivo neste artigo é apresentar © modelo de causalidade assumido pela andlise do comportamento. Iniciaremos nosso estudo dese modelo com dois esclareci: mentos. Em primeito lugar, precisamos ter bem claro 0 que delimita a analise do comporta- mento como uma abordagem dentro da psicologia: seu objeto de estudo e como ele é concebido. O objeto de estudo da andlise do comportamento - 0 comportamento - é sempre uma telagio ou interagio entre eventos ambientais (estimulos) e atividades de um organis- mo (respostas). Nenhum dos dois termos da relagio pode softer qualquer tipo de restri- io metodolégica. © termo ambiente envolve estimulos piblicos e privados, fisicos e so- iais, ¢ a atividade do organismo envolve respostas manifestas e encobertas. Além disso, a rclagao organismo-ambiente envolve desde rclacdes aparentemente simples (por exemplo, © reforgamento de uma resposta especifica) até relagdes obviamente complexas (por ¢ mplo, o intrincado controle de estimulos que caracteriza a solugio de problemas, a abs- tracZo, ou o autoconhecimento). Como conseqiiéneia, os coneeitos que compdem o siste- ‘ma explicativo da anilise do comportamento descrevem relagées entre eventos ambientais ¢ atividades do organismo e com tais conceitos descrevemos © comportamento, isto é identificamos e caracterizamos a relagio comportamental Em segundo lugar, precisamos sr uma distincfo entre o que se chama de behavi- orismo (mais exatamente de behaviorismo radical) ¢ 0 que se chama de anilise do com- portamento (em nosso curso, psicologia comportamental). Quando falamos em behaviorismo radical estamos falando de uma filosofia da cién- cia; uma filosofia que orienta uma determinada pritica cientifica dentre as que constituem 2 psicologia, pritica que recebeu o nome de anilise experimental do comportamento ou, simplesmente, andlise do comportamento, Skinner (1963/1969) apresenta claramente esta TA ordem 32 MA Andory, N Micholotto, TM Sério distincdo cm um artigo sobre os cingiienta anos do behaviorismo; diz e Bebavioriomo, com uma énfase nas sllimas silabas, mao é 0 estudo cientifco do comporta- mento, mas uma filosefa da ciéncia preoexpada com 0 objeto de estudo ¢ os métodas da psi- cologia. (p21) Alguns anos mais tarde, cle mesmo reafirmou esta distinglo, na introducio de seu livro About Bebaviorism, comentando algumas das criticas mais comuns feitas a0 behavio- rismo: Hd muitos tipos diferentes de eiéncia do comportamento .. As eriticas listadas .. sao res- pondidas mais efetivamente por uma disiplina especial que passon a ser chamada de anélise experimental do comportamenta...O behaviorisma que apresento neste livro é a filosofia dessa verséo especial de uma ciéncia do comportamento, (Skinner, 1974, pp. 7, 8) Considerando esta disting’o, podemos dizer que os tépicos até agora destacados no programa do curso (Psicologia Comportamental) referem-se a andlise do comportamento; sto t6picos relativos aos conceitos utilizados como instramento de descri¢ao do compor tamento.21 Mas, com o tépico de estudo ‘as causas do comportamento” estamos, por as sim dizer, mudando de campo; passamos a tratar de um aspecto central do behaviorismo radical: 0 modelo de causalidade proposto para a busca de explicagdes do comportamen- to, Modelo de causalidade e explicagao do comportamento O modelo de causalidade que abordaremos foi apresentado e desenvolvido original- mente por B. F. Skinner e recebeu o nome de modo causal de selegao por conseqiién- cias, Tal como pode ser caracterizado hoje, este modelo no apareceu na obra de Skinner de um momento para outro; ao contritio, podemos identificar um longo processo de ela boracio do modelo em sua obra. O processo de elaboragio do modelo de seleco por conseqiiéncias, as suas earacte- risticas principais ¢ as implicagdes que a nogio de causalidade nele contida tém para a ex- plicagio do comportamento sio objetos de estudo (¢ de polémica) para behavioristas ¢ analistas do comportamento. I: dificil identificar, hoje, um s6 texto ou um autor especial de que possamos nos valer para iniciar nosso estudo sobre tal modelo, Quando falamos em um modelo de causalidade estamos falando das possiveis res- postas para a pergunta ‘por que o fendmeno estudado tem as caracteristicas idemtificadas?” No caso especifico da anilise do comportamento (lembrando sempre que comportamen 33, Sologdo por conseqUéncias to é relagao entre © sujcito ¢ © ambiente, que diferentes relagdes constituem diferentes comportamentos), estamos falando de ‘onde’ 0 analista do comportamento procura res- postas para a pergunta: ‘por que sio essas as relagdes constitutivas do comportamento em questio? Ao responder a pergunta ‘por que? estamos explicando © comportamento. O modelo de causalidade indica ‘onde’ procurar as respostas para a pergunta ‘por que?”, for- necendo, assim, as bases para explicar 0 comportamento. Skinner (1974) refere-se & rclacdo entre explicago € busca dos determinantes (das “‘causas’) logo no primeiro capitulo do liveo About Behaviorism, capitulo intitulado As cau- sas do comportamento: or que as pessoas se comportam como o fazem? Provavelmente, esta questio foi, primeiro, uma questio prética: como uma pessoa poderia antecipar e, entio, preparar-se para o que uma outra pessoa faria? Mais tarde, a questo tornou-se prética em outro sentide: como otra pessoa poderia ser indusida a comportar-se de uma dada mancira? Finalmente, ela Jorneaese una questao relacionada & compreensao e explcagao do comportamente, Ela pa- devia sempre ser reduzida a uma questao sabre causas. (p.9) Algumas paginas adiante, no mesmo capitulo, cle ja sugere ‘onde’ o analista do com- portamento deverd procurar as respostas para essa questio: No momento, devemas nos contentar .. coe as bisdrias genética ¢ ambiental da pessoa .. © ambiente fox sua primeira grande contribuirao durante a evolugao das espéces, mas ele cexerce um tipo diferente de efeito durante a vida do individuo ¢ a combinagao dos dois efeitos é0 comportanenta que nés observamas em qualquer dado momento. (p.\7) Veremos, adiante, que neste trecho estio presentes aspectos do modelo de selegio por conseqiiéncias. Antes, porém, cabe ressaltar que, neste mesmo capitulo, Skinner deixa claro que o modelo de causalidade proposto por ele € apenas um dentre os diversos mo- delos presentes na psicologia. Como indicado em um dos trechos anteriormente citados, desde ha muito o homem se pergunta sobre as causas do comportamento; quando a psi- cologia surge como uma disciplina cientifica independente, ela jd encontrou, a0 se pergun- tar sobre as causas do comportamento, um conjunto de respostas que foram produzidas 20 longo da hist6ria humana, Pelo menos enquanto ponto de partida, a psicologia lidou ‘com essas respostas € com um conjunto de dificuldades filoséficas e metodolégicas delas decorrentes. Ao enfrentar estas dificuldades, é que a psicologia acabou por construir dife- rentes alternativas, ou seja, diferentes sistemas explicativos, diferentes modelos de causali- dade, entre cles 0 modelo de selegdo por conseqiiéncias. 34 MA Andory, N Micholotto, TM Sério Origem do modelo de selegao por conseqiiéncias Skinner elaborou o modelo de selecéo por conseqiiéncias a partir de proposigdes de Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913 Tanto Darwin como Wallace estavam convencidos de que as espécies no cram imutévcis ¢, de forma independente, preocuparam.se em responder & pergunta rclativa a como as espécies mudavam. O inte- ressante é que, mesmo trabalhando independentemente, a resposta que deram foi bastante semelhante: a evolugio das espécies, segundo a concepeio Darwin /Wallace, envolve dois processos bisicos: a produgio de vatiagiio e a selecio de algumas dessas variagdes. Como afirma Gould (1989), a0 comparar a proposta de Darwin com a proposta de Lamarck (1744-1829), esses dois processos so uma marca do darwinismo: A teoria da selegao natural de Darwin é mais complexa que 0 lamarckismo porque requer dois processes separades, em vex cde uma forga nica. Ambas as teorias tim raizes no con ito de adaptagao — a idtia de que os organismos responder as mudancas ambientais desenvolvends uma forma, fungao, on comportanento mais adequado as novas crcunstin- ias. Assim, nas das teorias, as informagies do ambiente tim de ser transmitidas aos orga- nismos. No lamarckisme, a transmissio é direta. Um organismo dé-se conta da mudanca ambiental, responde a ela da mancira “eorreta” ¢ passa diretamente & descendéncia a reagio apropriada © darwinismo, por outro lade, 6 um processo de duas fases em que as foras responséveis pela varia ¢ pela diregao sao diferentes. Os darwinistas referem-se d primeira fase, a var cagdo genética, como sendo “aleatéria”. Trata-se de um term inflizg porque nia queremos diger aleatério no sentido matemetico, deigualmente provével em todas as dregs. Simples- ‘mente, entendemos que a variagio ocorre sem orientagao preferida nas direges adaptativ Se a temperatura estd caindo ¢ ume revestinento mais peludo qiudaria na sobrevivincia, a sariagao genética que aumenta a quantidade de pelos nao comeca a surir com fregitincia maior. A selegae, segunda fase, trabalba sobre variagtes nao orientadas ¢ nuda a pop- Lagi, conferinda maior éxito reprodutivo is variantesfavorecidas. Esta é a diferenca essencial entre lamarckismo e darwinismo, jé que 0 lamarckismo é fa damentalmente uma teoria de variagao dicigicla. Se os peles sae melhores, os animats cam preendem essa necessidade, desenvolvem-nos ¢ patsam o potencial & descendéncia, Assim, a sariagao & dirgida automaticamente para a adaptacan, ¢ nenbuma forca secundéria como a selecao natural é necessria. (pp. 67, 68) Como Gould (1992) destaca, a variagio, na perspectiva darwinista, “deve ser randé- 35, mica” (Isto quer dizer, sem uma diregio determinada); além disso, a variagio “deve ser pequena em relagio 4 extensio da mudanga evolucioniria” (p.12), 0 que sugere um longo processo para que ‘grandes’ mudangas possam set identificadas. Ao comentar seu embasamento no modelo darwinista, Skinner (1981/1987) salienta que 0 surgimento deste modelo causal ocorreu tardiamente ¢ que, ainda hoje, ele é de difi- cil aceitagé Como wm modo cause, selegao por consegiténcas foi descoberto muito tarde na bistiria da ciéncia — na verdade hd menos de um século e meio — ainda nao 6 plenamente reconbecdo entendido. (pp. 56, 57) Catactetisticas do modelo de selegao por conseqiiéncias Assim como para Darwin, para Skinner os processos de variaglo ¢ selecio sio os processos bisicos na determinacio do comportamento. Porém, diferentemente de Dar- win, 0 objeto de estudo central de Skinner (o que cle pretendia explicar) cra 0 comporta- mento humano. Podemos dizer, entio, que para Skinner 0 comportamento nao é imutavel. Assim, trata-se de explicar como ele se transforma: como se originam, como se alteram € se man- tém comportamentos, especialmente © comportamento humano? A resposta de Skinner para estas questdes é que o comportamento humano é produto, concomitantemente, de trés niveis de variagio ¢ selecio. iu. 0 comportamento humano € 6 produto conjunto (1) das contingéncias de sobrevivéncia responsdves pela seleao natural das expécies e (2) das contingéncias de reforganmento respon scveis pelos rpertirios adquirides por seus membros, ineluindo (3) as contingéncias especiais 5) Podemos dizer, entio, que pata Skinner 0 comportamento humano é “o produto de mantidas por um ambiente social que evoluin. (Skinner, 1981/1987, p. trés tipos de selegio”: “a selegZo natural .. © condicionamento operante... a evolugio de contingéncias de reforcamento social que chamamos de cultura...”” Skinner, 1989, p.27) Ainda, segundo Skinner (1989), a cada um desses “tipos de scleca0” corresponde um produto especffico: “a selecdo natural nos da © organismo, o condicionamento ope- ” (p.28) rante nos di a pessoa ¢ ... a evolugao de culturas nos da o se Os trés niveis de variagio € selegao O primeiro nivel de variacio e sele¢io do comportamento nos remete a como fo- 36 MA Andory, N Micholotto, TM Sério ram sendo estabelecidas as caracteristicas chamadas de filogenéticas das virias espécies Isto é, aquelas caracteristicas que so tipicas de cada uma das espécies, aquelas que usual- mente chamamos de inatas. Para entender estas caracteristicas, segundo Skinner, é neces- sitio entender a histéria de interacio organismo-ambiente e € também necessitio reco- nhecer que © produto dessa histéria - 0 organismo - é mais do que apenas um conjunto de caracteristicas anatémicas, fisiolégicas ¢ neurolégicas; entre as caracteristicas de origem filogenética dos organismos esté 0 comportamento (lembrando que © comportamento é relagio sujeito-ambiente): que chamamos de compartamento evoluin como um conjunto de fungies envolvidas no intercimbio entre organismo ¢ ambiente. Erm um mundo razoaseluente estével 0 comporta- ‘mento seria parte da dotagao genética tanto quanto a digestao, respinagio, ou qualquer oxtra _fungio bioligica. Entretant, 0 envolvimento com o ambiente impés limitages. O comporta- ‘mento funcionava bem apenas sob condigies razeavelmente similares aquelas sob as quais «le foi selecionado, (Skinmer, 1981/1987, pp.51, 52) Assim, como produto da selegio natural, ao lado de padrdes fixos de comporta- mento devem ter sido selecionados processos comportamentais “por meio dos quais orga- nismos individuais adquiricam comportamento apropriado a ambientes novos” (Skinner, 1987, p.52). Uma possivel seqiiéncia no surgimento ¢ selecio dos diversos processos comporta- mentais foi sugerida por Skinner, em especial, em dois de seus artigos: A evolugio do comportamento (1984/1987) ¢ A evolugio do comportamento verbal (1986/1987). Podemos dizer que Skinner, no primciro artigo, a0 sugerir uma seqiiéncia para o surgi- mento € selegio dos processos comportamentais, tinha duas grandes perguntas: qual a origem dos padrdes fixos de comportamentos (0 que comumente é chamado de compor- tamento inato)? E qual a origem dos processos que possibilitam mudangas comportamen- tals? Com relagao & primeira pergunta, Skinner (1984/1987) supde um conjunto de mo- mentos que vo desde 0 “simples movimento” até os “padrdes de comportamento libera- do” [released bebavior pattern), Segundo ele, 0 primeico comportamento teria sido o movi- mentar-se; 0 “simples movimento” (isto & o mero deslocamento no espaco, sem nenhu- ‘ma direcic) foi uma variagio selecionada pois teria permitide que organismos vivos bas- tante simples (Skinner ilustra com a ameba) tivessem aumentadas as suas chances de en- contrar alimento. Um segundo momento de selegio teria sido o sentir (sensing); sentir, a- 37, qui, est ligado ao que comumente chamamos de ‘sensagio’. Com a selegio desta variacio, os organismos, ainda bastante simples, poderiam “afastar-se de estimulos prejudiciais ¢ aproximar-se de materiais citeis” (p.66). Estarfamos, entio, diante de organismos que “sentem partes do mundo a seu redor’ e se movimentam, condigdes das proximas varia- ‘Bes € selegdes que culminariam com a possibilidade de movimento com direcio especifi- a (tropismos) ¢ de movimentos especificos com diregdes especificas (reflexos): “A atribu- igo de diferentes érgios para sentir [to sensing] ¢ movimentar-se teria levado & evolugao de estruturas de conexio ¢, finalmente, a tropismos € reflexos” (p.66). A presenca de tropis- mos € reflexos incondicionados no repertério de uma dada espécie deve ter sido, por sua vez, condigao para o surgimento € selecio de seqiiéncias comportamentais, os chamados padrdies fixos de agio e/ou padrdes de comportamento liberado €/ou reagdes em cadeia; ‘um exemplo disto é 0 tecer a teia das aranhas, ‘A segunda pergunta que estamos supondo que Skinner tinha quando escreven 0 artigo aqui citado (qual a origem dos processos que possibilitam mudangas comportamen- tais?) € que deve ter conduzido sua busea dos processos que culminaram com a possibili- dade do comportamento operante para as mais diferentes espécies. Skinner comega sua abordagem da evolugio desses processos reconhecendo a necessidade de explicé-los (0 que quer dizer, tragar sua histérla) ¢ traga um percurso que vai desde a imitagao filogenéti- ca até o condicionamento operante. Segundo Skinner (1984/1987), A evolugao dos processos por meio dos quais 0 comportamento muda também precisa ser explicada. Um exemple inicial deve ter sido a imitagao .. Imitagao flagenétca podria ser definida como se comportar como um outro organismo estd se comportande, se nenburva ‘otra raza ambiental... Uma vex que a imitagio tenba evoluido, estavam dadas as contin- _gincias de selegdo nas quais a madelaio pederia evoluir. (p.68) A imitacdo € modelagio filogenéticas so vistas como os primeiros processos com- portamentais que possibilitaram mudangas no comportamento do individuo durante sua vida. © processo de imitagio descreve 0 comportamento do imitador. J4 0 processo cha- mado por Skinner de modelacio descreve o comportamento do ‘modelo’, ou seja, daquele que é imitado; por meio desse processo os organismos passam a se comportar de formas tao especiais que facilitam a imitacio. O exemplo que Skinner (1984/1987) oferece para ilustrar isto € 0 de passaros que voam com freqiiéncia diante de seus fithotes de maneiras “particularmente claras” (p.68). O que talvez surpreenda é que Skinner supée a possibili- dade, neste momento da evolugio, de um controle exclusivamente filogenético para estes 38 MA Andory, N Micholotto, TM Sério processos. Apesar das imensas possibilidades que criam em termos da sobrevivéncia de uma espécie, tais processos parecem ter limitagdes no que se refere 4 amplitude das mu- dancas comportamentais que permitem, Segundo Skinner (1984/1987): Como processos evolucionérios por meio dos quais 0 comportamento nouda durante vida do individ, imitarao e modelagao preparam o individuo apenas para comportamento que ja foi adguirido pelos organiomos que fornecem o modelo. Fvoluizam outros processos que colo- cam 0 individuo sob controle de ambientes aos quais apenas o individuo é expasto. Um deles 4 condicionamento respondente (pavloviano ou cléssce). (pp.68-69) Com o proceso de condicionamento respondente, os organismos podiam reagir a aspectos do ambiente consistentemente relacionados (em geral, antecedentes) a aspectos que jd produziam respostas espeeificas. O exemplo mais citado para ilustrar este proceso € exatamente aquele que Skinner (1984/1987) utiliza: o da salivagio. Salivar diante de ali- mento na boca é produto de um passo evolucionirio anterior, aquele que produziu os re- flexos incondicionados; entretanto, aspectos do ambiente que sistematicamente tenham precedide ‘alimento na boca’, como por exemplo, o cheiro do alimento, a visio do ali- mento, ou até aspectos nio constitutivos do préprio alimento, como o caso bem conheci- do do som nos experimentos de Pavlov, podem produzir uma resposta que prepare 0 or- ganismo para o ‘alimento na boca’; no caso deste exemplo, a resposta é a propria saliva. io. Duas vantagens evolucionérias parecem derivar desse proceso: ele prepara 0 organis- ‘mo para eventos ambientais que ocorrerio (falando de maneira coloquial: depois do som vem sempre o alimento, diante do som o organismo se prepara para receber o alimento: € importante notar que a resposta preparat6ria é uma resposta que jé faz parte do repertorio a espécic) c, principalmente, prepara um organismo para um ambiente ao qual apenas cle estd exposto (novamente de forma coloquial: 0 som pode anteceder o alimento apenas no caso de um organismo particular e sé ele, enti, reagiri ao som com a resposta de salivar). Podemos dizer, entio, que, com o proceso de condicionamento respondente ocorrem os primeiros indicios de individualizacio dos membros de uma dada espécie: determinados aspectos do ambiente podem ser ‘significativos’ apenas para certos membros daquela es- pécie, agora ja individuos em construgio. ‘Tal como no caso da imitacio € modelagio filogenéticas, processo de condiciona- mento respondente produziu possibilidades até entio inéditas em termos da sobrevivéncia das espécies; entretanto, tais vantagens s6 ocorreriam em um ambiente bastante semelhan- te ao ambiente selecionador, isto é, 05 organismos teriam, quase certamente, dificuldades

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