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Ficha de Avaliação – Módulo 8.

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Fernando Pessoa, Mensagem

GRUPO I

Leia atentamente o poema da obra Mensagem.

HORIZONTE

Ó mar anterior a nós, teus medos


Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa −


Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.

O sonho é ver as formas invisíveis


Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esprança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte −
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa, Mensagem (ed. Fernando Cabral Martins),


Porto, Assírio & Alvim, 2012, p. 50.

1. Explicite o valor denotativo e conotativo do título.

2. Caracterize o tempo e o espaço invocados.

3. Defina, por palavras suas, o “sonho” invocado no verso 13.

4. Apresente a sua opinião relativamente ao modo como o “sonho” é definido na última


estrofe.

5. Identifique a enumeração presente no final do poema, referindo-se ao seu valor


expressivo.

GRUPO II

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Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla a opção correta.

Voando sobre a Costa dos Esqueletos

Estou a bordo de um pequeno Cessna de quatro lugares que geme e soluça algumas
dezenas de metros acima do deserto do Namibe, que nos dizem ser o mais antigo deserto do
mundo, qualquer coisa como 80 milhões de anos para chegar ao dia de hoje comigo aqui. É um
marco histórico na minha vida, cruzar-me com tantos milhões de anos e tanto espaço vazio, mas
o deserto nem repara – o que é um dia, um voo, o que é um homem no meio de tanto tempo e
tanto espaço? O deserto ocupa a faixa atlântica da África Austral e o pedacinho encostado ao
mar recebe o nome macabro de “Costa dos Esqueletos”. Em inglês soa pior ainda, “Skeleton
Coast”. Nome lúgubre e tenebroso para recordar a facilidade de morte em terra e de naufrágio
no mar. O piloto aponta de vez em quando algo lá em baixo: vemos carcaças de navios, ossos de
baleias e focas, aldeamentos mineiros abandonados.
Estamos a voar há duas horas e o deserto do Namibe parece um catálogo de tudo o que
existe anti-humano. Dunas do tamanho da serra de Sintra, desfiladeiros que fariam corar de
vergonha o canhão da Nazaré, um punhado de formas de vida tão específicas e tão adaptadas a
80 milhões de anos de areia seca que fazem parte do Namibe as Galápagos do deserto – Darwin
não precisava de ter ido tão longe para perceber a evolução das espécies. E nós, banais
exemplares da nossa espécie, se agora fôssemos forçados a aterrar? Se uma emergência nos
colocasse no epicentro desta ausência de possibilidades de adaptação da espécie ao que quer
que seja?
A ideia entretém a minha concentração durante alguns minutos. Eu, perdido no meio de
2000 km de comprimento por 200 km de largura de coisa nenhuma. Temperaturas acima de 40
graus de dia, perto do zero à noite. Precipitação anual de 5 milímetros. Não chega sequer para
humedecer o olho de um bosquímano 1. A sombra existe durante cerca de meia hora
cadamadrugada e cada final de tarde, no sopé de dunas com 300 metros de altura e 30
quilómetros de comprimento. No resto do dia, o sol cai a pique nesta terra maldita. Nem
mesmo quando um denso banco de nevoeiro sai das águas geladas da corrente de Benguela e
penetra insidiosamente umas dezenas de quilómetros pelo continente adentro seguimos com a
sensação de estar protegidos do sol. Mudo a rota dos meus pensamentos, olho de novo para
baixo.
E se víssemos brilhar algo na areia, tentávamos aterrar? Seria certamente um diamante,
nada mais existe aqui, apenas areia e diamantes. Diz-se que de noite ao luar caminhando na
Costa dos Esqueletos se pode avistar as pedras apenas pelo reflexo. Seja como for, a zona dos
diamantes está vedada, uma enorme porção de deserto do tamanho de um país só acessível
aos funcionários da De Beers. Qualquer caminhante não autorizado será abatido.
Interrogatórios, fazem-se depois.
Volto a pensar em Darwin. E na evolução das espécies. E nas que não evoluíram, nas que
entraram em extinção antes de nós, humanos, sermos sequer primatas. Dinossauros, mamutes,
tigres-dentes-de-sabre, basilossauros, pterodáctilos. Que lógica, que sentido tem a vida na

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Povo mais antigo da África Austral.

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terra? Os que não são extintos são comidos. Uma cadeia alimentar que não poupa nem os mais
fortes. Uma lei implacável de violência, sangue, sofrimento, casualidade. A lei da selva. A lei da
Terra.
E nós, humanos, como viemos parar aqui? Foi diferente para nós? Ou também seremos
extintos, um dia? De onde viemos, para onde vamos? O que somos? Volto a olhar para baixo e
para o lado e para longe. O que somos?
“Grãos de areia na eternidade”, responde o deserto com uma gargalhada.
Encolho os ombros e rio-me com ele.

Gonçalo Cadilhe, Voando sobre a Costa dos Esqueletos, Visão, edição online, maio de 2015.

1. O voo sobre o deserto do Namibe é um marco histórico para o autor porque

[A] sente que a sua presença naquele local não é ignorada.


[B] contempla um espaço que resulta de milhões de anos de formação.
[C] admite que o espaço observado tem uma enorme importância geográfica.
[D] sabe que a viagem no pequeno Cessna envolve riscos enormes.

2. A designação “Costa dos Esqueletos” adquire um

[A] sentido idêntico ao que tem em inglês.


[B] significado mais macabro em inglês.
[C] valor pejorativo, quando traduzida para francês.
[D] valor denotativo, quando traduzida em inglês.

3. O deserto de Namibe é

[A] apresentado como uma das regiões que mais evoluíram.


[B] extremamente humanizado e de fazer inveja a outros locais.
[C] ilustrativo da pureza original e da ausência da Humanidade.
[D] visto como um local de fortes contrastes, graças à ação do homem.

4. O enunciado “Estamos a voar há duas horas” (l. 11) apresenta a ação

[A] como concluída e posterior à visita.


[B] no seu decurso, associada à viagem.
[C] como repetida durante várias viagens.
[D] como anterior à situação narrada.

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5. O termo sublinhado em “se agora fôssemos forçados a aterrar?” (l. 16) é um deítico

[A] temporal.
[B] espacial.
[C] pessoal.
[D] temporal e espacial.

6. Os constituintes sublinhados na frase “Se uma emergência nos colocasse no epicentro


desta ausência de possibilidades de adaptação da espécie ao que quer que seja?” (ll. 17-18)
desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de

[A] sujeito e modificador do nome restritivo.


[B] complemento indireto e complemento do nome.
[C] complemento direto e complemento oblíquo.
[D] complemento direto e complemento do nome.

7. O constituinte “nesta terra maldita” (l. 25) desempenha a função sintática de

[A] sujeito.
[B] complemento oblíquo.
[C] modificador (do grupo verbal).
[D] complemento direto.

8. Identifique o mecanismo de coesão assegurado nos constituintes sublinhados em “A


sombra existe durante cerca de meia hora cada madrugada e cada final de tarde” (ll. 22-23).

9. Classifique as orações “Mudo a rota dos meus pensamentos, olho de novo para baixo.”
(l. 28).

10. Indique a modalidade exemplificada nos segmentos sublinhados na afirmação “Diz-se que
de noite ao luar caminhando na Costa dos Esqueletos se pode avistar as pedras apenas pelo
reflexo.” (ll. 30-31).

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GRUPO III

Refira-se, num texto expositivo, de 150 a 200 palavras, à estrutura e valor cultural da
obra Mensagem, respeitando a planificação proposta:

 Introdução – a obra, o autor e a data de publicação.

 Desenvolvimento – a estrutura externa e interna; a simbologia de cada parte; os heróis


e seu valor simbólico; aproximação e/ou afastamento
relativamente a Os Lusíadas.

 Conclusão – importância da obra no panorama literário português.

Nota: depois da textualização, proceda à revisão do texto, introduzindo as correções


necessárias ao nível da sintaxe, da ortografia e da coesão e coerência textual.

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