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Direito Processual Civil I – Competência, Ação, Pressupostos para

o Julgamento de Mérito e Partes (DPC0214)


Turma 186-24

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

(06/08/14) Competência do órgão jurisdicional ou do juízo


O conceito de competência estaria relacionado ao que cada juiz pode julgar, de acordo com
determinados assuntos, ou de onde o processo está correndo. A distribuição de o que cada juiz
ira julgar segue critérios racionais. Competência difere de jurisdição pois esta é um poder de
dizer o direito no caso concreto, sendo que todo o juiz a tem; já a primeira tem a ver com a
racionalização da quantidade de processos, a quantidade de juízes, interesse das partes, etc.
Portanto, a decisão dada por um juiz incompetente ela existe juridicamente, porém há nela um
vício que leva a nulidade do processo (ao contrário disso seria a decisão dada por um juiz
aposentado, pois esta não existe). Liebman define que competência é, portanto, a medida da
jurisdição, ou seja, o que lhe da forma.

1. Competência absoluta X Competência relativa


Classificação mais importante no que diz respeito à competência, afinal é ela que tem maiores
efeitos práticos pois a partir dela é que se definem dois tipos de normas de competência: i)
normas que atendem as questões de ordem publica, ou seja, que dizem respeito ao melhor
funcionamento da justiça, e que visam a proteção do sistema e ii) normas que visam proteger
alguma das partes (ex: regra que afirma que a competência é a do foro da residência do réu).
Portanto, às regras de competência absoluta são as primeiras, que são poucos flexíveis pois
tentam proteger o sistema; as segundas, as de competência relativa, podem ser afastadas pelo
interessados.
Comecemos pelas regras de competência relativa. Elas servem para privilegiar uma das partes,
portanto, são as partes que podem pedir por incompetência (como afirma a lei); a doutrina fala
que é o réu que tem esse poder, pois é o autor que escolhe onde colocará a demanda. Se ele, réu,
não arguir, continua-se no mesmo foro pela liberdade da vontade. Por causa disso, o juiz não
pode reconhecer de ofício sua incompetência (súmula 33 do STF).1
Portanto, o legitimado para arguir incompetência relativa é o réu, sendo o prazo de 15 dias (art.
305, CPC) a partir da citação. Esse prazo, no rito comum ordinário, é o mesmo que deve-se
contestar, ou seja, é o prazo que o réu tem para se defender (deve-se, portanto, apresentar
contestação e exceção de incompetência no mesmo ato, se não temos a preclusão consumativa).
Portanto, nos outros tipos de processo, como no sumário em que a defesa deve ser apresentado
em audiência, a exceção também deve ser apresentada ali; no cautelar, em 5 dias.
A forma para isso é a forma da exceção de incompetência2:
▪ Deve ser feita em petição autônoma da contestação (mesmo que no mesmo prazo); isso
porque essa incompetência vai ser autuada em apartado, ou seja, em anexo aos autos
(no apenso), paralisando o curso do processo normal.
▪ Deve ser proposta no lugar em que o processo esta correndo ou no domicílio do réu3

1
O novo CPC afirma que o MP também pode propor a incompetência relativa
2
O novo CPC acaba com a forma, simplificando, afirmando que tudo deve ser colocado na contestação
Se a forma for desrespeitada, a jurisprudência adota uma postura formalista, dizendo que tal não
deve ser recebida. Ou seja, se não excepcionar, excepcionar de forma errada ou fora do prazo é
a mesma coisa. Temos, assim, a prorrogação da competência do órgão/do juízo, ou seja, por
causa da inércia do réu o juiz que esta com a causa se torna competente, sanando o vício.
Se for excepcionado no prazo certo, de forma certa, o juiz analisa se esta tem a mínima
condição de prosseguir (se não, indefere de plano). Após isso, instaura-se a exceção e o próprio
juiz julga se ele é competente (aqui temos o princípio alemão da Kompentenz-Kompentenz), o
que não traz problemas pois aí são analisados apenas questões técnicas. Nesse ponto abre-se um
contraditório, para que as partes possam trazer provas relativas a isso e temos a decisão final de
primeiro grau. A ela cabe agravo de instrumento, que não tem efeito suspensivo. Na decisão o
juiz já define qual o foro competente, remetendo os autos para tal (este tem que aceitar, podendo
isso mudar somente com decisão do tribunal no agravo). É, portanto, uma defesa ditatória, ou
seja, aquela que não extingue o processo, só alonga seu curso.
A incompetência, quando acolhida, gera uma nulidade aos atos praticados ao juiz incompetente,
porém somente com arguição e comprovação do prejuízo da parte; tais atos são reavaliados pelo
juiz competente, que pode manter ou não tais atos. Atos somente procedimentais, que visam a
continuação do processo, não são tidas como nulas. Já os decisórios, como as liminares, podem
ser.
Outra regra de competência relativa é a conexão, ou seja, ações que são propostas por causas
muito parecidas ou questões derivadas do mesmo ato, podem ser juntadas. Isso para ter uma
economia processual e decisões não contraditórias. Porém, reforçando, isso só vale para
competência relativa.
Passamos, então, para as regras de competência absoluta, que servem para garantir que o
serviço jurisdicional funcione bem. Existem três regras para identificar quais são regras de
competência absoluta:
- Regras superiores são de competência absoluta, as inferiores podem ser ou não.
Portanto, todas as regras da CF são de competência absoluta.
- Das normas infraconstitucionais, a própria regra diz se ela é ou não. Ex: art. 94 ou 95,
CPC.
- Da análise da sistemática se conclui. É a competência que tem que se analisar. Portanto,
a maioria das vezes isso é fixado pela jurisprudência. Ex: falência- criação do juízo
universal da falência; é absoluta pois é preciso que o órgão jurisdicional saiba de todo o
passivo da empresa para que se possa julgar, sendo assim, é de ordem pública.
É muito comum estabelecer a regra de que a competência por pessoa (que juiz deve julgar por
causa do réu ou do auto), por matéria e a funcional são absolutas, ao passo que a territorial e de
valor da causa são relativas. Isso é afirmado pela maioria da doutrina, mas contém furos (ex:
juízo universal da falência é competência territorial; imóveis- foro competente é o do local do
imóvel; ambas são relativas).

3
Essa determinação, ou seja, que pode ser protocolada no domicilio do réu, veio com a mudança do art.
305, parágrafo único do CPC, em 2006. Isso se deu devido discussões relativas ao Código de Defesa do
Consumidor, pois nos contratos de adesão (contratos em que a outra parte só “aceita”), normalmente
define-se o foro de eleição (ou seja, o foro é tido como consenso entre as partes), o que para a maioria da
jurisprudência é uma cláusula abusiva. O juiz podia, então, reconhecer de oficio essa cláusula, porém não
poderia remeter os autos ao domicilio do réu, pois não pode reconhecer sua incompetência relativa de
oficio. O réu deveria, então, se deslocar até o lugar em que os autos já estavam correndo, o que fazia com
que, muitas vezes, isso o impossibilitasse de exercer seu direito. Essa discussão também se deu no âmbito
de direito de família, em questões relativas à alimentos.
A competência absoluta pode ser arguida, por ser fixada para o bom funcionamento da justiça,
por qualquer um, portanto, o juiz pode arguir de ofício. A forma para isso é a preliminar de
contestação, ou seja, vem arguida na própria peça de defesa do réu, na parte preliminar a que
se fala no mérito (ou seja, na parte que se fala de defesas relativas a defeitos processuais). Caso
não seja alegada aí, pode-se alegar de qualquer forma a qualquer tempo (até depois de 2 anos da
coisa julgada) porque a norma é cogente, não podendo ser afastada, não havendo preclusão. Se
for comprovada má-fé, ou seja, proposta depois somente para alongar o processo, quem fez
pode ser penalizado. Aqui também é o próprio juiz que julga sua incompetência, e caso ele
decida que sim, remete os autos para o juiz competente. Isso muda nos JECs, se extingue o
processo porque a forma de petição inicial, a constituição ou não de advogado entre outras
coisas é muito diferente, sendo necessário que o autor proponha outra causa no juízo
competente. Os atos que foram praticados antes de declarada a competência absoluta, os atos
decisórios se tornam nulos, já os atos procedimentais continuam válidos.
Resumindo:
Absoluta Relativa

Legitimidade para Qualquer um Réu


alegar

Quando Qualquer tempo 15 dias (junto com a


contestação)

Forma Preliminar na contestação (se não: Exceção


qualquer modo)

Inércia Prorrogação

Acolhimento Nulidade absoluta dos atos Nulidade relativa dos atos


anteriores anteriores

2. Outras classificações de competência(13/08/14)


2.1. Competência material: por matéria
2.2. Competência pessoal: cargo exercido pelo réu da ação; normalmente é absoluta
2.3. Competência territorial: normalmente é relativa, mas tem muitas exceções.
2.4. Competência pelo valor da causa: possibilidades de se fazer em procedimento sumário se
o valor da causa for de até 60 salários mínimo.
2.5. Competência funcional:
Competência que é fixada em favor de um órgão jurisdicional em função de uma
atividade anterior praticada. Ex: em tutelas de urgência, como a cautelar, que seriam a
antecipação de uma tutela pleiteada, mas que ainda não foi realizada, ou não pleiteada,
pois caso isso não aconteça pode-se gerar dano irreparável ou de difícil reparação para
quem a pede. Quando se propõe uma cautelar antes da ação principal, pois ainda não se
tem documentos suficientes para fundamentar a ação principal ou por qualquer outro
motivo, e o juiz concede a liminar, existe um prazo para se propor a ação principal. Essa
nova ação vai ser julgada para o mesmo juiz que concedeu a liminar.
Tal competência pode ser vista do âmbito horizontal, ou seja, no mesmo grau de
jurisdição, que, antes de 2005 e da reforma do CPC, dizia respeito ao processo de
cognição e de execução que deveriam ser julgados pelo mesmo juiz, mas também no
âmbito vertical, o que tem a ver com quem julgará os recursos, portanto, diz respeito a
graus diferentes de jurisdição. Temos dois recursos: o agravo, contra decisões
interlocutórias, e apelação, contra sentenças; a partir da primeira distribuição, referente
ao primeiro agravo de instrumento4 , temos que quem julgou dentro do tribunal julgará
todos os outros recursos que vierem.
É uma competência absoluta, pois é fundada em razões de ordem pública: presume-se
que aquele órgão é o mais preparado para julgar pois já tem conhecimento sobre a
causa.
2.6. Competência recursal- competência que define qual tribunal julgará os recursos. A regra é
que é o tribunal daquela mesma justiça matéria julgará. Mas quem julgará dentro de cada
tribunal são regimentos internos.

3. Critérios de fixação de competência


3.1. O caso em questão é da justiça brasileira? (art. 88 e 89, CPC)5
O art. 88 trata de competências concorrentes (que podem ser julgadas tanto pelo Brasil
quanto países estrangeiros, no segundo caso devendo ser homologada no Brasil), já o
art. 89 de competências exclusivas (que só podem ser julgadas pela jurisdição
brasileira).
3.2. É competência originária de algum tribunal de superposição ou órgão jurisdicional atípico?
Os tribunais de superposição são os do topo da pirâmide, ou seja, STF (art. 102, I, CF) e
STJ (art. 105, I, CF). Ser de competência originária significa ter que propor a ação
direto ali. Já os órgão jurisdicional atípicos são órgãos que não tem jurisdição, mas a lei
determina que são eles que devem julgar alguns casos. Ex: art. 51 e 52, CF - é o Senado
que julgar crimes de responsabilidade feitas pelo presidente
3.3. É competência de alguma justiça especial?
São as justiças especiais:
a) Justiça militar: crimes penais das forças armadas
b) Justiça eleitoral: toda matéria relativa ao pré, a decorrência e ao pós eleitoral
c) Justiça do trabalho: competência por matéria, ou seja, matérias relacionadas a
relação de emprego.
3.4. Sendo da justiça comum, ela é da justiça federal ou estadual?
a) Justiça federal: envolvimento da União, empresa estatal, ou autarquia
b) Justiça estadual: competência residual
3.5. É competência originária de algum tribunal da justiça determinada? Ou é do primeiro grau
de jurisconsulto?
As competências dos tribunais especiais e dos TRFs estão na CF, esse último no art.
108, I. Dos tribunais estaduais, nas Constituições Estaduais.
3.6. Sendo de primeira instância, de onde? Qual é territorialmente o órgão jurisdicional?

4
Agravo de instrumento é um tipo de agravo que é julgado imediatamente pelo tribunal, não tendo
necessidade de se esperar a apelação para se julgar, como o agravo retido.
5
O atual Código de Processo Civil fala em competência, porém, com o sentido de jurisdição. O novo
Código traz expressa a palavra “jurisdição”, em seus arts. 21 e ss, deixando a questão mais precisa.
No estado, temos a divisão em comarcas ou foros, que são os âmbitos territoriais. Na
federal, temos as sessões judiciárias. A regra é a de foro do domicílio do réu, mas
existem uma série de regras específicas relativas aisso.
3.7. Quantos juízos (ou varas) há dentro dessa comarca?
Se for vara única, descobrimos a vara.
Se tiver mais de uma vara, precisamos primeiro saber se há especificação por matéria
(Ex: existem varas cíveis, ou varas cíveis e de família). Se não há especificação,
endereçamos para qualquer vara, e dentro das varas é feita a destruição. Se há, deve-se
respeitar a divisão por matéria, endereçando para aquelas varas específicas e lá dentro
faz-se a distribuição.
Atenção! As perguntas devem ser respondidas em ordem! Sendo assim, deve-se
determinar PRIMEIRO O FORO, E DEPOIS SE HÁ JUIZO ESPECIAL ALI OU
NÃO; se não há juízo especial, não se pode alegar que deve-se mudar o foro, sendo o
caso julgado naquela vara, mesmo que ela não seja especializada.

4. Regra de perpetuação da Jurisdição (perpetuatio jurisdicionis)- art. 87, CPC


Aqui é usado jurisdição, mas diz respeito a competência. A regra define que a competência é
definida pela regras vigentes no momento da propositura da demanda. Tal regra visa
descomplicar e evitar má-fé nos processos. Se mudar alguma coisa depois da propositura da
demanda isso não afeta o processo. Atenção!, isso não se aplica a incompetência. Existem
exceções, podendo mudanças posteriores a propositura serem consideradas: a) se suprimirem o
órgão jurisdicional (questão de ordem prática, pois a vara é excluída, tendo o processo que ter
continuidade) b) alteração em lei de competência de matéria ou hierarquia, ou seja, se houver
alguma mudança em lei de competências absolutas (como interpreta a doutrina).6

5. Competência da justiça federal (art. 109, CF) (19/08)


É regra de competência absoluta, por isso todas as regras que se aplicam as outras regras de
competência absoluta, aqui também se aplicam.
5.1. Competência por pessoa:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
O art. 109, em seu inciso I define que algumas pessoas deslocam a competência para o
âmbito federal: a União, autarquias e empresas pública federais,(sociedade de economia
mista não) sendo elas partes ou terceiros que intervém. Pra que haja intervenção ou
ingresso da União ou de suas entidades, como terceiros, a regra era que a União tenha
algum interesse jurídico na causa, ou que a impactem juridicamente de alguma forma. Não
poderia ser um interesse somente econômico. Portanto, o que legitimava a intervenção de
terceiros era o interesse jurídico (isso continua valendo para particulares). Porém, essa
regra foi modificada pela lei 9469/97, art.5, §único7, criou uma exceção para entes

6
O novo CPC traz em sua redação esse entendimento doutrinária unânime.

Art. 5º da lei: “A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
7

autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais. Parágrafo
único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda
públicos, afirmando que o modo de ingresso poderia se dar por meio de interesse
econômico. A jurisprudência e a doutrina afirmam que o modo de ingresso até pode ser
esse, mas se o interesse for meramente econômico, não se desloca o julgamento para
competência federal.
Quem verifica se a União e seus entes podem ingressar ou não, aferindo as condições de
ingressos, se se trata de interesse jurídico ou não é o foro federal. Se este deferir, o
processo fica ali mesmo, caso contrário volta para o juízo estadual. Isso acontece por que a
justiça federal existe por se mais especializada, e portanto, produz decisões melhores, tendo
que ser ela quem analise o interesse jurídico da União, por isso ser uma matéria
especializada. Caso seja um interesse econômico, e o juiz estadual que avalia as condições
de ingresso. Temos aí a súmula 150 do STJ.
Dentro da justiça federal, a competência de foro está determinada nos §1 e 2 do artigo:
“§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte”
“§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em
que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal”8
O parágrafo primeiro, então, define o foro competente quando a União é autora,
prevalecendo a regra do domicílio do réu. Já o parágrafo segundo traz quatro
competências, a escolha do autor, pois é o caso em que a União é réu; por serem passíveis
de escolha chamam competência concorrente. Uma vez escolhido, concentra a competência
naquele foro. A jurisprudência e doutrina majoritária interpreta que esses parágrafos só se
aplicam a União, portanto, quando esta for réu e alguém peticionar na justiça estadual a
professora acha que serão aplicadas às regras do CPC.
O parágrafo terceiro traz a chamada competência delegada.
“§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos
segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e se
verificada essa condição a lei poderá permitir que outas causas sejam também
processadas e julgadas pela justiça estadual.
A preocupação de tal parágrafo é o de acesso à justiça para questões previdenciárias, isso
porque logo no pós 88 tínhamos uma justiça federal precária, pouco estruturada e
capilarizada. Assim, se um hipossuficiente, principalmente econômico, quisesse propor
uma ação contra o INSS, deveria fazê-lo em sua sessão judiciária, porém essa sessão na
maioria dos casos não corresponde ao município que ele mora, pois, como já tido, a justiça
federal não é tão capilariza, tendo ele que se deslocar para propor a ação. A justiça estadual
costuma a ser muito mais capilarizada, não precisando o hipossuficiente se deslocar.
Portanto, o parágrafo afirma que nessas questões é permitido o autor propor na justiça
estadual. Por isso chama competência delegada. Porém, o quarto afirma que o recurso irá
para o TRF, pois estes estão na capital do Estado assim como os TJs, não tendo sentido

que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse


jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais
reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes”

8
Tais regras são copiadas para o novo CPC
manter a regra do terceiro.
5.2. Competência material (outros incisos): Matéria residual em caso civil, professora só leu o
artigo.

6. Outros casos 9(94 a 100, CPC)


6.1. Regra comum e residual (art. 94, CPC):
O que não tem regra específica, e tratar de direito pessoal (obrigacional) ou real sobre
coisa imóvel se aplica a regra comum e residual do foro do domicílio do réu. Se o réu tiver
dois domicílios temos foros concorrentes, podendo ser citado em qualquer um. Caso o réu
não tenha domicílio conhecido, onde ele for encontrado ou no foro do domicílio do próprio
autor. Quando o réu não tiver no domicílio nem residência no Brasil, no foro do domicílio
do autor; se ele também morar fora, em qualquer foro. Havendo dois ou mais réus, temos
também foros concorrentes. É competência relativa.
6.2. Competências que incidem em direito real sobre imóvel (art. 95, CPC)
É uma regra de competência absoluta, pois trata também de outras matérias que tratam de
local do imóvel sem nenhuma flexibilização sendo ela absoluta e inderrogável.
6.3. Art. 100,CPC:
Trata de competência relativa.
Em seus incisos define diversos casos:
“I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em
divórcio, e para a anulação de casamento” → tentativa de corrigir uma diferença de
desigualdade social e estrutural de gênero, dando preferência para mulher em questões de
família10
“II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos” →
segue a logica de facilitação de acesso presente no CPC.
“IV - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica;
b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu;
c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de
personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir o cumprimento”
“V - do lugar do ato ou fato:
a) para a ação de reparação do dano;
b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios”
“Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato” → o foro é o de
domicílio do autor ou do local do fato para facilitar a colheita de prova

7. Prorrogação ou modificação da competência


Se tratando de competência relativa, é possível haver modificação da competência original
fixada, aumentando-se a competência de algum juiz. Em hipótese de competência absoluta isso

9
Aqui se incluem também casos que tenham entes públicos que não sejam a União. Neles, é como se
estivesse tratando com outro particular
10
O novo CPC, porém, muda isso, em seu art. 56, definindo que o domicílio passa a ser o de quem
estiver (de fato) com o filho incapaz. Caso não haja filho incapaz, será no foro que o casal por último
habitou, se nenhum deles habitar ali, é o foro do domicílio do réu.
não é possível. As causas da modificação são duas:
A. Vontade das partes (27/08/1411):
- Eleição de foro (foro eleitoral)
- Escolha de uma das competências concorrentes
Seria a prorrogação voluntaria. A vontade das partes pode ser manifestada por meio de
uma clausula chamada de clausula de eleição de foro, que é a forma expressa exigida
em lei12. O principal problema que temos aqui são em contratos de adesão, onde consta
tal clausula. A jurisprudência entende que em tais clausulas que não tem verdadeira
anuência do contratante, temos uma clausula abusiva, que pode ser assim considerada
por causado CDC ou mesmo do CC. Então essa discussão tomou tamanha importância
que hoje ela está no CPC, afirmando que o juiz pode declarar de ofício essa clausula
abusiva, e remeter tal processo para outro juiz13. Temos aqui uma exceção do fato do
juiz não poder declarar de oficio sua própria incompetência, pois isso seria a
decorrência da nulidade da clausula abusiva. Dois exemplos que são bastantes presentes
na jurisprudência são:
i. Demanda das concessionárias de veículo, pois estas não tem a menor
possibilidade de discussão com as fabricantes sobre as condições do
contrato, sendo eles somente contratos de adesão14. Por serem duas
empresas, não há aí uma relação de hipossuficiência que justifique essa
proteção que o sistema dá, não podendo o juiz dar de ofício a declaração de
cláusula abusiva. Afinal, a empresa tinha condições de conhecer o contrato
e se preparar para cumprir as cláusulas, não havendo um desequilíbrio
tamanho que justifique tal proteção. Aqui temos a necessidade, portanto,
da análise do mérito. O que acontece aqui, na maioria dos casos, é que
mesmo alegando essa dificuldade, as partes conseguem se defender de
forma adequada.
ii. Contrato de franquia; aqui existem decisões pros dois lados, mas a maioria
é no mesmo sentido do que os casos das concessionárias de veículos. Em
caso de pequenos franqueadores, isso se aproxima dos consumidores.
B. Para possibilitar uma melhor prestação jurisdicional, ou seja, na maioria das vezes um
juiz incompetente pelas regras de fixação passa a ser competente. Acontece nos casos:
- Quando se perde o prazo para excepcionar ou erra a forma. (prorrogação de
incompetência involuntária).
➢ Nesses três primeiros caso temos exercício da autonomia da vontade, portanto, a
prorrogação é voluntária.
C. Casos de conexão ou continência (art. 103 a 105,CPC):
- Temos aqui um caso de prorrogação legal, pois esta fundada no melhor
julgamento da causa. Temos nos artigos 103 e 104 a definição do que é conexão e

11
Aula ministrada pelos monitores
12
Lembrando aqui que essa é uma escolha do território, da comarca ou foro, pois a escolha dentro desses
territórios dos juízos é feito pelo regimento interno de cada local, o que é tido como competência absoluta
por tratar de questões de ordem pública, não podendo se facilitar a escolha de juízes para evitar
julgamentos tendenciosos.
13
Isso vem de uma construção jurisprudencial de que o juiz poderia declarar de ofício que a clausula era
abusiva, mas como ele não pode fazer o mesmo em questões de competência relativa, isso não resolvia,
pois o consumidor teria de ir até o foro determinado pelo contrato para excepcionar.
14
Lembrando, novamente, contratos de adesão em si são lícitos, porém, podem ter clausulas abusivas.
continência:
o Demandas conexas são demandas que tem objeto (pedido) ou a causa de
pedir que tenham alguma afinidade, sejam ligadas. Ou seja, em toda causa
temos o pedido, que se divide em pedido imediato (a tutela jurisdicional) e
o pedido mediato (o bem da vida. Ex: dinheiro, mudança do estado civil,
etc). É por meio do primeiro que se chega ao segundo. A causa de pedir é o
motivo pelo qual você pede, que abrange fundamentos fáticos e jurídicos.
o Continência é uma espécie de conexão, que tem as mesmas partes, objeto
ou causa de pedir com afinidade, em que o pedido da segunda contém a
primeira.
- O artigo 105 define que conexão e contingência podem fazer com que as causas
sejam julgadas em conjunto. Isso melhora o funcionamento judicial pois há aí uma
economia processual e se evita, assim, decisões conflitantes sobre coisas
semelhantes. A jurisprudência tem mitigado isso pois nenhum juiz quer chamar a
demanda para si. A súmula 235 do STJ afirma que quando os autos já estão em
segundo grau e a conexão é proposta ela não é aceita.
A partir do momento em que se prorroga a competência de um juiz, quaisquer outros
juízes que tivessem competência concorrente a perdem, tendo a derrogação da
competência daquele que no início seria competente. A fixação da competência assim
como é feita se procura proteger o interesse de alguma das partes, e aí pode vir a
prevalecer o principio da disponibilidade. Ou seja, se quem for o beneficiado abrir
mão de propor a demanda no foro especial (ex: réu que tem a demanda proposta no seu
domicílio, mesmo a empresa tendo colocado uma cláusula falando que deve ser em
outra cidade) tal beneficiário não pode propor uma exceção de incompetência, pois a
proteção se dá ao interesse, não podendo alguém querer uma coisa pior do que a já
determinada. Aí se presume má-fé de se postergar o processo

8.

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