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CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO

AULA 2 – TERCEIRO SETOR

O intuito desse material complementar é aprofundarmos um pouco mais sobre o


Terceiro Setor, diversos são os conceitos sobre este termo: Sobottka (2002) afirma que a
definição de terceiro setor está vinculada basicamente ao chamado voluntary sector
(setor voluntário), um setor complementar à economia de mercado e ao estado. Salamon
(1995), por sua vez, afirma que o Terceiro setor é composto por organizações que “não
integrem o aparelho governamental, não distribuem lucro a acionistas ou investidores
nem têm tal finalidade, gerenciam-se e têm alto grau de autonomia interna.”
Concepção que também vai ao de encontro às colocadas por IPEA/PENUD (1996), que
definem o que seriam as condições de uma organização do terceiro setor: “(i)
estruturadas; (ii) localizadas fora do aparato formal do Estado; (iii) que não se destinam
a distribuir lucros auferidos com suas atividades entre os seus diretores ou entre um
conjunto de acionistas; (iv) autogovernadas; (v) que envolvem indivíduos num
significativo esforço voluntário; e (vi) que produzem bens e/ou serviços de uso coletivo
(IPEA/PNUD, 1996: 146).”

Já Cabral (2006) coloca que não devemos definir o Terceiro Setor de forma segmentada
e por meio das características que constituem essa parte:

“a designação Terceiro Setor se refere a um conjunto de ações, iniciativas,


empreendimentos sociais, e organizações privadas, diversas do Estado e das
organizações mercantis. Se tentarmos distinguir a denominação generalista de
Organização do Terceiro Setor por algumas propriedades factuais, em oposição
ao Estado e ao Mercado, seremos forçados a definir o Terceiro Setor como um
conjunto composto de partes e qualificado pelas características parciais dessas
partes. Assim, características como não-lucratividade, caridade, independência,
exclusão fiscal, podem produzir uma definição operacional que terá utilidade
para comunicar funções e modos particulares de inter-relação entre atividades,
mas, será insuficiente para unificar a estrutura do Terceiro Setor.” (CABRAL,
p.4, 2006).
A partir de Cabral (2006), pode-se destacar uma concepção de interação, conexão entre
os Primeiro, Segundo e Terceiro Setor, ou seja, o dinamismo das relações é
considerado. O que é reforçado por Jerez e Revilla Blanco (1998) que sugerem a
necessidade de “consolidação do Terceiro Setor como espaço de movimento
(identidade, mobilização, valores) antes que de organização” (1998: 20).

Nesse sentido, convido a termos essa visão de movimento, dinâmica, de espaços de


interações. Afinal, a ação de qualquer um dos setores sofre influências e está vinculada
aos demais. Penso que o papel do terceiro setor e consequentemente das organizações
que o compõe, não é substituir o Estado e/ou o mercado e sim de interagir, buscar
construir efetivas políticas públicas e ações de responsabilidade social, o bem comum.

Sendo assim, é necessário também se ter o cuidado para não permitir que os processos
de gestão do terceiro setor sejam pautados em função do Estado ou pela lógica do
mercado (gestão estratégica). Precisa ser mantida a lógica da solidariedade comunitária
(gestão social).

Segundo Tenório (1998 p.17) “sob uma perspectiva macro, a deficiência gerencial na
implementação de políticas públicas agravada pela escassez crônica de recursos
financeiros, fomenta o caráter competitivo das organizações do terceiro setor, já que
elas têm de concorrer por recursos junto ao primeiro e/ou ao segundo setor. Sob um
enfoque micro, esta demanda por recursos pode provocar também o distanciamento de
sua maneira de atuar com as questões sociais, de um gerenciamento centrado na
intersubjetividade da pessoa humana para aquele determinado pelo cálculo egocêntrico
de meios e fins. Adiciona-se a isto o fato que estas organizações da sociedade civil, na
ânsia de “profissionalizarem-se”, na “luta pela sobrevivência”, passem a utilizar os
mesmos mecanismos gerenciais daqueles empregados pelo setor privado nos seus
processos de tomada de decisão.”

Coloco ainda que nessa “corrida por recursos financeiros” junto ao primeiro e/ou
segundo setor corre-se o risco de perder-se a essência social, mas também, o foco, o
objetivo da organização atuando em áreas ou propondo atuações que satisfaçam
exclusivamente aos editais de financiamento. Ao invés, de levantar as demandas,
necessidades ou objetivos do público alvo ou da comunidade foco do projeto proposto.

Para finalizar, acredito que o Terceiro Setor deve-se sim profissionalizar-se, realizar
parcerias com o segundo setor e com o poder público, utilizar-se das políticas públicas e
ferramentas administrativas, porém sob a perspectiva social, de bem comum, de uma
gestão comunitária, sem ações assistencialistas e paternalistas.

Referências:
SOBOTTKA, Emil A. Organizações Civis: Buscando uma definição para além de ONGs e “terceiro setor”, Civitas – Revista de
Ciências Sociais Ano 2, nº 1, junho 2002.

SALAMON, Lester M. (1995). Partners in public service: government-monprofit relations in the modern welfare state. Baltimore:
The Jhonhs Hopkins University Press, citado por SOBOTTKA, Emil A. Civitas – Revista de Ciências Sociais Ano 2, nº 1, junho
2002.

IPEA/PNUD. Relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil. Rio de Janeiro, IPEA; Brasília, PNUD, 1996.

CABRAL, Eloisa Helena de Souza. Espaço público e controle para a gestão social no Terceiro Setor. Serviço Social e Sociedade,
86, 30-55, 2006.

JEREZ, Ariel; REVILLA Blanco, Marisa (1998). El tecer sector: uma introducción a um concepto polémico. Sociedade em Debate,
Pelotas, v.4, n.2, p. 3-22. ago. citado por SOBOTTKA, Emil A. Civitas – Revista de Ciências Sociais Ano 2, nº 1, junho 2002.

TENÓRIO, Fernando G. Gestão Social: uma perspectiva conceitual. In: Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro,
Fundação Getulio Vargas, Vol. 32, nº 5, set./out. 1998, pgs.07-23.

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