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RESENHA DO FILME “O TRIUNFO DA VONTADE” com base na leitura do

texto de Adorno “A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista”


Thaís Priscila Ribeiro
RA 510394
Ciências Sociais

Dirigido pela cineasta alemã Leni Riefenstahl, o Triumph des Willens (no
original e O triunfo da Vontade, em português) se encontra entre títulos com
conteúdos polêmicos e se destaca pela forma cinematográfica revolucionária
de sua produção. Contratada diretamente por Hitler para produzir um filme de
propaganda para o partido nazista, a diretora trabalhou neste documentário por
meio de filmagens em ângulos e movimentos muito inovadores para a época.
Além da forma técnica de seu trabalho, há a perspicácia de Rienfenstahl ao
produzir o filme centralizando a figura do Führer em uma comparação a uma
figura divina que chegava para socorrer os alemães da derrota e do fracasso
que se encontravam. A característica messiânica da produção é sustentada
pela forma de chegada do Hitler ao Congresso: descendo dos céus em seu
avião e sendo muito adorado ao caminhar entre seus fiéis.
Outra via de leitura, além das discussões sobre a ascensão de Hitler e
do nazismo na Alemanha, que pode ser tomada para o O triunfo da vontade é
colada ao texto de Adorno sobre A teoria freudiana e o padrão da
propaganda fascista. Neste texto, o autor parte de sua compreensão
freudiana para trabalhar a questão da propaganda fascista, sendo seu ponto de
referência a “última década” (no caso, é a década de 40, já que seu artigo foi
escrito em 1951) e qual seriam a natureza e o conteúdo dos discursos e
panfletos dos agitadores fascistas. O ponto que tenta alcançar é mostrar – ou
incentivar a percepção de – que com uma pesquisa empírica é possível notar
como a psique do indivíduo pode ser vulnerável à propaganda fascista.
Quando caracteriza os chamados agitadores fascistas ou até mesmo os líderes
presentes em seu texto, Adorno diz terem eles uma técnica de “incitadores” em
seus discursos e panfletos. Diz ainda que “os próprios discursos são tão
monótonos que, assim que se fica familiarizado com o número muito limitado
de dispositivos em estoque, o que se encontra são intermináveis repetições”,
isso complementando ao que dizia sobre a similaridade entre esses agitadores
ser tão grande “que basta em princípio analisar as declarações de um deles
para conhecê-los todos.” (ADORNO, p.164).
O que se pode inferir a respeito disto? De forma pessimista e
característica do autor, há apontamentos que dizem respeito à quão inútil ou
ineficaz é a existência de uma crítica ideológica, pois, neste caso, o líder pode
se impor em um discurso falacioso sem ter pretensão de ser verdadeiro, já que
os indivíduos estariam em um estado de ingenuidade desapontadora, sendo
coagidos a passarem de suas individualidades para uma massa homogênea
manipulada. Mais enfático ainda na teoria freudiana, ele aponta para uma
fraqueza tendenciosa de o indivíduo declinar para a adesão a uma massa, de
uma forma retardatária e irracional.
Em termos de uma “identificação por idealização”, não haveria uma
motivação em seguir um líder pelo simples fato dele ser capaz de ir a
determinada instância representar aquilo que a massa diz ou necessita, pelo
contrário, as motivações psicológicas apontadas por Freud diz ser uma
identificação narcisista. Diverge da identificação por coação por um “pai
primitivo”, uma figura paterna onipresente que motivaria a libido a agir de forma
respeitosa. Na identificação narcisista, “por sua vez, corresponde à
semelhança da imagem do líder com uma ampliação do sujeito: ao fazer do
líder seu ideal, o sujeito ama a si mesmo, por assim dizer, mas se livra das
manchas de frustração e descontentamento que estragam a imagem que tem
de seu próprio eu empírico.” (ADORNO, p. 175).
Forçando a leitura de O triunfo da vontade através do que diz Adorno
sobre a teoria freudiana, pode-se chegar a uma explicação da aceitação do
Hitler pela população alemã. Não se trata só da eficácia de sua propaganda, de
sua teatralidade e eloquência retratadas no filme, capazes de contagiar até os
mais politizados, mas trata também da forma como esse líder surgiu com
promessas de uma Alemanha que renasceria unificada e que representaria
todo aquele povo que sofreu os fracassos da derrota na Primeira Guerra. A
identificação narcisista, como conceituou Freud, estava centralizada naquele
Führer de personalidade forte e capaz de realizar as mudanças e, assim,
efetivar a identidade alemã, mesmo que isso viria a legitimar seus crimes.
Antes de tornar-se uma figura assassina, Hitler era aquele que representava as
qualidades e vontades daqueles alemães, enaltecendo aquela nacionalidade e
revigorando a própria imagem deles a eles.
O que ele fez foi unificar o sentimento de vontade do ressurgimento da
força alemã, legitimando a necessidade de manterem uma só identidade, a
raça ariana pura, mesmo que para isso fosse necessário o extermínio de todos
os outros que não representassem essa nação. A vontade do povo voltada
para o renascimento de seu país, não só reconheceu aquela liderança como
também possibilitou todo o desenrolar de tragédias que são associadas às
ações do partido nazista.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ADORNO. “A teoria freudiana e o


padrão da propaganda fascista”. In: Margem esquerda – Ensaios
Marxistas, v. 7. Boitempo Editorial, 2006.

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