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Órgão : PRIMEIRA TURMA CÍVEL


Classe : APC – APELAÇÃO CÍVEL
Nº. Processo : 2004.01.1.056918-7
Apelante : CAPEMI – CAIXA DE PECÚLIOS, PENSÕES E MONTEPIOS
BENEFICENTE
Apelante : ELISANDRO DESMAREST DE SOUZA
Apelados : OS MESMOS
Relator Des. : ARNOLDO CAMANHO
Revisor Des. : NATANAEL CAETANO

EMENTA

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE


COBRANÇA. CAPEMI. SEGURO DE ACIDENTES
PESSOAIS. INVALIDEZ DERIVADA DE ACIDENTE DE
TRABALHO. DANO MORAL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. Havendo relação de causa e efeito entre o acidente


sofrido no exercício das funções laborais e a condição
mórbida atual do autor, o dever de indenizar fica
caracterizado.
2. Para a caracterização do dano moral se faz
necessário que o constrangimento ou a humilhação
sejam intensos a ponto de poderem facilmente ser
distinguidos dos aborrecimentos do dia-a-dia, situações
comuns e a que todos estão sujeitos, decorrentes da
vida cotidiana em sociedade.
3. Quando o contrato não é expresso quanto ao valor
contratado, não constitui litigância de má-fé pleitear o
maior valor.
4. Considerando os parâmetros do § 4º, do artigo 20, do
CPC, tem-se como adequado o valor fixado para os
honorários advocatícios.
5. Recursos conhecidos e, no mérito, negado
provimento.
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ACÓRDÃO

Acordam os Desembargadores da PRIMEIRA TURMA


CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARNOLDO
CAMANHO - Relator, NATANAEL CAETANO – Revisor e ANA CANTARINO –
Vogal, sob a presidência da Desembargadora VERA ANDRIGHI, em CONHECER.
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ E DA AUTORA. UNÂNIME, de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília-DF, 19 de setembro de 2007.

Desembargador ARNOLDO CAMANHO


Relator

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RELATÓRIO

Adota-se, de início, o relatório do respeitável sentença


de fls. 211/215, verbis:
“Trata-se de ação de cobrança mediante a qual
pretende o autor, militar reformado, receber prêmio
securitário (R$ 158.799,18) em razão de acidente
pessoal, ocorrido durante suas atividades laborais, o
qual lhe lesionou seriamente o ombro direito.

Relata o autor que, enquanto na ativa, exercia a função


de destruição de armas com marretas, sendo que no
dia 24/03/2000, ao manobrar pesada caixa de
armamentos, seu braço “soltou”, acometendo-lhe
severa luxação no ombro direito, a qual, mesmo após
cirurgia e demorado e completo tratamento médico, não
se reverteu, tornando-se crônica. Após esgotadas as
tentativas médicas, o Exército concluiu que o autor
estava definitivamente incapacitado para o serviço
militar (por todos: fl. 24), pelo o quê foi aposentado em
fevereiro de 2004 (fl. 59).

Apoiado nestes fatos, requereu o autor recebimento do


seguro de acidentes pessoais em grupo que detinha
com a ré (pedido à fl. 79; apólice à fl. 26), tendo o
pedido sido indeferido sob o argumento de que a lesão
se tratava de LER (lesão por esforço repetitivo), o que
estava excluído da cobertura (fl. 27).

Deferida justiça gratuita (fl. 60).

Citada (fl. 61, verso), a ré apresentou contestação (fl. 65


e ss), sustentando como principal argumento de defesa
o fato de que a lesão do autor não foi fruto de um
acidente episódico, mas sim de LER, o que, inclusive,
foi constatado pelo próprio Exército, não se
enquadrando, portanto, no conceito de acidente pessoal
constante da apólice do seguro. Aduz que o autor não
está inválido, mas apenas incapacitado para o trabalho
no Exército, sendo certo que o seguro somente cobre
casos de invalidez permanente. Impugna, ao final, o
valor cobrado, declinando que o benefício contratado
pelo autor é no valor de R$ 79.406,96.
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Réplica em duplicidade às fls. 87 e seguintes e 105 e
seguintes.

Laudo de perícia realizada às fls. 182 e seguintes,


sobre a qual posteriormente manifestaram-se as partes
(fls. 194 e ss)”.

Acrescente-se que a douta Juíza sentenciante julgou


parcialmente procedente o pedido inicial para condenar a ré a pagar ao autor o valor de
R$ 72.608,70 (setenta e dois mil, seiscentos e oito reais e setenta centavos), corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros de mora de 1%, desde a data da negativa do
pagamento do prêmio securitário pleiteado (13/10/2003 – fls. 27).
A respeitável sentença condenou a ré, ainda, nas
custas processuais e nos honorários advocatícios, estes fixados em 15% sobre o valor
da condenação.
A parte autora opôs embargos de declaração, que
foram parcialmente acolhidos (234/236), a fim de corrigir o valor da condenação para
R$ 79.399,59.
Inconformada, a CAPEMI interpõe recurso de apelação.
Alega que celebrou com o autor contrato de pecúlio, que possui natureza aleatória e
securitária e não um contrato de previdência social. Sustenta que não está obrigada a
pagar valor contratado a título de seguro sem que ocorra o sinistro previsto na apólice,
qual seja, morte ou invalidez permanente. Aduz que o autor não ficou inválido, mas,
tão-somente, inabilitado para exercer atividades no exército. Diz que a lesão sofrida
pelo autor não foi decorrente do acidente e sim do agravamento da doença profissional
“LER” (lesão por esforço repetitivo), que vinha sofrendo há alguns anos, e que é
excluída da cobertura securitária. Alega que, conforme o laudo do perito judicial, caso o
autor seja submetido a novo procedimento cirúrgico, recuperará a capacidade
laborativa, inclusive para a área militar.
Requer a reforma da sentença ou, caso assim não se
entenda, a manutenção do valor da condenação e a redução do quantum dos
honorários de sucumbência.

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Contra-razões e Recurso Adesivo do autor às fls.
261/280 e fls. 281/298, respectivamente. Nas razões do recurso adesivo, requer a
reforma da sentença para receber o valor da importância securitária contratada, ou
seja, R$ 158.799,18, bem como a condenação da ré ao pagamento de indenização por
danos morais e a integralidade dos honorários sucumbenciais.
Contra-razões da ré ao recurso adesivo do autor (fls.
341/346), reafirmando os termos de suas razões de apelação e pugnando pela
improcedência do recurso adesivo interposto. Requer, ainda, a condenação do autor
por litigância de má-fé, por pleitear benefício por morte acidental sem a ocorrência do
sinistro.
É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO – Relator


1- Recurso de apelação da CAPEMI
A demanda gira em torno da obrigatoriedade da
cobertura do acidente sofrido pelo autor pelo contrato de seguro que firmou com a ré
CAPEMI.
O contrato de seguro de acidentes pessoais tem por
escopo o pagamento de uma indenização de até 100% do valor contratado ao
beneficiário, caso o contratante venha a ficar total ou parcialmente inválido. Conforme o
Regulamento do plano de idade certa com seguro de acidentes pessoais celebrado
entre autor e ré, o seguro de acidentes pessoais é aquele que:

“garante ao segurado ou a seu beneficiário uma


indenização correspondente as seguintes garantias: ...
Invalidez por acidente: esta cobertura garante ao
próprio segurado o pagamento de uma indenização de
até 100% do valor contratado, caso o segurado venha
a ficar total ou parcialmente inválido” (fls. 142)
(grifou-se).
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Consta, ainda, que o seguro tem por objetivo de
“garantir, ao segurado ou seu (s) beneficiário (s), uma indenização correspondente ao
capital segurado contratado, em caso de invalidez permanente ou morte, decorrentes
de acidente” (fls. 145).
O mesmo regulamento define o que vem a ser invalidez
permanente:
“Entende-se por invalidez permanente a perda,
redução ou impotência funcional definitiva, total ou
parcial, de membro ou órgão, que tenha sido
causada por acidente”. Estabelece ainda que no caso
de invalidez por acidente, total e permanente, o
benefício será de 1 (uma) vez o benefício contratado
(em qualquer época) (fls. 142) (grifou-se).

Em seguida, têm-se as definições aplicáveis ao seguro,


quais sejam:
“2.1 - Para os fins deste seguro, considera-se acidente
pessoal o evento com data caracterizada, exclusiva e
diretamente externo, súbito, involuntário e violento,
causador de lesão física que, por si só, e
independentemente de toda e qualquer outra causa,
tenha como conseqüência direta a morte ou invalidez
permanente total ou parcial do segurado”. O contrato
entabulado entre as partes define, ainda, o que não se
inclui no conceito de acidente pessoal: “2.2 – Para fins
deste seguro, não se incluem no conceito de acidente
pessoal: a) as doenças (incluídas as profissionais)
quaisquer que sejam suas causas, ainda que
provocadas, desencadeadas ou agravadas, direta ou
indiretamente por acidente, ressalvadas as infecções,
estados septicêmicos e embolias, resultantes de
ferimento visível desde que provocado por acidente”
(fls. 145).

A MMª Juíza entendeu que o sinistro que vitimou o


autor se enquadra nas hipóteses do contrato de seguro, motivo pelo qual deferiu o
pleito formulado, condenando a ré ao pagamento do pecúlio, contudo, não no valor
pedido na inicial e sim no importe de R$ 79.399,59, uma vez que não houve morte.
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O contrato entabulado entre as partes prevê
expressamente o pagamento de uma indenização ao beneficiário de até 100% do valor
contratado, caso o contratante venha a ficar total ou parcialmente inválido, o que se
enquadra no caso dos autos.
Nesse sentido, entendimento desta Corte de Justiça,
verbis:
“CIVIL - ADESÃO A PLANO DE CONCESSÃO DE
PECÚLIO OU DE RENDA - SEGURADO ACOMETIDO
DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL -
CONTINGÊNCIA BIOLÓGICA - AUXÍLIO-INVALIDEZ -
COBERTURA - CÁLCULO ATUARIAL DO VALOR DO
SEGURO.

É res inter allios, não obrigando o segurado, a relação


entre a seguradora e terceiro contratado para oferecer o
prêmio nos casos de invalidez.

Se o Estatuto da seguradora e a proposta de adesão


prevêem expressamente os planos de concessão de
pecúlio ou de rendas em decorrência de morte,
incapacidade ou contingências sociais ou biológicas,
impõe-se o pagamento do auxílio-invalidez àquele que
sofreu Acidente Vascular Cerebral, paralisando parte do
seu corpo.

A atualização do seguro é regida por cálculos de


matemática atuarial, objetivando uma perfeita equação
do risco coberto e do prêmio pago. Para que se chegue
ao valor devido, deve ser apurado o valor em vigor do
benefício à época da ocorrência do infortúnio,
atualizado monetariamente até a data do efetivo
pagamento” (19980410016558APC, Relator SANDRA
DE SANTIS, 5ª Turma Cível, julgado em 04/05/2000, DJ
02/08/2000 p. 40).

Pelo douto Juízo a quo, foi determinada a realização de


perícia judicial consubstanciada no laudo de fls. 183/187. O item III – HISTÓRICO E
ANAMNESE está assim descrito:

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“Periciando militar reformado desde 2003, em
decorrência de luxação do ombro direito em serviço,
quando foi pegar uma caixa de madeira contendo
armamento em 24 de março de 2000. Atendido pelo
serviço médico do quartel, com imobilização do ombro e
fisioterapia. Realizou cirurgia em 27 de setembro de
2001, sem sucesso, apresentando luxações com
freqüência, crônica, em uso de tipóia em braço direto.
Afirma que se tirar a tipóia o ombro cai. Nega uso de
medicação. Faz fisioterapia no Hospital da Guarnição
do Exército em Rondônia onde mora. Foi solicitada
nova cirurgia, mas os médicos do Hospital Central do
Exército não querem fazer, com medo de agravar o
quadro” (fls. 183).

O item IV – CONSIDERAÇÕES GERAIS descreve que:

“O Periciando refere um episódio de movimento brusco


quando foi pegar uma caixa de madeira contento
armamento, tendo nessa ocasião apresentado um
quadro de luxação do ombro direito, foi submetido a
tratamento cirúrgico sem sucesso, desenvolvendo a
partir daí luxação crônica de ombro direito. Noticia os
autos folhas 39 a 57 que o periciado vinha realizando
atividades com manipulação de caixas pesadas
contendo munições já algum tempo. Essas tarefas
repetitivas levam ao surgimento de micro lesões que em
conjunto com o episódio de 24 de março de 2000,
quando foi pegar uma caixa de madeira com
armamento foram responsáveis pela lesão no ombro
direito sofrida pelo periciado.

A ocorrência de vários episódios de luxação caracteriza


a luxação como um processo crônico.

A realização de novo tratamento cirúrgico pode resolver


o problema do periciado, entretanto pode incorrer em
insucesso como o tratamento cirúrgico anterior ao qual
foi submetido” (fls. 184/185).

O perito judicial, Dr. Marcos Gutemberg Fialho da


Costa, concluiu o laudo nos seguintes termos:

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“VII – CONCLUSÃO

O periciado apresenta-se atualmente incapaz


totalmente para a atividade militar, entretanto se foi (sic)
submetido a novo tratamento cirúrgico com sucesso,
recuperará a sua capacidade para o trabalho na área
militar.

As tarefas repetitivas em conjunto com o episódio do


dia 24 de março de 2000 foram responsáveis pela lesão
apresentada pela (sic) periciado.

Apresenta capacidade laborativa para atividades


profissionais da vida civil que não exijam esforço físico
com o braço direito” (fls. 185).

De acordo com as definições que regem a relação


contratual entre as partes, e que foram antes delineadas, acrescidas das considerações
do laudo judicial, verifica-se o acerto da MMª Juíza sentenciante.
É que, como bem salientado pela magistrada a quo,
embora conste do laudo do perito judicial que novo procedimento cirúrgico poderia
resolver o problema do autor, os médicos do Exército, reiteradas vezes, manifestaram-
se no sentido de que já haviam sido esgotados todos os recursos da medicina
especializada para a recuperação da doença, bem como foram observados todos os
prazos legais (fls. 213).
Além disso, aplica-se à espécie, modus in rebus, o
disposto no artigo 46, 2ª parte, do Regulamento da Previdência Social (Decreto nº
3.048, de 06 de maio de 1999)1, que estabelece que o segurado não está obrigado a
submeter-se a procedimento cirúrgico, que de acordo com o referido dispositivo legal, é
facultativo.
Ressalte-se, ainda, que o próprio perito afirma que nova
cirurgia tanto poderia resolver o problema do autor, quanto poderia incorrer no mesmo

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Art.46. O segurado aposentado por invalidez está obrigado, a qualquer tempo, sem prejuízo do
disposto no parágrafo único e independentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício,
a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por
ela prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de
sangue, que são facultativos.
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insucesso do procedimento anterior. Com efeito, é sabido que, por mais que a medicina
esteja em avançado estado de desenvolvimento, não se pode afirmar, com certeza, se
um paciente, submetido a procedimento cirúrgico, ou mesmo a um tratamento
ambulatorial, responderá da forma esperada.
Acrescente-se o afirmado pelo autor à fls. 183, onde
relata que faz fisioterapia no Hospital da Guarnição do Exército em Rondônia, local
onde mora. Relata, ainda, que já foi solicitada nova cirurgia, contudo, os médicos do
Hospital Central do Exército não querem fazer, por receio de piorar o quadro
apresentado.
Diga-se, ainda, que o perito judicial concluiu que o autor
“apresenta capacidade laborativa para atividades profissionais da vida civil que não
exijam esforço físico com o braço direito” (fls. 185). Por outro lado, de acordo com o
relatado pelo autor, se retirar a tipóia que usa, o ombro “cai”.
Assim, não há como afirmar que o autor poderá realizar
outras tarefas que não exijam esforço com o braço direito.
A ré refuta, ainda, a obrigação de indenizar, alegando
que o fato que levou à invalidez do autor consiste num agravamento da LER (lesão por
esforço repetitivo) que já portava, o que afastaria a cobertura pelo seguro.
Conforme laudo da Junta de Inspeção de Saúde do
Hospital de Guarnição de Porto Velho (fls. 24), que concluiu ser o autor incapaz
definitivamente para o serviço do exército, “há relação de causa e efeito entre o
acidente sofrido e a condição mórbida atual, expressa pelo diagnóstico: M 75.9
(instabilidade multidirecional do ombro direito)”. E mais, a Solução de Sindicância
acostada à fl. 28, concordou com o parecer anteriormente emitido e concluiu: que “o
acidente sofrido pelo Cb ELISANDRO DESMAREST DE SOUZA, da Cia Cmdo / 17ª
Bda Inf S1, no dia 24 Mar 00, quando trabalhava na atividade de destruição de
armamento, caracterizou-se como acidente em serviço...”.
Dessa forma, não há como negar que o fato ocorrido
com o autor no dia 24 de março de 2000 caracteriza-se como acidente, não podendo
ser excluído da cobertura securitária que avençou com a ré.

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Ressalte-se que o juiz não está adstrito ao constante do
laudo pericial, quando houver nos autos outras provas capazes de elidir o afirmado pelo
signatário do laudo.
Apontando nesse sentido, posicionamento deste
egrégio Tribunal:
“DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS
À EXECUÇÃO. PRELIMINAR: DESCONSIDERAÇÃO
DO LAUDO PERICIAL OFICIAL. INOCORRÊNCIA.
MÉRITO: INOCORRÊNCIA DE INVALIDEZ
PERMANENTE E TOTAL. INAPLICABILIDADE DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EXCESSIVOS.
DESACOLHIMENTO.
1. O juiz não se encontra adstrito ao laudo da perícia
médica, ainda que oficial, com a qual não concorda, por
considerá-la incompleta e confrontante com as demais
provas, como exames e laudos médicos.
2. É de ser considerada a invalidez permanente e total,
se o quadro clínico do autor, segundo relato do médico
que o vem acompanhando ao longo desses anos atesta
que o paciente é portador de hipertensão e diabético,
doenças essas, como se sabe, de natureza crônica e se
não tratadas adequadamente são capazes de fragilizar
sobremaneira a saúde.
3. Não é de se cogitar da aplicação do Código de
Defesa do Consumidor, se a sentença ao diploma não
se reportou.
4. Os honorários fixados na sentença devem ser
mantidos, se obedeceram a lei de regência.
5. Recurso improvido”.

Veja-se, ainda, o seguinte acórdão do Colendo Superior


Tribunal de Justiça, verbis:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR


INVALIDEZ. INCAPACIDADE
COMPROVADA. DOENÇA PREEXISTENTE À
FILIAÇÃO. AGRAVAMENTO PELO
TRABALHO. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
1. É devida a Aposentadoria por Invalidez ao segurado
considerado total e permanentemente incapacitado para

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qualquer atividade laborativa que lhe garanta a
subsistência.
2. Sendo tal incapacidade oriunda de moléstia adquirida
na infância, é ainda imperiosa a concessão do benefício
quando sobrevier por motivo de progressão ou
agravamento dessa doença ou lesão. A análise dessa
circunstância não é possível no Recurso Especial –
Súmula 07/STJ.
3. Recurso não conhecido” (REsp 196821 / SP, Relator
Ministro Edson Vidigal, 5ª Turma, julgado em
21/09/1999, DJ 18.10.1999 p. 260).

Diante do exposto, nego provimento ao apelo da ré.

2 – Recurso adesivo do autor


A “Tabela para cálculo da indenização em caso de
invalidez permanente” dispõe que, nos casos de invalidez permanente parcial,
especialmente na “perda total de uso de um dos membros superiores”, será pago um
percentual de 70% da importância segurada.
De acordo com a planilha de fls. 101, para invalidez
permanente total por acidente será devida “1 vez o benefício contratado”. Consta ainda
que o valor do pecúlio é R$ 79.399,59 e do seguro acrescido do pecúlio R$ 158.799,18.
A MMª Juíza, diante da inexatidão do contrato,
interpretou-o de forma razoável e favorável ao autor, razão pela qual deve ser mantida
a condenação também nesse ponto.
O pedido de condenação da ré em danos morais não
merece ser acolhido.
Os danos morais são caracterizados por violações aos
direitos da personalidade. Antônio Jeová Santos (Dano moral indenizável. p. 96.)
leciona que:
“Aquele que, no mais íntimo de seu ser, padece quem
tenha sido lastimado em suas afeições legítimas, e que
se traduz em dores e padecimentos pessoais. E mais:
O dano moral constitui uma lesão aos direitos
extrapatrimoniais de natureza subjetiva que, sem
abarcar os prejuízos que são recuperáveis por via do
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dano direto, recaem sobre o lado íntimo da
personalidade (vida, integridade física ou moral, honra,
liberdade) e não existe quando de trata de um simples
prejuízo patrimonial”.

In casu, não se verifica nenhuma violação aos direitos


da personalidade, mas, tão-somente, um caso de inadimplemento contratual por parte
da ré.
Os meros dissabores e vicissitudes do cotidiano não
estão abarcados no conceito de dano moral. Para a caracterização deste se faz
necessário que o constrangimento ou a humilhação sejam intensos, a ponto de
poderem facilmente ser distinguidos dos aborrecimentos do dia-a-dia, situações
comuns e a que todos estão sujeitos, decorrentes da vida cotidiana em sociedade.
A ré pediu, em sede de contra-razões, a condenação do
autor por litigância de má-fé, por pleitear benefício por morte acidental sem a
ocorrência do sinistro. O autor pleiteou o valor de R$ 158.799,18, pois, na apólice do
seguro não consta valor exato para indenização decorrente de invalidez.
O artigo 17, do CPC, preceitua os casos de litigância de
má-fé. A conduta do autor não se enquadra em qualquer das hipóteses ali previstas,
razão pela qual não acolho o pedido formulado.
Quanto aos honorários, observo que o valor fixado pela
MMª Juíza atende ao disposto no artigo 20, § 4º, do CPC, razão pela qual mantenho
incólume a respeitável sentença também nesse ponto.
Face o exposto, nego provimento aos recursos,
mantendo in totum a sentença atacada.
É como voto.

O Senhor Desembargador NATANAEL CAETANO – Revisor


DA APELAÇÃO DA CAPEMI
Presentes os pressupostos de admissibilidade,
conheço do recurso de apelação.

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Realmente, os fundamentos consignados nas razões
recursais da apelante não merecem acolhimento.
Consoante salientou o e. relator, ficou demonstrado
que a incapacidade física permanente do apelado decorreu de evento ocorrido no
trabalho, caracterizado como acidente em serviço. Nesse passo, havendo cláusula de
indenização em caso de invalidez permanente, não há como a apelante negar o
pagamento, pois o segurado não está obrigado a ficar fazendo cirurgias sem fim,
correndo o risco de piora no seu estado incapacitante devidamente comprovado por
laudos médicos.
Assim, não há como dar provimento ao recurso de
apelação interposto pela CAPEMI.

DA APELAÇÃO ADESIVA
Presentes os pressupostos de admissibilidade,
conheço da apelação interposta adesivamente.
De fato, não há fundamentos para se elevar a
indenização, que tem como base o valor de R$79.399,59 (setenta e nove mil, trezentos
e noventa e nove reais e cinqüenta e nove centavos), para o caso de invalidez por
acidente. No caso dos autos, inclusive, conforme destacou o r. relator, a sentença foi
bastante favorável ao apelado, na medida em que deixou de considerar que, no caso
de perda total de um dos membros superiores, o valor da indenização seria de 70% da
referida importância segurada.
O recorrente não faz jus à reparação de danos morais,
pois não houve qualquer violação aos seus direitos da personalidade. De igual forma,
não há elementos que sustentem a condenação da apelada nas penas da litigância de
má-fé.
Por último, os honorários devem ser mantidos, pois
fixados com base no artigo 20, §4º, do Código de Processo Civil.

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Desse modo, NEGO PROVIMENTO ao recurso de
apelação e ao recurso adesivo, mantendo integralmente a r. sentença recorrida. É
como voto.

A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO – Vogal


Com o Relator.

DECISÃO

Conhecidos. Negou-se provimento ao recurso da ré e


da autora. Unânime.

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