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janeiro-fevereiro de 2020 – ano 61 – número 331

SINODALIDADE E
CONVERSÃO PASTORAL
104 Páginas

184 Páginas

A PAULUS apresenta com exclusividade o novo material de iniciação à vida cristã para perseverança!
Rotas de navegação é uma proposta para as comunidades que querem trabalhar de forma ousada a evangelização
da juventude, segundo a mentalidade da “Igreja em saída” do Papa Francisco. Indicada para jovens de 11 a 22 anos,
a obra oferece uma catequese mistagógica, comunitária e formadora de verdadeiros discípulos missionários.
Comece já a sua rota na perseverança, rumo ao encontro com o Cristo Jovem!

“Nossa vida nesta realidade é uma travessia para a vida eterna; por isso,
precisamos de orientações para encontrar a rota certa.”

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Prezadas irmãs,
prezados irmãos, graça e paz!
Iniciamos um novo ano. O tempo se abre sinodal (cf. Lumen Gentium) e a necessidade
como possibilidade de reavivarmos o dom de renovação, de modo que a mensagem da
que recebemos de Deus, como bem lem- salvação não seja aprisionada (cf. 2Tm 2,9),
bra o apóstolo são Paulo na carta a Timóteo: mas toque o coração da humanidade hoje.
“reacenda o dom de Deus, que está em você” À luz do Concílio, também as Conferências
(2Tm 1,6). Reacender o dom é deixar que o Episcopais da América Latina e do Caribe
Espírito nos ilumine para que nossas forças intensificaram o dinamismo eclesial, convo-
não sejam empregadas em vão. Há em nós cando os seus membros a viverem no es-
uma centelha divina que nos faz enxergar pírito de comunhão e participação. Merece
para além dos desânimos e fadigas do coti- especial destaque as Conferências de Puebla
diano. É hora de levantar a cabeça, com os (1979) e de Aparecida (2007).
pés firmes na realidade e ver os horizontes de Nessa perspectiva, o Cônego Sérgio Con-
esperança que se apresentam para nós. rado discorre em seu artigo sobre a sinodali-
De fato, é a esperança que move a vida dade como o caminho que Deus espera da
cristã. Somos o povo da espera (Ex 3,7-14) Igreja hoje. Para tanto, adverte sobre a ne-
e, à semelhança dos primeiros discípulos de cessidade de verdadeira conversão pastoral,
Jesus, carregamos em nós a força e a capa- evidenciando, assim, o que Francisco tem
cidade de sempre recomeçar. No evento da insistido desde o início de seu pontificado.
cruz, o grande sinal da revelação plena do Para Faustino Teixeira, a grande riqueza do
amor, quando tudo parecia terminado, foi pensamento do pontífice está em defender o
então que tudo começou (Lc 24,13-35). desafio dialogal, o respeito à consciência e o
Para nós, o passado e o futuro são horizon- direito ao pluralismo religioso, como expres-
tes que apontam para a esperança. sões do anúncio, pontuado pelo testemunho,
É nessa perspectiva que Vida Pastoral pela solidariedade e pela acolhida. Pe. Elcio
inicia o ano de 2020, com o espírito reno- Cordeiro, por sua vez, apresenta uma carac-
vado. Na esteira do dinamismo do apóstolo terística peculiar da missão de Francisco, a
são Paulo e em sintonia com o pensamento sua especial ternura pelos preferidos de Je-
do papa Francisco, o tema de capa desta sus, os pobres. Finalmente, numa perspectiva
edição trata de um assunto fundamental de abertura e acolhida, pe. Erivaldo Dantas
para o anúncio integral do evangelho: sino- alarga a compreensão de uma das expressões
dalidade e conversão pastoral. mais marcantes do pontificado de Francisco,
Sinodalidade provém da palavra sínodo, a “Igreja em saída”, como uma Igreja decidi-
que significa caminho feito juntos. Sabe-se damente missionária, capaz de sair da autor-
que os primeiros seguidores de Jesus eram referencialidade.
identificados pela característica de caminhar Para os roteiros homiléticos, acolhemos
juntos (At 9,2; 22,4). Apesar das persegui- a preciosa colaboração de pe. Francisco
ções, que não eram poucas, os discípulos Cornélio, que irá nos brindar com suas re-
caminhavam unidos, sabendo que a con- flexões durante este ano.
dição humana está destinada para a vida, e Boa leitura!
não para a morte. O Concílio Vaticano II Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
expressou bem a dimensão de uma Igreja Editor

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 1


Sumário
SINODALIDADE
E CONVERSÃO PASTORAL............................................................. 4
Revista bimestral para sacerdotes
e agentes de pastoral Sergio Conrado
Ano 61 - No 331
Janeiro-Fevereiro de 2020
FRANCISCO
E O PLURALISMO RELIGIOSO................................................... 15
Editora
Faustino Teixeira
PIA SOCIEDADE DE SÃO PAULO

Jornalista Responsável
PAPA FRANCISCO
Valdir José de Castro, ssp E OS POBRES........................................................................................ 22
Editor Elcio A. Cordeiro
Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Conselho Editorial POR UMA “IGREJA EM SAÍDA”.................................................. 30


Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp Erivaldo Dantas, ssp
Darci Luiz Marin, ssp
Paulo Sérgio Bazaglia, ssp
Sílvio Ribas, ssp ROTEIROS HOMILÉTICOS............................................................ 38
Ilustrações Francisco Cornélio Freire Rodrigues*
Patrícia Campinas (artigos)
e Luís Henrique Alves Pinto
(Roteiros Homiléticos)

Imagem da Capa
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Sergio Conrado*

Sinodalidade
e conversão pastoral
O artigo discorre sobre a realidade
da sinodalidade como o caminho
que Deus espera da Igreja hoje se houver
verdadeira conversão pastoral.

*Cônego Sergio Conrado é professor doutor em Teologia Pastoral pela


Universidade Lateranense de Roma e professor emérito pela Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assunção – PUC/São Paulo. Pároco da Paróquia São Gabriel
(Jardim Paulista), Arquidiocese de São Paulo. E-mail: conradosergio@terra.com.br

INTRODUÇÃO nodalidade, desde o início mostrou ser ne-


Não há dúvida de que o sínodo já é cessário sempre rever a ação pastoral, seus
parte integrante da vida da Igreja universal métodos e instrumentos, e ter a conversão
e particular e, onde tem sido realizado, al- pastoral como sustento da missão. Seguin-
cança um patamar bastante alto de eficácia. do essa linha, os sínodos abrangiam as múl-
O sínodo é profundo convite à conversão tiplas áreas de ação eclesial, como o Síno-
pessoal, pastoral e eclesial diante da consta- do sobre a catequese (Catechesi Tradendae,
tação de que os objetivos da evangelização 1979) e sobre a ação missionária da Igreja
não estão sendo plenamente atingidos. O (Redemptoris Missio, 1990).
próprio Concílio Vaticano II, há mais de 50 Outros sínodos refletiram e tiraram mui-
anos, foi um apelo solene e insistente para to boas conclusões sobre a vocação e a mis-
que a Igreja toda se renovasse na missão, são dos leigos na Igreja e no mundo con-
levando em conta as novas realidades so- temporâneo (Christifideles Laici, 1988), sobre
ciais, culturais e religiosas que compunham a vocação sacerdotal, vida e ministérios dos
o contexto da época. presbíteros (Pastores Dabo Vobis, 1992), sobre
No período pós-conciliar, em 1965, São a missão dos bispos (Pastores Gregis, 2001),
Paulo VI convocou o primeiro Sínodo dos sobre religiosos e religiosas (Vita Consecrata,
Bispos e, a partir daí, pouco a pouco, foram 1996) sobre a família (Amoris Laetitia, 2014-
realizados muitos, em diferentes setores da 2015), sobre os jovens, a fé e discernimento
Igreja, como o Sínodo dos Bispos sobre a vocacional (Christus Vivit, 2019) e, mais re-
evangelização do mundo contemporâneo. centemente, sobre a Pan-Amazônia (2019).
Com a compreensão de que a missão per- Não foi outra a preocupação das Con-
manente é a razão de ser da Igreja, a si- ferências Gerais do Episcopado da América

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n. 365-372), tendo em vista a obtenção de
uma noção mais clara da realidade religiosa,
cultural, econômica e social das dioceses. A
Arquidiocese de São Paulo se encontra no
terceiro ano da realização de seu sínodo e
– como uma cidade que, de alguma forma,
retrata todo o Brasil – poderá fornecer ele-
mentos muito válidos de reflexão e ação.
Assim, gostaríamos de pautar nossas re-
flexões no contexto globalizante consti-
tuído pela secularização e pelo pluralismo
religioso, na trilha do sínodo/sinodalidade
e da conversão pastoral como um binô-
mio que, embora já assumido pela Igreja,
ainda necessita de maior aprofundamento
e empenho.
Num primeiro momento, pretende-
mos oferecer alguns elementos de apro-
fundamento do significado teológico da
sinodalidade na perspectiva da eclesiologia
católica em sintonia com o Concílio Va-
ticano II, fundamentada na Escritura e na
Latina e do Caribe diante da já crescen- Tradição. Em seguida, compreender que
te secularização e pluralismo religioso a sinodalidade exige permanentemente a
do nosso tempo: Medellín, 1968; Puebla, conversão espiritual-pastoral e o discerni-
1979; Santo Domingo, 1991; Aparecida, mento comunitário e missionário exigidos
2007. Nesta última, além de assistirmos à por uma autêntica experiência de Igre-
retomada dos ensinamentos do Vaticano ja sinodal. Finalmente, apresentar algumas
II, constatamos que a conversão pastoral considerações pastorais que poderão, com a
eclesial e missionária se tornou corajosa e Escritura e a Tradição, ajudar a assumir me-
profunda marca na Igreja latino-americana. lhor o que o papa Francisco declarou: “O
Com seus documentos e diretrizes, as caminho da sinodalidade é o caminho que
assembleias da Conferência Nacional dos Deus espera da Igreja no terceiro milênio”
Bispos do Brasil (CNBB) têm primado (FRANCISCO, 2015).
em manter as dioceses brasileiras em cons-
tante busca de novos meios e estratégias 1. SINODALIDADE, SÍNODO E CONCÍLIO
para enfrentar, de um lado, o abandono da A sinodalidade como elemento ineren-
prática religiosa por parte dos católicos e, te ao ser eclesial é uma afirmação proferi-
de outro, os apelos – nem sempre éticos e da pelo papa Francisco na comemoração
morais – de novas pseudorreligiões e seitas do cinquentenário da instituição do Síno-
que se dizem evangélicas. Aí o sínodo tem do dos Bispos realizada por São Paulo VI
sido, para as dioceses, um tempo de escuta (FRANCISCO, 2015).Trata-se, na realida-
do Espírito Santo, de revisão, de busca de de, de verdade programática e empenha-
novos métodos e estruturas, que pede ver- dora dentro da Igreja, que busca reformar
dadeira conversão pastoral (CELAM, 2007, sua vida em busca de uma saída cada vez

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“A PALAVRA ‘SÍNODO’, NO GREGO ECLESIÁSTICO, EXPRIME
O SER CONVOCADO EM ASSEMBLEIA DOS DISCÍPULOS DE JESUS E,
EM ALGUNS CASOS, É SINÔNIMO DA COMUNIDADE ECLESIAL.”

mais missionária. A sinodalidade, de fato, A palavra grega é traduzida em latim


sendo “dimensão constitutiva da Igreja”, é como sinodus ou concilium. No uso profano,
“aquilo que o Senhor nos pede”, e, de cer- concílio indica uma assembleia convocada
ta maneira, “está já tudo contido na palavra pela legítima autoridade. Embora as raízes
‘sínodo’” (FRANCISCO, 2015). de “sínodo” e de “concílio” sejam dife-
Sínodo é palavra muito antiga e vene- rentes, o significado é convergente. Aliás,
rada na tradição da Igreja, e seu significa- “concílio” enriquece o conteúdo semânti-
do exprime um conteúdo muito profun- co de “sínodo”, explicitando a palavra he-
do da Revelação. O termo é constituído braica qahal, a assembleia convocada pelo
pela preposição e pelo substantivo , “ca- Senhor, e a sua tradução no grego ecclesia,
minho”: indica o caminho feito pelo Povo que designa, no Novo Testamento, a con-
de Deus que está intimamente unido ao vocação escatológica do Povo de Deus em
Senhor Jesus – o qual se apresenta a si mes- Cristo Jesus.
mo como “o Caminho, a Verdade e a Vida” A distinção no uso das palavras “concí-
(Jo 14,6) – e o fato de que os cristãos, no lio” e “sínodo” na Igreja católica é recente;
seguimento de Jesus, são, na sua origem, no Vaticano II (Dei Verbum, n. 1; Sacrosanc-
chamados de discípulos do Caminho (cf. tum Concilium, n. 1) são sinônimas ao de-
At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22). signar a assembleia conciliar. O Código de
A palavra “sínodo”, no grego eclesiásti- Direito Canônico da Igreja latina (1983)
co, exprime o ser convocado em assembleia introduziu uma “precisão”, na qual se dis-
dos discípulos de Jesus e, em alguns casos, tingue entre concílio particular (plenário
é sinônimo da comunidade eclesial. São ou provincial) e Concílio Ecumênico, de
João Crisóstomo, por exemplo, escreve que um lado, e Sínodo dos Bispos e sínodo dio-
Igreja é estar a caminho juntos. Ele explica cesano, de outro.
que a Igreja, de fato, é assembleia convo- Nos últimos decênios, na literatura teo-
cada para render graças e louvores a Deus lógica, canonista e pastoral, foi introduzido
como um coro, uma realidade harmônica, o uso de um substantivo com uma caracte-
pois todos aqueles que a compõem, me- rística própria, “sinodalidade”, relacionado
diante suas recíprocas relações, convergem ao adjetivo “sinodal”, ambos derivados da
para um mesmo sentir e agir. palavra “sínodo”. Assim, descreve-se a si-
Além disso, desde os primeiros sécu- nodalidade como dimensão constitutiva da
los, são designadas com a palavra “sínodo”, Igreja e, consequentemente, fala-se de Igreja
com um significado específico, as assem- sinodal. Trata-se de novidade de linguagem
bleias eclesiais convocadas nos diferentes que, embora ainda mereça acurada reflexão
níveis (diocesano, provincial ou regional, teológica, indica uma aquisição que amadu-
patriarcal, universal) para discernir, à luz rece na consciência eclesial a partir do ma-
da Palavra de Deus e na escuta do Espíri- gistério do Vaticano II e também da expe-
to Santo, as questões doutrinais, litúrgicas, riência vivida, nas Igrejas locais e na Igreja
canônicas e pastorais que, de quando em universal, desde o último Concílio até os
quando, se apresentam. nossos dias.

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1.1. Comunhão, sinodalidade, colegialidade
Embora o termo “sinodalidade” e o
conceito que ele exprime não se encon- Sacramentos
trem explicitamente no ensinamento do práxis e festa
Concílio Vaticano II, podemos afirmar
Francisco Taborda, SJ
que a dimensão da sinodalidade permeia
o âmago da obra de renovação promovida
por esse Concílio.
A eclesiologia do Povo de Deus subli-
nha enfaticamente a comum dignidade e
missão de todos os batizados, no exercício
da multiforme e ordenada riqueza de seus
carismas, de suas vocações, de seus ministé-
rios. O conceito de comunhão exprime aí
o cerne profundo do mistério e da missão
da Igreja, que tem na Eucaristia sua fonte
e seu ápice (CONGREGAÇÃO PARA A
DOUTRINA DA FÉ, 1992).
A sinodalidade, nesse contexto eclesio-
lógico, mostra o específico modo de vi-

Imagens meramente ilustrativas.


ver e de agir (modus vivendi et operandi) da
Igreja Povo de Deus. Assim, manifesta e
152 págs.

realiza concretamente seu ser comunhão


ao caminhar em união ao reunir-se em
assembleia e ao contar com a participação
ativa de todos os seus membros na missão Neste livro, além de tratar das
evangelizadora. grandes questões da teologia
Enquanto o conceito de sinodalidade dos sacramentos de forma clara,
exige o envolvimento e a participação de acessível, convincente e cativante,
todo o Povo de Deus na vida e na mis- o autor faz uma reformulação
são da Igreja, o conceito de colegialidade dessa teologia com base em um
especifica o significado teológico e a for- círculo dialético-hermenêutico
ma de exercício do ministério dos bispos a formado por duas categorias:
a da “práxis”, para a fé cristã, e
serviço da Igreja particular. Cada uma das
a da “festa”, para os sacramentos
Igrejas particulares está confiada aos cuida- da fé. Desse modo, Francisco
dos e aos serviços pastorais de cada bispo, e Taborda deixa claro o lugar
na comunhão entre elas, no seio da única e dos sacramentos na vida cristã.
universal Igreja de Cristo, realiza-se a co-
munhão hierárquica do Colégio Episcopal
com o Bispo de Roma.
Dessa forma, podemos perceber com
Vendas: (11) 3789-4000
clareza que a colegialidade é uma forma 0800-164011
específica na qual a sinodalidade eclesial
se manifesta e se realiza por meio do mi- paulus.com.br
nistério dos bispos, na comunhão entre as

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“O PECADO IMPEDE A REALIZAÇÃO DO PROJETO DIVINO, MAS DEUS, NA SUA
MISERICÓRDIA, RENOVA A ALIANÇA PARA RECONDUZIR A HUMANIDADE PARA O
CAMINHO DA UNIÃO COM ELE, NA UNIDADE COM OS IRMÃOS NA CASA COMUM.”

Igrejas particulares e na Igreja universal. É 1.2. Sinodalidade na Escritura


possível então afirmar que cada legítima Não poderíamos concluir uma reflexão
manifestação de sinodalidade exige, por sobre a sinodalidade sem antes mostrar que,
sua natureza, o exercício do ministério já na Escritura e na Tradição, ela está pro-
colegial dos bispos. fundamente presente e nelas se baseia.
É certo que são muitos os frutos da re- Os elementos da vida sinodal na Igreja
novação operada pelo Vaticano II, como a e na Tradição atestam que, no plano di-
comunhão eclesial, a colegialidade episco- vino de salvação, se encontra inerente a
pal, a consciência e a prática sinodal. No vocação à união com Deus e que todo
entanto, há muito ainda por fazer na dire- o gênero humano se une a Jesus Cristo
ção traçada pelo Concílio. Embora a figura por meio do ministério da Igreja. Natu-
sinodal de Igreja tenha sido amplamente ralmente não se trata, de nossa parte, de
compartilhada e conseguido formas positi- reflexão exaustiva, e sim de algumas linhas
vas de atuação, é necessário ainda aprofun- de fundo necessárias para o discernimen-
dar seus princípios teológicos e tornar as to dos princípios teológicos que devem
orientações pastorais mais incisivas. animar e regular a vida, as estruturas, os
Aí se encontra a novidade lançada pelo processos e os eventos sinodais.
papa Francisco, na trilha iniciada pelo Vati- O Antigo Testamento nos mostra que
cano II e percorrida por seus antecessores: o ser humano, homem e mulher, foi cria-
ele sublinha que a sinodalidade exprime a do à imagem e semelhança de Deus como
figura da Igreja que brota do evangelho de um ser social chamado a colaborar com o
Jesus e é chamada a encarnar-se hoje na Criador, caminhando com ele na comu-
história, na fidelidade criativa à Tradição. nhão, cuidando do universo e orientan-
Em conformidade com o ensinamento do-o para sua meta. O pecado impede a
da Lumen Gentium, o papa Francisco afirma realização do projeto divino, mas Deus,
que a sinodalidade nos oferece a chave inter- na sua misericórdia, renova a aliança para
pretativa mais adequada para compreender o reconduzir a humanidade para o cami-
próprio ministério hierárquico. E, com base nho da união com Ele, na unidade com
na doutrina do sentido da fé dos fiéis (sensus os irmãos na casa comum (cf. Gn 9,8-17;
fidei fidelium), acentua que todos os membros Ex 19-24).
da Igreja são sujeitos ativos da evangelização A convocação de Abraão e sua descen-
(cf. FRANCISCO, 2013, n. 119). dência (cf. Gn 12,1-3; 17,1-5) é a ecclesia
Finalmente, a sinodalidade se encontra sancionada no pacto do Sinai (cf. Ex 24,6-
no coração do empenho ecumênico dos 8); o povo de Deus libertado se torna o
cristãos, porque representa um convite a interlocutor do Senhor e, no caminho do
caminhar juntos rumo à plena comunhão êxodo, reúne-se ao seu redor para celebrar
da Igreja, na qual possam encontrar um o culto e viver a Lei. Aqui está a manifes-
lugar para as legítimas diversidades segun- tação da vocação sinodal do Povo de Deus,
do a lógica de uma sincera troca de dons com Moisés à frente e a colaboração cole-
à luz da verdade. giada dos juízes, anciãos e levitas.

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A mensagem dos profetas inculca no 1Cor 12,13), e todos devem dar seu con-
Povo de Deus a exigência de caminhar tributo para a grandeza da salvação.
juntos, de converter o coração para o Se- É preciso perceber que a sinodalidade se
nhor. Para que isso aconteça, este promete apresenta, por meio da diversidade de luga-
dar ao povo um coração e um espírito no- res, de culturas, de situações e de desafios,
vos (cf. Ez 11,19). como garantia e encarnação da fidelidade
Em Jesus de Nazaré, Deus realiza a nova criativa da Igreja. A sinodalidade descreve,
aliança, e o Messias revela – em sua vida de forma específica, o caminho histórico
e na sua pessoa – que Deus é comunhão da Igreja, enquanto esclarece as estruturas
de amor e que, na sua misericórdia, quer e dá rumo à missão. A própria modalidade,
abraçar na unidade a humanidade inteira exercitada como caminho eclesial, manifes-
(cf. Jo 1,1-18). ta em profundidade as dimensões trinitária,
Os Atos dos Apóstolos atestam impor- antropológica, cristológica, pneumatológi-
tantes momentos no caminho da Igreja ca e eucarística do plano divino de salvação
apostólica chamada ao exercício comuni- que se realiza no mistério da Igreja através
tário de discernimento da vontade do Se- dos séculos.
nhor ressuscitado. O protagonista que guia
e orienta esse caminho é o Espírito Santo, 2. CONVERSÃO E SINODALIDADE
derramado sobre a Igreja no dia de Pente- Podemos constatar que a sinodalidade
costes (cf. At 2,2-3). Na linha da sinodali- tem como meta animar a vida e a missão
dade, os discípulos ouvem o Espírito Santo evangelizadora da Igreja em união com o
na escolha dos sete homens de boa reputa- Senhor Jesus e sob a guia dele, que prome-
ção, plenos do Espírito e de sabedoria para teu: “Onde dois ou três estão unidos em
servir às mesas (cf. At 6,1-6), e no discer- meu nome, eu estou no meio deles” (Mt
nimento sobre a crucial questão da missão 18,20); “Eis que estou convosco até o fim
junto aos gentios (cf. At 10). dos tempos” (Mt 28,20).
Sabemos que este último fato foi tra- A renovação sinodal da Igreja passa,
tado no que se chama Concílio Apostó- sem dúvida, pela revitalização das estru-
lico de Jerusalém (cf. At 15 e Gl 2,1-10). turas sinodais, mas se exprime, antes de
Realiza-se aí um evento sinodal no qual tudo, na resposta ao gratuito chamado de
a Igreja apostólica, em um momento de- Deus para viver como seu povo que cami-
cisivo de seu caminho, vive sua vocação nha na história em direção ao seu Reino.
à luz da presença do Senhor ressuscitado, História marcada pelo secularismo e pelo
em vista da missão. Esse evento, ao longo pluralismo religioso e cultural. Isso tudo
dos séculos, será interpretado como a fi- enfatiza a afirmação da individualidade
gura paradigmática dos sínodos celebra- e do afrouxamento dos laços de perten-
dos na Igreja. A assembleia de Antioquia ça a gêneros culturais e religiosos. É nesse
(cf. At 15,25) também marca o caminho contexto que a sinodalidade requer cons-
da Igreja. tante conversão pastoral e missionária, a
O apóstolo Paulo delineia a sinodalida- qual consiste em uma renovação de men-
de ao invocar a imagem da Igreja como talidade, de atitudes, de práticas e de es-
Corpo de Cristo, exprimindo seja a unida- truturas em vista da cada vez maior fide-
de do organismo, seja a diversidade de seus lidade à própria vocação (cf. SÃO JOÃO
membros. Todos gozam da mesma digni- PAULO II, 2001, p. 298). O modo de ser
dade, em virtude do batismo (cf. Gl 3,28; eclesial plasmado na consciência sinodal

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“A SINODALIDADE SE CARACTERIZA PELA COMUNHÃO, E POR ISSO
TODOS OS MEMBROS DA IGREJA, SEM EXCEÇÃO, SÃO CHAMADOS
A FAZER COM QUE ESTA SE TORNE A CASA E A ESCOLA DA COMUNHÃO.”

acolhe com alegria e promove a graça em mesmo o ativismo pastoral resolverá. O


virtude da qual todos os batizados estão Documento de Aparecida, vendo exatamente
habilitados e chamados a ser discípulos esse contexto adverso, mostra que o avanço
missionários. O grande desafio atual para da cultura urbana e outros fenômenos cau-
a conversão pastoral da vida da Igreja é sam enorme impacto na fé e em sua prática
intensificar a mútua colaboração de todos pelos fiéis. A Igreja já não pode esperar; é
no testemunho evangelizador a partir dos preciso avançar em todos os sentidos. So-
dons e serviços de cada um, sem cleri- bretudo hoje, mais do que nunca, o teste-
calizar os leigos nem secularizar o clero. munho de comunhão eclesial e santidade é
Para verdadeira atuação da sinodalidade, a uma urgência pastoral.
conversão pastoral exige que alguns para- Devido às dificuldades encontradas na
digmas ainda muito presentes na cultura pastoral ao enfrentar contextos que reba-
eclesiástica sejam separados. Entre estes, tem o conteúdo da evangelização, faz-se
a concentração da responsabilidade da necessário distinguir melhor o conteúdo
missão no ministério dos pastores (bispos, da evangelização dos métodos para con-
sacerdotes), a insuficiente valorização da cretizar a ação pastoral. A falta de equi-
vida consagrada e dos dons carismáticos, a líbrio entre conteúdo e método gera um
ainda frágil apreciação da atual ação espe- ativismo religioso, ocasionando o desin-
cífica e qualificada dos fiéis leigos, parti- teresse pelo conteúdo tanto da parte do
cularmente das mulheres. emissor como da do receptor, pois o mi-
Está claro que a sinodalidade se carac- nistério pastoral é instrumento e canal, o
teriza pela comunhão, e, por isso, todos os evangelho é a fonte. Disso decorre que o
membros da Igreja, sem exceção, são cha- mais importante não é realizar ações, mas
mados a fazer com que esta se torne a casa evangelizar por meio delas. Se o ministé-
e a escola da comunhão. Sem a conversão rio pastoral não fizer presente Jesus Cristo
do coração e da mente e sem uma disponi- e sua práxis, não é evangelizador e não
bilidade ascética para o acolhimento e para merece o qualificativo de pastoral (cf.VA-
a escuta recíproca, muito pouco adiantarão LADEZ FUENTES, 2008, p. 22).
os instrumentos externos da comunhão, Os sínodos, sobretudo os diocesanos, têm
que se transformarão, sem dúvida, em más- buscado exatamente isto: constatar até que
caras sem coração e sem rosto. ponto a mensagem de Cristo, por meio da
O impacto do fator urbano – que fa- Igreja católica, alcança os católicos e quais os
vorece o pluralismo religioso e a secula- métodos mais usuais, bem como as lacunas
rização – sobre a vivência da fé e sobre a e os pontos fortes da evangelização. A Igreja
ação pastoral é imenso, e tal situação muitas de São Paulo já se encontra no terceiro ano
vezes dificulta a visibilidade e a vivência da do seu sínodo arquidiocesano. Em 2018, foi
sinodalidade eclesial. Se a ação eclesial não feita uma pesquisa de campo em todas as
estiver sempre fundada e centrada na graça 295 paróquias territoriais da arquidiocese;
de Deus, não haverá instrumental pastoral o resultado foi muito significativo e ajudou
capaz de atingir o homem urbano, nem a arquidiocese a constatar quanto já cami-

10 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


nhou e também o muito que tem para reali-
zar. Um dos dados da pesquisa mostra que o
povo, em geral, continua religioso em meio
Francisco de Assis e
a um contexto multifacetado. As paróquias Charles de Foucauld
são bem reconhecidas, mas necessitam de Enamorados do Deus humanado
séria conversão em suas estruturas e modo Dom Beto Breis, ofm
de ser para ultrapassar a característica de
prestadoras de serviços. A santa missa conti-
nua sendo o principal elo entre os católicos
e fonte de formação para eles, não obstante
um dado alarmante: apenas 5% dos católicos
da cidade de São Paulo frequentam regu-
larmente a santa missa todos os domingos.
Outros 25% frequentam de vez em quan-
do, nas grandes festas ou em alguma ocasião
especial, como falecimentos e casamentos.
Portanto, cerca de 30% dos católicos de São
Paulo frequentam a missa. E quanto aos ou-
tros 70%? Entre tantos outros dados, este
levanta séria preocupação em relação aos

Imagens meramente ilustrativas.


católicos que frequentam pouco ou absolu-
tamente não frequentam a missa dominical,
168 págs.

os quais são a grande maioria. Por onde re-


cebem eles o sustento e o cultivo da sua fé, o
alimento da Palavra de Deus, o testemunho
dos irmãos? (cf. SCHERER, 2019). Dois homens de tempos distantes,
mas que se aproximam de modo
Outro fator preocupante, que impede
extraordinário por um encanto
a sinodalidade de se manifestar, é a falta comum: o fascínio pelo mistério
de formação permanente dos fiéis cris- da encarnação. Neste livro, Dom
tãos. Em geral, os católicos são instruídos Beto Breis, à luz dos escritos de
pela missa aos domingos, como a pesquisa Francisco de Assis e Charles de
mostra. Isso significa que a conversão pas- Foucauld, mostra como ambos
toral e a renovação missionária das paró- têm muito a dizer aos homens
quias se fazem urgentes, como aponta o e mulheres do nosso tempo,
Documento de Aparecida: sedentos das fontes genuínas do
Evangelho e daquele encontro
decisivo e vital que, como
Esta firme decisão missionária deve afirmou o Papa Francisco, “enche
impregnar todas as estruturas eclesiais o coração e a vida inteira”.
e todos os planos pastorais de dioce-
ses, paróquias, comunidades religiosas,
movimentos e qualquer instituição da
Vendas: (11) 3789-4000
Igreja. Nenhuma comunidade deve 0800-164011
isentar-se de entrar decididamen-
te, com todas as forças, nos processos paulus.com.br
constantes de renovação missionária e

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“O PAPA FRANCISCO, AO AFIRMAR QUE O CAMINHO DA SINODALIDADE É O
CAMINHO QUE DEUS ESPERA DA IGREJA NO TERCEIRO MILÊNIO, PROPÕE-NOS
UM EMPENHO PROGRAMÁTICO TEOLÓGICO-PASTORAL SEM PRECEDENTES.”

de abandonar as ultrapassadas estrutu- urbano, com todas as suas características, te-


ras que já não favoreçam a transmissão mos, em nossas pastorais, nos apoiado mais
da fé (CELAM, 2007, n. 365). em uma atividade asfixiante e em alguns mo-
delos rígidos de programação e de planos de
O sínodo em São Paulo tem mostrado pastoral que, embora, sem dúvida, contenham
essa realidade a ser modificada, mas tam- muitas verdades e sejam tecnicamente bem
bém a necessidade de conversão pessoal, e elaborados, roubam “o espaço do Espírito do
não apenas estrutural e estratégica: Senhor, levando-nos a um absurdo: estamos
tão ocupados com a vinha do Senhor que
Os bispos, presbíteros, diáconos perma- nos esquecemos do Senhor da vinha” (VA-
nentes, consagrados e consagradas, leigos LADEZ FUENTES, 2008, p. 24).
e leigas, são chamados a assumir atitudes Essa afirmação tem sua razão de ser, pois
de permanente conversão pastoral, que as exigências são tantas, que nossas reuniões
implica escutar com atenção e discernir o pastorais quase não dão oportunidade para
que o Espírito está dizendo às Igrejas atra- um momento forte de reflexão sobre a Pala-
vés dos sinais dos tempos em que Deus se vra de Deus, de escuta do que o Espírito San-
manifesta (CELAM, 2007, n. 366). to tem a nos dizer. Esse aspecto fundamental
de nossos encontros vai sendo remetido para
2.1. Espiritualidade pastoral e sinodalidade outra ocasião. A falta de espiritualidade em
A sinodalidade supõe o fator comunhão nossa pastoral e encontros é notória, tanto
para que a ação eclesial seja eficaz, sobretudo que em 2018, no segundo ano do sínodo
nas grandes cidades, ou seja, no meio urbano, arquidiocesano, o clero da Arquidiocese de
produto de diferentes periferias geográficas e São Paulo afirmou que suas reuniões mensais
existenciais. Não sem esforço se desenvolveu haviam se tornado demasiadamente técnicas,
uma teologia da pastoral nas grandes cidades. sem preocupação séria com a base sustentável
Por isso, não só no tempo presente, como de suas ações, que são a Sagrada Escritura, o
também em épocas anteriores, a Igreja, no testemunho dos irmãos e irmãs e, sobretudo,
âmbito diocesano nacional, criou uma ação Jesus Bom Pastor, fonte primordial da espiri-
pastoral abundante que, pelo número e rapi- tualidade pastoral.
dez, já poderia ter atendido ao desafio urba- A ação pastoral é, por certo, constituída
no e não estar agora sem saber exatamente por um conjunto de atividades concretas,
o que fazer, em virtude do fluxo célere e tarefas ou serviços que a comunidade ecle-
ininterrupto das mudanças. É certo que não sial e cada agente de pastoral – sejam eles
se trata de assumir uma atitude de desespero, ministros ordenados (bispos, presbíteros e
cruzar os braços ou, o que seria pior, retro- diáconos permanentes), religiosos e religio-
ceder e achar que o mais seguro é agir como sas ou fiéis leigos – realizam em favor das
a Igreja agia antigamente, demonstrando pessoas. A sinodalidade, contudo, ao exigir
uma alienação sem fim. o caminhar juntos na vivência do evange-
Na busca de caminhar juntos, marcados lho para que a pastoral seja eficaz, demons-
pela sinodalidade, e exatamente pelo fator tra que a experiência de Deus constitui o

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fundamento último tanto da ação pastoral ricos e do diálogo com as diferentes cul-
como da espiritualidade que a sustenta. Sem turas e situações sociais. Já não é possível
essa experiência, os agentes de pastoral – seja à Igreja, tanto no seu ser como no seu
qual for seu grau de importância e respon- agir, desconhecer as riquezas dos tempos
sabilidade na Igreja – não conseguem fazer atuais e também seus desafios, como a se-
brotar as opções, os valores e as atitudes que cularização e o pluralismo religioso. Por
dão dinamismo ao agir pastoral. isso, é imprescindível que cada uma de
Concluindo, podemos dizer que a ex- nossas dioceses se disponha a permanecer
periência de Deus sedimenta toda e qual- sempre em estado de alerta, isto é, com os
quer ação, e leva os agentes a serem teste- cintos amarrados e com o cajado na mão,
munhas fiéis de Cristo. Ao mesmo tempo, em atitude de estar a caminho (sínodo) e
tornam-se pessoas de profunda vida de em saída. Assim será possível superar uma
oração, impregnadas pelos dons do Espí- pastoral de conservação, de ativismo, de
rito, e revelam-se sinais e instrumentos de medo do novo, de retrocesso a métodos
sinodalidade e comunhão, pois beberam da antiquados, e buscar caminhos pastorais
fonte principal da espiritualidade pastoral novos para responder aos constantes desa-
que é Jesus, o Bom Pastor. fios que se apresentam.
Não nos assustemos: males e dificulda-
CONSIDERAÇÕES FINAIS des serão sempre lamentados em qualquer
O papa Francisco, ao afirmar que o ca- etapa da história. A Igreja viveu etapas in-
minho da sinodalidade é o caminho que comparavelmente mais difíceis que a atual.
Deus espera da Igreja no terceiro milênio, Nos tempos que correm, o sínodo se apre-
propõe-nos um empenho programático senta não como novidade ou modismo, mas
teológico-pastoral sem precedentes. como necessidade e parte integrante do ser
A sinodalidade, de fato, é dimensão cons- e do agir eclesiais. Ninguém tem o direito
titutiva da Igreja, mas necessita de séria re- de dizer que o sínodo não lhe diz respei-
flexão sobre seus fundamentos teológicos. to. Pelo contrário, ou estamos com Cristo
Desde os tempos da Igreja primitiva, foram e sua Igreja na verdade e no compromisso,
realizados muitos concílios e sínodos, como ou renegamos nosso batismo. O princípio
expressões da sinodalidade inerente ao ser e da sinodalidade nos ajuda, por meio do dis-
à missão da Igreja. O embasamento na Es- cernimento no Espírito, a reconhecer a si-
critura, na Tradição e na história atesta como tuação pastoral em que nos encontramos e
a Igreja perseverou no caminho da unidade proporciona uma reflexão e decisão sobre a
e da comunhão – marcas da sinodalidade – situação que queremos alcançar.
em meio à diversidade de lugares, de cultu- Sinodalidade e conversão pastoral não
ras, de situações e dos tempos, e também das podem ser assumidas separadamente, pois
diferentes concepções de Igreja. na sinodalidade encontramos a unidade e a
A sinodalidade, desde o início, caracte- comunhão de todos os batizados e a con-
rizou-se como garantia e encarnação da versão pastoral é a mola propulsora para o
fidelidade criativa da Igreja ao seu Mestre, dinamismo do Povo de Deus, que, revendo
Jesus. O mais surpreendente é que essa fi- constantemente sua ação, sob o impulso do
delidade sinodal se manifesta em uma for- Espírito Santo, se faz presente em todas as
ma que é unitária na sua substância, mas circunstâncias. Sinodalidade e conversão
distinta em suas configurações, em função pastoral correspondem à dupla vertente do
dos diversos momentos eclesiais e histó- amor: a Deus e ao próximo.

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 13


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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JOÃO PAULO II, São. Carta apostólica Novo Millennio Ineunte, 2001. Disponível em: <http://w2.
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SCHERER, Dom Odilo Pedro. Quantos vão à missa? O São Paulo, São Paulo, edição 3.253,
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SÍNODO ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO, 2018-2020. Pesquisas sobre a vida e a ação
pastoral da Arquidiocese de São Paulo. São Paulo: Educ, 2019.
VALADEZ FUENTES, Salvador. Espiritualidade pastoral: como superar uma pastoral “sem alma”?
São Paulo: Paulinas, 2008.

A vivência quaresmal e a vida nova em Cristo –


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da colheita e se dispondo a partilhá-los. É “tempo de colher”, “tempo de partilhar”,
0800-164011 e de ver realizado o que canta o poeta: “Renova-se a esperança. Nova aurora
paulus.com.br a cada dia. E há que se cuidar do broto, para que a vida dê flor e fruto”.

14 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


Faustino Teixeira*

Francisco e o
pluralismo religioso

O papa Francisco tem assumido o protagonismo neste século XXI,


diante de um mundo que avança perigosamente
para os nacionalismos mortíferos e para os fundamentalismos.
A grande riqueza de seu pensamento está em defender o desafio
dialogal, o respeito à consciência e o direito ao pluralismo religioso,
como expressões de um jeito novo de evangelizar pontuado pelo
testemunho, pela solidariedade e pela acolhida.

*Faustino Teixeira é professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
É pesquisador do CNPq. Dentre suas linhas de pesquisa, destacam-se: teologia das religiões, diálogo inter-religioso e mística comparada das
religiões. É autor de vários livros, entre os quais Buscadores cristãos no diálogo com o islã, publicado pela Paulus. E-mail: flcteixeira@icloud.com

INTRODUÇÃO
O pluralismo religioso emerge hoje to peculiar de lidar com o outro e com as
como uma das questões mais essenciais do espécies companheiras. A teologia se deu
século XXI. Não há como pensar nosso conta da importância desse tema, situan-
tempo fora desse desafio fundamental, que do-o como o novo horizonte da reflexão
insere as pessoas num novo campo de re- e entendendo-o como algo que “corres-
lação, envolvendo a consciência num jei- ponde a uma vontade misteriosa de Deus”

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 15


“O PLURALISMO PROVOCA TEMOR, INQUIETAÇÃO E INSEGURANÇA,
NA MEDIDA EM QUE ENFRAQUECE AS CONVICÇÕES PETRIFICADAS
E ABRE UM HORIZONTE NOVIDADEIRO DE ESCOLHAS.”

(GEFFRÉ, 2004, p. 135). São inúme- dical do pensamento identitário e xe-


ros os caminhos que levam ao mistério nófobo. Assiste-se com preocupação ao
maior, e nem sempre são caminhos re- revigoramento de “guerras religiosas” re-
ligiosos, mas também seculares, e todos lacionadas com esse retorno preocupan-
são situados num mesmo abraço miseri- te de novos fundamentalismos religiosos
cordioso. Eis por que se fala com maior (HOBSBAWM, 2007, p. 128). Trata-se
pertinência, em nosso tempo, em diálogo de algo que sensibiliza sobremaneira o
interconvicções, um modo mais apro- papa Francisco, o qual fala em “ecume-
priado de lidar com um tempo que é nismo do ódio” (POLITI, 2019, p. 53),
secular e plural. É bonito compreender bem como de extremismos intolerantes
o mundo com esse olhar plural, de “exis- que espocam por todo lado, sinalizando
tir numa situação em aberto” (OZ, 2017, a presença de uma “terceira guerra mun-
p. 45), reconhecendo a riqueza de uma dial aos pedaços” (FRANCISCO; AL-
vida compartida em liberdade. Esse traço -TAYYEB, 2019).
de multiplicidade certamente concorre O mais triste é perceber que esse fana-
“para uma melhor manifestação da ple- tismo já começa em casa, expandindo-se
nitude inesgotável do Espírito de Deus” vigorosamente por outros espaços. São
(GEFFRÉ, 2004, p. 138). movimentos que crescem afirmando cer-
tezas, diante do risco ameaçador de uma
1. UM TEMPO DIFÍCIL sociedade plural. O pluralismo provoca te-
Esse desafio plural ainda permanece em mor, inquietação e insegurança, na medida
aberto, na medida em que o século XXI em que enfraquece as convicções petrifi-
sofre as sequelas de um período doloroso cadas e abre um horizonte novidadeiro de
da história humana, marcado por tantas escolhas (BERGER, 2017, p. 33.52). Os
obscuridades e violências. Como apontou fundamentalistas temem isso e reagem com
com razão o historiador inglês Eric Hobs- vigor e violência, na busca de “proteção”
bawm, o século XX terminou num “esta- da comunidade. E o que mais preocupa,
do de inquietação”, sendo “o século mais no tempo atual, é a ação fundamentalista
assassino” de que se tem registro, tanto na liberada. Os fanáticos atuam “com o rosto
frequência e extensão das guerras como no descoberto, quase com orgulho”. É como
volume impressionante de catástrofes di- se enfraquecesse o efeito parcial da vacina
versificadas, envolvendo igualmente a vio- contra a anterior presença nazifascista e os
lência com a Terra (HOBSBAWM, 1995, novos fanáticos recobrassem vigor na luz
p. 22). E o século XXI vai pelo mesmo do dia (ARIAS, 2019).
caminho crepuscular e sombrio (HOBS- Essa nova sede de comunidade, de
BAWM, 2002, p. 448). busca de mônadas protegidas e isola-
Entre as ameaças presentes neste tem- das, é também um fenômeno de nosso
po, situa-se o crescimento considerável tempo. A identidade, como lembra com
dos fundamentalismos e fanatismos, que acerto Zygmunt Bauman, é a “palavra
brilham neste período de afirmação ra- do dia e o jogo mais comum da cidade”

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(BAUMAN, 2003, p. 20), e ela grugueja momento e de forma surpreendente. Não
com muito som e fúria, com violência pode haver “prova” de Deus, e nenhuma
e sangue. A cada esquina surgem novas religião ou crença é portadora de sua ver-
fronteiras que demarcam a proteção co- dade. Ele é alguém que escapa a qualquer
munitária. Na comunidade protegida, os convicção. Em entrevista ao padre Anto-
indivíduos encontram um lugar “cálido” nio Spadaro, Francisco foi claro:
e “aconchegante”, que fornece proteção
contra a “chuva pesada” que acompanha Se alguém tem a resposta a todas as
o mundo plural. perguntas, esta é a prova de que Deus
não está com ele. Quer dizer que é um
2. FRANCISCO EM ROTA DE CONTRAMÃO falso profeta, que usa a religião para si
O papa Francisco emerge, assim, neste próprio. Os grandes guias do povo de
tempo difícil, com uma linguagem e prá- Deus, como Moisés, sempre deixaram
tica inovadoras, que trazem “tumulto” às espaço para a dúvida. Devemos deixar
consciências acomodadas. Sua proposta espaço ao Senhor, não às nossas certe-
não é a fixação identitária, mas de saída, zas (FRANCISCO, 2013c, p. 27-28).
de compromisso e solidariedade. Por isso
perturba a tantos e provoca resistências O caminho para entender a proposta
que a cada dia crescem, mesmo dentro do evangelizadora de Francisco só se descor-
cenário eclesial. Ele rompe com o discur- tina para aquele que tem humildade. Ele
so tradicional da Igreja católica e traz um diz com tranquilidade: “Devemos deixar
desafio novo: “deixar-se surpreender por espaço ao Senhor, não às nossas certezas.
Deus” (FRANCISCO, 2013a, p. 24). Seu É necessário ser humilde” (FRANCIS-
discurso é pontuado pela abertura ao se- CO, 2013c, p. 28). O traço de seu projeto
cular e pelo diálogo com o tempo e as transborda gratuidade, como expressou
religiões, bem como com todo o cosmos. de forma tão singela às crianças que se
Traz na sua vida e testemunho a marca preocupavam com o destino de seus pa-
da coragem e da ousadia. A ele não in- rentes não católicos. Numa resposta a um
teressa o proselitismo tradicional, mas a jovem chinês de 13 anos, Ivan, preocupa-
defesa intransigente da consciência, em do com seu avô, Francisco afirmou com
linha de continuidade com o que há de clareza: “Jesus nos ama muitíssimo e quer
mais arrojado no Concílio Vaticano II. O que todos vamos para o céu. A vonta-
proselitismo para ele é um “pecado” pro- de de Deus é que todos nos salvemos”
blemático, pois fere o direito da consciên- (FRANCISCO, 2016, p. 19; POLITI,
cia (FRANCESCO; SPADARO, 2017, p. 2019, p. 3-6).
162; FRANCESCO; SCALFARI, 2013,
p. 55). O Deus que ele proclama é um 3. O PLURALISMO
Deus que surpreende, acolhedor e miseri- COMO UM VALOR IRREVOGÁVEL
cordioso. Não é um “Deus católico”, mas Em momento de grande felicidade,
um Deus que vem colorido pela diversi- em sua exortação apostólica sobre a ale-
dade (FRANCESCO; SCALFARI, 2013, gria do evangelho, Francisco sublinhou
p. 68). É um Deus que acolhe com doçura que “a diversidade é bela” (EG 230). Não
e gratuidade a pluralidade. A ele ninguém era uma expressão qualquer, mas algo que
pode apreender com certeza cerrada ou provinha do mais íntimo da alma, uma
total, pois ele é dom que advém a cada convicção arraigada na dinâmica de seu

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“EM UM EXEMPLO BONITO, EXPRESSO NO DIÁLOGO COM OS JUDEUS
E EM SINTONIA COM JOÃO PAULO II, O PAPA FRANCISCO RECORDA QUE
‘A ALIANÇA COM DEUS NUNCA FOI REVOGADA’.”

pontificado. Francisco tem plena cons- O novo logotipo dessa busca de paz é o
ciência de que o pluralismo não é um ramo de oliveira, como indicou Francisco
mal, mas algo de profundo e bonito, que em seu discurso no importante encontro
advém do querer mais sagrado de Deus. inter-religioso de Abu Dhabi, em feverei-
O pluralismo é, sobretudo, um valor sa- ro de 2019 (FRANCISCO, 2019a). Ele
grado. No recente documento sobre a explica essa simbologia:
fraternidade humana, assinado por Fran-
cisco e o grão-imã de Al-Azhar, Ahmad Segundo a narração bíblica, para preser-
Al-Tayyeb, assinala-se que var a humanidade da destruição, Deus
pede a Noé para entrar na arca com sua
a liberdade é um direito de toda pes- família. Hoje também nós, em nome
soa: cada um goza da liberdade de de Deus, para salvaguardar a paz, pre-
credo, de pensamento, de expressão e cisamos entrar juntos, como uma única
ação. O pluralismo e as diversidades família, numa arca que possa sulcar os
de religião, de cor, de sexo, de raça e mares tempestuosos do mundo: a arca
de língua fazem parte daquele sábio da fraternidade (FRANCISCO, 2019a).
desígnio divino com que Deus criou
os seres humanos (FRANCISCO; Nesse mesmo encontro, Francisco fala
AL-TAYYEB, 2019). da importância atual de uma “coragem da
alteridade”, para além dos fundamentalis-
Em um exemplo bonito, expresso no mos e afirmações identitárias. Este é o de-
diálogo com os judeus e em sintonia com safio maior: um “diálogo diário e efetivo”
João Paulo II, o papa Francisco recorda que que, sem desconhecer o essencial valor
“a Aliança com Deus nunca foi revogada” das convicções, possa igualmente aconte-
(FRANCISCO, 2013b, p. 138 – EG 247). cer na abertura plural e no “pleno reco-
Algo semelhante tinha dito João Paulo II nhecimento do outro” e da sua liberdade
aos representantes da comunidade judaica (FRANCISCO, 2019a). O caminho que
de Roma, em abril de 1986, quando as- se apresenta é o da abertura à pluralidade
sinalou que os judeus são portadores de religiosa, que convoca à “coragem da al-
uma “vocação irrevogável” (PCDI, 1994, p. teridade”, e não se confunde nem com a
395). Era o passo que preparava a consciên- “uniformidade forçada” nem com o “sin-
cia de abertura da Igreja católica ao plura- cretismo conciliador”.
lismo religioso. Assim como o judaísmo, as
religiões são igualmente portadoras de um 4. O CAMINHO DO DIÁLOGO
patrimônio irrevogável. Sábia é a percep- E DA ACOLHIDA DA ALTERIDADE
ção do Talmude, em sua vocação herme- Em seu encontro com os núcleos in-
nêutica e sua explosiva leitura da palavra telectuais e dirigentes do Brasil no Tea-
do Senhor: “Palavra de uns e de outros, pa- tro Municipal do Rio de Janeiro, em
lavras do Deus vivo” (QUAKNIN, 2001, p. julho de 2013, o papa Francisco falou
64; OZ, 2017, p. 66). com vivacidade acerca de sua convicção

18 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


sobre uma “cultura do encontro”. De
forma expressiva, sublinhou que, quan-
do os líderes de diferentes setores lhe Os jovens, a fé e
pedem um conselho, a resposta é sem- o discernimento
pre a mesma: “Diálogo, diálogo, diálogo” vocacional
(FRANCISCO, 2013a, p. 82-83). Para
essa disposição essencial, requer-se mui- Papa Francisco e Sínodo dos Bispos
ta humildade, bem como uma atitude
permanente de abertura e disponibili-
dade, longe de qualquer preconceito. E
esse diálogo não é só com as religiões,
mas também com as espiritualidades. O
que é mais essencial é a “obediência à
própria consciência”. É um diálogo que
se abre a todos aqueles de “boa vontade”,
que têm uma “alma nobre”, para utilizar
aqui uma expressão cara ao compositor
e cantor Gilberto Gil. O diálogo requer
profundo respeito “aos caminhos miste-
riosos de Deus no coração das pessoas”

Imagens meramente ilustrativas.


(GEFFRÉ, 2004, p. 176). Diz Francisco
em seu diálogo com Eugenio Scalfari:
72págs.

“o mundo vem percorrido por estradas


que nos avizinham e distanciam, mas o
importante é que nos levem ao Bem”
(FRANCESCO; SCALFARI, 2013, p.
Os jovens, a fé e o
55; POLITI, 2019, p. 9). Esse impres- discernimento vocacional,
cindível caminho dialogal não é simples, com apresentação do Papa
mas requer “paciência, ascese e genero- Francisco e redação do Sínodo
sidade” (FRANCISCO, 2015, p. 161 – dos Bispos, foi o Documento
LS 201). Final da XV Assembleia do
Não há como julgar o outro com cla- Sínodo dos Bispos, realizada
reza e respeito senão mediante um novo em outubro de 2018, momento
olhar, pontuado pela acolhida e largueza no qual a Igreja decidiu refletir
sobre “como acompanhar os
(GEERTZ, 2001, p. 85). Esse aprendiza-
jovens para reconhecer e acolher
do, que vem da antropologia, deve regar o chamado ao amor e à vida
o mundo da teologia e da pastoral, so- em plenitude”.
bretudo no caso daqueles que buscam se
dedicar ao diálogo. Falando aos teólogos
da Pontifícia Faculdade Teológica da Itá-
lia Meridional, em Nápoles, em junho de
Vendas: (11) 3789-4000
2019, o papa Francisco discorreu sobre 0800-164011
uma “teologia da acolhida”, uma “teo-
logia em rede”, solidária “com todos os paulus.com.br
náufragos da história” (FRANCESCO,

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 19


2019b). Com base em sua bela imagem amar a Deus”, aquele que “Jesus indicou
de uma Igreja “em saída”, Francisco tem para encontrar o caminho da salvação e
advertido sempre contra o risco de do- das bem-aventuranças” (FRANCESCO;
mesticar as fronteiras. Há que abraçar e SCALFARI, 2013, p. 56).
acolher com carinho e abertura as di- Com a notável carta encíclica sobre
ferenças. Ele adverte contra o risco do o cuidado da casa comum, Laudato Si’
fechamento nas mônadas peculiares. Há (2015), Francisco expande a sensibilidade
que ter a audácia de “viver nas fronteiras” dialogal para toda a criação, animado por
e deixar-se transformar por elas (FRAN- uma reverência essencial à vida em todas
CESCO; SPADARO, 2017, p. 71-72). as suas formas de expressão: os humanos,
as espécies companheiras e toda a cria-
CONCLUSÃO ção. É o grande salto de Francisco para o
O desafio maior de construir pontes Mistério sempre maior, capaz de perce-
é o que marca o pontificado de Fran- ber o rosto de Deus numa “folha, em uma
cisco. No coração de todo o seu empe- vereda, no orvalho, no rosto do pobre”
nho evangelizador está o diálogo. Aliás, a (FRANCISCO, 2015, p. 184 – LS 233).
ideia que move Francisco nessa missão é Tudo é vida e mistério, tudo necessita de
a que bem definiu Paulo VI na exorta- cuidado reverencial. E todos esses seres
ção apostólica Evangelii Nuntiandi, sobre queridos por Deus estão estreitamente
a evangelização no mundo contempo- interligados (FRANCISCO, 2015, p. 15
râneo (1975), identificando-a como um – LS 16). O que se requer como pista
compromisso de “tornar nova a própria fundamental de uma nova espiritualidade
humanidade” (EN 18). O modo mais da criação é a disponibilidade para ou-
bonito de amar a Deus, diz Francisco, vir cada movimento e som deste mundo,
é o que ocorre no caminho do ágape, como expressou o mestre espiritual Ali
do amor. Este é que situa o ser humano Al-Khawwas, citado pelo papa em nota
diante do núcleo da pregação de Jesus. da Laudato Si’ (FRANCISCO, 2015, p.
O amor aos outros “é o único modo de 184, nota 159 – LS 233).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Elcio A. Cordeiro*

PAPA FRANCISCO E OS POBRES


Trata-se de breve reflexão sobre o papa Francisco
e os pobres. São destacados alguns temas fundamentais
para a vida cristã, interligando-os à realidade dos pobres,
como a fé, a Igreja em saída, o evangelho,
a casa comum e a missão cristã.
Entrementes, almeja-se aguçar o pensamento para focar
a dimensão dos preferidos de Jesus Cristo à luz da reflexão
do papa Francisco, no intuito de perceber que esta é,
fundamentalmente, uma missão para todos os tempos.
*Pe. Elcio A. Cordeiro possui graduação em Teologia pela Faculdade Missioneira do Paraná – Famipar,
licenciatura em Filosofia pela Faculdade Entre Rios do Piauí – Faerpi, pós-graduação em Metodologia do
Ensino de Filosofia e Sociologia pela Universidade Cândido Mendes e pós-graduação em Ensino de Filosofia
pela mesma universidade. Atualmente é mestrando em Educação na Universidade do Oeste do Paraná –
Unioeste-FB, onde participa do Grupo de Estudos: Sociedade, Trabalho e Educação – GESTE. É reitor do
Seminário São João Maria Vianney, em Palmas-PR. E-mail: elcio.cordeiro@bol.com.br

Papa Francisco, um nome nunca visto Discreto, mas assíduo na missão, o padre, o
na história dos papas. Identificado com a bispo, o arcebispo jamais deixou de estar en-
rua, com os pobres, com os sapatos pretos... tre os mais pobres. O primeiro papa latino-a-
uma vida simples. Sua família, de migran- mericano, o primeiro papa a escolher para si
tes italianos, instalou-se em Buenos Aires e o nome de Francisco, o 266º papa na história
dali jamais saiu. Na escola, Jorge compor- da Igreja católica, continuou ao lado dos mais
tou-se como “suficiente” – era o conceito pobres, como sempre fizera em sua vida.
que se dava na época. Entre o gosto pela li- Desde o início de seu pontificado, Fran-
teratura, pela química e pela medicina, de- cisco tem destacado a ideia de que a Igreja
cidiu entrar para o seminário para estudar necessita abrir-se às realidades sofridas, ir
“medicina da alma” (HIMITIAN, 2013). em busca dos mais pobres. Existe grande
Sempre se mostrou de fácil amizade, esforço para resgatar qualidades e caracte-
simples, não se destacava entre os demais, rísticas da Igreja primitiva, bem como va-
era mediano. A primeira grande decisão de lores, pensamentos, atitudes e ações ineren-
sua vida foi o ingresso no seminário: “Na- tes ao bem comum e à busca de vida digna
quela tarde de 1957 a vida de Jorge Ber- para todos. Entre vários conselhos, o papa
goglio mudou para sempre.Tinha decidido Francisco incita os cristãos a estarem aten-
se tornar sacerdote e comunicou isso aos tos a uma fé segura em Jesus Cristo:
amigos em um velho casarão do bairro de
Flores, entre a Carabobo e a Alberdi” (HI- A convicção de uma fé que faz grande
MITIAN, 2013, p. 26). e plena a vida, centrada em Cristo e

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na força de sua graça, animava a mis- que caminhem para um futuro de es-
são dos primeiros cristãos. [...]. Para perança (FRANCISCO, 2013a, p. 70).
aqueles cristãos, a fé, enquanto encon-
tro com o Deus vivo que se manifes- Nas relações humanas, a fé se faz e se
tou em Cristo, era uma “mãe”, porque sente, está presente com solidez no esforço
os fazia vir à luz, gerava neles a vida concreto de todos os cristãos. Ela deve es-
divina, uma nova experiência, pela tar ligada ao contexto em que se vive, não
qual estavam prontos a dar testemu- distante, mas próximo: “A luz da fé não nos
nho público até o fim (FRANCISCO, faz esquecer os sofrimentos do mundo. Os
2013a, p. 8). que sofrem foram mediadores de luz para
tantos homens e mulheres de fé; tal foi o
Sobre a dimensão da fé, Francisco des- leproso para São Francisco de Assis, ou
taca o sentido comunitário e social à luz da os pobres para a Beata Teresa de Calcutá”
qual ela precisa ser vista/entendida: (FRANCISCO, 2013a, p. 78).
O papa Francisco, frequentemente, cha-
Por isso, a fé é um bem para todos, um ma os cristãos a olhar para a realidade da fé
bem comum: a sua luz não ilumina à luz dos pobres:
apenas o âmbito da Igreja nem serve
somente para construir uma cidade Quando a vida interior se fecha nos pró-
eterna no além, mas ajuda também a prios interesses, deixa de haver espaço
construir as nossas sociedades de modo para os outros, já não entram os pobres,

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“ESCUTAR O CLAMOR PELA JUSTIÇA VINDO DO EVANGELHO
NOS IMPULSIONA A ENCONTRAR O ROSTO DO OUTRO E DAR-LHE VIDA.
MAIS QUE GARANTIR COMIDA, ISSO SIGNIFICA EMANCIPÁ-LO.”

já não se ouve a voz de Deus, já não se mismo missionário que leve a dignidade
goza da doce alegria do seu amor, nem aos mais pobres.
fervilha o entusiasmo de fazer o bem.
Este é um risco, certo e permanente, que Não devem subsistir dúvidas nem expli-
correm também os crentes (FRANCIS- cações que debilitem esta mensagem cla-
CO, 2013b, p. 4). ríssima. Hoje e sempre, os pobres são os
destinatários privilegiados do evangelho, e
Os cristãos são instigados a viver na par- a evangelização dirigida gratuitamente a
tilha, sem excluir ninguém, sendo atrativos eles é sinal do reino que Jesus veio trazer.
pelo testemunho: “Com obras e gestos, a Há que afirmar sem rodeios que existe
comunidade missionária entra na vida dos um vínculo indissolúvel entre a nossa fé
outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se e os pobres. Não os deixemos jamais sozi-
for necessário – até a humilhação e assu- nhos (FRANCISCO, 2013b, p. 42)!
me a vida humana, tocando a carne sofre-
dora de Cristo no povo” (FRANCISCO, O papa Francisco insiste no olhar e
2013b, p. 22). prontidão do discípulo missionário para
Constantemente, o papa do povo cha- agir, estar com aqueles com quem Jesus
ma a Igreja para tomar para si o desejo de Cristo esteve; naquela atenção amigável,
ir ao encontro dos mais pobres, falando em que percebe o outro não com indiferen-
uma linguagem simples de “Igreja em saí- ça, mas como pessoa humana em todas as
da” diante da realidade contemporânea:1 situações: injustiças, falta de moradia e de
terra, sede, fome...:
A Igreja “em saída” é uma Igreja com as
portas abertas. Sair em direção aos ou- Não se pode tolerar mais o fato de se
tros para chegar às periferias humanas lançar comida no lixo, quando há pes-
não significa correr pelo mundo sem soas que passam fome. Isso é desigual-
direção nem sentido. Muitas vezes é dade social. Hoje, tudo entra no jogo da
melhor diminuir o ritmo, pôr à parte a competitividade e da lei do mais forte,
ansiedade para olhar nos olhos e escutar, onde o poderoso engole o mais fraco.
ou renunciar às urgências para acompa- Em consequência dessa situação, gran-
nhar quem ficou caído à beira do cami- des massas da população veem-se ex-
nho (FRANCISCO, 2013b, p. 40). cluídas e marginalizadas: sem trabalho,
sem perspectivas, num beco sem saída
A Igreja deve ser como uma casa de to- (FRANCISCO, 2013b, p. 48).
dos, da qual participa, de uma forma ou
de outra, a totalidade dos seres humanos. Ninguém pode sobrar: há no mundo
Todos são convocados a assumir um dina- lugar para todos viverem com dignida-
de. Existe, no fundo, grande crise de hu-
1
“Sobretudo num mundo onde frequentemente se eleva a riqueza manidade, na qual se nega o ser humano,
ao nível de primeiro objetivo, o que faz com que as pessoas se
fechem em si mesmas” (FRANCISCO, 2018b, p. 1). o que é altamente reprovável no mundo

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cristão. Igualdade social é imprescindível tãos, chamados a possuírem ‘os mesmos sen-
para um mundo de paz: “Deriva da nossa timentos que estão em Cristo Jesus’ (Fl 2,5)”
fé em Cristo, que se fez pobre e sempre (FRANCISCO, 2013b, p. 163). Na ação da
se aproximou dos pobres e marginalizados, Igreja, deve-se revelar a prática do amor aos
a preocupação pelo desenvolvimento inte- pobres para acompanhá-los em sua libertação.
gral dos mais abandonados da sociedade” A casa comum também é tema de refle-
(FRANCISCO, 2013b, p. 154). xão de Francisco para defender os mais ne-
Os pobres são os que mais necessitam do cessitados e aproximar-se deles. Ele exorta
olhar atento da Igreja, são os privilegiados todos ao cuidado com o mundo, ciente de
de Deus. Ajudá-los é uma obra libertadora: que a negligência nesse zelo se reverte direta-
mente em consequências para os mais pobres:
Cada cristão e cada comunidade são
chamados a ser instrumentos de Deus As mudanças climáticas são um proble-
a serviço da libertação e promoção dos ma global com graves implicações am-
pobres, para que possam integrar-se ple- bientais, sociais, econômicas, distributi-
namente na sociedade; isso supõe estar vas e políticas, constituindo atualmente
docilmente atentos, para ouvir o clamor um dos principais desafios para a huma-
do pobre e socorrê-lo. Basta percorrer nidade. Provavelmente os impactos mais
as Escrituras, para descobrir como o Pai sérios recairão, nas próximas décadas,
bom quer ouvir o clamor dos pobres sobre os países em vias de desenvolvi-
(FRANCISCO, 2013b, p. 154). mento. Muitos pobres vivem em lugares
particularmente afetados por fenôme-
Escutar o clamor pela justiça vindo do nos relacionados com o aquecimento,
evangelho nos impulsiona a encontrar o e os seus meios de subsistência depen-
rosto do outro e dar-lhe vida. Mais que dem fortemente das reservas naturais e
garantir comida, isso significa emancipá-lo: dos chamados serviços do ecossistema,
como a agricultura, a pesca e os recursos
Não se fala apenas de garantir a comi- florestais (FRANCISCO, 2015, p. 23).
da ou um decoroso sustento para todos,
mas prosperidade e civilização em seus A situação de exploração irresponsável
múltiplos aspectos. Isso engloba edu- do meio ambiente traz graves consequências
cação, acesso aos cuidados de saúde e, àqueles que dependem diretamente da terra
especialmente, trabalho, porque, no tra- para sobreviver. Esse olhar sobre o meio am-
balho livre, criativo, participativo e soli- biente é extremamente importante, pois a
dário, o ser humano exprime e engran- terra, a água, o ar, as vegetações... necessitam
dece a dignidade da sua vida. O salário de cuidados especiais para que se garanta a
justo permite o acesso adequado aos sobrevivência da vida humana no planeta.
outros bens que estão destinados ao uso Do meio ambiente desrespeitado decorrem
comum (FRANCISCO, 2013b, p. 158). os males que afetam os mais pobres:

No coração de Deus, os pobres ocupam Um problema particularmente sério


o centro. Ele mesmo se fez um destes para é o da qualidade da água disponível
demonstrar a todas as pessoas os valores de para os pobres, que diariamente ceifa
humanidade: “Esta preferência divina tem muitas vidas. Entre os pobres, são fre-
consequências na vida de fé de todos os cris- quentes as doenças relacionadas com a

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“A INTENÇÃO DO PAPA FRANCISCO É QUE TODOS SE ENVOLVAM E SE ENGAJEM
PARA MUDAR ESSA DURA REALIDADE; QUE ESTEJAM ATENTOS A UM ESTILO DE VIDA
QUE PROPORCIONE DIGNIDADE EM TODOS OS MOMENTOS PARA TODOS OS POVOS.”

água, incluindo as causadas por micro- somos instigados a ser familiares3 das causas
-organismos e substâncias químicas. A natural-humanas.
diarreia e a cólera, devidas a serviços Trabalhar em favor dos pobres é traba-
de higiene e reservas de água inade- lhar pelo evangelho. O papa Francisco, em
quadas, constituem um fator signifi- 2017, instituiu o Dia Mundial dos Pobres,
cativo de sofrimento e mortalidade celebrado no domingo antecedente à so-
infantil (FRANCISCO, 2015, p. 26). lenidade de Cristo Rei (no mês de no-
vembro), para relembrar o compromisso
Esse problema acarreta grande degra- evangélico que os cristãos possuem com os
dação social e, por consequência, constitui mais necessitados.
uma ruptura com os mais pobres. Se não
se cuida do meio ambiente, indiretamente [...] quis oferecer à Igreja o Dia Mun-
não se cuida do ser humano,2 pois este é dial dos Pobres, para que as comunida-
afetado diretamente pelos impactos negati- des cristãs se tornem, em todo o mundo,
vos causados àquele. cada vez mais e melhor sinal concreto
da caridade de Cristo pelos últimos e
Gostaria de assinalar que muitas vezes os mais carentes. Quero que, aos outros
falta uma consciência clara dos pro- Dias Mundiais instituídos pelos meus
blemas que afetam particularmente os predecessores e sendo já tradição na
excluídos. Estes são a maioria do pla- vida das nossas comunidades, se acres-
neta, vários bilhões de pessoas. Hoje cente este, que completa o conjunto de
são mencionados nos debates políticos tais dias com um elemento requintada-
e econômicos internacionais, mas com mente evangélico, isto é, a predileção
frequência parece que os seus proble- de Jesus pelos pobres (FRANCISCO,
mas são colocados como um apêndice, 2017, p. 4).
como uma questão que se acrescenta
quase por obrigação ou periferica- A ideia é construir uma cultura do en-
mente, quando não são considerados contro, perceber Jesus Cristo no rosto do
meros danos colaterais (FRANCISCO, outro que se apresenta necessitado. O con-
2015, p. 39). vite é para todos,4 para que partilhem fra-
ternalmente com momentos de encontro,
O universo, a terra, o ar, as plantas, a diálogo, ajuda mútua...
água... constituem uma herança comum,
da qual todos precisamos cuidar; não há 3
A grande família do mundo, que são todos e, também, a família do
espaço para relativizações. Com o trabalho lar: “[...] as famílias magnânimas e solidárias abrem espaço aos pobres,
são capazes de tecer uma amizade com aqueles que estão vivendo
de nossas mãos e a reflexão de nossa mente, pior do que elas” (FRANCISCO, 2016, n. 183).
4
“Que este novo Dia Mundial se torne, pois, um forte apelo à nossa
consciência crente, para ficarmos cada vez mais convictos de que
partilhar com os pobres permite-nos compreender o evangelho na
2
“Além disso, sabemos que se desperdiça aproximadamente um terço sua verdade mais profunda. Os pobres não são um problema: são
dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do
fosse roubada da mesa do pobre” (FRANCISCO, 2015, p. 40). evangelho” (FRANCISCO, 2017, p. 6).

26 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


Ser cristão é estar ao lado dos mais po-
bres; não há maior dimensão cristã do que Paróquia e
prestar ajuda aos mais necessitados:“O amor
não admite álibis: quem pretende amar iniciação cristã
como Jesus amou, deve assumir o seu exem- A interdependência entre renovação
plo, sobretudo quando somos chamados a paroquial e mistagogia catecumenal
amar os pobres” (FRANCISCO, 2017, p. 1). João Fernandes Reinert
A intenção do papa Francisco é que
todos se envolvam e se engajem para mu-
dar essa dura realidade; que estejam aten-
tos a um estilo de vida que proporcione
dignidade em todos os momentos para
todos os povos.

Não pensemos nos pobres apenas como


destinatários duma boa obra de volun-
tariado, que se pratica uma vez por se-
mana, ou, menos ainda, de gestos im-
provisados de boa vontade para pôr a

Imagens meramente ilustrativas.


consciência em paz. Estas experiências,
embora válidas e úteis a fim de sensibili-
zar para as necessidades de tantos irmãos
260 págs.

e para as injustiças que frequentemen-


te são a sua causa, deveriam abrir a um
verdadeiro encontro com os pobres e dar
lugar a uma partilha que se torne estilo A metodologia catecumenal,
caminho antigo e sempre novo
de vida (FRANCISCO, 2017, p. 3).
para iniciar na fé, apresenta-se
como uma renovada chance
Trabalhar pela justiça entre todos, sem evangelizadora. Contudo,
interesses e manipulações individualistas; ela depende de renovada
buscar a justiça para os pobres, fazer que se configuração paroquial.
sintam acolhidos e amados como humanos Catecumenato e renovação
no meio social: paroquial se complementam
e se enriquecem. O que o
Fome e sede são experiências muito catecumenato tem a dizer à
renovação paroquial e em que
intensas, porque correspondem a ne-
sentido a paróquia renovada
cessidades primárias e têm a ver com contribui para o catecumenato?
o instinto de sobrevivência. Há pessoas Descubra neste livro!
que, com esta mesma intensidade, aspi-
ram pela justiça e buscam-na com um
desejo assim forte. Jesus diz que elas se-
Vendas: (11) 3789-4000
rão saciadas, porque a justiça, mais cedo 0800-164011
ou mais tarde, chega e nós podemos co-
laborar para torná-la possível (FRAN- paulus.com.br
CISCO, 2018a, p. 40).

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 27


Sair da comodidade e reconhecer Jesus É verdade que nós, membros da Igreja,
Cristo no outro que sofre, que é explora- não devemos ser esquisitos. Todos têm
do, que foi colocado naquela situação de que se sentir irmãos e próximos, como os
injustiça;5 situação esta fruto da injustiça apóstolos, que eram estimados por todo
social, que está em muitas circunstâncias o povo (At 2,47). Mas, ao mesmo tem-
de nosso dia a dia: po, temos que nos atrever a ser diferentes,
para mostrar outros sonhos que este mun-
Conhecemos a grande dificuldade que do não oferece, para testemunhar a beleza
há, no mundo contemporâneo, de po- da generosidade, do serviço, da pureza, da
der identificar claramente a pobreza. E fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria
todavia esta interpela-nos todos os dias vocação, da oração, da luta pela justiça e do
com os seus inúmeros rostos marcados bem comum, do amor aos pobres, da ami-
pelo sofrimento, pela marginalização, zade social (FRANCISCO, 2019a, p. 22).
pela opressão, pela violência, pelas tor-
turas e a prisão, pela guerra, pela pri- Não obstante, percebemos o drama dos
vação da liberdade e da dignidade, pela pobres em busca daquilo que mais necessitam
ignorância e pelo analfabetismo, pela para sobreviver: são famílias inteiras, órfãos,
emergência sanitária e pela falta de jovens... Para eles não há direitos reservados,
trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela nem mesmo a possibilidade de adoecer.
escravidão, pelo exílio e a miséria, pela
migração forçada. A pobreza tem o ros- Quantas vezes vemos os pobres nas li-
to de mulheres, homens e crianças ex- xeiras a catar o descarte e o supérfluo, a
plorados para vis interesses, espezinha- fim de encontrar algo para se alimentar
dos pelas lógicas perversas do poder e ou vestir! Tendo-se tornado, eles pró-
do dinheiro (FRANCISCO, 2017, p. 4). prios, parte duma lixeira humana, são
tratados como lixo, sem que isso pro-
É necessário coragem para o cristão, pois voque qualquer sentido de culpa em
na sociedade encontraremos muitos que quantos são cúmplices desse escândalo
preferem que a alienação e tramas políti- (FRANCISCO, 2019b, p. 2).
cas atrapalhem o desenvolvimento humano
e social: “Para viver o evangelho, não po- O compromisso com os pobres deve ser
demos esperar que tudo à nossa volta seja permanente na vida dos cristãos,pois é a essên-
favorável, porque muitas vezes as ambições cia da mensagem de Jesus Cristo. Eles são pes-
de poder e os interesses mundanos jogam soas a serem encontradas. No pobre descobri-
contra nós” (FRANCISCO, 2018a, p. 44). mos o próprio rosto de Jesus Cristo libertador:
O papa Francisco quer uma Igreja re-
novada, com novo modo de ser, diferen- Mas, colocando no centro os pobres ao
te, corajosa e caminheira, que devolva a inaugurar o seu Reino, Jesus quer-nos
esperança perdida em meio às injustiças dizer precisamente isto: ele inaugurou,
e sofrimentos. mas confiou-nos, a nós seus discípulos, a
tarefa de lhe dar seguimento, com a res-
ponsabilidade de dar esperança aos po-
5
Ninguém está na pobreza porque quer: “A pobreza não é procurada,
mas criada pelo egoísmo, a soberba, a avidez e a injustiça: males bres. Sobretudo num período como o
tão antigos como o homem, mas sempre são pecados, acabando nosso, é preciso reanimar a esperança e
enredados neles tantos inocentes com dramáticas consequências
sociais” (FRANCISCO, 2018b, p. 3). restabelecer a confiança. É um programa

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que a comunidade cristã não pode su- incisivo o anúncio do Reino de Deus
bestimar. Disso depende a credibilidade (FRANCISCO, 2019b, p. 5).
do nosso anúncio e do testemunho dos
cristãos (FRANCISCO, 2019b, p. 4). Enfim, esta reflexão nunca se encerra, não
termina; ela se manifesta em muitas ações,
O evangelho de Jesus Cristo e a promo- atitudes e reflexões do papa Francisco e da
ção social dos pobres são duas realidades da comunidade cristã. É louvável a audácia e o
mesma situação: é a fé que se manifesta na cuidado da Igreja, por meio de seu papa, de
história, desprendendo os que precisam de olhar para os pobres na perspectiva de Deus,6
libertação. A fé cristã necessita de influxo so- chegando à realidade por eles vivida; dedicar
cial, trazendo uma mudança de mentalidade: não só um dia, mas uma vida inteira para re-
zar pelos pobres, conscientizar-nos de sua si-
Não é fácil ser testemunha da espe- tuação e dar esperança a eles, os destinatários
rança cristã no contexto cultural do do anúncio do Reino de Jesus Cristo.
consumismo e do descarte, sempre
propenso a aumentar um bem-estar 6
“Para onde quer que se volte o olhar, a Palavra de Deus indica
que os pobres são todos aqueles que, não tendo o necessário para
superficial e efêmero. Requer-se uma viver, dependem dos outros. São o oprimido, o humilde, aquele que
mudança de mentalidade para redesco- está prostrado por terra. Mas, perante esta multidão inumerável de
indigentes, Jesus não teve medo de se identificar com cada um deles”
brir o essencial, para encarnar e tornar (FRANCISCO, 2019b, p. 3).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANCISCO, Papa. Carta encíclica Lumen Fidei sobre a fé. São Paulo: Paulinas, 2013a.
______. Exortação apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do evangelho no mundo atual. São
Paulo: Paulinas, 2013b.
______. Carta encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015.
______. Exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia sobre o amor na família. Disponível em:
<http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-frances-
co_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html>. Acesso em: 19 ago. 2019.
______. Mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres, 19 nov. 2017. Disponível em: <http://w2.vati-
can.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20170613_mes-
saggio-i-giornatamondiale-poveri-2017.html>. Acesso em: 25 jun. 2019.
______. Exortação apostólica Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo atual. Bra-
sília, DF: CNBB, 2018a.
______. Mensagem para o II Dia Mundial dos Pobres, 18 nov. 2018b. Disponível em: <http://w2.
vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20180613_
messaggio-ii-giornatamondiale-poveri-2018.html>. Acesso em: 25 jun. 2019.
______. Exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit aos jovens e a todo o povo de Deus. Brasília, DF:
CNBB, 2019a.
______. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres, 17. nov. 2019b. Disponível em: <http://w2.
vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20190613_
messaggio-iii-giornatamondiale-poveri-2019.html>. Acesso em: 25 jun. 2019.
HIMITIAN, Evangelina. O papa do povo. Tradução de Maria Alzira Brum Lemos; Michel Teixeira.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

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Erivaldo Dantas, ssp*

Por uma “Igreja em saída”


Uma “Igreja em saída” é uma Igreja decididamente missionária,
capaz de sair da autorreferencialidade para chegar a todos, indistintamente,
a fim de testemunhar no mundo o amor salvífico do Senhor.

*Pe. Erivaldo Dantas é padre paulino, mestre em Ciência da


Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC. E-mail: erivaldodantas@gmail.com

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INTRODUÇÃO Nesse sentido, para levar a cabo a pro-
“Igreja em saída” é um termo cunhado posta de uma “Igreja em saída”, o papa
pelo papa Francisco na exortação apostóli- Francisco aposta na missionariedade da
ca Evangelii Gaudium, a alegria do evange- Igreja, de modo que “hoje todos somos
lho (EG). É nessa exortação que o pontí- chamados a esta nova ‘saída’ missionária”
fice exprime suas principais preocupações (EG 20), sem medo de enfrentar os ce-
a respeito da Igreja e do mundo, e desen- nários e os desafios próprios da missão
volve alguns temas que têm implicação di- evangelizadora da Igreja. A centralidade da
reta na dinâmica pastoral e missionária da missão é um ponto decisivo, tanto para a
Igreja, a fim de delinear novo perfil eclesial. própria constituição da Igreja como para
O convite do papa Francisco para uma a reflexão eclesiológica, na perspectiva da
“Igreja em saída” é a marca predominante eclesiologia da libertação (VELASCO,
do seu pontificado, que deseja ver renascer 1996, p. 429). É um convite a uma “nova
na Igreja nova experiência de fé cristã mis- práxis” eclesial, porque, na visão de Fran-
sionária, fundamentada no evangelho, de cisco, “não se pode deixar as coisas como
modo que a mensagem da salvação chegue estão. Neste momento, não nos serve uma
realmente a todos, sem exclusão. Para Fran- ‘simples administração’. [Por isso o convi-
cisco, a transmissão da fé não se resume numa te é para que] constituamo-nos em ‘estado
desarticulada difusão de uma imensidade de permanente de missão’, em todas as regiões
doutrinas, mas no testemunho da fé em Jesus da terra” (EG 25).
Cristo, principalmente entre os mais pobres Conforme Panazzolo, a missão foi uma
e fragilizados da sociedade. Com a “Igreja das primeiras práticas da Igreja e jamais po-
em saída”, Francisco deseja redescobrir na derá ser colocada em segundo plano, por-
experiência de fé a dimensão Povo de Deus, que faz parte da sua natureza. Desse modo,
povo que caminha de acordo com o projeto ele afirma que
de amor do Pai. Por isso a Igreja precisa en-
tender que a sua missão não é fechar-se em si a missão é uma realidade da qual a Igre-
mesma ou em grupos de elite, mas ir ao en- ja não pode se omitir. Ela é por natureza
contro dos que andam perdidos, das imensas missionária. O envio missionário era e
multidões sedentas de Cristo. é uma questão vital. A missão foi pri-
meiramente prática. A Igreja nasceu e
1. A “IGREJA EM SAÍDA” viveu a missão antes de saber o que era
Trata-se de uma Igreja que toma a ini- missão. A experiência de vida, do “estar
ciativa, sem medo de ir ao encontro dos com Jesus”, era seu anúncio e testemu-
afastados, de chegar às encruzilhadas dos nho (PANAZZOLO, 2006, p. 16).
caminhos para convidar os excluídos (cf.
EG 24). É um convite especial à passagem O papa Francisco compreende bem
de uma Igreja autorreferencial, centrada que a missão é uma questão vital da Igre-
em si mesma, a uma Igreja aberta à alteri- ja, faz parte da sua natureza. Entretanto, ele
dade, porque “quem deseja viver com dig- chama a atenção para o verdadeiro senti-
nidade e em plenitude não tem outro ca- do missionário, que não se resume numa
minho senão reconhecer o outro e buscar “transmissão desarticulada de uma imensi-
o seu bem” (EG 9). Isso significa dizer que dade de doutrinas que se tentam impor à
“a Igreja não é um ‘para si’, mas um ‘para força” (EG 35), criando separação entre os
os outros’” (VELASCO, 1996, p. 429). “eleitos e os não eleitos”. Se, no início do

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“A IGREJA DEVE TORNAR-SE UMA CASA ABERTA A TODOS,
DE MODO ESPECIAL AOS MAIS FRAGILIZADOS, PROMOVENDO
SEMPRE UMA RELAÇÃO ‘ABERTA’ E NÃO ‘FECHADA’.”

cristianismo, evangelizar era despertar para sem olhar nossas imperfeições, nos oferece
a liberdade e passar a pensar livremente, sua proximidade, sua Palavra, sua força, e dá
com o decorrer do tempo, paradoxalmen- sentido à nossa vida” (EG 121). Ou seja, é
te, evangelizar significou impor um sistema “ter a disposição de levar aos outros o amor
de pensamento feito, isto é, doutrinalmente de Jesus; e isso sucede espontaneamente em
sistematizado (COMBLIN, 2011, p. 222). qualquer lugar: na rua, na praça, no traba-
Contudo, para Francisco, assumir um es- lho, num caminho” (EG 127). Diante dos
tilo missionário é fazer que a mensagem desafios da missão, o papa convida a Igreja
do evangelho “chegue realmente a todos, a uma “saída” missionária. Isso se traduz em
sem exceções nem exclusões” (EG 35), de sair da própria comodidade e ter a coragem
modo que a mensagem evangélica se torne de alcançar todas as periferias que precisam
mais convincente e radiosa. Porque, “quan- da luz do evangelho (cf. EG 20).
do a pregação é fiel ao evangelho, manifes- Contudo, Francisco ressalta que “sair em
ta-se com clareza a centralidade de algumas direção aos outros para chegar às periferias
verdades e fica claro que a pregação moral humanas não significa sair pelo mundo sem
cristã não é uma ética estoica [...] não é direção nem sentido” (EG 46). “Igreja em
uma mera filosofia prática, nem um catálo- saída” é, antes, na visão do papa Francisco,
go de pecados e erros” (EG 39). uma Igreja que sai da comodidade dos seus
Francisco deseja, portanto, que a Igreja, templos para ir ao encontro dos menos
seguindo o modelo de uma relação ecle- favorecidos da sociedade, mas é também
sial “aberta”, leve a todos “a consolação e uma Igreja capaz de abrir suas portas para
o estímulo do amor salvífico de Deus, que acolher todos aqueles que queiram entrar,
opera misericordiosamente em cada pes- sem a necessidade de uma “vistoria alfan-
soa, para além dos seus defeitos e das suas degária” ou de bater à porta e perguntar se
quedas” (EG 43). Entretanto, isso só será é permitido entrar ou não. Porque, muitas
possível se a Igreja reconhecer que jamais vezes, a Igreja age como controladora da
poderá optar pela rigidez autodefensiva ou graça, e não como facilitadora. A respeito
refugiar-se nas próprias seguranças (cf. EG disso, Francisco não deixa dúvidas: “a Igre-
45). Com efeito, infelizmente, “há estrutu- ja não é uma alfândega, mas a casa paterna,
ras eclesiais que podem chegar a condicio- onde há lugar para todos com a sua vida
nar o dinamismo evangelizador” (EG 26) fatigosa” (EG 47).
e, desse modo, impedir o processo de reno- A Igreja deve tornar-se uma casa aberta
vação da Igreja, conduzindo-a a um estado a todos, de modo especial aos mais fragi-
permanente de relação social “fechada” e lizados, promovendo sempre uma relação
separando-a das pessoas, como se a Igreja “aberta” e não “fechada”, porque, quando
fosse “um grupo de eleitos que olham para se fecha em si mesma, ela limita ou sujeita
si mesmos” (EG 28). a participação das pessoas na vida eclesial,
O pontífice afirma que “todos somos criando uma separação entre os que são
chamados a dar aos outros o testemunho fiéis à ortodoxia e os que são julgados pela
explícito do amor salvífico do Senhor, que, ortodoxia. “Igreja em saída” é missão, e

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PAULUS

periódicos 2020

ANO A (BRANCO) ANO LXXXVIII — REMESSA I — 1-1-2020 — Nº 1


ANO A (ROXO) ANO A – COR BRANCA
ANO XLII — REMESSA XII — 1-12-2019 — Nº 48ANO 44 – Nº 56 – REMESSA XIV – 8/12/2019

Christe, Christe, / Christe eleison! (bis)


3. Senhor, Filho primogênito do Pai,
MiSSA
SSA Do 1º1 DoMingo IMACULADA
Do ADVEnToCONCEIÇÃO DE MARIA 3. Senhor, tende piedade, / in­ que fazeis de nós uma só família, /
Ficai preparados, pois o Senhor virá tercedendo por nós ao Pai! tende piedade de nós.
“Eis aqui a serva do Senhor”
coração, fonte de reconciliação e comunhão com Deus Min: Deus tenha compaixão de Kyrie, Kyrie, / Kyrie eleison! (bis)
Vamos começar a missa! defender, vitorioso tu serás. / nós, perdoe os nossos pecados e
e com nossos irmãos e irmãs (pausa). PR: Deus todo-poderoso tenha com-
paixão de nós, perdoe os nossos pe-
Padre: Senhor, que viestes ao Lutas
mundocompara armas e poder, / o nos conduza à vida eterna.
nos salvar,
cados e nos conduza à vida eterna.
Sugestões: 1) Colocar a coroa do Advento tende piedade de nós. inimigo a correr; / eterno é o teu As: Amém.
em lugar visível a todos. 2) Na procissão Crianças: Senhor, tende piedade de nós. AS: Amém!
trono, ó Deus, / é retidão para
de entrada, um adolescente leva a primeira 4 Glória
Padre: Cristo, que continuamente
valer!nos visitais com a GLÓRIA (cantado)
vela (verde). 3) Após a saudação inicial, o (CD: NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APAREcIDA
graça do vosso Espírito, tende piedade de nós.
padre faz breve motivação e o adolescente
2 deAcolhida As: Glória a Deus nas alturas, E CANTAR A LITURGIA, faixa 15)
(ajudado por alguém da equipe de liturgia) Crianças: Cristo, tende piedade nós. e paz na terra aos homens por
acende a vela, enquanto todos cantam o refrão: “Deixa a luz Espontânea
Padre: Senhor, que vireis um dia do/a ministro/a.
para julgar as nossas
MARIA, eleMÃE
amados. DESenhor
DEUS Deus, rei 4 1. Glória a Deus nos altos céus,
/ paz na terra a seus amados; /
do céu entrar, deixa a luz do céu entrar. Abre bem as portas obras, tende piedade de nós.
do teu coração e deixa a luz do céu entrar”. Min (ou Anim): Celebremos a dos céus, Deus Pai todo-pode- a vós louvam, rei celeste, / os que fo-
Crianças: Senhor, tende piedade de nós. ram libertados.
CD: AS CRIANÇAS CANTAM ADVENTO E NATAL - Missa: ADVENTO
solenidade da Imaculada
Sugestões e lembretes: Con- roso:
1) Antes do inícionós5.vos louvamos,
Povos nós
da terra, vos a Maria! /
louvai
Padre: Deus todo-poderoso tenha ceição,da celebração,
compaixão de nós,
nafavorecer
qual, comopode-se cantar um refrão Ave, Maria! / Eternamente aclamai o
Igreja, bendizemos, nós vos adoramos, 2. Deus e Pai, nós vos louvamos, /
(Paulus) para o clima celebrativo. 2) Na
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna. adoramos, bendizemos; / damos gló-
reconhecemos
procissão deaquela que
entrada, foia cruz,
levar nós vos seu
velas
nome! / Ave,nós
glorificamos, Maria!
vos ria ao vosso nome, / vossos dons agra-
1. Canto de aBeRtURa
a Crianças: Amém. acesasda
preservada e uma bandeira
mancha dobranca
pe- (símbolo
damosda
graças por vossa imen-
paz). 3) A partir de hoje, seguindo as orien- ACOLHIDA decemos.
1. À margem do rio Jordão, / um homem chamado Não se diz o glória. cado para
taçõesser da aInstrução
mãe deGeralJesus, sobre osa glória. Senhor
Missal Jesus
nomeCristo, 3. Senhor nosso, Jesus Cristo, / uni-
João / falava de um tempo novo, / conversão para oREMoS: Ó Deus todo-poderoso, o Filho do Altíssimo.
Romano,
concedei
n. 29, o Escolhida
a vossos
breve comentário Filho 2 ePR:
(moti-unigênito,
Em do Pai e do Filho
SenhorSanto.
do Espírito Deus,AS: Amém! gênito do Pai; / vós, de Deus Cordeiro
vação) inicial será inserido logo após a aco-
todo o povo. fiéis o ardente desejo de possuirentre todas
o reino as mulheres,
lhidaceleste,
realizadapara Maria e antes
pelo presidente Cordeiro de Deus,
do PR: A graçaFilho
e a de
pazDeus
de Deus, nosso santo, / nossas culpas perdoai.
LEMBRETE E SUGESTÕES: Nesta celebração
É tempo de recomeçar, / os caminhos de Deus pre- que,
proclama-se acorrendo
o glória. compode
Uma pessoa as entrar intervém
nossas boas obras constantemente
ao encontro
ato penitencial. Pode ser em lido peloPai. VósPai,
próprio queetirais
de Jesus Cristo, do
o pecado nosso Senhor, 4. Vós, que estais junto do Pai / como
parar, / abrir as portas do coração / para acolhercom do Cristo
a a imagem queSenhora
de Nossa vem, esejamos nosso presidente
acender reunidos àfavor, ou pelo
sua direita na comentarista (oumundo,
convidando-nos
dispensado). Para iniciar a celebração,
até ser estejam convosco.
se tende piedade de nós.
nosso intercessor, / acolhei nossos
comunidade dos justos.
Acolher Por
com nosso pedidos, / atendei nosso clamor.
salvação (bis). a segunda vela do advento. a Senhor
sempre Jesus Cristo,
bendizer
necessário, haja a Deus
breve e à Vós
convite assem-que tirais o pecado do mun- que nos
AS: Bendito seja Deus,
alegria a vosso
quem chega
Filho,(CD
na Festas
unidadeLitúrgicas
do Espírito Santo. reuniu no amor de Cristo! 5. Vós somente sois o Santo, / o Al-
2. Tanto tempo já se passou / que aquela voz um dia III – Paulus). caminharbleia unidos
para o canto de abertura. 4) Após a
a Cristo. do, acolhei a nossa súplica. Vós
ecoou, / e ainda hoje, para haver conversão, / é preciso Crianças: Amém. saudação (e a motivação), o presidente po- tíssimo, o Senhor; / com o Espírito
de convidar para os cumprimentos que Reunidos
estais
de feliz à direitapela Eucaristia
do Pai, ten- para ini- divino, / de Deus Pai no esplendor. /
escutar João. Embora hoje a celebração esteja centralizada ciar o novo ano civil, somos acolhi-
DEUS Palavra de Deus
ano-novo com muita paz. 5) No final da
na solenidade da Imaculada
celebração, distribuir umade
pode-seConceição, florpiedade
ou de nós. Só vós sois
dos por Maria com carinho e amor
Amém! (10x)
2. SaUdação
dação iniCial
ini Nos Reúne pode-se acender
uma fita a segunda
branca,vela da coroa
como sinal do o rece-
da paz santo, materno
só vós, nesta
o Senhor, só em que
solenidade ORAÇÃO DO DIA
Advento, bida
dizendo:
e doBENDITO SEJAIS,com
compromisso DEUS ela ao longo
Padre: Queridas crianças, irmãos e irmãs, sede todos Animador(a): DO A Palavra
AMOR, nos LUZ
doPELA
ano. convida
DE CRISTO, SOL DE
vós, o Altíssimo,
a invocamosJesus Cristo,
como Mãe de Deus
bem-vindos a esta celebração eucarística. Iniciemos 1 em Canto a nos aproximarmos de Deus
NOSSA VIDA, A QUEM e nos
ESPERAMOS COM e nossa.
com o Espírito Neste
Santo, naDIA MUNDIAL DA
glória 5 PR: Ó Deus, que pela virgin-
dade fecunda de Maria destes
CD Festas Litúrgicas III, faixa 1 deixarmos guiar TODApor sua luz,
A TERNURA DOpara de Deus PAZ, peçamos à Virgem, nossa
Ritos
CORAÇÃO. Pai. Amém.
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. à humanidade a salvação eterna,
que, vigilantes, nos preparemos com Mãe, que nos acompanhe ao longo
Crianças: Amém. De alegria vibrei no Se nhor, / para dai-nos contar sempre com a sua
Padre: O Deus da esperança, que nos cumula de toda pois vestiu-me com sua
nosso salvador.
esperança
justiça,
Ouçamos.
3 a Ato
Iniciais
vindaPenitencial
de Jesus, 5 Oração do ano e nos ajude a ser promoto-
res da paz. intercessão, pois ela nos trouxe o
/ adornou-me com joias bonitas, Min: Irmãos
alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, e irmãs, arrependidos Min: Ó Deus, fizestes a Virgem
CANTO DE ABERTURA ATO PENITENCIAL
autor da vida. Por nosso Senhor
(cantado)
esteja convosco. / como4. leitURa dos nossos pecados, roguemos Maria ser(CD:
concebida Jesus Cristo, vosso Filho, na uni-
esposa do rei me elevou.
(Is 2,1-5) (CD: FESTAS LITÚRGICAS I, faixa 1 – Paulus) N. SRA. DAsem pecado
CONCEIÇÃO APARECIDA E CAN-
Crianças: Bendito seja Deus, que nos reuniu no amor ao Pai por misericórdia (pausa). para que daA Imaculada da faixa 10 – Paulus) dade do Espírito Santo.
nascesse
LITURGIA, melodia
1. Transborda
Leitura doo meu
Livrocoração
do Profeta/ emIsaías. – 1Visão1de1. Tu ésfilho
Isaías, a glória de Jerusalém! / TAR
de Cristo.
belos versos ao sobre
rei, / um
Judápoema,
Cantemos. Ave, Maria! / És a alegria Jesus, do po-vosso Filho.
PR: Irmãos irmãs, reconheça- AS: Amém!
Peloseméritos
de Amós, e Jerusalém. 2Acontecerá,
(CD Festasvo
nos últi-
de Deus! / fir-
Ave,
16 – Maria! 3 mos
uma canção / com aque
mos tempos, língua escre­
o monte da casa Litúrgicas
do Senhor II, faixa
estará Paulus)
previstos da vida e as nossas
morte culpas para cele-
de Cristo,
Padre (ou animador/a): Com esta liturgia, iniciamos
verei.
novo ano litúrgico. O tempo do Advento nos ajuda a /memente
De todos estabelecido
és o mais no
belo,ponto 1.
mais alto2.das
Senhor, Tutende
és a piedade
montanhas honra da/ humanidade!
dos sua mãe brarmos dignamente os santos mis-
/ jamais pecou. Dai a nós, Liturgia
Ave, Maria! / És a ditosa por Deus térios (pausa).
nos prepararmos para a celebração do nascimento /dea gra3eçadominará as colinas.
desabrochou,
para
/ emA teu corações
ele acorrerão todas arrependidos!
as nações,
escolhida! / Ave,
ao Maria!
pecadores, ser libertos do mal
1. Senhor, Filho de Deus, que, nas- da Palavra
semblan
Jesus. Somos convocados hoje à atitude de vigilância, te, lá
emirão numerosos
teus lábios / povos
pra eTende
dirão: “Vamos
piedadesubir de nós, / tende para que, purificados dos pecados
monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, 3. Das
paratuas
quemãos ele nos vieram prodí- cendo da Virgem Maria, vos fizestes Podemos contar com as bênçãos de
sempre Deus te abençoou.
para acolhermos com muita esperança e amor o Filho piedade de nós! / Ave,(bis) e das
do culpas, nos acheguemos
nosso irmão, / tende piedade de nós.
nos mostre seus caminhos e nos ensinegios! a cumprir Maria! / És o refúgio
seus Deus ao longo de todo o ano. A maior
de Deus, nosso salvador, que virá no Natal. 2. Valente, forte, herói, dos a vós protegidos por/ Maria. Por (bis)
preceitos”; porque de/Sião
pelaprovém2. Jesus, e detende
a leipovo de Deus!
Jerusalém,piedade/ Ave, /Maria! Kyrie, Kyrie, Kyrie eleison! de todas é a vinda de Jesus, nascido
verdade a lutar,
a palavra / a justiça
do Senhor. 4
Ele háa de pecadores,
julgar as4.nações tão efizeste
O que humilhados!
arguiragradou ao Senhor! Cristo,/ nosso Senhor.
2. Cristo, As:do
Filho Amém.
homem, que co- de Maria, sua mãe. A exemplo dos
3. ato
to PenitenCial
Peniten (rezado)
numerosos povos; estes transformarão suas
Ave, espadas
Maria! / Bendita sejas por Deus nheceis e compreendeis
Página 1 nossa fra- pastores, abramos o coração para
Padre: Irmãos e irmãs, queridas crianças, no início em arados e suas lanças em foices: não poderoso! / Ave,
pegarão em Maria! queza, / tende piedade de nós. acolher o Senhor, que vai nos falar.
desta celebração eucarística, peçamos a conversão do armas uns contra os outros e não mais travarão combate. PÁG. 1
1

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para celebrar a Palavra.
liturgia diária
Com mais de 28 anos de história, a Liturgia Diária é um subsídio mensal que traz a liturgia de cada dia
(partes fixas da missa, leituras, orações, cantos, memória dos santos, solenidades e festas litúrgicas,
artigos sobre o Evangelho dos domingos e círculos bíblicos). Um guia especial para rezar, celebrar e
meditar a Palavra de Deus diariamente.

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o domingo
Folhetos Litúrgico-Catequéticos – Subsídios para comunidades de Fé
Os folhetos litúrgico-catequéticos da PAULUS visam ajudar as comunidades na experiência de fé, quando se reúnem em
torno da Palavra e da Eucaristia para celebrar o memorial da paixão, morte e ressurreição do Senhor.
O Domingo • Semanário Litúrgico-Catequético
Missão: Animar as comunidades que se reúnem para celebrar a Eucaristia. Traz os textos oficiais do Missal e do Lecionário,
cantos específicos e dois artigos: um bíblico, sobre o Evangelho do dia, e outro catequético.
O Domingo • Celebração da Palavra de Deus
Missão: Celebrar a presença de Deus na caminhada do povo, mediante a Liturgia da Palavra dominical. Específico para as
celebrações litúrgicas das comunidades sem padre. Além das partes fixas da celebração e das leituras, oferece artigo com
reflexão do Evangelho do dia.
O Domingo • Celebração da Missa com Crianças
Missão: Dinamizar a celebração eucarística com as crianças. As orações, músicas, ilustrações e a linguagem são próprias
para as crianças celebrarem a Missa com alegria e boa compreensão.

ANO A (ROXO) ANO XLII — REMESSA XII — 1-12-2019 — Nº


N 48
ANO A – COR BRANCA ANO 44 – Nº 56 – REMESSA XIV – 8/12/2019
ANO A (BRANCO) ANO LXXXVIII — REMESSA I — 1-1-2020 — Nº 1
Exemplares Preço

MiSSA Do 1º DoMingo Do ADVEnTo


Christe, Christe, / Christe eleison! (bis)
10 a 40 R$ 14,41
IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA 3. Senhor, tende piedade, / in­ 3. Senhor, Filho primogênito do Pai,

50 a 90 R$ 13,16
Ficai preparados, pois o Senhor virá que fazeis de nós uma só família, /
tercedendo por nós ao Pai!
coração, fonte de reconciliação e comunhão com Deus “Eis aqui a serva do Senhor” tende piedade de nós.
Vamos começar a missa! e com nossos irmãos e irmãs (pausa). Min: Deus tenha compaixão de Kyrie, Kyrie, / Kyrie eleison! (bis)
Padre: Senhor, que viestes ao mundo para nos salvar, defender, vitorioso tu serás. / nós, perdoe os nossos pecados e PR: Deus todo-poderoso tenha com-
Sugestões: 1) Colocar a coroa do Advento tende piedade de nós. Lutas com armas e poder, / o nos conduza à vida eterna. paixão de nós, perdoe os nossos pe-

100 a 240 R$ 12,33


em lugar visível a todos. 2) Na procissão Crianças: Senhor, tende piedade de nós. inimigo a correr; / eterno é o teu As: Amém. cados e nos conduza à vida eterna.
de entrada, um adolescente leva a primeira trono, ó Deus, / é retidão para AS: Amém!
Padre: Cristo, que continuamente nos visitais com a
vela (verde). 3) Após a saudação inicial, o
graça do vosso Espírito, tende piedade de nós. valer! 4 Glória
padre faz breve motivação e o adolescente GLÓRIA (cantado)
(ajudado por alguém da equipe de liturgia) Crianças: Cristo, tende piedade de nós. As: Glória a Deus nas alturas, (CD: NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APAREcIDA
2 Acolhida E CANTAR A LITURGIA, faixa 15)

250 a 490
acende a vela, enquanto todos cantam o refrão: “Deixa a luz e paz na terra aos homens por

R$ 11,41
Padre: Senhor, que vireis um dia para julgar as nossas
Espontânea do/a ministro/a.
do céu entrar, deixa a luz do céu entrar. Abre bem as portas
do teu coração e deixa a luz do céu entrar”.
obras, tende piedade de nós. ele amados. Senhor Deus, rei
MARIA, MÃE DE DEUS 4 1. Glória a Deus nos altos céus,
/ paz na terra a seus amados; /
Crianças: Senhor, tende piedade de nós. Min (ou Anim): Celebremos a dos céus, Deus Pai todo-pode- a vós louvam, rei celeste, / os que fo-
CD: AS CRIANÇAS CANTAM ADVENTO E NATAL - Missa: ADVENTO
Padre: Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, solenidade da Imaculada Con- roso: nós vos louvamos, nós vos ram libertados.
(Paulus) Sugestões e lembretes: 1) Antes do início 5. Povos da terra, louvai a Maria! /
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna. ceição, na qual, como Igreja, bendizemos, nós vos adoramos, da celebração, pode-se cantar um refrão Ave, Maria! / Eternamente aclamai o 2. Deus e Pai, nós vos louvamos, /

500 a 990 R$ 10,52


para favorecer o clima celebrativo. 2) Na
1. Canto de aBeRtURa Crianças: Amém. reconhecemos aquela que foi nós vos glorificamos, nós vos
procissão de entrada, levar a cruz, velas
seu nome! / Ave, Maria! adoramos, bendizemos; / damos gló-
preservada da mancha do pe- damos graças por vossa imen- ria ao vosso nome, / vossos dons agra-
Não se diz o glória. acesas e uma bandeira branca (símbolo da
1. À margem do rio Jordão, / um homem chamado ACOLHIDA decemos.
João / falava de um tempo novo, / conversão para cado para ser a mãe de Jesus, sa glória. Senhor Jesus Cristo, paz). 3) A partir de hoje, seguindo as orien-
oREMoS: Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos tações da Instrução Geral sobre o Missal 3. Senhor nosso, Jesus Cristo, / uni-
todo o povo. fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para
o Filho do Altíssimo. Escolhida Filho unigênito, Senhor Deus, Romano, n. 29, o breve comentário (moti- 2 PR: Em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo. AS: Amém! gênito do Pai; / vós, de Deus Cordeiro
entre todas as mulheres, Maria Cordeiro de Deus, Filho de Deus vação) inicial será inserido logo após a aco-

1000 a 1490 R$ 9,47


É tempo de recomeçar, / os caminhos de Deus pre- que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro LEMBRETE E SUGESTÕES: Nesta celebração lhida realizada pelo presidente e antes do PR: A graça e a paz de Deus, nosso santo, / nossas culpas perdoai.
parar, / abrir as portas do coração / para acolher a do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na proclama-se o glória. Uma pessoa pode entrar intervém constantemente em Pai. Vós que tirais o pecado do 4. Vós, que estais junto do Pai / como
ato penitencial. Pode ser lido pelo próprio Pai, e de Jesus Cristo, nosso Senhor,
salvação (bis). comunidade dos justos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, com a imagem de Nossa Senhora e acender nosso favor, convidando-nos mundo, tende piedade de nós. presidente ou pelo comentarista (ou até ser estejam convosco. nosso intercessor, / acolhei nossos
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. a segunda vela do advento. Acolher com a sempre bendizer a Deus e dispensado). Para iniciar a celebração, se
2. Tanto tempo já se passou / que aquela voz um dia Vós que tirais o pecado do mun- AS: Bendito seja Deus, que nos pedidos, / atendei nosso clamor.
alegria a quem chega (CD Festas Litúrgicas necessário, haja breve convite à assem-
ecoou, / e ainda hoje, para haver conversão, / é preciso Crianças: Amém. III – Paulus). caminhar unidos a Cristo. do, acolhei a nossa súplica. Vós bleia para o canto de abertura. 4) Após a reuniu no amor de Cristo! 5. Vós somente sois o Santo, / o Al-

1500 a 1990
escutar João. tíssimo, o Senhor; / com o Espírito

R$ 9,31
saudação (e a motivação), o presidente po-
que estais à direita do Pai, ten- Reunidos pela Eucaristia para ini-
Palavra de Deus DEUS Embora hoje a celebração esteja centralizada
de piedade de nós. Só vós sois
de convidar para os cumprimentos de feliz
ano-novo com muita paz. 5) No final da ciar o novo ano civil, somos acolhi-
divino, / de Deus Pai no esplendor. /
2. SaUdação iniCial na solenidade da Imaculada Conceição, Amém! (10x)
Animador(a): A Palavra nos convida
Nos Reúne pode-se acender a segunda vela da coroa do o santo, só vós, o Senhor, só celebração, pode-se distribuir uma flor ou
uma fita branca, como sinal da paz rece-
dos por Maria com carinho e amor
Padre: Queridas crianças, irmãos e irmãs, sede todos Advento, dizendo: BENDITO SEJAIS, DEUS
vós, o Altíssimo, Jesus Cristo, materno nesta solenidade em que ORAÇÃO DO DIA
a nos aproximarmos de Deus e nos DO AMOR, PELA LUZ DE CRISTO, SOL DE bida e do compromisso com ela ao longo
bem-vindos a esta celebração eucarística. Iniciemos em a invocamos como Mãe de Deus
deixarmos guiar por sua luz, para 1 Canto NOSSA VIDA, A QUEM ESPERAMOS COM com o Espírito Santo, na glória do ano.
5 PR: Ó Deus, que pela virgin-

2000 a 2990
e nossa. Neste DIA MUNDIAL DA

R$ 8,61
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
que, vigilantes, nos preparemos com CD Festas Litúrgicas III, faixa 1 TODA A TERNURA DO CORAÇÃO. de Deus Pai. Amém. PAZ, peçamos à Virgem, nossa dade fecunda de Maria destes
Crianças: Amém.
esperança para a vinda de Jesus,
De alegria vibrei no Senhor, / 3 Ato Penitencial
Ritos Mãe, que nos acompanhe ao longo à humanidade a salvação eterna,
Padre: O Deus da esperança, que nos cumula de toda 5 Oração dai-nos contar sempre com a sua
alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo,
nosso salvador. Ouçamos.
pois vestiu-me com sua justiça,
Min: Irmãos e irmãs, arrependidos
Iniciais do ano e nos ajude a ser promoto-
res da paz. intercessão, pois ela nos trouxe o
esteja convosco. 4. leitURa (Is 2,1-5) / adornou-me com joias bonitas, Min: Ó Deus, fizestes a Virgem autor da vida. Por nosso Senhor

3000 a 3990
dos nossos pecados, roguemos CANTO DE ABERTURA

R$ 8,34
Crianças: Bendito seja Deus, que nos reuniu no amor / como esposa do rei me elevou. Maria ser concebida sem pecado ATO PENITENCIAL (cantado)
Jesus Cristo, vosso Filho, na uni-
Leitura do Livro do Profeta Isaías. – 1Visão de Isaías, filho (CD: FESTAS LITÚRGICAS I, faixa 1 – Paulus)
de Cristo. ao Pai por misericórdia (pausa). para que da Imaculada nascesse
(CD: N. SRA. DA CONCEIÇÃO APARECIDA E CAN-
dade do Espírito Santo.
de Amós, sobre Judá e Jerusalém. 2Acontecerá, nos últi últi- 1. Transborda o meu coração / em TAR A LITURGIA, melodia da faixa 10 – Paulus)

mos tempos, que o monte da casa do Senhor estará fir- fir belos versos ao rei, / um poema,
Cantemos. Jesus, vosso Filho. Pelos méritos 1 1. Tu és a glória de Jerusalém! /
Ave, Maria! / És a alegria do po- PR: Irmãos e irmãs, reconheça- AS: Amém!
Padre (ou animador/a): Com esta liturgia, iniciamos
memente estabelecido no ponto mais alto das montanhas uma canção / com a língua escre­
(CD Festas Litúrgicas II, faixa 16 – Paulus)
previstos da vida e morte de Cristo, vo de Deus! / Ave, Maria! 3 mos as nossas culpas para cele-
novo ano litúrgico. O tempo do Advento nos ajuda a
e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, verei. / De todos és o mais belo, 1. Senhor, tende piedade / dos sua mãe jamais pecou. Dai a nós, 2. Tu és a honra da humanidade! / brarmos dignamente os santos mis- Liturgia

4000 a 4990 R$ 8,10


nos prepararmos para a celebração do nascimento de corações arrependidos! térios (pausa).
3
para lá irão numerosos povos e dirão: “Vamos subir ao / a graça desabrochou, / em teu pecadores, ser libertos do mal Ave, Maria! / És a ditosa por Deus
Jesus. Somos convocados hoje à atitude de vigilância,
para acolhermos com muita esperança e amor o Filho
monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele semblante, em teus lábios / pra Tende piedade de nós, / tende para que, purificados dos pecados escolhida! / Ave, Maria! 1. Senhor, Filho de Deus, que, nas- da Palavra
nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus sempre Deus te abençoou. piedade de nós! (bis) e das culpas, nos acheguemos 3. Das tuas mãos nos vieram prodí- cendo da Virgem Maria, vos fizestes
de Deus, nosso salvador, que virá no Natal.
preceitos”; porque de Sião provém a lei e de Jerusalém, gios! / Ave, Maria! / És o refúgio do nosso irmão, / tende piedade de nós. Podemos contar com as bênçãos de
a palavra do Senhor. 4Ele há de julgar as nações e arguir 2. Valente, forte, herói, / pela 2. Jesus, tende piedade / dos a vós protegidos por Maria. Por Deus ao longo de todo o ano. A maior
3. ato PenitenCial povo de Deus! / Ave, Maria! Kyrie, Kyrie, / Kyrie eleison! (bis) de todas é a vinda de Jesus, nascido

Acima de 5000
(rezado)

R$ 7,46
numerosos povos; estes transformarão suas espadas verdade a lutar, / a justiça a pecadores, tão humilhados! Cristo, nosso Senhor. As: Amém.
4. O que fizeste agradou ao Senhor! / 2. Cristo, Filho do homem, que co- de Maria, sua mãe. A exemplo dos
Padre: Irmãos e irmãs, queridas crianças, no início em arados e suas lanças em foices: não pegarão em Página 1
Ave, Maria! / Bendita sejas por Deus nheceis e compreendeis nossa fra- pastores, abramos o coração para
desta celebração eucarística, peçamos a conversão do armas uns contra os outros e não mais travarão combate. poderoso! / Ave, Maria! queza, / tende piedade de nós. acolher o Senhor, que vai nos falar.
1 PÁG. 1

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para cada mês do ano. Têm direito ao 760 a 1000 4 coleções de cartazes
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da Palavra de Deus e O Domingo – * Para assinaturas efetivadas até 31/03/2020.
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Missa de Ordenação Presbiteral Missa de Todos os Fiéis Defuntos


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Celebração do Batismo Missa de Casamento
Celebração do Matrimônio Missa de Formatura
Celebração Ecumênica de Formatura Missa de Nossa Senhora
Missa com Encarcerados Missa: Dízimo é Partilha
Missa da Confirmação Missa do Coração de Jesus
Missa da Esperança (7º e 30º dia) Missa do Padroeiro
Missa da Primeira Comunhão Missa dos Enfermos
Missa de 15 Anos Vigília Exequial
Missa de Ação de Graças
Revista
A Revista Ecoando é um subsídio trimestral completo para a formação do
catequista. Divididos em três seções – Ser, Saber e Saber & Fazer –, os textos
dedicam-se a fortalecer a espiritualidade do catequista, auxiliá-lo na elaboração
ecoando
Formação Interativa com Catequistas
dos encontros e aprimorar seus conhecimentos.

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11 a 30 R$ 42,60
31 a 60 R$ 40,44
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Esta revista bimestral traz artigos com temas pastorais, como teologia, espiritualidade,
ética cristã, Patrística, ministério presbiterial, catequese e muitos outros. O periódico
apresenta também roteiros homiléticos em sintonia com o magistério da Igreja, visando
contribuir para a formação dos agentes de pastoral.

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• O vencimento das parcelas acontece no dia 10 de cada mês.
• Os valores das tabelas são válidos para assinaturas realizadas até fevereiro de 2020.
a missão está sempre relacionada com
o mundo. Não existe nenhuma missão
no abstrato, no vácuo, fora do tempo,
Cultura urbana:
do espaço e das culturas. Missão é o porta para o Evangelho
encontro de Deus com o mundo, do A conversão pastoral como chave
divino com o humano. Missão é um para a evangelização nas cidades
processo de integração, de relação, de
Leomar A. Brustolin e Leandro Luis B.
comunhão, de urgência, e não se reali- Fontana (orgs.)
za sem tensões e lutas (PANAZZOLO,
2006, p. 101).

Desse modo, podemos entender que a


missão “não exclui ninguém nem unifor-
miza. Ela é universal, solidária, constrói a
unidade na diferença [...] acolhe a todos
na comunhão” (PANAZZOLO, 2006, p.
102), porque a mensagem do evangelho é
para todos, dirigida a todos, para a salva-
ção de todos. E, por isso, a Igreja precisa

Imagens meramente ilustrativas.


transformar suas estruturas e seus modos
pastorais, orientando-os de modo que se-
jam missionários.
40 págs.

Comblin (2000, p. 61) nos assegura


que, de todos os carismas, o mais impor-
tante, o mais necessário e o mais urgente Embora o cristianismo tenha
é o carisma de missionário, porque os mis- nascido no meio urbano e em
sionários são pessoas que vão ao encon- seu seio tenha se desenvolvido
tro de outras pessoas nos vários ambientes ao longo dos séculos, a
sociais, dando testemunho de uma boa- comunicação da Boa-nova do
-nova, de modo “que desperte a adesão Evangelho aos citadinos do
século XXI não é algo que ocorre
do coração com a proximidade, o amor e
de forma automática. Para
o testemunho” (EG 42), “para olhar nos compreender a fundo o fenômeno
olhos e escutar, ou renunciar às urgências da cidade, esta obra reúne
para acompanhar quem ficou caído à bei- estudos de diversos especialistas
ra do caminho” (EG 46). em âmbito internacional, que
abordam a temática a partir de
2. A IGREJA “POVO DE DEUS” distintas perspectivas: arquitetura,
Com a “Igreja em saída”, o papa antropologia, ciências da
Francisco ressignifica o conceito “Povo comunicação, filosofia e teologia.
de Deus”, uma vez que “ser Igreja sig-
nifica ser Povo de Deus, de acordo com
Vendas: (11) 3789-4000
o grande projeto de amor do Pai. Isso 0800-164011
implica ser o fermento de Deus no meio
da humanidade” (EG 114). “Não se trata paulus.com.br
de uma nova Igreja, mas de um modo

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 33


“A IGREJA DEVE SER LUGAR DA MISERICÓRDIA GRATUITA,
ONDE TODOS POSSAM SENTIR-SE ACOLHIDOS, AMADOS, PERDOADOS
E ANIMADOS A VIVER SEGUNDO A VIDA BOA DO EVANGELHO.”

novo de ver a Igreja, que deve levar a um aparelho de santificação cujos elementos
novo modelo eclesial” (KASPER, 2015, ativos seriam os membros da hierarquia
p. 56). Para lograr esse fim, é necessário (COMBLIN, 2011, p. 26).
romper com padrões e regras fortemente O propósito do papa Francisco com o
petrificadas que, em vez de unir o Povo processo de retomada do conceito de Povo
de Deus, separam, de modo que grande de Deus, à luz de uma “Igreja em saída”, é
parte do “povo batizado não sente sua atualizar com sabedoria um conceito que
pertença à Igreja, [e] isso se deve tam- tem suas raízes na Bíblia e foi consciente-
bém à existência de estruturas com clima mente discutido e assumido pelo Vaticano
pouco acolhedor em nossas paróquias e II, mas, infelizmente, foi mal interpretado
comunidades” (EG 63). Em virtude disso, por Roma durante a recepção do Con-
é preciso deixar claro que cílio, principalmente com o modelo de
teologia desenvolvido na América Latina.
a Igreja é para ele [Francisco] muito O papa Francisco tem presente que
mais do que uma instituição orgânica e “não podemos pretender que todos os
hierárquica, é sobretudo Povo de Deus povos dos vários continentes, ao exprimir
a caminho para Deus, povo peregrino e a fé cristã, imitem as modalidades adotadas
evangelizador que transcende também pelos povos europeus num determinado
toda a necessária expressão institucional tempo da história” (EG 118). Isso signifi-
[...]. Com base na sua teologia do Povo ca dizer que “não faria justiça à lógica da
de Deus, o papa Francisco opõe-se a encarnação pensar num cristianismo mo-
todo clericalismo [...]. O papa quer nocultural e monocórdico” (EG 117), ou
que todo o Povo de Deus participe da seja, pautado apenas numa única realidade
vida da Igreja: homens, mulheres, leigos cultural, como se esta tivesse a total au-
e clérigos, jovens e velhos (KASPER, toridade de se impor às demais. Na pers-
2015, p. 57). pectiva do papa Francisco, “o cristianismo
não dispõe de um único modelo cultural,
Isso significa dizer que “a Igreja deve mas ‘permanecendo o que é, na fidelidade
ser lugar da misericórdia gratuita, onde total ao anúncio evangélico e à Tradição
todos possam sentir-se acolhidos, amados, da Igreja, o cristianismo assumirá também
perdoados e animados a viver segundo o rosto das diversas culturas e dos vários
a vida boa do evangelho” (EG 114), de povos onde for acolhido e se radicar’”
modo que se possa suscitar na Igreja nova (EG 116). Desse modo, Francisco renova a
expressão da fé e da vida cristã que envol- esperança da doutrina conciliar, a mesma
va a totalidade do ser humano, o seu cor- que João XXIII havia orientado pensando
po inteiro, e não somente a razão abstrata longe, olhando para longe, olhando para o
ou científica (COMBLIN, 2000, p. 27). A mundo inteiro, e não mais simplesmente
Igreja é feita de pessoas humanas comple- para a Europa (COMBLIN, 2011, p. 14).
tas, com todo o seu ser e todo o seu agir. Francisco é o papa que leva a Roma
A Igreja não é composta somente de um a marcante experiência pastoral de uma

34 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


Igreja latino-americana, que buscou cons-
truir um caminho de fé não desvinculado
da Tradição nem do seu primado, mas com Laicato
base na fé de um povo com uma história Vocação e missão
própria e uma realidade específica, diferen- Dom Orlando Brandes
te da realidade europeia e marcada, prin-
cipalmente, por uma situação de extrema
pobreza, onde anunciar o evangelho signi-
fica, antes de tudo, compadecer-se das do-
res de um povo pobre e sofredor.
Nesse sentido, para anunciar o evange-
lho nas várias realidades eclesiais, não basta
apenas dizer que Deus é Pai e ama a todos;
é necessário mostrar concretamente onde
reside esse amor e como esse amor se ma-
nifesta vivo e real na vida de cada povo,
de modo que se possa “responder adequa-
damente à sede de Deus de muitas pes-
soas, para que não tenham de ir apagá-la
com propostas alienantes ou com um Jesus

Imagens meramente ilustrativas.


Cristo sem carne e sem compromisso com
o outro” (EG 89).
144 págs.

A Igreja Povo de Deus é a Igreja capaz


de descobrir Jesus no rosto dos outros, na
sua voz, nas suas reivindicações (cf. EG Em 2018, a Igreja no Brasil
91); uma Igreja que luta para que o evan- celebrou o Ano do Laicato. Para
gelho adquira real inserção na vida do os leigos, foi tempo de celebrar
povo fiel de Deus e nas necessidades con- e confirmar o compromisso com
cretas da história. Porque uma Igreja que a missão que Deus lhes confiou:
prefere gozar de uma autocomplacência seguir Jesus Cristo, em busca
da santidade. Convidamos
egocêntrica a sair à procura dos que an-
você para conhecer melhor o
dam perdidos e das imensas multidões seu papel como leigo na Igreja
sedentas de Cristo é uma Igreja que não e na sociedade com o livro
traz, de fato, o selo de Cristo encarnado, Laicato: vocação e missão, de
crucificado e ressuscitado, mas, sim, uma Dom Orlando Brandes. Este
Igreja encerrada em si mesma, em grupos subsídio especial vai ajudá-lo
de elite (cf. EG 95). a compreender a identidade, a
No viés da Teologia da Libertação, sem vocação e a missão dada por
demonização, o papa Francisco estabelece Deus a todo fiel cristão.
o lugar privilegiado dos pobres no Povo
de Deus. Uma preferência que tem conse-
Vendas: (11) 3789-4000
quências na vida de fé de todos os cristãos 0800-164011
(cf. EG 198), porque diz respeito a uma
solicitude religiosa privilegiada e priori- paulus.com.br
tária (cf. EG 200).

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 35


“AS MOTIVAÇÕES DO PAPA FRANCISCO POR UMA ‘IGREJA EM SAÍDA’
SÃO LUZES QUE ILUMINAM A IGREJA PARA A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE
DE UM NOVO MODELO ECLESIAL, À LUZ DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO.”

3. A EXORTAÇÃO DO PAPA mais do que o temor de falhar, espe-


Desde quando a Igreja assumiu as ca- ro que nos mova o medo de nos en-
tegorias imperiais até tornar-se o que é cerrarmos nas estruturas que nos dão
hoje, precisou fazer uma opção: pôr o es- uma falsa proteção, nas normas que nos
sencial da fé cristã em segundo plano e transformam em juízes implacáveis, nos
priorizar o fortalecimento de suas estru- hábitos em que nos sentimos tranqui-
turas eclesiais. Por isso, em vez de evange- los, enquanto lá fora há uma multidão
lho, deu ao povo doutrina; em vez de fé, faminta e Jesus repete-nos sem cessar:
deu-lhe conceitos; em vez do querigma, “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc
deu-lhe dogmas; em vez do compromisso 6,37) (EG 49).
com o Reino, acomodou-o debaixo dos
seus preceitos. De tudo isso, o que restou Pensar numa “Igreja em saída” é, por-
foi um cristianismo frágil e descompro- tanto, não ter medo de rever determi-
metido com a causa do evangelho, pois, nados costumes, determinados preceitos
nesse modelo eclesial, o que definia um eclesiais, alguns muito radicados no curso
cristão católico não era a prática concreta da história e eficazes noutras épocas, mas
dos ensinamentos de Jesus, à luz do evan- incapazes de responder às exigências pró-
gelho, mas “considerava-se católico quem prias do tempo presente (EG 43). Tanto
professava visivelmente a fé, era valida- que muitas expressões nascidas em outras
mente batizado, aceitava os sacramentos épocas nos aparecem hoje como opacas
e vivia sob o governo do Romano Pon- e incompreensíveis (MIRANDA, 2017, p.
tífice, como vigário de Cristo na terra” 165). Isso deve levar a Igreja à convicção
(LIBANIO, 2005, p. 16). de que não pode mais confiar simples-
Foi a partir da longa construção desse mente na força do seu passado, mas é ne-
modelo eclesial que se moldou e conti- cessário conquistar os seus membros, um
nua a se moldar a consciência do cristão por um, sem medo e sem receio (COM-
católico, de modo que, quando se fala BLIN, 2000, p. 13), mesmo porque a Igre-
em sair para anunciar o evangelho, acre- ja não cresce por proselitismo, mas por
dita-se que fazê-lo é transmiti-lo sem- atração (cf. EG 14).
pre com fórmulas preestabelecidas ou Contudo, ainda que a exortação do
com palavras concretas que exprimam papa Francisco – entendida aqui não
um conteúdo absolutamente invariável como um documento específico, mas
(cf. EG 129). Esse dado histórico forta- como o corpus Franciscus (gestos, palavras
leceu indubitavelmente a construção de e ações) – se apresente como a esperança
uma consciência cristã cimentada numa de uma primavera para a Igreja católica, a
eclesiologia presa num emaranhado de certeza que fica é que sua novidade exor-
obsessões e procedimentos, de modo que tativa incomoda, porque mexe com uma
pensar numa “Igreja em saída” é quase estrutura milenar na qual, no decorrer da
um “risco”. Por isso, o papa Francisco história, foram se incorporando elemen-
nos assegura que tos secundários que atualmente são tidos

36 vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331


como prioritários e essenciais à fé cristã O papa Francisco não deseja nada mais
católica. Por isso, romper com esse para- que todo o Povo de Deus possa partici-
digma não é algo simples, porque exige, par da vida da Igreja, que ninguém se sin-
tanto do Magistério como do fiel cristão, ta excluído da vida eclesial, mas todos se
uma mudança radical de mentalidade, à sintam amados e acolhidos por Deus. A
luz do evangelho, antes que das normas “Igreja em saída” é justamente uma Igreja
e das regras doutrinais muitas vezes im- de portas abertas, a fim de acolher e ofe-
postas à força. recer a todos o testemunho salvífico do
Senhor. É uma Igreja que busca iluminar
CONCLUSÃO a humanidade com as luzes do evangelho,
No leme da Igreja está um papa que sem condicionar a fé cristã num emara-
leva a Roma a marcante experiência nhado de obsessões e procedimentos.
pastoral e missionária latino-america- As motivações do papa Francisco por
na: Francisco, que com afeição podemos uma “Igreja em saída” são luzes que ilumi-
chamar de “o papa dos pobres, o papa da nam a Igreja para a compreensão da neces-
fé, o papa da esperança”. Em Francisco sidade de um novo modelo eclesial, à luz
descortina-se a verdadeira mensagem do do evangelho de Jesus Cristo. Entretanto,
evangelho, que, por ser evangelho, in- se não houver adesão e a participação de
comoda, como Jesus incomodou no seu toda a Igreja, as motivações de Francisco
tempo. Nesse sentido, o papa não hesita podem se encerrar em si mesmas e a beleza
em transformar estruturas eclesiais que do evangelho poderá se esvair na superfi-
tentam, a todo custo, condicionar o di- cialidade de uma Igreja centrada em sua
namismo missionário da Igreja. própria autorreferencialidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMBLIN, José. Pastoral urbana: o dinamismo na evangelização. Petrópolis: Vozes, 2000.


______. Povo de Deus. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
FRANCISCO, Papa. Exortação apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do evangelho no
mundo atual. São Paulo: Paulus: Loyola, 2013.
KASPER, Walter. Papa Francisco: a revolução da misericórdia e do amor. Prior Velho: Paulinas,
2015.
LIBANIO, J. B. Concílio Vaticano II: em busca de uma primeira compreensão. São Paulo:
Loyola, 2005.
MIRANDA, Mário de França. A reforma de Francisco: fundamentos teológicos. São Paulo:
Paulinas, 2017.
PANAZZOLO, João. Missão para todos: introdução à missiologia. São Paulo: Paulus, 2006.
VELASCO, Rufino. A Igreja de Jesus: processo histórico da consciência eclesial. Petrópolis:
Vozes, 1996.

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ROTEIROS HOMILÉTICOS
Francisco Cornélio Freire Rodrigues*

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS do Pai, cujo olhar se dirige especialmente


1º de janeiro para os pobres, como os pastores do evan-
gelho deste dia. Essa obra maravilhosa teve
Pelo filho “nascido de mulher”, a participação ativa de Maria. Além de di-
Deus nos dá sua bênção zer sim, ela soube meditar e guardar no
coração as maravilhas realizadas por Deus
I. INTRODUÇÃO GERAL em sua vida pessoal e na história do povo
Na conclusão da oitava de Natal e início de Israel. Por isso, é justo que seja recor-
do novo ano civil, a Igreja celebra a soleni- dada, hoje e sempre, por ter contribuído
dade de Santa Maria, Mãe de Deus, recor- para que, pelo seu filho, a paternidade e a
dando a afirmação do Concílio de Éfeso, bênção de Deus se estendessem à humani-
no ano 431 d.C., que a definiu como Theo- dade inteira.
tókos, cujo significado literal é “geradora de No ano de 1968, o papa São Paulo VI
Deus”. A intenção da Igreja, no entanto, declarou 1º de janeiro como o Dia Mun-
com essa definição não era propriamente dial da Paz. É um convite aos cristãos para
incentivar ou promover um culto a Maria, que sejam construtores da paz, repudiando
mas ajudar na compreensão da identidade todas as formas de violência e vivendo re-
de Jesus, seu filho, como verdadeiro Deus lações fraternas, marcadas pelo amor. A paz
e verdadeiro homem. Por isso, essa celebra- é bênção de Deus aos seus filhos e filhas.
ção é altamente cristológica e soteriológi-
ca, como é toda a liturgia da Igreja. II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
As três leituras desta celebração, por si- 1. I leitura: Nm 6,22-27
nal, encontram seu ponto de unidade na A primeira leitura contém a bênção sa-
paternidade de Deus: sobre Israel (1ª lei- cerdotal do livro dos Números, transmitida
tura), sobre Jesus (evangelho) e sobre a hu- por Deus aos sacerdotes por meio de Moi-
manidade inteira (2ª leitura), resgatada da sés (cf. v. 22), para que abençoassem todo
escravidão do pecado pelo Filho e passan- o povo de Israel (cf. v. 23). Essa bênção era
do também à condição filial, a ponto de proferida no final de cada ato litúrgico no
poder chamar a Deus de Pai. O Filho de Templo de Jerusalém, incluindo os sacri-
Deus, nascido de mulher, é a bênção por fícios. Como é centrada no nome de Deus,
excelência, pois revela com clareza o rosto a invocação dessa bênção era exclusividade

*Pe. Francisco Cornélio Freire Rodrigues é presbítero da Diocese de Mossoró-RN. Possui mestrado em Teologia Bíblica pela Pontificia Università
San Tommaso D’Aquino – Angelicum (Roma). É licenciado em Filosofia pelo Instituto Salesiano de Filosofia – Insaf (Recife) e bacharel em
Teologia pelo Ateneo Pontificio Regina Apostolorum (Roma). É professor de Antigo e Novo Testamentos na Faculdade Católica do Rio Grande
do Norte (Mossoró-RN). E-mail: francornelio@gmail.com

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dos sacerdotes, uma vez que somente eles ber, que para a salvação não era necessário
tinham permissão para pronunciar esse outro meio, senão a fé em Jesus Cristo. O
nome. Com a destruição do Templo, pas- trecho lido hoje contém a única referência
sou a ser utilizada também nas sinagogas, que Paulo faz à mãe de Jesus, mesmo sem
como ainda é, até hoje. citar o nome de Maria (cf. v. 4).
Na linguagem bíblica, a bênção não é Com uma proclamação solene, Paulo
apenas uma declaração ou desejo de coisas declara, simultaneamente, as condições di-
boas, mas se trata de palavra performativa e vina e humana de Jesus: ele é o Filho de
eficaz que, de fato, transmite os dons invo- Deus enviado ao mundo, nascido de mu-
cados. Os sacerdotes são encarregados de lher e sujeito à Lei (cf. v. 4). A expressão
pronunciá-la, mas quem abençoa é Deus. A “nascido de mulher” recorda a fragilidade
bênção consta de três invocações do nome do ser humano (cf. Jó 14,1); “sujeito à Lei”
do Senhor, com dois pedidos em cada uma significa a inserção na história concreta de
delas. Como o número três significa perfei- um povo. Essa Lei fora dada por Deus para
ção, a tríplice invocação do nome de Deus corrigir a conduta dos pecadores; mesmo
evoca sua santidade e poder incomparáveis. sem pecado, Jesus submeteu-se a ela em so-
Os seis pedidos da bênção contemplam as lidariedade à humanidade pecadora. Dessa
principais necessidades para o ser humano situação paradoxal, ele conseguiu dois re-
viver feliz e podem ser sintetizados como sultados maravilhosos: libertou a todos os
proteção de Deus e paz. De todos os dons que estavam sujeitos à Lei e elevou todos
invocados, o maior deles é a paz, o shalom os nascidos de mulher à condição de filhos
hebraico, que significa o bem-estar do ser de Deus (cf. v. 5).
humano em todas as dimensões da vida: Na condição de filhos, todos passam a
prosperidade material, saúde, harmonia uma relação de intimidade com Deus, su-
nas relações com Deus e com o próximo e perando a situação de escravidão imposta
tudo o que conduz à felicidade. pela Lei. Por isso, recebendo o Espírito do
Essa fórmula de bênção revela aspectos Filho, aqueles que outrora eram escravos
importantes da identidade de Deus: trata- podem agora chamar a Deus, carinhosa-
-se de um “Deus pessoa” que tem nome mente, de “Abbá” (v. 6), termo aramaico
(cf. v. 27) e rosto (cf. vv. 25-26), e pretende que significa papai ou paizinho, o que de-
relacionar-se pessoalmente com seus filhos nota intimidade. Essa é a prova maior de
e filhas. Em Jesus, o Filho de Deus nascido que os cristãos já não são escravos, mas fi-
de mulher, esse rosto se torna ainda mais lhos e, portanto, herdeiros (cf. v. 7) de todos
claro e acessível a todos, pois Ele é a pleni- os dons divinos, como a salvação. Portanto,
tude da revelação. pelo Filho de Deus e de Maria, todos os
nascidos de mulher se tornam também fi-
2. II leitura: Gl 4,4-7 lhos de Deus, e isso é graça e bênção.
A segunda leitura é retirada da carta
aos Gálatas, uma das mais polêmicas que 3. Evangelho: Lc 2,16-21
Paulo escreveu. Nessa carta, ele combate a O evangelho é a continuação do trecho
tendência judaizante que queria impor a lido na noite de Natal. Ora, o anjo tinha
circuncisão e a observância de toda a Lei anunciado aos pastores que nascera para
como condição para os cristãos alcançarem eles um Salvador (cf. v. 11); marginaliza-
a salvação. Isso contradizia o que ele tinha dos e excluídos como eram, eles não esta-
ensinado nas comunidades da região, a sa- vam habituados a receber notícias tão boas

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assim, por isso tiveram pressa em conferir (cf. v. 21), o evangelista evidencia ainda mais
se o anúncio do anjo era verdadeiro (cf. v. a inserção concreta e plena do Filho de
16), pois quem espera por libertação não Deus na história; a experiência dos pastores
tem tempo a perder. Há aqui uma indica- não foi alucinação nem sonho. A circunci-
ção clara de que são os pobres e marginali- são é o atestado de pertença ao povo judeu
zados os primeiros destinatários da salvação e de sujeição à Lei vigente. A imposição do
inaugurada por Jesus. nome de Jesus revela a identidade e a missão
Tendo encontrado tudo conforme o do menino, pois esse nome significa “Deus
anjo tinha anunciado (cf. vv. 12.16.20), os salva”. Com a vinda do Salvador ao mundo
pastores se tornam também evangelizadores: – o Filho de Deus nascido de Maria –, a hu-
contam tudo o que lhes tinha sido dito (cf. manidade recebe definitivamente a bênção
v. 17) e fazem da vida um contínuo louvor e de Deus e conhece seu rosto, voltado pre-
ação de graças (cf. v. 20). A reação de quem ferencialmente para os pobres e excluídos.
os escuta é de admiração, pois é grande no-
vidade (cf. v. 18) – afinal, de acordo com III. PISTAS PARA REFLEXÃO
a mentalidade da época, os pastores não ti- Recordar os elementos que unem as três
nham credenciais para receber um anúncio leituras: a paternidade de Deus presente ao
tão magnífico, por serem considerados a es- longo da história e tornada plena com a vin-
cória da sociedade e, de acordo com a reli- da de Jesus ao mundo. A maior das bênçãos
gião, gente impura. Portanto, maravilhar-se é a certeza de que Deus é Pai. Como seus
com o que os pastores contaram, além de filhos, é nossa missão nos empenharmos, o
admiração, significa a compreensão de que máximo possível, na construção da paz no
uma nova história está sendo construída, mundo, promovendo a civilização do amor,
a partir dos pequenos e excluídos. O sinal vivendo como irmãos. Por isso, é incoerên-
mais evidente dessa reviravolta histórica é cia invocar a bênção de Deus e ser coni-
a condição do salvador recém-nascido: não vente com políticas armamentistas ou com
descansa em berço esplêndido, mas numa qualquer iniciativa que promova a violência.
manjedoura, em meio a moscas e esterco. Cabe-nos aprender com Maria a perceber o
A reação de Maria é ainda mais profun- agir de Deus na história e guardar tudo no
da. Como participante e colaboradora ati- coração. O rosto do Pai, revelado por Jesus, é
va de tudo o que estava acontecendo, ela acessível à humanidade, mas seu olhar se volta
“guardava todos esses fatos e meditava sobre especialmente aos mais necessitados, aos que
eles em seu coração” (v. 19), ou seja, refletia têm pressa pela libertação, como os pastores.
sobre os acontecimentos para, assim, apre-
ciar melhor o significado, inclusive juntando EPIFANIA DO SENHOR
com tudo o que já tinha vivido até então, 5 de janeiro
desde o anúncio do anjo (cf. Lc 1,26-38).
Como mãe do Filho de Deus e, portanto, Jesus, a luz de Deus
mãe de Deus também, ela sentia que a his- que ilumina todos os povos
tória da salvação estava sendo reescrita se-
gundo novos parâmetros, com uma inversão I. INTRODUÇÃO GERAL
de ordem: os últimos, como ela e os pasto- A Igreja celebra neste dia a Epifania do
res, passaram a ser os primeiros! Senhor, que significa a manifestação de
Com a circuncisão no oitavo dia, de Deus, em Jesus, como luz, guia e Senhor
acordo com a Lei, e a imposição do nome de todo o universo, com sua diversidade de

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raças, culturas e crenças. A liturgia da Pa-
lavra desta celebração possui uma riqueza
extraordinária, tanto estética quanto teoló- Paróquia missionária
gica, com clara unidade entre as três leitu- Projeto de evangelização e missão
paroquial na cidade
ras. Cada uma delas apresenta um elemen-
to de convergência para todos os povos da Pe. Humberto Robson de Carvalho
terra, ou seja, um ponto de unidade. Na
primeira leitura, esse elemento é a glória
do Senhor que volta a brilhar em Jerusa-
lém, o que motiva tanto os israelitas dis-
persos pelo mundo quanto os povos pagãos
a acorrer para lá, atraídos pelas luzes que
resplandecem do monte Sião, dissipando as
trevas em que estava envolto o mundo; no
evangelho, é o menino Jesus recém-nasci-
do que, por meio da estrela, atrai os magos
do Oriente para adorá-lo e homenageá-lo,
tendo em seus primeiros adoradores a re-
presentação simbólica de todas as nações

Imagens meramente ilustrativas.


da terra; na segunda leitura, o elemento
de convergência para toda a humanidade
é o mistério de Deus revelado em Cristo,
80págs.

mistério que consiste na admissão também


dos pagãos à salvação, como membros do
mesmo corpo, imagem da Igreja. A Igreja católica, por escolha
Celebramos, portanto, a manifestação de de Jesus, nasceu missionária
Deus ao mundo como luz que ilumina to- e desenvolveu-se no vigor
da missão. Os apóstolos
das as pessoas e culturas sem distinção, jun-
compreenderam essa escolha
tamente com a fraternidade universal gerada de Jesus e saíram em missão.
por essa luz que é Jesus; é ele a luz que bri- Papa Francisco já demonstrou
lha para o mundo, mas, ao contrário das ex- o desejo de que todos os
pectativas messiânicas do Antigo Testamen- agentes de pastoral tenham
to, seu brilho já não resplandece nos centros também uma atitude constante
de poder como palácios ou templos, e sim de saída. Este livro explica
nas periferias, naquilo que é simples e pa- como sair e que método utilizar
rece insignificante, como parecia ser aquele esse processo, ajudando a
transformar a comunidade
menino recém-nascido de Belém.
paroquial numa verdadeira
comunidade missionária.
II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura: Is 60,1-6
A terceira parte do livro de Isaías (Is
Vendas: (11) 3789-4000
56-66) é obra de um profeta anônimo que 0800-164011
exerceu seu ministério em Jerusalém no
período imediato ao exílio, provavelmente. paulus.com.br
Convencionou-se chamar esse profeta de

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 41


“Terceiro Isaías”, e é da sua obra que é reti- escondido para as gerações passadas, mas
rada a primeira leitura desta celebração. Je- agora foi revelado pelo Espírito Santo (cf.
rusalém estava sendo reconstruída, porém v. 5): em Jesus Cristo, a salvação chegou de-
com muita lentidão, gerando desânimo em finitivamente e é acessível a todos os povos.
boa parte da população que tinha acabado Judeus e “pagãos são admitidos à mesma
de retornar do exílio. herança, são membros do mesmo corpo,
Em nome de Deus, o profeta se encar- são associados à mesma promessa em Jesus
rega de injetar esperança no povo e anun- Cristo, por meio do evangelho” (v. 6); com
cia uma boa notícia: está perto o tempo de isso, devem desaparecer todas as barreiras
Jerusalém recuperar seu esplendor e ser, de que causam divisões na humanidade, seja
novo, revestida de luz e atrativa (cf. vv. 1-2). entre as pessoas de uma mesma família ou
Para isso, é necessário o empenho de todos comunidade, seja entre as diferentes nações
na reconstrução da cidade e do Templo, e religiões.
sobretudo, para a glória do Senhor voltar O que Paulo afirma convictamente não
a habitar sobre ela. Restaurada, Jerusalém é fruto de uma visão simbólica, como a do
será luz para as nações, ponto de encontro profeta na primeira leitura, e sim de uma
para toda a humanidade, sinal de unidade revelação de Deus e também de profunda
universal. O profeta não tem dúvidas de reflexão teológica. Em Jesus Cristo, todas
que isso acontecerá. Por isso, antecipada- as pessoas, de todos os povos, encontram
mente, descreve o movimento que congre- seu elemento de unidade, pois Ele não faz
gará todos os povos em Jerusalém: primei- distinção de pessoas, mas veio para formar,
ro, retornarão os filhos de Israel dispersos de todas as raças, um único povo.Todos são
pelo mundo (cf. v. 4); em seguida, as nações filhos de Deus e, por isso, são chamados à
estrangeiras também se encaminharão para fraternidade universal.
lá, atraídas pela sua luz, reconhecendo o
Senhor como Deus verdadeiro e universal, 3. Evangelho: Mt 2,1-12
e levando riqueza e dons, como ouro e in- O evangelho deste dia é o relato da vi-
censo (cf. vv. 5-6). sita dos magos, um texto exclusivo de Ma-
A visão do profeta prefigura, parcial- teus e um dos mais encantadores de todo
mente, o episódio dos magos no Evange- o Novo Testamento, pois, além de rica teo-
lho segundo Mateus. A salvação de Deus, logia, possui uma beleza ímpar. O relato se
simbolizada pela luz, não perdeu sua força inicia com as indicações de tempo e espaço
de atração; pelo contrário, em Jesus passou (cf. v. 1a), e com elas o evangelista recorda
a brilhar cada vez mais, tornando-se mais que Jesus não é um personagem mitológi-
acessível e próxima de todas as pessoas. Po- co, mas um ser real e concreto, que se inse-
rém, já não tem como ponto de irradiação riu plenamente na história, apesar do cará-
os templos ou palácios, e sim as periferias, ter simbólico do episódio. Os magos desse
como Belém. relato não são personagens reais, mas fruto
da inteligência e criatividade do evangelis-
2. II leitura: Ef 3,2-3a.5-6 ta, e representam todos os povos da terra,
Na segunda leitura, tirada da carta aos antecipando a universalidade do cristianis-
Efésios, Paulo se apresenta como escolhi- mo. Mesmo que a tradição tenha feito, não
do para anunciar o plano que Deus lhe fez é necessário determinar a quantidade, nem
conhecer por revelação (cf. v. 3). Esse plano seus respectivos nomes, nem, muito menos,
é o mistério da graça de Deus que esteve elevá-los à categoria de reis.

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O primeiro objetivo do relato é en- sim, adorar e experimentar a beleza des-
sinar que, em Jesus, a luz de Deus ganha se Deus que quer apenas misericórdia e
um alcance universal. Seu brilho chega a amor, e não mais sacrifícios.
todos os povos indistintamente, embora Em Belém, os magos contemplam o re-
haja clara opção preferencial pelos ex- cém-nascido e, prostrados, adoram-no (cf.
cluídos e marginalizados. Ora, os magos v. 11). Essa atitude mostra que finalmente
eram astrólogos, intérpretes de sonhos e se saciaram, encontraram sentido para suas
de fenômenos da natureza, praticantes da vidas e, portanto, esvaziaram-se de si, ofere-
magia, uma atividade condenada explici- cendo seus dons: ouro, incenso e mirra. Es-
tamente pela Lei de Moisés (cf. Lv 19,26; ses presentes são uma síntese da identidade
Dt 18,9-12). Ao apresentá-los como os de Jesus, simbolizando, respectivamente, a
primeiros adoradores de Jesus em seu realeza, a divindade e a condição humana
evangelho (cf. vv. 2.11), Mateus eviden- sujeita à morte. Não ofereceram porque
cia quem são os destinatários primeiros lhes fora exigido, mas porque se sentiram
da salvação: as pessoas de pouca reputa- confortados e correspondidos.
ção, vítimas de preconceitos, os pobres e O texto termina com uma afirmação de
marginalizados em geral. muita relevância para a comunidade cristã
Os magos se deixam conduzir pela e para todas as pessoas de todos os tempos e
estrela, mas somente por ela não con- lugares: os magos retornaram seguindo ou-
seguem chegar ao destino, embora che- tro caminho (cf. v. 12). Para viver essa nova
guem perto (cf. v. 1). Esse dado também relação com Deus, é necessário desviar-se
é muito importante, pois mostra que das antigas rotas e estruturas, representadas
Deus se deixa conhecer parcialmente por por Herodes e pelo Templo. Quem faz uma
meio dos elementos da criação, mas esse experiência autêntica com Deus segue ou-
conhecimento é limitado: não é possível tro caminho. Eles perceberam, finalmente,
chegar até ele sem o auxílio da Escritu- que Jerusalém só oferecia exploração, ga-
ra, mesmo que seus intérpretes oficiais, nância e violência. A experiência autêntica
como os sacerdotes e mestres da Lei (cf. com Deus faz o ser humano mudar a men-
vv. 4-6), tenham sido corrompidos pelo talidade e, consequentemente, o caminho a
poder. Por sinal, são os detentores de percorrer. Esse caminho significa o agir, o
poder, tanto político quanto religioso, jeito de viver.
os mais refratários à novidade de Jesus
(cf. v. 3). III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Guiados pela Escritura, os magos che- Deus sempre quis a harmonia entre to-
gam ao destino (cf. vv. 9-11). Como Je- dos os povos, pois sua palavra é luz que ilu-
rusalém estava contaminada pelo poder mina a todos, indistintamente. Jesus Cristo
arbitrário de Herodes e seus cúmplices, é a expressão máxima dessa luz. Quem se
as lideranças religiosas, lá não era possí- deixa iluminar por ele também se torna
vel encontrar-se com a luz de Deus nem luz na vida do próximo, e isso se expres-
adorar verdadeiramente. Somente se des- sa com atitudes de tolerância, respeito às
locando para a periferia puderam, de fato, diferenças individuais e culturais, diálogo,
experimentar o Deus que tanto buscavam. acolhimento e a eliminação de todo tipo
O Templo perdeu seu sentido, Deus já não de preconceito. Como os magos, os cris-
habita nele; é necessário retirar-se para a tãos são incansáveis caminheiros em busca
periferia, inserir-se na comunidade e, as- da luz de Jesus.

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BATISMO DO SENHOR a continuar a missão de Jesus no mundo,
12 de janeiro fazendo o bem como ele fez e praticando a
justiça que agrada a Deus.
Jesus de Nazaré, ungido
por Deus para fazer o bem II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura: Is 42,1-4.6-7
I. INTRODUÇÃO GERAL A segunda parte do livro de Isaías, cha-
Com a festa do Batismo de Jesus, que mada de “Livro da consolação” (Is 40-55),
conclui o tempo do Natal, a Igreja cele- é obra de um profeta anônimo, denomina-
bra mais uma epifania, mais uma mani- do “Segundo Isaías”, que exerceu seu mi-
festação de Deus, desta vez apresentando nistério na Babilônia, no final do exílio. A
Jesus como o Filho amado, enviado para primeira leitura deste dia é retirada dessa
salvar a humanidade e, assim, reconciliar a obra, especificamente do trecho que cor-
criação inteira com seu Criador. O batis- responde ao primeiro dos quatro cânticos
mo de Jesus é o momento inaugural do seu do “Servo do Senhor”.
ministério messiânico. Ele não necessitava O texto apresenta, antes de tudo, a ini-
passar por esse rito, pois não tinha pecado, ciativa de Deus: é ele quem escolhe, chama,
e João pregava um “batismo de conversão”, envia seu Servo para realizar seu projeto
destinado aos pecadores. Jesus submeteu-se de salvação no mundo, começando pela
ao batismo em solidariedade à humanida- implantação da justiça, e o torna luz das
de pecadora, como fez no cumprimento nações (cf. vv. 1.6). Julgar as nações, aqui,
de toda a Lei. não significa condená-las, mas oferecer-
A ênfase desta liturgia é a apresentação -lhes a justiça de Deus, até então conhe-
de Jesus como o enviado de Deus para cida somente por Israel e agora manifes-
realizar seu projeto de salvação. A primei- tada também a todos os povos. A maneira
ra leitura apresenta a figura do “Servo do de o Servo estabelecer a justiça no mundo
Senhor”, eleito e enviado por Deus para é descrita nas formas negativa e afirmati-
promover a justiça no mundo. Sustentado va (cf. vv. 2-4). Ao descrever a missão do
pela força do Espírito, esse Servo cumprirá Servo, o profeta está também denunciando
sua missão com fidelidade, rejeitando toda as práticas abusivas de todos os sistemas de
forma de violência e voltando-se para os dominação que fazem uso da força e da
mais necessitados: cegos, encarcerados e violência.
oprimidos em geral. A missão do Servo O Servo do Senhor é um agente de paz:
prefigura a missão de Jesus, aquele que é não se impõe pelo grito (cf. v. 2) e não
mais que servo, pois é o “Filho amado”, no usa a força sequer para “quebrar uma cana
qual o Pai pôs todo o seu agrado e con- rachada, nem para apagar um pavio que
fiança, como mostra o evangelho. A segun- ainda fumega” (v. 3), expressão que signifi-
da leitura é uma síntese da missão de Jesus, ca a mansidão. Por meio da missão do seu
iniciada depois do batismo: ungido com Servo, Deus quer instaurar nova ordem no
o Espírito Santo, ele fez somente o bem mundo, marcada pela justiça, solidarieda-
por onde passou, libertando os oprimidos de e amor. Os destinatários primeiros da
e vencendo todo tipo de mal. missão do Servo são os mais necessitados,
Ao recordar e celebrar o batismo de representados pelas figuras dos cegos e en-
Jesus, recordamos também nosso próprio carcerados (cf. v. 7), como síntese dos pre-
batismo, mediante o qual somos chamados feridos de Deus em todas as épocas. Sus-

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tentado pelo Espírito e pelo poder de Deus
(cf. vv. 1.6), o Servo cumprirá sua missão
com perseverança e fidelidade, até que Sujeitos no mundo
toda a humanidade conheça a justiça e a e na Igreja
verdade divinas (cf. v. 3-4).
João Décio Passos (org.)
A identidade do Servo é misteriosa;
provavelmente é a figura do próprio Israel
personificado, especificamente o resto do
povo que sobreviveu ao exílio e se man-
teve fiel à aliança com Deus. Os primeiros
cristãos identificaram o Servo da profecia
com Jesus, o Filho amado de Deus.

2. II leitura: At 10,34-38
A segunda leitura é um trecho do dis-
curso de Pedro na casa de Cornélio, o pri-
meiro pagão aceito oficialmente no cris-
tianismo sem passar pelo rito judaico da

Imagens meramente ilustrativas.


circuncisão, junto com toda a sua família.
O discurso começa com uma declaração
344 págs.

solene de Pedro, mostrando que ele com-


preendeu que a proposta de salvação de
Deus realizada por Jesus é destinada a todas
as pessoas, sem distinção de raça, cultura e A Nova Evangelização passa
religião (cf. vv. 34-35). pela ação missionária, que
A conclusão de Pedro de que Deus não prepara verdadeiros discípulos
faz distinção de pessoas (cf. v. 34) é fruto de de Jesus Cristo no mundo e para
reflexão pessoal e de revelação divina (cf. o mundo. Nesse sentido, cresce
na Igreja do Brasil o interesse
At 10,9ss). A única exigência para alguém
de Dioceses pela criação dos
tornar-se agradável a Deus é o temor e a Conselhos Diocesanos de
prática da justiça (cf. v. 35). Temor a Deus Leigos, visando aprofundar sua
não é medo, mas o reconhecimento da sua identidade e atuação. É preciso
soberania; é a aceitação de que somente no juntar forças, unir-se na mesma
seu Reino o ser humano encontra vida em ação evangelizadora, partilhando
plenitude e esse Reino começa já na terra. sonhos e desejos, convocando
Praticar a justiça é fazer a vontade de Deus, todos os batizados para uma
e esta consiste em gestos concretos de so- reflexão sobre a missão da Igreja
não apenas para os leigos, mas
lidariedade em favor dos mais necessitados.
com os leigos.
Deus se agrada, portanto, de quem faz o
bem, independentemente da religião ou da
cultura às quais pertença.
Vendas: (11) 3789-4000
Da declaração sobre a imparcialidade de 0800-164011
Deus, Pedro passa ao anúncio do querigma,
apresentando Jesus Cristo como o Senhor paulus.com.br
de todos os povos, embora Israel tenha

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 45


sido o primeiro destinatário da sua Boa- do quais serão os destinatários primeiros
-Nova (cf. v. 36); em seguida, ele faz uma da sua missão: os pecadores, as pessoas mais
retrospectiva, realizando a mais completa necessitadas e marginalizadas, sobretudo
síntese da vida de Jesus em todo o Novo pela religião.
Testamento (cf. At 37-42), embora a leitura Mateus é o único evangelista que relata
contemple apenas os primeiros versículos o diálogo entre João e Jesus no momento
dessa síntese (cf. vv. 37-38). O batismo foi do batismo (cf. vv. 14-15), e isso impri-
o ponto de partida do ministério de Jesus me uma riqueza ímpar à sua obra. Nesse
(cf. v. 37); ungido por Deus com o Espírito diálogo, cada um reconhece a vocação e
Santo, sua vida foi marcada pela prática do a missão do outro, e ambos se sentem in-
bem, libertando e curando quem padecia seridos num mesmo projeto de salvação.
dos mais diversos males, incluindo as doen- O protesto de João é o reconhecimento
ças, os preconceitos e todas as formas de de que Jesus não tinha pecados e de que
ameaça à vida digna e plena (cf. v. 38). é ele o autor do verdadeiro batismo (cf.
A prática do bem foi a principal carac- v. 14). As palavras de Jesus, suas primeiras
terística do ministério salvífico de Jesus; os no Evangelho de Mateus, contêm a sín-
pobres e marginalizados foram seus princi- tese programática da sua missão: o verbo
pais destinatários. Todos os batizados e ba- “cumprir” e o substantivo “justiça” (v. 15).
tizadas recebem a missão de conformar-se Essas duas palavras sintetizam o projeto de
a ele e, por isso, também devem fazer so- salvação de Deus que Jesus veio realizar.
mente o bem. “Cumprir” não significa simplesmente
executar ações, mas levar à plenitude, fa-
3. Evangelho: Mt 3,13-17 zendo bem-feito; “justiça”, biblicamente,
O batismo marca a conclusão da vida é a conformidade à vontade de Deus, le-
oculta de Jesus em Nazaré e o início da sua vando sempre em consideração sua predi-
vida pública. É um evento narrado pelos leção pelos pobres e marginalizados.
três evangelhos sinóticos (cf. Mt 13,13-17; A abertura do céu e a descida do Espí-
Mc 1,9-11; Lc 3,21-22), o que atesta sua rito Santo pousando sobre Jesus (cf. v. 16)
importância. A versão de Mateus, lida nesta significam a comunhão plena entre o divi-
liturgia, é, sem dúvida, a mais rica, como no e o humano que o Cristo veio realizar;
veremos a seguir. Além de ser o marco é a reconciliação entre o céu e a terra, ou
inaugural do ministério de Jesus, o batis- seja, entre Deus e a humanidade pecadora.
mo é um evento salvífico e programático. A voz do Pai que ressoa do céu é a confir-
Nesta cena tão curta, o evangelista revela a mação disso (cf. v. 17). O Pai pôs seu agra-
identidade de Jesus e antecipa as principais do no Filho porque sabe que este realiza
diretrizes da sua missão. plenamente sua vontade. Toda a vida de
Ao dizer que Jesus foi da Galileia para Jesus foi caracterizada pela solidariedade e
o Jordão a fim de ser batizado (cf. v. 13), pelo amor, sobretudo para com os pecado-
o evangelista não pensa apenas num mo- res, e é nisso que consiste o cumprimento
vimento físico, mas na essência da missão da justiça e da vontade do Pai.
do Messias. Ora, o batismo de João era
destinado aos pecadores, e Jesus não tinha III. PISTAS PARA REFLEXÃO
pecado. Indo ao encontro de João para ser Destacar a unidade entre as leituras: o
batizado, Jesus está sendo solidário com os projeto de salvação confiado ao Servo de
pecadores de todos os tempos e antecipan- Deus para fazer a justiça chegar a todos os

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povos (I leitura) é plenamente realizado tetizada nas palavras de João, ao aplicar-lhe
pelo Filho amado, que veio ao mundo para a imagem do Cordeiro e reconhecê-lo
“cumprir toda a justiça” (evangelho). Jesus como o Filho de Deus.
cumpriu toda a justiça, para o agrado do Como Escritura inspirada e performati-
Pai, porque fez somente o bem por onde va, esses textos não visam apenas contar ou
passou, promovendo sobretudo libertação descrever exemplos de vocação e missão,
e vida em abundância em favor dos mais mas também devem ajudar-nos a encon-
necessitados (II leitura). trar e assumir nossa vocação e missão neste
Recordar que a missão de todos os bati- mundo, a fim de podermos dizer como o
zados é continuar a missão de Jesus, ou seja, salmista: “Eis que venho, Senhor; com pra-
fazer o bem e combater todos os tipos de zer, faço vossa vontade!” (Sl 39,8).
preconceitos, já que Deus não faz distinção
de pessoas. II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura: Is 49,3.5-6
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM A primeira leitura é um trecho do se-
19 de janeiro gundo cântico do Servo do Senhor, um
texto que remonta à época do exílio na
Viemos ao mundo Babilônia. Esse Servo, de identidade mis-
para fazer a vontade do Senhor teriosa, conta, simultaneamente, sua voca-
ção e missão. Desde o ventre materno, foi
I. INTRODUÇÃO GERAL escolhido pelo Senhor para cumprir, em
Vocação e missão são os temas que a li- primeiro lugar, a missão de reunir o povo
turgia da Palavra evidencia neste domingo. de Israel disperso pelo mundo (cf. v. 5).
Deus tem um projeto de vida plena para a No contexto do exílio, essas palavras ser-
humanidade e, para executá-lo, quis a par- vem como injeção de ânimo, alimentando
ticipação e a colaboração humana, não por a esperança do retorno do povo à terra
necessidade, mas por pura bondade. Por prometida.
isso, ele escolhe, chama e envia. Na Antiguidade, o poder de uma divin-
A primeira leitura fala da vocação do dade era medido pela prosperidade do país
Servo do Senhor, escolhido por Deus des- que a invocava. Com o aniquilamento de
de o ventre materno para reunificar o povo Israel – o Norte pela Assíria e o Sul pela
de Israel e ser luz para as nações. Na se- Babilônia –, o que se colocava em questão
gunda leitura, temos indícios de duas vo- era a potência e a glória do seu Deus. Por
cações: a de Paulo, ao apresentar-se como isso, em paralelo à restauração do povo en-
“apóstolo de Jesus Cristo”, e a de todos os quanto nação, fala-se sempre da manifesta-
cristãos, especialmente os de Corinto, com ção da glória do Senhor (cf. v. 5). Reunir
a recordação do chamado comum e uni- Israel, ou seja, reconduzir o povo disperso e
versal à santidade. O evangelho também exilado ao país é apenas uma etapa da mis-
fala de vocação e missão, embora de modo são do Servo, e isso não basta. Sua missão
menos explícito do que nas duas leituras: consiste também em ser luz para as nações,
a vocação de João, enquanto precursor, a para que a salvação chegue até os confins
quem foi concedido o dom de reconhecer da terra (cf. v. 6).
Jesus como o “Cordeiro e Filho de Deus” A identidade do Servo é misteriosa,
e anunciar sua missão de “tirar o pecado como já afirmamos. Ora ele é identificado
do mundo”; a missão do próprio Jesus, sin- como a personificação do próprio povo

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de Israel (cf. v. 3) – ou seja, é uma perso- ciar o nome ou chamar, mas aderir pela
nalidade corporativa –, ora deve cumprir fé, sentindo-se convocado a participar da
uma missão em favor desse povo (cf. vv. assembleia, cuja adesão é outorgada pelo
5-6). Pelas características universais de sua Espírito Santo por meio do batismo. Esse
missão, pela predileção de Deus por ele e conceito exprime também a universalida-
pelo cumprimento da obra, esse Servo é de da salvação. É em Jesus Cristo, por meio
identificado pelos cristãos como prefigu- da Igreja, assembleia de todas as pessoas
ração de Jesus. chamadas à santidade, que a salvação chega
até os confins da terra.
2. II leitura: 1Cor 1,1-3
A segunda leitura compreende os pri- 3. Evangelho: Jo 1,29-34
meiros versículos da primeira carta de Pau- Assim como nas duas leituras, também
lo aos Coríntios, cuja leitura será continua- o evangelho fala de vocação e missão, em-
da nos próximos domingos. Essa é uma das bora com mais discrição. Ainda no prólo-
suas cartas mais importantes e polêmicas. go, o autor do Quarto Evangelho afirmou
No trecho lido hoje, porém, as polêmicas que “houve um homem enviado por Deus,
ainda não aparecem, já que o texto con- cujo nome era João, para dar testemunho
tém somente a saudação do remetente aos da luz” (Jo 1,6-7) – ou seja, de Jesus. Se
destinatários. Apesar de curta, a leitura traz João foi enviado para dar testemunho, sig-
elementos muito importantes que devem nifica que fora também chamado, escolhi-
ser evidenciados. do. O evangelho deste dia corresponde a
Apresentando-se como “apóstolo de um trecho do seu testemunho.
Jesus Cristo” (v. 1), Paulo confirma sua Enquanto, nos sinóticos, João é carac-
vocação de escolhido por Deus e enviado terizado e conhecido mais pela sua ativi-
para levar o evangelho, fonte de salvação, dade batizadora, no Quarto Evangelho ele
até os confins da terra. O termo “após- se destaca pelo testemunho, e não propria-
tolo” significa exatamente “enviado”; mente por aquela atividade. Além disso, no
com isso, ele quer dizer que a mensagem evangelho joanino ele é chamado apenas
não é sua, mas de Deus. Ao afirmar que de João, sem o nome funcional de Batista,
os cristãos são “chamados a ser santos” (v. utilizado na tradição sinótica.
2), Paulo quer dizer que há uma vocação O testemunho de João consiste no re-
primeira e essencial, destinada a todos os conhecimento e anúncio da identidade de
batizados: a santidade. Essa vocação à san- Jesus (Cordeiro; Filho de Deus) e da sua
tidade consiste em assimilar os valores do missão (tirar o pecado do mundo), tarefas
evangelho, independentemente do exercí- nada fáceis, pois não havia traços que dis-
cio de um ministério ou função específica tinguissem Jesus dos demais homens. Além
na comunidade. disso, havia muitas concepções de messia-
Outro elemento que não pode passar nismo na época, o que dificultava ainda
despercebido nessa leitura é o conceito mais; tanto que o próprio João foi confun-
de Igreja exposto por Paulo ao chamar os dido com o Messias, sendo alvo de inter-
cristãos à unidade, um dos mais belos de rogatório por isso (cf. Jo 1,19-24). Logo, o
todo o Novo Testamento: a Igreja é “to- testemunho de João é fruto de sua expe-
dos os que, em qualquer lugar, invocam o riência profunda com Deus (cf. v. 33).
nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 2); Do testemunho de João, duas afir-
invocar, aqui, não significa apenas pronun- mações se destacam: a primeira é a de-

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claração de que Jesus é “o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo” (v.
29). Embora tenha ressonâncias vetero- Evangelizar com o
testamentárias, essa expressão é única em Papa Francisco
toda a Bíblia: além de prefigurar a morte Comentário à Evangelii Gaudium
sacrifical de Jesus na cruz como cordeiro
Dom Benedito Beni dos Santos
pascal, contradiz os ideais messiânicos e
nacionalistas da época. Esperava-se um
Messias forte e guerreiro, que viesse ao
mundo para exterminar os pecadores por
meio da força, da violência. A imagem do
cordeiro, pelo contrário, evoca mansidão
e paz.
No culto do Templo, eram as pessoas
que ofereciam seus cordeiros a Deus
como sacrifício. O testemunho de João
anuncia um movimento inverso: é Deus
quem oferece seu cordeiro – seu próprio
Filho – à humanidade. Por isso, ele não

Imagens meramente ilustrativas.


apenas “expia” os pecados das pessoas,
mas também tira o pecado do mundo.
64 págs.

Esse pecado é a rejeição ao amor de Deus.


“Tirar o pecado do mundo”, portanto,
significa restabelecer a comunicação en-
tre a humanidade e Deus; é a proposta de A Exortação Apostólica
um mundo novo, cujas relações se dão Evangelii Gaudium tem o estilo
somente pelo amor. Enfim, é a superação e o cunho pessoal do Papa
Francisco. Sobretudo, expressa
do mal que impede o estabelecimento
seu humanismo personalista,
do Reino de Deus no mundo. que é o humanismo do
Embora surpreendente e nova, a iden- Evangelho. Além do Concílio
tificação de Jesus como “Cordeiro de Vaticano II, outra fonte
Deus” poderia ser compreendida como significativa dessa exortação
mera repetição das profecias sobre o “Ser- é o Documento de Aparecida,
vo do Senhor”, como aquela da primei- de cuja elaboração o então
ra leitura, por exemplo. Por isso, João vai cardeal Jorge Mario Bergoglio
mais além e, para não deixar dúvidas, afir- participou ativamente, na V
Assembleia do Episcopado
ma explicitamente que Jesus é o “Filho
Latino-Americano e do Caribe,
de Deus” (v. 34). Com essa afirmação, seu em maio de 2007.
testemunho chega ao ápice: é a confirma-
ção do cumprimento da sua missão de ser
testemunha da luz.
Vendas: (11) 3789-4000
Por ser o Filho de Deus, Jesus é o por- 0800-164011
tador por excelência do Espírito Santo
e o comunica a todos os que invocam paulus.com.br
seu nome.

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 49


III. PISTAS PARA REFLEXÃO com a exigência de conversão, o chamado
É importante enfatizar a relação temáti- dos primeiros discípulos como colabo-
ca entre vocação e missão nas três leituras, radores da sua missão e pequena síntese
bem como a sequência histórico-salvífi- da sua atividade libertadora. Mateus e sua
ca em ambas: o universalismo da salvação comunidade interpretaram isso como o
sempre esteve nos propósitos de Deus, cumprimento da profecia de Isaías, que
como atesta a designação do Servo para ser anunciou, quase oito séculos antes, o sur-
luz das nações (I leitura). No entanto, so- gimento de uma grande luz iluminando
mente em Cristo esse plano encontra seu a marginalizada e sofrida Galileia, região
cumprimento, pois ele “tira o pecado do que tinha acabado de cair nas mãos do
mundo”, uma vez que é mais que servo, é império assírio e vivia uma situação de
o Filho de Deus (evangelho). Por extensão, trevas. Por isso o evangelho se harmoniza
“a Igreja de Deus em Corinto” e em todos tão bem com a primeira leitura. De fato,
os lugares (II leitura) é uma demonstração o anúncio e o fazer acontecer do Reino
concreta de que, em Cristo, a salvação che- dos céus por Jesus, com sua coerência e li-
ga até os confins da terra. berdade, são como uma luz brilhando nas
Como assembleia reunida “em nome trevas, ou seja, têm um efeito transforma-
de nosso Senhor Jesus Cristo”, onde quer dor maravilhoso.
que esteja, a Igreja deve ser testemunha O Reino dos céus, no entanto, pode
autêntica do Cordeiro, contribuindo para ser ofuscado e deixar de brilhar como luz
que desapareçam do mundo os sinais de quando nas comunidades há divisões e ri-
pecado que impedem a vida em abundân- validades. Isso ocorre quando Cristo dei-
cia para todos, como a violência, as injus- xa de ser o centro da vida das pessoas e
tiças, os preconceitos, as divisões e todo das comunidades. A segunda leitura mostra
tipo de mal. que isso estava acontecendo na comunida-
Independentemente da especificidade de de Corinto e indica como Paulo pro-
da missão de cada um(a), todas as pessoas curou resolver esse problema. O Reino se
são chamadas por Deus a uma vocação manifesta e nós vemos a luz de Cristo so-
comum: a santidade. Esse chamado coin- mente quando ele mesmo é o centro da
cide com o compromisso de empenhar-se nossa existência. Por isso a conversão é in-
contra o mal enraizado nos corações e nas dispensável!
estruturas do mundo.
II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM 1. I leitura: Is 8,23b-9,3
26 de janeiro A primeira leitura é um oráculo mes-
siânico do final do século VIII a.C., quan-
Em Jesus, o Reino dos Céus do Israel do norte, território correspon-
irrompe como luz dente à região da Galileia, tinha sido
invadido e dominado pelo exército assírio.
I. INTRODUÇÃO GERAL Além de levar parte da população local
O centro da liturgia da Palavra desta como escrava, os assírios trouxeram povos
celebração é a inauguração do ministério estrangeiros para viver em Israel, princi-
de Jesus na Galileia, conforme o relato de palmente nas tribos de Zabulon e Neftali,
Mateus. Esse acontecimento compreende introduzindo ali costumes e cultos pagãos.
o início do anúncio do Reino dos céus, Por isso, aquela região ficou conhecida

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como “Galileia das nações ou dos pagãos” ou pelas habilidades retóricas do prega-
(8,23b). Com uma linguagem poética e dor. Por isso, “em nome de nosso Senhor
simbólica, o profeta Isaías anuncia a trans- Jesus Cristo”, Paulo exorta os cristãos da
formação daquela realidade caótica, mos- comunidade à concórdia, implorando que
trando o agir restaurador de Deus com superem as divisões entre si para recuperar
diversas imagens. a unidade (cf. v. 10).
O drama vivido pelas tribos mencio- As divisões acontecem quando o Cristo
nadas e por toda a região equivalia a um crucificado e ressuscitado, o único que deu
mundo de trevas, o que, na linguagem bí- a vida para nos salvar, deixa de ser o centro
blica, corresponde à ausência de vida e de da vida comunitária. Equivocadamente, os
Deus. A luz, o primeiro elemento criado cristãos daquela comunidade imaginavam
por Deus para tirar o universo do caos pri- pertencer ao apóstolo ou ao pregador por
mordial (cf. Gn 1,3), é a primeira imagem meio do qual lhes tinha chegado o anúncio
empregada pelo profeta para anunciar a do evangelho ou que lhes tinha adminis-
restauração (cf. 9,1). A passagem das trevas trado o batismo, e não a Cristo (cf. v. 12).
à luz é marcada pela alegria, expressa com Isso é inconcebível, pois é Cristo quem
duas imagens que simbolizam a prosperi- foi crucificado e é no nome dele que os
dade de uma nação: a alegria dos ceifeiros cristãos são batizados. Quem salva não é o
na colheita e a festa dos guerreiros após ministro que administra o batismo, nem o
vencer uma batalha (cf. 9,2). Por último, pregador, mas somente Cristo.
o profeta aponta a liberdade como coroa- Os pregadores são meros instrumentos,
mento da restauração de Israel, vendo os e Paulo tinha clara consciência disso. Com
instrumentos de opressão serem quebrados efeito, partindo do seu próprio exemplo,
(cf. 9,3) e comparando esse evento com a ele recomenda que os pregadores não po-
vitória de Gedeão sobre os madianitas (cf. nham a confiança nas próprias habilidades
Jz 7,16-21). retóricas, para que a adesão à fé seja moti-
O oráculo do profeta, portanto, apre- vada somente pela força do Cristo cruci-
senta a confiança em um Deus que não ficado e ressuscitado, pois o uso de muitos
abandona seu povo, por mais que este não recursos pode ofuscar o valor e o poder
lhe seja plenamente fiel e passe por mo- que a Palavra de Deus contém por si mes-
mentos difíceis ao longo da história. A luz ma (cf. v. 17).
anunciada pelo profeta brilhou de modo A comunidade cristã é o corpo de Cris-
definitivo e claro em Jesus, o libertador to, e toda vez que acontecem divisões entre
por excelência. os cristãos, é o próprio Cristo que está sen-
do dilacerado. É preciso manter a unidade
2. II leitura: 1Cor 1,10-13.17 e a harmonia, o que requer muito com-
Embora reconhecida pela sua diversida- promisso, tanto das lideranças quanto dos
de de ministérios e carismas, a comunidade membros da comunidade em geral.
de Corinto tinha sérios problemas inter-
nos. A segunda leitura mostra alguns desses 3. Evangelho: Mt 4,12-23
problemas, como Paulo ficou sabendo de- O evangelho apresenta o início da mis-
les (cf. v. 11) e como procurou resolvê-los. são de Jesus na Galileia. A prisão de João
O primeiro problema tratado pelo após- Batista é o sinal de que é chegada a hora
tolo foi a divisão dos cristãos em diversos de Jesus entrar em cena e apresentar sua
grupos ou partidos, atraídos pela simpatia mensagem libertadora (cf. v. 12). Como

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as tradições judaicas estão fortemente Reino em pessoa. A expressão “está pró-
enraizadas na comunidade de Mateus, o ximo” não se refere à temporalidade do
evangelho faz questão de apresentar Jesus Reino, mas exprime sua materialidade, sua
como o realizador das profecias do Antigo realização concreta, manifestada pelo estilo
Testamento. Assim, introduz a missão de de vida de Jesus e pelos sinais por ele reali-
Jesus como o cumprimento da profecia de zados: curas das doenças e enfermidades do
Isaías lida na primeira leitura. povo (cf. v. 23).
O início na Galileia indica, antes de O chamado imediato dos primeiros dis-
tudo, quem são os primeiros destinatários cípulos evidencia a urgência do Reino e
da sua mensagem: as pessoas excluídas e sua simplicidade. Jesus chama pessoas co-
marginalizadas. A população dessa região muns, envolvidas nos afazeres cotidianos:
periférica era considerada semipagã, devi- no caso, pescadores, que se dedicavam a
do à introdução de povos estrangeiros ali, lançar as redes ao mar e consertá-las (cf.
durante a dominação assíria. Embora tives- vv. 18.21). Ao chamar, confere uma missão:
sem se passado quase oito séculos, os ga- ser “pescadores de homens” (v. 19). Essa
lileus, para o judaísmo oficial, eram gente expressão não pode ser usada para justifi-
desprezível, adepta de costumes sincréticos car proselitismos e abusos de poder, mas é
e pouco ortodoxos. É a esse povo que Jesus necessário compreender seu sentido mais
se manifesta primeiro. profundo. O mar era considerado a mo-
A mensagem de Jesus consiste no anún- rada do mal, de acordo com a mentalida-
cio do Reino dos céus, o que os demais de bíblica. Era sinal de perigo e de morte.
evangelistas chamam de Reino de Deus. Ser pescador de homens, portanto, significa
Mateus prefere chamá-lo de “Reino dos empenhar-se para tirar as pessoas das situa-
céus”, expressão que se repete 32 vezes ções de negação da vida digna, consiste em
ao longo do livro. Esse Reino é dos céus promover a libertação de quem vive em
porque sua fonte originária é o amor de situações de opressão, seja esta socioeconô-
Deus, mas não se trata de uma proposta mica ou ideológica, incluindo a religiosa.
ou promessa de vida para o além. É um Enfim, é oferecer o amor vivificador de
projeto de mundo que consiste em novas Deus a todos, começando pelos mais ne-
relações, baseadas na justiça, no amor, no cessitados. Essa é a missão dos batizados
perdão, na solidariedade e no serviço. É e batizadas de todos os tempos, de quem
um ideal de mundo marcado por igual- acredita na força do amor!
dade e fraternidade, sem nenhum tipo
de preconceito. O anúncio do Reino é III. PISTAS PARA REFLEXÃO
acompanhado do convite à conversão, o É importante enfatizar o Reino como
que significa mudança radical de mentali- centro da mensagem de Jesus, apresen-
dade. De fato, é necessária nova mentali- tando a Igreja como a responsável para
dade para assimilar um projeto de mundo que esse Reino continue a se manifestar
tão inclusivo e inovador. como luz na vida das pessoas, no hoje
Para um povo oprimido pela domi- da história. O evangelho de Jesus Cristo
nação romana e desprezado pela religião é palavra viva e eficaz, com força em si
oficial, o judaísmo da época, essa mensa- mesma, mas essa força pode ser ofuscada
gem só poderia ser interpretada como luz pelas incoerências da comunidade, como
brilhando nas trevas. Jesus diz que o Rei- as vaidades das lideranças, as divisões e
no “está próximo” porque ele mesmo é o rivalidades que às vezes surgem entre os

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diversos movimentos e grupos. Cabe tra-
balhar a unidade entre os membros da
comunidade como critério de pertença a Impulsos e
Jesus e à Igreja. intervenções
Atualidade da missão
APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Paulo Suess
2 de fevereiro

Jesus é luz
e salvação do mundo
I. INTRODUÇÃO GERAL
Quarenta dias após o Natal, a Igreja ce-
lebra a festa da Apresentação de Jesus no
Templo. Essa festa surgiu no século IV, no
Oriente, sendo chamada de “festa do En-
contro”. Foi introduzida no Ocidente no
século VI, e no século X passou a ser uma
festa mariana, com o título de “festa da Pu-

Imagens meramente ilustrativas.


rificação da Bem-aventurada Virgem Ma-
ria”. A reforma litúrgica do Vaticano II res-
168págs.

tituiu seu sentido cristológico, dando-lhe


o nome atual de “festa da Apresentação do
Senhor”. No Oriente, ainda hoje é intitu-
lada “festa do Encontro” e é celebrada 40 Inovador e contemporâneo,
dias após a Epifania, em 14 de fevereiro. o volume aponta para a
Essa festa é muito significativa, e sua li- atualidade da missão e para
a necessidade da formação
turgia da Palavra possui uma riqueza ímpar.
permanente dos missionários
Na primeira leitura, o profeta Malaquias e missionárias, com temas
anuncia a vinda do Senhor ao Templo para missiológicos relevantes,
purificar seu povo, começando pelos res- desafios herdados e novas
ponsáveis pelo culto. O evangelho mostra questões sobre o assunto.
a realização do anúncio profético: de fato,
o Senhor veio, foi introduzido no Templo,
mas não conforme às expectativas, pois sua
introdução foi simples e discreta, só sendo
reconhecido por pessoas perseverantes e
dóceis ao Espírito Santo, como Simeão e
Ana. A segunda leitura confirma a surpresa
do evangelho: o Messias enviado, constituí-
do sumo sacerdote, não é um ser extraor-
Vendas: (11) 3789-4000
dinário, mas um de nós: Deus quis que ele 0800-164011
se fizesse em tudo semelhante a nós, exce-
to no pecado, para, experimentando nossas paulus.com.br
dores, aplicar sua infinita misericórdia.

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 53


II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS 2. II leitura: Hb 2,14-18
1. I leitura: Ml 3,1-4 Além de mostrar que Jesus é o envia-
A profecia de Malaquias remonta ao do de Deus, a segunda leitura ensina que
período do pós-exílio, quando o Templo somente nele a comunhão entre Deus e
de Jerusalém já tinha sido reconstruído e o a humanidade foi plenamente restabe-
culto restabelecido. Porém, a forma como lecida, pois é o único mediador perfeito,
o culto estava sendo praticado não corres- o sumo sacerdote por excelência (cf. Hb
pondia à vontade do Senhor, pois não era 4,14; 7,11). Por sinal, a carta aos Hebreus
acompanhado de obras de justiça. O pro- é o único livro do Novo Testamento que
feta denuncia essa situação e promete uma apresenta explicitamente Jesus como sumo
intervenção direta de Deus para purificar sacerdote, sendo esse seu tema principal.
seu povo, começando pelos agentes do A mediação realizada por Jesus é perfei-
culto. A primeira leitura anuncia essa inter- ta, porque, sendo Filho de Deus e possuidor
venção, caracterizada pela visita do Senhor. da natureza divina, ele assumiu plenamente
A intervenção de Deus anunciada pelo “a carne e o sangue” (v. 14), expressão que
profeta comporta duas etapas: na primei- significa a condição humana em sua tota-
ra, será enviado um mensageiro (anjo) para lidade, com as fragilidades e limites. Tor-
preparar o caminho do Senhor (cf. v. 1a); a nou-se semelhante a nós em tudo, exceto
segunda etapa compreende a visita solene do no pecado (cf. Hb 4,15). Experimentou a
próprio Deus ao seu Templo, por meio de morte para vencê-la e destruir quem tinha
um Messias enigmático, chamado ao mesmo poder sobre ela (cf. v. 14) e, assim, libertar
tempo de “Dominador” e “anjo da aliança” os que a ela estavam sujeitos como escravos
(v. 1b). A missão do Messias é reatar a comu- (cf. v. 15). Ele não veio ao mundo para ser
nicação entre Deus e seu povo mediante um solidário com os anjos, mas com a descen-
processo de purificação; as imagens do fogo dência de Abraão (cf. v. 16), ou seja, com a
do fundidor e da barrela dos lavadeiros ilus- humanidade pecadora, e redimi-la com sua
tram essa missão (cf. v. 2). O fogo, aqui, tem morte na cruz.
uma função purificadora, e não destruidora, O sumo sacerdócio de Jesus, portanto,
como em outras ocasiões. No fogo, os metais é perfeito, pois, como ele experimentou
preciosos, como ouro e prata, recuperam o o sofrimento e as fragilidades humanas,
brilho original; a barrela, substância utilizada sendo até tentado, é capaz de socorrer mi-
na lavagem de roupas, para tirar manchas e sericordiosamente a humanidade em suas
alvejar, tem função semelhante. Essa purifi- necessidades (cf. vv. 17-18). Graças a ele, o
cação consiste na eliminação das injustiças e gênero humano foi purificado e reconci-
na retomada de uma conduta ética adequada; liado para sempre com o Pai.
os destinatários primeiros são os responsáveis
pelo culto (cf. v. 3). Com os sacerdotes puri- 3. Evangelho: Lc 2,22-40
ficados, o culto por eles oferecido voltaria a O evangelho apresenta uma das cenas
agradar a Deus (cf. v. 4). mais significativas de todo o “evangelho da
A apresentação de Jesus no Templo é infância” de Lucas (Lc 1-2), o que justifica
interpretada pela liturgia do dia como o a existência e o título desta festa. Mais do
cumprimento da profecia de Malaquias, que a crônica de um fato da infância de Je-
embora o menino Jesus tenha caracterís- sus, o episódio descrito é uma revelação da
ticas completamente diferentes do Messias sua identidade messiânica, enquanto envia-
anunciado pelo profeta. do de Deus para salvar e iluminar o mun-

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do. Os pais de Jesus vão a Jerusalém para sequências da sua missão: ser sinal de con-
cumprir uma prescrição da Lei de Moisés tradição e queda para muitos em Israel (cf.
(cf. v. 22), o que evidencia sua inserção na v. 34). Cada pessoa deve tomar uma posi-
história como membro de uma família e ção pró ou contra o evangelho; por ser uma
de um povo concreto. O evangelista, po- mensagem essencialmente libertadora, que
rém, faz desse fato apenas um pretexto para visa à promoção da justiça, à inclusão e ao
revelar algo muito maior. direito dos pobres, muitos o rejeitarão.
O preceito da purificação era aplica- O papel de Ana é semelhante ao de Si-
do apenas à mãe: 40 dias após o parto, se meão (cf. v. 34). Ela pertencia à tribo que
a criança fosse menino, e 80 dias, se fosse ficava mais distante de Jerusalém, a tribo
menina (cf. Lv 12,1-8). Ao inserir Jesus na de Aser, no extremo norte da Galileia, cuja
cena, o evangelista ressalta seu protagonis- população era considerada quase pagã pelos
mo. Para esse rito, exigia-se a oferta de um chefes do Templo. Ao mencioná-la, Lucas
cordeiro para o sacrifício; quando a família enfatiza a importância da mulher e de todos
era pobre, poderia oferecer um par de ro- os excluídos na nova história que se inau-
las ou dois pombinhos, como fizeram José gura com a vinda de Jesus ao mundo. Sua
e Maria (cf. v. 24). Essa oferta é um sinal idade é simbólica: 84 anos, resultado de 12
que antecipa a preferência de Jesus pelos x 7; o número doze é imagem de Israel, sete
pobres. Durante todo o seu ministério, os significa perfeição (cf. v. 37). Ana é, portanto,
pobres serão os primeiros destinatários da a imagem do Israel perfeito que soube espe-
sua mensagem libertadora. A Lei não pres- rar a libertação e teve a capacidade de reco-
crevia a apresentação da criança; para a nhecer o Salvador numa criança simples e
consagração do primogênito (cf. v. 23; Ex de pais pobres, o que os chefes de Israel não
13,2), exigia-se apenas o pagamento do seu foram capazes de fazer. Por isso, seu louvor é
resgate (cf. Ex 13,12-13; 34,19-20). Ao di- perfeito e sincero (cf. v. 38).
zer que Jesus foi apresentado no Templo, O pai e a mãe de Jesus, maravilhados
Lucas quis enfatizar sua pertença ao Pai e a com o que tinham escutado (cf. v. 33), vol-
disponibilidade de Maria e José, que ofere- tam para Nazaré, para o cotidiano da vida
ceram o filho ao Senhor. (cf. v. 39), assistem ao crescimento do me-
Uma vez que Jesus é introduzido no nino e percebem a graça de Deus sobre ele
Templo, os ritos já não são descritos. O que (cf. v. 40). Do encontro do menino com
toma conta da cena é o inesperado encon- Ana e Simeão no Templo brota a certeza
tro com dois anciãos que reconhecem na de uma mudança radical na história: final-
criança o cumprimento de todas as pro- mente, os pobres são os primeiros, e a luz
messas de Deus ao seu povo, Israel: Simeão de Deus, antes monopólio de um povo,
e Ana (cf. vv. 25-38). Ambos são imagens agora é destinada a todas as nações da terra.
do resto de Israel que permaneceu fiel às
promessas divinas, no qual se destacam, so- III. PISTAS PARA REFLEXÃO
bretudo, os pobres. Sendo justo e piedoso, A festa deste dia é a verdadeira conclu-
Simeão era sensível ao Espírito Santo (cf. são do Natal e uma antecipação da Páscoa.
v. 25), por isso reconheceu em Jesus a sal- A oferta de Jesus a Deus, feita por Maria e
vação em pessoa, a glória de Israel e a luz José, prefigura sua oferta pessoal e seu sacri-
que ilumina todos os povos da terra (cf. vv. fício na cruz para a salvação do mundo. As
29-33). Reconhecendo Jesus como luz e leituras enfatizam o Templo como espaço
salvação do mundo, Simeão prevê as con- de encontro com o Senhor, e o culto como

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meio de comunicação imprescindível entre de tudo para refletir na própria vida a luz
Deus e seu povo. É importante chamar a de Cristo e dar sabor ao mundo, em uma
atenção para uma vida litúrgica ativa, sem comunidade marcada por divisões e vaida-
se descuidar dos elementos que tornam o des, como a de Corinto.
culto agradável a Deus: a justiça e a solida- Damos sabor ao mundo e o ilumina-
riedade para com os mais necessitados. A fé mos, portanto, quando fazemos das op-
em Jesus exige tomadas de posição radicais, ções de Deus as nossas, praticando o bem
cujas consequências podem ser dolorosas, e anunciando integralmente o evangelho
como Simeão anunciou a Maria. de Jesus Cristo, o crucificado e ressuscita-
do, mesmo que isso pareça loucura para o
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM mundo (cf. 1Cor 1,23).
9 de fevereiro
II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
A missão do cristão é dar 1. I leitura: Is 58,7-10
sabor ao mundo e iluminá-lo A terceira parte do grande livro de
Isaías (Is 56-66), chamada de “Terceiro
I. INTRODUÇÃO GERAL Isaías”, é uma obra anônima do pós-exílio
Com as imagens do sal e da luz, a litur- (século V a.C.). A primeira leitura, retirada
gia deste dia define a missão dos discípulos dessa obra, apresenta algumas advertências
e discípulas de Jesus no mundo: dar sabor e do profeta sobre a vida religiosa do povo,
iluminar. Essas imagens estão mais eviden- que tinha retornado do exílio da Babilô-
tes no evangelho, sendo utilizadas explici- nia. O que está em questão é a prática do
tamente por Jesus, mas encontramos ecos jejum (cf. Is 58,1-12). O povo acreditava
e ressonâncias também nas outras duas lei- que bastava jejuar e cumprir ritos peni-
turas, sobretudo na primeira, que também tenciais para agradar a Deus e, consequen-
emprega a imagem da luz. temente, atrair seus favores. O profeta, no
Ao povo que imaginava agradar a Deus entanto, pensava diferente.
com práticas penitenciais como o jejum, o O que agrada a Deus é que sua vontade
autor da primeira leitura faz uma advertên- seja feita, e esta não consiste em práticas
cia: se não estiver acompanhada de ações penitenciais ou ritos, mas em obras de jus-
concretas em favor dos mais necessitados, tiça e amor em favor dos mais necessitados,
essa prática é inútil. A luz de Deus só é re- como o profeta recorda: “Reparte o pão
fletida na vida de uma pessoa quando esta é com o faminto, acolhe em casa os pobres
praticante da justiça e do bem. A advertên- e peregrinos. Quando encontrares um nu,
cia do profeta está claramente em sintonia cobre-o” (v. 7). É nas necessidades mais bá-
com o evangelho, no qual Jesus declara que sicas e elementares do próximo que o amor
seus seguidores são “sal da terra” e “luz do deve se manifestar, e é esse tipo de jejum
mundo”. Jesus confere uma responsabili- que Deus espera do seu povo. Não basta,
dade ímpar aos seus discípulos, indicando porém, praticar o bem para agradar a Deus;
que a construção do Reino de Deus neste é necessário igualmente não ser coniven-
mundo depende essencialmente da coe- te com nenhum tipo de mal e exploração.
rência de vida deles. A segunda leitura traz Por isso, o profeta recomenda também que
o testemunho de um cristão que assumiu sejam destruídos os instrumentos de opres-
radicalmente a missão de ser sal da terra e são e sejam evitadas atitudes como a pre-
luz do mundo. É o caso de Paulo, que fez potência e a difamação (cf. v. 9).

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Somente quem age dessa forma pratica
um culto agradável a Deus e se torna re-
flexo da sua luz (cf. vv. 8.10b). As práticas Por uma paróquia
religiosas não são ruins, mas não têm sen-
tido se não são acompanhadas de uma vida missionária
coerente e atenta às necessidades do próxi- Gelson Luiz Mikuszka
mo. Embora empregue somente a imagem
da luz, o texto profético antecipa, ao me-
nos parcialmente, a mensagem de Jesus no
evangelho do dia.

2. II leitura: 1Cor 2,1-5


Paulo é exemplo de quem assimilou a
identidade e a missão cristã de ser sal da
terra e luz do mundo. É incontestável seu
esforço para refletir na própria vida a luz de
Cristo e dar sabor ao mundo pelo testemu-
nho. A segunda leitura é uma demonstra-

Imagens meramente ilustrativas.


ção disso. Nela, o apóstolo recorda as bases
da sua experiência evangelizadora na co-
munidade de Corinto.
176 págs.

Como afirmamos há dois domingos,


essa comunidade enfrentava sérios pro-
blemas, devido às divisões e rivalidades
que estavam sendo alimentadas entre seus A paróquia é célula viva da
membros, o que punha em risco a eficácia Igreja e lugar onde a maioria
dos fiéis faz sua experiência
do anúncio. Após a saída de Paulo, surgi-
eclesial com Cristo. Para que
ram lá novos pregadores que depositavam o papel evangelizador dessa
maior confiança em suas habilidades retó- grande e histórica instituição
ricas do que no conteúdo, o evangelho de alcance cada vez mais êxito,
Jesus Cristo, e isso dividia os cristãos em foram reavivados, neste livro,
diversos partidos, pois se deixavam atrair alguns debates surgidos na
pela retórica do pregador, e não pelo Cris- Conferência de Aparecida,
to crucificado (cf. 1Cor 1,10-13.17). Co- que desafiou a Igreja na
rinto era uma grande cidade grega e nela a América Latina a fazer de cada
comunidade eclesial
sabedoria humana era cultuada e propaga-
“um poderoso centro irradiador
da por diversas correntes filosóficas, o que da vida”.
gerava resistências à aceitação de um Deus
com aparências tão frágeis, como Jesus cru-
cificado. Diante disso, alguns pregadores
procuravam adequar a pregação à sabedo-
Vendas: (11) 3789-4000
ria humana por meio da retórica, fazendo a 0800-164011
cruz passar quase despercebida no anúncio.
Essa situação era intolerável para Pau- paulus.com.br
lo. Por isso, ele recorda sua experiência,

vidapastoral.com.br • ano 61 • n o 331 57


afirmando que não recorreu aos artifícios O sal é um elemento essencial para
da linguagem nem à sabedoria humana a vida e pode ser utilizado para diversas
(cf. v. 1), pois tais elementos poderiam funções, porém as principais são dar sabor
ofuscar o conteúdo e, consequentemente, e conservar. Os discípulos de Jesus, em sua
tornar despercebido o poder do evange- maioria pescadores, compreendiam muito
lho e da cruz. Ao ministro do evangelho bem o impacto de uma afirmação como
não interessa outro conteúdo senão estes esta: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal
quatro elementos básicos, sobre os quais se tornar insosso, com que salgaremos?” (v.
Paulo construiu sua experiência evange- 13a). A atividade pesqueira utilizava bas-
lizadora: o mistério de Deus (cf. v. 1), Jesus tante o sal para conservar os peixes para a
Cristo crucificado (cf. v. 2), o poder do Es- comercialização. Os discípulos pescadores
pírito (cf. v. 4) e o poder de Deus (cf. v. 5). sabiam o problema que era um sal estraga-
Para que a evangelização seja autêntica, o do. Seria um desastre total, todo o esforço
pregador deve renunciar a qualquer sinal de da pesca seria perdido. Assim, além de dar
vaidade ou busca de reconhecimento, pois sabor ao mundo, transformando realida-
as pessoas não podem ser atraídas pelas suas des, os discípulos têm a função de conser-
habilidades, mas somente pelo Cristo. Com var no mundo os valores do Reino. Esse
essa consciência, Paulo ensina como assimi- sal, portanto, é o conjunto das bem-aven-
lou tão bem sua missão de ser sal e luz. turanças, as quais só têm sentido e funcio-
nalidade se forem vividas concretamente
3. Evangelho: Mt 5,13-16 e de modo contínuo.
Iniciamos hoje a leitura do “discurso A imagem da luz atravessa toda a Bí-
da montanha” (Mt 5-7), cuja parte inicial, blia e é mais fácil de ser compreendi-
correspondente às bem-aventuranças (5,1- da, pois seu efeito é muito mais visível.
12), foi saltada, devido à festa da Apresenta- O próprio Mateus apresentou a missão
ção do Senhor, celebrada no domingo pas- de Jesus na Galileia como a irrupção de
sado. O trecho que lemos nesta liturgia é uma grande luz que iluminava quem es-
sua continuidade.Vale a pena recordar que tava nas trevas (cf. Mt 4,16). Ao dizer aos
as bem-aventuranças são o núcleo central discípulos “Vós sois a luz do mundo” (v.
de toda a mensagem de Jesus, retratam seu 14), Jesus está compartilhando com eles
estilo de vida e constituem o programa que sua própria vida e missão, e indicando-
ele propõe também aos seus discípulos. -lhes a responsabilidade de, pelo tes-
Empregando as imagens do sal e da luz, temunho, tornarem acesa como a luz a
Jesus fala da missão dos discípulos e do efeito presença deles no mundo. Os dois exem-
transformador deles no mundo, se viverem plos ilustrativos, a cidade sobre o monte
efetivamente as bem-aventuranças. De fato, e a lâmpada acesa no candeeiro (cf. v. 15),
da vivência das bem-aventuranças depende a só reforçam a responsabilidade dos discí-
instauração do Reino que ele oferece como pulos e dos cristãos de todos os tempos:
alternativa a um mundo marcado por injusti- manter o mundo iluminado por Jesus e
ças, egoísmo, corrupção, violência e todo tipo pelo seu evangelho, cuja síntese está nas
de mal. Esse Reino só pode se concretizar bem-aventuranças.
quando as pessoas, começando pelos discípu- Concluindo, Jesus adverte: os cristãos
los, assumirem um estilo de vida semelhante não podem buscar reconhecimento pessoal
ao de Jesus, ou seja, puserem em prática o pelas boas obras que realizam. Quem tem
programa das bem-aventuranças. de ser louvado é o Pai celestial (cf. v. 16).

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III. PISTAS PARA REFLEXÃO Jesus, a Lei era um entrave para a instaura-
Destacar a relação entre as três leituras ção do Reino que ele veio inaugurar neste
e o apelo ao testemunho que elas fazem: mundo, por isso a advertência aos discípu-
não tem sentido uma prática religiosa los que o evangelho traz: “Se vossa justiça
marcada por muitas devoções e poucos não for maior do que a justiça dos mes-
gestos de amor em favor dos mais neces- tres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis
sitados (I leitura); os seguidores de Jesus no Reino dos céus” (Mt 5,20). Por justi-
têm a responsabilidade de transformar o ça, aqui, entende-se a reta observação dos
mundo pelo anúncio e, sobretudo, pelo mandamentos, ou seja, da Lei.
testemunho (evangelho); o anúncio, para Está claro, portanto, que Jesus propõe
ser autêntico e credível, não pode ter a um jeito novo de interpretar a Lei de
sabedoria humana como fundamento, e Deus e, consequentemente, de observá-la,
sim Jesus Cristo crucificado (II leitura). dando-lhe sentido e cumprimento. Pau-
O cristão dá sabor ao mundo e o ilumi- lo recomenda, na segunda leitura, o que
na quando se conforma a Jesus, vivendo, realmente importa na vida cristã: a busca
como ele, as bem-aventuranças. pela sabedoria de Deus. Essa sabedoria é
o próprio Jesus, único intérprete autêntico
6º DOMINGO DO TEMPO COMUM da Lei divina.
16 de fevereiro
II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
Jesus é a sabedoria de Deus 1. I leitura: Eclo 15,16-21
e a plenitude da Lei Retirada do livro do Eclesiástico, a pri-
meira leitura recorda que o ser humano
I. INTRODUÇÃO GERAL é livre para fazer escolhas, pois foi Deus
A Lei de Deus foi dada como instrução mesmo quem lhe deu essa liberdade. Para
para que, por meio dela, o ser humano en- demonstrar melhor seu ensinamento, o
contre o caminho da felicidade, guiando autor se serve de algumas imagens anta-
sua existência com dignidade, liberdade e gônicas, como água e fogo (cf. v. 17) vida
harmonia com o Criador e com o pró- e morte, bem e mal (cf. v. 18), como é
ximo. Passível de interpretações variadas, típico da literatura sapiencial. Com isso,
nem sempre essa Lei foi aplicada em be- ele adverte que a liberdade humana com-
nefício da liberdade e da vida. Por causa porta responsabilidades e as escolhas ge-
disso, Jesus tomou para si a responsabili- ram consequências: quem estender a mão
dade de levá-la à plenitude (cf. Mt 5,17), na água se molhará, e quem a estender ao
corrigindo erros de interpretação trans- fogo se queimará (cf. v. 18); o mesmo vale
mitidos ao longo do tempo pelas lideran- para a escolha entre o bem e o mal. Pelas
ças religiosas de Israel. consequências do pecado, o ser humano
A primeira leitura recorda que o ser hu- está desautorizado a pecar, embora tenha
mano é livre para escolher entre o bem e liberdade para fazê-lo (cf. v. 21).
o mal, assim como para observar ou não os Entre as escolhas que o ser humano
mandamentos. Deus não impõe, porém ga- tem de fazer, está a observação ou não dos
rante que, escolhendo observar seus man- mandamentos de Deus. É importante re-
damentos, o ser humano será feliz, o que cordar que o Senhor não os impõe, mas
é referendado pelo salmista (cf. Sl 118,1). os apresenta como uma opção: “Se qui-
Da forma como era aplicada na época de seres observar...” (v. 16). Os mandamentos

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comportam, portanto, uma proposta de Para Paulo, a sabedoria de Deus não é
vida, um caminho que conduz à felicida- apenas diferente, mas totalmente incom-
de, pois são expressão da própria vontade patível com a sabedoria deste mundo, pois
de Deus. Observá-los ou não, contudo, não se manifesta em ações de aparência
é uma decisão pessoal, e isso vale para gloriosa, nem em discursos especulativos
toda a Lei. eloquentes, mas na cruz de Cristo. Essa
Junto com os mandamentos, o autor sabedoria é misteriosa e oculta (cf. v. 7),
evoca a sabedoria e o poder de Deus, é pouco atraente. Por isso, os “poderosos
que tudo vê (cf. v. 19). Quem observar os deste mundo” e qualquer pessoa que julga
mandamentos, portanto, atrairá sobre si o pelas aparências não chegam a conhecê-la
olhar de Deus, o que significa proteção (cf. v. 8).
e cuidado. Ao fazer confluir sabedoria e Enfim, essa sabedoria de Deus, tão es-
Lei, a primeira leitura nos prepara para a timada por Paulo, é o próprio Jesus Cris-
segunda e para o evangelho. As palavras de to crucificado, a quem se dá adesão e se
Jesus a respeito da Lei demonstram quan- conhece por meio do Espírito Santo (cf.
to esta é boa e não pode ser descartada v. 10), que tudo sabe e revela aos que lhe
nem reduzida. são sensíveis. Como cristãos, não devemos
buscar outra sabedoria senão essa.
2. II leitura: 1Cor 2,6-10
A segunda leitura mostra que Paulo 3. Evangelho: Mt 5,17-37
continua defendendo a autenticidade e a Continuando a leitura do discurso da
coerência do seu ministério apostólico na montanha, o evangelho apresenta o po-
comunidade de Corinto. Como a sabedo- sicionamento de Jesus diante da Lei, com
ria humana, objeto da busca dos filósofos, base em algumas questões específicas.
era muito apreciada naquela cidade grega, Antes de tudo, ele esclarece: “Não vim
alguns evangelizadores, depois de Pau- para abolir (a Lei), mas para dar-lhe ple-
lo, tentaram adequar o anúncio cristão à no cumprimento” (v. 17). Essa declaração
linguagem filosófica, ou seja, à sabedoria é de fundamental importância, pois não
deste mundo, ofuscando o poder e a gló- só desmente qualquer tentativa de classi-
ria da cruz. O trecho de hoje é uma con- ficá-lo como um opositor ou inimigo da
testação de Paulo a essa prática, com base Lei, como imaginavam os fariseus e escri-
no seu próprio exemplo, e um convite à bas, mas também denuncia que a Lei não
busca da sabedoria de Deus, a única que estava sendo interpretada nem cumprida
vale a pena. corretamente.
Antes de tudo, Paulo confessa que tam- A interpretação que Jesus aplica à Lei
bém falou de sabedoria em seu ministério, no evangelho deste dia não é uma rela-
mas não da sabedoria deste mundo (cf. v. tivização; ao contrário, é uma exigência
6). Aliás, entre os “perfeitos”, é impossível de seu cumprimento radical. Para os mes-
não falar da sabedoria, pois ela é compo- tres da Lei e os fariseus daquele tempo, o
nente básica do anúncio. O termo “perfei- cumprimento da Lei se resumia à obser-
tos”, aqui, não designa as pessoas melhores vação minuciosa do que estava escrito; Je-
ou mais capacitadas, mas os cristãos madu- sus vai além e a torna ainda mais exigente.
ros na fé, pessoas que reconhecem a sabe- No entanto, propõe que seja interioriza-
doria e o poder de Deus na fragilidade de da, que a adesão à Lei parta do coração,
um crucificado. de modo que ela deixe de ser um peso na

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vida das pessoas. Viver a Lei, nessa nova
perspectiva, é uma exigência básica para
entrar no Reino que Jesus oferece. Catequese e ecologia
Segundo Jesus, não é necessário co- Espiritualidade ecológica e
meter homicídio para descumprir o man- catequese responsável
damento que ordena: “Não matarás!”
Érica Daiane Mauri e Luiz Alexandre
Deve-se evitar qualquer tipo de dano ao Solano Rossi
próximo, incluindo sentimentos e palavras,
pois, na dinâmica do Reino, todos são ir-
mãos, e a vivência dessa fraternidade tem
prioridade até mesmo sobre o culto (cf. vv.
21-26). Sobre o mandamento que proíbe
o adultério, Jesus adverte que o pecado
não consiste somente na consumação do
ato, mas os pensamentos e desejos, mesmo
que não levem a nenhuma ação concreta,
já constituem transgressão do mandamen-
to (cf. vv. 27-30). A Lei permitia o divór-
cio em alguns casos (cf. Dt 24,1), mas era

Imagens meramente ilustrativas.


sempre favorável ao homem, deixando a
mulher em desvantagem. Para manter a sa-
240 págs.

cralidade do matrimônio como projeto de


Deus, Jesus não reduz a culpabilidade da
mulher, mas declara o homem igualmen-
te culpável. Assim, ele promove e eleva a “Menos mestres, mais
testemunhas; menos livros
dignidade da mulher, tirando-a de uma
religiosos, mais Bíblia.” Eis
condição de inferioridade em relação ao algumas pistas que os autores
homem (cf. vv. 31-32). deste livro sugerem, com a
O último aspecto tratado por Jesus diz preocupação de promover no
respeito à legislação sobre os juramentos interior da Igreja a renovação
(cf. vv. 33-37). Nas sociedades onde pre- que muitos invocam. Das
valecia a cultura oral, como a de Israel, os reflexões aqui presentes nasceu
juramentos tinham grande importância, um percurso em que o leitor,
tanto nas relações interpessoais quanto passo a passo, é colocado
diante da realidade eclesial
nas relações políticas e econômicas. Jesus
de hoje, sentindo-se estimulado
descarta completamente a necessidade de a dar sua contribuição para a
juramentos, pois essa prática dá margem à renovação da mensagem.
existência de relações mais sinceras do que
outras. Na comunidade do Reino, todas as
relações devem ser sinceras e transparen-
tes, e a verdade deve ser dita em qualquer
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situação. Por isso, não há necessidade de 0800-164011
juramentos: todos devem confiar em todos
reciprocamente, pois a base das relações é paulus.com.br
o amor fraterno.

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Ao propor uma maneira nova de inter- No evangelho, Jesus estende esse convite a
pretar e cumprir a Lei de Deus, Jesus tem toda a humanidade, por meio dos discípu-
em vista a edificação do Reino. Para en- los. O ser humano se torna santo quando,
trar no Reino, de fato, é necessário praticar em seu jeito de viver, se assemelha a Deus,
uma justiça superior àquela dos mestres da cultivando sentimentos e praticando ações
Lei e dos fariseus (cf. v. 20). Para tanto, é que correspondem à sua vontade. O cami-
necessário esquecer a Lei como um con- nho para isso é o amor – manifestado em
junto de normas e aceitá-la como um ca- atitudes de respeito, compreensão e solida-
minho de amor e liberdade, assimilando-a riedade – e a rejeição a todas as formas de
no coração. Somente assim ela alcança sua violência, ódio, rancor e preconceito.
plenitude, que é o próprio Jesus, enquan- A segunda leitura contém um lembrete
to manifestação visível da sabedoria e do importante de Paulo: a comunidade cristã
amor de Deus. é “santuário de Deus e morada do seu Es-
pírito” (1Cor 3,16-23). Isso exige adesão
III. PISTAS PARA REFLEXÃO plena dos cristãos para que esse santuário,
É importante recordar, em primeiro lu- enquanto construção, não venha a ruir. É
gar, que Deus nos criou para sermos felizes necessário reconhecer-se como perten-
e que alcançamos a felicidade quando reali- cente somente a Cristo, vivendo um amor
zamos sua vontade em nossa vida. Os man- semelhante ao dele, renunciando a qual-
damentos de Deus são sinais da sua von- quer sinal de glória ou sabedoria humana,
tade. Criados para a liberdade, no entanto, mesmo que tal atitude pareça insensatez
não podemos nos deixar aprisionar por um para o mundo. Isso habilita o ser humano a
conjunto de normas, pois isso contradiz o alcançar um estado de perfeição que é pró-
dinamismo e a imprevisibilidade da vida. prio do Pai celestial, mas, como ele é puro
Por conseguinte, é importante estarmos amor, compartilha sua perfeição também
atentos às palavras de Jesus e às situações com seus filhos.
concretas do dia a dia; recordar os sinais da
sabedoria de Deus nas comunidades, gru- II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
pos e movimentos. Como participantes e 1. I leitura: Lv 19,1-2.17-18
edificadores do Reino, cabe-nos receber os Retirada de uma seção do livro do Le-
mandamentos na ótica de Jesus, pois ele é vítico chamada de “código de santidade”
a plenitude da Lei e a sabedoria de Deus. (Lv 17-26), a primeira leitura se concentra
basicamente no tema da santidade. Esse có-
7º DOMINGO DO TEMPO COMUM digo é um conjunto de prescrições que di-
23 de fevereiro zem respeito a todas as dimensões da vida
do povo de Israel, como o culto, as relações
O caminho da santidade sociais e familiares e a moral. São conside-
é o amor radas exigências básicas para as pessoas al-
cançarem um estado de santidade próximo
I. INTRODUÇÃO GERAL ao do próprio Deus.
A liturgia deste dia enfatiza os temas Deus é o Santo por excelência, mas de-
da santidade e do amor. No início da pri- seja que seu povo também seja caracteriza-
meira leitura, temos um solene convite de do pela santidade (cf. v. 2), como sinal de
Deus ao povo de Israel: “Sede santos, por- pertença a ele e de distinção em relação aos
que eu, o vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). outros povos. Por isso, propõe um caminho

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capaz de conduzir seu povo à santidade, da presença de Deus e de seu Espírito na
que consiste basicamente na maneira de comunidade depende da maneira de viver
lidar com o irmão (cf. vv. 17-18), tendo o dos cristãos. Como Deus é santo, também
amor ao próximo como ponto culminante sua morada deve ser santa (cf. v. 17b). As di-
(cf. v. 18). A santidade é concebida, por- visões são um sinal visível da falta de amor
tanto, como a construção e a vivência da recíproco entre os cristãos; onde falta amor,
fraternidade com base em relações since- surgem rivalidades, ódio e vaidade. Isso
ras, sem sentimentos de ódio, vingança ou acontece quando se busca a sabedoria dos
rancor, sem nenhum sinal de violência (cf. homens (cf. v. 19), a qual para Deus não
v. 17). O amor ao próximo aqui proposto conta. Para edificar o “santuário de Deus”,
(cf. v. 18) é um passo importante da evo- é necessário cultivar somente a sabedoria
lução teológica nas tradições de Israel. De divina, mesmo que esta seja sinal de loucu-
fato, o amor, enquanto mandamento, era ra (insensatez) para o mundo.
um sentimento dispensado exclusivamente Na raiz dos problemas estava a falta
a Deus; propor o amor ao próximo é um da consciência de pertencimento a Cris-
reconhecimento de que Deus está presente to (cf. v. 23). Equivocadamente, muitos
na vida do outro. imaginavam pertencer não a ele, Cristo,
Esse trecho do Levítico revela, portan- mas ao apóstolo ou ao pregador por meio
to, um amadurecimento na concepção de do qual lhes tinha chegado o anúncio do
Deus, o que será continuado pelas tradi- evangelho ou que lhes tinha administra-
ções proféticas e aperfeiçoado por Jesus, do o batismo (cf. 1Cor 1,12). As divisões
pois, no contexto do Levítico, se entendia em partidos derivavam desse equívoco. O
como “próximo” somente o compatriota, último apelo da leitura é que essa menta-
o irmão de raça, membro do mesmo povo. lidade seja corrigida, até porque os prega-
Jesus alargará esse horizonte, como mostra dores, como instrumentos de Deus, é que
o evangelho do dia, ao exigir o amor até pertencem à comunidade, e não o contrá-
aos inimigos. rio (cf. vv. 21-23).
O pertencimento a Cristo, portanto, é
2. II leitura: 1Cor 3,16-23 o fator de unidade e fraternidade para os
Paulo continua a exortar os cristãos de cristãos de todos os tempos e o sinal de
Corinto a superar as divisões que estavam adesão total e radical à sabedoria de Deus,
ameaçando a unidade daquela comunidade mesmo que esta seja considerada loucura
e pondo em risco o edifício sólido que ele, (insensatez) para o mundo.
como apóstolo, tinha ajudado a construir.
Por isso, emprega a expressão “santuário de 3. Evangelho: Mt 5,38-48
Deus”, como imagem da comunidade cris- O evangelho do dia continua a leitu-
tã, para enfatizar que esta é o lugar privile- ra do discurso da montanha e é norteado
giado da morada de Deus e do seu Espírito pelos temas do amor e do perdão. Jesus
(cf. v. 16) e, ao mesmo tempo, para ilustrar deixou claro que não veio para abolir a
que ela é uma construção que exige a har- Lei, mas para cumpri-la (cf. Mt 5,17). Esse
monia entre todos os seus membros para cumprimento exige uma maneira nova de
manter-se de pé. interpretá-la, pondo-a à disposição do Rei-
As divisões internas comprometem a no e não a usando como um entrave, como
estabilidade desse santuário (cf. v. 17a), po- faziam os mestres da Lei e os fariseus (cf.
dendo levá-lo à destruição. A manifestação Mt 5,20). Para entrar no Reino – que não

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é o paraíso, mas o mundo fraterno pensa- nas o amor ao próximo (cf. Lv 19,18), e era
do por Deus para a terra –, os discípulos considerado próximo apenas o compatrio-
devem praticar uma justiça que supere as ta, o membro do mesmo povo, alguns rabi-
meras prescrições, ou seja, uma justiça que nos mais radicais interpretavam que quem
supere a dos mestres da Lei e dos fariseus. não fosse próximo poderia ser odiado, so-
A primeira observação de Jesus é a cor- bretudo quem fosse considerado inimigo.
reção da lei da retribuição (cf. Ex 21,24): Jesus corrige esse erro de interpretação
“Olho por olho e dente por dente” (cf. e propõe uma inversão radical: “Amai vos-
v. 38). Ela tinha o objetivo de evitar vin- sos inimigos e rezai por aqueles que vos
ganças excessivas e inibir novos atos de perseguem” (v. 44). Na lógica do Reino,
violência. A vingança era muito comum, todas as pessoas, indistintamente, devem ser
sobretudo nas sociedades mais arcaicas, e amadas, porque o parâmetro é Deus, o Pai,
quase sempre terminava em mortes. Para que “faz nascer o sol sobre maus e bons, e
evitar tais situações, essa lei propunha um faz cair a chuva sobre justos e injustos” (v.
equilíbrio entre o dano e a pena; por isso a 45). Tornar-nos filhos desse Pai é absorver
denominação “lei do talião”, que significa tal mentalidade, e esse é o critério decisivo
“tal e qual”. Quem era ferido num olho para fazer parte do Reino que Jesus ofere-
por alguém, ao vingar-se, não poderia ferir ce. O amor aos inimigos cancela a inimiza-
mais que o olho do seu agressor, e o mes- de. Esse amor nasce da paternidade univer-
mo valia para os demais membros do cor- sal de Deus e se concretiza no cotidiano da
po, para objetos roubados e bens em geral. vida, nas relações com os outros.
Numa perspectiva moderna, a referida lei Também com uma série de exemplos
parece absurda, mas na Antiguidade serviu do cotidiano (cf. vv. 46-47), como no caso
para evitar muitas catástrofes. da lei da retribuição, Jesus indica a direção
Jesus faz uma proposta completamente que seus discípulos devem tomar para se
diferente e nova: a passagem da retribuição tornarem perfeitos como o Pai celeste. Essa
ao amor gratuito, assumindo o perdão ili- perfeição só é alcançada quando se vive um
mitado, de modo que seja eliminada toda amor gratuito, generoso e desinteressado
forma de violência. Quando um discípu- como o dele.
lo de Jesus for vítima de violência ou de
qualquer ato de maldade, não pode pagar III. PISTAS PARA REFLEXÃO
na mesma moeda; o mal só pode ser com- Deus, o Santo por excelência, quer que
batido e vencido pelo bem. Destarte, com seus filhos também sejam santos. Para isso,
exemplos concretos do cotidiano, Jesus ele indica o caminho: o amor ao próximo
oferece uma ética nova e eficaz, quebrando e o cultivo de relações fraternas. Jesus, en-
a corrente da violência (cf. vv. 38-42). quanto plenitude da Lei, estende a exigên-
O segundo aspecto da Lei que Jesus cia do amor até mesmo àqueles conside-
considera neste evangelho diz respeito ao rados inimigos, ou seja, propõe um amor
mandamento do amor ao próximo, tam- sem distinção, semelhante ao do Pai. Esse
bém com uma compreensão radical que amor compreende a disposição de perdoar
ultrapassa qualquer lógica humana. An- sem limites, acolher as diferenças, eliminar
tes de tudo, é oportuno recordar que não preconceitos e violências. Para refletir esse
havia orientação alguma na Lei que reco- amor, a comunidade não pode alimentar
mendasse o ódio aos inimigos (cf. v. 44). divisões e rivalidades, pois isso ameaça sua
Como, porém, a norma recomendava ape- condição de morada de Deus.

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