Henry B. Eyring
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer forma ou por
qualquer meio sem a permissão por escrito da editora, Deseret Book Company, P. O. Box 30178, Salt
Lake City, Utah 84130. Esta obra não é uma publicação oficial de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias. As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor e não representam,
necessariamente, a posição da Igreja ou da Deseret Book Company.
Visite-nos em DeseretBook.com
(CIP em arquivo)
ISBN 978-1-60907-463-0
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
Table of Contents
Um Firme Alicerce
Hoje
Ajudá-los no Caminho para Casa
Famílias sob Convênio
Andar na Luz
Preparação Espiritual: Começar Cedo e Ser Constante
Crescimento Pessoal por Meio da Ajuda ao Próximo
Nosso Exemplo Perfeito
Filhos de Deus
Confiar em Deus e, Então, Agir
Preparação
“Soldado Abatido!”
Fortalecidos pela Adversidade
Adversidade
A Fé dos Nossos Antepassados
O Poder da Libertação
Na Força do Senhor
Viver uma Vida Consagrada
Oportunidades de Fazer o Bem
Servir com o Espírito
Estar à Altura do Chamado
Agir com Toda a Diligência
Um Filho e Um Discípulo
Com os Corações Entrelaçados em União
Ajuda para Enfrentar os Últimos Dias
Dons do Espírito para Momentos Difíceis
Bem-Aventurados os Pacificadores
Fé e Chaves
Oh, Lembrai-vos, Lembrai-vos!
Elevar os Padrões
Um Firme Alicerce
Hoje
A expressão algum dia, quando pressupõe “hoje não”, é muito perigosa.
“Algum dia vou-me arrepender.” “Algum dia vou perdoá-lo.” “Algum dia
vou falar da Igreja para o meu amigo.” “Algum dia vou começar a pagar o
dízimo.” “Algum dia vou voltar ao templo.” “Algum dia ... ”
As escrituras deixam bem claro o perigo de adiar as coisas. O perigo é
descobrirmos que nosso tempo se esgotou. Deus, que nos dá cada dia como
um tesouro, pedirá que prestemos contas. Nós vamos chorar, e Ele vai chorar
também se nossa intensão de arrepender-nos e servir a Ele tiverem ficado
sempre para um amanhã que nunca chegou ou se tivermos passado a vida
sonhando com as oportunidades perdidas do passado. O dia de hoje é um
dom precioso de Deus. A atitude de deixar as coisas para “algum dia” pode
roubar-nos as oportunidades de aproveitar nosso tempo e receber as bênçãos
da eternidade.
Há uma solene advertência e um conselho nas seguintes palavras do
Livro de Mórmon:
“E agora, como vos disse antes, já que haveis tido tantos testemunhos,
peço-vos, portanto, que não deixeis o dia do arrependimento para o fim;
porque depois deste dia de vida que nos é dado a fim de nos prepararmos para
a eternidade, eis que, se não fizermos melhor uso de nosso tempo nesta vida,
virá a noite tenebrosa, durante a qual nenhum labor poderá ser executado.
Não podereis dizer, quando fordes levados a essa terrível crise:
Arrepender-me-ei para retornar a meu Deus. Não, não podereis dizer isso;
porque o mesmo espírito que possuir vosso corpo quando deixardes esta vida,
esse mesmo espírito terá poder para possuir vosso corpo naquele mundo
eterno” (Alma 34:33–34).
Então, Amuleque adverte que procrastinar o arrependimento e o serviço
pode fazer o Espírito do Senhor afastar-Se de nós. Mas, além dessa
advertência, ele nos dá a seguinte esperança: “E isto eu sei, porque o Senhor
disse que não habita em templos impuros, mas no coração dos justos ele
habita; sim, e disse também que os justos se sentarão em seu reino para não
mais sair; suas vestimentas, porém, deverão ser alvejadas pelo sangue do
Cordeiro” (Alma 34:36).
As escrituras estão repletas de exemplos de sábios servos de Deus que
valorizavam o dia presente e optaram por fazer todo o possível para se
purificar. Josué foi um deles: “Escolhei hoje a quem sirvais; (…) ”, disse ele,
“porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15).
O serviço ao Senhor convida o Espírito Santo a estar conosco. O
Espírito Santo, por sua vez, purifica-nos dos pecados.
Até o Salvador, que não tinha pecados, mostrou-nos pelo exemplo a
necessidade de não procrastinar. Ele disse:
“Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a
noite vem, quando ninguém pode trabalhar.
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (João 9:4–5).
O Salvador, agora ressurreto, é hoje e sempre a Luz do Mundo. É Ele
que nos convida a achegar-nos a Ele e a servir a Ele sem demora. Este é Seu
incentivo para nós: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem,
me acharão” (Provérbios 8:17).
Isso se aplica tanto a cada dia como à vida como um todo. Se fizermos
uma oração matinal e estudarmos as escrituras logo cedo para descobrir como
servir ao Senhor, isso poderá determinar o curso do nosso dia. Podemos
descobrir quais atividades, entre todas a serem escolhidas, são mais
importantes para Deus e, portanto, para nós. Aprendi que tais orações são
sempre respondidas, caso peçamos e ponderemos com a submissão de uma
criança e caso estejamos dispostos a agir sem tardar na realização até do
serviço mais humilde.
Haverá muitos dias em que não será fácil fazer aquilo que é mais
importante. E não é para ser fácil. O propósito de Deus na criação foi pôr-nos
à prova. O plano foi-nos explicado no mundo espiritual, antes de nascermos.
Lá, fomos valentes o bastante para termos a oportunidade de resistir à
tentação aqui na Terra a fim de nos prepararmos para a vida eterna, que é o
maior de todos os dons de Deus. Ficamos exultantes ao saber que a prova
seria de obediência e fidelidade, ainda que não fosse fácil.
Mesmo sabendo o quanto a prova seria difícil, ficamos alegres porque
sabíamos que era possível ser bem-sucedidos. Nossa confiança advinha de
sabermos que Jesus Cristo viria ao mundo para ser nosso Salvador. Ele
venceria a morte e possibilitaria que fôssemos purificados de nossos pecados
se nos qualificássemos para que os efeitos de Sua Expiação agissem em nós.
Também conhecíamos alguns detalhes tranquilizadores sobre o que
teríamos de fazer para ser devidamente purificados. Para a purificação dos
pecados, tudo o que precisaríamos fazer seria ser batizados pela devida
autoridade, receber o Espírito Santo pelas mãos de portadores do sacerdócio
autorizados, recordar-nos do Senhor e, consequentemente, ter Seu Espírito
conosco e, por fim, guardar Seus mandamentos. Tudo seria possível até para
o mais humilde de nós. Não seria preciso uma inteligência excepcional nem
riquezas ou vida longa. E sabíamos que o Salvador nos atrairia a Ele e teria o
poder de ajudar-nos quando a prova fosse difícil demais e a tentação de
procrastinar, forte demais.
Todos nós necessitaremos da ajuda Dele para evitarmos a tragédia de
adiar o que precisamos fazer aqui e agora para conquistar a vida eterna. Para
a maioria de nós, a tentação de procrastinar virá de um destes dois
sentimentos diametralmente opostos (ou de ambos): um é o sentimento de
satisfação com o que já fizemos; o outro é o desânimo diante do que ainda
precisamos fazer.
A complacência é um perigo para todos nós. Pode atingir jovens
ingênuos, que acham que terão muito tempo pela frente para as coisas
espirituais. Talvez suponham já ter feito muito considerando-se o pouco
tempo que viveram. Sei por experiência própria que o Senhor pode ajudar os
jovens nessa situação a verem que já estão imersos em coisas espirituais hoje.
Ele pode ajudá-los a ver que os colegas da escola os estão observando. Pode
ajudá-los a ver que o futuro eterno desses colegas será afetado pelo que virem
vocês fazerem ou deixarem de fazer. Um simples “obrigado” pela influência
positiva deles sobre vocês poderá inspirá-los mais do que vocês imaginam.
Se pedirem a Deus, Ele pode e vai revelar-lhes oportunidades de elevar o
próximo por Ele, oportunidades essas que Ele pôs a sua volta desde a
infância.
A complacência pode afetar até adultos experientes. Quanto mais tempo
passamos servindo ao Senhor com dedicação, mais fácil é para o tentador
colocar em nossa mente a seguinte mentira: “Agora você merece descansar”.
Talvez você já tenha sido a presidente da Primária do seu ramo duas vezes;
ou talvez tenha trabalhado com afinco na missão e feito muitos sacrifícios
para servir; ou talvez tenha sido o pioneiro da Igreja na sua região. Pode ser
surja o pensamento: “Por que não deixar a obra para os mais novos? Já fiz
minha parte”. A tentação será acreditar que você voltará a servir um dia.
O Senhor pode ajudá-los a enxergar o perigo de descansar por acharem
que já fizeram o bastante. Ele me ajudou ao dar-me a oportunidade de
conversar com um de Seus servos idosos. Ele estava fraco, com o corpo
debilitado por décadas de trabalho fiel e enfermidades. Tinha ordens médicas
para não sair mais de casa. A seu pedido, relatei uma viagem que fizera a
serviço do Senhor por vários países, com dezenas de reuniões e muitas
entrevistas pessoais, nas quais ajudei pessoas e famílias. Falei-lhe da gratidão
que as pessoas me tinham externado por ele e seus muitos anos de serviço.
Ele perguntou se eu teria outra designação em breve. Mencionei outra longa
viagem dentro em pouco. Ele me surpreendeu e me deu uma vacina contra a
complacência — que espero que dure para sempre — quando me segurou
pelo braço e pediu: “Ah, por favor, leve-me junto”.
É difícil saber quando já fizemos o bastante para que a Expiação
transforme nossa natureza e, assim, nos torne merecedores da vida eterna.
Não sabemos quantos dias teremos para prestar o serviço necessário para que
essa mudança ocorra, mas sabemos que teremos dias suficientes, contanto
que não os desperdicemos. Eis as boas novas:
“E os dias dos filhos dos homens foram prolongados de acordo com a
vontade de Deus, para que se arrependessem enquanto estivessem na carne;
portanto o seu estado se tornou um estado de provação e o seu tempo foi
prolongado, de acordo com os mandamentos dados pelo Senhor Deus aos
filhos dos homens” (2 Néfi 2:21).
Essa garantia do Mestre pode ajudar aqueles de nós que se sentem
oprimidos devido a circunstâncias difíceis. Nas provas mais difíceis, contanto
que tenhamos forças para orar, poderemos pedir a um Deus amoroso: “Por
favor, deixa-me servir hoje. Pouco importa se sou capaz de fazer apenas
poucas coisas. Só me mostra o que posso fazer. Hoje, eu serei obediente. Sei
que conseguirei, com o Teu auxílio”.
O Senhor pode inspirá-los serenamente a fazer algo simples como
perdoar alguém que os ofendeu. Isso pode ser feito até de uma cama de
hospital. Pode orientá-los a ajudar alguém que esteja com fome. Talvez vocês
já se sintam sobrecarregados pela sua própria falta de recursos ou pelos
afazeres do dia, mas, se decidirem não esperar até terem mais forças e mais
dinheiro, e se orarem e pedirem para ter o Espírito no cotidiano, saberão, no
momento certo, o que fazer e como ajudar alguém ainda mais necessitado que
vocês. Assim, talvez acabem por descobrir que essas pessoas estavam orando
e esperando que alguém como vocês aparecesse em nome do Senhor.
Para aqueles que estão desanimados com as circunstâncias em que se
encontram e, por isso, sentem-se tentados a achar que não podem servir ao
Senhor hoje, faço duas promessas. Por mais difíceis que as coisas pareçam
hoje, elas vão melhorar amanhã se vocês optarem hoje por servir ao Senhor
de todo o coração. Talvez sua situação não melhore tanto quanto gostariam,
mas vocês receberão novo alento para levar seus fardos e renovada confiança
de que, quando sua carga estiver pesada demais, o Senhor, a quem servem,
arcará com o peso que vocês não forem capazes de suportar. Ele sabe como
fazê-lo; está preparado há muito tempo. Ele sofreu suas enfermidades e dores
quando ainda na carne a fim de saber como os socorrer.
A outra promessa que lhes faço é que, se decidirem servir a Ele, sentirão
o Seu amor e passarão a amá-Lo ainda mais. Talvez se lembrem da seguinte
escritura:
“Digo-vos: quisera que vos lembrásseis de conservar sempre o nome
escrito em vosso coração (…) para que ouçais e conheçais a voz pela qual
sereis chamados e também o nome pelo qual ele vos chamará.
Pois como conhece um homem o mestre a quem não serviu e que lhe é
estranho e que está longe dos pensamentos e desígnios de seu coração?”
(Mosias 5:12–13.)
Se servirem a Ele hoje, vocês O conhecerão melhor. Sentirão Seu amor
e Sua gratidão. Não creio que desejem adiar essa bênção. Sentir esse amor os
levará a voltar a servir a Ele, eliminando tanto a complacência quanto o
desânimo.
Ajudá-los no Caminho para Casa
Nosso Pai Celestial deseja e precisa de nossa ajuda para trazer Seus
filhos espirituais de volta a Sua presença. E isso inclui os jovens que já estão
em Sua Igreja verdadeira e já começaram a trilhar o caminho estreito e
apertado que nos leva de volta ao nosso lar celestial. Ele quer que adquiram
cedo a força espiritual para permanecer no caminho. Ele precisa de nossa
ajuda para levá-los rapidamente de volta ao caminho caso comecem a se
afastar Dele.
Eu era um jovem bispo quando comecei a entender claramente por que o
Senhor quer que fortaleçamos crianças e jovens desde cedo e que os
resgatemos rapidamente. Vou contar-lhes a história de uma jovem que
representa muitos daqueles que tentei ajudar ao longo dos anos.
Ela estava sentada diante de mim no bispado. Falou-me de sua vida.
Havia sido batizada e confirmada membro da Igreja quando tinha oito anos.
Não havia lágrimas em seus olhos ao contar-me o que lhe acontecera nos
mais de 20 anos seguintes, mas havia tristeza em sua voz. Ela disse que a
espiral descendente começara com a decisão de associar-se a pessoas que ela
considerava animadas e divertidas. Começou a quebrar o que a princípio lhe
pareceram ser mandamentos menos importantes.
No começo, sentiu um pouco de tristeza e uma pontada de culpa, mas o
convívio com os amigos proporcionou-lhe um sentimento novo de ser aceita
e querida, de modo que suas ocasionais decisões de arrepender-se começaram
a parecer-lhe cada vez menos importantes. À medida que aumentava a
gravidade dos mandamentos que ela quebrava, o sonho de um lar eterno e
feliz pareceu desfazer-se.
Sentada diante de mim sentia-se angustiada e triste. Queria que eu a
resgatasse da armadilha de pecados em que se havia enredado. Mas, a única
para ela, a única saída seria ter fé em Jesus Cristo, quebrantar o próprio
coração e arrepender-se para, assim, ser purificada, transformada e fortalecida
pela Expiação do Senhor. Prestei-lhe meu testemunho de que isso ainda era
possível. Foi, porém, muito mais difícil do que teria sido se ela tivesse sido
guiada pela fé, mais cedo na vida, em sua jornada de volta à presença de
Deus, logo que começou a afastar-se do caminho.
Portanto, a melhor maneira de ajudarmos os filhos de Deus é
proporcionar-lhes meios de edificar a própria fé em Jesus Cristo e em Seu
evangelho restaurado desde cedo. Depois, precisamos ajudar a reacender essa
fé rapidamente, antes que ela se apague, sempre que eles começarem a
afastar-se do caminho.
Portanto, todos podemos contar que teremos quase que continuamente
oportunidades de ajudar os filhos de Deus em sua jornada de volta ao lar. O
Salvador disse-nos por que isso aconteceria ao descrever a perigosa jornada
que todos os filhos espirituais de Deus enfrentam na tentativa de voltar para
casa através da névoa criada pelo pecado e por Satanás:
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho
que conduz à destruição e muitos são os que entram por ela;
porque estreita é a porta, e apertado é o caminho que conduz à vida; e
poucos são os que a encontram” (3 Néfi 14:13–14).
Prevendo as necessidades de Seus filhos amados, o bom Pai Celestial
deixou instruções e colocou salvadores ao longo do caminho. Enviou o
próprio Filho, Jesus Cristo, para tornar possível e visível esse caminho
seguro. Chamou profetas para nos ensinar não apenas como permanecer no
caminho, mas também como resgatar os que se desviaram para um caminho
de tristezas.
O Pai Celestial espalhou-nos ao longo do caminho nos mais diversos
postos, com a responsabilidades de fortalecer e, sempre que necessário, guiar
os viajantes para um lugar seguro. Nossa responsabilidade mais importante e
prioritária é para com nossa família. Isso porque a família tem a oportunidade
de plantar os pés de cada filho firmemente no caminho de volta ao lar, logo
no início de sua vida. Os laços de amor, característicos da própria natureza da
família, fazem com que pais, irmãos e irmãs, avós, tios e tias sejam nossos
guias e salvadores mais eficazes.
A família tem uma vantagem nos oito primeiros anos da vida de uma
criança. Nesses anos protegidos, graças à Expiação de Jesus Cristo, as névoas
de escuridão criadas por Satanás para ocultar o caminho não nos podem
afetar. Nesses anos preciosos, o Senhor ajuda a família chamando líderes da
Primária para ajudar a fortalecer espiritualmente as crianças. Também
proporciona portadores do Sacerdócio Aarônico para preparar e distribuir o
sacramento. Nas orações sacramentais, as crianças ouvem a promessa de que
poderão um dia receber o Espírito Santo para orientá-las se forem obedientes
aos mandamentos de Deus. O resultado é que elas são fortalecidas para
resistir à tentação quando ela surgir e, depois, em alguma época futura,
poderão resgatar outras pessoas.
Muitos bispos da Igreja são inspirados a chamar as pessoas mais firmes
da ala para ensinar as crianças da Primária. Eles sabem que, se as crianças
forem fortalecidas com fé e testemunho, é menos provável que precisem ser
resgatadas quando adolescentes. Sabem que um firme alicerce espiritual pode
fazer a diferença durante toda a vida.
Todos podem ajudar. Os avós e todos os membros que conhecem uma
criança podem ajudar. Não é preciso ter um chamado formal na Primária.
Tampouco há restrições de idade. Uma dessas mulheres, quando era mais
jovem, fez parte da junta geral da Primária que ajudou a criar o lema do CTR.
Ela era incansável no serviço às crianças. Deu aulas na Primária de sua
ala, a seu próprio pedido, até ter quase 90 anos de idade. As crianças sentiam
o quanto ela as amava. Viam seu exemplo. Aprendiam com ela os princípios
simples do evangelho de Jesus Cristo. E, acima de tudo, graças a seu
exemplo, aprendiam a sentir e a reconhecer o Espírito Santo. E quando isso
acontecia, estavam bem adiantadas em seu progresso na obtenção da fé
necessária para resistir às tentações. Era menos provável que precisassem de
resgate, e estariam preparadas para resgatar outras pessoas.
Aprendi, quando nossos filhos eram pequenos, a força que tem a simples
fé na oração e no Espírito Santo. Nosso filho mais velho ainda não tinha sido
batizado. Os pais, as professoras da Primária e os líderes do sacerdócio
tinham tentado ajudá-lo a sentir e a reconhecer o Espírito, e a aprender a
receber Sua ajuda.
Certa tarde, minha mulher o levou à casa da professora particular que o
ensinava a ler. Nosso plano era que eu parasse para buscá-lo em meu
caminho de volta do trabalho para casa.
A aula acabou mais cedo do que o esperado. Ele tinha certeza que sabia
voltar para casa. Por isso, pôs-se a caminho, a pé. Mais tarde, ele nos contou
que se sentia plenamente confiante e que havia gostado da ideia de voltar
sozinho para casa. Depois de ele andar quase um quilômetro, começou a
escurecer. Ele começou a achar que ainda estava muito longe de casa.
Até hoje ele se lembra de ver, com a vista embaçada pelas lágrimas, a
luz dos faróis dos carros que passavam um após o outro. Sentia-se como uma
criancinha, e não o menino confiante que havia começado a caminhar
sozinho de volta para casa. Deu-se conta de que precisava de ajuda. Foi então
que algo lhe veio à mente. Ele sabia que precisava orar. Então, saiu da estrada
e foi até umas árvores que, na escuridão, mal conseguia enxergar e encontrou
um lugar para se ajoelhar.
Por entre os arbustos, ouviu vozes de pessoas que se aproximavam. Dois
jovens ouviram-no chorar. Ao se aproximarem, perguntaram: “Precisa de
ajuda?” Em lágrimas, ele disse que estava perdido e que queria ir para casa.
Perguntaram se ele sabia o telefone ou o endereço de sua casa. Ele não sabia.
Perguntaram se sabia o próprio nome. Isso ele sabia. Levaram-no para a
própria casa, ali perto, e encontraram o nome de nossa família na lista
telefônica.
Quando recebi o telefonema, corri para resgatá-lo, agradecido pelas
pessoas bondosas que foram colocadas em seu caminho de volta para casa.
Sempre serei grato por ele ter sido ensinado a orar com fé pedindo ajuda
quando estivesse perdido. Essa fé o conduziu para a segurança e levou
salvadores até ele incontáveis vezes.
O Senhor estabeleceu um padrão de resgate e de salvadores em Seu
reino. Em Sua sabedoria, Ele inspirou Seus servos a proporcionar-nos
algumas maneiras mais eficazes de fortalecer-nos durante nossa adolescência
e a empregar os melhores salvadores para ajudar-nos nessa fase.
Vocês conhecem dois programas importantíssimos proporcionados pelo
Senhor. Um deles, para as moças, chama-se “Progresso Pessoal”. O outro,
para os portadores do Sacerdócio Aarônico, chama-se “Dever para com
Deus”. Incentivamos os jovens da nova geração a reconhecer o próprio
potencial de tornarem-se espiritualmente muito fortes. Imploramos aos que se
importam com esses jovens que se coloquem à altura do que o Senhor exige
de nós para ajudá-los. E como o futuro da Igreja depende deles, todos nós nos
importamos.
Os dois programas foram aprimorados, mas seu propósito continua o
mesmo. O Presidente Thomas S. Monson declarou que precisamos “aprender
o que devemos aprender”, “fazer o que devemos fazer” e “ser o que devemos
ser” (“Aprender, Fazer e Ser”, A Liahona, novembro de 2008, p. 60).
O livreto Progresso Pessoal para as moças deixa bem claro o propósito
do programa para elas: “O Programa de Progresso Pessoal utiliza os oito
valores das Moças para ajudá-la a entender mais plenamente quem você é,
por que está na Terra e o que deve fazer como filha de Deus a fim de
preparar-se para entrar no templo e fazer convênios sagrados”.
Prossegue declarando que cada moça vai “assumir compromissos e
cumpri-los e relatar seu progresso a seu pai, sua mãe ou sua líder”. Também
promete que “os padrões que você estabelecer ao fazer o Progresso Pessoal
— tais como, fazer oração, estudar as escrituras, servir e manter um diário —
vão tornar-se hábitos de seu dia a dia. Esses hábitos fortalecerão seu
testemunho e vão ajudá-la a aprender e a aperfeiçoar-se no decorrer de toda a
sua vida” (Progresso Pessoal das Moças, livreto, 2009, p. 6).
O programa Dever para com Deus para os rapazes do Sacerdócio
Aarônico é outra ferramenta poderosa, que fortalece o testemunho dos
rapazes, estreita seu relacionamento com Deus e os ajuda a aprender seus
deveres do sacerdócio e a ter o desejo de cumpri-los. Esse programa fortalece
o relacionamento dos rapazes com os pais, com os membros do quórum e
com seus líderes.
Os dois programas colocam grande parte da responsabilidade sobre os
ombros dos próprios jovens. Eles são incentivados a aprender e a fazer coisas
que seriam difíceis para qualquer pessoa. Ao refletir sobre minha própria
juventude, não me lembro de ter-me sido proposto tão grande desafio. É
verdade que, em algumas ocasiões, tive que passar em provas semelhantes,
mas só de vez em quando. Esses programas exigem constância, grande
empenho e acúmulo de conhecimento e de experiências espirituais ao longo
de anos.
Ao refletir, dou-me conta de que o conteúdo desses livretos é uma
manifestação física da confiança do Senhor na nova geração e em todos nós
que a amamos. Já tive provas de que essa confiança é merecida.
Nas visitas que fiz, vi os quóruns do Sacerdócio Aarônico em ação. Vi
rapazes que seguiam padrões de aprendizado, que planejavam fazer o que
Deus pedia deles e depois saíam para realizar o que se comprometeram a
fazer e para testificar aos outros a mudança espiritual ocorrida em sua vida.
Observei e ouvi atentamente, e ficou bem evidente para mim que os pais, as
mães, os líderes, os amigos e até as pessoas da congregação foram tocados
pelo Espírito ao ouvirem os jovens prestar testemunho de como foram
fortalecidos. Os jovens foram edificados e inspirados ao prestarem seu
testemunho, e o mesmo aconteceu com os que procuravam ajudá-los a
erguer-se.
O programa das Moças tem esse mesmo vigoroso padrão que
proporciona o desenvolvimento espiritual das moças e oferece-nos
oportunidades de ajudar. O Progresso Pessoal ajuda as moças a preparar-se
para receber as ordenanças do templo. Nisso são auxiliadas pelo exemplo das
mães, das avós e de todas as mulheres justas da Igreja. Vi como os pais de
uma moça a ajudaram a alcançar suas metas e seus sonhos, percebendo e
valorizando todas as coisas boas que ela fazia. Vi mãe e filha levantarem-se
para receber uma distinção que lhes era concedida em reconhecimento por
terem-se tornado exemplos de mulheres de valor. Quando me contaram o que
isso significava para elas, senti a aprovação e o incentivo do Senhor a todos
nós.
De toda a ajuda que podemos oferecer a esses jovens, a maior será
deixar que percebam que sabemos que eles estão no caminho de volta ao lar,
rumo à presença de Deus, e que hão de conseguir chegar lá. E o melhor modo
de fazê-lo é acompanhá-los nessa jornada. Como o caminho é íngreme e às
vezes pedregoso, pode ser que se sintam desanimados e até tropecem. Pode
ser que fiquem confusos sobre o destino a ser alcançado e se desviem na
tentativa de atingir metas de menor importância eterna. Esses programas
inspirados tornam tais percalços menos prováveis porque preparam os jovens
para receber a companhia do Espírito Santo.
O melhor conselho que podemos dar aos jovens é dizer-lhes que eles só
conseguirão voltar à presença do Pai Celestial se forem guiados e corrigidos
pelo Espírito de Deus. Portanto, se formos sábios, vamos incentivar, elogiar e
dar o exemplo de tudo que propicie a companhia do Espírito Santo. Quando
eles nos contam o que fazem e sentem, também precisamos estar dignos da
companhia do Espírito. Desse modo, eles sentirão em nossos elogios e
sorrisos a aprovação de Deus. Se houver a necessidade de corrigi-los, eles
sentirão nosso amor e o amor de Deus, e não repreensão e rejeição, o que
poderia permitir que Satanás os desvie ainda mais do caminho.
O melhor exemplo que podemos lhes dar é fazer nós mesmos as mesmas
coisas que eles precisam fazer. Precisamos orar pedindo os dons do Espírito.
Precisamos ponderar as escrituras e as palavras dos profetas vivos.
Precisamos fazer planos que não sejam meros desejos, mas convênios. E
então, precisamos cumprir as promessas que fizermos ao Senhor. E
precisamos edificar outras pessoas e levar-lhes as bênçãos da Expiação que
recebemos.
Precisamos, por meio de nossa própria vida, dar o exemplo da firme e
contínua fidelidade que o Senhor espera deles. Assim fazendo, nós os
ajudaremos a sentir a confirmação do Espírito de que, se perseverarem,
ouvirão o Salvador e o Pai Celestial dizerem-lhes com amor: “Bem está,
servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no
gozo do teu senhor” (Mateus 25:21). E todos nós, que os ajudamos durante a
jornada, ouviremos essas palavras com alegria.
Testifico que o Senhor ama vocês e todos os outros filhos de Deus.
Prometo que, se seguirmos a orientação inspirada desta, que é a verdadeira
Igreja de Jesus Cristo, nossos jovens e aqueles que os ajudam e os amam
poderão ser levados em segurança para o lar onde o Pai Celestial e o Salvador
habitam, para viver em família e em alegria para sempre.
Famílias sob Convênio
Tenho um amigo que voltou à atividade na Igreja depois de um período
longo de inatividade, isso, em grande parte, graças às chaves que nosso
profeta possui para selar as famílias para a eternidade. Ele e a mulher amam
seus dois filhinhos, um menino e uma menina. Como outros pais, ele antevê a
felicidade celestial ao ler estas palavras: “E (...) a mesma sociabilidade que
existe entre nós, aqui, existirá entre nós lá, só que será acompanhada de
glória eterna, glória essa que não experimentamos agora” (Doutrina e
Convênios 130:2).
Esse pai conhece o caminho para esse destino glorioso. Não é fácil. Ele
já sabe que não é. Exigiu fé em Jesus Cristo, profundo arrependimento e a
mudança no coração que lhe sobreveio quando um bondoso bispo o ajudou a
sentir o amor e o perdão do Senhor.
Continuaram a haver mudanças maravilhosas quando ele foi ao templo
sagrado para receber a investidura que o Senhor descreveu aos que Dele
receberam poder no primeiro templo desta dispensação, em Kirtland, Ohio. O
Senhor disse a esse respeito:
“Portanto por esta razão vos dei o mandamento de que fôsseis para o
Ohio; e lá vos darei minha lei e lá sereis investidos de poder do alto;
E de lá, (…) eis que tenho uma grande obra reservada, pois Israel será
salvo e guiá-lo-ei para onde eu desejar; e nenhum poder deterá minha mão”
(Doutrina e Convênios 38:32–33).
Para meu amigo que voltou à atividade na Igreja e para todo o
sacerdócio, uma grande obra nos está reservada, a de sermos líderes na
salvação da parte de Israel pela qual somos ou seremos responsáveis: nossa
família. Meu amigo e sua esposa sabiam que isso exigia que fossem selados
num templo sagrado de Deus pelo poder do Sacerdócio de Melquisedeque.
Ele pediu-me que eu realizasse o selamento. Ele e a mulher queriam ser
selados o mais rápido possível. Mas, devido à aproximação da época
atarefada da conferência geral, deixei que o casal e o bispo combinassem com
meu secretário a melhor data.
Imaginem minha surpresa e meu deleite quando o pai me disse, na
Igreja, que o selamento estava marcado para 3 de abril. Esse foi o dia, em
1836, em que Elias, o profeta transladado, foi enviado ao Templo de Kirtland
para conferir o poder selador a Joseph Smith e a Oliver Cowdery. Essas
chaves estão na Igreja hoje e continuarão nela até o fim dos tempos (ver
Joseph Fielding Smith, “Sealing Power and Salvation”, Brigham Young
University Speeches of the Year, 12 de janeiro de 1971; speeches.byu.edu).
É a mesma autoridade divina dada pelo Senhor a Pedro, em
cumprimento da promessa: “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo
o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus” (Mateus 16:19).
O retorno de Elias abençoou todos os portadores do sacerdócio. O Élder
Harold B. Lee deixou isso bem claro em uma conferência geral, ao citar estas
palavras do Presidente Joseph Fielding Smith: “Eu tenho o sacerdócio.
Vocês, irmãos, têm o sacerdócio. Recebemos o Sacerdócio de
Melquisedeque, o mesmo que tinha Elias e outros profetas e Pedro, Tiago e
João. Contudo, embora tenhamos autoridade para batizar, para impor as mãos
para o dom do Espírito Santo e para ordenar outros e fazer todas essas coisas,
sem o poder de selamento nada poderíamos fazer, porque nada que
fizéssemos seria válido”.
As palavras do Presidente Smith prosseguem:
“As ordenanças mais elevadas, as maiores bênçãos que são essenciais à
exaltação no reino de Deus e que somente podem ser obtidas em certos
lugares, nenhum homem tem direito de realizá-las, a menos que receba
autoridade para tanto daquele
que tem as devidas chaves. (…) Não há nenhum homem na face desta
Terra que tenha o direito de ministrar quaisquer das ordenanças deste
evangelho a menos que o Presidente da Igreja, que é o detentor das chaves,
autorize. Ele concedeu-nos a autoridade e o poder de selamento do sacerdócio
porque ele possui essas chaves” (citado por Harold B. Lee, Conference
Report, outubro de 1944, p. 75).
Essa mesma certeza foi confirmada pelo Presidente Boyd K. Packer, ao
escrever sobre o poder selador. O fato de eu saber que essas palavras são
verdadeiras é um consolo para mim: “Pedro foi o escolhido para ser o
portador das chaves. A Pedro foi conferido o poder selador, (…) ligar ou
selar, ou (…) desligar na Terra e também no céu. Essas chaves pertencem ao
presidente da Igreja — o profeta, vidente e revelador. Esse poder selador
sagrado está na Igreja hoje. Nada é considerado mais sagrado por aqueles que
conhecem o significado dessa autoridade. Nada é conservado com maior
cuidado. Há relativamente poucos homens a quem foi [delegado] esse poder
selador na Terra, em qualquer época — em cada templo há irmãos aos quais
foi conferido o poder selador. Ninguém pode obtê-lo a não ser que o receba
do profeta, vidente e revelador, e presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias” (“O Templo Sagrado”, A Liahona, outubro de
2010, p. 28).
Na vinda de Elias, não apenas se conferiu poder ao sacerdócio, mas foi
prometido que corações seriam tocados: “O espírito, poder e chamado de
Elias, o profeta, é que vocês têm o poder de portar a chave da revelação,
ordenanças, oráculos, poderes e investiduras da plenitude do Sacerdócio de
Melquisedeque e do reino de Deus na Terra; e para receber, obter e realizar
todas as ordenanças pertencentes ao reino de Deus, sim, para voltar o coração
dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos pais, sim, daqueles que estão no
céu” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 326).
Esse sentimento que nos leva a voltar o coração já sobreveio a meu
amigo e sua família. O mesmo pode estar acontecendo com vocês nesta
reunião. Ao ler essas palavras, pode ser que tenham visto mentalmente o
rosto de seu pai ou sua mãe. Pode ter sido o rosto de uma irmã ou um irmão.
Ou ainda de uma filha ou um filho.
Talvez eles estejam no mundo espiritual ou em outro continente da
Terra. Mas vocês se alegraram, pois sentiram que esse vínculo com eles
perdurará, pois vocês estão ligados, ou podem vir a estar ligados, a eles por
ordenanças do sacerdócio que serão honradas por Deus.
Os portadores do Sacerdócio de Melquisedeque que são pais e cuja
família foi selada aprenderam o que precisam fazer. Nada que tenha
acontecido ou que venha a acontecer em sua família é tão importante quanto
as bênçãos do selamento. Nada é mais importante do que honrar os convênios
matrimoniais e familiares que vocês fizeram, ou que farão, nos templos de
Deus.
O modo de fazer isso acontecer é bem claro. O Santo Espírito da
promessa, por meio de nossa obediência e nosso sacrifício, precisa selar os
convênios que fizermos no templo para que eles sejam válidos no mundo
vindouro. O Presidente Harold B. Lee explicou o que significa ser selado
pelo Santo Espírito da promessa, citando as palavras do Élder Melvin J.
Ballard: “Podemos enganar os homens, mas não podemos enganar o Espírito
Santo, e nossas bênçãos não serão eternas a menos que também sejam seladas
pelo Santo Espírito da promessa. O Espírito Santo é quem lê os pensamentos
e as intensões dos homens e concede Seu selo de aprovação às bênçãos
proferidas sobre a cabeça deles. Então, elas se tornam válidas, eficazes e
entram plenamente em vigor” (citado por Harold B. Lee, Conference Report,
outubro de 1970, p. 111).
Quando minha mulher e eu fomos selados no Templo de Logan Utah, eu
não compreendi, naquele momento, o pleno significado daquela promessa.
Ainda procuro entender seu significado completo, mas minha mulher e eu
decidimos no início de nossos quase 50 anos de casados que propiciaríamos
ao máximo a presença do Espírito Santo em nossa vida e em nossa família.
Eu era um jovem pai, selado no templo e com o coração voltado para
minha mulher e para minha jovem família, quando conheci o Presidente
Joseph Fielding Smith. Na sala de conselho da Primeira Presidência, para a
qual fui convidado, senti um testemunho plenamente seguro quando o
Presidente Harold B. Lee, apontando para o Presidente Smith, que estava
sentado a seu lado, perguntou: “Acredita que este homem possa ser o profeta
de Deus?”
O Presidente Smith acabara de entrar na sala e ainda não tinha falado
nada. Serei eternamente grato por ter podido responder, graças ao que senti
no coração: “Eu sei que ele é”, e soube tão seguramente quanto sabia que o
sol brilhava que ele tinha o poder selador do sacerdócio para o mundo inteiro.
Para minha mulher e eu, essa minha experiência emprestou mais força
às palavras proferidas pelo Presidente Joseph Fielding Smith em uma sessão
de conferência, em 6 de abril de 1972, ao dar o seguinte conselho: “É a
vontade do Senhor fortalecer e preservar a unidade familiar. Pedimos aos pais
que assumam seu lugar de direito na liderança da casa. Pedimos às mães que
apoiem o marido e sejam uma luz para os filhos” (“Counsel to the Saints and
to the World” [Conselho aos Santos e ao Mundo], Ensign, julho de 1972, p.
27).
Gostaria de sugerir quatro coisas que vocês, pais que são portadores do
sacerdócio, podem fazer para guiar sua família de volta à presença do Pai
Celestial e do Salvador.
Primeiro, adquiram e conservem um testemunho seguro de que as
chaves do sacerdócio estão conosco e que o presidente da Igreja as possui.
Orem por isso todos os dias. A resposta virá acompanhada de uma maior
determinação de liderar sua família, de uma maior esperança e de maior
alegria de servir. Vocês se tornarão mais alegres e otimistas, o que será uma
grande bênção para sua esposa e sua família.
A segunda coisa essencial é amar a esposa. Será preciso fé e humildade
para colocar os interesses dela acima dos seus próprios nos momentos difíceis
da vida. Vocês têm a responsabilidade de sustentar a família e de, com ela,
cuidar da família, ao mesmo tempo em que prestam serviço ao próximo. Isso,
às vezes, pode consumir toda a energia e as forças que temos. A idade e a
doença podem aumentar as necessidades de sua esposa. Se decidirem mesmo
colocar a felicidade dela acima da sua própria, prometo que seu amor por ela
vai aumentar.
Terceiro, conclamem a família inteira a amar uns aos outros. O
Presidente Ezra Taft Benson ensinou:
“Num sentido eterno, a salvação é uma questão de família. (…)
Acima de tudo, os filhos precisam saber e sentir que são amados,
queridos e valorizados. Precisam que isso lhes seja confirmado sempre.
Obviamente, esse é um papel que os pais devem desempenhar e, na maioria
das vezes, é a mãe quem consegue fazer isso melhor” (“Salvação — Um
Assunto Familiar”, A Liahona, novembro de 1992, p. 2).
Mas outra fonte essencial desse sentimento de ser amado é o amor entre
os filhos. O constante cuidado dos irmãos e das irmãs uns pelos outros só
vem depois de esforço persistente dos pais, com a ajuda de Deus. Vocês
sabem que isso é verdade pelo que vivenciaram em sua própria família. E
isso se confirma toda vez que leem os conflitos familiares enfrentados pelo
justo Leí e sua esposa Saria no Livro de Mórmon.
Os sucessos por eles obtidos são um guia para nós. Eles ensinaram o
evangelho de Jesus Cristo tão bem e com tanta persistência que os filhos e até
alguns descendentes, ao longo de gerações, abrandaram o coração para com
Deus e uns para com os outros. Por exemplo: Néfi e outros escreveram para
outros membros da família que eram seus inimigos e estenderam a mão para
eles. O Espírito, em certas ocasiões, abrandou o coração de milhares e
substituiu o ódio pelo amor.
Uma maneira de vocês alcançarem o mesmo sucesso do patriarca Leí é
pelo modo como conduzem a oração familiar e as atividades em família,
como, por exemplo, a noite familiar. Deem aos filhos que já saibam orar a
oportunidade de fazê-lo e de pedir bênçãos para os membros da família que
precisarem. Discirnam rapidamente o início de discórdias e reconheçam atos
de serviço abnegado, especialmente os prestados uns aos outros. Se eles
orarem uns pelos outros e servirem uns aos outros, o coração deles se
abrandará e se voltará para os irmãos e para os pais.
A quarta oportunidade de liderar a família, à maneira do Senhor, surge
quando é necessário disciplinar alguém. Podemos cumprir essa nossa
obrigação à maneira do Senhor e, depois, guiar nossos filhos rumo à vida
eterna.
Vocês devem se lembrar destas palavras, mas talvez não tenham visto
seu grande impacto para o portador do Sacerdócio de Melquisedeque que está
no processo de preparar sua família para viver com a mesma sociabilidade
que terão no Reino Celestial. Vocês hão de lembrar-se, é uma declaração
muito conhecida:
“Nenhum poder ou influência pode ou deve ser mantido em virtude do
sacerdócio, a não ser com persuasão, com longanimidade, com brandura e
mansidão e com amor não fingido;
Com bondade e conhecimento puro, que grandemente expandirão a
alma, sem hipocrisia e sem dolo—
Reprovando prontamente com firmeza, quando movido pelo Espírito
Santo; e depois, mostrando então um amor maior por aquele que
repreendeste, para que ele não te julgue seu inimigo;
Para que ele saiba que tua fidelidade é mais forte que os laços da morte”
(Doutrina e Convênios 121:41–44).
Depois, vem a promessa tão importante para nós, pais em Sião: “O
Espírito Santo será teu companheiro constante, e teu cetro, um cetro imutável
de retidão e verdade; e teu domínio será um domínio eterno e, sem ser
compelido, fluirá para ti eternamente” (Doutrina e Convênios 121:46).
Esse é um padrão elevado, mas, quando controlamos nosso
temperamento e subjugamos nosso orgulho com fé, o Espírito Santo concede
Sua aprovação e assegura-nos promessas e convênios sagrados.
Vocês terão sucesso se tiverem fé que o Senhor nos enviou de volta as
chaves do sacerdócio — que ainda estão conosco — por meio de um firme
laço de amor à sua esposa, tendo a ajuda do Senhor para voltar o coração de
seus filhos para os irmãos e para os pais; e deixando que o amor os guie para
que corrijam e exortem de tal modo que propicie a presença do Espírito.
Andar na Luz
Para todos nós, a vida é uma jornada. O Pai Celestial a preparou por
causa de Seu amor por nós. Todos temos experiências e características
exclusivas, mas nossa jornada começou no mesmo lugar, antes de nascermos
neste mundo.
Fomos todos ensinados por Eloim, o Pai de nosso espírito. Nós O
amávamos, queríamos ser semelhantes a Ele e viver com Ele para sempre.
Ele nos explicou claramente o que seria exigido de nós para termos essa
felicidade. Teríamos que receber um corpo físico, com todas as provações
que isso nos acarretaria. Ficaríamos sujeitos a doenças e teríamos em nosso
corpo processos que acabariam levando-nos à morte; e nosso corpo teria em
si um forte anseio por satisfação física.
O Pai Celestial explicou o que teríamos de enfrentar para fazer a jornada
do lugar onde estávamos na época até o ponto em que poderíamos habitar
com Ele para sempre e ter a vida que Ele tem. Teríamos que empreender a
jornada da vida sem a lembrança do tempo que passamos com Ele na
existência pré-mortal e o único meio de voltarmos à presença Dele seria
vencer a morte física e as consequências do pecado, resultantes da violação
dos mandamentos. Ele disse que não poderíamos vencer os efeitos da morte
ou do pecado sozinhos, sem um Salvador que quebrasse as cadeias da morte e
provesse um meio de sermos purificados dos pecados que sem dúvida
cometeríamos.
Vocês sabem, por meio das escrituras reveladas por Deus aos profetas,
que houve uma rebelião na existência pré-mortal quando o plano de nossa
jornada nos foi apresentado. Aqueles que se rebelaram não queriam aceitar
um Salvador e depender Dele nem correr qualquer risco de ficar impedidos
de voltar à presença do Pai Celestial. Todos vocês estavam entre os
corajosos, fiéis e leais naquele conflito. Vocês aceitaram o Salvador e o plano
desta jornada de volta à felicidade de viver na presença do Pai Celestial.
Vocês são notáveis, mesmo entre aqueles que fizeram a escolha certa na
batalha ocorrida na existência pré-mortal. Vocês se qualificaram para vir à
mortalidade e realizar esta jornada numa época em que o evangelho de Jesus
Cristo estaria na Terra e, entre os bilhões de filhos do Pai Celestial que vivem
hoje, tiveram o privilégio de conhecer o evangelho de Jesus Cristo e Sua
Igreja verdadeira. Vocês escolheram fazer a jornada da vida andando na luz.
Todo filho do Pai Celestial nascido no mundo recebeu, ao nascer, como
dádiva gratuita, a luz de Cristo. Vocês já a sentiram. É a noção do que é certo
e do que é errado, do que é verdadeiro e do que é falso. Ela está com vocês
desde o início de sua jornada da vida. O fato de terem sido batizados e de
terem recebido o Espírito Santo é uma prova de que escolheram andar na luz
de Cristo.
Quando vocês foram confirmados membros da Igreja, receberam o
direito de ter a companhia do Espírito Santo. Ele é uma grande fonte de luz
que nos permite reconhecer a verdade, seguir e amar o Senhor Jesus Cristo e,
após esta vida, encontrar nosso caminho de volta para Deus.
Mas o espírito que liderou a rebelião no mundo anterior ainda se opõe ao
plano e quer torná-los infelizes. Ele não quer que vocês encontrem o caminho
de volta para casa. Esse inimigo de sua alma conhece vocês e suas
qualidades. Ele sabe que, se puder impedi-los de andar na luz, conseguirá
capturá-los e impedi-los de ajudar outras pessoas ao longo da jornada. Ele
sabe como vocês são bons e conhece sua capacidade de ensinar e influenciar
centenas de filhos do Pai Celestial nesta vida e milhares ao longo das
gerações que seguirão seu exemplo. Se ele conseguir que vocês se desviem
da luz em sua jornada, prejudicará muitas pessoas e as tornará infelizes.
Deus reconhece sua grande importância e que vocês optaram por andar
na luz por Ele oferecida. Nem sempre é fácil ver claramente essas escolhas.
Todos os dias e a quase todo momento, vocês fazem escolhas que os mantêm
no caminho da luz ou que os afastam dela, conduzindo-os em direção às
trevas. Algumas das escolhas mais importantes têm a ver com os desejos de
seu coração.
Há muitas coisas que vocês podem considerar desejáveis. Por exemplo:
todos nós desejamos certo grau de aprovação de outras pessoas. Todos
sentimos a necessidade de ter amigos. Todos procuramos alguma
comprovação de nosso valor pessoal. Fazemos escolhas baseadas nesses
desejos. Algumas delas podem afastar-nos da luz que Deus oferece para
guiar-nos. Outras podem tornar mais brilhante a luz que nos mostra o
caminho.
Ao rever minha vida, dei-me conta de que não estava ciente da
importância de alguns desses desejos e dessas escolhas. Eu queria ser
escolhido para equipes esportivas. Queria tirar boas notas na escola. Queria
encontrar amigos bons e leais. Nas ocasiões em que fiz escolhas baseadas
nesses desejos, não percebi que elas me levavam ou para perto ou para longe
da luz.
Algumas das minhas realizações e amizades foram fatores importantes
para que eu visse a luz. Outras, mais do que eu tinha consciência na época,
afastavam-me da luz. De modo importante e duradouro, as escolhas que fiz
para satisfazer meu anseio por companhia e reconhecimento me levaram para
perto ou para longe da luz que me mostrava o caminho.
Há muito tempo, o Pai Celestial, por meio de Seus profetas, ensinou
uma maneira de sabermos quais escolhas são as mais importantes, bem como
a razão e o modo de fazermos essas escolhas. O melhor resumo que conheço
está nas palavras de Morôni, ao citar seu pai, Mórmon:
“Eis, porém, que aquilo que é de Deus convida e impele a fazer o bem
continuamente; portanto, tudo o que convida e impele a fazer o bem e a amar
a Deus e a servi-lo, é inspirado por Deus.
Portanto tende cuidado (…) a fim de que não julgueis ser de Deus o
que é mau; ou ser do diabo o que é bom e de Deus.
Pois eis que, meus irmãos, dado vos é julgar, a fim de que possais
distinguir o bem do mal; e a maneira de julgar, para que tenhais um
conhecimento perfeito, é tão clara como a luz do dia comparada com as
trevas da noite” (Morôni 7:13–15).
As escrituras nos dizem qual é a fonte e o poder da luz.
“Pois eis que o Espírito de Cristo é concedido a todos os homens, para
que eles possam distinguir o bem do mal; portanto vos mostro o modo de
julgar; pois tudo o que impele à prática do bem e persuade a crer em Cristo é
enviado pelo poder e dom de Cristo; por conseguinte podeis saber, com um
conhecimento perfeito, que é de Deus.
Mas tudo que persuade o homem a praticar o mal e a não crer em Cristo
e a negá-lo e a não servir a Deus, podeis saber, com conhecimento perfeito,
que é do diabo; porque é desta forma que o diabo age, pois não persuade
quem quer que seja a fazer o bem; não, ninguém; tampouco o fazem seus
anjos; nem o fazem os que a ele se sujeitam” (Morôni 7:16–17).
Agora vejo mais claramente do que quando era jovem como eu poderia
ter usado essa orientação. Participei de equipes esportivas que tinham
jogadores e técnicos que me influenciaram a fazer o bem. Houve outros que
não fizeram isso. Tive amigos, e alguns deles não eram membros da Igreja de
Jesus Cristo, que, com seu exemplo, influenciaram-me a fazer o bem e a
lembrar-me do Salvador.
Tive colegas e professores cuja aprovação e amizade procurei conquistar
e que, de alguma forma, motivaram-me a fazer o bem e aprofundar meu
vínculo com o Salvador. Tive a bênção de encontrar meu caminho, mas teria
me saído ainda melhor se tivesse compreendido mais claramente a
importância de minhas escolhas e a maneira certa de fazê-las.
Mórmon sabia dessas coisas. Se eu tivesse lido com mais atenção suas
palavras no Livro de Mórmon e outras semelhantes, teria sido ainda mais
abençoado e protegido. Estas são as palavras de Mórmon:
“Vendo que conheceis a luz pela qual podeis julgar, luz essa que é a luz
de Cristo, tende cuidado para não julgardes erradamente; porque com o
mesmo juízo com que julgardes, sereis também julgados.
Portanto (…) [procurai] diligentemente, na luz de Cristo, diferenciar o
bem do mal; e se vos apegardes a tudo que é bom e não o condenardes,
certamente sereis filhos de Cristo.
E agora, (…). como será possível vos apegardes a tudo que é bom?”
(Morôni 7:18–20.)
A fé é o que lhes permite apegar-se a tudo que é bom. Da mesma forma
que são visados como alvo pelo inimigo da retidão, o Pai Celestial e o Senhor
Jesus Cristo os protegem e zelam por vocês. Eles os conhecem. Conhecem
todas as forças e pessoas que os cercam. Eles sabem o que o futuro lhes
reserva. Portanto, Eles sabem que escolhas vocês fazem, quais de seus
desejos decidem satisfazer e que circunstâncias mais os influenciam a
continuar andando na luz. Testifico que pelo Espírito de Cristo e pelo Espírito
Santo vocês podem caminhar confiantes, sejam quais forem as dificuldades
que encontrarem. Como vocês são muito preciosos, algumas de suas
provações podem ser árduas. Nunca desanimem nem fiquem com medo. A
maneira de vencerem as dificuldades já lhes foi preparada, e vocês a
encontrarão se tiverem fé.
Vocês precisam ter fé para orar; precisam ter fé para ponderar a palavra
de Deus; precisam ter fé para fazer as coisas e procurar os lugares que
propiciam a companhia do Espírito de Cristo e do Espírito Santo.
Se vocês andarem na luz, sentirão agora parte do aconchego e da
felicidade que serão seus quando forem recebidos de volta ao lar,
acompanhados das centenas ou talvez milhares de pessoas que terão andado
na luz graças ao seu exemplo.
Preparação Espiritual: Começar Cedo e Ser Constante
A maioria de nós já pensou em como preparar-se para as tempestades. Já
vimos e nos condoemos do sofrimento das mulheres, dos homens, das
crianças, dos idosos e dos fracos atingidos por furacões, tsunamis, guerras e
secas. Uma das reações é perguntar: “Como me preparar?” Acontecem
corridas para comprar e armazenar tudo o que as pessoas acham que podem
precisar para o dia em que talvez tenham de enfrentar essas calamidades.
Mas há outro aspecto, até mais importante, em que temos de preparar-
nos para as provas que certamente todos enfrentaremos. Essa preparação deve
começar com muita antecedência, porque leva tempo. O que precisamos não
está à venda, não se empresta, não se pode armazenar e tem de ser feito com
regularidade e frequência.
O que precisaremos no dia em que formos provados é de preparação
espiritual; é ter desenvolvido tal fé em Jesus Cristo que consigamos passar na
prova da vida da qual depende tudo o que nos aguarda na eternidade. Essa
prova faz parte do propósito de Deus para nós na Criação.
O Profeta Joseph Smith deu-nos a descrição que o Senhor fez da prova
que enfrentamos. O Pai Celestial criou o mundo junto com Seu Filho, Jesus
Cristo. Estas palavras nos falam do propósito da Criação: “Desceremos, pois
há espaço lá, e tomaremos destes materiais e faremos uma terra onde estes
possam habitar; e assim os provaremos para ver se farão todas as coisas que o
Senhor seu Deus lhes ordenar” (Abraão 3:24–25).
Assim, a grande prova da vida é ver se escutaremos os mandamentos de
Deus e obedeceremos a eles em meio às tempestades da vida. Não é enfrentar
as tempestades, mas escolher o certo durante as tempestades. A tragédia da
vida é não passar nessa prova e, portanto, não se qualificar para voltar com
glória ao lar celestial.
Somos filhos espirituais do Pai Celestial. Ele nos amou e ensinou antes
de nascermos neste mundo e disse que desejava dar a nós tudo o que tinha.
Para qualificar-nos para receber essa dádiva, precisávamos receber um corpo
mortal e ser provados. Por causa do corpo mortal, enfrentaríamos a dor, a
doença e a morte.
Ficaríamos sujeitos às tentações por causa dos desejos e das fraquezas
inerentes ao nosso corpo mortal. Haveria forças do mal, sutis e poderosas,
que nos incitariam a ceder a essas tentações. Na vida, haveria tempestades em
que teríamos de fazer escolhas por meio da fé naquilo que não vemos com os
olhos naturais.
Foi-nos prometido que Jeová, Jesus Cristo, seria nosso Salvador e
Redentor. Ele garantiria a ressurreição para todos nós e nos possibilitaria
passar na prova da vida se exercêssemos fé Nele por meio da obediência. Nós
alçamos a voz exultantes com as boas-novas.
Uma passagem do Livro de Mórmon, Outro Testamento de Jesus Cristo,
diz o quanto a prova é difícil e o que será preciso para ser aprovado:
“Animai-vos, portanto, e lembrai-vos de que sois livres para agir por vós
mesmos—para escolher o caminho da morte eterna ou o caminho da vida
eterna.
Portanto, reconciliai-vos, meus amados irmãos, com a vontade de Deus
e não com a vontade do diabo e da carne; e lembrai-vos, depois de vos
reconciliardes com Deus, de que é somente na graça e pela graça de Deus que
sois salvos.
Possa Deus, portanto, levantar-vos da morte pelo poder da ressurreição e
também da morte eterna, pelo poder da expiação, a fim de que sejais
recebidos no eterno reino de Deus para louvá-lo pela graça divina. Amém” (2
Néfi 10:23–25).
Será preciso ter fé inabalável no Senhor Jesus Cristo para escolher o
caminho da vida eterna. É por meio dessa fé que podemos saber qual é a
vontade de Deus. É agindo de acordo com essa fé que conseguimos ter forças
para fazer a vontade de Deus; e é exercendo essa fé em Jesus Cristo que
podemos resistir às tentações e receber o perdão por meio da Expiação.
Precisaremos desenvolver e cultivar a fé em Jesus Cristo muito antes
que Satanás nos ataque, como certamente fará, com as dúvidas, com os
apelos aos nossos desejos carnais e com as vozes mentirosas que chamam o
bem de mal e dizem que não existe pecado. Essas tempestades espirituais já
estão sobre nós. Podemos ter certeza de que elas ficarão cada vez piores até
que o Salvador volte.
Não importa quanta fé tenhamos agora para obedecer a Deus,
precisaremos fortalecê-la continuamente e renová-la sempre. Podemos fazer
isso tomando agora a decisão de obedecer mais prontamente e perseverar
com mais determinação. Aprender a começar cedo e ser constante é a chave
da preparação espiritual. A procrastinação e a inconstância são seus inimigos
mortais.
Quero sugerir quatro contextos nos quais devemos obedecer com
rapidez e constância. O primeiro é o mandamento de banquetear-nos na
palavra de Deus; o segundo é orar sempre; o terceiro é o mandamento de
pagar o dízimo integralmente e o quarto é fugir do pecado e de seus efeitos
terríveis. Em cada um, é preciso fé para começar e, depois, para perseverar; e
todos eles têm o potencial de fortalecer nossa capacidade de obedecer aos
mandamentos do Senhor.
Vocês devem estar lembrados de quando, há alguns anos, o Presidente
Gordon B. Hinckley convidou todos os santos a lerem o Livro de Mórmon
até o final do ano. Ele disse: “Prometo-lhes sem reservas que, se seguirem
esse programa simples, não importando quantas vezes tiverem lido o Livro de
Mórmon antes, haverá em sua vida e em sua casa mais do Espírito do Senhor,
uma determinação mais firme de obedecer a Seus mandamentos e um
testemunho mais forte da realidade viva do Filho de Deus” (“Um
Testemunho Vibrante e Verdadeiro”, A Liahona, agosto de 2005, p. 3).
Essa declaração prometia-nos exatamente o aumento em nossa fé que
seria necessário a nossa preparação espiritual; mas, se demorássemos para
começar a obedecer a esse convite inspirado, o número de páginas a serem
lidas por dia aumentaria. Além disso, se acontecesse de passarmos mesmo
que só alguns dias sem ler, a probabilidade de não conseguir ler tudo tornava-
se maior. Foi por isso que decidi ler sempre um pouco mais do que minha
meta diária, para ter certeza de qualificar-me para receber a bênção da
resolução e a do testemunho de Jesus Cristo. Aprendi a atender aos
mandamentos do Senhor assim que os receber e a ser constante na
obediência.
E mais: ao ler o Livro de Mórmon, orei pedindo que o Espírito Santo me
ajudasse a saber o que Deus queria que eu fizesse. O próprio livro traz a
promessa de que esse pedido seria atendido: “Por isto eu vos disse:
Banqueteai-vos com as palavras de Cristo; pois eis que as palavras de Cristo
vos dirão todas as coisas que deveis fazer” (2 Néfi 32:3).
Decidi ser rápido em fazer o que o Espírito Santo me dissesse que
deveria fazer ao ler e ponderar o Livro de Mórmon. Quando terminei o
projeto em dezembro, havia passado por muitas experiências nas quais, para
ser obediente, precisei de toda a minha fé. E assim minha fé se fortaleceu. E
eu aprendi por experiência própria o que recebemos por consultar as
escrituras logo e com persistência para saber o que Deus quer que façamos e
por atender a vontade Dele. Se fizermos isso, estaremos mais bem preparados
quando tempestades maiores nos sobrevierem.
Aqueles de nós que aceitaram o conselho do profeta e terminaram de ler
o Livro de Mórmon aquele ano, viram-se diante da escolha do que fazer
depois de 1º de janeiro. Uma escolha possível era a de suspirar aliviados e
dizer a nós mesmos: “Já formei uma grande reserva de fé por ter começado
logo e ter sido obediente. Vou guardá-la para os momentos de provação”. Há
um meio melhor de preparar-nos, já que a fé, ainda que muita, dura pouco se
não for usada. Podemos resolver persistir no estudo das palavras de Cristo
encontradas nas escrituras e ensinamentos dos profetas vivos. Foi isso o que
decidi fazer. Volto a beber da fonte do Livro de Mórmon sem parcimônia e
com frequência. E sou grato por aquilo que o desafio e a promessa do profeta
me ensinaram sobre como aumentar e cultivar a minha fé.
A oração individual também nos ajuda a cultivar a fé que precisamos
para fazer o que Deus ordena. Recebemos o mandamento de orar sempre para
não ser vencidos. Parte da proteção de que precisamos virá da intervenção
direta de Deus, mas uma parte ainda maior provém de cultivarmos a fé
necessária para obedecer. Podemos orar todos os dias para saber o que Deus
quer que façamos; podemos assumir o compromisso de atender prontamente
ao receber a resposta. Sei por experiência própria que Ele sempre atende a
esses pedidos. Depois, podemos decidir obedecer. Se fizermos isso, nossa fé
aumentará até ser suficiente para que não sejamos vencidos, e ganharemos a
fé necessária para sempre voltar a pedir orientação. Quando as tempestades se
abaterem, estaremos prontos para seguir em frente e cumprir as ordens do
Senhor.
O Salvador deu-nos um grande exemplo de oração de submissão. Ele
orou no Jardim do Getsêmani ao realizar a Expiação, pedindo que fosse feita
a vontade do Pai. Ele sabia que a vontade do Pai seria que Ele passasse por
algo tão doloroso e terrível que não somos capazes de compreender. Em
oração, não pediu apenas para aceitar, mas para fazer a vontade do Pai. Ele
mostrou-nos a maneira de orar com perfeita e determinada submissão.
O princípio de exercer a fé prontamente e com constância também se
aplica ao mandamento do dízimo. Não devemos esperar pelo acerto anual do
dízimo para resolver pagar o dízimo integralmente. Podemos decidir isso já.
Leva tempo para aprender a controlar os gastos, acreditando que o que temos
vem de Deus. É preciso fé para pagar o dízimo prontamente, sem
procrastinar.
Se decidirmos desde já que pagaremos o dízimo integralmente, e se
formos constantes em fazê-lo, receberemos bênçãos o ano inteiro, não só na
época do acerto do dízimo. Se resolvermos agora pagar o dízimo
integralmente e nos esforçarmos sempre por fazê-lo, nossa fé se fortalecerá e,
com o tempo, nosso coração se abrandará. É essa mudança interior por meio
da Expiação de Jesus Cristo, que ultrapassa a doação de dinheiro ou bens, o
que torna possível ao Senhor prometer aos dizimistas integrais proteção nos
últimos dias (ver Doutrina e Convênios 64:23). Podemos ter certeza de que
nos qualificaremos para receber essa bênção de proteção se nos
comprometermos agora a pagar o dízimo integralmente e se nos mantivermos
fiéis no cumprimento desse compromisso.
A mesma força que advém de decidir-se logo a exercer a fé e ser
persistente em obedecer aplica-se a obter a fé para resistir às tentações e
alcançar o perdão. O melhor momento para resistir à tentação é logo no
início. O melhor momento para o arrependimento é agora. O inimigo de
nossa alma colocará pensamentos em nossa mente para tentar-nos. Podemos
decidir-nos logo a exercer a fé e expulsar os maus pensamentos antes de agir
de acordo com eles, e, quando pecarmos, podemos ser rápidos na decisão de
arrepender-nos, antes que Satanás enfraqueça nossa fé e nos subjugue. É
sempre melhor buscar o perdão agora do que deixar para depois.
Quando meu pai estava no leito de morte, perguntei a ele se não achava
que esse seria um bom momento para arrepender-se e orar pedindo perdão
por qualquer pecado que ainda não tivesse resolvido com Deus. Ele
provavelmente percebeu em minha voz alguma insinuação de que talvez
temesse a morte e o juízo. Deu uma risadinha, sorriu para mim e disse: “Ah,
não, Hal! Eu já fui me arrependendo pelo caminho”.
Se tomarmos agora a decisão de exercer a fé e sempre obedecer, isso nos
dará grande fé e confiança. Essa é a preparação espiritual de que todos
precisamos e, nos momentos de crise, é ela que nos qualificará para receber o
que o Senhor prometeu: “Se estiverdes preparados, não temereis” (Doutrina e
Convênios 38:30).
Isso se concretizará quando enfrentarmos as tempestades da vida e a
perspectiva da morte. O Pai Celestial nos ama, Ele e Seu Filho Amado nos
deram toda a ajuda possível para passarmos pela prova da vida que temos
diante de nós, mas temos de tomar a decisão de obedecer e, então, agir. É por
meio de nossas escolhas diárias que adquirimos a fé necessária para passar
nas provas de obediência que o tempo traz por meio de nossas escolhas
diárias. Podemos decidir agora que faremos prontamente tudo o que Deus
pedir de nós e podemos decidir agora que seremos firmes nas pequenas
provas de obediência que aumentam nossa fé para enfrentar as grandes
provas que com certeza virão.
Sei que, por meio do Espírito Santo, podemos saber o que Deus quer que
façamos. Testifico que Ele pode dar-nos a capacidade para fazer o que nos
pede, seja o que for e sejam quais forem as nossas provações. Oro e rogo que
decidamos ser rápidos em obedecer ao Senhor, sempre, nos momentos de paz
e em meio às tempestades. Com isso, nossa fé aumentará, teremos paz nesta
vida e ganharemos a certeza de que nós e nossa família poderemos qualificar-
nos para a vida eterna no mundo futuro.
Crescimento Pessoal por Meio da Ajuda ao Próximo
Nosso Exemplo Perfeito
Por mais diferentes que sejam nossas condições e nossa experiência de
vida, compartilhamos o desejo de tornar-nos melhores do que somos. Talvez
haja alguns que erroneamente supõem serem suficientemente bons ou alguns
que desistiram de tentar melhorar. Mas, para todos, a mensagem do
evangelho restaurado de Jesus Cristo é a de que podemos e devemos ter a
expectativa de tornar-nos cada vez melhores enquanto vivermos.
Parte dessa expectativa nos foi explicada em uma revelação dada por
Deus ao Profeta Joseph Smith. Ela descreve o dia em que nos encontraremos
com o Salvador, como acontecerá com todos nós. Diz o que devemos fazer
para preparar-nos e o que devemos esperar.
Está no livro de Morôni: “Portanto, meus amados irmãos, rogai ao Pai,
com toda a energia de vosso coração, que sejais cheios desse amor que ele
concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus
Cristo; que vos torneis os filhos de Deus; que quando ele aparecer, sejamos
como ele, porque o veremos como ele é; que tenhamos esta esperança; que
sejamos purificados, como ele é puro. Amém” (Morôni 7:48).
Isso deve ajudá-los a compreender por que todo santo dos últimos dias
fervoroso é otimista em relação ao que o futuro lhe reserva, por mais difícil
que seja o presente. Cremos que, ao vivermos o evangelho de Jesus Cristo,
podemos tornar-nos semelhantes ao Salvador, que é perfeito. A reflexão
sobre os atributos de Jesus Cristo deve extinguir o orgulho daquelas pessoas
satisfeitas consigo mesmas que acham que não precisam melhorar. E até a
pessoa mais humilde pode passar a ter esperança diante do convite de tornar-
se semelhante ao Salvador.
Para mim, o modo pelo qual essa maravilhosa transformação acontecerá
foi descrito num hino composto para as crianças. Lembro-me de observar o
rosto das muitas crianças que enchiam uma sala e cantavam esse hino num
domingo. Todas elas estavam inclinadas para a frente, quase na beira da
cadeira. Vi o brilho em seus olhos e a determinação em seu rosto ao cantarem
com muito entusiasmo:
(Janice Kapp Perry, “Eu Quero Ser Como Cristo”, Músicas para
Crianças, 1989, pp. 40–41).
Pareceu-me que elas não estavam apenas cantando; estavam afirmando
sua determinação. Jesus Cristo era seu exemplo. Sua firme meta era ser como
Ele. E seu olhar ávido e seus olhos brilhantes convenceram-me de que elas
não tinham dúvidas. Acreditavam que teriam sucesso. Acreditavam que a
instrução do Salvador de sermos perfeitos não era uma esperança, mas, sim,
um mandamento. Tinham certeza de que Ele havia preparado o caminho.
Essa determinação e essa confiança podem e devem estar no coração de
todo santo dos últimos dias. O Salvador preparou o caminho por meio de Sua
Expiação e de Seu exemplo. E até as crianças que cantavam aquele hino
sabiam como fazê-lo.
O amor é o princípio motivador pelo qual o Senhor nos conduz ao longo
do caminho que nos torna semelhantes a Ele, que é nosso exemplo perfeito.
Nosso modo de vida, a cada momento, precisa ser cheio de amor a Deus e
amor ao próximo. Não há surpresa nisso, já que o Senhor proclamou que
esses são os dois primeiros grandes mandamentos. É o amor a Deus que nos
leva a cumprir Seus mandamentos. E o amor ao próximo é o cerne de nossa
capacidade de obedecer a Ele.
Assim como Jesus, em Seu ministério mortal, usou uma criança como
exemplo do puro amor que as pessoas precisavam e podiam ter para
tornarem-se semelhantes a Ele, Cristo deu-nos a família como exemplo de um
ambiente ideal no qual podemos aprender a amar como Ele ama.
Isso acontece por que é no relacionamento familiar que encontramos
nossas maiores alegrias e nossas maiores tristezas. As alegrias advêm de
colocarmos o bem dos outros acima do nosso próprio. Isso é que é o amor. E
as tristezas advêm principalmente do egoísmo, que é a ausência de amor. O
ideal que Deus estabeleceu para nós é o de formar uma família da maneira
mais acertada para conduzir-nos à felicidade e afastar-nos das tristezas. Um
homem e uma mulher devem fazer convênios sagrados que colocarão o bem
e a felicidade do outro no centro de sua vida. Os filhos devem nascer em uma
família na qual os pais consideram as necessidades dos filhos tão importantes
quanto as suas próprias; e os filhos devem amar os pais e amarem-se uns aos
outros.
Esse é o ideal de uma família amorosa. Em muitos lares, há estas
palavras: “Nossa Família Pode Ser Eterna”. Perto da minha casa, há um
túmulo de uma mulher que foi mãe e avó. Ela e o marido foram selados um
ao outro e à sua posteridade no templo de Deus para esta vida e para toda a
eternidade. A inscrição na lápide diz: “Peço que não fique faltando ninguém”.
Ela pediu que essa inscrição fosse gravada em sua lápide porque sabia que as
escolhas de cada membro da família determinariam se a família voltaria a
estar toda reunida. A palavra “peço” está ali porque nem Deus nem ela
poderiam compelir ninguém a escolher a felicidade. Além disso, há Satanás,
que quer a miséria e não a felicidade das famílias nesta vida e na eternidade.
O que espero hoje é sugerir algumas escolhas que talvez pareçam
difíceis, mas que lhes assegurarão a qualificação para que não fique faltando
ninguém em sua família no mundo vindouro.
Primeiro, dou um conselho para o marido e a mulher. Orem pelo amor
que lhes permita ver o que há de bom em seu cônjuge. Orem pelo amor que
faz as fraquezas e os erros parecerem pequenos. Orem pelo amor que faz da
alegria de seu cônjuge a sua alegria. Orem pelo amor que os fará querer
aliviar o fardo e amenizar os sofrimentos de seu cônjuge.
Vi isso no casamento de meus pais. Na doença terminal de minha mãe,
quanto mais desconfortável ela ficava, mais meu pai se dedicava a dar-lhe
conforto. No hospital, pediu que fosse colocado um leito para ele no quarto
dela. Estava determinado a estar presente para certificar-se de que nada
faltasse a ela. Caminhava vários quilômetros todas as manhãs para ir
trabalhar e mais outro tanto à noite para estar de volta a seu lado, durante
todo aquele período difícil da vida dela. Creio que foi uma dádiva de Deus a
ele o fato de sua capacidade de amar ter aumentado quando isso era tão
importante para ela. Acho que era por amor que ele fazia o que Jesus teria
feito.
Agora, dou um conselho para os pais de filhos rebeldes. O Salvador é o
exemplo perfeito de persistência em amar. Lembrem-se de Suas palavras de
consolo ao povo nefita que havia rejeitado os convites anteriores de achegar-
se a Ele. Ele disse aos sobreviventes da destruição ocorrida após Sua
Crucificação: “Ó vós, casa de Israel a quem poupei, quantas vezes vos
ajuntarei como a galinha ajunta seus pintos sob as asas, se vos arrependerdes
e voltardes a mim com firme propósito de coração!” (3 Néfi 10:6.)
A história do filho pródigo dá esperança a todos nós. O filho pródigo
lembrou-se de casa, e seus filhos também se lembrarão. Eles vão sentir seu
amor atraí-los de volta. O Élder Orson F. Whitney, numa conferência geral
em 1929, fez uma promessa extraordinária, que sei que é verdadeira, aos pais
fiéis que honram o selamento a seus filhos realizado no templo: “Embora
algumas ovelhas se percam, o Pastor não as perde de vista e, cedo ou tarde,
elas sentirão os braços da Divina Providência estenderem-se para elas,
atraindo-as de volta ao redil”.
Depois, ele prossegue, dizendo: “Orem por seus filhos descuidados e
desobedientes. Apeguem-se a eles com sua fé. Continuem a ter esperança e a
confiar até verem a salvação de Deus” (Conference Report, abril de 1929, p.
110). Vocês podem orar por seus filhos, amá-los e estender a mão para eles
com a certeza de que Jesus também estende a mão para eles com vocês. Se
continuarem tentando, estarão fazendo o que Jesus faria.
Agora, eis meu conselho para os filhos. O Senhor lhes deu um
mandamento com promessa: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se
prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Mosias
13:20). É o único dos Dez Mandamentos que inclui uma promessa. Talvez
seus pais não estejam vivos. Em alguns casos, pode ser que vocês pensem
que seus pais não são dignos da honra e do respeito dos filhos; pode ser até
que vocês nem os conheçam; mas vocês lhes devem a vida. Em todo caso,
mesmo que sua vida não seja prolongada, sua qualidade será melhor
simplesmente por se lembrarem de seus pais com honra.
Agora, para os que adotaram a família de outros como a sua própria:
Tenho amigos que se lembram do aniversário de meus filhos melhor do que
eu. Minha mulher e eu temos amigos que raramente deixam de nos visitar nos
feriados ou de lembrar-se de nós. Muitas vezes fico tocado quando alguém
começa uma conversa dizendo: “Como vai sua família?” e, depois, com uma
expressão amorosa, espera para ouvir a resposta. Essas pessoas ouvem com
atenção o que lhes conto da vida de cada um de meus filhos. Seu amor me
ajuda a sentir mais intensamente o amor do Salvador por nossos filhos. Com
sua pergunta, sinto que sentem o mesmo que Jesus e perguntam o que Ele
perguntaria.
Todos nós talvez achemos difícil ver em nossa vida uma capacidade
cada vez maior de amar e de tornar-nos mais semelhantes ao Salvador, que é
nosso exemplo perfeito. Quero incentivá-los. Vocês têm evidências de que
estão progredindo na jornada para se tornarem mais semelhantes a Jesus. Será
útil lembrarem-se de como, às vezes, sentiram-se como criancinhas mesmo
em meio a preocupações e provações. Pensem nas crianças que cantaram
aquele hino. Pensem nos momentos em que se sentiram, talvez recentemente,
como aquelas crianças ao cantar: “Eu quero ser como Cristo, seguindo seus
passos vou”. Devem estar lembrados de que Jesus pediu aos discípulos que
levassem as crianças até Ele, dizendo: “Deixai vir os meninos a mim (…);
porque dos tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14). Vocês já sentiram a paz
que sente uma criancinha pura, em certos momentos, quando tentaram ser
como Cristo.
Pode ter sido quando foram batizados. Ele não precisava do batismo
porque era puro, mas, quando vocês foram batizados, sentiram que ficaram
puros como uma criancinha. Quando Ele foi batizado, os céus se abriram e
Ele ouviu a voz do Pai Celestial dizer: “Este é o meu Filho amado, em quem
me comprazo” (Mateus 3:17). Vocês não ouviram uma voz, mas sentiram a
aprovação do Pai Celestial por terem feito o que Jesus fez.
Sentiram isso em sua família quando pediram o perdão de seu cônjuge
ou perdoaram a um filho por algum erro ou alguma desobediência. Tais
momentos serão mais frequentes se vocês procurarem fazer as coisas que
sabem que Jesus faria. Graças à Expiação que Ele realizou por vocês, se
forem obedientes como uma criança, sentirão o amor do Salvador por vocês e
seu amor por Ele. Essa é uma das dádivas prometidas a Seus discípulos fiéis.
E essa dádiva pode ser concedida não só a vocês, mas também aos membros
amorosos de sua família. A promessa foi feita em 3 Néfi: “E todos os teus
filhos serão instruídos pelo Senhor; e a paz de teus filhos será abundante” (3
Néfi 22:13).
Espero que vocês saiam hoje à procura de oportunidades de fazer o que
Ele fez e de amar como Ele ama. Posso prometer-lhes que a paz que vocês
sentiram na infância lhes virá mais vezes e permanecerá por mais tempo com
vocês. A promessa que Ele fez a Seus discípulos é verdadeira: “Deixo-vos a
paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá” (João 14:27).
Nenhum de nós já é perfeito, mas podemos ter a confirmação frequente
de que estamos trilhando o caminho certo. Ele nos guia e nos chama a segui-
Lo.
Filhos de Deus
O General James Gavin era um jovem general do exército americano
durante a Segunda Guerra Mundial. Ele comandou a 82ª Divisão Aérea e
chefiou-a na invasão da Sicília. Houve baixas lá. Ele e sua divisão saltaram
de paraquedas por trás das linhas inimigas durante as invasões da França,
onde perderam mais homens. Então ele comandou-os em batalhas sangrentas
na Bélgica durante os contra-ataques alemães, e suas tropas sofreram grandes
baixas.
Os soldados do General Gavin receberam uma merecida licença. Alguns
foram para Paris, onde foram vistos por um general de outro exército aliado.
Mais tarde, quando encontrou o General Gavin, esse outro general disse-lhe
que nunca tinha visto soldados com melhor aparência. O General Gavin
prontamente respondeu que eles mereciam ter uma boa aparência: eram
sobreviventes.
Vocês estão entre os sobreviventes. Graças a terem escolhido o que é
certo e à ajuda de inúmeros servos de Deus, vocês conseguiram sobreviver a
uma saraivada de balas espirituais. Houve dezenas de milhares de vítimas.
Vocês conhecem algumas delas porque são seus amigos, seus irmãos e suas
irmãs espirituais. Vocês são mais do que simples sobreviventes daquela
guerra espiritual: são o futuro da Igreja. Deus sabe disso e espera mais de
vocês do que de todos os que os precederam, porque o reino precisará de
mais. Satanás sabe que vocês são o futuro da Igreja, o que me dá a solene
obrigação de alertá-los dos perigos que estão à frente e explicar como
sobreviver a eles durante a preparação para receber os privilégios que Deus
lhes dará.
Vocês têm a missão de buscar a excelência. Vocês, bem como todos os
santos dos últimos dias, precisam continuar a aprender durante toda a vida. E,
contudo, o Senhor adverte-nos do perigo ao dar-nos esse encargo. Lembrem-
se das palavras do Livro de Mórmon:
“Oh! Quão astuto é o plano do maligno! Oh! A vaidade e a fraqueza e a
insensatez dos homens! Quando são instruídos pensam que são sábios e não
dão ouvidos aos conselhos de Deus, pondo-os de lado, supondo que sabem
por si mesmos; portanto sua sabedoria é insensatez e não lhes traz proveito. E
eles perecerão” (2 Néfi 9:28).
Vocês devem buscar excelência e, ao mesmo tempo, fugir do orgulho, o
grande destruidor espiritual. A maioria das pessoas questiona se é possível
buscar excelência em qualquer coisa sem sentir um pouco de orgulho.
Um jogador de basquete profissional da NBA sentou-se ao meu lado em
um avião pouco depois do discurso do Presidente Ezra Taft Benson sobre os
perigos do orgulho. Na conferência geral, o Presidente Benson dissera que
não existia tal coisa como o orgulho justo. Meu colega de voo não tinha
escutado o discurso, então eu lhe contei o que fora dito e perguntei se seria
possível destacar-se na NBA se ele se despojasse de todo o orgulho. Ele
respondeu calmamente que não sabia se poderia sobreviver, muito menos se
sobressair.
Um astro da Broadway deu sua opinião sobre o lugar que o orgulho
ocupava em seu trabalho de uma forma muito expressiva. Ele tinha sido
contratado para o papel principal em uma produção de Um Violinista no
Telhado, com um elenco de estudantes universitários. Pediram-me que
fizesse uma oração com o elenco na noite de estreia. O veterano da
Broadway, que tinha feito o papel centenas de vezes, ficou atrás do círculo de
estudantes que se formou em torno de mim um pouco antes de a cortina subir.
Ele parecia confuso.
Pelo que me lembro, pedi a Deus que os membros do elenco
conseguissem exceder suas habilidades naturais, que o equipamento de cena
funcionasse bem, que o coração do público fosse suavizado e fosse tocado.
Não me recordo de muito mais da oração, mas me lembro do que aconteceu
logo depois que disse “Amém”.
O astro da Broadway saltou no ar, pousou no palco fazendo um som
explosivo com suas botas pesadas, bateu as mãos nas coxas, em seguida as
jogou para cima e gritou: “Okay, agora vamos lá!” Se o público ouviu seu
grito, e imagino que ouviu, deve ter achado que o elenco atravessaria a
cortina e se lançaria sobre a plateia criando um grande caos.
Só posso supor que ele estava determinado a combater o terrível erro
que tinha acabado de presenciar. A última coisa no mundo que ele queria era
subir no palco com um grupo de atores amadores que tinham sido infectados
pela humildade.
Não pretendo dizer a vocês como buscar excelência e humildade
simultaneamente na NBA ou na Broadway. Se chegarem nesses lugares,
terão que encontrar seu próprio caminho.
Mas vou dizer-lhes que não só é possível buscar excelência e humildade
ao mesmo tempo para evitar o perigo espiritual como também que o caminho
para a humildade é também a porta de entrada para excelência. O melhor
antídoto que conheço para o orgulho também pode gerar em nós as
características que levam à excelência.
Vamos começar com o problema de orgulho. Há mais do que um
antídoto para ele. Alguns antídotos não necessitam de nenhuma ação de nossa
parte. A vida se encarrega deles. O fracasso, a doença, os desastres e as
perdas de todos os tipos costumam desbastar o orgulho. Mas esses antídotos
vêm em doses irregulares. Quando vêm em grande quantidade de uma só vez,
podem levar-nos ao desânimo ou à amargura. Ou podem chegar tarde demais,
depois que o orgulho já nos tornou vulneráveis à tentação.
Existe um método melhor. Há algo que, se decidirmos fazer no nosso
cotidiano, proporcionará uma proteção constante contra o orgulho. É
simplesmente lembrarmo-nos de quem é Deus e do que significa ser Seus
filhos. É esse o convênio que fazemos todas as vezes que tomamos o
sacramento e prometemos lembrar-nos sempre do Salvador. Devido ao que
nos foi revelado sobre o plano de salvação, lembrar-se Dele pode gerar a
humildade que será nossa proteção. E como veremos mais tarde, a mesma
escolha de lembrar-nos Dele produzirá em nós com o tempo uma capacidade
maior de aprender tanto o que precisamos saber para viver neste mundo como
para a vida futura.
Lembrar-se do Salvador gera humildade da seguinte maneira: Por
sermos abençoados com revelações por meio dos profetas desta dispensação,
vemos qual é o papel Dele no plano de salvação e passamos a conhecer nosso
amoroso Pai Celestial e a saber o que significa ser Seus filhos espirituais.
Quando nos lembramos do Salvador, nós O vemos como Criador de
todas as coisas, das quais até o mais sábio de nós sabe muito pouco.
Lembramo-nos de como dependemos de Seu sacrifício ao pensarmos na
queda do homem e em nossos próprios pecados. Lembramo-nos de Seu amor
infinito por nós e de seus braços estendidos para nós ao ponderamos, apesar
do pouco que entendemos, naquilo que Ele fez para expiar nossos pecados.
Lembramo-nos que só voltaremos à presença de nosso Pai Celestial para
vivermos para sempre em família por meio da obediência a Seus
mandamentos e da orientação do Espírito Santo. E lembramo-nos de Seu
exemplo de completa submissão à vontade de Seu Pai, que também é nosso
Pai.
Essas lembranças, se lhes dermos lugar, podem produzir uma poderosa
mistura de coragem e mansidão. Nenhum problema é difícil demais para nós
com a ajuda Dele. Não há preço é alto demais a pagar por aquilo que Ele nos
oferece. E, contudo, em nossos maiores sucessos, nos sentimos como
criancinhas, e, em nossos maiores sacrifícios, ainda nos sentimos em dívida
para com Ele e queremos fazer mais. Essa é uma humildade que nos dá
energia, não nos debilita. Podemos optar por usar esse escudo como proteção
contra o orgulho. E quando tomamos essa decisão, de lembrarmo-nos Dele,
estamos ao mesmo tempo optando por fazer algo que pode levar-nos a
adquirir características que nos permitirão aprender muito.
A visão do que significa ser filho de Deus, se decidirmos pautar nossas
ações por ela, como uma realidade, vai levar-nos a fazer o que os bons alunos
fazem. Esses hábitos não são exclusivos daqueles que entendem as revelações
de Deus e têm fé nelas. Os princípios de aprendizagem funcionam da mesma
forma para todas as pessoas, quer conheçam e acreditem ou não no plano de
salvação. Mas temos uma vantagem. Podemos lembrar-nos do Salvador,
ponderar o que as revelações nos dizem sobre quem somos e, depois, optar
por agir de acordo com essa realidade. Isso nos transformará em bons alunos.
Vou mencionar apenas alguns dos hábitos dos bons alunos. Em cada
caso, vocês vão reconhecê-los. Vocês já conheceram grandes estudiosos e já
os observaram atentamente. Existem alguns padrões comuns no que fazem, e
cada um desses hábitos será reforçado se, na vida diária, agirmos de acordo
com nossa crença de que o plano de salvação é a descrição da realidade.
O primeiro comportamento característico é o de aceitar correção. Vocês
devem ter visto isso, por exemplo, em alunos que valorizam a sábia correção
de seus trabalhos. Os alunos que procuram quem os corrija, estudam as
correções feitas e, depois, revisam o que escreveram tornam-se melhores
escritores. Da mesma forma, os cientistas progridem mais rápido quando
entregam seu trabalho para ser analisado por pessoas que entendam seus
métodos e os resultados da pesquisa. E, no processo de aprender um novo
idioma, sábio é aquele que, em vez de procurar um professor que o elogie por
qualquer coisa que ele diga, procura um professor que não deixe uma palavra
mal pronunciada nem um erro de conjugação verbal passar sem ser corrigido.
O desejo de ser corrigido, um traço dos bons alunos, é algo natural para
os santos dos últimos dias que sabem o que é ser filho de Deus e valorizam
isso. Para essas pessoas, o primeiro passo é buscar com frequência a correção
que vem diretamente do Pai Celestial. Uma das mais valiosas formas de
revelação pessoal pode vir antes da oração particular. Pode vir na calma
reflexão de como talvez tenhamos ofendido, decepcionado ou desagradado
nosso Pai Celestial. O Espírito de Cristo e o Espírito Santo nos ajudarão a
sentir ao mesmo tempo a repreensão pelo erro e o incentivo ao
arrependimento. Com isso, as orações pedindo perdão tornam-se menos
gerais e aumenta a probabilidade de que a Expiação opere em nossa vida.
Nós, santos dos últimos dias, temos outra vantagem: Sabemos que o Pai
nos ama e, por isso, permitiu que vivêssemos em uma época em que Jesus
Cristo chamou profetas e outros para servirem como juízes em Israel. Por
causa disso, ouvimos a voz do profeta ou aconselhamo-nos com o bispo na
esperança de sermos corrigidos.
Isso é assim porque sabemos um pouco a respeito da natureza de Deus e
de nossa própria condição. Houve uma queda. Um véu de esquecimento foi
colocado sobre nós. Andamos pela fé. Porque somos mortais, todos pecamos.
Não podemos voltar à presença do Pai a menos que nos arrependamos e
cumpramos nossos convênios e, assim, sejamos purificados por meio do
sacrifício de Seu Filho. Sabemos que Ele providenciou servos para oferecer-
nos Seus convênios e Sua correção. Consideramos o que damos e recebemos
no processo de correção como algo inestimável e sagrado. Essa é pelo menos
uma das razões pelas quais o Senhor advertiu-nos a buscar como professores
somente homens e mulheres inspirados por Ele, e essa é uma das razões pelas
quais aceitamos com prazer profetas para nos guiar.
Uma segunda característica dos bons alunos é que eles cumprem os
compromissos assumidos. Qualquer comunidade funciona melhor quando as
pessoas que vivem nela cumprem a promessa de viver de acordo com as
normas aceitas pela comunidade. Mas para um aluno ou para uma
comunidade de alunos, a observância de compromissos tem especial
importância.
É por isso que algumas vezes nos referimos aos campos formais de
estudo como “disciplinas”. Campos diferentes têm regras diferentes. Na física
existem algumas regras sobre como decidir acreditar que algo é verdadeiro. A
isso, algumas vezes dá-se o nome de “método científico”, mas, em outras
disciplinas, como a engenharia ou a geologia, as regras são um pouco
diferentes. Em história, em literatura francesa ou em contabilidade,
encontraremos conjuntos de regras ainda mais diversas. Vocês um dia
enfrentarão, se é que ainda não enfrentaram, a inquietação de tentar aprender
uma disciplina que está passando pelo processo de adoção de novas regras a
respeito das quais os especialistas estão tentando chegar a um consenso, mas
sem sucesso.
O que todas as disciplinas têm em comum é a busca por regras que as
orientem e o compromisso para com essas regras, e o que todos os bons
alunos têm em comum é que, ao encontrarem regras mais perfeitas, dão-lhes
grande valor e sentem-se comprometidos a segui-las. Por isso os bons alunos
consideram com cuidado os compromissos antes de assumi-los e, depois,
cumprem esses compromissos escrupulosamente.
Os santos dos últimos dias que se veem como filhos de Deus em tudo o
que fazem encaram com naturalidade o ato de assumir e cumprir
compromissos. O plano de salvação é marcado por convênios. Prometemos
obedecer aos mandamentos. Em troca, Deus promete-nos bênçãos nesta vida
e na eternidade. Ele é exato no que requer de nós e é perfeito em cumprir Sua
palavra. Ele requer exatidão de nós, porque nos ama e porque o propósito do
plano é que nos tornemos como Ele. As promessas que Ele nos faz sempre
incluem o potencial de aumentarmos nossa capacidade de guardar os
convênios. Ele permite que conheçamos Suas regras. Quando tentamos de
todo o coração cumprir os padrões estabelecidos por Deus, Ele nos concede a
companhia do Espírito Santo, que, por sua vez, aumenta nossa capacidade de
cumprir compromissos e discernir o que é bom e verdadeiro. E essa é a
capacidade de aprender tanto as coisas relativas aos estudos seculares como
aquelas que precisamos para a eternidade.
Há uma terceira característica que vemos nos bons alunos. Eles são
muito empenhados. Quando as pessoas param de se empenhar, param de
aprender, o que é um dos perigos de obter muito reconhecimento cedo na
carreira e de levar esse reconhecimento muito a sério.
Podem reparar que os alunos que mantêm essa capacidade de empenhar-
se ao longo da vida geralmente não o fazem só pelas notas, só para alcançar a
estabilidade como professor universitário nem pelas recompensas do mundo.
Algo mais os impulsiona. Para alguns, pode ser uma curiosidade natural de
ver como as coisas funcionam.
Para os filhos de Deus que têm fé suficiente no plano de salvação para
tratá-lo como realidade, o empenho é a única opção lógica. Até a vida mais
longa é curta. O que fazemos aqui determina nossa condição para o resto da
eternidade. Deus, nosso Pai, oferece-nos tudo o que tem e pede apenas que
Lhe demos tudo o que tivermos. É uma troca tão desequilibrada a nosso favor
que, por mais que façamos, é impossível esforçar-nos demais e é impossível
dedicar horas demais a Seu serviço, a serviço do Salvador e dos filhos do Pai.
Todo esse empenho é o resultado natural de simplesmente saber o que
significa ser filho de Deus e de acreditar nisso.
Isso nos leva à descrição de uma outra característica dos bons alunos: Os
bons alunos ajudam os outros. Todo bom aluno que já conheci ajudou-me,
tentou ajudar-me ou claramente desejou ajudar-me. Isso pode parecer um
paradoxo, já que as pessoas que estão esforçando-se para aprender poderiam
justificadamente ficar totalmente absortas em si mesmas e no que estão
tentando aprender. Agora sei que vão me corrigir. Vou antecipar sua
correção. Vocês diriam: “Será que isso se aplica a todos os bons alunos?”
Eu respondo: “Claro que não!” Há estudiosos renomados que são
egoístas e até mesmo cruéis com aqueles que consideram menos dotados.
Vocês ainda vão conhecer gente assim, se é que já não conhecem. Mas
aqueles que aprendem mais durante uma longa vida parecem ter uma visão
generosa dos outros, tanto no que se refere ao que eles mesmos podem
aprender com outras pessoas como à capacidade que os outros têm de
aprender. Aqueles que são intolerantes com os que julgam tolos tornam-se
mais tolos. Eles se fecham para o que poderiam aprender com outras pessoas.
Aqueles que mais aprendem parecem ver que todas as pessoas que
cruzam seu caminho sabem alguma coisa que eles não sabem e podem ter
uma habilidade que eles não têm. Por esse motivo, vocês verão, essas pessoas
que mais aprendem são as melhores companhias.
Essa visão bondosa e otimista dos outros é algo natural para os santos
dos últimos dias que têm fé. Todas as pessoas que eles já conheceram ou que
ainda conhecerão na vida são filhos de Deus — seus irmãos e suas irmãs de
fato, não apenas metaforicamente. Todas as pessoas que eles encontrarem,
seja qual for sua condição nesta vida, foram redimidas pelo sacrifício de amor
do Salvador do mundo. Toda pessoa responsável pelos próprios atos pode
exercer fé em Jesus Cristo a ponto de arrepender-se, fazer e guardar
convênios e qualificar-se para a vida eterna, a vida que Deus vive. Mesmo
aquelas que não são responsáveis aqui, algum dia terão o mesmo potencial.
Tendo isso como nossa realidade, não é difícil considerar as
necessidades dos que nos rodeiam tão importantes quanto as nossas nem
achar que até a pessoa mais humilde tem potencial divino. Tal forma de
pensar nos levará não só a ser mais bondosos e mais generosos em nossas
avaliações, mas também a ter expectativas elevadas quanto aos outros. Às
vezes, a melhor coisa que alguém pode fazer por nós é esperar mais de nós do
que nós mesmos esperamos, porque essas pessoas veem mais claramente os
traços divinos que herdamos.
Eis mais uma característica: o bom aluno espera resistência e a supera.
Vocês devem se lembrar de terem lido na escola sobre os inúmeros materiais
que Thomas Edison experimentou na tentativa de criar um filamento para a
lâmpada elétrica. A persistência que ele precisou ter para continuar tentando
apesar de sofrer fracasso após fracasso é um exemplo da aplicação dessa
regra de aprendizagem, não uma exceção a ela.
Vocês também já passaram por isso. Aprenderam certas coisas com
facilidade, mas, com mais frequência, tiveram que enfrentar o desânimo.
Podemos tentar evitar isso escolhendo aprender apenas o que é fácil para nós,
procurando o caminho de menor resistência. Mas o bom aprendiz sabe que as
dificuldades fazem parte do processo de aprendizado e está decidido a
persistir até vencê-las.
Entre os santos dos últimos dias que têm fé, esse ponto de vista é
comum. Talvez, como eu, vocês tenham sido abençoados com uma mãe para
quem o plano de salvação é uma realidade. Mais de uma vez eu me queixei
de dificuldades na escola. Ela respondia em um tom prático: “Hal, o que você
esperava? A vida é uma prova”. Então ela ia fazer outra coisa e me deixava
ali pensando. Ela sabia que, porque eu conhecia o plano, sua declaração do
óbvio iria me dar esperança, não desânimo.
Eu sabia e ela sabia que, para receber as bênçãos de Abraão, Isaque e
Jacó, precisamos enfrentar e passar por provas semelhantes às deles. Ela
sabia e eu sabia que quanto maior a prova, maior será o elogio que
receberemos de nosso amoroso Pai Celestial.
Ela morreu de câncer depois de uma década de sofrimento. No funeral, o
Presidente Spencer W. Kimball disse mais ou menos isto: “Alguns de vocês
devem estar-se perguntando que grandes pecados a Mildred terá cometido
para justificar tanto sofrimento. Não teve nada a ver com pecado. É só que o
Pai Celestial queria aperfeiçoá-la um pouco mais”.
Lembro-me de, sentado ali naquele momento, perguntar-me que
provações haveriam de estar à minha frente se uma mulher tão boa quanto ela
foi abençoada com um processo tão difícil de aperfeiçoamento.
Enfrentaremos dificuldades nos estudos e na vida, com base no que
sabemos de Deus e como sabemos que somos Seus filhos, o que Ele espera
de nós e o quanto Ele nos ama, essas dificuldades são de se esperar. Ele não
nos dará prova alguma sem antes preparar o caminho para que tenhamos
sucesso. Por causa do que sabemos sobre o papel da adversidade no
aprendizado, nesta comunidade de santos reverenciamos determinados
alunos, pois sabemos o preço que eles, de boa vontade, pagam. Sabemos
também de onde vem essa força para persistir em meio às dificuldades.
Nesta comunidade sabemos que somos irmãos e irmãs de Jó, de José do
Egito, de Joseph na Cadeia de Carthage e de Jesus no Getsêmani e no monte
do Calvário. Assim, não ficamos surpresos quando as tristezas nos atingem.
Respeitamos seu papel e conhecemos seu potencial.
Vocês podem muito bem estar-se perguntando que resultado espero
dessa breve recapitulação do poder que a fé no plano de salvação tem de
produzir humildade e capacidade de aprender. Não quero dizer que saiamos
daqui em busca de alguma experiência grandiosa que transforme nossa vida e
nosso aprendizado.
A melhor forma de aumentarmos nossa fé no fato de que somos filhos
do Pai Celestial é agirmos como tais. Agora é a hora de começarmos. Quando
forem inspirados quanto a algo que Deus quer que façam, ou quanto a algo
que Ele quer que façam de forma diferente, sigam a inspiração. Ajam
imediatamente. Depois de obedecerem, receberão mais inspirações divinas
quanto ao que Ele pede de vocês. Guardar os mandamentos aumenta nossa
capacidade de guardar outros mandamentos.
Vocês podem buscar ser corrigidos hoje. Podem cumprir um
compromisso. Podem trabalhar com empenho. Podem ajudar outra pessoa.
Podem persistir em meio às adversidades. E se fizermos essas coisas dia após
dia, aos poucos, veremos que aprendemos aquilo que Deus queria ensinar-
nos, não importa o que seja, e que a lição valerá para esta vida e para a
próxima, com Ele.
Você é filho de Deus. Nosso Pai Celestial vive. Jesus é o Cristo, nosso
Salvador. Por meio de Joseph Smith, o conhecimento do plano de salvação
foi restaurado. Se agirmos de acordo com esse plano como devemos, teremos
direito à vida eterna, que é nossa herança. Se o colocarmos em prática,
seremos abençoados com a humildade que nos permite aprender, que nos dá
capacidade para servir e que possibilita que nos coloquemos em condições de
receber os privilégios que Deus quer nos conceder.
Confiar em Deus e, Então, Agir
As necessidades dos santos dos últimos dias em todo o mundo são
muitas e diversas. Cada um de vocês é um filho incomparável de Deus. Deus
os conhece individualmente. Ele envia mensagens de incentivo, correção e
orientação, sob medida para vocês e suas necessidades.
Um dia, enquanto ponderava e orava sobre como poderia ajudar a
atender essas necessidades, recebi a resposta a minha oração ao ler as
palavras de Alma, um grande servo do Senhor, no Livro de Mórmon:
“Oh! eu quisera ser um anjo e poder realizar o desejo de meu coração de
ir e falar com a trombeta de Deus, com uma voz que estremecesse a terra, e
proclamar arrependimento a todos os povos!
Sim, declararia a todas as almas, com voz como a do trovão, o
arrependimento e o plano de redenção, para que se arrependessem e viessem
ao nosso Deus, a fim de não haver mais tristeza em toda a face da Terra.
Mas eis que sou um homem e peco em meu desejo; porque deveria
contentar-me com as coisas que o Senhor me concedeu” (Alma 29:1–3).
Depois descobri, na reflexão de Alma, a orientação pela qual vinha
orando: “Porque eis que o Senhor concede a todas as nações que ensinem a
sua palavra em sua própria nação e língua, sim, em sabedoria, tudo o que ele
acha que devem receber; vemos, portanto que o Senhor aconselha com
sabedoria, segundo o que é justo e verdadeiro” (Alma 29:8).
Deus envia mensagens e mensageiros autorizados a Seus Filhos.
Precisamos desenvolver confiança suficiente em Deus e em Seus servos a
ponto de agir e obedecer a Seus conselhos. Ele quer isso porque nos ama e
deseja nossa felicidade. Ele sabe que a falta de confiança Nele traz
infelicidade.
Essa falta de confiança causou sofrimento para os filhos do Pai Celestial
desde antes de o mundo ser criado. Sabemos, por meio de revelações de Deus
ao Profeta Joseph Smith, que muitos de nossos irmãos e irmãs no mundo pré-
mortal rejeitaram o plano para nossa vida mortal apresentado por nosso Pai
Celestial e Seu Filho mais velho, Jeová (ver Doutrina e Convênios 29:36–37;
Abraão 3:27–28).
Não sabemos todas as razões do terrível sucesso que Lúcifer obteve em
incitar aquela rebelião. Contudo, uma delas é clara. Aqueles que perderam a
bênção de vir para a mortalidade careciam de suficiente confiança em Deus
para evitar a miséria eterna.
O triste padrão da falta de confiança em Deus persiste desde a Criação.
Tomarei cuidado ao citar exemplos da vida de alguns filhos de Deus, pois
não conheço todos os motivos que os levaram a não ter suficiente fé para
confiar Nele. Muitos de vocês já estudaram os momentos de crise da vida
dessas pessoas.
Jonas, por exemplo, não apenas rejeitou a mensagem do Senhor
dizendo-lhe que fosse a Nínive como tomou o rumo oposto. Naamã não
confiou na instrução dada pelo profeta do Senhor, de banhar-se no rio, para
que o Senhor o curasse da lepra, considerando aquela simples tarefa indigna
de sua nobreza.
O Salvador convidou Pedro a sair da segurança do barco e a caminhar
até Ele sobre as águas. Sofremos por ele e reconhecemos nossa própria
carência de uma fé maior em Deus ao ouvir este relato:
“Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por
cima do mar.
E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo:
É um fantasma. E gritaram com medo.
Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não
temais.
E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter
contigo por cima das águas.
E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas
para ir ter com Jesus.
Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo,
clamou, dizendo: Senhor, salva-me!
E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de
pouca fé, por que duvidaste?” (Mateus 14:25–31.)
Dá-nos coragem o fato de Pedro ter passado a confiar no Senhor a ponto
de permanecer fiel a serviço Dele por toda a vida, até o próprio martírio.
O jovem Néfi, no Livro de Mórmon, desperta em nós o desejo de
desenvolver confiança no Senhor para obedecer a Seus mandamentos, por
mais difíceis que nos pareçam. Néfi enfrentou perigos e arriscou a vida ao
declarar estas palavras confiantes que podemos e precisamos sentir com
firmeza no coração: “Eu irei e cumprirei as ordens do Senhor, porque sei que
o Senhor nunca dá ordens aos filhos dos homens sem antes preparar um
caminho pelo qual suas ordens possam ser cumpridas” (1 Néfi 3:7).
Essa confiança advém do conhecimento de Deus. Mais do que qualquer
outro povo da Terra, e graças aos gloriosos eventos da Restauração do
evangelho, sentimos a paz que o Senhor ofereceu a Seu povo nestas palavras:
“Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmos 46:10). Meu coração se
enche de gratidão pelo que Deus revelou a respeito de Si mesmo para que
confiemos Nele.
Isso, em minha opinião, começou em 1820, com um jovem que foi a um
bosque, numa fazenda do Estado de Nova York. O rapaz, Joseph Smith Jr.,
caminhou por entre as árvores até um lugar isolado. Ajoelhou-se em oração,
com total confiança de que Deus responderia a sua súplica para saber o que
devia fazer a fim de ser purificado e salvo por meio da Expiação de Jesus
Cristo (ver Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p.
31).
Toda vez que leio seu relato, minha confiança em Deus e em Seus
servos aumenta:
“Vi um pilar de luz acima de minha cabeça, mais brilhante que o sol,
que descia gradualmente sobre mim.
Assim que apareceu, senti-me livre do inimigo que me sujeitava.
Quando a luz pousou sobre mim, vi dois Personagens cujo esplendor e glória
desafiam qualquer descrição, pairando no ar, acima de mim. Um deles falou-
me, chamando-me pelo nome, e disse, apontando para o outro: Este é Meu
Filho Amado. Ouve-O!” (Joseph Smith—História 1:16–17).
O Pai nos revelou que Ele vive, que Jesus Cristo é Seu Filho Amado e
que Ele nos amou tanto que enviou esse Filho para salvar a nós, Seus filhos.
E por ter um testemunho de que Ele chamou aquele rapaz sem instrução para
ser apóstolo e profeta, confio em Seus apóstolos e profetas atuais, e naqueles
a quem eles chamam para servir a Deus.
Essa confiança abençoou minha vida e a de minha família. Há vários
anos, ouvi o Presidente Ezra Taft Benson aconselhar-nos a fazer tudo o que
pudéssemos para livrar-nos das dívidas e manter-nos livres delas. Ele
mencionou o financiamento da casa própria. Disse que talvez não fosse
possível, mas que seria melhor se conseguíssemos quitar nossa dívida do
financiamento (ver, por exemplo, “Preparai-vos para os Dias de Tribulação”,
A Liahona, março de 1981, p. 44).
Virei para minha mulher, depois da reunião, e perguntei: “Acha que
existe alguma maneira de fazermos isso?” A princípio, não nos parecia
possível. Depois, à noite, lembrei-me de uma propriedade que havíamos
comprado em outro estado. Por vários anos tínhamos tentado vendê-la, sem
sucesso.
Mas, como confiávamos em Deus e naquelas poucas palavras proferidas
no meio da mensagem de Seu servo, na manhã da segunda-feira telefonamos
para o corretor encarregado da venda de nossa propriedade, em San
Francisco. Eu tinha ligado para ele poucas semanas antes, mas ele dissera:
“Há anos que ninguém mostra interesse por sua propriedade”.
No entanto, na segunda-feira depois da conferência, ouvi uma resposta
que até hoje fortalece minha confiança em Deus e em Seus servos.
O homem ao telefone disse: “Fico surpreso por você ter ligado.
Apareceu um homem hoje perguntando se poderia comprar sua propriedade”.
Maravilhado, perguntei: “Quanto ele ofereceu?” Eram alguns dólares além do
valor de nossa dívida.
Alguns diriam que foi mera coincidência, mas nosso financiamento da
casa própria foi quitado. E nossa família ainda procura escutar toda palavra
que possa vir a ser proferida na mensagem do profeta para dizer-nos o que
fazer para ter a paz e a segurança que Deus deseja conceder-nos.
Essa confiança em Deus pode abençoar nossa comunidade e nossa
família. Criei-me numa cidadezinha em New Jersey. Nosso ramo da Igreja
tinha pouco mais de 20 membros que frequentavam regularmente as reuniões.
Entre eles havia uma mulher idosa e muito humilde, que se havia
convertido à Igreja. Era imigrante e falava com forte sotaque norueguês. Ela
era o único membro da Igreja em sua família, era também o único membro da
Igreja na cidade em que morava.
Por meio do meu pai, que era presidente do ramo, o Senhor chamou-a
para ser presidente da Sociedade de Socorro do ramo. Ela não tinha um
manual que lhe dissesse o que tinha de fazer nem outro membro da Igreja que
morasse por perto. Ela sabia apenas que o Senhor Se importava com os
necessitados e também conhecia o breve lema da Sociedade de Socorro: “A
caridade nunca falha”.
Isso aconteceu bem no meio da época que conhecemos como a “Grande
Depressão”. Milhares de pessoas estavam desempregadas e desabrigadas.
Portanto, sentindo que recebera uma tarefa do Senhor, ela pediu roupas
velhas a seus vizinhos. Lavou e passou as roupas e as pôs em caixas de
papelão, na varanda dos fundos de sua casa. Quando surgiam homens sem
dinheiro, que precisavam de roupas, pedindo ajuda a seus vizinhos, eles
diziam: “Vá até a casa que fica no fim da rua. Ali mora uma senhora mórmon
que lhe dará o que você precisa”.
O Senhor não governava a cidade, mas Ele mudou parte dela para
melhor. Chamou uma pequena mulher — sozinha — que confiava Nele o
suficiente para procurar saber o que Ele queria dela e, então, fazê-lo. Graças a
sua confiança no Senhor, ela conseguiu ajudar naquela cidade centenas de
filhos necessitados do Pai Celestial.
Essa mesma confiança em Deus pode abençoar nações. Aprendi que
podemos confiar que Deus cumprirá esta promessa feita por Alma: “Porque
eis que o Senhor concede a todas as nações que ensinem a sua palavra em sua
própria nação e língua, sim, em sabedoria, tudo o que ele acha que devem
receber” (Alma 29:8).
Deus não está no governo das nações, mas Ele Se importa com elas. Ele
pode colocar em posição de influência pessoas que desejam o que é melhor
para o povo e que confiam no Senhor, e Ele realmente o faz (ver II Crônicas
36:22–23; Esdras 1:1–3; Isaías 45:1, 13).
Já vi isso em minhas viagens pelo mundo. Em uma cidade de mais de 10
milhões de pessoas, falei a milhares de santos dos últimos dias reunidos em
uma conferência, realizada em um grande estádio esportivo.
Antes do início da reunião, percebi um homem jovem e de boa aparência
sentado na primeira fila. Rodeavam-no outros que, tal como ele, estavam
mais bem-vestidos do que a maioria das pessoas a sua volta. Perguntei à
autoridade geral da Igreja ao meu lado quem eram aqueles homens. Ele
sussurrou-me que eram o prefeito da cidade e seus assessores.
Ao caminhar para meu carro após a reunião, fiquei surpreso ao ver o
prefeito esperando para cumprimentar-me, acompanhado de seus assessores.
Ele se adiantou, estendeu-me a mão e disse: “Obrigado por ter vindo a nossa
cidade e ao nosso país. Sentimo-nos gratos pelo que vocês fazem para
edificar seu povo. Com pessoas e famílias assim, podemos criar a harmonia e
a prosperidade que desejamos para nosso povo”.
Percebi naquele momento que ele era uma das pessoas de coração
sincero colocadas por Deus em cargos influentes em meio a Seus filhos.
Somos uma minoria muito pequena entre os cidadãos daquela grande cidade
e nação. O prefeito pouco sabia sobre nossa doutrina e conhecia bem poucos
membros de nossa Igreja. Mas Deus lhe enviara a mensagem de que os santos
dos últimos dias, sob o convênio de confiar em Deus e em Seus servos
autorizados, viriam a tornar-se uma luz entre seu povo.
Sei que os servos de Deus que apoiamos como profetas, videntes e
reveladores, foram chamados por Deus para transmitir mensagens a Seus
filhos. O Senhor disse o seguinte a respeito deles: “O que eu, o Senhor, disse
está dito e não me desculpo; e ainda que passem os céus e a Terra, minha
palavra não passará, mas será toda cumprida, seja pela minha própria voz ou
pela voz de meus servos, é o mesmo” (Doutrina e Convênios 1:38).
Demonstramos nossa confiança Nele quando ouvimos com a intenção de
aprender e de arrepender-nos e, depois, fazemos tudo o que Ele nos pede. Se
confiarmos em Deus o suficiente para ouvir todos os discursos, hinos e
orações na Igreja com atenção à procura de Sua mensagem, nós a
encontraremos. E, se depois fizermos o que Ele deseja que façamos, nossa
capacidade de confiar Nele aumentará e, com o tempo, seremos dominados
pela alegria de descobrir que Ele passou a confiar em nós.
Preparação
Onde quer que eu esteja, de dia ou de noite, sempre tenho comigo um
pequeno frasco de azeite de oliva. Há um que deixo na gaveta do meio da
minha mesa de trabalho. Carrego outro no bolso, sempre que saio para
trabalhar no quintal ou quando estou em trânsito. Tenho mais um no armário
da cozinha de casa.
Cada um deles tem uma data gravada. É a data em que alguém,
exercendo o poder do sacerdócio, consagrou o azeite puro para a bênção e
cura dos enfermos.
Talvez vocês achem que sou um tanto exagerado na minha preparação.
Porém, o telefonema durante o dia ou a batida na porta à noite é sempre uma
surpresa. Alguém chega e pede: “Por favor, será que o senhor pode vir
depressa?” Certa vez, há alguns anos, um pai me ligou do hospital. Sua
filhinha de três anos de idade tinha sido arremessada a 15 metros de distância
por um carro quando ela correu para atravessar a rua ao encontro da mãe.
Quando cheguei ao hospital, o pai implorou que o poder do sacerdócio
preservasse a vida dela. Os médicos e as enfermeiras relutaram em nos deixar
colocar as mãos no interior da barreira plástica que isolava a menina a fim de
pôr uma gota de óleo entre as grossas ataduras que lhe cobriam a cabeça. Um
dos médicos, irritado, disse-me: “Façam depressa o que têm de fazer. Ela está
morrendo”.
Mas ele estava errado. Ela sobreviveu e, ao contrário do que o médico
tinha dito, não apenas sobreviveu, mas reaprendeu a andar.
Quando o chamado chegou, eu estava pronto. A preparação consistiu de
muito mais do que ter o óleo consagrado à mão. Ela começa muito antes da
crise que requer o poder do sacerdócio. Aqueles que estiverem preparados
estarão prontos a atender.
A preparação começa na família, nos quóruns do Sacerdócio Aarônico e,
principalmente, na vida particular de cada rapaz. Os quóruns e a família têm
de ajudar, mas a verdadeira preparação vem dos próprios rapazes que
precisam fazer escolhas que os elevem ao seu grandioso destino de
portadores do sacerdócio e servos de Deus.
O destino das novas gerações de portadores do sacerdócio vai muito
além de estar preparados para empregar o poder de Deus para curar os
enfermos. A preparação consiste em estar prontos para fazer qualquer coisa
que o Senhor queira enquanto o mundo se prepara para a Sua vinda. Nenhum
de nós sabe exatamente que tarefas nos serão confiadas. Porém, sabemos o
que é necessário para estarmos prontos, portanto cada um de nós pode se
preparar.
Aquilo de que precisaremos no momento crítico será aquilo que
adquirimos no desempenho constante de um serviço obediente. Vou dizer-
lhes duas coisas de que precisaremos e qual é o preparo necessário para
estarmos prontos.
A primeira é ter fé. O sacerdócio é a autoridade para agir em nome de
Deus. É o direito de invocar os poderes do céu. Portanto, precisamos ter fé
que Deus vive e que conquistamos Sua confiança a ponto de Ele permitir que
usemos Seu poder para Seus propósitos.
Um exemplo do Livro de Mórmon os ajudará a ver como determinado
homem se preparou. Um certo portador do sacerdócio, chamado Néfi,
recebeu do Senhor uma difícil tarefa. Ele foi enviado pelo Senhor para
chamar um povo iníquo ao arrependimento antes que fosse tarde demais. Em
sua iniquidade e ódio, eles estavam matando uns aos outros. Mesmo as
tristezas não os tornaram humildes o suficiente para se arrepender e obedecer
a Deus.
Por causa da preparação de Néfi, Deus o abençoou com poder para
cumprir sua missão. As carinhosas palavras com as quais o Senhor deu poder
a Néfi servem-nos de orientação:
“Bem-aventurado és tu, Néfi, pelas coisas que tens feito; pois observei
que foste infatigável em pregar a este povo as palavras que te dei. E não o
temeste nem te preocupaste com tua própria vida, mas procuraste conhecer
minha vontade e cumprir meus mandamentos.
E agora, por teres feito isso com tanta perseverança, eis que te
abençoarei para sempre e te farei poderoso em palavras e ações, em fé e em
obras; sim, para que todas as coisas se realizem segundo tua palavra, pois
nada pedirás que seja contrário a minha vontade.
Eis que tu és Néfi e eu sou Deus. Eis que te declaro, na presença de
meus anjos, que terás poder sobre este povo e ferirás a terra com fome e com
pestilência e destruição, segundo a iniquidade deste povo.
Eis que te dou poder para que tudo quanto ligares na Terra seja ligado
no céu e tudo quanto desligares na Terra seja desligado no céu; e assim terás
poder entre este povo” (Helamã 10:4–7).
O Livro de Mórmon conta que o povo não se arrependeu. Então, Néfi
pediu a Deus que mudasse o clima. Ele pediu um milagre para ajudar as
pessoas a se arrependerem por causa da fome. E a fome lhes sobreveio. E o
povo se arrependeu e depois implorou a Néfi que pedisse a Deus que enviasse
chuva. Néfi pediu a Deus e Deus honrou sua fé inabalável.
Essa fé não surgiu no momento em que Néfi precisou dela, e a confiança
de Deus em Néfi também não. Ele obteve essa grande fé e a confiança de
Deus por meio de seu trabalho corajoso e contínuo a serviço do Senhor.
Vocês, rapazes, estão edificando essa fé agora, para o futuro, quando
precisarão dela.
Ela pode ser edificada por coisas tão simples quanto fazer
meticulosamente a ata das reuniões do quórum de diáconos ou mestres. Há
vários anos, certos rapazes mantinham registros meticulosos do que era
decidido e o que era feito por outros, que eram poucos meses mais velhos do
que eles mesmos. Para isso, era preciso ter fé, acreditar que Deus chamava
até rapazes de 12 anos de idade para servir a Ele e que esses rapazes eram
guiados por revelação. Alguns secretários de quórum daquela época fazem
agora parte dos conselhos presidentes da Igreja. Agora, eles leem as atas que
outros escrevem. E a revelação flui para eles agora como fluía para os líderes
a quem eles serviram quando eram jovens como vocês. Eles foram
preparados para confiar que Deus revela Sua vontade, mesmo nas questões
aparentemente pequenas de Seu reino.
O Senhor disse que Néfi merecia confiança porque jamais pediria coisa
alguma contrária à vontade de Deus. Para confiar tanto assim em Néfi, o
Senhor tinha de ter certeza que Néfi acreditava em revelações, que as buscava
e que seguia o que era revelado. Néfi, como parte de sua preparação do
sacerdócio, adquiriu longa experiência em seguir as inspirações de Deus.
Vocês precisam fazer o mesmo.
Vejo isso acontecer hoje. Nos últimos meses, ouvi diáconos, mestres e
sacerdotes fazerem discursos tão inspirados e vigorosos quanto os que
ouviríamos numa conferência geral. Ao perceber o poder que é dado aos
jovens portadores do sacerdócio, ocorre-me que as novas gerações estão se
erguendo ao nosso redor como as águas na maré cheia. O que peço em oração
é que nós, das gerações anteriores, consigamos elevar-nos junto com essa
maré. A preparação do Sacerdócio Aarônico é uma bênção para todos nós,
bem como para todos a quem eles servirão em sua geração e nas gerações
futuras.
No entanto, nem tudo está bem em Sião. Nem todos os jovens decidem
se preparar. Essa escolha deve ser de cada um. Eles são responsáveis por si
mesmos. Essa é a maneira do Senhor em Seu plano de amor. Mas há muitos
rapazes que têm pouco ou nenhum apoio daqueles que poderiam ajudá-los a
se preparar. Aqueles de nós que podem ajudar terão de prestar contas ao
Senhor. O pai que negligenciar ou prejudicar o desenvolvimento da fé ou da
habilidade de seguir a inspiração por parte do filho enfrentará tristezas no
futuro. Isso também vale para todo aquele que se encontra em posição de
ajudar os rapazes a fazer escolhas sábias em seus dias no sacerdócio
preparatório.
Uma segunda coisa da qual eles vão precisar é a confiança de que são
capazes de viver à altura das bênçãos e da confiança que Deus lhes oferece. A
maior parte das influências que os rodeiam arrasta-os para baixo e os leva a
duvidar da existência de Deus, do Seu amor por eles, bem como da
veracidade das mensagens, por vezes silenciosas, que recebem do Espírito
Santo e do Espírito de Cristo. Seus colegas podem instigá-los a escolher o
pecado. E se os rapazes escolherem o pecado, as mensagens de Deus ficarão
cada vez menos perceptíveis.
Podemos ajudá-los a optar por preparar-se, amando-os, alertando-os e
demonstrando confiança neles. Mas podemos ajudar ainda mais com nosso
exemplo de servos fiéis e inspirados. Em nossa família, nos quóruns, nas
aulas e sempre que estivermos juntos, podemos agir como verdadeiros
portadores do sacerdócio, que usam seu poder da maneira que Deus ensinou.
Para mim, essa instrução está claríssima na seção 121 de Doutrina e
Convênios. O Senhor alerta, nessa seção, que nossos motivos devem ser
puros: “Nenhum poder ou influência pode ou deve ser mantido em virtude do
sacerdócio, a não ser com persuasão, com longanimidade, com brandura e
mansidão e com amor não fingido” (Doutrina e Convênios 121:41). Quando
lideramos e influenciamos os rapazes, nunca devemos fazê-lo para satisfazer
nosso orgulho ou nossa ambição. Nunca devemos usar da compulsão em
qualquer grau de injustiça. Esse é o elevado padrão do exemplo que devemos
ser para os jovens.
Vi isso acontecer quando eu era mestre e sacerdote. Meu bispo e os que
serviam com ele estavam determinados a não perder nenhum de nós. Tanto
quanto eu conseguia perceber, a determinação deles era motivada por seu
amor ao Senhor e a nós, nunca por propósitos egoístas.
O bispo adotava um sistema. Cada consultor de quórum devia entrar em
contato com cada rapaz com quem não tivesse falado no domingo. Não
podiam ir dormir até que falassem com o rapaz que faltara, com os pais dele
ou com um amigo chegado. O bispo lhes prometia que não apagaria a luz do
próprio quarto até receber um relato sobre cada rapaz. Não acredito que ele
lhes tenha dado uma ordem. Ele simplesmente deixou claro que esperava que
eles não se deitassem antes de fazer o relato.
O bispo e os que com ele serviam estavam fazendo muito mais do que
cuidar de nós. Estavam nos mostrando pelo exemplo o significado de cuidar
das ovelhas do Senhor. Nenhum esforço era demais para ele ou para aqueles
que serviam nos quóruns. Com seu exemplo, ensinaram-nos o significado de
ser incansáveis no serviço do Senhor. O Senhor estava-nos preparando pelo
exemplo.
Não faço ideia se eles achavam que algum de nós se tornaria alguém
especial, mas nos tratavam como se achassem, pois estavam sempre dispostos
a fazer qualquer sacrifício para evitar que perdêssemos a fé.
Não sei como o bispo conseguiu que tantas pessoas tivessem
expectativas tão altas. Pelo que sei, conseguiu isso por meio de “persuasão,
com longanimidade, com brandura e mansidão e com amor não fingido”. O
método de “não apagar as luzes”, que o bispo usava, não funcionaria em
alguns lugares, mas o exemplo de cuidar de cada rapaz, sem falhar,
buscando-o de imediato, trouxe o poder dos céus à nossa vida. E sempre
trará. Isso ajudou os rapazes a prepararem-se para os dias em que Deus
precisaria deles nas famílias e em Seu reino.
Para mim, meu pai foi um exemplo daquilo que o Senhor ensina na
seção 121, sobre como obter a ajuda do céu para preparar os rapazes. Na
minha juventude, ele às vezes se decepcionava com meu empenho. E ele me
dizia quando isso acontecia. Eu percebia na voz dele que ele achava que eu
era capaz de agir melhor, mas ele demonstrava isso à maneira do Senhor:
“Reprovando prontamente com firmeza, quando movido pelo Espírito Santo;
e depois, mostrando então um amor maior por aquele que repreendeste, para
que ele não te julgue seu inimigo” (Doutrina e Convênios 121:43).
Eu sabia, mesmo quando a correção era a mais direta possível, que ela
era feita com amor. De fato, o amor de meu pai parecia aumentar quando ele
aplicava sua forma mais forte de correção, que era um olhar de desaprovação
e decepção. Ele foi meu líder e meu treinador e nunca empregou compulsão.
Tenho certeza de que a promessa feita em Doutrina e Convênios será
cumprida para ele. A influência que exerceu sobre mim fluirá para ele
eternamente (ver Doutrina e Convênios 121:46).
Muitos pais e líderes, ao ouvirem as palavras da seção 121 de Doutrina e
Convênios, sentem que precisam aperfeiçoar-se para atingir esse padrão. Eu
sinto isso. Lembram-se de alguma ocasião em que tenham repreendido uma
criança ou um jovem com firmeza, movidos por outra coisa que não a
inspiração? Lembram-se de alguma ocasião em que tenham pedido a um filho
que fizesse alguma coisa ou algum sacrifício que vocês mesmos não estivam
dispostos a fazer? Esse pesar pode inspirar-nos ao arrependimento que fará
com que nos tornemos exemplos mais perfeitos daquilo que, por convênio,
prometemos ser.
Ao cumprirmos nossos deveres como pais e líderes, ajudaremos as
novas gerações a elevar-se e alcançar um futuro glorioso. Eles serão melhores
do que nós, da mesma forma como tentamos ser melhores pais do que nossos
pais e melhores líderes do que os grandes líderes que nos ajudaram.
Minha oração é que tenhamos a determinação necessária para ser
melhores a cada dia na preparação das novas gerações. Toda vez que eu vir
um frasco de óleo consagrado, hei de lembrar-me de meu desejo de fazer
mais para ajudar os rapazes a se prepararem para os dias de serviço e as
oportunidades que terão. Oro por uma bênção de preparação para eles. Tenho
certeza de que, com a ajuda do Senhor e a nossa, eles estarão prontos.
“Soldado Abatido!”
Não estamos em tempo de paz. Estamos em guerra desde que Satanás
reuniu suas forças contra o plano do Pai Celestial na existência pré-mortal.
Não conhecemos os detalhes da batalha ali travada, mas sabemos qual foi um
dos resultados. Satanás e seus seguidores foram expulsos e lançados à Terra.
Essa guerra continua desde a criação de Adão e Eva, e vemos que ela se
intensificou. As escrituras sugerem que a guerra se tornará ainda mais
violenta e que haverá muitas baixas espirituais nas fileiras do Senhor.
Quase todos já viram um campo de batalha mostrado em um filme ou
leram a descrição numa história. Em meio às explosões e aos gritos dos
soldados, ouve-se alguém clamar: “Soldado abatido!”
Ao ouvir esse grito, os leais companheiros do soldado abatido se
dirigem ao local de onde partiu o aviso. Outro soldado ou um oficial médico
ignora o perigo e se aproxima do companheiro ferido. O soldado abatido sabe
que a ajuda virá. Seja qual for o risco, alguém vai se esgueirar ou se arrastar
para chegar até ele a tempo de protegê-lo e dar-lhe assistência. Isso acontece
com qualquer grupo de homens unidos numa missão difícil e perigosa, a qual
decidiram cumprir a qualquer custo. As histórias desses grupos estão repletas
de relatos de homens leais que tomaram a firme decisão de não deixar
ninguém para trás.
Eis uma dessas histórias, extraída de um relato oficial (ver The U.S.
Army Leadership Field Manual, 2004, pp. 28–29). Na guerra da Somália, em
outubro de 1993, dois soldados do exército dos Estados Unidos estavam em
um helicóptero durante um tiroteio e souberam que dois outros helicópteros
haviam sido atingidos e caíram nas redondezas. Os dois soldados, em sua
posição relativamente segura, ficaram sabendo pelo rádio que não havia
forças terrestres disponíveis para resgatar os tripulantes de um dos
helicópteros derrubados. Um número cada vez maior de soldados inimigos se
aproximava do local da queda.
Os dois soldados que observavam do alto se ofereceram para descer ao
solo (as palavras que usaram foram “ser infiltrados”) a fim de proteger seus
companheiros gravemente feridos. Seu pedido foi negado porque a situação
era demasiadamente perigosa. Pediram mais uma vez. Novamente a
permissão foi negada. Só depois de seu terceiro pedido é que eles foram
abaixados até o solo.
Contando apenas com suas armas portáteis, abriram caminho à força até
o local em que os helicópteros haviam caído, onde estavam os soldados
feridos. Moveram-se sob intenso tiroteio, pois os inimigos convergiam para o
local da queda. Tiraram os feridos do meio dos destroços. Colocaram-se em
posição defensiva ao redor dos feridos, assumindo as posições mais
perigosas. Protegeram seus companheiros até ficar sem munição e, depois,
foram mortalmente feridos. Sua coragem e seu sacrifício salvaram a vida de
um piloto que, de outra forma, a teria perdido.
Ambos receberam postumamente a Medalha de Honra, a mais alta
condecoração de seu país, por bravura diante de um inimigo armado. A
homenagem declarava que o que eles fizeram foi “muito além do que exigia
seu dever”.
Pergunto-me, porém, se foi assim que encararam a situação ao descer
para ajudar seus companheiros feridos. Movidos pela lealdade, sentiram-se na
obrigação de defender seus companheiros a qualquer custo. Sua coragem para
agir e seu serviço abnegado emanavam do sentimento de que eram
responsáveis pela vida, felicidade e segurança dos companheiros.
Esse sentimento de responsabilidade por outras pessoas é o ponto central
do serviço fiel no sacerdócio. Nossos companheiros estão sendo feridos na
batalha espiritual que nos cerca. O mesmo se dá com as pessoas a quem
fomos chamados para servir e proteger. As feridas espirituais não são
facilmente visíveis, a não ser para olhos inspirados. Mas os bispos,
presidentes de ramo e presidentes de missão que entrevistam outros
discípulos do Salvador conseguem enxergar os feridos e suas feridas.
Isso vem acontecendo há muitos anos, no mundo inteiro. Lembro-me de
um bispo que observava o semblante e a atitude de um rapaz do sacerdócio
quando este pensamento lhe veio à mente de modo tão claro que quase lhe
pareceu audível: “Preciso falar com ele… e rápido! Algo está acontecendo.
Ele precisa de ajuda”.
Eu jamais ignoraria esse tipo de impressão, porque aprendi que as
feridas do pecado muitas vezes não são logo sentidas pela pessoa que se
feriu. Satanás às vezes parece injetar um anestésico para amortecer a dor
espiritual enquanto inflige o ferimento. A menos que algo aconteça de
imediato para iniciar o arrependimento, a ferida pode agravar-se e aumentar.
Consequentemente, como portador do sacerdócio responsável pela
sobrevivência espiritual de alguns dos filhos do Pai Celestial, você entra em
ação para ajudar, sem esperar que alguém grite “Soldado abatido!” Pode ser
que nem mesmo o melhor amigo, outros líderes ou os pais do jovem tenham
percebido o que você percebeu.
Talvez você seja o único a perceber, por inspiração, o grito de alerta. Os
outros podem achar, e você também pode ficar tentado a pensar: “Talvez o
problema que pensei ter visto seja apenas imaginação minha. Que direito
tenho eu de julgar as pessoas? Não é minha responsabilidade. Vou deixá-lo
em paz até que me peça ajuda”.
Somente um juiz autorizado em Israel recebe o poder e a
responsabilidade de verificar se existe um ferimento grave e explorá-lo; e
depois, sob inspiração de Deus, prescrever o tratamento necessário para que a
cura tenha início. Mesmo assim você está sob o convênio de procurar os
filhos de Deus que estejam espiritualmente feridos e tem a responsabilidade
de ser corajoso e destemido e de não fugir do dever.
Preciso explicar, da melhor forma possível, pelo menos duas coisas.
Primeiro: Por que você tem a responsabilidade de agir para ajudar seu amigo
ferido? E segundo: Como você pode cumprir essa responsabilidade?
Primeiro, como lhe foi claramente explicado, quando aceitou de Deus a
responsabilidade de receber o sacerdócio, você fez um convênio e aceitou a
responsabilidade por tudo o que fizer ou deixar de fazer pela salvação do
próximo, não importa quão difícil ou perigosa a situação lhe pareça.
Há incontáveis exemplos de portadores do sacerdócio que cumpriram
essa séria responsabilidade, e tanto eu como você precisamos fazer o mesmo.
Foi assim que Jacó, no Livro de Mórmon, descreveu sua sagrada
responsabilidade de prestar auxílio em uma situação difícil: “Agora, meus
amados irmãos, eu, Jacó, de acordo com a responsabilidade que tenho para
com Deus de magnificar meu ofício com sobriedade e para livrar minhas
vestimentas de vossos pecados, venho hoje ao templo para declarar-vos a
palavra de Deus” (Jacó 2:2).
Você pode argumentar que Jacó era profeta, mas você não é. Seja qual
for seu ofício no sacerdócio, ele traz consigo a obrigação de “[erguer] as
mãos que pendem e [fortalecer] os joelhos enfraquecidos” (Doutrina e
Convênios 81:5) das pessoas ao seu redor. Você é servo do Senhor e fez o
convênio de fazer pelos outros, da melhor forma possível, o que Ele faria.
Sua grande oportunidade e responsabilidade está descrita em
Eclesiastes:
“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu
trabalho.
Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que
estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (Eclesiastes 4:9–10).
A partir disso, compreendemos as palavras verdadeiras e inspiradoras de
Joseph Smith: “Ninguém, a não ser o tolo, trata com leviandade a alma dos
homens” (History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1932–
1951, vol. 3, p. 295). Como Jacó acreditava, o sofrimento de qualquer ser
humano decaído que ele pudesse ter ajudado — caso não o fizesse — se
tornaria seu próprio sofrimento. A sua felicidade e a daqueles a quem você
foi chamado para servir como portador do sacerdócio estão interligadas.
Chegamos, então, à questão de como ajudar aqueles a quem vocês foram
chamados a servir e resgatar. Isso vai depender de sua capacidade e de sua
posição no sacerdócio em relação à pessoa que está em perigo espiritual. Vou
apresentar três casos que talvez correspondam a suas oportunidades de
prestar serviço no sacerdócio.
Para começar, imaginemos que você é um inexperiente companheiro
júnior, um mestre no Sacerdócio Aarônico, encarregado de acompanhar um
companheiro mais experiente na visita a uma jovem família. Antes de
preparar-se para a visita, você ora pedindo forças e inspiração para perceber
as necessidades das pessoas e saber que tipo de ajuda pode oferecer a elas. Se
possível, essa oração deve ser feita com seu companheiro, mencionando
especificamente as pessoas que vão visitar. Ao orar, seu coração se abrirá a
cada uma dessas pessoas individualmente e a Deus. Você e seu companheiro
devem chegar a um acordo sobre o que pretendem realizar e planejar o que
vão fazer.
Seja qual for o plano, você deve observar e ouvir as pessoas com muita
atenção e humildade durante a visita. Você é jovem e inexperiente, mas o
Senhor conhece perfeitamente a situação espiritual e as necessidades dessas
pessoas. Ele as ama. Por saber que Ele o enviou para agir em nome Dele,
você pode crer com fé que conseguirá perceber as necessidades delas e o que
você pode fazer para ajudá-las. Isso acontecerá quando você visitá-las em
casa e conversar com elas face a face. É por isso que a seguinte
responsabilidade do sacerdócio foi registrada e Doutrina e Convênio: “Visitar
a casa de todos os membros, exortando-os a orarem em voz alta e em segredo
e a cumprirem todas as obrigações familiares” (Doutrina e Convênios 20:47).
Além disso, você tem outro encargo que exige ainda maior
discernimento:
“O dever do mestre é zelar sempre pela igreja, estar com os membros e
fortalecê-los;
E certificar-se que não haja iniquidade na igreja nem aspereza entre uns
e outros ' nem mentiras, maledicências ou calúnias;
E certificar-se que a igreja se reúna amiúde e também certificar-se que
todos os membros cumpram seus deveres” (Doutrina e Convênios 20:53–55).
Você e seu companheiro raramente terão inspiração para saber
exatamente até que ponto as pessoas estão cumprindo esse padrão, mas posso
prometer, por experiência própria, que você terá o dom de saber o que está
indo bem na vida delas e, assim, poderá incentivá-las. Há outra promessa que
posso fazer: você e seu companheiro serão inspirados a saber quais mudanças
elas podem fazer para dar início à cura espiritual de que precisam. A
inspiração que vocês receberem e as palavras que proferirem certamente
conterão algumas mudanças importantes que o Senhor deseja que elas façam.
Se seu companheiro tiver a inspiração de aconselhar uma mudança,
observe o que ele fizer. Provavelmente você ficará surpreso com o modo pelo
qual o Espírito o orientará a falar. Haverá amor em sua voz e ele encontrará
um modo de vincular a mudança necessária a uma bênção. Se for o pai ou a
mãe quem precisa fazer uma mudança, talvez ele mostre como isso trará
felicidade aos filhos. Ele descreverá a mudança como um afastamento da
infelicidade e a conquista de um lugar melhor e mais seguro.
Sua contribuição durante a visita talvez lhe pareça pequena, mas ela
pode surtir mais efeito do que você imagina. Você vai mostrar com seu
semblante e sua atitude que se importa com aquelas pessoas. Elas verão que
seu amor por elas e pelo Senhor o torna destemido. E você terá a coragem
para prestar testemunho da verdade. Seu testemunho humilde, simples e por
vezes breve pode tocar o coração de uma pessoa mais facilmente do que o
testemunho de seu companheiro mais experiente. Já vi isso acontecer.
Seja qual for o papel que você venha a desempenhar nessa visita do
sacerdócio, seu desejo de visitar as pessoas em nome do Senhor para ajudá-
las vai proporcionar pelo menos duas bênçãos. Primeira: você sentirá o amor
de Deus pelas pessoas a quem visita. Segunda: você sentirá como o Salvador
é grato por você ter sentido o desejo de ajudar as pessoas naquilo que Ele
sabia que elas precisavam.
Ele o enviou àquelas pessoas porque sabia que você as visitaria sentindo
a responsabilidade de convidá-las a achegar-se a Ele e a buscar a felicidade.
Quando ficar um pouco mais velho, você terá outra oportunidade em seu
serviço no sacerdócio. Você conhecerá muito bem seus companheiros de
quórum. Pode ser que jogue futebol ou basquete com eles, ou que vocês
participem juntos de algumas atividades e projetos de serviço. Com alguns,
você desenvolverá maior amizade.
Você aprenderá a reconhecer quando eles estão felizes ou quando estão
tristes. Pode ser que nem você, nem seu amigo tenha um cargo de autoridade
no quórum, mas você sentirá que é responsável por seu colega no sacerdócio.
Talvez ele confidencie a você que está começando a quebrar um mandamento
e você sabe que isso vai prejudicá-lo espiritualmente. Pode ser que ele lhe
peça conselhos, porque confia em você.
Posso dizer, por experiência própria, que, se você puder influenciá-lo
para que se afaste do caminho perigoso, nunca mais esquecerá a alegria que
sentiu por ter agido como um verdadeiro amigo. Se não conseguir, prometo
que, quando ele sentir pesar e tristeza, o que certamente acontecerá, você
sentirá as dores dele como se fossem suas, mas, se você tentou ajudar, ele
ainda será seu amigo. E, na verdade, talvez por muitos anos, ele converse
com você sobre as coisas boas que poderiam ter acontecido e sobre quão
grato ele se sentiu por você ter se importado e tentado ajudá-lo. Você vai
consolá-lo, então, e convidá-lo novamente, como fez na juventude, a voltar
para a felicidade que a Expiação ainda permite que ele tenha.
Mais tarde na vida, você se tornará pai, um pai com o sacerdócio. As
coisas que aprendeu, graças aos serviços prestados no sacerdócio para ajudar
as pessoas a afastarem-se da tristeza e achegarem-se à felicidade, lhe darão a
força que você desejará e precisará ter. Os anos que passou sendo responsável
por almas humanas vão prepará-lo para ajudar e proteger sua família, a qual
você amará mais do que podia imaginar em sua juventude. Você saberá
liderá-la, com o poder do sacerdócio, para a segurança.
Minha oração é que você tenha alegria em servir no sacerdócio nesta
vida e para todo o sempre. Oro para que você desenvolva a mesma coragem e
mesmo amor pelos filhos do Pai Celestial que levaram os filhos de Mosias a
implorar pela oportunidade de enfrentar a morte e o perigo para levar o
evangelho a um povo de coração endurecido. O desejo e a coragem que eles
tiveram emanavam de seu senso de responsabilidade pela felicidade eterna de
desconhecidos em risco de sofrimento eterno (ver Mosias 28:1–8).
Que tenhamos ao menos um pouco do mesmo desejo que Jeová teve, no
mundo pré-mortal, quando pediu para descer das esferas de glória a fim de
servir-nos e dar Sua vida por nós. Ele rogou ao Pai: “Envia-me” (Abraão
3:27).
Testifico-lhes que vocês foram chamados por Deus e que foram
enviados para servir a Seus filhos. Ele não quer que ninguém fique para trás.
Deus dará a vocês inspiração e forças para cumprirem seu encargo de ajudar
os filhos Dele a encontrar o caminho da felicidade, o que é possível graças à
Expiação de Jesus Cristo.
Fortalecidos pela Adversidade
Adversidade
Com todas as diferenças em nossa vida, temos pelo menos um desafio
em comum. Todos precisamos lidar com a adversidade. Pode haver períodos,
às vezes bem longos, em que nossa vida parece fluir quase sem dificuldades.
Mas é natural que, na vida dos seres humanos, o conforto seja substituído
pela aflição, que períodos de boa saúde cheguem ao fim e que infortúnios
aconteçam. Especialmente quando os bons tempos se prolongam, a chegada
do sofrimento ou a perda da segurança material pode causar temor e às vezes
raiva.
A raiva, ao menos em parte, decorre do sentimento de que ocorreu uma
injustiça. A saúde e a tranquilidade de sentir-se seguro podem passar a
parecer-nos merecidas e naturais. Quando desaparecem, podemos achar que é
injustiça. Até um homem valoroso que conheci chorou e clamou em meio a
seu sofrimento físico aos que lhe foram ministrar: “Sempre procurei ser bom.
Como isso pôde acontecer?”
Esse anseio pela resposta à pergunta “Como isso pôde acontecer?” se
torna ainda mais doloroso quando as pessoas aflitas são nossos entes
queridos. Achamos particularmente difícil de aceitar quando os afligidos nos
parecem inocentes. Nesse momento, a aflição pode abalar a fé na realidade de
um Deus amoroso e todo-poderoso. Alguns de nós vimos essa dúvida infectar
toda uma geração de pessoas em tempos de guerra ou fome. Essa dúvida
pode crescer e alastrar-se até fazer com que alguns se afastem de Deus, a
quem acusam de indiferença ou crueldade. Se não forem combatidos, esses
sentimentos podem levar à perda da fé na existência de Deus.
Quero assegurar-lhes que nosso Pai Celestial e o Salvador vivem e que
Eles amam toda a humanidade. A própria oportunidade de enfrentarmos
adversidades e aflições é uma das provas de Seu infinito amor. Ele nos
concedeu a dádiva de viver na mortalidade a fim de que nos preparássemos
para receber o maior de todos os dons de Deus, que é a vida eterna. Então,
nosso espírito será transformado. Seremos capazes de desejar o que Deus
deseja, de pensar como Ele pensa e, assim, estaremos preparados para que
nos seja confiada uma posteridade infinita para ensinar e liderar ao longo das
provas da vida, para que nossos descendentes sejam criados de modo a se
qualificarem para a vida eterna.
É claro que, para receber essa dádiva e essa responsabilidade,
precisamos ser transformados por meio de escolhas corretas tomadas em
momentos difíceis. Somos preparados para tamanha responsabilidade ao
passarmos por experiências que nos provem e testem na mortalidade. Esse
aprendizado só pode acontecer se estivermos sujeitos a provações enquanto
servimos a Deus e ao próximo em nome Dele.
Durante esse aprendizado, temos aflições e felicidade, vivenciamos a
doença e a saúde, sentimos a tristeza do pecado e a alegria do perdão. Só
podemos receber esse perdão por meio da infinita Expiação do Salvador, que
sofreu dores que não podemos suportar e que só compreendemos muito
vagamente.
Tenho visto fé e coragem brotarem de um testemunho de que realmente
estamos sendo preparados para a vida eterna. O Senhor resgatará Seus
discípulos fiéis. E o discípulo que aceitar a provação como um convite para
aperfeiçoar-se e assim qualificar-se para a vida eterna encontrará paz em
meio às dificuldades.
Conversei, recentemente, com um jovem pai que perdeu o emprego na
recente crise econômica. Ele sabia que centenas de milhares de pessoas com
as mesmas qualificações que ele estavam desesperadamente procurando
emprego para sustentar a família. Sua serena confiança me fez perguntar o
que ele havia feito para ter tanta certeza de que encontraria um meio de
sustentar a família. Disse-me que havia examinado a própria vida para ter
certeza de que havia feito todo o possível para ser digno da ajuda do Senhor.
Era evidente que, devido a suas necessidades e sua fé em Jesus Cristo, ele
estava sendo levado a obedecer aos mandamentos de Deus mesmo que isso
fosse difícil. Ele disse que percebeu essa oportunidade quando ele e a esposa
leram, em Alma, a escritura que diz que o Senhor preparou certo povo para
receber o evangelho por meio da adversidade.
Vocês devem lembrar-se da ocasião em que Alma se dirigiu ao homem
que liderava aquelas pessoas angustiadas. Esse homem disse para Alma que
eles haviam sido perseguidos e rejeitados por sua pobreza. Assim diz o
registro:
“E então, quando ouviu isso, Alma voltou-se para ele e olhou com
grande alegria, pois viu que suas aflições verdadeiramente os haviam tornado
humildes e que estavam preparados para ouvir a palavra.
Portanto ele não falou mais à outra multidão; mas estendeu a mão e
clamou aos que via e eram verdadeiramente penitentes; e disse-lhes:
Vejo que sois humildes de coração; e, se assim é, benditos sois” (Alma
32:6–8).
A escritura prossegue elogiando os que se prepararam para a
adversidade em momentos de maior prosperidade. Muitos de vocês tiveram
fé para, antes que a crise chegasse, tentar qualificar-se para receber a ajuda de
que agora precisam.
E Alma prosseguiu: “Sim, aquele que verdadeiramente se humilhar e
arrepender-se de seus pecados e perseverar até o fim, esse será abençoado—
sim, será muito mais abençoado do que aqueles que são compelidos a
humilhar-se devido a sua extrema pobreza” (Alma 32:15).
Esse jovem com quem conversei recentemente foi um dos que fizeram
mais do que apenas armazenar alimentos e economizar para conseguir
enfrentar os infortúnios preditos pelos profetas vivos. Ele começara a
preparar o coração para ser digno da ajuda do Senhor, da qual sabia que
precisaria nos momentos de necessidade de um futuro não muito distante.
Quando perguntei à esposa dele, no dia em que ele perdeu o emprego, se
estava preocupada, ela disse com alegria: “Não. Acabamos de falar com o
bispo. Somos dizimistas integrais”. Ainda é cedo para dizer, mas tive a
mesma impressão que eles pareciam ter: “Tudo vai dar certo”. O infortúnio
não abalou sua fé; provou-a e fortaleceu-a. E o sentimento de paz que o
Senhor prometera foi concedido ainda em meio à tempestade. Outros
milagres sem dúvida acontecerão.
O Senhor sempre adapta a ajuda ao necessitado de modo a fortalecê-lo e
purificá-lo. Muitas vezes, para receber o auxílio de que precisa, a pessoa
necessitada é inspirada a fazer algo que lhe parece especialmente difícil
devido à sua situação. Uma das grandes provações da vida é perder o cônjuge
amado. O Senhor conhece as necessidades daqueles que foram separados de
seus entes queridos pela morte. Ele viu o sofrimento das viúvas e
testemunhou suas necessidades durante Sua experiência terrena. Ele pediu a
um apóstolo amado, na agonia da cruz, que cuidasse de Sua mãe viúva que
agora perderia um filho. Ele agora sente as necessidades do marido que perde
a esposa, e da esposa que fica sozinha com a morte do marido.
A maioria de nós conhece uma viúva que precisa de atenção. O que me
emociona é ouvir, como já aconteceu, uma viúva idosa, que eu pretendia
voltar a visitar, dizer que fora inspirada a visitar uma viúva mais jovem para
consolá-la. Uma viúva que precisava de consolo foi enviada para consolar
outra. O Senhor auxiliou e abençoou as duas viúvas inspirando-as a
encorajarem-se mutuamente. Desse modo, Ele socorreu ambas.
O Senhor enviou ajuda dessa mesma forma aos pobres humildes, como
narrado em Alma 34, que aceitaram os ensinamentos e o testemunho de Seus
servos. Depois de se arrependerem e serem convertidos, eles continuaram
pobres, mas o Senhor mandou que fizessem por outras pessoas o que eles,
com razão, poderiam achar que estava além de sua capacidade, pois eles
próprios precisavam de ajuda. O Senhor lhes disse que eles precisavam dar a
outros o que esperavam receber do Senhor. Por meio de Seu servo, o Senhor
deu àqueles pobres conversos esta árdua tarefa: “E agora, meus amados
irmãos, eis que vos digo que não penseis que isto é tudo; porque depois de
haverdes feito todas estas coisas, se negardes ajuda aos necessitados e aos nus
e não visitardes os doentes e aflitos nem repartirdes o vosso sustento, se o
tendes, com os que necessitam—digo-vos, se não fizerdes qualquer destas
coisas, eis que vossa oração é vã e de nada vos vale e sois como os hipócritas
que negam a fé” (Alma 34:28).
Talvez pareça demasiado pedir isso de pessoas que estavam, elas
próprias, passando grandes necessidades. Mas conheço um jovem que foi
inspirado a fazer exatamente isso no início de seu casamento. Ele e a esposa
mal conseguiam sustentar-se com um orçamento bem limitado. Mas, ao ver
outro casal ainda mais pobre, para surpresa de sua própria esposa, ele os
ajudou com seus escassos recursos financeiros. Receberam a bênção
prometida de paz enquanto ainda eram pobres. A bênção de uma
prosperidade que estava além de seus maiores sonhos chegou mais tarde. Mas
ele continua seguindo esse padrão de procurar ajudar alguém necessitado,
alguém que tenha menos do que ele ou que esteja sofrendo.
Ainda há outra provação que, se for bem suportada, pode proporcionar
bênçãos nesta vida e na eternidade. A idade e a doença podem ser as maiores
provações. Tenho um amigo que foi nosso bispo quando minhas filhas ainda
moravam conosco. Elas contam o que sentiam quando ele prestava seu
simples testemunho junto à fogueira durante acampamentos nas montanhas.
Ele as amava, e elas sabiam disso. Ele foi desobrigado do bispado. Já havia
servido como bispo antes em outro Estado. As pessoas que conheci na ala
anterior lembram-se dele da mesma forma que minhas filhas.
Eu o visitava em casa de tempos em tempos para agradecer-lhe e dar-lhe
uma bênção do sacerdócio. Sua saúde começou a se deteriorar lentamente.
Não me lembro todas as doenças que teve. Precisou ser operado. Sentia dores
constantes. Entretanto, toda vez que eu o visitava para dar-lhe consolo, a
situação se invertia: Era eu que sempre saia consolado. As dores nas costas e
nas pernas forçaram-no a usar uma bengala para caminhar. Mas ele estava
sempre na Igreja, sentado junto à porta, onde podia cumprimentar, com um
sorriso, os que chegavam cedo.
Jamais esquecerei minha admiração e meu espanto no dia em que abri a
porta dos fundos e o vi chegando a nossa casa. Era o dia em que colocávamos
as latas de lixo para serem recolhidas pelo lixeiro. Eu as havia colocado na
calçada pela manhã e, agora, lá vinha ele subindo a rampa da minha garagem
arrastando uma de minhas latas de lixo com uma mão e equilibrando-se com
a ajuda da bengala na outra. Estava me ajudando com algo que ele imaginava
que eu precisava, mas que ele próprio precisava muito mais. E fazia isso com
um sorriso, sem ninguém pedir.
Eu o visitei quando ele finalmente teve que ser tratado por médicos e
enfermeiras. Estava no leito de um hospital, sentindo dores, mas sempre
sorridente. Sua esposa me ligara para dizer que ele estava ficando mais fraco.
Meu filho e eu lhe demos uma bênção do sacerdócio em seu leito, quando ele
estava todo conectado a tubos e frascos. Selei a bênção com a promessa de
que ele teria tempo e forças para fazer tudo o que Deus esperava dele nesta
vida para passar em todas as provas. Ele estendeu a mão para segurar a minha
quando me afastei do leito para sair. Fiquei surpreso com a força de seu
aperto de mão e a firmeza de sua voz ao dizer: “Vou conseguir”.
Deixei-o achando que o veria de novo em breve, mas recebi um
telefonema no dia seguinte. Ele tinha ido para o lugar glorioso em que verá o
Salvador, que é o juiz perfeito, tanto dele como nosso. Ao falar em seu
funeral, lembrei-me das palavras proferidas por Paulo quando soube que iria
para o lugar para o qual meu vizinho e amigo tinha ido:
“Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista, cumpre o teu ministério.
Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo
da minha partida está próximo.
Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo
juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que
amarem a sua vinda” (II Timóteo 4:5–8).
Tenho certeza de que meu vizinho conseguiu vencer sua provação e que
se apresentará ao Juiz com um sorriso alegre.
Presto-lhes meu testemunho de que Deus, o Pai, vive. Ele estabeleceu,
para cada um de nós, um rumo capaz de refinar-nos e aperfeiçoar-nos para
que habitemos com Ele. Testifico que o Salvador vive. Sua Expiação permite
que sejamos purificados se guardarmos Seus mandamentos e nossos
convênios sagrados. Sei por experiência própria que Ele pode e vai dar-nos
forças para vencer todas as provações.
A Fé dos Nossos Antepassados
Se eu pudesse conversar com cada um de vocês e ouvir a história de sua
vida e o que vocês sabem da vida de seus antepassados, meu palpite é que
iríamos descobrir grandes diferenças. Cada vida é única. Isso chamou minha
atenção ao reler diários e histórias que foram passadas através de gerações,
descrevendo a vida de pessoas tão diversas como a de Mary Bommeli, minha
bisavó, e a de Wilford Woodruff, um profeta de Deus. Apesar disso, vejo a
fé, uma fé peculiar, que percorre como um fio a tapeçaria da vida desses
heróis da Restauração, cuja firmeza e coragem nos deixam admirados.
Talvez, se examinássemos esse fio, poderíamos encontrá-lo na tapeçaria de
nossa própria vida e fortalecê-lo.
Nessas histórias, a fé se revela tanto no que as pessoas fizeram como
naquilo que disseram. Por mais diferentes que tenham sido os desafios e as
reações de cada uma dessas pessoas, acho que reconheci um padrão em
comum, que é:
Todas elas acreditavam que o reino de Deus havia sido estabelecido pela
última vez, que iria triunfar sobre grande oposição e se tornaria glorioso, em
preparação para o dia em que o Salvador viria para aceitá-lo. Acreditavam
que esse reino perduraria para sempre e que a elas fora concedido o raro
privilégio de terem sido chamadas a deixar o mundo para edificá-lo.
Elas tinham certeza de que estavam estabelecendo Sião, um lugar de
refúgio. Não é surpresa, então, que pedissem pelo advento de Sião e que
esperassem não só construí-la, mas também desfrutar da vida nela. O que é
surpreendente é que sua fé tenha aumentado mesmo nas ocasiões em que, ao
suplicarem que Sião fosse edificada, viram períodos de segurança
transformarem-se em períodos de provação.
Vejam o apelo do Profeta Joseph em uma carta datada de 10 de
dezembro de 1833 e enviada de Kirtland para os santos exilados no Missouri:
“Ouçam agora a oração de seu humilde irmão no novo e eterno
convênio: — Oh, meu Deus! Tu que, por meio de Teu instrumento imperfeito
e por mandamento, chamaste e escolheste alguns poucos e enviaste-os ao
Missouri, ao lugar ao qual chamaste Sião, e ordenaste a Teus servos que o
consagrassem a Ti como lugar de refúgio e segurança para a coligação de
Teus Santos e para a edificação de uma cidade sagrada a Ti; e como Tu
disseste que não nos seria concedido outro lugar como este, portanto, peço-Te
em nome de Jesus Cristo que restaures Teu povo a suas casas e sua herança
para gozarem o fruto de seu trabalho. Rogo-Te que todos os lugares
desolados sejam edificados; que todos os inimigos de Teu povo que não se
arrependerem nem se voltarem a Ti sejam destruídos da face da terra; que
uma casa seja edificada e estabelecida em Teu nome; que teu povo seja
compensado por todas as perdas sofridas e que seu galardão seja quatro ou
mais vezes maior do que aquilo que perderam, de modo que o território de
Sião seja ampliado para sempre e que Sião seja estabelecida para nunca mais
ser derrubada; que todos os santos, quando forem dispersados como ovelhas e
quando forem perseguidos, fujam para Sião e nela se estabeleçam; e que ela
seja organizada de acordo com a Tua lei. Rogo-te também que esta oração
permaneça gravada diante da Tua face para sempre. Concede Teu Espírito
Santo a meus irmãos a quem escrevo; envia Teus anjos para guardá-los; livra-
os de todo o mal; e, quando eles voltarem a face para Sião e curvarem-se
diante de Ti em oração, não contemples seus pecados e nem lhes dá lugar no
livro de Tua lembrança; e que Teus santos se apartem de todas as suas
iniquidades. Concede-lhes alimento como o concedes aos corvos; dá-lhes
roupas para cobrir sua nudez e casas para habitar; concede-lhes amigos em
abundância e que seu nome seja gravado no livro da vida, que é o livro do
Cordeiro, e permaneça eternamente diante de Tua face. Amém” (History of
the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 7 vols., 1932–1951, vol. 1, p.
456).
Agora, depois de tal súplica, vejam a fé neste relato escrito pelo Profeta
Joseph Smith em 1º de março de 1842, após os sofrimentos passados no
Missouri e da promessa de Nauvoo. Vejam se a decepção diminuiu a fé.
“Depois disso, estabelecemo-nos nos Condados de Caldwell e Daviess,
onde fundamos grandes e amplas cidades, imaginando que nos livraríamos da
opressão se nos estabelecêssemos em condados recém-criados, com
pouquíssimos habitantes. Todavia, não nos deixaram viver em paz nesse
lugar. Em 1838, fomos novamente atacados pelas turbas; uma ordem de
extermínio foi promulgada pelo governador Boggs; e, com a aprovação da
lei, um grupo organizado de malfeitores assaltou nossas terras, roubando
nosso gado, nossas ovelhas, nossos porcos, etc.; muitos dos nossos foram
assassinados a sangue frio, nossas mulheres foram violentadas e fomos
forçados a assinar a transferência de nossas terras sob a ameaça de armas.
Depois de suportar todas as indignidades que nos foram impostas por um
bando desumano e ímpio de bandidos, 1.200 a 1.500 almas, entre homens,
mulheres e crianças, foram expulsas de junto de suas próprias lareiras e das
terras das quais possuíam a escritura para vaguear sem teto, sem amigos e
sem lar (no meio do inverno), como desterrados, e procurar abrigo em um
lugar de clima mais favorável e em meio a um povo menos bárbaro. Muitos
adoeceram e morreram devido ao frio e às dificuldades que tiveram de
enfrentar. Muitas mulheres ficaram viúvas e muitas crianças, órfãs e
carentes.”
E a declaração prossegue dizendo:
“Nas referidas condições, chegamos ao Estado de Illinois, em 1839,
onde encontramos um povo hospitaleiro e um lugar agradável de se morar:
um povo disposto a ser governado pelos princípios da lei e da humanidade.
Começamos a construir uma cidade chamada ‘Nauvoo’ no condado de
Hancock. Somos aproximadamente de 6 a 8 mil morando aqui, além de
muitos outros espalhados pelo condado e em quase todos os condados do
Estado. Obtivemos o direito de promulgar uma carta constitucional municipal
e de criar uma legião, que atualmente se compõe de 1.500 soldados.
Recebemos também autorização para fundar uma universidade e uma
Sociedade Agrícola e Fabril; temos nossas próprias leis e administradores,
bem como todos os privilégios desfrutados por quaisquer outros cidadãos
livres e instruídos.
A perseguição não impediu o progresso da verdade, mas apenas
acrescentou lenha na fogueira, e ela espalhou-se com velocidade cada vez
maior. Com orgulho da causa que abraçaram, cônscios de nossa inocência e
da veracidade de seu sistema, em meio a calúnias e acusações, os élderes
desta Igreja seguiram adiante e plantaram o evangelho em quase todos os
Estados da União. Ele penetrou em nossas cidades, espalhou-se por nossas
vilas e fez com que milhares de nossos cidadãos inteligentes, nobres e
patrióticos obedecessem a seus divinos mandamentos e fossem governados
por suas verdades sagradas. Também se espalhou pela Inglaterra, Irlanda,
Escócia e pelo País de Gales, para onde, em 1840, foram enviados alguns de
nossos missionários, sendo que mais de 5 mil se congregaram sob o
estandarte da verdade, e muitos estão se congregando sob esse estandarte
atualmente em toda parte.
Nossos missionários estão levando esta obra a diversas nações; e o
estandarte da verdade já foi erguido na Alemanha, Palestina, Nova Holanda,
Austrália, nas Índias Orientais e em outros lugares. Nenhuma mão ímpia
conseguirá impedir o progresso desta obra; mesmo que sejam deflagradas
violentas perseguições, que se reúnam multidões enfurecidas, que exércitos
sejam mobilizados, mesmo que haja calúnias e difamações, a verdade de
Deus seguirá adiante, com destemor, nobreza e independência, até que tenha
penetrado em todos os continentes, visitado todas as regiões, varrido todos os
países e soado em todos os ouvidos, até que os propósitos de Deus sejam
cumpridos e o grande Jeová declare estar a obra concluída” (“The Wentworth
Letter” em History of the Church, vol. 4, pp. 539–540; ver também
“Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith”, pp. 466–468).
O Profeta e os santos fiéis esperavam adversidades e sabiam que o
Senhor os socorreria. Eles acreditavam no que Néfi ensinou:
“E eis, porém, que eu, Néfi, vos mostrarei que as ternas misericórdias do
Senhor estão sobre todos aqueles que ele escolheu por causa de sua fé, para
torná-los fortes com o poder de libertação” (1 Néfi 1:20).
E eles sabiam que precisariam dessa libertação repetidamente, sempre
que surgisse oposição. Sabiam que os períodos de paz seriam temporários e
assim transformaram-nos em períodos de gratidão e coragem para levar o
trabalho adiante.
A fé dos líderes aumentou durante os ciclos de oposição e libertação e,
depois, de mais oposição, e o mesmo aconteceu com a fé das pessoas do
povo. Uma dessas pessoas foi minha bisavó, Mary Bommeli; essa suíça de
olhos negros era apenas uma adolescente quando cruzou as planícies.
Recentemente estive na região onde ela passou a infância. Sempre imaginei
que fosse na encosta de um dos alpes, mas estava errado. Fica nas colinas
verdes do norte da Suíça, com terras férteis e vinhas produtivas. Eu queria
muito ter encontrado a casa onde os missionários ensinaram a ela e sua
família, onde eles ficaram sabendo que o evangelho de Jesus Cristo e o reino
de Deus tinham sido restaurados e onde decidiram dedicar a própria vida ao
reino — de onde os meninos mais velhos saíram em missão e de onde o
restante dirigiu-se à América para construir Sião. Eles deixaram um lugar
belo e seguro e partiram rumo ao desconhecido.
Mary decidiu deixar os outros partirem primeiro, sem ela. Ela sabia que
podia conseguir o dinheiro da passagem com seu trabalho de tecelã, mas os
outros não. Optou por deixá-los sair em missão e irem para a América usando
todo o dinheiro que conseguiram com a venda de tudo o que possuíam. Ela
seguiu de cidade em cidade tecendo roupas para as mulheres e confiando em
Deus. Além disso, foi presa por pregar o evangelho na Alemanha, onde isso
era ilegal, porque não conseguia conter as boas novas dentro de si.
Ela chegou à América, juntou-se a uma companhia de pioneiros e
atravessou as planícies a pé. Segundo ela, essa travessia a pé foi um dos
períodos mais felizes de sua vida. Na caminhada, ela conheceu um
missionário que voltava ao lar, era Henry Eyring. Eles andavam à frente da
caravana para ficarem livres da poeira. Em suas conversas, referiam-se àquela
caminhada não como uma provação, mas como um tempo de alegria e
comentavam entre si como era extraordinário que servos de Deus os tivessem
encontrado e que eles tivessem a oportunidade de ajudar a edificar o reino de
Deus nos últimos dias. Eles se apaixonaram. Para eles, essa travessia não foi
uma provação, mas um tempo de refrigério e de refúgio. Eles optaram por
encarar essa fase como um período de descanso, ele de sua missão de cinco
anos, e ela dos trabalhos e da viagem solitária que lhe permitiram imigrar da
Suíça. Foi essa fé juvenil que transformou a viagem em um passeio
romântico.
Para Mary e Henry, foi na terra prometida que as provações começaram.
Depois do casamento, foi graças apenas ao trabalho de tecelã da Mary que
eles não passaram fome. Henry tinha formação universitária na Alemanha,
mas não aprendera as habilidades necessárias para ser um pioneiro no
deserto. Eles construíram uma casinha. Nenhum dos dois sabia fazer tijolos.
Quando vieram as chuvas, o telhado vazou e, em seguida, uma parede
desabou sobre Mary, que estava grávida de seu primeiro filho. Só não
aconteceu o pior devido ao fato extraordinário de o tear havê-la protegido dos
tijolos que caíam, mas a criança em seu ventre foi ferida. O menino nasceu
com deficiências físicas que carregou para o resto da vida.
Com orações e trabalho incessante, eles começaram a sair da pobreza no
Condado de Davis e em Salt Lake City, mas esse período de paz foi
interrompido. O Presidente Brigham Young sugeriu que se mudassem para
St. George. Eles partiram para o desconhecido novamente, construíram lares,
plantaram jardins e trabalharam no reino. Henry foi prefeito de St. George
por um tempo, também foi conselheiro na presidência da estaca e gerente do
armazém da cooperativa. Ajudaram a construir o Templo de St. George, no
qual Mary oficiou com prazer durante 12 anos. Ela escreveu sobre aquele
serviço como se sentisse a paz que o Senhor prometera muito tempo antes ao
ordenar que um templo fosse construído.
Esta é a promessa contida no livro de Ageu no Velho Testamento: “A
glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos
Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2:9).
Mas Mary ouviu o que considerou ser a voz de um apóstolo chamando-
os a deixar para trás aqueles tempos de paz. Foi-lhes sugerido que
participassem do estabelecimento das colônias mórmons no norte do México.
Eles foram acreditando que o Senhor os susteria no que fizessem a Seu
serviço.
Sentiram mais segurança em seguir adiante rumo ao desconhecido para
servir no reino do que em ficar no que lhes era o conhecido e confortável.
Deixaram o que para eles tinha se tornado Sião a fim de ajudar o Senhor a
construir outra — não por obediência cega, uma vez que foram convidados e
não convocados, mas por fé que o mais sábio a fazer era ir para onde
pudessem melhor edificar o reino.
No México, viram repetir-se esse padrão de livramento. Com o tempo,
foram abençoados com casas e jardins. Henry foi em missão para o sul do
México, como havia feito anteriormente de Utah à Alemanha. Ele fundou e
administrou com grande sucesso o armazém cooperativo de Colonia Juárez
como fizera em St. George. Mary mais uma vez trabalhou incansavelmente
na Sociedade de Socorro. Seu trabalho e fé novamente lhes deram uma ideia
da paz que haverá na cidade de Sião. Então, Henry morreu. Veio a Revolução
Mexicana. Mary e sua família deixaram tudo o que haviam construído e
novamente migraram para os Estados Unidos. Ela morreu viúva, uma
refugiada daqueles tempos idílicos no México, mas cheia de fé no destino do
reino de Deus e no seu Cabeça, Jesus Cristo, seu Salvador.
A história de Mary é digna de ser contada não por ser excepcional, mas
por não ser. Sua fé parecia aumentar com igual constância tanto nos
momentos de libertação como nos momentos de provação. Parece que o
mesmo aconteceu a cada pioneiro cuja história li. Parece-me que isso
acontecia porque sua fé alicerçava-se no entendimento do motivo pelo qual
Deus permite que passemos por situações tão difíceis e de como Ele nos
liberta. O “como” nasce do “porquê”. O “porquê” é que nosso amoroso Pai
Celestial e Seu filho, Jesus Cristo, desejam que sejamos santificados para que
vivamos eternamente com Eles. Para isso é preciso que sejamos purificados
pela fé em Jesus Cristo, arrependamo-nos por causa dessa fé e provemos que
somos fiéis aos convênios colocados à nossa disposição somente por meio de
Seus servos mortais no reino de Deus. Quando conhecemos seu propósito
amoroso, fica mais fácil entender por que Eles permitem as provações e como
Eles nos socorrem.
Eles poderiam resolver todos os problemas na edificação do reino e em
nossa vida. Eles permitem que as provações aconteçam mesmo quando
somos fiéis porque nos amam. Há algumas escrituras que agora me parecem
claras depois de ler os diários desses pioneiros.
Esta vem de Doutrina e Convênios 105:19:
“Ouvi suas orações e aceitarei sua oferta; a mim convém que sejam
trazidos até aqui para uma prova de sua fé”.
Esta é outra que ouvimos sempre, de Éter 12:6:
“E agora eu, Morôni, quisera falar algo a respeito dessas coisas. Quisera
mostrar ao mundo que fé são coisas que se esperam, mas não se veem;
portanto, não disputeis porque não vedes, porque não recebeis testemunho
senão depois da prova de vossa fé”.
Mas, para mim, o maior conforto vem desta escritura em Doutrina e
Convênios 95:1:
“Em verdade assim diz o Senhor a vós, a quem amo; e a quem amo
também castigo, para que seus pecados sejam perdoados, pois com o castigo
preparo um meio para livrá-los da tentação em todas as coisas; e eu vos
amo”.
Comecei a entender que provar nossa fé não é somente uma questão de
testá-la, mas de fortalecê-la, que o testemunho que adquirimos depois da
provação fortalece nossa fé e Deus planejou tudo de forma que nossa
libertação ocorrerá no momento certo, de forma a permitir que nossa fé se
fortaleça ao máximo.
É claro que nem sempre o livramento chega mais rápido para aqueles
que têm mais fé. Um exemplo notável de libertação imediata foi a
preservação dos filhos de Israel não quando tiveram mais fé, mas quando
murmuravam. Vocês devem lembrar de suas queixas e da resposta do Senhor
por meio de Moisés:
“Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixa-nos,
que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios, do
que morrermos no deserto.
Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o
livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes,
nunca mais os tornareis a ver” (Êxodo 14:12–13).
Em Seu amor, o Pai pode tê-los livrado prontamente para firmar sua fé
oscilante, mas aqueles que têm uma fé maior podem beneficiar-se mais com a
espera. Pelo menos essa parece ser a sina de muitas pessoas que estão entre as
melhores e mais fiéis que existem. Talvez seja a esses santos fiéis que se
dirijam as palavras de consolo e confiança do Senhor encontradas em
Doutrina e Convênios 58:3–4:
“Por agora não podeis, com vossos olhos naturais, ver o desígnio de
vosso Deus com respeito às coisas que virão mais tarde nem a glória que se
seguirá depois de muitas tribulações.
Pois após muitas tribulações vêm as bênçãos. Portanto vem o dia em que
sereis coroados de muita glória; ainda não é chegada a hora, mas está
próxima”.
O “está próximo” para o Senhor nem sempre está tão próximo quanto
gostaríamos. É que, às vezes, dá aos mais fiéis o privilégio de ver o tempo
por Sua perspectiva. Admiramos aqueles que pacientemente aceitam o
desenrolar do tempo do Senhor no processo de se tornarem mais semelhantes
Ele e de aprenderem a ver as coisas pela perspectiva Dele.
Algumas de nossas tribulações não terminam nesta vida. Por isso, nosso
Senhor nos promete forças para suportar, dizendo:
“E agora, ó Helamã, meu filho, eis que estás na juventude; peço-te,
portanto, que ouças minhas palavras e aprendas de mim; porque sei que
aqueles que confiarem em Deus serão auxiliados em suas tribulações e em
suas dificuldades e em suas aflições; e serão elevados no último dia” (Alma
36:3).
De todas as provas que enfrentamos, nenhuma dói mais do que a morte
de um ente querido ou a desgraça do pecado. Por meio da Ressurreição de
Jesus Cristo, todos são libertados da morte e todos se levantarão na
ressurreição, sejam quais forem suas transgressões. E pela Expiação de Jesus
Cristo todos podem alcançar paz nesta vida, ser purificados e, assim,
libertados das tristezas do pecado e ter a esperança de uma gloriosa
ressurreição com os justos.
Certo homem explicou-me o que, na opinião de sua família, significava
ter Jesus Cristo como alicerce. Para eles, isso significava que seu filho, que a
morte levara ainda recém-nascido, se ergueria na ressurreição e que ele, o pai,
poderia terminar de criá-lo. Por meio da fé que tinham no Salvador, os
membros dessa família foram libertados do sofrimento e elevados a uma
condição de paz. A gratidão por semelhante libertação aparece
frequentemente nas histórias dos pioneiros, em parte porque as mortes eram
muitas e ocorriam muitas vezes prematuramente.
A libertação do pecado é menos mencionada, uma vez que é uma
questão muito particular, mas certamente ocorreu, tão certo como ocorre em
nossa vida. Todos nós experimentamos em certo grau a libertação descrita na
história de Alma, o filho. Vocês se lembram de suas palavras, que nos
alegram todas as vezes que as ouvimos e que nos enchem de gratidão por
nossa própria libertação:
“E então, eis que quando pensei isto, já não me lembrei de minhas dores;
sim, já não fui atormentado pela lembrança de meus pecados.
E oh! que alegria e que luz maravilhosa contemplei! Sim, minha alma
encheu-se de tanta alegria quanta havia sido minha dor.
Sim, digo-te, meu filho, que nada pode haver tão intenso e cruciante
como o foram minhas dores. Sim, meu filho, digo-te também que, por outro
lado, nada pode haver tão belo e doce como o foi minha alegria.
Sim, parecia-me ver, assim como nosso pai Leí viu, Deus sentado em
seu trono, rodeado por inúmeras multidões de anjos na atitude de cantar e
louvar a Deus; e minha alma sentia o desejo de lá estar” (Alma 36:19–22).
Podemos ter a paz do perdão e da esperança na ressurreição onde quer
que estejamos. A paz que transcende todo o entendimento não depende de
nossa localização geográfica. O local de refúgio está, finalmente, em nosso
coração. O Senhor quis dizer pelo menos duas coisas quando afirmou:
“Portanto, em verdade, assim diz o Senhor: Que Sião se regozije, pois isto é
Sião—Os puros de coração” (Doutrina e Convênios 97:21). Sião é o lugar
onde os puros de coração estão reunidos; é esse ajuntamento o que dá origem
a Sião. Mas também há um lugar de paz e refúgio no coração daquele que foi
purificado pela Expiação e que permitiu que a esperança da vida eterna
preenchesse seu ser.
Com essa paz vem o desejo de servir. É por isso que aqueles que
sentiram as bênçãos do batismo e da confirmação sentem o impulso de levar
o evangelho às outras pessoas. Foi por isso que Mary Bommeli foi presa.
Quaisquer que sejam nossas circunstâncias, podemos lembrar-nos do
Salvador e de que é uma bênção fazer parte de Seu reino, e podemos ter em
nosso coração a pergunta: “Como o Mestre quer que eu sirva a Ele?” Se
fizermos essa pergunta com fé, determinados a seguir os sussurros que vêm
do Espírito Santo, esses sussurros virão. Encontraremos meios de ajudar a
edificar o reino. Sentiremos nosso coração renovado e teremos a certeza de
que aquilo em que os pioneiros acreditavam é verdade: o reino de Deus foi
restaurado e temos a bênção de estar entre os poucos, dentre os inúmeros
filhos de nosso Pai, a edificá-lo para o Mestre pela última vez.
O Poder da Libertação
Quero prestar-lhes meu testemunho do poder que Deus tem para
socorrer-nos. Em algum momento da vida, todos precisamos desse socorro.
Toda pessoa viva está em meio a uma prova. Deus concedeu-nos o dom
precioso de vivermos em um mundo que foi criado para ser nosso campo de
provas e nossa escola preparatória. As provas que enfrentaremos, seu grau de
dificuldade, o momento em que acontecerão e sua duração serão diferentes
para cada um de nós. Mas duas coisas são iguais para todos e fazem parte de
como a vida mortal foi planejada.
Em primeiro lugar, às vezes, essas provas exigirão tanto de nós que
sentiremos necessidade de ajuda. E, em segundo lugar, Deus, em Sua
bondade e sabedoria, colocou o socorro ao nosso alcance.
Vocês bem poderiam perguntar: “Se o Pai Celestial nos ama, por que
Seu plano de felicidade inclui provações tão difíceis?” É porque Seu
propósito é oferecer-nos a vida eterna. Ele quer dar-nos uma felicidade que só
é possível se vivermos em família para sempre, em glória, com Ele, e as
provações são necessárias para que sejamos moldados e nos tornemos aptos a
receber a felicidade que virá de nos qualificarmos para obter o maior de todos
os dons de Deus.
Há muitas diferentes provas, mas aqui vou falar de apenas três. Talvez
vocês estejam passando por uma delas neste momento. Em cada uma dessas
provas, o socorro está ao nosso alcance — não para fugir à prova, mas para
suportá-la bem.
Primeira: O sentimento esmagador de tristeza e dor devido à morte de
um ente querido.
Segunda: A forte oposição que todos nós, sem exceção, vamos ter que
enfrentar. Parte dessa oposição pode advir de nossas necessidades físicas e
outra parte virá de nossos inimigos.
Terceira: Todo nós que alcançamos a idade da responsabilidade e
seguimos vivendo sentiremos a necessidade de escapar aos efeitos do pecado.
Cada uma dessas provas pode nos dar a oportunidade de ver que
precisamos do poder de Deus para ajudar-nos a vencê-las bem.
Talvez alguns de vocês estejam sentindo agora a pressão dessas provas,
mas todos nós teremos de enfrentá-las. É bom saber que elas não acontecem
por acaso nem vêm de um Deus cruel. Saber que uma recompensa
maravilhosa nos aguarda ajuda-nos a suportá-las bem. O Profeta Joseph
Smith precisou de tal certeza, e a conseguiu, quando se sentia abandonado e
oprimido sob o peso esmagador da perseguição e das contendas entre aqueles
a quem presidia e amava:
“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não
durarão mais que um momento;
E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto” (Doutrina e
Convênios 121:7–8).
O Senhor disse a Joseph que suas tribulações durariam apenas um
momento. Isso se aplicava a ele e aplica-se a nós se compararmos a duração
de qualquer tribulação do mundo com a imensidão da eternidade; e a
recompensa por passar nas provas, suportá-las bem, é tornarmo-nos
merecedores da vida eterna. Essa garantia nos ajudará quando os inimigos
nos difamarem ou quando um médico informar-nos de um prognóstico
sombrio.
Com isso chegamos à primeira categoria de provações que vamos
considerar: a tragédia que a morte pode representar. A vida termina cedo para
alguns, mas, cedo ou tarde, chegará ao fim para todos nós. Todos nós
seremos provados com a morte de alguém que amamos. Ainda outro dia,
encontrei um homem que não via desde a morte de sua esposa. Foi um
encontro casual em uma situação social agradável, num feriado. Ele estava
sorrindo quando se aproximou de mim. Lembrando da morte de sua esposa,
formulei uma saudação comum com muito cuidado: “Como vai você?”
O sorriso desapareceu, seus olhos ficaram úmidos e ele respondeu sério
em voz baixa: “Estou bem. Mas é muito difícil”.
É muito difícil, como a maioria de vocês sabe e como todos nós um dia
saberemos. A pior parte dessa prova é saber o que fazer com a tristeza, a
solidão e a sensação de perda que pode fazer-nos sentir que perdemos uma
parte de nós. O luto pode persistir como uma dor crônica e algumas pessoas
podem revoltar-se ou sentir que foram injustiçadas.
Devido à Sua Expiação e Ressurreição, o Salvador tem o poder de
socorrer-nos nessa provação. Ele conhece todas as nossas dores por
experiência própria. Ele poderia tê-las conhecido por meio do Espírito, mas
em vez disso optou por conhecê-las em primeira mão. Diz a escritura:
“E eis que nascerá de Maria, em Jerusalém, que é a terra de nossos
antepassados, sendo ela uma virgem, um vaso precioso e escolhido; e uma
sombra a envolverá; e conceberá pelo poder do Espírito Santo e dará à luz um
filho, sim, o Filho de Deus.
E ele seguirá, sofrendo dores e aflições e tentações de toda espécie; e
isto para que se cumpra a palavra que diz que ele tomará sobre si as dores e
as enfermidades de seu povo.
E tomará sobre si a morte, para soltar as ligaduras da morte que prendem
o seu povo; e tomará sobre si as suas enfermidades, para que se lhe encham
de misericórdia as entranhas, segundo a carne, para que saiba, segundo a
carne, como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades” (Alma
7:10–12).
As pessoas boas ao seu redor vão tentar entender seu sofrimento pela
morte de um ente querido. Talvez elas mesmas estejam sofrendo. O Salvador
compreende o sofrimento e Ele mesmo sofre, mas não é só isso: Ele sofre
aquilo que você e só você sofre. Ele conhece você perfeitamente, conhece seu
coração. Sendo assim. Ele sabe quais, dentre as muitas opções, são as
melhores coisas que você pode fazer para permitir que o Espírito Santo o
console e abençoe. Ele saberá por onde será melhor você começar. Às vezes,
pode ser por uma oração ou pode ser ir consolar uma outra pessoa. Sei de
uma viúva com uma doença debilitante que foi inspirada a visitar outra viúva.
Eu não estava presente, mas tenho certeza de que o Senhor inspirou uma
serva fiel a estender a mão à outra e desse modo socorreu as duas.
O Salvador dispõe de muitas maneiras de socorrer os que sofrem, e
pessoas diferentes precisam ser socorridas de formas diferentes. Mas vocês
podem ter certeza de que Ele pode socorrer, e socorrerá, cada pessoa que
sofre. Ele fará isso da forma que for melhor para ela e para aqueles que a
cercam. Uma constante, quando Deus liberta as pessoas da dor, é elas
sentirem-se humildes como criancinhas perante Deus. Na vida de Jó,
encontramos um grande exemplo do que é possível quando se é humilde e
fiel. Vocês devem estar lembrados da história:
“Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se
lançou em terra, e adorou.
E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o
deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.
Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1:20–
22).
A humildade é uma constante naqueles que têm suas dores sanadas ou
aliviadas. A outra constante — e essa era uma qualidade de Jó — é fé
inabalável no poder da Ressurreição do Salvador. Todos nós ressuscitaremos.
Nossos entes queridos que morrem ressuscitarão como o Salvador.
Voltaremos a estar com eles não sob forma etérea, mas com um corpo que
nunca mais morrerá nem envelhecerá ou ficará enfermo. Quando o Salvador
apareceu aos apóstolos depois da Ressurreição, não só consolou-os em seu
sofrimento, mas também a todos nós que ainda viríamos a sofrer. Ele os
consolou, e consola a nós, da seguinte maneira:
“Paz seja convosco. (…)
Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e
vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho”
(Lucas 24:36, 39).
O Senhor nos inspira, em meio a nossas aflições, a buscar a forma de
socorro mais adequada para nós. Podemos, em humilde oração, convidar o
Espírito Santo a estar conosco. Podemos decidir servir a outras pessoas pelo
Senhor. Podemos prestar testemunho do Salvador, de Seu evangelho e da
Restauração de Sua Igreja. Podemos guardar seus mandamentos. Todas essas
escolhas convidam o Espírito Santo. É o Espírito Santo quem pode consolar-
nos da forma que precisamos, e é por meio da inspiração que recebemos Dele
que nos é possível obter um testemunho da ressurreição e uma visão clara do
glorioso reencontro que nos aguarda. Senti esse consolo ao olhar para o
túmulo de alguém que eu conhecia — alguém que sei que no futuro poderei
voltar a ter em meus braços. Essa certeza não apenas libertou-me do
sofrimento como também encheu-me de doces esperanças.
Se aquela menininha tivesse vivido até a maturidade, precisaria ser
socorrida em meio a outra série de tribulações. Sua fidelidade a Deus teria
sido provada por meio de obstáculos físicos e espirituais, como acontece com
todos. Embora o corpo seja uma criação magnífica, mantê-lo funcionando é
um desafio que nos coloca à prova. Para muitas pessoas no mundo, é difícil
conseguir comida e água para beber que bastem para o dia. Todos nós temos
que enfrentar as doenças e os efeitos do envelhecimento.
Além dos problemas físicos originados em nosso próprio corpo,
enfrentamos a oposição externa que vem de nossos inimigos. Há raiva e ódio
no mundo ao nosso redor e às vezes eles serão direcionados a nós. Como o
Profeta Joseph percebeu, a oposição aumentou à medida que ele se tornou
mais valioso para os propósitos do Senhor.
O poder capaz de socorrer-nos em meio a essas provações é real. Ele
funciona da mesma forma que o poder que nos socorre quando enfrentamos a
morte de um ente querido. Assim como esse socorro nem sempre significa
que a vida de um ente querido será poupada, o socorro que recebemos em
outras provações nem sempre significa que elas serão removidas. Talvez não
venhamos a ter uma saúde perfeita e nossos inimigos não desapareçam ou
passem a ignorar-nos. Talvez Ele não nos dê alívio até desenvolvermos a fé
necessária para fazer escolhas que permitam que o poder da Expiação opere
em nossa vida. Ele não age assim por indiferença, mas por amor a nós. Esta é
Sua advertência:
“Porque eis que o Senhor disse: Não socorrerei meu povo no dia de sua
transgressão, mas obstruirei seus caminhos para que não prosperem; e suas
obras serão como pedra de tropeço diante deles” (Mosias 7:29).
Somos orientados quanto ao que fazer para receber o socorro do Senhor
em meio aos reveses da vida. Thomas B. Marsh, que era na ocasião o
Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, recebeu essa orientação. Ele
estava passando por muitas provações difíceis e o Senhor sabia que ele
enfrentaria mais. Eis o conselho dado a ele, que tomo para mim e ofereço a
vocês: “Sê humilde; e o Senhor teu Deus te conduzirá pela mão e dará
resposta a tuas orações” (Doutrina e Convênios 112:10).
O Senhor sempre quer conduzir-nos, pela senda que nos levará a
desenvolver maior retidão, ao ponto em que Ele nos dará alívio. Para isso,
precisamos arrepender-nos e precisamos ser humildes. Para que o Senhor nos
socorra, é imprescindível que, primeiro, sejamos humildes, assim
permitiremos que Ele nos leve pela mão para onde quiser, passando por
tribulações e seguindo rumo à santificação.
Podemos cometer o erro de supor que as doenças, as perseguições e a
pobreza serão suficientes para tornar-nos humildes. Elas nem sempre
produzem por si só o tipo e o grau de humildade que precisaremos ter para
ser resgatados. As provações podem causar ressentimento e desânimo. A
humildade de que precisamos para que o Senhor nos leve pela mão vem da
fé. Ela vem da fé em que Deus de fato vive, que nos ama e que o que Ele
quer, não importa quão difícil seja, sempre será o melhor para nós.
O Salvador foi um exemplo dessa humildade. Vocês já leram a história
de quando Ele orou no horto, ao sofrer por nós, sofrimento esse que em muito
excede nossa compreensão e que eu nem seria capaz de descrever. Vocês
devem lembrar de Sua súplica: “Pai, se queres, passa de mim este cálice;
todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
Ele conhecia e confiava no Pai Celestial, o grande Eloim. Sabia que Seu
Pai era todo-poderoso e infinitamente bondoso. O Filho Amado pediu o
socorro de que precisava com a humildade de uma criancinha.
O Pai não socorreu o Filho eliminando a provação. Para o nosso bem,
Ele não fez isso, mas permitiu que o Salvador concluísse Sua missão.
Contudo, o Pai enviou outra forma de socorro, e saber disso pode ser sempre
uma fonte coragem e consolo para nós:
“E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em
grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.
E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os
dormindo de tristeza.
E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que
não entreis em tentação” (Lucas 22:43–46).
O Salvador orou por socorro. Não foi Lhe dado escapar ao sofrimento,
mas, sim, o consolo necessário para que Ele o superasse gloriosamente.
Seu mandamento aos discípulos, que estavam, eles próprios, sendo
provados, serve-nos de orientação. Podemos decidir segui-lo. Podemos
decidir levantar-nos e orar com grande fé e humildade e podemos seguir a
ordem contida no livro de Marcos: “Levantai-vos, vamos” (Marcos 14:42).
Disso podemos tirar um conselho para passar pelas provas físicas e
espirituais da vida. Precisaremos da ajuda de Deus depois de termos feito
tudo o que pudermos. Então, levantem-se e ajam, mas busquem a ajuda Dele
o mais cedo possível, não esperem a hora da crise para pedir a ajuda divina.
Vocês enfrentarão oposição e obstáculos na vida. Vocês podem e
precisam prosseguir com confiança. Se começarem determinados a
colocarem-se em condições de receber o socorro divino em todas as
dificuldades da mortalidade, vão triunfar. Serão fortalecidos, serão guiados
por entre os obstáculos, terão ajuda e consolo. Sua fé no Pai Celestial e no
Salvador aumentarão. Terão mais forças para resistir ao mal e sentirão o
evangelho de Jesus Cristo agindo em sua vida.
E com isso chegamos ao terceiro tipo de provação. Por vezes, todos nós
vamos lutar para nos sentir livres dos efeitos do pecado. Somente o Salvador
foi capaz de resistir a todas as tentações e nunca pecar. Assim, a provação
mais importante e mais difícil para todos nós é nos purificarmos e sabermos
que estamos puros. Todos nós, por vezes, ansiamos pela esperança de ver a
face do Senhor (o que certamente acontecerá no juízo final) e de vê-la com
alegria e prazer.
Pelo que entendemos das provações e do que é preciso para receber o
socorro divino, podemos ter a esperança de felicidade no dia do julgamento,
que virá para todos nós. As mesmas coisas que nos dão condições de receber
o auxílio divino em meio às provas da vida são também as que nos darão a
tão necessária confirmação de que passamos na grande prova da mortalidade.
Vimos que, para ser socorridos em nossas aflições, a humildade perante
Deus é imprescindível. É preciso submissão à Sua vontade. É preciso orar e
estar disposto a obedecer. É preciso servir aos outros por amor a eles e ao
Salvador, e é sempre indispensável a companhia do Espírito Santo, o qual
convidamos a estar conosco quando fazemos essas coisas.
Quando recebemos o socorro divino em meio às provações, o Espírito
Santo vem a nós. Muitos de vocês já sentiram o resultado do contato
frequente com o Espírito Santo. Pode ter sido no seu serviço missionário,
quando com frequência precisavam de auxílio divino. O Espírito Santo veio
consolá-los e guiá-los. A medida que isso se repetia, talvez tenham notado
uma mudança em vocês mesmos. As tentações que antes os incomodavam
pareceram perder a intensidade. As pessoas que antes pareciam difíceis
começaram a parecer mais agradáveis. Vocês começaram a ver um potencial
quase absurdo em pessoas muito humildes. Passaram a preocupar-se mais
com a felicidade delas do que com a sua própria.
Se essa transformação ocorreu, é mais provável que tenha sido gradual,
não repentina. No entanto, isso é o que as escrituras chamam de “vigorosa
mudança” (Mosias 5:2; Alma 5:12–14). E é a evidência que nós precisamos
para ter esperança e confiança para aguardar a grande e última prova, o Juízo
Final que ocorrerá após esta vida. A experiência adquirida ao suportar bem as
provações da vida, lançando mão do poder de Deus para socorrer-nos, pode-
nos dar a confiança de que precisamos para encontrar paz nesta vida e
confiança na vida futura.
Na Força do Senhor
Quando eu era jovem, fui conselheiro de um sábio presidente de distrito
da Igreja. Ele tentou ensinar-me. Um conselho seu que lembro ter-me feito
pensar foi: “Quando falar com alguém, trate-o como se ele estivesse em
sérios apuros e você estará certo em mais da metade das vezes”.
Achei na época que ele estava sendo pessimista. Hoje, mais de 40 anos
depois, percebo quão bem ele compreendia o mundo e a vida. Com o passar
dos anos, o mundo se torna cada vez mais difícil e nossa capacidade física vai
lentamente diminuindo com a idade. É evidente que precisaremos de mais do
que apenas a nossa força humana. O salmista estava certo: “Mas a salvação
dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia”
(Salmos 37:39).
O evangelho restaurado do Senhor Jesus Cristo ajuda-nos a saber como
qualificar-nos para receber a força do Senhor ao lidarmos com as
adversidades; explica por que enfrentamos provações na vida e, o que é mais
importante, diz-nos como conseguir proteção e auxílio do Senhor.
Temos de enfrentar provações porque o Pai Celestial nos ama. Seu
propósito é ajudar-nos a qualificar-nos para a bênção de viver com Ele e Seu
Filho Jesus Cristo para sempre, em glória e em família. Para qualificar-nos
para essa dádiva, tínhamos que receber um corpo mortal. Sabíamos que na
mortalidade seríamos provados por meio de tentações e dificuldades.
O evangelho restaurado não apenas nos ensina por que precisamos ser
provados, mas deixa bem claro qual é a prova pela qual precisamos passar. O
Profeta Joseph Smith deu-nos uma explicação. Por revelação, ele registrou
palavras proferidas na Criação do mundo. Elas se referem a nós, os filhos
espirituais de nosso Pai Celestial que viriam para a mortalidade. Estas são as
palavras:
“E assim os provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor
seu Deus lhes ordenar” (Abraão 3:25).
Essa explicação nos ajuda a compreender por que enfrentamos provas na
vida. Elas dão-nos a oportunidade de provar-nos fiéis a Deus. Há tantas
coisas que nos acometem na vida que nos parece quase impossível
simplesmente perseverar. Pareceu-me que era isso o que a expressão “deveis
(…) [perseverar] até o fim” (ver 2 Néfi 31:20) significava quando a li nas
escrituras pela primeira vez. Parecia-me algo muito difícil, como sentar-me
quieto e agarrar-me aos braços da cadeira enquanto alguém me arrancava um
dente.
Sem dúvida é o que pode parecer a uma família que depende da colheita
numa época de seca. Ela pode perguntar-se: “Por quanto tempo
conseguiremos aguentar?” É o que pode parecer a um jovem que tenha de
resistir à crescente enxurrada de imoralidade e tentações. É o que pode
parecer a um rapaz que esteja se esforçando para concluir os estudos
necessários para conseguir um emprego que lhe permita sustentar esposa e
filhos. É o que pode parecer a uma pessoa que não consegue encontrar
emprego ou que tenha perdido um emprego depois do outro à medida que as
empresas foram fechando suas portas. É o que pode parecer a uma pessoa que
esteja enfrentando a deterioração da saúde ou da força física, seja a dela
mesma ou a de um ente querido, o que pode acontecer no início ou no fim da
vida.
Mas o teste que Deus, em Seu amor, colocou diante de nós não é para
ver se conseguimos suportar as dificuldades, mas, sim, para avaliar se
conseguiremos suportá-las bem. Passamos no teste quando demonstramos
que nos lembramos Dele e dos mandamentos que Ele nos deu. Suportar bem
significa guardar esses mandamentos, a despeito de toda oposição, seja qual
for a tentação e sejam quais forem os tumultos que nos cerquem. Temos esse
claro entendimento porque o evangelho restaurado explica o plano de
felicidade de modo bem simples.
Essa clareza permite-nos perceber o quanto necessitamos de auxílio.
Precisamos de forças superiores às nossas para guardar os mandamentos em
todas as situações que a vida nos apresentar. Para alguns, pode ser a pobreza,
mas para outros pode ser a prosperidade. Pode ser a debilitação da idade ou a
exuberância da juventude. As provações podem ter as mais diversas durações
e vir combinadas das mais diversas formas, sua variedade se iguala à dos
filhos de Deus: não há dois iguais. Contudo, o que está sendo testado é
sempre o mesmo, em todos os momentos de nossa vida e para todas as
pessoas: Faremos tudo o que o Senhor nosso Deus nos ordenar?
Se soubermos o motivo pelo qual somos provados e qual é a prova,
saberemos como conseguir auxílio. Temos que recorrer a Deus. Ele nos dá os
mandamentos. E precisamos de uma força superior à nossa para guardá-los.
O evangelho restaurado novamente deixa bem claro quais são as coisas
simples que precisamos fazer e nos dá confiança de que receberemos a ajuda
necessária se fizermos essas coisas desde cedo e persistentemente, bem antes
do momento da crise.
Se há uma coisa que precisamos fazer antes, durante e depois das
provações, é orar. O Salvador ensinou como devemos fazê-lo. Uma das
escrituras em que Ele ensina isso mais claramente encontra-se em 3 Néfi:
“Eis que em verdade, em verdade vos digo que deveis vigiar e orar
sempre para não cairdes em tentação; porque Satanás deseja ter-vos para vos
peneirar como trigo.
Portanto deveis sempre orar ao Pai em meu nome.
E tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, que seja justo, acreditando
que recebereis, eis que vos será dado.
Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que
vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados” (3 Néfi 18:18–21).
Portanto, precisamos orar sempre.
Outra coisa simples que temos de fazer e que permite que Deus nos dê
forças é banquetear-nos com a palavra de Deus: ler e ponderar as obras-
padrão da Igreja e as palavras dos profetas vivos. Há uma promessa de ajuda
divina que acompanha essa prática diária. O estudo fiel das escrituras traz o
Espírito Santo até nós. A promessa foi feita no Livro de Mórmon, mas se
aplica também a todas as palavras que Deus nos deu e nos dará por
intermédio de Seus profetas.
“Eis que desejo exortar-vos, quando lerdes estas coisas, caso Deus
julgue prudente que as leiais, a vos lembrardes de quão misericordioso tem
sido o Senhor para com os filhos dos homens, desde a criação de Adão até a
hora em que receberdes estas coisas, e a meditardes sobre isto em vosso
coração.
E quando receberdes estas coisas, eu vos exorto a perguntardes a Deus,
o Pai Eterno, em nome de Cristo, se estas coisas não são verdadeiras; e se
perguntardes com um coração sincero e com real intenção, tendo fé em
Cristo, ele vos manifestará a verdade delas pelo poder do Espírito Santo.
E pelo poder do Espírito Santo podeis saber a verdade de todas as
coisas” (Morôni 10:3–5).
Devemos reivindicar o cumprimento dessa promessa não apenas uma
vez e não somente quanto ao Livro de Mórmon. O cumprimento dessa
promessa é garantido. O poder do Espírito Santo é real. Ele virá, repetidas
vezes. E uma verdade suprema que ele sempre testificará é que Jesus é o
Cristo.
Esse testemunho nos aproximará do Salvador e nos levará a aceitar a
ajuda que Ele oferece a todos que estão sendo postos à prova nas aflições da
mortalidade. O Senhor disse mais de uma vez que nos reuniria como uma
galinha reúne seus pintos sob suas asas. Ele disse que precisamos decidir
achegar-nos a Ele, com mansidão e fé suficiente Nele para arrepender-nos
com um “firme propósito de coração” (3 Néfi 10:6).
Uma maneira de fazer isso é reunir-nos com os santos em Sua Igreja.
Assistam às reuniões, mesmo quando isso lhes pareça difícil. Se tiverem
determinação, Ele os ajudará a ter forças para isso.
Uma irmã escreveu-me da Inglaterra. Quando o bispo perguntou se ela
aceitaria o chamado para dar aula no seminário matutino, ele disse que seria
melhor que ela orasse a esse respeito antes de aceitar. Ela orou e aceitou o
chamado. Quando se reuniu com os pais dos alunos pela primeira vez, o
bispo estava a seu lado. Ela anunciou que sentia que o programa deveria
passar para cinco dias por semana. Alguns pais ficaram em dúvida. Alguém
disse: “Eles não virão. Em protesto, eles não virão”.
Ora, em parte eles estavam certos. Muitos alunos realmente não
compareceram. Mas a frequência nessas manhãs frias e escuras está agora
acima de 90%. Aquela professora e seu bispo acreditaram que, se os alunos
começassem a vir, seriam fortalecidos por um poder superior à sua
capacidade. Foi o que aconteceu. Esse poder os protegerá quando tiverem de
ir a lugares em que serão os únicos santos dos últimos dias. Não estarão
sozinhos nem indefesos porque aceitaram o convite de reunirem-se com os
santos quando isso não era fácil.
Essa força não é dada apenas aos jovens, mas também aos mais idosos.
Conheço uma viúva que tem mais de 90 anos e anda em cadeira de rodas. Ela
ora, como vocês, pedindo ajuda para solucionar problemas que estão acima
de sua capacidade humana. A resposta é um sentimento no coração que a faz
cumprir um mandamento: “E eis que vos reunireis com frequência” (3 Néfi
18:22). Portanto, ela dá um jeito de ir às reuniões. As pessoas que frequentam
as mesmas reuniões que ela dizem: “Ficamos muito felizes ao vê-la. Ela traz
muito espírito com ela”.
Ela toma o sacramento e renova um convênio. Lembra-se do Salvador e
procura cumprir Seus mandamentos e, assim, o Espírito Dele está com ela
sempre. Seus problemas talvez não sejam resolvidos. A maioria deles
depende de escolhas de outros; e até mesmo o Pai Celestial, que ouve suas
orações e a ama, não pode forçar as pessoas a escolherem o certo. Mas Ele
pode enviar-lhe a segurança do Salvador e a promessa de que Seu Espírito
estará com ela. E assim, tenho certeza de que, na força do Senhor, ela vai
passar na prova que tem diante de si, porque cumpre o mandamento de
reunir-se frequentemente com os santos. O cumprimento desse mandamento,
por um lado, deixa claro sua perseverança e, por outro, é o que lhe dará
forças para enfrentar o que o futuro lhe reserva.
Há outra coisa simples a ser feita. A Igreja do Senhor foi restaurada e,
portanto, qualquer chamado para servir nela é um chamado para servir ao
Senhor. Aquele bispo da Inglaterra foi muito sábio. Pediu àquela mulher que
orasse a respeito de seu chamado para servir. Ele sabia qual seria a resposta
que ela receberia. Seria um convite do Pai e de Seu Filho Amado. Ele já sabia
algo que ela aprendeu ao responder ao chamado do Mestre. Nesse serviço, o
Espírito Santo será companheiro daqueles que se esforçarem para fazer o
melhor possível. Ela deve ter sentido isso ao se colocar diante dos pais e ao
ver os alunos manifestarem sua vontade. O que parecia difícil, quase
impossível para sua capacidade, tornou-se uma alegria, com a força do
Senhor.
Quando ela lê, pondera as escrituras e ora a fim de preparar-se para as
aulas, sabe que o Salvador pediu ao Pai que lhe enviasse o Espírito Santo,
como prometeu a Seus discípulos na Última Ceia, ciente das provações pelas
quais eles teriam de passar e de que precisaria deixá-los. Ele, porém, não os
deixou sem consolo. Prometeu-lhes o Espírito Santo e o promete a nós, que
estamos a Seu serviço. Portanto, sempre que o convite para servir chegar,
aceite-o. Ele traz consigo a ajuda necessária para passarmos num teste que
está muito além desse chamado.
Nem todos recebem chamados formais. Mas todo discípulo serve ao
Mestre prestando testemunho e sendo gentil com as pessoas a seu redor.
Todos prometeram nas águas do batismo que fariam isso. E todos receberão a
companhia do Espírito se perseverarem em cumprir os compromissos que
assumiram com Deus.
Quando estiverem a serviço do Mestre, aprenderão a conhecê-Lo e amá-
Lo. Se perseverarem em oração e serviço fiel, começarão a sentir que o
Espírito Santo Se tornou seu companheiro. Muitos serviram durante algum
tempo e sentiram essa companhia. Se pensarem naqueles momentos,
lembrarão que passaram por mudanças. A tentação de fazer coisas erradas
pareceu diminuir. O desejo de fazer o bem aumentou. Aqueles que os
conheciam e amavam talvez tenham dito: “Você está mais gentil, mais
paciente. Nem parece a mesma pessoa”.
Vocês não eram a mesma pessoa porque a Expiação de Jesus Cristo é
real. E também é real a promessa de que podemos nos tornar novas pessoas,
diferentes e melhores. Podemos também nos tornar mais fortes e capazes de
passar nas provas da vida. Depois disso, andamos na força do Senhor, uma
força desenvolvida quando estamos a serviço Dele. Ele segue conosco. E com
o tempo, tornamo-nos Seus discípulos fortalecidos e provados.
Vocês notarão uma diferença em suas orações. Elas se tornarão mais
fervorosas e mais frequentes. As palavras proferidas terão um significado
diferente para vocês. Recebemos o mandamento de orar sempre ao Pai em
nome de Jesus Cristo, mas vocês sentirão uma confiança maior ao orarem ao
Pai, sabendo que se achegarão a Ele como discípulos experimentados e de
confiança de Jesus Cristo. O Pai lhes concederá maior paz e força nesta vida
e a feliz expectativa de ouvirem estas palavras quando a prova da vida estiver
terminada: “Bem está, servo bom e fiel” (Mateus 25:21).
Viver uma Vida Consagrada
Oportunidades de Fazer o Bem
Nosso Pai Celestial ouve as orações de Seus filhos do mundo inteiro que
rogam pedindo alimento, roupas para cobrir o corpo e a dignidade de serem
capazes de se sustentar. Esses pedidos chegam até Ele desde que Ele colocou
o homem e a mulher na Terra.
Vocês ficam sabendo de pessoas que enfrentam essas necessidades perto
de onde moramos e no mundo inteiro. Muitas vezes, sentimos nosso coração
repleto de compaixão. Quando encontramos alguém com dificuldade para
conseguir emprego, sentimos o desejo de ajudar. Sentimos isso quando
vamos à casa de uma viúva e percebemos que ela não tem comida. Sentimos
isso quando vemos fotografias de crianças chorando junto às ruínas de uma
casa destruída por um terremoto ou pelo fogo.
Como o Senhor ouve o clamor dessas pessoas e sente a profunda
compaixão que temos por elas, desde o princípio dos tempos Ele
proporcionou meios pelos quais Seus discípulos podem ajudar. Ele convidou
Seus filhos a consagrarem seu tempo, seus recursos e a si mesmos para, com
Ele, servirem ao próximo.
Houve época em que as pessoas usavam a expressão “viver a lei da
consagração” para referir-se à Sua maneira de ajudar. Em outra época, a
maneira Dele recebeu o nome de “ordem unida”. Em nossa época, ela se
chama Programa de Bem-Estar da Igreja.
Os nomes e os detalhes operacionais mudam para condizer com as
necessidades e condições das pessoas, mas a maneira como o Senhor socorre
os que passam por necessidades materiais sempre requer o envolvimento de
pessoas que, por amor, consagram a si mesmas e as coisas que possuem a
Deus e a Sua obra.
Ele convidou-nos a participar de Seu trabalho de ajudar os necessitados
e ordenou-nos que participássemos. Nas águas do batismo e nos templos
sagrados de Deus, assumimos o convênio de fazer isso. Renovamos esse
convênio aos domingos, quando tomamos o sacramento.
Há um hino sobre o convite do Senhor para essa obra que canto desde
menino. Na infância, eu prestava mais atenção na alegre melodia do que na
força de sua letra. Oro para que vocês sintam hoje essa letra em seu coração.
Neste mundo, acaso, fiz hoje eu
A alguém um favor ou bem?
Se ainda não fiz ser alguém mais feliz,
Falhei ante os céus, também!