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 O INÍCIO DA LUDOTERAPIA: A ENTREVISTA INICIAL O LUGAR DOS PAIS

NA PSICOTERAPIA DA CRIANÇA

A fase inicial da Ludoterapia envolve a delimitação de aspectos preparatórios para o


desenvolvimento do processo psicoterápico. Dentre eles destacamos:

A) A ENTREVISTA INICIAL
Assim como ocorre em um Psicodiagnóstico, a Entrevista Inicial em Psicoterapia deve obter,
entre outros aspectos, uma demarcação clara do motivo da consulta que originou a busca pelo
atendimento.
Se o cliente já foi submetido, anteriormente, a um Psicodiagnóstico, essa informação já deve ter
sido fornecida pelo psicoterapeuta anterior. Além desta, o Psicodiagnóstico (se adequadamente
realizado) também possibilitou a identificação de hipóteses envolvendo: (a) as origens da
situação-problema trazida à consulta; (b) das características (as adaptadas e as que se mostram
frágeis) das várias dimensões psicológicas do indivíduo: aspectos cognitivos, afetivo-emocionais,
biológicos, sociais, etc.
Tais informações prévias são valiosas ao psicoterapeuta que realizará a Ludoterapia e, portanto,
não devem ser menosprezadas. Mesmo que as abordagens teóricas nos lembrem sobre o constante
processo de transformação do indivíduo, os resultados de um diagnóstico possibilitam estabelecer
um parâmetro, no qual o psicoterapeuta pode se apoiar para aprofundar as informações que
considerar pertinentes e planejar o processo psicoterápico que desenvolverá.
No caso de não ter ocorrido nenhuma modalidade de atendimento anterior, a Entrevista Inicial da
Ludoterapia será o primeiro momento de contato com a criança e seus responsáveis. Por
consequência, nessa entrevista deverão ser identificadas
(a) as razões que motivaram a buscar a psicoterapia (motivo da consulta);
(b) conhecer as expectativas dos responsáveis sobre a psicoterapia;
(c) oferecer informações sobre o modelo de atendimento que será empreendido;
(d) estabelecer o contrato de trabalho.
Um aspecto a ser considerado é quem serão os participantes da primeira entrevista. Quanto a isso,
os autores divergem, influenciados pelo referencial técnico e teórico no qual se apoiam: criança
e responsáveis juntos? Apenas os pais participarão? Ambas as condutas apresentam pontos
positivos e negativos, devendo, então, ao terapeuta decidir qual se mostra mais adequada de ser
aplicada.
A criança deve ser informada sobre os motivos pelo qual foi trazida à Ludoterapia para que
adquira consciência de tais motivos, e “se o negar devemos formular uma interpretação que lhe
dê novamente consciência dessa enfermidade, de que somos seusterapeutas e não estamos
jogando comela, mas analisando-a.” (ABERASTURY, 1982, p. 108);
Embora sejam considerados componentes gerais em uma primeira entrevista, a postura e a
conduta do psicoterapeuta sobre cada um deles será influenciada pela concepção teórica que
fundamentará a Ludoterapia.

B) ENQUADRE
-O enquadre se constitui como um marco no qual vão se dar as condições necessárias e
imprescindíveis para o desenvolvimento do processo psicoterapêutico. Obviamente, o marco
teórico influenciará as condições em que o enquadre será organizado;
-O enquadre deve proporcionar ao cliente(no caso a criança)um meio estável e confiável para que
a Ludoterapia se desenvolva. Em adicional, aforma como o cliente reage aoenquadre
(aceitação/recusa; negação; passividade, etc.) proporcionará informações valiosas sobre os
conteúdos e funcionamento mental do cliente. Informações essas que devem ser utilizadas na
Ludoterapia.
-Segundo Donnald Winnicott,o enquadre pode ser entendido como um Espaço Transicionale
deve ser similar ao holding materno;
O espaço transicional [...] dimensão do viver que não pertence nem a realidade externa nem à
realidade interna, mas ainda assim, se trata do lugar-espaço no qual os dois, o interno e o externo
se conectam e se separaram [...], o espaço transicional começa no início como uma ferramenta de
separação da díade mãe-bebê, e é neste espaço onde se colocarão e assentarão as capacidades
hibridas e criativas de toda criança” (BLINDER; KNOBEL; SIQUIER, 2011, p. 56-57).
-Na relaçãoterapêutica deve ser aplicada a regra de abstinência, de forma que oenvolvimento
emocional do terapeuta seja devidamente equilibrado:
O analista se abstém de formular e formar juízos de valor ou rótulos que classificam o paciente
em quadro nosológico preconceituoso, iatrogênico e facilitador de estigmas e lhe permite
construir um espaço de escuta onde o realmente criativo, verdadeiro e próprio da criança pode se
desenvolver (BLINDER; KNOBEL; SIQUIER, 2011, p.57).

ELEMENTOS DO ENQUADRE:
-Elementos relativos ao contrato: honorários, dias, horários e duração da psicoterapia.
-Será firmado com os pais um enquadre real (definindo, inclusive,se serão ou não ouvidos não
longo da psicoterapia);
-Para a Psicanálise dinheiro e o pagamento possuem significados inconscientes, tanto para o
cliente como para o psicoterapeuta (dívida, culpa, excremento, um presente, símbolos
psicossexuais).
Existem divergências entre os autores sobre a maneira como o psicoterapeuta deve lidar com a
criança em relação aos honorários (BLINDER; KNOBEL; SIQUIER, 2011):
✓ Melanie Klein defende que a criança deve saber que são pagos honorários mas que não deve
ser discutido o valor dos honorárioscom ela;

✓ Françoise Dolto propõe um pagamento simbólico por parte da criança;

✓ Arminda Aberastury(1982)defende que a criança devasaber que as sessões são pagaseque, se


possível, façam o cálculo e entreguem o dinheiro aopsicoterapeuta.

-Sobre aquestão do sigilo profissional:promoverágarantias e segurança para a criança de queos


pais serão ouvidos,mas que suas verbalizações e atividades,na sessão,serão tratadas como algo
privado entre ela e o terapeuta.

C) A ESTRUTURA DA ENTREVISTA
Esse aspecto está relacionado ao tipo de entrevista a ser realizada (aberta, semidirigida ou
dirigida) e aos aspectos que serão investigados pelo psicoterapeuta: a postura do psicoterapeuta
nas sessões, o tipo de informação que ele considera relevante, as técnicas e o material que utiliza.
Novamente, as influências das concepções teóricas se farão sentir nesse aspecto.
D) O BRINQUEDO E DEMAIS MATERIAIS LÚDICOS
Os brinquedos e outros materiais poderão ser dispostos de várias maneiras: num armário, em
prateleiras e numa caixa (Caixa Lúdica), sendo esta última muito utilizada por psicoterapeutas
infantis de abordagem psicanalítica.
A utilização da Caixa Lúdica individual torna-se um recurso de observação sobre como acriança
lida e organiza materiais que lhe são particulares. Nesse sentido, a caixa pode ser considerada
uma representação do seu mundo interno
OMATERIAL LÚDICO:
Os materiais utilizados devemser simples, de boa qualidade,resistentese de vários tipos.São
inúmeras as possibilidades! De modo geral, utilizam-se materiais estruturados e não estruturados.
Tudo que a criança produzir na sessão deveráficar dentro da caixa lúdicaou guardado pelo
terapeuta, devendo ficar, no entanto,acessível àcriança.
-Aberastury (1982) recomenda a utilização de água e da inclusão de brinquedos e jogos que
tenham sido identificados,na fase de avaliação,como preferidos da criança;
-Blinder,Knobel e Siquier (2011)mencionam as seguintes situações que devem ser assinaladas em
sessão:
✓ Trazer um brinquedo de casapara a sessão: pode ser permitido, masdeve ser interpretado o seu
significado;
✓ Levar para casa um brinquedo ou alguma produção da sessão: não deve ser permitido, pois
constitui-se uma resistência a ser interpretada.

-Em relação à reposição do material, ABERASTURY(1982)destaca que omaterial gráfico deve


ser constantemente reposto. Entretanto, o mau uso do material deve ser sempre considerado como
conteúdo da sessão. Entretanto, quando os danos ao material persistem, a reposição deve ser
reconsiderada.
A conduta, geralmente, adotada nesses casos é a deobservar o comportamento da criança e depois
interpretá-lo (e se for o caso, contê-la);
-Uma outra conduta que pode ser adotada (para posterior discussão na sessão) é a de manter
brinquedo quebrado na Caixa Lúdica.
-Em relação às solicitações para que o psicoterapeuta brinque:tentativas da criança para que
mantenha uma interação mais próxima com o psicoterapeuta
deve ser evitadas e interpretadas visto que “[...] costumam ter o significado de destruir o
tratamento, de transformar a análise numa situação familiar ou social, com o que atacam o vínculo
com o terapeuta e negam a enfermidade.” (ABERASTURY, 1982, p. 104)
O papel do terapeuta é o de agente facilitador do brincar, portanto, deve obter da criança as
informações e conteúdos envolvidos nesse brincar: “a criança pode explicar-nos cada detalhe do
papel que nos designa.”(ABERASTURY, 1982, p. 108)

Outras solicitações:
Outras situações podem ocorrer ao longo da sessão. Em todos os casos a conduta deve ser a mesma
das situações anteriores: observar, identificar conteúdos e assinalar.
-Acriança pede para deixar suas produções de sessão fora da caixa(e nesse caso serão vistos por
outras crianças; ela pede para ver a caixa de outras crianças);
-Quando a criança não quer ir embora ao final da sessão: a caixa deve ser fechada e o
psicoterapeuta deve se despedir dela.

E) O LUGAR DOS PAIS/RESPONSÁVEIS NA LUDOTERAPIA


É comum ouvirmos na informalidade, na literatura e na música que “os filhos são reflexo dos
pais”. Ainda que a “idéia” implícita na frase seja considerada verdadeira, pelas diversas
fundamentações teóricas sobreo comportamento humano, cabe ao psicólogo não recair no “lugar
comum” e buscar entendimentos sobre esse aspecto.
É comum ouvir-se dizer que, a toda criança-problema, correspondem pais-problemas. É raro, com
efeito, que não se perceba, por trás de um sintoma, certa desordem familiar. Entretanto, não é
certo que essa desordem familiar tenha, por si mesma, uma relação direta de causa e efeito com
os distúrbios da criança.
O que se mostra prejudicial ao sujeito é a recusa dos pais a verem essa desordem, o esforço deles
em palavra, para aí substituir uma ordem que não é apenas uma.
Não é tanto o confronto da criança com a verdade penosa que é traumatizante, mas o seu confronto
com a “mentira” do adulto. [...] O que lhe fez mal não é tanto a situação real. É o não-dito que
assume aqui um certo relevo. (MANNONI, 1980, p. 70)
A participação dos pais na psicoterapia do filho suscita posicionamentos diferenciados entre os
autores.

Anna Freud:
-Defendia a necessidade de participação dos pais no processo psicoterápico, realizando entrevistas
com estes na busca por informações, além de oferecer-lhes orientações acerca da educação do
filho.
-Enfatizava que as crianças estavam ligadas a pais reais e atuais e, por isso, temia a deterioração
das relações da criança com seus pais, caso fossem analisados seus sentimentos negativos a
respeito deles;
Melanie Klein:
-Defendia que análise da criança poderia se desenvolver com a instalação da transferência. Por
sua vez, esse fenômeno só seria possível de ocorrer se o consultório ou a sala de jogos fosse
sentido como algo separado da vida da criança em casa;
Dessa forma, o contato com os pais ou a participação deles no tratamento não eram estimulados,
embora, reconhecesse que o analista deveria estabelecer uma relação de confiança com os pais.
Maud Manonnie Françoise Dolto (psicanalistas francesas):
-No sintoma da criança estão envolvidas questões imaginárias e inconscientes dos pais. Portanto,
nele existe uma dimensão simbólica que oculta ‘fantasmas’ e desejos dos pais. Assim, acriança,
[...] fica fixada em um determinado lugar em virtude dos desejos e das fantasias deles. [...] a
criança procura se identificar com o que suspeita ser o desejo materno, sujeitando-se a preencher
o que falta na mãe, dessa forma evitando a angústia de castração. (STÜRMER; RUARO;
SARAIVA, 2009, p. 121)
Entretanto, tal escola teórica assinala que o sintoma da criança não depende exclusivamente dos
pais. Acriança tem suas próprias singularidade e dessa forma, o sintoma emerge na interseção
entre o “lugar” estabelecido à criança pelos pais e, a produção de fantasias e do desenrolar do
processo edípico da própria criança.
Nessa perspectiva, as intervenções clínicas do psicoterapeuta são dirigidas tanto às questões
familiares ou para a escuta dos desejos e do discurso próprio da criança.
Na atualidade, não se subestima a participação dos pais/responsáveis no processo psicoterápico
da criança, tornando-se um consenso, entre as diferentes abordagens, que o envolvimento desses
na Ludoterapia (e na psicoterapia de adolescentes)é fundamental. Portanto, deve ser estimulado e
exercido pelo psicoterapeuta.
Essa afirmação possui, inclusive, um amparo nas legislações relativas à infância e adolescência,
bem como no Código de Ética do psicólogo. Estas especificam a necessidade de autorização e
envolvimento dos pais em atendimentos sistemáticos à criança e ao adolescente.
Em adicional, a presença dos pais fornece informações precisas e valiosas sobre as características
das relações familiares.

SIGNIFICADOS DA LUDOTERAPIA PARA OSPAIS/RESPONSÁVEIS:


- A busca por uma psicoterapia para a criança, é cercada por ambivalências devido a suscitar nos
responsáveis sentimentos como culpa, ansiedades, angústias, ciúmes da relação confidencial entre
a criança-terapeuta, resistências pelas mudanças que poderão ocorrer, exposição dos pais a uma
‘vulnerabilidade narcísica’;
- Nesse sentido, constata-se os benefícios de os pais/responsáveis serem integrados na
Ludoterapia pelo psicoterapeuta. São dois os principais motivos:
a) Para possibilitar que desvelem suas angústias e fantasias acerca do filho: tais informações e
conteúdos poderão ser identificados e manejados pelo terapeuta ao longo do processo de
atendimento;
b) Para melhor habilitar os responsáveis a lidar com as exigências e os conteúdos que serão
mobilizadas pela psicoterapia. Dessa forma, estarão mais aptos a apoiarem o processo de mudança
da criança e a compreenderem seus próprios conteúdos, prevenindo, assim, possíveis sabotagens
ao atendimento.

CONDUTAS DO PSICOTERAPEUTA EM RELAÇÃO AOS PAIS/RESPONSÁVEIS:


- O terapeuta deve considerar a relevância de articular dois níveis de intervenção: o primeiro seria
o trabalho psicoterápico com a própria criança e o segundo uma escuta particular aos pais de
forma a compreender o papel que a criança ocupa na família e, por consequência, auxiliá-los a
lidar com os conteúdos que estão implícitos nessa questão.
Para isso, o psicoterapeuta pode intercalar a Ludoterapia da criança com sessões de Orientação e
Aconselhamento aos pais.
A decisão do mesmo terapeuta realizar paralelamente a psicoterapia da criança e a psicoterapia
dos pais mostra-se complexa e questionável pela maioria das concepções teóricas. Portanto,
cautela! O terapeuta deve ser crítico em relação ao seu narcisismo e a sua ambição financeira.
Uma possibilidade indicada, nesses casos, é o encaminhamento dos pais/responsáveis para uma
psicoterapia conduzida por outro profissional. No entanto, STÜRMER, RUARO e SARAIVA
(2009) alertam que, o encaminhamento apressado dos pais pode reforçar resistências e levar ao
abandono do atendimento, caso eles não tenham sido suficientemente sensibilizados sobre seus
aspectos particulares envolvidos no sintoma da criança.

 O TÉRMINO DA LUDOTERAPIA: CRITÉRIOS DE FINALIZAÇÃO E ALTA

O que é o término do processo psicoterápico?


- Freud no seu texto “A análise terminável e interminável” considerava o termo ambíguo,
ambicioso e amplo, atribuindo a ele dois significados:
(1) A análise seria interminável no sentido que o processo de busca do crescimento e da
elaboração psíquica continua mesmo quando o tratamento e a relação psicoterapeuta e cliente
termina;
(2) O término poderia ocorrer quando o cliente tivesse superado ansiedades e inibições OU
quando o analista julgasse ter tornado consciente o máximo de material possível, e assim, ter
eliminado resistências internas e impedido a reincidência da doença.

ALTA OU FINALIZAÇÃO??
- Alta tem uma herança da medicina e está relacionada à cura. O que nem sempre é uma meta
presente em todas as concepções teóricas;
- O termo Finalização está relacionado mais ao fim do trabalho psicoterápico já que o processo
interno é infindável.
- Para M. Klein existirá sempre uma ansiedade vital que temos que suportar, pois é inerente à vida
e é ela que nos impulsiona a agir.

A FINALIZAÇÃO NO PROCESSO DE LUDOTERAPIA


- A finalização da psicoterapia envolve situações de luto e crise para a criança, exigindo dela uma
reorganização e adaptação (bem como de seus responsáveis);
- A finalização é uma fase difícil e delicada do processo, sujeita à retrocessos de sintomas e
intensificação de defesas;
- O término não deve ser abrupto, ocasionando uma subida perda de contato com o terapeuta! Ele
deve ocorrer de forma gradual;
- O final da psicoterapia traz à tona as ansiedades decorrentes das etapas de desenvolvimento
anteriores: nascimento, desmame, separações e lutos;
- M. Klein afirma que o término do tratamento provoca a revivescência de ansiedades depressivas
relacionadas à época do desmame e da separação materna;
- Para crianças que apresentam sentimentos de privação, abandono e perda de amor como aspectos
centrais dos seus conflitos, o término é particularmente um momento crítico.
- A finalização deve, de preferência, ser consensual entre o psicoterapeuta, os pais (e a criança),
visto que todos os envolvidos devem partilhar da mesma avaliação sobre os benefícios
alcançados;
- Entretanto, deve-se levar em consideração que, as conclusões que definem o término são sempre
aproximadas;
- Após a decisão da finalização, o terapeuta deve estar atento aos conteúdos que surgirão e que
estão implícitos ao processo de desligamento;
- Quando a criança é informada sobre a finalização da psicoterapia ela tende a expressar
simbolicamente suas fantasias de ‘doença’ e ‘cura’, similar a uma retrospectiva de todos os
elementos relativos a busca e a finalização do tratamento;
- Tais conteúdos devem ser assinalados à criança, para a adequada conclusão do processo
psicoterápico;
- Estratégias, como a progressiva redução do número de sessões, podem ser utilizadas de modo a
facilitar a separação;
ATENÇÃO! O terapeuta também é afetado pelo momento da finalização. Aspectos
contratransferenciais podem ser desencadeados.

REAÇÕES FREQUENTES:
- Repentina ‘piora’ da criança (Retorno do Sintoma). O terapeuta deve estar atento e avaliar essa
reação. Ela pode indicar 2 aspectos distintos:
1) Uma resistência a finalização do processo psicoterápico;
2) Pode significar um ‘alerta’ do cliente, comunicando que existe, ainda, conteúdos que não foram
esclarecidos em relação ao sintoma. Exemplo: dependências não solucionadas em relação ao
terapeuta.
- Antes de ser anunciada pelo terapeuta, o cliente anuncia que deixará a psicoterapia: para
minimizar o sofrimento da perda, o cliente busca ‘controlar’ a situação, ameaçando deixar antes
de ser ‘deixado’.

CRITÉRIOS DE FINALIZAÇÃO
- A observação do brincar fornece informações sobre a evolução interna da criança. Ao observar
os jogos e brincadeiras avaliamos se houve ou não mudanças nos conflitos e fantasias
inconscientes da criança, presentes nas camadas mais profundas do seu psiquismo;
- A criança manifesta progresso nos seus interesses lúdicos, usa de forma mais adequada o
material, utilizando brinquedos adequados a sua idade (se antes não o fazia);
- A criança aumenta o uso da expressão verbal para comunicar seus sentimentos e desejos. Não
importando a idade da criança, uma psicoterapia precisa auxiliar a criança a empregar toda sua
capacidade de falar.
- Aumento da capacidade da criança integrar seus aspectos agressivos e amorosos (M. Klein);
- Aumento da capacidade de enfrentar a realidade e suas frustrações;
- Diminuição de atividades agressivas;
- Decréscimo da angústia e culpabilidade;
- Ocorrendo a diminuição da angústia, a imaginação infantil torna-se mais espontânea
aumentando a capacidade de representação simbólica;

Critérios de finalização de karl Menninger:

(a) RELAÇÕES DA CRIANÇA CONSIGO MESMA E O GRAU DE INTEGRAÇÃO DE


SUA PERSONALIDADE:
- O prazer pelo brincar e a livre expressão de suas fantasias indicam a etapa de desenvolvimento
atingido e sua adaptação à realidade;
- Integração de tendências agressivas e amorosas;
- Maior equilíbrio entre metas e aspirações, que se tornam mais realistas;
-Diminuição de mecanismos de defesa mais primitivos;
Mecanismos de Defesa Primitivos:
✓ DISSOCIAÇÃO: o objeto é percebido como totalmente ‘bom’ ou ‘mau’. O sujeito não percebe
que ambos os sentimentos estão presentes no mesmo objeto;
✓ PROJEÇÃO E IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA: retira de si aquilo que recusa, tornando o
‘outro’ possuidor daquilo que não reconhece em si;
✓ INTROJEÇÃO E IDENTIFICAÇÃO INTROJETIVA: incorporação de partes do objeto ( ou
do objeto por inteiro). Torna-se o objeto para se proteger de angústias;
✓ NEGAÇÃO;
✓ IDEALIZAÇÃO DO OBJETO: o objeto que satisfaz os desejos torna-se o ideal, capaz de sanar
todas as necessidades.

- Torna-se mais competente para reconhecer suas qualidades e limitações;


- Aceita a competição, admitindo as perdas;
- Melhora a capacidade de fixar atenção e a memória, o que favorece o aproveitamento das
funções intelectivas e a aprendizagem;
- Avanços na capacidade de expressar sentimentos e afetos;
- Diminuição de sentimentos de perseguição e culpa, o que a leva a projetar menos.

(b) RELAÇÕES COM A FAMÍLIA, A ESCOLA E OUTRAS PESSOAS:


- É o aspecto em que mais se verificam mudanças na criança;
- Advinda das modificações consigo mesma devido ao fortalecimento egóico, a criança diminui
seu egocentrismo e sua ambivalência em relação as pessoas e situações;
- As relações com pais, irmãos são menos conflitivas;
- A criança é mais espontânea nos relacionamentos;
- Aumenta sua capacidade de estabelecer laços amistosos e aceitar inevitáveis frustrações;
- Ocorre um fortalecimento das relações com os pais. Estes se tornam menos idealizados. Diminui
a dependência ou a hostilidade para com eles.
- Ocorre um fortalecimento das relações com os pais. Estes se tornam menos idealizados. Diminui
a dependência ou a hostilidade para com eles;
- Na escola o círculo de amizades se amplia: aumenta o companheirismo, se coloca no lugar do
outro;
- Maior satisfação nas atividades grupais e sociais;
- Melhor aceitação de regras e normas.

(c) RELAÇÕES COM ATIVIDADES E IDÉIAS:


- Expansão da capacidade e prazer de brincar. O brincar apresenta menos inibições e ansiedades.
Quando havia atrasos do desenvolvimento, o brincar torna-se adequado a faixa etária da criança;
- Desenvolve interesse por atividades compatíveis com sua faixa etária: jogos, esportes, estudos,
etc.
- Torna-se mais curiosa, desenvolvendo o interesse em conhecer, descobrir;
- Torna-se menos possessiva em relação aos seus bens, podendo compartilhar brinquedos, livros,
etc;
- Diminui competitividade e ciúmes;
- Torna-se mais apta a lidar com eventos futuros sem apreensões desnecessárias.

(d) RELAÇÕES COM O PSICOTERAPEUTA:


- Resolução da situação transferencial. As distorções da relação real com o psicoterapeuta são
superadas;
- A criança se torna capaz de elaborar uma dupla perda: de seu objeto transferencial e do objeto
real.
Circunstâncias que mobilizam o término:
(a) A decisão pela finalização parte dos responsáveis e/ou da criança, mas o psicoterapeuta não
está convicto que será benéfica:
- Tal situação pode encobrir resistências por parte dos responsáveis ou da própria criança em
relação ao tratamento, de forma a impedir que as metas sejam atendidas.
(b) O término ou a interrupção são originados por fatores externos:
- Nesse caso a finalização ocorre alheia a vontade e decisão dos responsáveis, da criança e o
psicoterapeuta;
- Geralmente originada por situações de mudança de cidade, dificuldades financeiras, etc.
- Nesses casos, o terapeuta deve oferecer a oportunidade de o cliente retomar o tratamento assim
que for possível ou indicar um outro profissional.
(c) O psicoterapeuta acredita que os objetivos foram atingidos, mas a criança e/ou os responsáveis
não aceitam tal decisão:
- Tal situação não é frequente;
- Geralmente ocorrem em crianças que sofreram abandonos reais, são negligenciadas pela família
ou não sentem segurança na capacidade dos pais de ser continentes em relações às suas ansiedades
e necessidades;
- Os pais consideram que seus recursos pessoais são limitados e sentem-se receosos quanto à
possibilidade de responder sozinhos às exigências e necessidades da criança.
(d) A psicoterapia é finalizada com a criança e prossegue o atendimento dos pais;
(e) As partes envolvidas (criança, pais e psicoterapeuta) sentem-se satisfeitos com as mudanças e
progressos alcançados e decidem pela finalização: circunstância ideal!

 PSICOTERAPIA BREVE DE CRIANÇAS

PSICOTERAPIA BREVE (PB):


- A Psicoterapia Breve consiste de um “processo planejado, com foco, objetivo e estratégias
terapêuticas estabelecidas a partir de uma compreensão diagnóstica do caso.” (OLIVEIRA, 2002,
p. 43)

ANTECEDENTES HISTÓRICOS
- A literatura sobre o tema sugere que Freud foi um de seus precursores. Seus primeiros casos
foram realizados em períodos de tempo bastante abreviados. Os pacientes apresentavam queixas
específicas, sintomatologia claramente configurada em categorias nosológicas e o objetivo do
tratamento era a remissão dos sintomas;
- Na medida que os objetivos da psicanálise se tornaram mais ambiciosos os tratamentos
tornaram-se cada vez mais extensos. De certa forma a 2ª tópica diminuiu muito a possibilidade
de se abreviar a técnica psicanalítica, uma vez que a ênfase passou a recair sobre a “Reorganização
estrutural" e não mais em tornar o "inconsciente consciente".
-Um efeito das grandes guerras mundiais, principalmente na Segunda Guerra: preocupação em
buscar formas que tornassem possível tratamentos de curta duração.

A relevância da Psicoterapia Breve


✓ Na atualidade, a Psicoterapia Breve (PB) representa uma alternativa importante e, reconhecida
pela literatura científica, para que se possa estender o atendimento psicológico a parcelas mais
amplas da população;
✓ Principalmente, no atendimento institucional, a PB deve ser considerada como uma modalidade
de atendimento de grande repercussão e valia.

Equívocos na definição da PB:


✓ PB não é apenas uma psicoterapia com um número restrito de sessões;
✓ A PB não deve ser utilizada de forma indiscriminada;
✓ A PB não se constitui de um processo rígido em que não é levada em consideração o
desenvolvimento do cliente ao longo do atendimento.
O que é Psicoterapia Breve:
- É uma modalidade de psicoterapia que se desenvolve a partir de um planejamento;
- Tal planejamento é obtido a partir de etapas pré-determinadas;
- Para o estabelecimento desse planejamento é preciso levar em consideração as características
do cliente, do próprio terapeuta e do contexto em que a PB irá de desenvolver;
- Um processo planejado não significa um programa rígido a ser cumprido, visto que toda
modalidade psicoterápica precisa ser transformadora para o cliente.
- Dá realce às condições de vida do paciente, dirigindo-se à experiência atual da "realidade" do
cliente.
Condições de vida:
✓ Constelação de vínculos interpessoais;
✓ Condições de socioeconômicas;
✓ Condições de trabalho;
✓ Perspectivas de futuro;
✓ Cultura, preconceitos, mitos, crenças, tensões do seu grupo social, etc.
- O terapeuta desempenha papel essencialmente ativo;
- O cliente também é estimulado a exercer um papel ativo. Regressões ou uma relação terapêutica
de dependência não são estimuladas;
- O relacionamento terapêutico precisa se desenvolver a partir de uma aliança terapêutica positiva;
- O terapeuta busca concentrar a tarefa terapêutica (foco) em determinado sintoma, problemática
ou setor da psicopatologia do paciente;
- O paciente é encaminhado para o foco por meio de intervenções diversas que estimulem a
atenção seletiva;
- Principais intervenções verbais: informação, esclarecimentos, clarificações, assinalamentos,
confrontações.

Condições para realização da PB:


(a) Identificação precisa de uma queixa principal:
✓ Entrevistas Iniciais para delimitação do motivo da consulta;
✓ Considerar critérios de indicação para PB.
(b) Realização de Psicodiagnóstico para compreensão aprofundada da queixa:
✓ Delimitação de uma hipótese diagnóstica.
(c) Devolutiva dos resultados do diagnóstico:
✓ Estabelecimento do Foco (em conjunto com o cliente);
✓ No contrato informação sobre os objetivos, a duração e a frequência.
(d) Desenvolvimento do processo:
✓ Pode-se utilizar recursos e estratégias diversas (inclusive de outras concepções teóricas);
✓ Mas atenção: isso não significa uma “bagunça indiscriminada” de técnicas aleatórias.
(e) Avaliação de resultados da PB:
- A avaliação deve ser realizada a partir de indicadores precisos;
- Deve ser discutida em conjunto com o cliente;
- Pode utilizar instrumentos direcionados a tal finalidade (escalas, reaplicação de testes
anteriormente utilizados na fase diagnóstica).
(f) Devolutiva dos resultados da avaliação:
✓ Decisão sobre o término ou continuidade. Indicações para PB:
- Pacientes que obtém maior benefício:
✓ Quadros agudos, particularmente situações de crises;
✓ Situações de mudança relativas à transição de etapas evolutivas (adolescência, casamento,
envelhecimento, etc);
✓ Distúrbios de natureza reativa em pacientes que preservam um nível de adaptação aceitável.
Contraindicações (não existe consenso entre os autores):
✓ Pacientes dependentes, com dificuldades de se vincular e desvincular rapidamente;
✓ Riscos de suicídio;
✓ Dependência a drogas ilícitas e alcoolismo;
✓ Sintomas obsessivos ou crônicos incapacitantes;
✓ Comportamento autodestrutivo,
✓ Surtos psicóticos atuais ou anteriores.

PARTICULARIDADES DA PSICOTERAPIA BREVE DE CRIANÇAS


- A Psicoterapia Breve Infantil (PBI) é um campo ainda pouco conhecido e discutido pela
literatura, principalmente a brasileira;
- Se desenvolveu entre o fim da década de 1960 e durante a década de 1980; 4 NASCIMENTO,
A. C. A. A Psicoterapia Breve com Crianças. 2016. 6 f. Apostila da disciplina de Ludoterapia,
Departamento de Psicologia, Universidade de Taubaté – São Paulo, 2016. Apostila confeccionada
para fins didáticos da disciplina.
- A PBI pode ser definida como uma “modalidade de intervenção psicoterapêutica planejada, com
duração limitada e objetivos definidos, dirigida à criança e aos seus pais ou responsáveis, que se
utiliza de referencial teórico [...] e flexibilidade técnica.” (OLIVEIRA, 2012, p.60)
- As mesmas etapas que fundamentam a PB de adultos também devem ser cumpridas na PB de
crianças. Entretanto, alguns aspectos próprios da infância, favorecem certas particularidades.

Particularidades:
- Na Psicoterapia Breve Infantil (PBI) devem ser incluídos outros contextos terapêuticos como o
atendimento conjunto com os pais/responsáveis e a escola da criança;
- O processo de psicoterapia da criança é diretamente afetado pelo seu meio familiar, e as
mudanças que ocorrerem precisarão ser toleradas e reforçadas pelo ambiente familiar.
- Encontra-se menção na literatura sobre o tema que o Foco da PBI deveria ser direcionado a uma
“área de conflito mútuo”, que segundo Cramer (apud OLIVEIRA, 2002) consiste de uma área de
indiferenciação entre os pais e a criança em que ocorrem projeções e identificações recíprocas.
(OLIVEIRA, 2002, p.43)
- A motivação para o tratamento e para a mudança, em crianças, bem como o estabelecimento de
um bom vínculo terapêutico está relacionada à motivação dos pais e com a possibilidade deles se
perceberem como fazendo parte do processo de mudança. (OLIVEIRA, 2002)

Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil:


- Considerar a gravidade dos sintomas e a patologia apresentada;
Considerar a habilidade da criança para estabelecer rapidamente uma aliança terapêutica;
- A queixa principal apresenta uma situação focal rapidamente identificável;
- Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil
- Avaliar se o ambiente familiar da criança oferece suporte suficiente para lidar com as aquisições
da psicoterapia;
- Considerar a capacidade da criança de estabelecer vínculos rapidamente e se suportar se desligar
de uma relação significativa;
- Considerar a disponibilidade para a mudança não só da criança, mas também dos próprios
pais/responsáveis;
- São contraindicados: patologias graves, dificuldades prolongadas e crônicas, déficits precoces
no desenvolvimento resultantes de vínculos maternos precários, presença de sintomas psicóticos;

Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil (OLIVEIRA, 2002):


(a) Nível de dependência ou independência afetivo emocional da criança:
- Para a PBI a criança deveria ser mais independente, de forma a depender menos das condições
do seu ambiente para preservar e dar continuidade às aquisições da terapia;
(b) Tipo e intensidade das expectativas que os pais têm em relação à criança:
- Se refere às projeções positivas ou negativas direcionadas à criança, oriunda das próprias
experiência parentais com seus progenitores. A rigidez e inflexibilidade dos responsáveis não são
consideradas como indicadores positivos.
(c) Considerar a capacidade dos pais de se verem envolvidos no problema e nas possibilidades de
solução:
- Se os pais apresentarem intensas dificuldades em reconhecer suas próprias características e
responsabilidade pela situação-problema, menor será a possibilidade de mudança;
(d) As condições dos pais/responsáveis de tolerar as mudanças provocadas pela psicoterapia;
(e) Possibilidades de estabelecimento de uma aliança terapêutica;
(f) Considerar as condições psíquicas e o nível de desenvolvimento da criança: o profissional deve
adotar uma postura flexível e coerente;
A questão dos critérios de indicação para psicoterapia breve coloca o profissional perante um
impasse: por um lado, é preciso considerar a pressão da demanda por atendimento psicológico,
especialmente das camadas menos favorecidas da população, e a escassez de recursos para atendê-
la; por outro, nossas expectativas em relação à amplitude da ajuda que gostaríamos de oferecer a
nossos pacientes.

 AS ETAPAS DA PSICOTERAPIA COM CRIANÇAS:


O processo psicoterápico com criança é caracterizado por três etapas, que envolve um trabalho
criativo não apenas a crianças e terapeuta, mas também sua família, escola, médicos e todas as
pessoas envolvidas. Porem o centro do trabalho terapêutico é o principal meio para a mudança. O
Objetivo da psicoterapia psicanalítica é de oportunizar a criança um espaço de autoconhecimento
a partir da exploração de seus potenciais, ajudando a criança expressar melhor suas emoções,
podendo compreende-las. Ocasionando modificações no mundo intrapsíquico e inter-relacional.
Também é fundamental antes do início da psicoterapia que se investigue a possibilidade da família
seguir as combinações necessárias para a manutenção do tratamento ( horários, pagamentos,etc)

Período de Avaliação: o encontro


A avaliação é período que se faz necessário compreender dados globais do paciente, como
hábitos, rotina, valores, desenvolvimento cognitivo da criança. É importante que se questione o
porque da criança estar procurando ajuda, porque naquele momento, se algo especial que a
motivou na procura? De quem é demanda? da criança ou da família? De que modo o
funcionamento dessa criança está prejudicado?
E importante examinar pois na maioria das vezes a criança é levada a terapia por uma preocupação
dos pais, recomendação da escola, ou pediatra.
Já nos primeiros contatos é possível verificar inúmeras razoes declaradas ou não, pelos quais a
criança é trazida para atendimento.
Geralmente a sequencia é: entrevista com pais, ou responsáveis (juntos ou separados) entrevista
com criança, entrevista familiar (permitindo a observação da interação entre membros da família)
e entrevista de devolução.
A entrevista com a criança é denominada a “Hora de Jogo diagnóstica” utilizando jogos,
brinquedos, material gráfico, que são dispostos sobre forma de caixa individual que representa o
sigilo e mundo interno da criança. Além de materiais coletivos. Nesse momento é possível
verificar a fantasia inconsciente da criança sobre o motivo pela qual ela foi levada ao tratamento.
O psicodiagnóstico e a avaliação multidisciplinar auxiliam na elaboração de hipóteses
diagnosticas, especialmente quando há necessidade de avaliar déficits cognitivos e motores, ou
estabelecer diagnostico diferencial. Podendo ser necessário o encaminhamento desse paciente a
outros profissionais.
No final da avaliação, é importante estabelecer uma formulação diagnostica, que auxiliara no
planejamento do tratamento.
Fase inicial: a aliança
A fase inicial se caracteriza principalmente pela construção de um vinculo de confiança e da
aliança de trabalho, onde é necessário um planejamento da psicoterapia, que incluem indicações,
objetivos, os recursos do paciente, considerando suas necessidades e possibilidades.
Dentro dos materiais lúdicos disponíveis geralmente é a criança que escolhe o que vai utilizar no
decorrer das sessões (isso já ira revelar algo sobre ela). O terapeuta é guiado pela criança, o jogo
possibilita partilhar temores e viver situações a distancia no tempo e espaço, deslocando
ansiedades e conflitos que podem ser elaborados. A aliança entre terapeuta e paciente tende a
evoluir com o passar do tempo, baseada na crescente ligação positiva com o terapeuta e da
percepção da necessidade de ajuda.

Fase intermediária: o processo laborativo


É em geral a fase mais longa do tratamento, que visa examinar, analisar, explorar, e resolver os
sintomas e as dificuldades emocionais do paciente. Nesse período a aliança terapêutica e a
confiança consolidada possibilitam um clima de intimidade a partir do qual sentimentos de raiva
ou aversão ao terapeuta podem também começar a emergir. E importante apontar que a criança
tem permissão de expressão simbólica para brincar, desenhar ou falar sobre qualquer tema, mas
não pode fazer tudo o que quer, pois isso coloca em risco o setting terapêutico. Outro fator
importante é sentimento de contransferência.
Quando a crianças esta sofrendo por uma perda real, por morte ou abandono, ela precisa mais de
continências do que de interpretação, também se evita interpretar quando a criança esta tentando
entender o que ocorre com ela, é mais adequado deixar que ela mesma chegue ao insight no seu
ritmo.
Na medida que a psicoterapia evolui, pode-se esperar que a criança alcance insight cada vez mais
genuínos e significativos, com consequente alivio dos sintomas, passando a utilizar com mais
frequência a linguagem verbal. No decorrer dessa fase novos conflitos poderão emergir, e novas
questões poderão ser foco do trabalho.
Fase final: a despedida
Essa fase ocorre quando a criança pode compreender que deixara de fazer psicoterapia e ira se
separar do terapeuta, quando há uma concordância entre os pais, terapeuta e a criança, percebendo
que ela esta bem para continuar sua evolução sozinha.
Essa etapa final tem como objetivo ajudar a criança examinar suas condições reais para um
termino, identificando os ganhos conquistados e as situações que ainda merecem alguma atenção
psicoterápica, A elaboração da separação é apenas ponto de partida para que cliente possa seguir
sozinho com mais autonomia, desfrutando as conquistas obtidas durante o processo.
E preciso ficar atento ao termino precoce, é possível que o luto não seja elaborado o suficiente,
podendo envolver tanta ansiedade com paciente como com terapeuta, em lidar com a separação.
E preciso cuidado de não encerrar no período durante ou que antecede as férias escolares, pois
pode dificultar a elaboração do luto.
No fim de processo psicoterápico implica também na perda onipotente, por isso poder ser
considerado uma etapa em aberto, com o reconhecimento de que situações futuras podem produzir
novos problemas que podem ser necessários se trabalhar.

 O LUGAR DOS PAIS NA PSICOTEERAPIA DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES.
Artigo 8º do Código de Ética do profissional Psicólogo (2005), regula a obrigatoriedade de o
profissional obter a autorização de pelo menos um dos responsáveis para a realização do
atendimento com crianças e adolescentes, visando proteger os interesses do menor e do terapeuta.
Klein pioneira da psicoterapia infantil, entendia que comunicar os pais frequentemente
dependeria de cada caso, muitas vezes preferia não avista-los para evitar atritos. Dizia que para
analise alcançar sucesso era necessário estabelecer uma confiança com os pais, só assim o analista
estaria em condições de obter informações uteis sobre vida da criança fora das sessões.
Percebia-se também que algumas mães tinham ciúmes da relação da criança com terapeuta, Klein
acreditava que esses ciúmes vinham da rivalidade com sua própria imago materna. Klein se
abnegava a se envolver na educação das crianças, ao menos que se observasse erros graves dos
pais.
Ana Freud valorizava o vínculo com os pais, porem destinando a esses o papel de educadores.
Acreditava na existência de fase preparatória a terapia, para auxiliar e atrair a atenção das crianças,
para o conflito interno, pois relação imediata poderia não desenvolver aliança adequada.
Esperando que desejo da terapia viesse do interesse da criança, mas quando isso não acontecia
Ana entendia devido a existência de segredos de família.
O terapeuta, portanto, se deveria colocar no lugar do Ego-ideal da criança, no decorrer de sua
análise, os pais aceitariam ou não essa posição do terapeuta, conformando-se com o pedido, ou
opondo-se utilizando a criança como objeto de disputa.

MANEJO TÉCNICO E POSTURA TERAPÊUTICA


É preciso o terapeuta ficar atento as questões de transferência. Outra questão que merece atenção
é qual é a posição que o filho ocupa no equilíbrio psíquico dos pais, e de sua família como um
todo? Possuem capacidade e manejo para colaborar no processo terapêutico? Pois as mudanças
podem comprometer a homeostase do casal ou familiar.
O trabalho com os pais pode seguir várias formas, exigindo ou não uma postura mais flexível do
terapeuta. Os pais devem ser ouvidos com toda atenção e acolhimento necessário, para que se
sintam à vontade para contar sobre os motivos da busca de atendimento para filho. Atitudes e
posturas compreensivas e empática do terapeuta auxiliam no estabelecimento de confiança inicial.
O terapeuta deve considerar o trabalho psicoterápico com a criança ou adolescente, pois mesmo
que questões de neurose parental ou que tramas transgeracionais estejam presentes, o paciente
tem um mundo interno próprio, possível de inúmeros conflitos, e de intenso sofrimento.
Outra questão é dar espaço para participação dos pais, considerando o papel que a criança ocupa
naquela família, e em todo contexto envolvido. O terapeuta deverá dar suporte terapêutico para
que os pais tragam suas ansiedades e que possa respalda-los na delicada tarefa de manter filho no
tratamento. Sendo impossível excluir os pais da psicoterapia.
O termino do tratamento, portanto só pode ser compreendido através de uma decisão conjunta por
partes envolvidas, paciente/terapeuta e pais, a criança tem direito de manifestar se deseja e se esta
apta para termino, o terapeuta observa se o paciente apresenta sinais de integração psíquica e
crescimento emocional, e os pais avaliam o quanto se sentem satisfeitos com o tratamento. E
tarefa do terapeuta fazer entrevistas periódicas com os pais, auxiliando-os a tolerar as dores e
culpas causadas.
OS ADOLESCENTES E SEUS PAIS.
No caso adolescente existe variações de técnicas, pois depende da idade e da maturidade deles,
podendo comparecer sozinho as sessões, ou marcar a primeira consulta por livre vontade, nessa
situação o terapeuta acolhera o paciente, porem em algum momento chamara o responsável para
firmar o contrato e estabelecer a relação inicial com os mesmos, o adolescente poderá comparecer
junto ou não.
Houveram muitas mudanças em relação ao atendimento com adolescentes no decorrer do tempo,
essas mudanças se devem a vários fatores, como a maior democratização da psicoterapia.
O sigilo é importante para construir relação de confiança, ficando para ele a decisão de
comparecer com seus pais ou não. Observar o tratamento do filho a distancia é uma forma de
respeitar o crescimento dele, aceitando e viabilizando sua progressão. Para que isso aconteça os
pais precisam confiar no terapeuta, estabelecendo uma aliança terapêutica.

A ESCUTA DE PAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, COM TRANSTORNO


INVASIVO DO DESENVOLVIMENTO, SINDROMICOS E PSICOTICOS.
Nesses casos o contato com os pais é indispensável, com a tendência de encontros mais
frequentes. Geralmente os pais se desesperam em busca de uma solução ou resultado, passando
por vários profissionais em busca de respostas, isso é golpe esmagador já que esse filho real é
uma distorção quase completa do filho sonhado ou imaginário. Há então pesado trabalho de luto
a ser elaborado pela perda do filho perfeito idealizado, surge também outras questões, como
tratamento e custos financeiros.
O impacto de ter filho diagnosticado com alterações severas é muito doloroso e coloca a família
em um turbilhão de emoções. O psicoterapeuta tem que ser sensível as dores dos pais, e tolerar
suas duvidas e questionamentos.
As crianças autistas por exemplo impõe seus padrões particulares em através do uso de formas e
objetos, que os alienam no contato com o outro, em alguns casos se mostram crianças
extremamente difíceis de lhe dar, exigindo muito cuidado da mãe, as crises, ausência de noção de
perigo, as reações exageradas, levam as mães a abandonarem as suas atividades pessoais para se
dedicar aso cuidados com o filho.
Dentro das possibilidades de cada caso, quando o processo psicoterápico da criança estiver
consolidado e houver oportunidades é salutar para que o pai e a mãe sejam encaminhados para
psicoterapia individual, ou familiar, a par de manter os encontros com o terapeuta do filho sempre
que necessário.

 Psicoterapia Breve Infantil

A primeira proposta referida na literatura que abordou especificamente a psicoterapia


breve infantil foi a de Allen (1942), um discípulo de Rank, este considerado um dos precursores
mais importantes das psicoterapias breves de adultos. Allen (1942) descreveu um trabalho no qual
se concentrou no significado da produção da criança no aqui-agora da relação terapêutica,
evitando explorações detalhadas do passado, com o objetivo principal de ajudá-la a suportar
ligações patológicas com os pais e aceitar seu papel como um indivíduo diferenciado.
Alguns aspectos importantes podem ser ressaltados neste trabalho pioneiro. O primeiro é
a forte influência de Rank, especialmente em relação à importância dada à questão 18 da
separação e da perda. As idéias de Rank (1929, citado por MARMOR, 1979), dissidentes em
relação à psicanálise de Freud, se concentraram inicialmente no “trauma do nascimento”, por ele
considerado como a “ansiedade primordial” subjacente a todos os quadros de neurose. Mesmo
quando, posteriormente, Rank abandonou essa idéia (MARMOR, 1979), continuou colocando
como foco de seu trabalho a questão da separação-individuação, depois retomada por Mann
(1973), um nome de destaque no desenvolvimento das psicoterapias breves de adultos nas décadas
de 60 e 70. Mann, por sua vez, influenciou fortemente Proskauer (1969, 1971) em seu relevante
trabalho de psicoterapia breve com crianças.
Na década de 90, com as contribuições de Messer e Warren (MESSER, WARREN, 1995;
WARREN, MESSER, 1999), encontramos novas idéias na área, na medida em que eles
retomaram a discussão sobre a psicoterapia breve de crianças, buscando uma integração entre as
concepções psicodinâmicas e as teorias do desenvolvimento infantil.
Na Europa, os trabalhos sobre psicoterapia breve infantil seguiram um caminho um tanto
diferente e, a nosso ver, pode-se falar verdadeiramente de uma escola, surgida a partir do marcante
trabalho publicado por Cramer em 1974, na Suíça. Este artigo apresenta uma proposta discutida
de forma aprofundada, que inclui um referencial teórico, a exposição detalhada da técnica e da
teoria da técnica, e deu início a uma série de outros, com a colaboração de uma equipe que se
denomina Grupo de Genebra, particularmente atuante 21 durante a década de 80. A característica
principal do Grupo de Genebra é colocar no foco central da compreensão do caso e da intervenção
a relação pais-criança, considerando também a transmissão transgeracional.
No Brasil, a partir de 1989, um grupo de profissionais congregados no Núcleo de Estudos
e Pesquisas em Psicoterapia Breve, do qual a autora fez parte e que manteve suas atividades até
o ano 2000, introduziu entre suas atividades o estudo, a pesquisa, o atendimento clínico e a
formação de profissionais na área da psicoterapia breve infantil de orientação psicodinâmica.
Jacques Mackay ressalta a importância da busca de uma melhor compreensão do
processo terapêutico e de como ele opera, e os riscos de se render, na indicação, apenas a
preferências pessoais ou às pressões da demanda. Considera que os resultados de uma psicoterapia
podem ser melhor explicados dentro de um referencial psicanalítico, que, para ele, representa o
mais coerente sistema psicológico disponível, e alerta para o risco de avaliações de resultados que
não levem em conta o indivíduo como um todo. Esse risco se faz presente, por exemplo, quando
a avaliação se baseia apenas na remissão de sintomas, que pode ocorrer às custas do
fortalecimento de defesas patológicas. Não quer dizer que o desaparecimento de sintomas seja
destituído de importância, especialmente no caso de crianças, uma vez que pode gerar
modificações significativas nas relações objetais e na autoimagem.
O autor baseia-se no conceito de “experiência emocional corretiva” de Alexander e
French (1956), o qual considera o fator terapêutico básico de qualquer forma de psicoterapia, e
que permite modificar a relação de objeto, quando o paciente adquire uma nova consciência de
sua relação consigo mesmo e com os outros. Além disso, no caso de crianças, um aspecto central
a ser considerado é a possibilidade de modificação das imagens parentais.
O atendimento se inicia com uma formulação dinâmica clara do problema básico do
paciente, e com o estabelecimento de um foco sobre o conflito específico mais provável de ser
modificado no tratamento, ao lado de um foco similar sobre as atitudes parentais patogênicas e a
avaliação de sua acessibilidade a mudanças. Isto é feito a partir de um psicodiagnóstico, durante
o qual obtém dos pais a história clínica, na presença da criança, para poder utilizar com ela esse
material, no processo psicoterápico. Informa aos pais e à criança, conjuntamente, sua
compreensão do caso e o plano de tratamento, sendo que a duração esperada é abertamente
discutida no início, podendo ser alterada posteriormente, se necessário.
A duração varia de uma a 30 sessões semanais, de acordo com o caso, com um número
médio de 6 a 12 sessões. A forma do atendimento também é decidida de acordo com o caso, sendo
que os pais podem ser atendidos pelo mesmo terapeuta, em conjunto com a criança ou
separadamente.
Com a criança, utiliza-se principalmente de interpretações transferenciais, elaboradas a
partir de relatos de sonhos e de produções espontâneas. Sua técnica sugere a interpretação precoce
e sistemática, para a criança, do conflito emocional central, em suas manifestações mais
acessíveis; a interpretação “correta” é a que se refere a aspectos conflitivos ativamente
patogênicos, mas que possam ser significativos, inteligíveis, toleráveis e aceitáveis para a criança.
Isto visa fazer da parte sadia do ego do paciente um aliado dos esforços do terapeuta.
Quanto à técnica utilizada com a criança, ela é muito semelhante à da psicanálise clássica,
privilegiando as interpretações transferenciais e a análise de material inconsciente.
Eva P. Lester desenvolveu seu trabalho no Canadá, considera que a psicoterapia breve
não é apenas uma psicoterapia de menor duração, mas uma forma específica de intervenção,
caracterizada principalmente por ter objetivos limitados e bem definidos.
A psicoterapia breve proposta pela autora tem como objetivo amenizar ou eliminar
sintomas que, na criança, consistem na presença exagerada de padrões de comportamento que
seriam adequados em outra faixa etária, ou regressões a modos anteriores de comportamento, ou
inibições de várias funções e estruturas que levam a um comportamento anormal estéril e
repetitivo. Este comportamento perturba o ambiente que, por sua vez, reage com mais proibições
e privações.
Stephen Proskauer: O processo terapêutico pode ser dividido em 3 fases. A primeira
objetiva a formação de uma aliança terapêutica através da definição mútua de um foco, que inclui
aspectos centrais que demandam atenção e podem ser trabalhados, pelo menos parcialmente, no
tempo disponível. O terapeuta precisa procurar uma forma de comunicação aceitável para a
criança e, se for preciso, assumir uma colaboração mais ativa com ela para forjar rapidamente
uma aliança terapêutica. Na segunda fase, de intervenção terapêutica propriamente dita, o objetivo
é facilitar mudanças numa área limitada de funcionamento. O terapeuta deve guiar-se pelo foco
escolhido e, a partir de uma compreensão de tantos significados inerentes ao material simbólico
quanto for possível, selecionar a que dar ênfase, e dirigir suas intervenções para objetivos
realistas. A terceira fase é a de término, e seu objetivo principal é a estabilização dos ganhos
conquistados, para que a criança possa mantê-los após a perda do terapeuta. Quanto maior a
dificuldade do paciente com a constância de objeto, mais tempo e esforço precisa ser despendido
com esse trabalho. É fundamental, nesta fase, a resolução da inevitável ambivalência que surge
em relação ao terapeuta.
Stanley B. Messer e C. Seth Warren, chamam a atenção para a fragilidade da ligação
histórica entre psicoterapia e teorias do desenvolvimento na prática da psicoterapia psicodinâmica
breve, e para a ausência de pesquisa e teoria clínica sobre a PBI. Uma vez que consideram que “o
desenvolvimento ocorre dentro de círculos concêntricos de influência social e psicológica”.
O foco terapêutico parte necessariamente de uma compreensão dos problemas da criança
no contexto familiar, seu ambiente relacional imediato. O foco incorpora aspectos do
desenvolvimento, psicodinâmicos, ambientais e referentes à crise imediata. Afirmam que é
impossível conceber uma psicoterapia breve com criança que não envolva diretamente os pais,
que devem ser recrutados como aliados e participar do processo, em sessões conjuntas ou
separadas, dependendo das características do caso. Isto é essencial para que os resultados possam
ser mantidos, após o encerramento.
Grupo de Genebra: Bertrand Cramer, Francisco Palácio-Espasa, Juan Manzano, propõem
que a intervenção seja o mais precoce possível, a partir de uma identificação do nódulo do
conflito, ou da angústia central, que deve ocorrer de preferência desde a primeira sessão. As
situações de crise favorecem uma carga transferencial elevada, que facilita a formação da aliança
terapêutica e a motivação para receber ajuda, o que faz com 33 que intervenções breves precoces
e adequadas detenham processos patogênicos que muitas vezes, mais tarde, poderiam ser
refratários ao tratamento.

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