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ESTUDO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL DIRETO EM SUPERFÍCIES

PERMEÁVEIS URBANAS

Bárbara Regina Delconte Ferreira Pavezzi, Elivelton da Silva Mendes,


Jacson Wentz Matsubara, Lorena Amaral Rodrigues Ferreira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR.
E-mail: bah_pavezzi@hotmail.com, eliveltonsm13@hotmail.com,
jacson_92@hotmail.com, lorena_larf@hotmail.com.

RESUMO
O presente trabalho foi realizado a fim de avaliar e comparar a eficácia de 3 tipos
de revestimentos utilizados em zonas urbanas: solo gramado, concreto convencional e
paver. Em tal estudo foi feito testes experimentais, utilizando simulador de chuvas com
duas diferentes intensidades de precipitação, determinando experimentalmente o
escoamento superficial gerado. Foi averiguado que superfícies cobertas por grama
apresentaram os melhores resultados dentre as alternativas avaliadas, ressaltando a
importância da vegetação sobre o escoamento superficial. Por outro lado, para superfície
de concreto convencional, a geração de escoamento superficial foi bastante superior à
parcela da grama. Além disso, superfícies cobertas com paver se mostraram como uma
boa alternativa para a redução do escoamento, propondo sua utilização em passeio e
praças, nos quais ocorre apenas o tráfego de pedestres.
Palavras-chave: Escoamento superficial; Drenagem urbana; Pavimentos permeáveis.

INTRODUÇÃO
Os resultados do Censo Demográfico de 1940 revelaram que apenas 31,2% da
população brasileira residia em áreas urbanas. Nas décadas seguintes esse percentual
aumenta significativamente, observando-se tendência crescente de urbanização,
registrando uma população urbana superior à rural (55,9%) no ano de 1970. O último
censo, realizado em 2000, revelou um grau de urbanização no Brasil de 81,2%.
Entretanto, a urbanização exacerbada sem planejamento prévio gera problemas de
ordem ambiental e social. O inchaço das metrópoles, provocado pelo crescimento
desenfreado de habitantes e pela ausência de uma infraestrutura adequada, provoca
mudanças consideráveis no ambiente e, consequentemente, na qualidade de vida dos
habitantes.
Os principais impactos ocasionados pelo desenvolvimento de uma área urbana
sobre os processos hidrológicos estão associados ao método de ocupação da terra e
também a ampliação de áreas impermeáveis, em grande parte das bacias situadas nas
proximidades das zonas de expansões urbanas ou inseridas no perímetro urbano.
Esse processo – a impermeabilização – se caracteriza pela modificação de florestas
nativas, impossibilitando que a água precipitada alcance o solo, resultando no seu
escoamento para locais próximos, contribuindo para transformações nas fases do ciclo
hidrológico.
Os projetos de pavimentações, em sua grande maioria, não possuem uma visão
sustentável. Tradicionalmente os projetos voltados a soluções para a drenagem das águas
pluviais têm como objetivo drenar a água através de canalização (galerias subterrâneas e
retificação de córregos urbanos), nas quais nem sempre se mostram uma solução viável,
pois conduz o volume escoado a outras bacias e por sua limitação na capacidade de
transferência do volume precipitado.
Visando uma solução de maneira prática e eficaz, o estudo de solos alternativos
vem ganhando espaço para o uso da ocupação dos ambientes urbanos. Neste contexto, o
presente trabalho tem como objetivo avaliar experimentalmente a capacidade de
diminuição de escoamento superficial direto com o solo gramado, paver e concreto
convencional.

METODOLOGIA
O trabalho envolveu o estudo de três diferentes tipos de superfícies: (i) concreto
convencional; (ii) solo gramado; (iii) paver.
i. Concreto convencional: foi construída uma parcela com inclinação de 3,91°,
permitindo a delimitação da superfície e a captação do escoamento através
de uma única calha de escoamento.
ii. Solo gramado: foi construída uma parcela com inclinação de 3,91°,
impermeabilizada por lona, que permite a delimitação da superfície com
uma única calha de escoamento. Nesta caixa foram instaladas placas de
grama esmeralda sobre uma camada de solo com 2 cm de espessura.
iii. Paver: foi construída uma parcela com inclinação de 3,91°,
impermeabilizada por lona, permitindo a delimitação da superfície com uma
única calha de escoamento. Após a instalação da caixa foram assentados os
blocos um a um, com 6 cm de espessura, e compactados a mão, sem a
aplicação de uma camada de material granular.

Figura 1 - Superfície de concreto convencional

Figura 2 - Superfície de paver


Figura 3 - Superfície de solo gramado

A superfície de paver corresponde a um tipo de revestimento aplicável em áreas


urbanas, considerada solução alternativa de drenagem para a redução do escoamento
superficial. As superfícies revestidas com concreto convencional e solo gramado foram
utilizadas como referências. Os ensaios realizados com a superfície de concreto
convencional foram efetuados para permitir a comparação com locais totalmente
impermeabilizados como passeios e estacionamento de lojas comerciais. Já o solo
gramado é base para avaliar uma situação de pré-urbanização.
Para a simulação da precipitação, foi elaborado um simulador através de um suporte
metálico de 50 cm de altura, no qual foram colocados dois reservatórios perfurados, com
capacidade de 20 L por reservatório. Cada parcela experimental possuía área de 0,64 m²,
cercada por um quadro de madeira impermeabilizado. Para a captação do escoamento, foi
instalada uma calha de PVC na base inferior do quadro de madeira, conduzindo o volume
escoado a um reservatório graduado.
Para cada superfície, foram feitas duas simulações de chuva precipitando-se 20 L
pelo simulador, mas uma sendo este volume advindo de um reservatório e outra sendo o
volume dividido entre os dois reservatórios. Para a determinação da intensidade de
precipitação, previamente cronometrou-se o tempo necessário para todo o volume ser
precipitado das duas formas, resultando-se em precipitações com intensidades de 107,5
mm/h e 273,5 mm/h.
Figura 4 - Esquema do simulador de precipitação

RESULTADOS E DISCUSSÕES
As simulações ocorreram imediatamente após a implantação das parcelas, sem a
ocorrência de eventos chuvosos na região. O intervalo de tempo entre duas simulações
em uma mesma parcela foi de uma hora.
Através do tempo de precipitação e do volume escoado, pode-se calcular a vazão de
escoamento para cada superfície em cada simulação de precipitação, a qual se encontra
na Tabela 1. Relacionando-se o volume de água escoado com o volume de água
precipitado, determinou-se o coeficiente de escoamento de cada superfície, conforme está
evidenciado no Gráfico 1.
Na superfície de concreto convencional, observou-se a queda brusca na capacidade
de infiltração ainda nos instantes iniciais do experimento, ou seja, rapidamente toda a
água precipitada passou a escoar, o que resulta em elevado coeficiente de escoamento
superficial.
A superfície de paver apresentou boa capacidade de infiltração inicialmente, mas,
quando atingiu a saturação, passou a gerar grande escoamento. A falta de uma camada de
material granular para o assentamento dos blocos pode ter influenciado para que a
saturação desta superfície tenha sido atingida mais rapidamente.
Os experimentos de solo gramado apresentaram os melhores resultados, demorando
mais para começar a gerar escoamento superficial, mas ainda apresentou coeficiente de
escoamento relativamente elevado para este tipo de solo. Tal ocorrência foi influenciada
pela pequena espessura da camada de solo abaixo da grama, o que acelera a saturação e,
consequentemente, o escoamento. Assim sendo, em superfícies gramadas urbanas, o
escoamento superficial destas será menor do que os apresentados no experimento.

Tabela 1 – Volume escoado e vazão de escoamento para cada superfície

Volume Escoado Vazão de Escoamento


(L) (m³/s)
107,5 273,5 107,5 273,5
Superfícies mm/h mm/h mm/h mm/h
Concreto
18 19 1,72x10-5 4,62x10-5
Convencional
Paver 11 12 1,05x10-5 2,92x10-5
Solo Gramado 5 7,5 0,48x10-5 1,82x10-5

Gráfico 1 – Coeficiente de escoamento para cada superfície

Coeficiente de Escoamento
1 0,95
0,9
0,9
0,8
0,7
0,6
0,6 0,55
0,5
0,375
0,4
0,3 0,25
0,2
0,1
0
Concreto Convencional Paver Solo Gramado

107,5 mm/h 273,5 mm/h

Com relação às intensidades de precipitação aplicadas, houve variação do


coeficiente de escoamento para os três tipos de cobertura, tendo sido muito mais
significativa para o solo gramado. Essa variação ocorreu, pois, quanto maior a intensidade
da precipitação, mais rápido o solo atinge sua capacidade máxima de infiltração e
consequente saturação.
Outro importante fator climático para esta alteração é o da precipitação antecedente,
pois uma precipitação que ocorre quando o solo está úmido devido a chuva anterior, terá
o escoamento facilitado. Ou seja, como o intervalo entre os experimentos foi de somente
uma hora, as superfícies ainda não haviam retornado a sua umidade inicial, o que faz com
que a saturação seja atingida novamente mais rapidamente.

CONCLUSÃO
Com o estudo do escoamento superficial dos tipos de cobertura propostos no
presente trabalho, observa-se que a grama apresentou os melhores resultados, indicando
a importância de superfícies cobertas por vegetação na redução da produção do
escoamento superficial.
De outro modo, o concreto convencional se mostrou a pior das hipóteses, no qual
grande parte do volume precipitado escoou superficialmente, podendo ser observado a
amplitude do impacto da impermeabilização do solo em áreas urbanas.
O coeficiente de escoamento na superfície de paver apresentou resultados
satisfatórios, apresentando-se como uma opção para reduzir o escoamento superficial em
áreas urbanas, sem reduzir drasticamente a área impermeabilizada.
Com isso, pode-se observar que o aumento da vazão máxima em uma bacia
hidrográfica está diretamente relacionado com a impermeabilização do solo e da
ocupação da bacia pela população, o que pode implicar em alterações que resultam no
aumento das cheias dos rios urbanos, na redução da recarga dos aquíferos subterrâneos e
no aumento da velocidade do escoamento durante os eventos de cheia.
De certa maneira, os resultados mostraram os impactos causados pela retirada da
vegetação natural do solo sobre o volume do escoamento superficial gerado durante
eventos chuvosos, reforçando a importância da manutenção de áreas verdes em locais
destinados à urbanização e a necessidade de se buscar alternativas de revestimento do
solo que minimizem estes impactos.
REFERÊNCIAS
[1] BRUNO, Leandro Obadowiski; AMORIM, Ricardo Santos Silva; SILVEIRA,
Alexandre. ESTUDO DA REDUÇÃO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL
DIRETO EM SUPERFÍCIES PERMEÁVEIS. Revista Brasileira de Recursos
Hídricos, vol. 18 n.2, 237-247, abr./jun. 2013. Disponível em:
<https://www.abrh.org.br/sgcv3/UserFiles/Sumarios/289d4382c1d36493c3191fc3cb27d
90b_97ae5d85f1011ebcfba3e82e6918dc24.pdf>. Acesso em 30 abr. 2014,

[2] CARVALHO, Daniel Fonseca de. SILVA, Leonardo Duarte Batista da. Escoamento
Superficial. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Capítulo 7. Disponível em:
<http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap7-
ES.pdf >. Acesso 10 ago. 2014.

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