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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Escola de Ciências da Vida e do Ambiente


Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde
Licenciatura em Reabilitação Psicomotora – 3º ano

“Psicomotricidade na Terapia ABA”

Unidade Curricular:

Docente: Carla Afonso Programas de Intervenção Psicomotora II

Turma 2
Discentes:

Alexander Barbulescu n.º 58075


Ana Gomes n.º 51207
Anabela Magalhães n.º 38754
Manuel Castro n.º 50860
Nuno Flores n.º 39157
Paula Cruz n.º 51208
Rui Botelho n.º 50769
Vila Real

2013/2014
Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro
Licenciatura em Reabilitação Psicomotora – 3º ano
Programas de Intervenção Psicomotora II

Trabalho apresentado à Universidade Trás-os-Montes


e alto Douro, Departamento de Ciências do Desporto,
Exercício e Saúde, como requisito para a avaliação
à Unidade Curricular de Programas de Intervenção
Psicomotora II
Do 3º ano do 1º ciclo de Reabilitação Psicomotora

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Índice

Resumo ........................................................................................................................ 4

Abstract ........................................................................................................................ 4

Introdução..................................................................................................................... 4

Revisão literária ............................................................................................................ 7

a. O que é a Terapia ABA? ........................................................................................ 7

b. Análise Comportamental Aplicada – Componentes-chave ..................................... 9

c. Psicomotricidade na Terapia ABA........................................................................ 11

d. Plano de Intervenção ........................................................................................... 13

e. Organização de uma sessão ............................................................................... 13

f. Discrete Trial Teaching (DTT) .............................................................................. 14

g. Shaping ............................................................................................................... 15

h. Chaining .............................................................................................................. 15

i. Incidental Teaching .............................................................................................. 16

Conclusão................................................................................................................... 17

Referências Bibliográficas........................................................................................... 18

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Resumo

Este trabalho consiste nume revisão de literatura acerca da terapia ABA. Esta é
uma intervenção cuja população-alvo são pessoas com perturbações do espetro do
autismo. As sessões são individuais cujo foco não está nas incapacidades do cliente
mas sim na compreensão e posterior moldagem dos seus comportamentos. Esta terapia
destaca-se pela alta taxa de sucesso e avaliação constante. Esta intervenção procura
mecanismos que influenciam o comportamento, baseando-se no modelo Tri-
componente – ABC. A terapia ABA usa o condicionamento operante, defendendo que
quando um comportamento socialmente aceite é reforçado com um estímulo positivo, a
probabilidade desse mesmo comportamento aumenta exponencialmente. Ao longo do
tempo a eficácia do tratamento é monitorizada em gráficos e/ou tabelas.

Abstract

This work is numbered literature review of ABA therapy. This is an intervention


whose target population is people with autism spectrum disorders. The sessions are
individual whose focus is not on disability but the client in understanding and shaping
their subsequent behaviors. This therapy is distinguished by the high success rate and
constant evaluation. This intervention seeks mechanisms that influence behavior, based
on the Tri-component model - ABC. ABA therapy uses operant conditioning, arguing that
when a socially acceptable behavior is reinforced with a positive stimulus, the likelihood
of that behavior increases exponentially. Over time, the effectiveness of treatment is
monitored in graphs and / or tables.

Introdução

No âmbito deste tema, é importante caracterizar os aspetos ligados à


Psicomotricidade, nomeadamente a sua definição e caracterização, fazendo de seguida
referência ao desenvolvimento psicomotor, terminando com o aprofundamento de
alguns fatores psicomotores, nomeadamente a estruturação espácio-temporal, a praxia
global e a praxia fina.
A motricidade intervém em todas as fases de desenvolvimento das funções
cognitivas, na perceção e nos esquemas sensório-motores, substratos da imagem
mental, das representações pré-operatórias e das operações (Fonseca, 1992).
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Wallon (1970, in Fonseca, 2010) ressalta a importância da motricidade na


emergência da consciência, enfatizando a reciprocidade dos aspetos cinéticos e tónicos
da motricidade, bem como as interações entre as atitudes, os movimentos, a
sensibilidade e a acomodação percetiva e mental no decurso do desenvolvimento. Este
autor defende que em todo o movimento existe uma condicionante afetiva, que lhe
confere um carácter intencional.
De acordo com Fonseca (1992), a motricidade é o meio pelo qual a inteligência
se constrói e organiza, ao mesmo tempo que é o meio através do qual essa inteligência
se manifesta, acedendo à psicomotricidade, que possui uma função intencional e de
modificação, implicando a tomada de consciência, a motivação e um sistema de
representações (Fonseca, 2001b).
A Associação Portuguesa de Psicomotricidade (s/d) define a psicomotricidade
como “o campo transdisciplinar que estuda e investiga as influências recíprocas e
sistémicas entre o psiquismo e a motricidade”, baseando-se numa visão holística do
indivíduo integra as funções cognitivas, socioeconómicas, simbólicas, psicolinguísticas
e motoras a fim de promover a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial.
Assim, esta engloba a tripolaridade do ser humano, nomeadamente os aspetos
cognitivos (intelectual), afetivos (emocional) e orgânicos (motor) (Galvani, 2002,
inAguiar & Simão, 2007), sendo o corpo o ponto de referência para conhecer e interagir
com o mundo, expressando-se através da postura, das atividades e do comportamento
(Oliveira, 2005, in Aguiar & Simão, 2007).
Através de efeitos da atividade psíquica auto-controlada, a psicomotricidade procura
impor a sua organização psíquica e intencionalidade ao mundo exterior, modificando-o
e transformando-o de acordo com as suas necessidades (Jeannerod, 2002, in Fonseca,
2010), tendo como finalidade concretizar a relação entre o movimento e o pensamento
(Fonseca, 1992), através do desenvolvimento da cognição autorregulada e do potencial
de aprendizagem (Fonseca, 2010).
Este potencial de aprendizagem manifesta-se e materializa-se na motricidade,
sendo que as consequências das perturbações do desenvolvimento e da aprendizagem
se mostram através da motricidade (Fonseca, 2010).
A psicomotricidade está na base da produção das praxias e distingue a
motricidade animal da do ser humano, uma vez que se trata de uma motricidade
planificada e autorregulada (Fonseca, 2001a). A micro, a oro e a grafomotricidade
(específicas da espécie humana) assentam numa sequencialização rápida e planificada
antecipadamente, que se tornou possível com a meta coordenação do cérebro,
integrando os substratos subcorticais e os substratos corticais (Fonseca, 2001a).

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A função práxica exprime a capacidade de programar o movimento como produto


de vários processos internos de elaboração (Fonseca, 1992). A psicomotricidade situa
a atividade humana num investimento global da personalidade da pessoa em ação,
sendo que todas as praxias e modificações tónicas encontram significado na história
pessoal do indivíduo, bem como nas suas representações e vivências tónico-
emocionais (Fonseca & Martins, 2001; Martins, 2001). Esta é unificadora, permitindo a
integração entre o corpo e a atividade mental, o real e o imaginário, com uma co-
integração mútua entre corpo e cérebro, motricidade e psiquismo (Fonseca, 2001b),
melhorando o potencial adaptativo do sujeito, uma vez que alia a experiência concreta
à interiorização da vivência corporal (Fonseca & Martins, 2001; Martins, 2001).
Para Wallon (Fonseca, 2010) a maturação do sistema nervoso representa a base
do desenvolvimento e da integração das experiências, através da hierarquização das
funções nervosas. Por outro lado, Ajuriaguerra (Fonseca, 2010) assinala a importância
do diálogo tónico e da função estruturante da função postural ligada à emoção, que
atuam como mediadores nos processos de identificação e distanciação.
De acordo com Aucouturier, Darrault e Empinet (Fonseca, 2010), podem
considerar-se como principais finalidades da psicomotricidade: a comunicação; a
criação, como capacidade de ação transformadora; o acesso a um pensamento
operatório, com o estabelecimento de relações lógicas entre os elementos da ação e do
pensamento; e a harmonização e maximização do potencial motor, cognitivo e afetivo -
relacional, isto é, o desenvolvimento global da personalidade e a adaptabilidade do
processamento de informação.
Depois de se desenvolver a experimentação sensório-motora, que envolve as
vivências que estimulam as sensações ligadas ao movimento, a integração tónico-
postural, os processos de lateralização e perceção do corpo, o domínio das condições
espaciotemporais do envolvimento e a coordenação práxica de movimentos, pode-se
aceder à representação, reforçando o sentimento de existência e estimulando a
capacidade criadora e transformadora, através da transposição percetiva e simbólica
das atitudes ou ações (Fonseca, 2010). Progressivamente, a psicomotricidade leva a
criança do prazer de agir, ao prazer de antecipar.
Assim, a vida, como campo das nossas experiências adquiridas, é uma sucessão
ininterrupta de atitudes corporais e de movimentos expressivos e representativos
(Bergés, 1967, in Fonseca, 2010), sendo que Buytendijk (1957, in Fonseca, 2010)
considera que o movimento é sempre a expressão de uma existência.
As perturbações do espetro do autismo implicam limitações a nível das relações
sociais, da comunicação verbal e não verbal e na variedade dos interesses e

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comportamentos. O autismo é considerado uma perturbação do neurodesenvolvimento


onde se verifica uma disfunção cerebral (Rutter, 1999). Durante muito tempo o autismo
não era compreendido como nos dias de hoje, o que levou a diagnósticos errados,
intervenções duvidosas e pais frustrados (Ivey, 2004). Os sintomas desta perturbação
podem ser observados desde muito cedo, verificando-se frequentemente antes dos 3
anos, geralmente podem apresentar um grande leque de sintomas comportamentais
tais como pouca tolerância à mudança, dificuldade em compreender regras sociais,
hípersensibilidade, desatenção, impulsividade, hétero e autoagressividade (Baron-
Cohen, 2008). As crianças e jovens com espetro do autismo costumam apresentar
respostas incomuns a estímulos sensoriais, nomeadamente elevada resistência à dor,
hipersensibilidade ao toque e reacções exageradas a odores (APA, 2002).

Revisão literária

a. O que é a Terapia ABA?

A Terapia ABA, Análise Comportamental Aplicada (Applied Behavior Analysis) é


uma ciência e tecnologia cujo objetivo é compreender o comportamento do indivíduo e,
a partir daí, criar estratégias socialmente valorizadas para melhorar a qualidade de vida
humana, criando condições especiais de aprendizagem que favoreçam o
desenvolvimento cognitivo, social, da linguagem e da independência funcional do
individuo.
A Terapia ABA tem sido apontada como a mais promissora no tratamento de
indivíduos autistas (Howard, Sparkman, Cohen, Green, & Stanislaw, 2005), isto porque,
segundo Lovaas (2002) esta terapia está ligada à compreensão do autismo não como
uma doença ou um problema a ser trabalhado, mas como um conjunto de
comportamentos que podem ser desenvolvidos por meio de procedimentos de ensino
especiais, o que permite ao profissional focar mais prontamente nas características
individuais e necessidades específicas de aprendizagem de cada indivíduo,
aperfeiçoando também as habilidades já desenvolvidas, tendo como principal objetivo
permitir ao individuo autista uma vida independente e integrada na comunidade.
Diferentes grupos de pesquisa afirmam que cerca de 50% das crianças que
participaram de tratamento ABA de forma intensiva atingiram um funcionamento típico
após dois a quatro anos de terapia e as outras 50% obtiveram ganhos significativos na

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comunicação, no contato social e em tarefas de autocuidado (Sallows & Graupner,


2005).
Os resultados promissores obtidos pela Terapia ABA estão ligados aos seus
princípios e procedimentos, visto que todos os procedimentos de intervenção são
derivados de pesquisas científicas, conferindo assim uma margem de sucesso e
funcionalidade antes de serem aplicadas a cada indivíduo. A esta característica soma-
se a cuidadosa avaliação realizada pelo profissional ao indivíduo que passará pela
Terapia, o que permite a elaboração e planeamento de objetivos e atividades
específicas e direcionas para cada cliente, visto que se trata de uma intervenção
individualizada. Esta mesma avaliação é realizada continuamente durante todo o
processo terapêutico, possibilitando não só que os pontos positivos do tratamento sejam
identificados, mas também possibilita que elementos problemáticos ou não efetivos do
processo terapêutico sejam imediatamente reconhecidos e alterados por estratégias
mais eficientes. Outro aspeto importante da Terapia ABA é o respeito ao ritmo individual
de cada cliente, combinado com a exigência de domínio do conteúdo para que o
programa de ensino evolua, garantindo ao individuo que a aprendizagem se desenvolve
de uma forma gradual, preparando-o para as mudanças de conteúdo, quando elas
ocorrerem. É relevante também referir que o profissional ao longo da terapia tem de
desenvolver estratégias e técnicas específicas para ultrapassar comportamentos-
problema, como birras, necessidades de rotina e padrões repetitivos de resposta,
características comuns a indivíduos com Autismo.
É por isso considerado que todos os princípios e as estratégias de ensino da
Terapia ABA fazem dela uma alternativa viável, eficaz e efetiva para o tratamento dos
indivíduos autistas.
O principal objetivo da Terapia ABA é procurar mecanismos que controlam e
influenciam o comportamento, baseando-se num modelo denominado de Modelo Tri-
Componente – ABC (Skinner), sendo que:

 A – Corresponde aos Antecedentes sendo que estes estão relacionados com o


estímulo que ocorre antes do comportamento, ou seja, o que inicia o
comportamento. Dentro deste componente encontramos ainda a manipulação
dos antecedentes, que se refere à identificação e remoção de triggers
antecedentes (elementos desencadeadores de um comportamento) sendo esta
constituída por várias estratégias.
 B – Corresponde ao Comportamento, sendo que este está assocado a tudo o
que o individuo faz depois do antecedente, ou seja, a resposta do individuo. Uma

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resposta pode ser emitida em diferentes operantes verbais, sendo estes mand
(normalmente associado a pedidos ou exigências) tact (consiste numa resposta
discriminativa verbal que ocorre na presença de um estímulo discriminativo não
verbal, que pode ser um objeto, um evento ou um acontecimento ou
propriedades destes), intraverbal (refere-se ao comportamento verbal que é
produzido por resposta a outro comportamento verbal, mas que é diferentes
daquele que o precede. Este pode ser falado, escrito ou gestualizado), echoic
(semelhante ao intraverbal no sentido em que ocorre por resposta a um estimulo
verbal, no entanto difere deste porque resulta num comportamento verbal (falado
ou escrito) que iguala a forma do estímulo verbal), text (operante textual que diz
respeito aos comportamentos que implicam a leitura e a escrita), autoclitic (é
uma forma de comportamento verbal que altera a função de outras formas de
comportamento verbal. É o operante mais complexo e encontra-se sob o controlo
do comportamento verbal do próprio sujeito) e o recetive.
 C – Corresponde à Consequência que é o que ocorre depois do
comportamento, depois da resposta do individuo. Este componente fala sobre o
reforço, podendo existir três tipos de reforço, sendo eles o reforço positivo, o
reforço negativo e o reforço automático. O reforço positivo é aquele em que é
acrescido um estimulo ao ambiente/individuo imediatamente a seguir à
ocorrência do comportamento, aumentando a probabilidade de este ocorrer no
futuro, já o reforço negativo ocorre quando um estimulo aversivo é
evitado/retirado imediatamente a seguir à ocorrência do comportamento,
aumentando também a probabilidade deste ocorrer no futuro. O reforço
automático é produzido pelo próprio comportamento, independentemente da
consciência do individuo ou das consequências apresentadas pelo ambiente e
/ou outros. (Cooper, J.O., et all, 2007)

b. Análise Comportamental Aplicada – Componentes-chave

A Terapia ABA é um método científico de ensino que se baseia nos princípios


da aprendizagem e comportamento, em que cada conduta de destino está
operacionalmente definida e modificada (Cooper J., Heron T., Heward W., 2007).
A terapia ABA é uma investigação sistemática, controlada e empírica do
comportamento usando práticas baseadas em pesquisa e socialmente aceitáveis
empiricamente validados. Quando existe uma mudança de comportamento é
socialmente importante certas considerações atribuídas ao indivíduo e incluem: idade

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cronológica, repertório comportamental, a comunidade, a idade de desenvolvimento,


antecedentes familiares, valores religiosos, etnia e outros fatores importantes para o
indivíduo. Além disso, consideramos abordagens para as mudanças de comportamento
que são socialmente válidos (Cooper J., et al., 2007).
Um segundo componente-chave é que ABA é comportamental. As respostas são
observáveis e mensuráveis e os dados são recolhidos de forma contínua. Em situações
de ensino, repete-se medições e são realizados gráficos de desempenho de uma forma
sistemática o que auxilia a monitorização do progresso ao longo do tempo. Isto permite
uma avaliação contínua da eficácia dos métodos de ensino para orientar formadores e
professores para modificar programas e currículos e para aumentar o aprendizado. Além
disso para que o programa seja bem sucedido é fundamental a monitorização e
modificação de comportamento pessoal (Cooper J., et al., 2007).
ABA é analítica, ou seja, a demonstração empírica das relações funcionais entre
os eventos antecedentes, comportamento e eventos consequentes. Toda a metodologia
de ensino decorre da pesquisa demonstrando empiricamente a eficácia dos estímulos
apresentados por professores, antes e após o desempenho dos alunos. A análise
funcional do comportamento e problema é realizada antes da implementação e
manutenção de programas de redução de comportamento (Cooper J., et al., 2007).
ABA é tecnológica. Todo o comportamento que precisa ser alterado é
precisamente definido e todos os procedimentos e métodos utilizados são
explicitamente descritos de uma forma passo-a-passo. ABA também é conceitualmente
sistemática, uma vez que toda a sua tecnologia está diretamente relacionada ao campo
da análise experimental do comportamento (Cooper J., et al., 2007).
A terapia ABA é um conjunto de habilidades de ensino que são práticas,
eficientes e que pode ser generalizada para outros contextos. Cada programa
educacional é selecionado de acordo com a importância da funcionalidade para o aluno.
As pesquisas de análise do comportamento vão de encontro à necessidade de
responder a perguntas, tais como (Weiss M., 2005):
 É provável que as habilidades aprendidas possam ser mantidas no
quotidiano/tarefas diárias?
 São as respostas dadas pelo aluno que vão ajudar a melhorar a
qualidade de vida do mesmo?
 A programação pode ser conduzida para a generalização das habilidades
a serem utilizados fora da situação de ensino ou ambiente de
aprendizagem?

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 As habilidades podem ser ensinadas para que a generalização seja


realizada de forma espontânea?
A pesquisa contínua é direcionada para responder as perguntas acima e para
medir e aumentar a eficácia da generalidade do comportamento aplicada metodologia
analítica. Em termos de como ABA pode beneficiar os alunos com autismo, há várias
considerações. Cada aluno é sistematicamente observado para o funcionamento
comportamental atual, baseado no repertório o comportamento do aluno, os excessos
de comportamento e défices são identificados a longo prazo e os objetivos de curto
prazo são planeados. É atribuído a cada aluno um plano individualizado, sendo este
sempre acompanhado com um reforço positivo ao longo das sessões para incentivar o
mesmo, tendo este necessariamente de responder a esse reforço. Programas e planos
de tratamento são de pesquisa e com base em dados. Os programas incluem uma
estratégia de ensino individualizado. A eficácia do ensino e da implementação do
tratamento é avaliado de forma contínua através de procedimentos de recolha de dados
específicos, incluindo displays visuais, tais como, gráficos ou tabelas. Esta recolha de
dados é usada para avaliar o progresso do aluno e os profissionais do ensino (Weiss
M., 2005).
Em suma, a ABA é fundamental na formação e intervenção para alunos com
autismo (Cooper J., et al., 2007).
Alguns fatores importantes no reino da ABA relacionados a alunos com autismo
são os seguintes: há uma forte ênfase na definição de problemas em termos de
comportamento que pode ser operacionalmente definidos e medidos; Aumenta ou
diminui comportamento alvo e indica a extensão em que o comportamento é alterado
ou melhorado; Procedimentos de ensino e de tratamento são projetados para ajudar
cada pessoa a funcionar de forma mais plena na sociedade; Métodos e princípios são
descritos e definidos. Socialmente mudanças importantes são demonstradas usando
demonstrações científicas que são explicados através de projetos de pesquisa de um
único assunto. Além disso, há um valor muito alto colocado em todos os envolvidos na
educação de alunos com autismo (Cooper J., et al., 2007).

c. Psicomotricidade na Terapia ABA

A Associação Portuguesa de Psicomotricidade (s/d) define a psicomotricidade


como “o campo transdisciplinar que estuda e investiga as influências recíprocas e
sistémicas entre o psiquismo e a motricidade”, baseando-se numa visão holística do

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indivíduo integra as funções cognitivas, socioeconómicas, simbólicas, psicolinguísticas


e motoras a fim de promover a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial.
Assim, esta engloba a tripolaridade do ser humano, nomeadamente os aspetos
cognitivos (intelectual), afetivos (emocional) e orgânicos (motor) (Galvani, 2002, in
Aguiar & Simão, 2007), sendo o corpo o ponto de referência para conhecer e interagir
com o mundo, expressando-se através da postura, das atividades e do comportamento
(Oliveira, 2005, in Aguiar & Simão, 2007).
Através de efeitos da atividade psíquica auto-controlada, a psicomotricidade
procura impor a sua organização psíquica e intencionalidade ao mundo exterior,
modificando-o e transformando-o de acordo com as suas necessidades (Fonseca,
2010), tendo como finalidade concretizar a relação entre o movimento e o pensamento,
através do desenvolvimento da cognição autorregulada e do potencial de aprendizagem
(Fonseca, 2010).
A psicomotricidade situa a atividade humana num investimento global da
personalidade da pessoa em ação, sendo que todas as praxias e modificações tónicas
encontram significado na história pessoal do indivíduo, bem como nas suas
representações e vivências tónico-emocionais (Fonseca, 2010). Esta é unificadora,
permitindo a integração entre o corpo e a atividade mental, o real e o imaginário, com
uma cointegração mútua entre corpo e cérebro, motricidade e psiquismo, melhorando o
potencial adaptativo do sujeito, uma vez que alia a experiência concreta à interiorização
da vivência corporal (Fonseca, 2010).
LEAR (2004) refere que, o método ABA ou Análise do Comportamento Aplicado
é um termo advindo do campo científico do Behaviorismo que observa, analisa e
explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem,
logo é pertinente inserir a intervenção psicomotora neste contexto, uma vez que existem
inúmeros fatores que permitem ao Psicomotricista fazer parte da Terapia, sendo as suas
competências uma mais valia para a execução do método.
Na terapia o Condicionamento Operante é o que é usado habitualmente para
mudar ou modificar comportamentos que auxiliem a apredendizagem, o que
significa que um comportamento seguido por um estímulo reforçador resulta num
aumento da probabilidade da sua ocorrência no futuro, sendo as nossas vivências
responsáveis pela estimulação ou inibição de determinado tipo de ações ou
comportamentos (LEAR, 2004), relacionando-se também aqui com a psicomotricidade,
uma que a intervenção psicomotora utiliza inúmeras atividades e estratégias que visam
o desenvolvimento das capacidades funcionais e a modificação dos comportamentos
desviantes.

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Tal como na intervenção psicomotora, na Terapia ABA é realizada uma avaliação


da criança, onde irão surgir os pontos fortes e pontos fracos e com base nessas
informações serão realizados planos de aprendizagem, emocionais, sociais ou de
comunicação, sendo estes planos individualizados de forma a serem atendidas as
necessidades e preferências das crianças, são também traçados objetivos a serem
alcançados e observáveis para permitir a visualização do sucesso da intervenção
(LEAR, 2004).
Como é podemos verificar as competências do Psicomotricista podem e devem
ser aplicadas nesta Terapia, uma vez que a sua formação de base e a sua prática ao
nível da intervenção Psicomotora permitem adquirir uma série de capacidades que são
vitais para o método, podendo por isso as capacidades do Técnico de Reabilitação
Psicomotora virem a ser um fator facilitador neste tipo de intervenção.

d. Plano de Intervenção

Para se construir um plano de intervenção na Terapia ABA, estes são os passos


que devem ser seguidos (Cooper J., et al., 2007):

 Avaliação inicial;
 Análise dos resultados dos vários instrumentos;
 Elaboração do plano de intervenção para 6 meses;
 Seleção dos objetivos prioritários e criação de uma folha de aplicação;
 Estabelecer critérios de resposta (qual a resposta pretendida, em que condições,
quando, com quem…);
 Definir forma de aplicação (instrução, prompt, reforço diferencial, distratores e
calendário de reforço);
 Definir o procedimento de medida (o que se quer medir: percentagem,
frequência, duração; e como se vai medir: trials, drills ou probing);
 Criar datasheets para registar evolução;
 Avaliação contínua com dados partilhados e mudança dos objetivos.

e. Organização de uma sessão

Antes de iniciar uma sessão com o individuo deve ter em atenção os seguintes
aspectos antes da inicição da mesma. Esses aspectos são (Cooper J., et al., 2007):

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 Seleção dos objetivos prioritários e criação de uma folha de aplicação;


 Estabelecer critérios de resposta (qual a resposta pretendida, em que condições,
quando, com quem…);
 Definir forma de aplicação (instrução, prompt, reforço diferencial)
 Definir o procedimento de medida: o que se quer medir e como se vai medir;
 Criar datasheets para registar evolução;

Tendo estes aspectos em consideração, e de estarem sempre presentes


presentes durante a sessão existe assim a necessidade de organizar a sessão, para
que esta seja bastante proveitosa para o cliente. Os passos no ABA são os seguintes
(Cooper J., et al., 2007):

 Espaço organizado e com poucos estímulos;


 Rentabilizar o tempo e a produtividade;
 Melhorar a atenção da criança;
 Controlar o ambiente;
 Proporcionar interacção e o brincar livre;
 Reforçar a cooperação, postura e contacto ocular;
 Atividades previamente preparadas para intervalos estruturados;
 Realizar preference assessment;
 Iniciar com programas mais fáceis e intercalar com fáceis e difíceis;
 Ter em atenção a duração de cada drill.

f. Discrete Trial Teaching (DTT)

O Discrete Trial Teaching (DTT) é um ensino baseado na sequência de 3


unidades básicas: A-B-C. Esta parte de programa tem por base um treino intensivo, ou
seja, uma sessão inclui um número infinitivo de tentativas de ensino (trials), com inicio
e fim claros. Durante a realização da sessão são criadas ao longo da mesma Task
Analysis, que tem por base dividir tarefas em subtarefas, de forma a facilitar a
compreensão da tarefa por parte do indivíduo. Esta subtarefas são ensinadas
separadamente até que cada um delas seja completamente adquirida. Todo este ensino
foca-se na concentração pelo o estímulo dado pelo técnico. Em cada umas das tarefass
tem-se por base a utilização de um reforço diferencial. O progresso ao longo de cada
sessão é quantificado e registado na datasheet, sendo assim possível ao fim de algum

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tempo de intervenção ser possível realizar uma análise na sua evolução (Cooper J., et
al., 2007).

g. Shaping

O Shaping consiste em reforçar aproximações sucessivas de um comportamento


inicial (já existente ou não), “moldando-o” até se atingir o critério final desejado. Assim,
tendo a necessidade de seguir uma ordem de progresso (Cooper J., et al., 2007):

 Seleccionar o comportamento alvo;


 Condições de aplicação e critérios de resposta;
 Definição da 1ª resposta a ser diferencialmente reforçada;
 Proceder gradualmente;
 Utilizar prompts eficazes durante o processo;
 Reforçar imediatamente respostas de sucesso;
 Reforçar o comportamento final;

h. Chaining

Um encadeamento de comportamentos é uma série de comportamentos


relacionados, em que a realização de cada um funciona como indicador para o seguinte,
e o último, por sua vez, produz reforço. Este procedimento permite-nos reforçar
respostas individuais que ocorrem em sequência e originam um comportamento
complexo. É frequentemente usado no ensino de sequências de comportamentos que
não constam do atual reportório comportamental do indivíduo (Cooper J., et al., 2007).
Para o Chaining ser aplicado é necessários seguir as seguintes etapas (Cooper
J., et al., 2007):

1) Fazer análise de tarefa;


2) Validar etapas da tarefa;
3) Verificar etapas realizadas de forma independente;
4) Definir critérios de resposta;
5) Definir formato de encadeamento;
6) Definir prompts.

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Programas de Intervenção Psicomotora II

i. Incidental Teaching

O Incidental Teaching implica estruturar e sequenciar objetivos educativos de


modo a que ocorram dentro de situações típicas, assim aproveitando o interesse e a
motivação da criança. Esta parte do ABA assenta em aspectos, tais como (Cooper J.,
et al., 2007):
 Criar oportunidades de ensino;
 Promove a generalização de competências;
 Utiliza os reforços naturais e relacionados com o comportamento;
 É mais fácil de incorporar na rotina diária da criança, dado que não requer
interação adulto-criança cara a cara;

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Conclusão

As diferenças individuais observadas nas crianças e nas suas famílias põem em


causa a noção de que qualquer abordagem ou até mesmo uma categoria de abordagens
podem atender às necessidades de todas as crianças e famílias (Cooper J., et al., 2007).
O ABA apresenta uma série de vantagens de treino, ou seja, um número elevado
de tentativas de treino, de forma sólida para desenvolver o tato, comportamentos
receptivos, a facilidade de formação pessoal, a clareza da resposta alvo, simplicidade
de recolher dados, facilidade de avaliação do progresso, e as etapas curriculares
claramente definidas (Cooper J., et al., 2007)
A individualização exige atender a todos os aspectos do ambiente do aluno, com
as características e habilidades deste, para a qualidade da execução e a manutenção
de habilidades (Cooper J., et al., 2007).
A mensagem global é que as pessoas com autismo aprendem em uma variedade
de formas e com uma variedade de procedimentos de instrução (Cooper J., et al., 2007).
A terapia ABA é um dos caminhos possiveis a seguir, juntamente com outras
intervenções tendo sempre em conta o bem-estar da criança (Cooper J., et al., 2007).

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Programas de Intervenção Psicomotora II

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