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EDSON SANTOS
Ministro Chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR
ALEXANDRO REIS
Subsecretário de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR
IVONETE CARVALHO
Diretora de Programas da Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR
BÁRBARA OLIVEIRA
Gerente de Projetos da Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR
Consultores:
DÉO COSTA RAMOS
DIEGO AMORIM DO AMARAL
ELIANE MARIA PEREIRA
JOSILENE MARIA DOS SANTOS
MARIA ISABEL RODRIGUES
RONALDO JORGE RODRIGUES DE OLIVEIRA
WALISON DE MELO COSTA
Sumário
I - Introdução.....................................................................................................................8
III - Legislação.................................................................................................................15
VI - Considerações Finais...............................................................................................39
Anexos
VI - Parecer nº 3.333/CF................................................................................................131
3
4
Apresentação
As comunidades tradicionais, como as comunidades quilombolas, indígenas, ciganas
e de terreiro, puderam perceber um quadro de melhora em sua qualidade de vida no atual
contexto de desenvolvimento econômico e social do país. No entanto, seus indicadores de
desenvolvimento humano ainda são muito desiguais quando comparados aos demais seg-
mentos da população, demonstrando a necessidade de investir ainda mais nos programas
HVSHFtÀFRVYROWDGRVDHVVDVSRSXODo}HV
Sob o ponto de vista dos quilombolas, a questão fundamental que se coloca é a garantia
do acesso à terra. A histórica concentração de terras no Brasil atinge diretamente essas co-
munidades, que possuem uma relação com a terra que transcende a mera questão produtiva.
Assim como acontece em relação aos povos indígenas, a terra para os quilombolas é mais
do que um bem econômico. Terra e identidade, para essas comunidades, estão intimamente
relacionadas. A partir da terra se constituem as relações sociais, econômicas, culturais e são
transmitidos bens materiais e imateriais.
No entanto, grandes obstáculos ainda estão colocados no caminho. A garantia dos direi-
tos dos quilombolas, assim como as políticas de promoção da igualdade racial de uma forma
mais ampla, estão colocadas no centro de uma disputa ideológica hoje desenhada em nossa
sociedade. As contestações à demarcação de terras quilombolas feitas na justiça, as reações
dos setores mais conservadores através da imprensa e o recrudescimento da violência no
campo são a prova disso.
$SHVDUGHWRGDVDVGLÀFXOGDGHVVmRPXLWRVRVDYDQoRV*UDGXDOPHQWHWUDQVSRPRVDV
barreiras que separam as comunidades quilombolas do pleno exercício dos direitos de cida-
dania, que legalmente estão garantidos a todos os brasileiros e brasileiras.
Desde 2003, o Governo Federal busca dar maior objetividade na busca pela superação
dos entraves jurídicos, orçamentários e operacionais para a promoção da melhoria da qua-
5
lidade de vida das comunidades, por meio da efetivação das políticas públicas, articuladas
QR3URJUDPD%UDVLO4XLORPEROD²3%423URJUDPDWHPSRUÀQDOLGDGHFRRUGHQDUDVDo}HV
governamentais, através de articulações transversais, setoriais e interinstitucionais para as
comunidades quilombolas, com ênfase na participação da sociedade civil.
Prefácio
3HUFRUULGRV DQRV GD GHUURFDGD RÀFLDO GR VLVWHPD HVFUDYDJLVWD R (VWDGR EUDVLOHLUR
abriu-se à possibilidade efetiva de garantir o exercício da cidadania para a população negra, em
especial as comunidades remanescentes de quilombos cujo direito foi reconhecido pelos cons-
tituintes no processo de construção do mais importante instrumento jurídico e político do país.
A nossa Carta Magna de 1988 objetiva fundamentalmente construir uma sociedade jus-
ta, livre e solidária; bem como promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Nesse sentido, a Constituição
reconhece a existência de comunidades quilombolas no país, e determina que o Estado deve
emitir o título de suas terras.
A terra é o elemento fundamental e que singulariza o modo de viver e produzir das co-
munidades quilombolas. Ancestralidade, resistência, memória, presente e futuro sintetizam o
VLJQLÀFDGRGDWHUUDSDUDHVVDVFRPXQLGDGHVIRUWHPHQWHPDUFDGDVSHODWUDGLomRHUHVSHLWR
aos bens naturais como fonte garantidora de sua reprodução física, social e econômica.
6
seu mais valioso instrumento de garantia de direitos. Ela reconheceu as comunidades indíge-
nas e quilombolas como segmentos de singular importância da população brasileira merece-
dores de tratamentos especiais dadas as suas trajetórias e discriminação sofrida.
Portanto, terra e quilombo são troncos entrelaçados de uma mesma árvore cujas raízes
encontram-se no âmago da contraditória e complexa formação histórica e social do Brasil. A
concentração fundiária alimenta todas as barreiras levantadas contra a promoção da cida-
dania para as comunidades quilombolas. Barreiras ideológicas, políticas, jurídicas e adminis-
WUDWLYDVFXMRVUHVXOWDGRVVmRFRQÁLWRVGHLQWHUHVVHVIRPHQWDGRVDÀPGHSURFUDVWLQDUWRGDH
qualquer ação com vistas á regularização fundiárias dos quilombos.
$SHVDUGDH[LVWrQFLDGHXPDDPSODELEOLRJUDÀDMXUtGLFDDQWURSROyJLFDHKLVWyULFDVREUH
as comunidades quilombolas no Brasil, o tema regularização fundiária para quilombos esbar-
ra em argumentos que invocam o desconhecimento, a insegurança jurídica, a falta de acordo
VREUHRVFRQFHLWRVUHPDQHVFHQWHVGHTXLORPERVWHUUDVRFXSDGDVHDXWRGHÀQLomRDJDUDQWLD
da propriedade privada, para defender, com algumas variações meramente interpretativas, a
manutenção de uma realidade miserável que se arrasta desde o meado do século XIX, quan-
do foi sancionada a Lei de Terras.
São argumentos que têm como ângulo primaz a defesa incondicional da propriedade pri-
vada sem levar em consideração a função social da terra, muito menos o tempo de ocupação
das comunidades nessas terras. Para tanto, sustentam absurdos antropológicos, sociais e
KLVWyULFRVTXHVyFRQVHJXHPSHUFHEHURVTXLORPERVQDSHUVSHFWLYDGHÀQLGDSHOR&RQVHOKR
Ultramarino do rei de Portugal em 1740.
N´guzu!
Alexandro Reis
Subsecretário de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR
7
I – Introdução
$WpR*RYHUQR)HGHUDOKDYLDLGHQWLÀFDGRDH[LVWrQFLDGHTXLORPERV$WXDOPHQWH
em decorrência da iniciativa das comunidades quilombolas pelo seu auto-reconhecimento, do
IRPHQWRjDPSOLDomRHTXDOLÀFDomRGRVVHUYLoRVGLVSRQtYHLVHGDFULDomRGR3URJUDPD%UDVLO
4XLORPEROD3%4TXHGHXYLVLELOLGDGHDHVVDSROtWLFDRQ~PHURGHFRPXQLGDGHVLGHQWLÀFDGDV
pGHGHQWUHDVTXDLVIRUDPFHUWLÀFDGDVSHOD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHV
O Programa Brasil Quilombola foi incorporado ao Plano Plurianual (PPA) desde 2004,
FRPSULRUL]DomRGHDo}HVGHVWLQDomRGHUHFXUVRVHGHÀQLomRGHPHWDVGHFDGDyUJmRGD
administração pública federal para as comunidades quilombolas. Os órgãos federais desen-
volvem ainda um conjunto considerável de ações que não estão incorporados no PPA. A
SEPPIR atua como coordenadora do Programa. Devido à realidade multifacetada das comu-
nidades quilombolas e dos diversos órgãos públicos envolvidos, é fato que, no desenho trans-
versalizado e descentralizado da gestão da política pública, formou-se uma interdependência
entre esses órgãos, o que possibilita a apropriação e a consolidação das políticas.
8
O presente relatório tem como objetivo abarcar aspectos múltiplos da questão quilombola
em nosso país. Está dividido em quatro seções: I – Panorama das comunidades quilombolas
existentes no país a partir de uma perspectiva conceitual e histórica, com aspectos sociológi-
FRVMXUtGLFRVHKLVWRULRJUiÀFRV,,²$QiOLVHVUHIHUHQWHVjOHJLVODomRYROWDGDjVFRPXQLGDGHV
quilombolas; III – Detalhamentos processuais, legais e jurídicos da regularização fundiária
de territórios quilombolas; IV – Histórico de implementação do Programa Brasil Quilombola,
desde sua criação até os dias atuais; V - veicular nos anexos do relatório conteúdo acerca da
constitucionalidade do Artigo 68º do ADCT e do Decreto 4.887/ 2003.
2VFRQÁLWRVWHUULWRULDLVDIDOWDGHVDQHDPHQWREiVLFRHGHDFHVVRDRXWUDVSROtWLFDVS~-
blicas são elementos que incidem para a situação de insegurança alimentar em muitas das
FRPXQLGDGHVRTXHÀFRXODWHQWHQRVGDGRVREWLGRVQD,&KDPDGD1XWULFLRQDO4XLORPEROD1. De
acordo com levantamento sócio-econômico realizado pela Fundação Cultural Palmares, com o
apoio da Universidade de Brasília (2004), abrangendo cerca de 150 comunidades quilombolas,
constatou-se que a renda mensal da maioria das famílias não ultrapassa R$ 240,00 mensais.
1
A Chamada Nutricional Quilombola é uma pesquisa antropométrica e socioeconômica de abrangência nacional, estruturada a partir de uma
mostra de 60 comunidades quilombolas. É resultado de uma parceria do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, SEPPIR,
UNICEF e CONAQ. Os dados foram divulgados em maio de 2008.
2
O Programa Brasil Quilombola foi criado em 2004 e agrupa ações voltadas às comunidades quilombolas em várias áreas: acesso à terra,
HGXFDomRVD~GHVDQHDPHQWREiVLFRHOHWULÀFDomRJHUDomRGHUHQGDGHQWUHRXWURV
9
II – Conceito e Histórico da Questão Quilombola no Brasil
As comunidades quilombolas são grupos sociais cuja identidade étnica os distingue do
UHVWDQWHGDVRFLHGDGH$$VVRFLDomR%UDVLOHLUDGH$QWURSRORJLDGHÀQHDVFRPXQLGDGHVTXL-
lombolas como “grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e repro-
dução de seus modos de vida característicos num determinado lugar”.
$GHÀQLomRQRUPDWLYDGRFRQFHLWRGHTXLORPERpYHLFXODGDQR'HFUHWRQGH3,
TXHUVHMD´FRQVLGHUDPVHUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGHTXLORPERSDUDÀQVGHVWH'H-
creto, os grupo étnico-raciais, segundo os critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica
SUySULDGRWDGRVGHUHODo}HVWHUULWRULDLVHVSHFtÀFDVFRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGDGHQHJUD
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”.
O conceito de remanescentes das comunidades de quilombo, à luz do Art. 68º do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal, refere-se “aos indivíduos,
agrupados em maior ou menor número, que pertençam ou pertenciam a comunidades, que,
portanto, viveram, vivam ou pretendam ter vivido na condição de integrantes delas como
repositório das suas tradições, cultura, língua e valores, historicamente relacionados ou cul-
turamente ligados ao fenômeno sócio-cultural quilombola”4.
2%UDVLOWHPQRkPDJRGHVXDKLVWyULDRWUiÀFRHRFRPpUFLRGHDIULFDQRVHDIULFDQDV
escravizados. Foi o país que mais importou escravizados e aquele que por último aboliu legal-
mente a escravidão. Cerca de 40% dos africanos escravizados tiveram como destino o Brasil.
3
Decreto 4.887, de 20 de novembro de 2003.
4
Castilho, Manoel Lauro Volkmer de. Parecer nº AGU/MC
11
pela via da compra, em seu artigo 1º, determinava: “Ficam proibidas as aquisições de terras
devolutas por título que não seja o da compra”.
Nas várias regiões, a partir de suas roças e economias próprias, os quilombolas for-
maram um campesinato negro ainda durante a escravidão. Os territórios das comunidades
negras têm uma gama de origens, tais como doações de terras realizadas a partir da desa-
gregação da lavoura de monoculturas, como a cana-de-açúcar e o algodão; compra de terras
pelos próprios sujeitos, possibilitada pela desestruturação do sistema escravista; bem como
de terras que foram conquistadas pelos negros por meio da prestação de serviço de guerra,
FRPRDVOXWDVFRQWUDLQVXUUHLo}HVDRODGRGHWURSDVRÀFLDLV
$DEROLomRIRUPDOGDHVFUDYLGmRR¿FLDOL]DGDSHOD/HLQGHGHPDLRGH
/HLÈXUHDQmRUHSUHVHQWRXR¿PGDVHJUHJDomRHGRQmRDFHVVRDRVGLUHLWRVSDUDQHJURVH
QHJUDVHLVVRVHUHÀHWLXIRUWHPHQWHQDUHDOLGDGHGDVFRPXQLGDGHVTXLORPERODVFRQVWLWXtGDV
em todas as regiões do país.
Além dos quilombos constituídos no período da escravidão, muitos foram formados após
a abolição formal da escravatura, pois continuaram a ser, para muitos, a única possibilidade
de viver em liberdade. Constituir um quilombo tornou-se um imperativo de sobrevivência,
posto que a Lei Áurea deixou os negros e negras abandonados à própria sorte.
12
III - Legislação
A Constituição Brasileira de 1988 opera uma inversão de valores no que se refere aos
quilombos em comparação com a legislação colonial, uma vez que a categoria legal por meio
GDTXDOVHFODVVLÀFDYDTXLORPERFRPRXPFULPHSDVVRXDVHUFRQVLGHUDGDFRPRFDWHJRULDGH
DXWRGHÀQLomRYROWDGDSDUDUHSDUDUGDQRVHDFHVVDUGLUHLWRV$OPHLGD
5
$UW$RVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGRVTXLORPERVTXHHVWHMDPRFXSDQGRVXDVWHUUDVpUHFRQKHFLGDDSURSULHGDGHGHÀQLWLYD
devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
13
nem determina que haja uma coincidência entre a ocupação originária e atual. Este artigo,
bem como o Artigo 231º6 referente aos povos indígenas, atribui um status especial na legisla-
ção para terras que se constituem em outra perspectiva, uma vez que o uso da terra no Brasil
é bastante heterogêneo.
6
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução
física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das rique-
zas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
LQGtJHQDVVySRGHPVHUHIHWLYDGRVFRPDXWRUL]DomRGR&RQJUHVVR1DFLRQDORXYLGDVDVFRPXQLGDGHVDIHWDGDVÀFDQGROKHVDVVHJXUDGD
participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou
epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do país, após deliberação do Congresso Nacional, garantido,
em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que
se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse
público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou ações contra a
União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no Art. 174, §§ 3º e 4º.
7
Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.
$OHLGLVSRUiVREUHDÀ[DomRGHGDWDVFRPHPRUDWLYDVGHDOWDVLJQLÀFDomRSDUDRVGLIHUHQWHVVHJPHQWRVpWQLFRVQDFLRQDLV
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do país e à integração das
ações do poder público que conduzem à: (Acrescentado pela EC-000.048-2005)
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
IIIIRUPDomRGHSHVVRDOTXDOLÀFDGRSDUDDJHVWmRGDFXOWXUDHPVXDVP~OWLSODVGLPHQV}HV
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional.
Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
,,,DVFULDo}HVFLHQWtÀFDVDUWtVWLFDVHWHFQROyJLFDV
,9DVREUDVREMHWRVGRFXPHQWRVHGLÀFDo}HVHGHPDLVHVSDoRVGHVWLQDGRVjVPDQLIHVWDo}HVDUWtVWLFRFXOWXUDLV
9RVFRQMXQWRVXUEDQRVHVtWLRVGHYDORUKLVWyULFRSDLVDJtVWLFRDUWtVWLFRDUTXHROyJLFRSDOHRQWROyJLFRHFROyJLFRHFLHQWtÀFR
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua
consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6º É facultado aos estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita
WULEXWiULDOtTXLGDSDUDRÀQDQFLDPHQWRGHSURJUDPDVHSURMHWRVFXOWXUDLVYHGDGDDDSOLFDomRGHVVHVUHFXUVRVQRSDJDPHQWRGHAlterado
pela EC-000.042-2003)
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.
14
a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho8 (Genebra, 27 de junho de
1989) e a Convenção da UNESCO sobre Diversidade Cultural (2007).
$OpP GHVVHV DUWLJRV GH FRQVWLWXLo}HV HVWDGXDLV Ki OHJLVODo}HV HVSHFtÀFDV SRVWHULRU-
mente aprovadas em outros estados, como no Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernam-
buco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Ao todo, onze estados possuem
8
Entendimentos jurisprudenciais acerca da aplicação da Convenção nº 169 da OIT às comunidades quilombolas:
“Ocorre que o Decreto questionado foi expedido em 20-11-2003, quando já estava em vigor, no âmbito normativo interno, a Convenção
GD2,7UDWLÀFDGDSHOR%UDVLOHPSRUPHLRGR'HFUHWR/HJLVODWLYRQ$&RQYHQomRQ2,7GHYHVHUYLU
de parâmetro para avaliar o decreto n.º 4887/2003, em termos constitucionais, para a disciplina do art. 68 do ADCT. A Convenção, por
sua vez, plenamente aplicável aos quilombolas, porque incluídos estes na disposição do art. 1.1.a como ‘povos tribais’, no sentido de
serem aqueles que, ‘em todos os países independentes, cujas condições sociais, culturais e econômicas os distingam de outros setores
da coletividade nacional, e que sejam regidos, total ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou legislação especial’. (...)
Ademais, a Convenção previu que: a) os governos deverão ‘adotar as medidas que sejam necessárias para determinar as terras que os
povos interessados ocupam tradicionalmente e garantir a proteção efetiva dos seus direitos de propriedade e posse’ (art. 14, 2); b) deverão
ser ‘instituídos procedimentos adequados no âmbito do sistema jurídico nacional para solucionar as reivindicações de terras formuladas
pelos povos interessados’ (art. 14, 3 c/art. 1.3, no tocante ao entendimento de ‘povos’ da Convenção). Daí porque o regulamento poderia
disciplinar tais situações.” (Decisão da Relatora Des. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, no âmbito do AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº
2008.04.00.010160-5/PR
2. “De efeito, não pode o Estado negligenciar a proteção constitucionalmente eleita como um dos objetivos fundamentais da República Fe-
derativa do Brasil, qual seja, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,raça, sexo, idade e quaisquer formas de discriminação”
(CF/88, art. 3º, IV), incluindo, assim, as comunidades remanescentes de quilombos,
Pi[LPHTXDQGRFRQIRUPHGHVWDFDGRSHORLOXVWUH5HSUHVHQWDQWH0LQLVWHULDOHPVHX3DUHFHUSHOR(VWDGR%UDVLOHLURHVWRXFRQÀUPDGRVHX
entendimento em estabelecer políticas públicas voltadas ao combate à discriminação dos modos de vida tradicionais dos povos indíge-
QDVHWULEDLVTXDQGRGDHGLomRGR'HFUHWR/HJLVODWLYRQUDWLÀFDQGRD&RQYHQomRQGD2,7TXHGLVS}HVHPVHXDUW
que “deverão ser reconhecidos os direitos de propriedade e posse dos povos em questão sobre as terras que tradicionalmente ocupam”.
Destarte, não obstante a implantação do Centro de Lançamento de Alcântara e o desenvolvimento regular de suas atividades, não podem
os Impetrantes ver-se vitimados por este fato da administração, quando o próprio modo de vida tradicional das comunidades quilombolas
determinou formas de produção, que foram estabelecidas historicamente visando à sua subsistência. (Decisão do Juiz Jose Carlos do Vale
Madeira, da 5a. Vara Federal do Maranhão, o dia 27 de setembro, em São Luís (Maranhão),no âmbito da Ação Civil Pública (ACP), número
2003.37.00.008868-2, que tramita na 5a Vara da Justiça Federal do Maranhão, desde 15 de agosto de 2003, contra a Fundação 2, que
tramita na 5a Vara da Justiça Federal do Maranhão, desde 15 de agosto de 2003, contra a Fundação Cultural Palmares, União Federal e
o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)
15
OHJLVODomRHVSHFtÀFDVHMDHODFRQVWLWXFLRQDORXQmRVREUHRSURFHGLPHQWRGHUHJXODUL]DomR
fundiária das terras quilombolas.
No parágrafo único de seu Artigo 1º, o Decreto 3.912/2001 aponta que somente poderia
ser reconhecida a propriedade sobre terras das comunidades que eram ocupadas por qui-
lombos em 1888 e aquelas ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
em 5 de outubro de 19889.
“Então, as terras em questão podem não ter estado ocupadas por quilombolas em 1888.
7mRDUELWUiULDpDUHIHUrQFLDDRDQRGHTXHQmRMXVWLÀFDVHTXHUDHVFROKDHPWHUPRV
amplos, haja vista que a Lei Áurea é datada de 13 de maio: fevereiro de 1888 não seria mais
defensável do que dezembro de 1887. Não fosse por outro motivo, essa incursão no passado
WUDULDVpULDVGLÀFXOGDGHVGHSURYDHVHULDXPGHVSURSyVLWRLQFXPELURVUHPDQHVFHQWHVGDV
comunidades dos quilombos (ou qualquer outro interessado) de demonstrar que a ocupação
remonta a tanto tempo” (In: Sundfeld, 2002: 72).
9
Vide íntegra dos Decretos 3.912/2001 e o 4.887/2003 nos Anexos.
16
Assim sendo, o Decreto nº 4.887, editado em 20 de novembro de 2003, veicula normas
procedimentais necessárias à implementação dos atos instrutórios do processo administra-
tivo ajuizado pelas comunidades quilombolas ou outros interessados junto ao INCRA, tais
FRPRDFRQIHFomRGR5HODWyULR7pFQLFRGH,GHQWLÀFDomRH'HOLPLWDomR²57,'(VVDSHoDp
IXQGDPHQWDOSDUDOHYDQWDPHQWRGHGDGRVFDUWRJUiÀFRVDQWURSROyJLFRV
$GHÀQLomRGHTXHPVmRDVFRPXQLGDGHVTXLORPERODVGHDFRUGRFRPR'HFUHWR
de 20 de Novembro de 2003, aponta que:
“Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos os grupos étnico-raciais, se-
gundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
HVSHFtÀFDVFRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGDGHQHJUDUHODFLRQDGDFRPDUHVLVWrQFLDjRSUHVVmR
histórica sofrida”10.
&RPGLPHQVmRjGHÀQLomRGRVHOHPHQWRVTXHFRQVWLWXHPDWHUUDTXLORPERODR'HFUHWR
dispõe que:
“São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a
garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural”11.
$GHÀQLomRGDWHUULWRULDOLGDGHEDOL]DGDHPDVSHFWRVPDLVDPSORVTXHDGLPHQVmRHFR-
nômica se faz presente também na Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040 de 07 de fevereiro de
2007, que prevê, em seu art. 3º:
“Os territórios tradicionais são espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos
povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, ob-
servado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem
os arts. 231 da Constituição e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais
regulamentações”.
17
de 1991 e, no Brasil, em 25 de julho de 2003. Foi recepcionada pelo ordenamento jurídico
brasileiro como lei ordinária, de acordo com o art. 5º, § 2º, da Constituição Federal de 1988.
Em seu conteúdo, um de seus pontos centrais, também incorporado pelo Decreto nº 4887/
2003, é a dimensão da autodeterminação: “A consciência de sua identidade indígena ou tribal
deverá ser considerada como critério fundamental para determinar os grupos aos que se apli-
cam as disposições da presente Convenção” (Artigo 1º, Convenção nº 169 da OIT).
(PGLiORJRFRPD&RQYHQomRGD2,7R'HFUHWRQGHÀQHSRUWDQWRFRPR
FULWpULRSDUDLGHQWLÀFDURVUHPDQHVFHQWHVGHTXLORPERVDDXWRDWULEXLomR De acordo com o
SDUiJUDIR$UWLJRGR'HFUHWRDLGHQWLÀFDomRGDVFRPXQLGDGHVVHSURFHVVD
da seguinte maneira:
´R3DUDRVÀQVGHVWH'HFUHWRDFDUDFWHUL]DomRGRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGRVTXLORP-
bos será atestada mediante DXWRGHÀQLomR da própria comunidade”.
Neste contexto, foram expedidos 102 títulos para territórios quilombolas, de 1995 até
2008. Esse quantitativo de títulos refere-se à 157 comunidades. No entanto, o Partido Demo-
cratas (DEM) ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 3.239-9/600 no Su-
premo Tribunal Federal, na qual contesta, principalmente, o direito à terra das comunidades
que, uma vez tituladas, se tornam inalienáveis e coletivas. Por outro lado, o Ministério Público
Federal, representado pelo Dr. Cláudio Fonteles13, procurador-geral da República à época do
ajuizamento da ADIN, manifestou-se pela sua improcedência, bem como, a Advocacia Geral
da União, representada pelo Dr. Rafaelo Abritta, advogado da União, apresenta defesa subs-
tancial a favor da constitucionalidade do Decreto ora em comento como ato normativo apto a
regulamentar o art. 68º do ADCT. Senão vejamos:
“Percebe-se, da simples leitura do art. 68º do ADCT, que o direito tutelado está inserido numa nor-
PDFRQVWLWXFLRQDOGHHÀFiFLDMXUtGLFDSOHQDQmRGHSHQGHQWHGDHGLomRGHTXDOTXHUDWROHJLVODWLYR
para sua aplicabilidade”.
“Deve-se atentar para o fato de que o art. 68º do ADCT é uma regra com efeitos jurídicos plenos,
na medida que ele impõe ao Estado o dever de desenvolver atividades destinadas à titulação das
13
Parecer nº. 3.333/CF exarado na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.239/600-DF
18
WHUUDV7RGDYLDDUHGDomRGRGLVSRVLWLYRQmRpFRPSOH[DRVXÀFLHQWHSDUDJDUDQWLUDRVEHQHÀFLD-
dos um direito subjetivo de reconhecimento e titulação de imóveis certos e determinados, sendo
necessário, portanto, que o Estado organize sua estrutura e delineie o trâmite administrativo ne-
cessário a concretizar o direito assegurado. Assim, o Poder Executivo pode, como assim o fez,
editar atos in concreto para instrumentalizar e viabilizar a consecução do direito tutelado constitu-
cionalmente no art. 68º do ADCT”.
“Aliás, o art. 25º do Decreto nº 4.887, de 2003, revogou o Decreto nº 3.912, de 10 de setembro de
2001, que, da mesma forma, disciplinava o procedimento administrativo para a titulação das terras
quilombolas”.
“Pelo exposto, não restam dúvidas de que o dispositivo indubitavelmente gera um dever ao Esta-
do. Dever, este, de criar procedimentos de regularização fundiária, bem como para preservação
das comunidades e cultura quilombolas. Procedimentos que competem única e exclusivamente
ao Poder Executivo, por meio de edição de decretos. Desta forma, o ato normativo editado pelo
presidente da República, ao revés do aduzido pelo Requerente, não invade esfera reservada à lei,
não podendo se falar em qualquer inconstitucionalidade”.
Por outro lado, o procurador regional da república, Dr. Walter Claudius Rothenburg, apre-
sentou parecer14 contrário ao PL nº 44/2007, considerando que o mesmo “é descabido, impro-
cedente e contrário à Constituição. Aduz, ainda, na conclusão do mencionado documento”:
14
Parecer contrário ao projeto de Decreto Legislativo nº 44, de 2007, de autoria do Deputado Federal Valdir Colatto. Em 17 de setembro
de 2007.Grupo de Trabalho sobre Quilombos, Povos e Comunidades Tradicionais. 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal.
19
20
IV - Política de regularização fundiária em
comunidades quilombolas
A regularização fundiária das áreas remanescentes de quilombo é executada pelo Ins-
tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/ Ministério do Desenvolvimento
Agrário), em parceria com os Institutos de Terras Estaduais, em diálogo com a Fundação
Cultural Palmares e o Ministério Público.
390
$HWDSDVXEVHTHQWHGRSURFHVVRpDHODERUDomRGR5HODWyULR7pFQLFRGH,GHQWL¿FDomR
e Delimitação – RTID. É um relatório técnico produzido por uma equipe multidisciplinar do
,1&5$FULDGDSRU2UGHPGH6HUYLoR6XD¿QDOLGDGHpLGHQWL¿FDUHGHOLPLWDUDVWHUUDVUHLYLQ-
dicadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos.
257,'DERUGDLQIRUPDo}HVFDUWRJUi¿FDVIXQGLiULDVDJURQ{PLFDVHFROyJLFDVJHRJUi-
¿FDVVRFLRHFRQ{PLFDVKLVWyULFDVHDQWURSROyJLFDVREWLGDVHPFDPSRHMXQWRDLQVWLWXLo}HV
públicas e privadas, sendo composto pelas seguintes peças: relatório antropológico; levan-
tamento fundiário; planta e memorial descritivo do perímetro da área reivindicada pelas co-
21
munidades remanescentes de quilombo, bem como mapeamento e indicação dos imóveis e
ocupações lindeiros de todo o seu entorno; cadastramento das famílias remanescentes de
FRPXQLGDGHVGHTXLORPERVOHYDQWDPHQWRHHVSHFL¿FDomRGHWDOKDGDGHVLWXDo}HVHPTXHDV
áreas pleiteadas estejam sobrepostas a unidades de conservação constituídas, a áreas de
segurança nacional, a áreas de faixa de fronteira, terras indígenas ou situadas em terrenos
GHPDULQKDHPRXWUDVWHUUDVS~EOLFDVDUUHFDGDGDVSHOR,1&5$RX6HFUHWDULDGR3DWULP{QLR
da União e em terras dos estados e municípios; parecer conclusivo. Após a sua conclusão, o
PHVPRGHYHVHUDSURYDGRSHOR&RPLWrGH'HFLVmR5HJLRQDO&'5HVHUSXEOLFDGRQDIRUPD
GH(GLWDOSRUGXDVYH]HVFRQVHFXWLYDVQRVGLiULRVR¿FLDLVGRHVWDGRHGD8QLmRDVVLPFRPR
D¿[DGRHPPXUDOGDSUHIHLWXUD
1DDWXDOLGDGHH[LVWHP(GLWDLVGH57,'VSXEOLFDGRVWRWDOL]DQGRKHF-
WDUHVUHFRQKHFLGRVHPEHQHItFLRGHIDPtOLDV
22
A última etapa do processo de regularização ocorre após os procedimentos de desintru-
são do território. O título é coletivo, pró-indiviso e em nome das associações que legalmente
UHSUHVHQWDPDVFRPXQLGDGHVTXLORPERODV1mRKi{QXVÀQDQFHLURSDUDDVFRPXQLGDGHVH
obriga-se a inserção de cláusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e de impenhorabilida-
de no título, o qual deverá ser registrado no Serviço Registral da comarca de localização do
território. Devido às diferenças de normatização, alguns títulos emitidos antes de 2004, pela
Fundação Cultural Palmares, ainda se encontram na fase de desintrusão.
Antes da vigência do Decreto nº 4.887/ 2003, de 1995 a 2004, o INCRA expediu 54 títu-
los, regularizando 50 territórios quilombolas. Esses títulos foram expedidos por: INCRA (8),
ITERPA (20), FCP (14), FCP/INTERBA/CDA-BA (2), ITESP (5), ITERMA (4), SEHAF-RJ (1).
A partir de 2004, quando a competência passou ao INCRA, pelo Decreto 4887/2003, foram
expedidos 48 títulos regularizando 45 territórios quilombolas.
A partir de 2004, quando a competência passou ao INCRA pelo Decreto nº 4.887/ 2003,
foram expedidos 36 títulos por: INCRA (2), SPU (2), ITERMA (16), ITERPA (12), INTERPI (3)
e ITESP (1), estes últimos, os institutos de terra estaduais conveniados com o INCRA15.
Em 2008, houve um relativo aumento dos títulos emitidos, em comparação com o exer-
cício anterior. Entretanto, é fundamental haver uma ampliação e fortalecimento dos procedi-
PHQWRVGHUHJXODUL]DomRIXQGLiULDSRLVDLQGDH[LVWHPPXLWRVFRQÁLWRVIXQGLiULRVMXUtGLFRVH
SROtWLFRVDOpPGDHVWUXWXUDUHVWULWDGRVyUJmRVÀQDOtVWLFRVTXHVHFRQVWLWXHPFRPRGHVDÀRV
a serem superados para uma implementação mais efetiva desse direito fundamental às co-
munidades quilombolas brasileiras.
15
Incra. DFQ.
16
Incra. DFQ.
23
24
V - Políticas Públicas voltadas às Comunidades Quilombolas
A) Programa Brasil Quilombola
25
senvolvimento, além de garantir a reprodução físicas, sociais e culturais de cada
comunidade;
,QIUD(VWUXWXUDH6HUYLoRV – consolidação de mecanismos efetivos para desti-
nação de obras de infra-estrutura e construção de equipamentos sociais destina-
dos a atender as demandas;
'HVHQYROYLPHQWR (FRQ{PLFR H 6RFLDO – modelo de desenvolvimento local,
baseado nas características territoriais e na identidade coletiva, visando a sus-
tentabilidade ambiental, social, cultural, econômica e política;
&RQWUROHH3DUWLFLSDomR6RFLDO – estímulo à participação ativa dos representan-
tes quilombolas nos fóruns locais e nacionais de políticas públicas, promovendo o
VHXDFHVVRDRFRQMXQWRGDVDo}HVGHÀQLGDVSHORJRYHUQRHVHXHQYROYLPHQWRQR
monitoramento daquelas que são implementadas em cada município brasileiro.
O Programa Brasil Quilombola está ancorado no Artigo 68º do ADCT, que garante o direito
à propriedade de suas terras, nos artigos 215º e 216º da Constituição Federal, que garantem o
direito à preservação de sua própria cultura, na Convenção nº 169 da OIT que dentre os seus
SRQWRVWUD]RGLUHLWRjDXWRGHÀQLomRQR'HFUHWRQGHQRYHPEURGHTXHGLYLGHD
UHVSRQVDELOLGDGHGDUHJXODUL]DomRIXQGLiULDGHWHUUDVGHTXLORPERVHGHÀQHDVUHVSRQVDELOLGD-
des do INCRA/ MDA, SEPPIR e FCP/ Minc, e na Instrução Normativa nº 49 do INCRA.
26
i) Apoio à ampliação e melhoria da rede física escolar nas comunidades remanescentes
de quilombos, todas as três a cargo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa-
ção (FNDE) e do Ministério da Educação.
Para além do previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA), o PBQ possui execução de
ações de outros órgãos, que, somadas, ampliam o panorama de execução do Programa. No
exercício de 2007, ao somarmos os investimentos nas ações de saneamento do PAC FUNA-
SA Quilombola, do Programa Luz para Todos, do Programa Saúde da Família, dos projetos
de desenvolvimento local e inclusão de renda, dentre outros, chega-se a um montante de R$
198.720.206,56.
Em 2008, esse investimento amplo (LOA acrescida das demais ações do PBQ) foi de
R$ 256.592.588,68 em valores empenhados e de R$ 211.400.246,98 em valores pagos. Es-
sas ações representam o somatório de programas como o Luz para Todos, o PAC FUNASA
Quilombola, as ações de educação quilombola, de assistência e desenvolvimento social, de
inclusão produtiva e desenvolvimento local, dentre outras17.
27
da ASQ são acesso à terra, infra-estrutura e qualidade de vida, inclusão produtiva e desen-
volvimento local e direitos de cidadania.
Esta ação garante a inserção das comunidades quilombolas em outro grande esforço
de inclusão do Governo Federal, o Programa Territórios da Cidadania, que prevê inúmeras
ações e investimentos nas regiões com os mais baixos índices de desenvolvimento huma-
no. Constitui-se como uma articulação focada para a melhoria das condições de vida dos
brasileiros que historicamente se encontram à margem do acesso à terra, educação, saúde,
emprego, saúde e cultura. Serão atendidas 1.739 comunidades quilombolas, localizadas em
330 municípios de 22 estados brasileiros.
INCRA/MDA
2008 – 2011
Ação: Reconhecimento, demarcação e titulação da terra
Metas 713 relatórios
Orçamento 35.600.000,00
$omR3DJDPHQWRGHLQGHQL]DomRDRVRFXSDQWHVGDVWHUUDVGHPDUFDGDVHWLWXODGDV
Metas Ki
Orçamento (R$) 264.682.234,00
INCRA/MDA
Para as comunidades iniciarem o processo de regularização fundiária devem remeter à
Superintendência Estadual do INCRA solicitação formal, das associações representativas da
comunidade, informando que desejam dar início ao processo.
$FHUWLÀFDomRGDVFRPXQLGDGHVTXLORPERODVVHUiHPLWLGDPHGLDQWHRVSURFHGLPHQWRVGD
Portaria nº 98, de 26 de novembro de 2007. As solicitações das comunidades quilombolas
deverão ser remetidas à Fundação Cultural Palmares, juntamente com os documentos solici-
tados na portaria supracitada.
28
Infra-estrutura e Qualidade de Vida
Promoção da Saúde
Cobrir a totalidade dos 47 municípios destacados na Agenda Social Quilombola é a meta
na área da saúde. Através de convênios com as prefeituras, o Governo Federal vai possibi-
litar o atendimento da população pelos programas de Saúde da Família e de Saúde Bucal19.
(TXLSHVGHSURÀVVLRQDLVGHVD~GHIDUmRDWHQGLPHQWRVGLUHWDPHQWHQDVFRPXQLGDGHVRTXH
confere respeito aos saberes e hábitos tradicionais.
Ministério da Saúde
2008 – 2011
$omR3URJUDPDGH6D~GHGD)DPtOLDH3URJUDPDGH6D~GH%XFDO
Metas 47 Municípios
Orçamento (R$) 193.116.032,00
Ação: Atenção à Saúde das Populações Quilombolas
Orçamento (R$) 4.587.426,00
Na área de saneamento básico, 548 comunidades serão contempladas com obras e ins-
talações para abastecimento de água potável encanada e melhorias sanitárias domiciliares a
serem implementadas pela FUNASA.
)81$6$
2008 – 2011
$omRDEDVWHFLPHQWRGHiJXDHPHOKRULDVVDQLWiULDVGRPLFLOLDUHV
Metas 548 comunidades
Orçamento (R$) 172.000.000,00
Educação Quilombola
O fortalecimento do ensino e aprendizagem de crianças, jovens e adultos quilombolas é
a principal meta de educação. Serão distribuídos 280 mil exemplares de materiais didáticos
com conteúdos relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira, como determina
a Lei nº 10.639/ 2003. Ainda como estratégia de implementação deste instrumento legal, ha-
verá a capacitação de 5.400 professores da rede pública de ensino fundamental.
A melhoria das instalações escolares é outra meta da Agenda Social Quilombola para a
educação. Serão construídas, a partir da elaboração de propostas de convênios com gover-
nos municipais e estaduais, cerca de 950 salas de aula para suprir a demanda dos estudan-
tes quilombolas.
19
Disponível no site www.palmares.gov.br, nos links: Institucional e Legislação.
29
Ministério da Educação
2008 – 2011
$omR'LVWULEXLomRGHPDWHULDOGLGiWLFRH&DSDFLWDomRGHSURIHVVRUHVGDHGXFDomREiVLFD
280.000 exemplares para 105 municípios
Metas
5.400 professores de 183 municípios capacitados
Orçamento (R$) 19.166.640,00
Ação: Construção de salas de aula em comunidades
Metas 948 salas de aula
Orçamento (R$) 69.415.868,00
$OIDEHWL]DomR
A universalização do acesso à alfabetização, dentre elas o projeto Quilombola Venha Ler
e Escrever21 e o Brasil Alfabetizado22, do MEC, proporcionarão a inserção de jovens e adultos
quilombolas ao mundo do conhecimento e da informação.
6(33,5)1'(0(&²3HWUREUiV²(OHWUREUiV
2008 – 2011
$omR8QLYHUVDOL]DomRGRDFHVVRjDOIDEHWL]DomR
Metas 120.000 alfabetizandos
Orçamento (R$) 109.510.992,00
/X]SDUD7RGRV
Levar energia elétrica para toda a área rural, incluindo as comunidades remanescentes
GHTXLORPERVWHPVLGRRREMHWLYRGR3URJUDPD/X]SDUD7RGRV$SUHYLVmRp]HUDURGpÀFLW
existente até 2008, expandindo para todos os brasileiros o serviço de energia elétrica.
20
No Anexo deste documento, consta o formulário padrão para celebração de convênios.
21
Ação integrada do MEC, SEPPIR, Eletronorte e Petrobrás, em parceria com organizações não governamentais e associações quilombolas.z
22
As parcerias para execução do Programa poderão ser feitos mediante convênio de governos municipais e estaduais. Os projetos de con-
vênio poderão ser enviados à coordenação de educação de jovens e adultos do MEC.
30
Meio Ambiente
A relação harmônica com a natureza é inata à história das comunidades quilombolas,
pois os recursos naturais garantem, por séculos, a sobrevivência alimentar dessas popula-
ções. Na Agenda Social Quilombola haverá investimento para a recuperação ambiental das
comunidades, cujos bens naturais foram reduzidos por ações externas.
&2'(9$6)0LQLVWpULRGD,QWHJUDomR1DFLRQDO
2008 – 2011
Ação: Recuperação ambiental nas comunidades
Metas 55 comunidades
Orçamento (R$) 15.853.150,00
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
Ação: Cisternas em Comunidades Quilombolas
Metas 4.888 cisternas
Orçamento (R$) 7.332.000,00
'HVHQYROYLPHQWR/RFDO
Fazer bom uso das oportunidades existentes nas comunidades é um objetivo das ações
GHIRPHQWRDRGHVHQYROYLPHQWRORFDOHjLQFOXVmRSURGXWLYDDVHUHPLGHQWLÀFDGDVHSRWHQ-
FLDOL]DGDVSRUFXUVRVHRÀFLQDVGHGHVHQYROYLPHQWRHFRQ{PLFRHVRFLDOHJHUDomRGHUHQGD
Serão atendidas mais de 2.800 comunidades quilombolas com iniciativas de incentivo ao
desenvolvimento sustentável.
6(33,5H0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR$JUiULR
2008 – 2011
$omR)RPHQWRDR'HVHQYROYLPHQWR/RFDOSDUD&RPXQLGDGHV4XLORPERODV
Metas 2.820 comunidades
31
WUDGLFLRQDLVFRPRDVTXLORPERODV9LVDURPSHUDJUDQGHGLÀFXOGDGHHQFRQWUDGDSRUPXLWRV
pequenos produtores para escoarem sua produção.
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
$omR$TXLVLomRGH$OLPHQWRV3URYHQLHQWHVGD$JULFXOWXUD)DPLOLDU3URJUDPDGH$TXLVLomRGH$OLPHQWRV
Orçamento (R$) 32.000.000,00
Cidadania
A participação ativa dos representantes dos quilombolas em esferas de formulação, nego-
ciação e proposição política também receberá investimento dos governos Federal, estaduais,
do Distrito Federal, iniciativa privada e sociedade civil. A proposta é fomentar a participação
e o controle social dos quilombolas, visando a aplicação dos direitos sociais e de cidadania.
SEPPIR
2008 – 2011
$omR)RUPDomRSDUDRIRUWDOHFLPHQWRGDJHVWmRGHPRFUiWLFD
7UDQVIHUrQFLDGH5HQGDH$VVLVWrQFLD6RFLDO
A universalização do Programa Bolsa Família25 entre os quilombolas é outra meta da
Agenda Social Quilombola. Serão milhares de famílias com incentivo do Governo Federal
para cobrir as despesas com educação, saúde, alimentação e do orçamento doméstico em
JHUDO(QWUHRVEHQHÀFLiULRVGHFHVWDVGHDOLPHQWRVR*RYHUQR)HGHUDODOPHMDH[SDQGLUD
cobertura para mais 33.500 famílias quilombolas, ano a ano, até 2010.
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
$omR3URJUDPD%ROVD)DPtOLD
Metas 1.160 municípios
Orçamento (R$) 165.200.000,00
25
A gestão municipal é responsável pela transmissão das informações cadastrais do Cadastro Único – CADÚNICO, ao MDS para que sejam
priorizadas as famílias quilombolas. É fundamental, para isso, informar no cadastro que as famílias são quilombolas. O Cadastro Único é o
princípio para acesso ao PBF, e também a outros, como a Tarifa Social da Energia Elétrica.
32
A distribuição de cestas alimentares26 constitui uma ação emergencial para famílias e
comunidades em situação de vulnerabilidade do ponto de vista nutricional.
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
Ação: Distribuição de cestas de alimentos
Metas IDPtOLDV
Orçamento (R$) 57.120.000,00
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
$omR3$,)²&HQWURGH5HIHUrQFLDHP$VVLVWrQFLD6RFLDO
Metas 856 Municípios
Orçamento (R$) 23.000.000,00
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
$omR%HQHItFLRGH3UHVWDomR&RQWLQXDGD
Metas QRYRVEHQHItFLRV
Orçamento (R$) 706.800.000,00
,PSRUWDQWHPHFDQLVPRSDUDLGHQWLÀFDUDVLWXDomRDOLPHQWDUHQXWULFLRQDOGRVTXLORPER-
las, a Chamada Nutricional Quilombola tem revelado quadros de extrema pobreza e compro-
metimento do desenvolvimento físico dessa população. Novas pesquisas serão realizadas, a
ÀPGHJHUDUVXEVtGLRVSDUDSROtWLFDVS~EOLFDVTXHRSRUWXQL]HPXPDDOLPHQWDomRVDXGiYHOH
garanta as condições básicas de nutrição dos quilombolas.
0LQLVWpULRGR'HVHQYROYLPHQWR6RFLDOH&RPEDWHj)RPH
2008 – 2011
Ação: Chamada Nutricional Quilombola
Metas HYHQWRVH
Orçamento (R$) 800.000,00
26
As ações de distribuições de cestas poderão ser acessadas por meio de diagnóstico realizado pela SEPPIR e/ou FCP sobre a situação
nutricional das comunidades quilombolas e posterior envio à SESAN/MDS, que encaminha as cestas.
27
2&5$6pXPGRVSURJUDPDVTXHpDFHVVDGRSRUSHVVRDVFDGDVWUDGDVQR&DGÔQLFRHTXHWHQKDPRSHUÀOGHOLPLWDGRSDUDHVVHSUR-
grama. Para a implantação do CRAS, a contrapartida do governo municipal é disponibilizar espaço físico público e mobiliário para funcio-
QDPHQWR20'6ÀQDQFLDRIXQFLRQDPHQWRGR3$,)HGR&5$6$VSDUFHULDVSDUDR3$,)&5$6SRGHPVHUIHLWDVSRUPHLRGH&RQYrQLR
do município com o MDS.
28
3DUDDFHVVDURVUHFXUVRVGR%3&pQHFHVViULRTXHVHMDIHLWDDLGHQWLÀFDomRGRVSRVVtYHLVEHQHÀFLiULRVDWUDYpVGRV&5$6QRV
municípios.
33
34
VI – Considerações Finais
29
O orçamento apresentado para os anos de 2007 e 2008 não incorpora a totalidade das ações implementadas nas comunidades quilom-
ERODVQR3DtVSRVWRTXHDOJXPDVDo}HVQmRSRVVXHPGHVFULomRRUoDPHQWiULDHVSHFtÀFDGDVDo}HVTXLORPERODV
35
Programa Brasil Quilombola
Contatos
SEPPIR – Secretaria Especial
SUBCOM - Subsecretaria
de Políticas de Promoção
de Políticas para Tel: (61) 3411-3628
da Igualdade Racial
Comunidades Tradicionais
www.planalto.gov.br/seppir
Coordenação de Educação
Previdenciária Tel: (61) 3313-4368/4974
INSS – Instituto Nacional
Educação.previdenciária@
de Seguridade Social
previdenciária.gov.br
www.previdenciasocial.gov.br
DIRBEN – Diretoria Tel: (61) 3313-4430
de Benefícios
Departamento de Assuntos
MC – Ministério das Cidades www Fundiários Urbanos e Tel: (61) 2108-1347
Prevenção de Riscos
Assessoria Especial
MDA – Ministério do do Ministro
Tel: (61) 2191-9641
Desenvolvimento Agrário
www.mda.gov.br/aegre PPIGRE – Programa de
Tel: (61) 2191-9845
Promoção da Igualdade de
Gênero, Raça e Etnia
36
(61) 3433-1180
MDS – Ministério do SESAN – Secretaria
Desenvolvimento Social Nacional de Segurança
www.mds.gov.br Alimentar e Nutricional
SNAS – Secretaria Nacional
de Assistência Social
DAB - Departamento de
(61) 3315-2898
MS – Ministério da Saúde Atenção Básica
www.saude.gov.br
FUNASA – Fundação
(61) 3314-6586
Nacional da Saúde
37
MTE Ministério do Trabalho Tel: (61) 3317-6533/6534
Secretaria Nacional
e Emprego
de Economia Solidária
www.mte.gov.br
Subsecretaria de Execução
SEPM – Secretaria Especial de
de Programas e Ações
Políticas para Mulheres
Temáticas
www.presidencia.gov.br/sepm
Assessoria
Subsecretaria de
Planejamento, Monitoração
e Avaliação
38
39
DECRETO Nº 4.887, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2003.
5HJXODPHQWDRSURFHGLPHQWRSDUDLGHQWLÀFDomRUHFRQKHFLPHQ-
to, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o
art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, incisos
IV e VI, alínea “a”, da Constituição e de acordo com o disposto no art. 68 do Ato das Disposi-
ções Constitucionais Transitórias,
DECRETA:
$UWR2VSURFHGLPHQWRVDGPLQLVWUDWLYRVSDUDDLGHQWLÀFDomRRUHFRQKHFLPHQWRDGH-
OLPLWDomRDGHPDUFDomRHDWLWXODomRGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYDGDVWHUUDVRFXSDGDVSRUUH-
manescentes das comunidades dos quilombos, de que trata o art. 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, serão procedidos de acordo com o estabelecido neste Decreto.
$UWR&RQVLGHUDPVHUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGRVTXLORPERVSDUDRVÀQV
deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória
KLVWyULFDSUySULDGRWDGRVGHUHODo}HVWHUULWRULDLVHVSHFtÀFDVFRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGD-
de negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.
R3DUDRVÀQVGHVWH'HFUHWRDFDUDFWHUL]DomRGRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHV
GRVTXLORPERVVHUiDWHVWDGDPHGLDQWHDXWRGHÀQLomRGDSUySULDFRPXQLGDGH
§ 2o São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utili-
zadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.
§ 3o Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração critérios
de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo fa-
cultado à comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução procedimental.
Art. 3o Compete ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Na-
FLRQDOGH&RORQL]DomRH5HIRUPD$JUiULD,1&5$DLGHQWLÀFDomRUHFRQKHFLPHQWRGHOLPL-
tação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades
dos quilombos, sem prejuízo da competência concorrente dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios.
R2,1&5$GHYHUiUHJXODPHQWDURVSURFHGLPHQWRVDGPLQLVWUDWLYRVSDUDLGHQWLÀFDomR
reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescen-
tes das comunidades dos quilombos, dentro de sessenta dias da publicação deste Decreto.
R 3DUD RV ÀQV GHVWH 'HFUHWR R ,1&5$ SRGHUi HVWDEHOHFHU FRQYrQLRV FRQWUDWRV
acordos e instrumentos similares com órgãos da administração pública federal, estadual,
municipal, do Distrito Federal, organizações não-governamentais e entidades privadas, ob-
servada a legislação pertinente.
40
§ 3o O procedimento administrativo será iniciado de ofício pelo INCRA ou por requeri-
mento de qualquer interessado.
R$DXWRGHÀQLomRGHTXHWUDWDRRGRDUWRGHVWH'HFUHWRVHUiLQVFULWDQR&DGDV-
tro Geral junto à Fundação Cultural Palmares, que expedirá certidão respectiva na forma do
regulamento.
Art. 4o Compete à Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
da Presidência da República, assistir e acompanhar o Ministério do Desenvolvimento Agrá-
rio e o INCRA nas ações de regularização fundiária, para garantir os direitos étnicos e territo-
riais dos remanescentes das comunidades dos quilombos, nos termos de sua competência
OHJDOPHQWHÀ[DGD
Art. 5o Compete ao Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares, as-
sistir e acompanhar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o INCRA nas ações de regula-
rização fundiária, para garantir a preservação da identidade cultural dos remanescentes das
comunidades dos quilombos, bem como para subsidiar os trabalhos técnicos quando houver
FRQWHVWDomRDRSURFHGLPHQWRGHLGHQWLÀFDomRHUHFRQKHFLPHQWRSUHYLVWRQHVWH'HFUHWR
Art. 6o Fica assegurada aos remanescentes das comunidades dos quilombos a partici-
pação em todas as fases do procedimento administrativo, diretamente ou por meio de repre-
sentantes por eles indicados.
Art. 7o2,1&5$DSyVFRQFOXLURVWUDEDOKRVGHFDPSRGHLGHQWLÀFDomRGHOLPLWDomRH
levantamento ocupacional e cartorial, publicará edital por duas vezes consecutivas no Diário
2ÀFLDOGD8QLmRHQR'LiULR2ÀFLDOGDXQLGDGHIHGHUDGDRQGHVHORFDOL]DDiUHDVREHVWXGR
contendo as seguintes informações:
I - denominação do imóvel ocupado pelos remanescentes das comunidades dos quilombos;
II - circunscrição judiciária ou administrativa em que está situado o imóvel;
III - limites, confrontações e dimensão constantes do memorial descritivo das terras a
serem tituladas; e
IV - títulos, registros e matrículas eventualmente incidentes sobre as terras consideradas
suscetíveis de reconhecimento e demarcação.
§ 1o$SXEOLFDomRGRHGLWDOVHUiDÀ[DGDQDVHGHGDSUHIHLWXUDPXQLFLSDORQGHHVWiVLWX-
ado o imóvel.
§ 2o2,1&5$QRWLÀFDUiRVRFXSDQWHVHRVFRQÀQDQWHVGDiUHDGHOLPLWDGD
Art. 8o$SyVRVWUDEDOKRVGHLGHQWLÀFDomRHGHOLPLWDomRR,1&5$UHPHWHUiRUHODWyULR
técnico aos órgãos e entidades abaixo relacionados, para, no prazo comum de trinta dias,
opinar sobre as matérias de suas respectivas competências:
I - Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional - IPHAN;
II - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
III - Secretaria do Patrimônio da União, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
IV - Fundação Nacional do Índio - FUNAI;
V - Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional;
VI - Fundação Cultural Palmares.
41
Parágrafo único. Expirado o prazo e não havendo manifestação dos órgãos e entidades,
dar-se-á como tácita a concordância com o conteúdo do relatório técnico.
Art. 9o Todos os interessados terão o prazo de noventa dias, após a publicação e
QRWLÀFDo}HVDTXHVHUHIHUHRDUWo, para oferecer contestações ao relatório, juntando as
provas pertinentes.
Parágrafo único. Não havendo impugnações ou sendo elas rejeitadas, o INCRA concluirá
o trabalho de titulação da terra ocupada pelos remanescentes das comunidades dos quilombos.
Art. 10. Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilom-
bos incidirem em terrenos de marinha, marginais de rios, ilhas e lagos, o INCRA e a Secreta-
ria do Patrimônio da União tomarão as medidas cabíveis para a expedição do título.
Art. 11. Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilom-
bos estiverem sobrepostas às unidades de conservação constituídas, às áreas de seguran-
ça nacional, à faixa de fronteira e às terras indígenas, o INCRA, o IBAMA, a Secretaria-Exe-
cutiva do Conselho de Defesa Nacional, a FUNAI e a Fundação Cultural Palmares tomarão
as medidas cabíveis visando garantir a sustentabilidade destas comunidades, conciliando
o interesse do Estado.
Art. 12. Em sendo constatado que as terras ocupadas por remanescentes das comuni-
dades dos quilombos incidem sobre terras de propriedade dos Estados, do Distrito Federal
ou dos Municípios, o INCRA encaminhará os autos para os entes responsáveis pela titulação.
Art. 13. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos
quilombos título de domínio particular não invalidado por nulidade, prescrição ou comisso, e
QHPWRUQDGRLQHÀFD]SRURXWURVIXQGDPHQWRVVHUiUHDOL]DGDYLVWRULDHDYDOLDomRGRLPyYHO
objetivando a adoção dos atos necessários à sua desapropriação, quando couber.
§ 1o3DUDRVÀQVGHVWH'HFUHWRR,1&5$HVWDUiDXWRUL]DGRDLQJUHVVDUQRLPyYHOGHSUR-
priedade particular, operando as publicações editalícias do art. 7o efeitos de comunicação prévia.
§ 2o O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de desapropriação, com obrigató-
ria disposição de prévio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do título de propriedade,
mediante levantamento da cadeia dominial do imóvel até a sua origem.
$UW9HULÀFDGDDSUHVHQoDGHRFXSDQWHVQDVWHUUDVGRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPX-
nidades dos quilombos, o INCRA acionará os dispositivos administrativos e legais para o
reassentamento das famílias de agricultores pertencentes à clientela da reforma agrária ou a
indenização das benfeitorias de boa-fé, quando couber.
Art. 15. Durante o processo de titulação, o INCRA garantirá a defesa dos interesses dos
remanescentes das comunidades dos quilombos nas questões surgidas em decorrência da
titulação das suas terras.
Art. 16. Após a expedição do título de reconhecimento de domínio, a Fundação Cultural
Palmares garantirá assistência jurídica, em todos os graus, aos remanescentes das comuni-
dades dos quilombos para defesa da posse contra esbulhos e turbações, para a proteção da
LQWHJULGDGHWHUULWRULDOGDiUHDGHOLPLWDGDHVXDXWLOL]DomRSRUWHUFHLURVSRGHQGRÀUPDUFRQYr-
nios com outras entidades ou órgãos que prestem esta assistência.
42
Parágrafo único. A Fundação Cultural Palmares prestará assessoramento aos órgãos
da Defensoria Pública quando estes órgãos representarem em juízo os interesses dos rema-
nescentes das comunidades dos quilombos, nos termos do ART. 134 DA CONSTITUIÇÃO.
Art. 17. A titulação prevista neste Decreto será reconhecida e registrada mediante outor-
ga de título coletivo e pró-indiviso às comunidades a que se refere o art. 2o, caput, com obri-
gatória inserção de cláusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e de impenhorabilidade.
Parágrafo único. As comunidades serão representadas por suas associações legal-
mente constituídas.
Art. 18. Os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos
TXLORPERVHQFRQWUDGRVSRURFDVLmRGRSURFHGLPHQWRGHLGHQWLÀFDomRGHYHPVHUFRPXQLFD-
dos ao IPHAN.
3DUiJUDIR~QLFR$)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVGHYHUiLQVWUXLURSURFHVVRSDUDÀQVGHUH-
gistro ou tombamento e zelar pelo acautelamento e preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Art. 19. Fica instituído o Comitê Gestor para elaborar, no prazo de noventa dias, plano
de etnodesenvolvimento, destinado aos remanescentes das comunidades dos quilombos,
integrado por um representante de cada órgão a seguir indicado:
I - Casa Civil da Presidência da República;
II - Ministérios:
a) da Justiça;
b) da Educação;
c) do Trabalho e Emprego;
d) da Saúde;
e) do Planejamento, Orçamento e Gestão;
f) das Comunicações;
g) da Defesa;
h) da Integração Nacional;
i) da Cultura;
j) do Meio Ambiente;
k) do Desenvolvimento Agrário;
l) da Assistência Social;
m) do Esporte;
n) da Previdência Social;
o) do Turismo;
p) das Cidades;
III - do Gabinete do Ministro de Estado Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate
à Fome;
IV - Secretarias Especiais da Presidência da República:
a) de Políticas de Promoção da Igualdade Racial;
b) de Aqüicultura e Pesca; e
c) dos Direitos Humanos.
43
§ 1o O Comitê Gestor será coordenado pelo representante da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
§ 2o Os representantes do Comitê Gestor serão indicados pelos titulares dos órgãos
referidos nos incisos I a IV e designados pelo Secretário Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial.
§ 3o A participação no Comitê Gestor será considerada prestação de serviço público
relevante, não remunerada.
$UW 3DUD RV ÀQV GH SROtWLFD DJUtFROD H DJUiULD RV UHPDQHVFHQWHV GDV FRPXQLGD-
des dos quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento preferencial, assistência
WpFQLFDHOLQKDVHVSHFLDLVGHÀQDQFLDPHQWRGHVWLQDGRVjUHDOL]DomRGHVXDVDWLYLGDGHV
produtivas e de infra-estrutura.
Art. 21. As disposições contidas neste Decreto incidem sobre os procedimentos adminis-
trativos de reconhecimento em andamento, em qualquer fase em que se encontrem.
Parágrafo único. A Fundação Cultural Palmares e o INCRA estabelecerão regras de
transição para a transferência dos processos administrativos e judiciais anteriores à publica-
ção deste Decreto.
Art. 22. A expedição do título e o registro cadastral a ser procedido pelo INCRA far-se-ão
sem ônus de qualquer espécie, independentemente do tamanho da área.
Parágrafo único. O INCRA realizará o registro cadastral dos imóveis titulados em favor
GRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGRVTXLORPERVHPIRUPXOiULRVHVSHFtÀFRVTXHUHVSHL-
tem suas características econômicas e culturais.
Art. 23. As despesas decorrentes da aplicação das disposições contidas neste Decreto
correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas na lei orçamentária anual para tal
ÀQDOLGDGHREVHUYDGRVRVOLPLWHVGHPRYLPHQWDomRHHPSHQKRHGHSDJDPHQWR
Art. 24. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 25. Revoga-se o Decreto no 3.912, de 10 de setembro de 2001.
Brasília, 20 de novembro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
44
,QVWUXomR1RUPDWLYDQGHGH6HWHPEURGH
5HJXODPHQWDRSURFHGLPHQWRSDUDLGHQWLÀFDomRUHFRQKHFLPHQ-
to, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das
terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos qui-
lombos de que tratam o Art. 68 do Ato das Disposições Constitu-
cionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 e o Decreto
nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.
235(6,'(17('2,167,78721$&,21$/'(&2/21,=$d®2(5()250$$*5É
RIA, no uso das atribuições que lhe conferem o art. 20, inciso VII, do Anexo I, do Decreto
nº 5.735, de 27 de março de 2006, e art. 110, inciso IX, do Regimento Interno da Autarquia,
aprovado pela Portaria nº 69, de 19 de outubro de 2006, do Ministro de Estado do Desenvolvi-
mento Agrário, e tendo em vista o disposto no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e no Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, resolve:
OBJETIVO
$UW(VWDEHOHFHUSURFHGLPHQWRVGRSURFHVVRDGPLQLVWUDWLYRSDUDLGHQWLÀFDomRUHFR-
nhecimento, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas
pelos remanescentes de comunidades dos quilombos.
)81'$0(17$d®2/(*$/
Art. 2º. As ações objeto da presente Instrução Normativa têm como fundamento legal:
I - art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal;
II - arts. 215 e 216 da Constituição Federal;
III - Lei nº 4.132, de 10 de setembro de 1962;
IV - Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999;
V - Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964;
VI - Decreto nº 59.428, de 27 de outubro de 1966;
VII - Decreto nº 433, de 24 de janeiro de 1992;
VIII- Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993;
IX - Medida Provisória nº 2.183-56, de 24 de agosto de 2001;
X - Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001;
XI - Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003;
XII - Convenção Internacional nº 169, da Organização Internacional do Trabalho sobre
povos indígenas e tribais, promulgada pelo Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004;
XIII - Lei nº 10.678, de 23 de maio de 2003;
XIV - Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007;
XV - Convenção sobre Biodiversidade Biológica, promulgada pelo Decreto nº 2.519, de
16 de março de 1998;
45
CONCEITUAÇÕES
Art. 3º. Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos os grupos ét-
QLFRUDFLDLVVHJXQGRFULWpULRVGHDXWRGHÀQLomRFRPWUDMHWyULDKLVWyULFDSUySULDGRWDGRVGH
UHODo}HVWHUULWRULDLVHVSHFtÀFDVFRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGDGHQHJUDUHODFLRQDGDFRPD
resistência à opressão histórica sofrida.
Art. 4º. Consideram-se terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilom-
bos toda a terra utilizada para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.
COMPETÊNCIA
Art. 5º. Compete ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA a
LGHQWLÀFDomRRUHFRQKHFLPHQWRDGHOLPLWDomRDGHPDUFDomRDGHVLQWUXVmRDWLWXODomRHR
registro imobiliário das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilom-
bos, sem prejuízo da competência comum e concorrente dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
&(57,),&$d®2
Art. 6º. A caracterização dos remanescentes das comunidades de quilombos será ates-
WDGDPHGLDQWHDXWRGHÀQLomRGDFRPXQLGDGH
3DUiJUDIR~QLFR$DXWRGHÀQLomRGDFRPXQLGDGHVHUiFHUWLÀFDGDSHOD)XQGDomR&XOWXUDO
Palmares, mediante Certidão de Registro no Cadastro Geral de Remanescentes de Comu-
nidades de Quilombos do referido órgão, nos termos do § 4º, do art. 3º, do Decreto nº 4.887,
de 20 de novembro de 2003.
46
,'(17,),&$d®2('(/,0,7$d®2
$UW2HVWXGRHDGHÀQLomRGDWHUUDUHLYLQGLFDGDVHUmRSUHFHGLGRVGHUHXQL}HVFRPD
comunidade e Grupo Técnico interdisciplinar, nomeado pela Superintendência Regional do
INCRA, para apresentação dos procedimentos que serão adotados.
$UW$LGHQWLÀFDomRGRVOLPLWHVGDVWHUUDVGDVFRPXQLGDGHVUHPDQHVFHQWHVGHTXLORP-
bos a que se refere o art. 4º, a ser feita a partir de indicações da própria comunidade, bem
FRPRDSDUWLUGHHVWXGRVWpFQLFRVHFLHQWtÀFRVLQFOXVLYHUHODWyULRVDQWURSROyJLFRVFRQVLVWLUi
na caracterização espacial, econômica, ambiental e sociocultural da terra ocupada pela co-
PXQLGDGHPHGLDQWH5HODWyULR7pFQLFRGH,GHQWLÀFDomRH'HOLPLWDomR57,'FRPHODERUDomR
a cargo da Superintendência Regional do INCRA, que o remeterá, após concluído, ao Comitê
de Decisão Regional, para decisão e encaminhamentos subseqüentes.
47
2. a caracterização do(s) município(s) e região com sua denominação, localização e
LQIRUPDo}HVFHQVLWiULDVFRPGDGRVGHPRJUiÀFRVVyFLRHFRQ{PLFRVHIXQGLiULRV
entre outros;
4. indicação, caso haja, dos sítios que contenham reminiscências históricas dos antigos
quilombos, assim como de outros sítios considerados relevantes pelo grupo;
GRUJDQL]DomRVRFLDOFRQWHQGR
LGHQWLÀFDomRHFDUDFWHUL]DomRGRVVLQDLVGLDFUtWLFRVGDLGHQWLGDGHpWQLFDGRJUXSR
48
LGHQWLÀFDomRHDQiOLVHGDVIRUPDVGHFRQVWUXomRHFULWpULRVGRSHUWHQFLPHQWRHIURQ-
teiras sociais do grupo;
LGHQWLÀFDomRGDVFLUFXQVWkQFLDVTXHOHYDUDPDHYHQWXDOVHFHVVmRRXUHDJUXSDPHQ-
to do Grupo;
6. levantamento, a partir do percurso histórico vivido pelas gerações anteriores, das ma-
nifestações de caráter cosmológico, religioso e festivo, atividades lúdico-recreativas
em sua relação com a terra utilizada, os recursos naturais, as atividades produtivas e
o seu calendário;
7. levantamento das práticas tradicionais de caráter coletivo e sua relação com a ocupação
DWXDOGDiUHDLGHQWLÀFDQGRWHUUDVGHVWLQDGDVjPRUDGLDHVSDoRVGHVRFLDELOLGDGHGHV-
tinados às manifestações culturais, atividades de caráter social, político e econômico,
demonstrando as razões pelas quais são importantes para a manutenção da memória e
identidade do grupo e de outros aspectos coletivos próprios da comunidade;
2. análise da lógica de apropriação das áreas nas quais vive o grupo, considerando as
informações agronômicas e ecológicas da área reivindicada pelas comunidades rema-
nescentes de quilombo;
LGHQWLÀFDomRHH[SOLFLWDomRGDIRUPDGHRFXSDomRTXDQWRDRVHXFDUiWHUWUDGLFLRQDOHYL-
denciando as unidades de paisagem disponíveis no presente e no plano da memória do
grupo, bem como seus usos, necessários à reprodução física, social, econômica e cultural;
49
GHVFULomRGDVDWLYLGDGHVSURGXWLYDVGHVHQYROYLGDVSHODFRPXQLGDGHFRPDLGHQWLÀFD-
omRORFDOL]DomRHGLPHQVmRGDViUHDVHHGLÀFDo}HVXWLOL]DGDVSDUDHVWHÀP
LGHQWLÀFDomRHGHVFULomRGDViUHDVLPSUHVFLQGtYHLVjSUHVHUYDomRGRVUHFXUVRVQHFHV-
sários ao bem estar econômico e cultural da comunidade e explicitação de suas razões;
LGHQWLÀFDomRHGHVFULomRGDViUHDVLPSUHVFLQGtYHLVjSURWHomRGRVUHFXUVRVQDWXUDLV
tais como áreas de preservação permanente, reserva legal e zonas de amortecimen-
to das unidades de conservação.
IFRQFOXVmRFRQWHQGR
1. proposta de delimitação da terra, tendo como base os estudos previstos neste inciso I;
SODQWDGDiUHDSURSRVWDTXHLQFOXDLQIRUPDo}HVHLQGLFDomRFDUWRJUiÀFDGHORFDOL]D-
ção dos elementos anteriormente referidos;
GHVFULomRVLQWpWLFDGDiUHDLGHQWLÀFDGDUHODFLRQDQGRVHXVGLIHUHQWHVPDUFRVLGHQWLWi-
rios, espaços e paisagens, usos, percursos, caminhos e recursos naturais existentes,
tendo em vista a reprodução física, social e cultural do grupo, segundo seus usos,
costumes e tradições;
9OHYDQWDPHQWR H HVSHFLÀFDomR GHWDOKDGD GH VLWXDo}HV HP TXH DV iUHDV SOHLWHDGDV
estejam sobrepostas a unidades de conservação constituídas, a áreas de segurança
nacional, a áreas de faixa de fronteira, terras indígenas ou situadas em terrenos de
marinha, em outras terras públicas arrecadadas pelo INCRA ou Secretaria do Patri-
mônio da União e em terras dos estados e municípios; e
§ 2º. O Relatório de que trata o inciso I deste artigo será elaborado por especialista
que mantenha vínculo funcional com o INCRA, salvo em hipótese devidamente reco-
nhecida de impossibilidade material, quando poderá haver contratação, obedecida a
legislação pertinente.
$FRQWUDWDomRSHUPLWLGDQRSDUiJUDIRDQWHULRUQmRSRGHUiVHUÀUPDGDFRPHVSHFLD-
lista que, no interesse de qualquer legitimado no processo, mantenha ou tenha mantido
vínculo jurídico relacionado ao objeto do inciso I.
9HULÀFDGDGXUDQWHRVWUDEDOKRVSDUDDHODERUDomRGR5HODWyULRGHTXHWUDWDRFD-
51
put, qualquer questão de competência dos órgãos e entidades enumerados no art. 12, o
Superintendente Regional do INCRA deverá comunicá-los, para acompanhamento, sem
prejuízo de prosseguimento dos trabalhos.
III - autorizar que as informações obtidas no âmbito do RTID sejam utilizadas para
RXWURVÀQVH
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Art. 11. Estando em termos, o RTID será submetido à análise preliminar do Comitê de
'HFLVmR5HJLRQDOGR,1&5$TXHYHULÀFDQGRRDWHQGLPHQWRGRVFULWpULRVHVWD-
belecidos para sua elaboração, o remeterá ao Superintendente Regional, para
HODERUDomRHSXEOLFDomRGRHGLWDOSRUGXDVYH]HVFRQVHFXWLYDVQR'LiULR2ÀFLDO
GD8QLmRHQR'LiULR2ÀFLDOGDXQLGDGHIHGHUDWLYDRQGHVHORFDOL]DDiUHDVRE
estudo, contendo as seguintes informações:
52
$SXEOLFDomRVHUiDÀ[DGDQDVHGHGD3UHIHLWXUD0XQLFLSDORQGHHVWiVLWXDGRRLPy-
vel, acompanhada de memorial descritivo e mapa da área estudada.
$6XSHULQWHQGrQFLD5HJLRQDOGR,1&5$QRWLÀFDUiRVRFXSDQWHVHFRQÀQDQWHVGH-
WHQWRUHV GH GRPtQLR RX QmR LGHQWLÀFDGRV QD WHUUD SOHLWHDGD LQIRUPDQGRRV GR SUD]R
para apresentação de contestações.
1mRVHQGRYHULÀFDGRRDWHQGLPHQWRGRVFULWpULRVHVWDEHOHFLGRVSDUDDHODERUDomR
do RTID, o Comitê de Decisão Regional do INCRA o devolverá ao Coordenador do Gru-
po Técnico Interdisciplinar para sua revisão ou complementação, que, uma vez efetiva-
da, obedecerá ao rito estabelecido neste artigo.
$FRPXQLGDGHLQWHUHVVDGDHD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVVHUmRQRWLÀFDGDVGD
decisão pelo arquivamento do processo administrativo e esta será publicada, no Diário
2ÀFLDOGD8QLmRHGDXQLGDGHIHGHUDWLYDRQGHVHORFDOL]DDiUHDHVWXGDGDFRPRH[WUDWR
do Relatório, que contenha os seus fundamentos.
&2168/7$$Ð5*®26((17,'$'(6
Art. 12. Concomitantemente a sua publicação, o RTID será remetido aos órgãos e en-
tidades abaixo relacionados, para, no prazo comum de 30 (trinta) dias, apresentarem
manifestação sobre as matérias de suas respectivas competências:
53
III - Secretaria do Patrimônio da União - SPU, do Ministério do Planejamento, Orça-
mento e Gestão;
§ 4º. O INCRA terá um prazo de 30 (trinta) dias para adotar as medidas cabíveis diante
de eventuais manifestações dos órgãos e entidades.
§ 5º. Fica assegurado à comunidade interessada o acesso imediato à cópia das mani-
festações dos órgãos e entidades referidos neste artigo, bem como o acompanhamento
das medidas decorrentes das respectivas manifestações.
CONTESTAÇÕES
$UW2VLQWHUHVVDGRVWHUmRRSUD]RGHQRYHQWDGLDVDSyVDSXEOLFDomRHDVQRWLÀFD-
ções, para contestarem o RTID junto à Superintendência Regional do INCRA, juntando
as provas pertinentes.
Parágrafo único. As contestações oferecidas pelos interessados serão recebidas nos
efeitos devolutivo e suspensivo.
54
Art. 14. As contestações dos interessados indicados no art. 12 serão analisadas e julga-
das pelo Comitê de Decisão Regional do INCRA, após ouvidos os setores técnicos e a
Procuradoria Regional em prazo comum de até 180 (cento e oitenta) dias, a contar do
protocolo da contestação.
§ 2º. Se o julgamento das contestações não implicar a alteração das informações conti-
GDVQRHGLWDOGHTXHWUDWDRDUWVHUmRQRWLÀFDGRVRVLQWHUHVVDGRVTXHDVRIHUHFHUDP
Art. 15. Do julgamento das contestações caberá recurso único, com efeito apenas devo-
OXWLYRDR&RQVHOKR'LUHWRUGR,1&5$QRSUD]RGHWULQWDGLDVDFRQWDUGDQRWLÀFDomR
6HQGR SURYLGR R UHFXUVR R 3UHVLGHQWH GR ,1&5$ SXEOLFDUi QR 'LiULR 2ÀFLDO GD
União e da unidade federativa onde se localiza a área, as eventuais alterações das infor-
PDo}HVFRQWLGDVQRHGLWDOGHTXHWUDWDRDUWHQRWLÀFDUiRUHFRUUHQWH
1mRVHQGRSURYLGRRUHFXUVRR3UHVLGHQWHGR,1&5$QRWLÀFDUiGDGHFLVmRRUHFRUUHQWH
$1É/,6('$6,78$d®2)81',É5,$'$6É5($63/(,7($'$6
$UW,QFLGLQGRDVWHUUDVLGHQWLÀFDGDVHGHOLPLWDGDVSHOR57,'VREUHXQLGDGHVGHFRQ-
servação constituídas, áreas de segurança nacional, áreas de faixa de fronteira e terras
indígenas, a Superintendência Regional do INCRA deverá, em conjunto, respectivamen-
te, com o Instituto Chico Mendes, a Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Na-
cional ou a FUNAI, adotar as medidas cabíveis, visando a garantir a sustentabilidade
dessas comunidades, conciliando os interesses do Estado.
$VPDQLIHVWDo}HVTXDQWRjVPHGLGDVFDEtYHLVUHIHULGDVQRFDSXWÀFDUmRUHVWULWDV
ao âmbito de cada competência institucional.
9HULÀFDGDFRQWURYpUVLDTXDQWRjVPHGLGDVFDEtYHLVGHTXHWUDWDRFDSXWRSURFHV-
so administrativo será encaminhado:
55
de sua competência de coordenação e integração das ações do Governo, prevista no art.
2º da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003;
§ 4º. Aplica-se, no que couber, aos órgãos e entidades citados no caput e no § 1º do art.
12 o disposto neste artigo.
2VÐUJmRVHDV(QWLGDGHVGHTXHWUDWDHVWHDUWLJRGHÀQLUmRRLQVWUXPHQWRMXUtGLFR
apropriado a garantir a permanência e os usos conferidos à terra pela comunidade qui-
lombola enquanto persistir a sobreposição de interesses.
Art. 17. Concluídas as fases a que se referem os arts. 14, 15 e 16, o Presidente do INCRA
SXEOLFDUiQR'LiULR2ÀFLDOGD8QLmRHGDXQLGDGHIHGHUDWLYDRQGHVHORFDOL]DDiUHDSRUWD-
ria reconhecendo e declarando os limites da terra quilombola, no prazo de 30 (trinta) dias.
Art. 19. Constatada a incidência nas terras reconhecidas e declaradas de posse parti-
cular sobre áreas de domínio da União, a Superintendência Regional deverá adotar as
medidas cabíveis visando à retomada da área.
Art. 20. Incidindo as terras reconhecidas e declaradas sobre áreas de propriedade dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, a Superintendência Regional do INCRA
encaminhará os autos para os órgãos responsáveis pela titulação no âmbito de tais en-
tes federados.
56
$UW9HULÀFDGDDSUHVHQoDGHRFXSDQWHVQmRTXLORPERODVQDVWHUUDVGRVUHPDQHV-
centes das comunidades dos quilombos, a Superintendência Regional do INCRA provi-
denciará o reassentamento em outras áreas das famílias de agricultores que preenche-
rem os requisitos da legislação agrária.
DEMARCAÇÃO
TITULAÇÃO
Art. 24. O Presidente do INCRA realizará a titulação mediante a outorga de título cole-
tivo e pró-indiviso à comunidade, em nome de sua associação legalmente constituída,
VHPQHQKXP{QXVÀQDQFHLURFRPREULJDWyULDLQVHUomRGHFOiXVXODGHLQDOLHQDELOLGDGH
imprescritibilidade e de impenhorabilidade, devidamente registrada no Serviço Registral
da Comarca de localização das áreas.
§ 1º. Incidindo as terras reconhecidas e declaradas nas áreas previstas nos arts. 19 e
DRV UHPDQHVFHQWHV GH FRPXQLGDGHV GH TXLORPERV ÀFD IDFXOWDGD D VROLFLWDomR GD
emissão de Título de Concessão de Direito Real de Uso Coletivo, quando couber e em
caráter provisório, enquanto não se ultima a concessão do Título de Reconhecimento de
Domínio, para que possam exercer direitos reais sobre a terra que ocupam.
§ 2º. A emissão do Título de Concessão de Direito Real de Uso não desobriga a conces-
são do Título de Reconhecimento de Domínio.
Art. 25. A expedição do título e o registro cadastral a serem procedidos pela Superinten-
dência Regional do INCRA far-se-ão sem ônus de nenhuma espécie aos remanescentes
das comunidades de quilombos, independentemente do tamanho da área.
Art. 26. Esta Instrução Normativa aplica-se desde logo, sem prejuízo da validade das
fases iniciadas ou concluídas sob a vigência da Instrução Normativa anterior.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, contudo, pode ser aplicado o art. 16.
57
',6326,d¯(6*(5$,6
$UW$6XSHULQWHQGrQFLD5HJLRQDOGR,1&5$SURPRYHUiHPIRUPXOiULRVHVSHFtÀFRV
o registro cadastral dos imóveis titulados em favor dos remanescentes das comunidades
dos quilombos.
Art. 28. Fica assegurada aos remanescentes das comunidades dos quilombos a partici-
pação em todas as fases do procedimento administrativo, bem como o acompanhamen-
to dos processos de regularização em trâmite na Superintendência Regional do INCRA,
diretamente ou por meio de representantes por eles indicados.
Art. 29. As despesas decorrentes da aplicação das disposições contidas nesta Instrução
correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas na lei orçamentária anual
SDUDWDOÀQDOLGDGHREVHUYDGRVRVOLPLWHVGHPRYLPHQWDomRHPSHQKRHSDJDPHQWR
Art. 33. Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.
52/)+$&.%$57
58
PORTARIA Nº 98, DE 26 DE NOVEMBRO DE 2007
23UHVLGHQWHGD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVQRXVRGDVDWULEXLo}HVTXHOKHFRQIHUHRDUWGD/HLQ
GHGHDJRVWRGHHFRQVLGHUDQGRDVDWULEXLo}HVFRQIHULGDVj)XQGDomRSHOR'HFUHWRQGHGH
QRYHPEURGHTXHUHJXODPHQWDRSURFHGLPHQWRSDUDLGHQWL¿FDomRUHFRQKHFLPHQWRGHOLPLWDomRGHPDU-
FDomRHWLWXODomRGDVWHUUDVRFXSDGDVSRUUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGHTXLORPERGHTXHWUDWDRDUW
$'&7HRGLVSRVWRQRVDUWVHGD&RQVWLWXLomR)HGHUDOUHVROYH
$UW,QVWLWXLUR&DGDVWUR*HUDOGH5HPDQHVFHQWHVGDV&RPXQLGDGHVGRV4XLORPERVGD)XQGDomR&XOWXUDO
Palmares, também autodenominadas Terras de Preto, Comunidades Negras, Mocambos, Quilombos, dentre
RXWUDVGHQRPLQDo}HVFRQJrQHUHVSDUDHIHLWRGRUHJXODPHQWRTXHGLVS}HR'HFUHWRQ
C3$5C2&DGDVWUR*HUDOGHTXHWUDWDRFDSXWGHVWHDUWLJRpRUHJLVWURHPOLYURSUySULRGHIROKDVQXPHUDGDV
GDGHFODUDomRGHDXWRGH¿QLomRGHLGHQWLGDGHpWQLFDVHJXQGRXPDRULJHPFRPXPSUHVXPLGDFRQIRUPHSUHYLV-
WRQRDUWGR'HFUHWRQ
C3$5C2&DGDVWUR*HUDOp~QLFRHSHUWHQFHUiDRSDWULP{QLRGD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHV
C3$5C$VLQIRUPDo}HVFRUUHVSRQGHQWHVjVFRPXQLGDGHVGHYHUmRVHULJXDOPHQWHUHJLVWUDGDVHPEDQFRGH
dados informatizados, para efeito de informação e estudo.
$UW 3DUD ¿QV GHVWD 3RUWDULD FRQVLGHUDPVH UHPDQHVFHQWHV GDV FRPXQLGDGHV GRV TXLORPERV RV JUXSRV
étnicos raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações terri-
WRULDLVHVSHFt¿FDVFRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGDGHQHJUDUHODFLRQDGDFRPIRUPDVGHUHVLVWrQFLDjRSUHVVmR
histórica sofrida.
$UW3DUDDHPLVVmRGDFHUWLGmRGHDXWRGH¿QLomRFRPRUHPDQHVFHQWHGRVTXLORPERVGHYHUmRVHUDGRWDGRV
os seguintes procedimentos:
I- A comunidade que não possui associação legalmente constituída deverá apresentar ata de reunião convocada
SDUDHVSHFt¿FD¿QDOLGDGHGHGHOLEHUDomRDUHVSHLWRGDDXWRGH¿QLomRDSURYDGDSHODPDLRULDGHVHXVPRUDGR-
res, acompanhada de lista de presença devidamente assinada;
II- A comunidade que possui associação legalmente constituída deverá apresentar ata da assembléia convo-
FDGDSDUDHVSHFt¿FD¿QDOLGDGHGHGHOLEHUDomRDUHVSHLWRGDDXWRGH¿QLomRDSURYDGDSHODPDLRULDDEVROXWDGH
seus membros, acompanhada de lista de presença devidamente assinada;
III- Remessa à FCP, caso a comunidade os possua, de dados, documentos ou informações, tais como fotos, repor-
tagens, estudos realizados, entre outros, que atestem a história comum do grupo ou suas manifestações culturais;
59
IV - Em qualquer caso, apresentação de relato sintético da trajetória comum do grupo (história da comunidade);
96ROLFLWDomRDR3UHVLGHQWHGD)&3GHHPLVVmRGDFHUWLGmRGHDXWRGH¿QLomR
C3$5C1RVFDVRVGRVLQFLVRV,H,,GRFDSXWGHVWHDUWLJRKDYHQGRLPSRVVLELOLGDGHGHDVVLQDWXUDGHSUySULR
punho, esta será feita a rogo ao lado da respectiva impressão digital.
C3$5C$)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVSRGHUiGHSHQGHQGRGRFDVRFRQFUHWRUHDOL]DUYLVLWDWpFQLFDjFRPXQL-
dade no intuito de obter informações e esclarecer possíveis dúvidas.
$UW$VFRPXQLGDGHVTXLORPERODVSRGHUmRDX[LOLDUD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVQDREWHQomRGHGRFXPHQ-
WRVHLQIRUPDo}HVSDUDLQVWUXLURSURFHGLPHQWRDGPLQLVWUDWLYRGHHPLVVmRGHFHUWLGmRGHDXWRGH¿QLomR
$UW$&HUWLGmRGHDXWRGH¿QLomRVHUiLPSUHVVDHPPRGHORSUySULRHGHYHUiFRQWHURQ~PHURGRWHUPRGH
UHJLVWURQROLYURGH&DGDVWUR*HUDOGHTXHWUDWDR$UWGHVWD3RUWDULD
3DUiJUDIRÒQLFR$)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVHQFDPLQKDUijFRPXQLGDGHVHPTXDOTXHU{QXVRVRULJLQDLV
GD&HUWLGmRGHDXWRGH¿QLomR
$UW$VFHUWLG}HVGHDXWRGH¿QLomRHPLWLGDVDQWHULRUPHQWHDHVWDSRUWDULDFRQWLQXDUmRFRPVXDSOHQDH¿FiFLD
sem prejuízo de a Fundação Cultural Palmares revisar seus atos.
$UW)LFDUHYRJDGDD3RUWDULDQGHGHPDUoRGH
$UW(VWDSRUWDULDHQWUDHPYLJRUQDGDWDGHVXDSXEOLFDomRDSOLFDQGRVHDWRGRVRVSURFHVVRVDGPLQLVWUDWL-
vos ainda não concluídos.
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3$5(&(51$*80&²
PROCESSO NºHDSHQVR
PROCEDÊNCIA: Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
ASSUNTO: Interpretação da questão quilombola na Constituição de 1988.
6HQKRU$GYRJDGR*HUDOGD8QLmR
3DUDDVHJXUDFRPSUHHQVmRGRDVVXQWRTXHpFHUFDGRGHGLÀFXOGDGHVDOpPGH
novidade quase sem precedentes administrativos, penso que é recomendável a sua
109
abordagem com o máximo de abrangência como corolário da máxima efetividade
constitucional.
I
O regime jurídico da chamada questão quilombola tem disciplina direta no artigo
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (“$UW $RV UHPDQHVFHQWHV
das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a pro-
SULHGDGHGHÀQLWLYDGHYHQGRRHVWDGRHPLWLUOKHVRVWtWXORVUHVSHFWLYRV”HUHÁH[DQRVDUWV
215, § 1º e 216 do texto principal da Constituição (“Art. 215, § 1º. O Estado protegerá as
manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
SDUWLFLSDQWHVGRSURFHVVRFLYLOL]DWyULRQDFLRQDO” e “$UW&RQVWLWXHPSDWULP{QLRFXOWXUDO
brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
SRUWDGRUHVGHUHIHUrQFLDVjLGHQWLGDGHjDomRjPHPyULDGRVGLIHUHQWHVJUXSRVIRUPDGRUHV
da sociedade brasileira”... “§ 1º. O poder público, com a colaboração da comunidade, promo-
YHUiHSURWHJHUiRSDWULP{QLRFXOWXUDOEUDVLOHLURSRUPHLRGHLQYHQWiULRVUHJLVWURVYLJLOkQFLD
tombamento e desapropriação e de outras formas de acautelamento e preservação”... “§ 5º
Ficam tombados todos os GRFXPHQWRV H RV VtWLRV GHWHQWRUHV GH UHPLQLVFrQFLDV KLVWyULFDV
dos antigos quilombos”), constituindo estas as regras fundamentais nesse domínio, sem
prejuízo dos demais direitos e garantias constitucionais.
Do ponto de vista infraconstitucional a legislação é escassa e fragmentária1 no esfor-
ço de interpretar o comando do art. 68 ADCT, ora atribuindo ao Ministério da Cultura ora à
Fundação Cultural Palmares o encargo de reconhecer, delimitar e demarcar as terras de
ocupação quilombola. Diferentes disposições legais ao organizarem órgãos da adminis-
tração pública federal conferiram assim algumas atribuições correspondentes ao Minis-
tério da Cultura, outras à Fundação Cultural Palmares e outras tantas ainda à Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR (RKLVWyULFRGDGLVFL-
plina é mais ou menos o seguinte: Lei nºGHDUWº, III e § único) que
autorizou a instituição da Fundação Cultural Palmares – FCP, então criada pelo Decreto
nºGHHFRPDUHGDomRGD03GHFRQIHULXDR0LQLVWpULR
GD&XOWXUDDLGHQWLÀFDomRGHOLPLWDomRGHPDUFDomRHWLWXODomRGDVWHUUDVTXLORPERODVH
à FCP o registro dos títulos; e a Lei nºGHDUW,9ҊFҋFRPDUHGDomRGDGD
SHOD0HGLGD3URYLVyULDQºGHDWULEXLQGRDR0LQLVWpULRGD&XOWXUDDSURYDU
a delimitação e demarcação das terras “que serão homologadas mediante decreto”, regu-
lamentado então pelo Decreto nºGHHQFDUJRPDQWLGRSHOD/HLQº
DUW9,ҊFҋTXHGHXDR0LQLVWpULRGD&XOWXUDDDWULEXLomRGHGHOLPLWDUDV
terras dos remanescentes de quilombos, determinar-lhes a demarcação e submetê-las
à homologação por decreto, esta última regulamentada pelo Decreto nºGH
TXHUHYRJRXR'HFHD/HLQºGHTXHFULRXD6(33,5).
1
Como se pode ver detalhadamente em “Comunidades Quilombolas: Direito à Terra Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias”, Sociedade Brasileira de Direito Público – Centro de Pesquisas Aplicadas, Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares,
outubro de 2002, estudo coordenado por Carlos Ari Sunfeld.
110
Vale assinalar, também, que para disciplinar o assunto tramitara no Congresso Na-
cional projeto de lei (PL do Senado nº 129, de 1995 e PL nº 3.207 de 1997 da Câmara)
destinado a regulamentar o mencionado art. 68 do ADCT, mas o Senhor Presidente
da República na ocasião negou-lhe a sanção vetando integralmente seus termos com
base em razões de inconstitucionalidade suscitadas pela Casa Civil e pelo Ministério
da Cultura (veto de 14.05.2002, por alegadas inconstitucionalidades enumeradas pela
Casa Civil na Nota SAJ nº 791/02, o qual foi mantido em 20.05.2004).
3RUFRQWDGHVVDVGLÀFXOGDGHVFRQVWLWXFLRQDLVDUJLGDVSHOD6XEFKHÀDGH$VVXQ-
tos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República (Parecer SAJ 1490/2001)
com relação ao encaminhamento dos procedimentos e condutas ainda antes da Lei
nº e ao propósito de interpretar a legislação anterior a ela, o Senhor Pre-
sidente da República editara o Decreto nº 3.912, 10 de setembro de 2001, estabele-
cendo, então, com base nas conclusões do dito parecer, normas de aplicação do art.
68 do ADCT.
Ocorre que as disposições desse decreto aparentemente não observavam o me-
lhor entendimento constitucional, razão porque, já no novo governo, foi ele revisado
pelo Senhor Presidente da República ao editar o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro
GHDSyVHVWXGRVGHXP*UXSRGH7UDEDOKRFRQVWLWXtGRSDUDHVVHÀPSUHYDOH-
cendo daí por diante, então, a feição atual do regime infraconstitucional do reconheci-
mento da ocupação quilombola, isto é, o da Lei nº 10.683 de 2003 com o Decreto nº
GHWHQGRR,1&5$HPQRPHGR0'$TXHÀFRXHQFDUUHJDGRGDGHOLPLWD-
ção e demarcação das terras referidas, por força do Decreto nº 4.883 de 2003), como
responsável pela aplicação dos seus dispositivos no que respeita ao aspecto fundiário
HD)XQGDomR&XOWXUDO3DOPDUHVSHODGHFODUDomRHFHUWLÀFDomRGDFRQGLomRpWQLFD
ÀFDQGRRWHPDUHJXODPHQWDGRDWUDYpVGD,QVWUXomR1RUPDWLYD,1&5$Qº 20, de 19 de
setembro de 2005.
O Decreto nº 4.887/2003, contudo, foi objeto de Ação Direta de Inconstituciona-
lidade requerida perante o Supremo Tribunal Federal pelo Partido da Frente Liberal-
PFL (Adin nº), pendente de julgamento mas já com parecer do Procurador-Geral
da República pela improcedência.
Desse modo, no quadro normativo atual, estão prevalecendo além do referido art.
68 do ADCT e do Decreto nº 4.887 de 2003 (este sob discussão perante o STF) o art.
27, VI, ‘c’ da Lei nº 10.683/2003 e o art. 2º, III e o seu § único da Lei nº 7.668, e as dis-
posições da IN 20/2005 – editada pelo INCRA, como normas de conduta com relação
jGHÀQLomRGDVWHUUDVGHTXLORPERV
II
Para a adequada compreensão dessa disciplina parece conveniente uma criterio-
sa aproximação sistemática dessas disposições, procurando delas extrair o sentido
próprio em pesquisa sempre orientada pela teleologia constitucional.
111
Assim, quando menciona “aos remanescentes das comunidades de quilombos” o tex-
to do art. 68 ADCT quer referir-se aos indivíduos, agrupados em maior ou menor nú-
mero, que pertençam ou pertenciam a comunidades, que portanto viveram, vivam ou
pretendam ter vivido ou viver na condição de integrantes delas como repositório das
suas tradições, cultura, língua e valores, historicamente relacionados ou culturalmente
ligados ao fenômeno sócio-cultural quilombola. Aliás, as noções jurídicas de remanes-
cente e de remanescente de comunidade, bem por isso, estão logicamente entrelaça-
das ao conceito de quilombo, isto é, ao conceito jurídico constitucional de quilombo,
que à sua vez depende necessariamente do conteúdo sócio-histórico-antropológico
derivado do fato histórico-social “quilombo”.
Como se mostra evidente, a noção de quilombo não é das que se alcança por
simples interpretação jurídica já que fortemente dependente de investigações, estu-
dos e pesquisas na área de antropologia, sociologia e história sem as quais não se
pode enunciar o exato sentido do preceito estudado. Mesmo sem tomar partido em
qualquer das diversas correntes de interpretação antropológica ou sociológica, parece
LQGLVSXWiYHOTXHTXLORPERpPDLVGRTXHDVLPSOHVH[SUHVVmRGHXPFHUWRWHUULWyULRQR
qual em uma certa época alguns escravos ou ex-escravos, fugidos ou não, se reuniam
para viver e resistir contra a recaptura ou contra a escravidão.
Ao contrário, a noção de quilombo que a Constituição parece ter adotado abrange,
pelo seu próprio sentido e pelo princípio da máxima efetividade, certamente mais do
que isto, pois, ao reconhecer aos remanescentes das comunidades de quilombos a
propriedade das terras que ocupam, refere seguramente o universo representativo do
fenômeno que originariamente aconteceu por obra da resistência, mas que também
se desenvolveu ao longo do tempo formando comunidades com interesses e valores
comuns, inclusa aí a necessidade de resistir e lutar contra as discriminações decorren-
tes da escravidão.
3RUHVVDUD]mROyJLFDDLGHQWLÀFDomRGDVFRPXQLGDGHVÀFDGHSHQGHQWHGDLGHQ-
WLÀFDomRGRVVHXVLQWHJUDQWHVRVTXDLV²HVWDEHOHFHRGHFUHWR²WrPFRQGLo}HVGHVH
DXWRLGHQWLÀFDUHPSHODVFDUDFWHUtVWLFDVTXHOKHVVmRSUySULDVHSRUTXHMXULGLFDPHQWH
se lhes garante a capacidade de se auto-reconhecerem tal como garantido pela Con-
venção nº 169 da OIT (Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004) por cuja inspiração
se pode ter como certo que é a consciência de sua identidade o critério principal para
determinar quem sejam os integrantes remanescentes das comunidades ou grupos
aos quais se aplicam as determinações do art. 68 do ADCT ou de que dele recebam
legitimidade para as iniciativas correspondentes2.
É certo, no entanto, que tais remanescentes, por via de conseqüência, são legí-
timos herdeiros da cultura afro-brasileira, cujo conteúdo a mesma Constituição refere
2
'HVVDIRUPDDYHOKDHPXOWLUHIHULGDGHÀQLomRGHTXLORPERDVVHQWDGDQDUHVSRVWDGDFRQVXOWDDR&RQVHOKR8OWUDPDULQRHP´WRGD
a habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem
SLO}HVQHOHµTXHLQÁXHQFLRXGDtSRUGLDQWHDVGLIHUHQWHVPDQHLUDVGHWUDWDUGRDVVXQWRWHQGRÀFDGRQRGL]HUGRDXWRUIULJRULÀFDGRGHYH
VHUUHMHLWDGDHPERUDDLQGDFRPXPSRUTXHQmRWHPPDLVVLJQLÀFDGRMiTXHҊTXLORPERҋQRVHQWLGRFRQVWLWXFLRQDOPRGHUQRGHVSUHQGHX
se do conteúdo penal para consolidar-se como conceito sociocultural. (v. Quilombos e as novas etnias, Alfredo Wagner Berno de Almeida,
in Quilombos identidade étnica e territorialidade, p. 47, Org. Eliane Cantarino O’Dwyer, ABA FGV, 2002).
112
e protege no § 1º do art. 215 e no caput GRDUWHHPYLUWXGHGDTXDODLGHQWLÀ-
cação dessas características – aí registradas na disciplina da ordem social (Capítulo
III, Seção 2 da Constituição) – pode não só propiciar a revelação da existência des-
sas comunidades e seus integrantes mas também a necessária expressão territorial
correspondente, que cabe ao poder público promover e proteger por todos os meios
inclusive a desapropriação por interesse social.
1HVVDOLQKDpLQVXÀFLHQWHDPHUDGHGXomRJHRJUiÀFDHWHUULWRULDOGDRFXSDomR
quilombola que reduz a intenção constitucional a simples espaço local dado hoje
(ou pior, em 5 de outubro de 1988, ou ainda em 13 de maio de 1888 como se referiu
no Decreto nº 3.912) quando a “nacionalidade” quilombola e os diversos fatores ou
necessidades de sua reprodução e sua manutenção sociocultural ultrapassam natu-
ralmente até mesmo os limites de um dado espaço de território. Não parece, pois,
que o preceito constitucional mencionado tenha ignorado outras tantas dimensões da
vida e cultura dos remanescentes das comunidades de quilombos igualmente mere-
cedoras da proteção do poder público. Lembra o mesmo estudioso, aliás, que houve
escravos que não fugiram nem se organizaram em resistência, ou outros que tenta-
ram mas não lograram fugir, não se podendo deixar de reconhecer que também es-
tes são verdadeiros remanescentes das comunidades de quilombos enquanto a elas
ontologicamente ligados. Uma leitura menos atenta do art. 68 poderia, por exemplo,
assim excluir dos remanescentes de comunidades de quilombos (ex)escravos que
não foram fugidos ou não se exilaram nas matas em resistência ao capitão do mato e
aos fazendeiros escravistas, incorrendo em discriminação inaceitável que certamente
não tem o apoio constitucional.
Por tudo isto, a noção de quilombo que o texto refere tem de ser compreendida
com certa largueza metodológica SDUDDEUDQJHUQmRVyDRFXSDomRHIHWLYDVHQmRWDP-
EpPRXQLYHUVRGDVFDUDFWHUtVWLFDVFXOWXUDLVLGHROyJLFDVHD[LROyJLFDVGHVVDVFRPX-
QLGDGHVHPTXHRVUHPDQHVFHQWHVGRVTXLORPERVQRVHQWLGRODWRVHUHSURGX]LUDP
e se apresentam modernamente como titulares das prerrogativas que a Constituição
lhes garante. É impróprio, assinala o autor citado, lidar nesse processo como ҊVREUHYL-
YrQFLDҋ ou ҊUHPDQHVFHQWHFRPRVREUDRXUHVtGXRҋ quando pelo contrário o que o texto
sugere é justamente o oposto3.
III
$RVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGHTXLORPERVLGHQWLÀFDGRVGRPRGRFRPR
vimos de compreender e “que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
GHÀQLWLYD”, estabelece a lei constitucional transitória. Quer-se com isso dizer que a es-
VHVUHPDQHVFHQWHVTXHRFXSHPVXDVWHUUDVVHUmRHODVWLWXODGDVHPGHÀQLWLYR(VVD
DÀUPDomRHQFHUUDGLIHUHQWHVTXHVW}HVTXHPHUHFHPFXLGDGRVRH[DPHWHQGRFRPR
SUHVVXSRVWR FRPR FRQYpP UHDÀUPDU TXH TXLORPER p H[SUHVVmR TXH FRQFHUQH DR
universo representativo da cultura e identidade dos afro-brasileiros. A ocupação de
3
Id. ibid. p.77
113
que aí se cogita, por conseguinte, é a ocupação das terras em que de fato se alojam e
vivem as respectivas comunidades, mas também os espaços para tanto necessários
nos limites das características e valores por elas cultivados.
As terras ocupadas, nessa medida, são as que eles efetivamente possuem e mais
DVTXHVHMDPVXÀFLHQWHVHQHFHVViULDVSDUDDPDQLIHVWDomRGHVXDVSHFXOLDULGDGHV
culturais aí incluídas as que sejam necessárias para o natural desenvolvimento e re-
produção de sua cultura e valores. A expressão “as terras que estejam ocupando” signi-
ÀFDORJLFDPHQWHPDLVGRTXHDVLPSOHVGLPHQVmRJHRJUiÀFDDWXDORXKLVWyULFDGDV
comunidades de remanescentes de quilombos, posto que – a exemplo das terras
indígenas (art. 231, §1º Constituição), cuja proteção constitucional obedece, tal como
aqui, a idêntico princípio de proteção dos formadores da nacionalidade brasileira –
constituem tais terras territórios de habitação permanente, utilizadas para as suas
atividades produtivas e imprescindíveis para a preservação dos recursos ambientais
necessários ao seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução (presente e futura)
física e cultural segundo seus usos, costumes e tradições.
A circunstância temporal/espacial indicada pela expressão “que estejam ocupando”
refere-se à atualidade da posse (mesmo a posse em outubro de 1988 numa perspecti-
va dinâmica), mas parece fora de dúvida que se o preceito constitucional de fato levou
em conta a atualidade (então, ou depois de 1988) por certo não esqueceu a dimensão
da ocupação como fato sociológico e histórico (do mesmo modo que com relação à
ocupação tradicional dos indígenas que a doutrina e até a jurisprudência nacional já
DGPLWHPUHVXOWDUGHXPDWUDMHWyULDpWQLFDHQmRDSHQDVXPFRUWHFURQROyJLFRHPXP
FHUWR PRPHQWR H LQWHLUDPHQWH GHVOLJDGR GDV FXOWXUDV H KLVWyULDV UHVSHFWLYDV), para
por isto mesmo constituir-se em conceito complexo. Aliás, assim como para a sua
identidade, a comunidade e seus integrantes são legalmente os únicos capazes de
LGHQWLÀFDUHPDVWHUUDVTXHHVWHMDPRFXSDQGRSRUTXHWDOGHÀQLomRREHGHFHDRPHVPR
rigor metodológico e porque a identidade está relacionada com a sua territorialidade.
$ LGHQWLÀFDomR GD RFXSDomR Mi VH YLX ÀFD WDPEpP OLJDGD j LGHQWLÀFDomR GRV
UHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVHGDLGHQWLÀFDomRGRVTXLORPERVGHYHQGRDPEDV
as categorias constitucionais ser delimitadas e (re)construídas de acordo com as res-
pectivas características. Em outros termos, a ocupação efetiva das terras é assim o
UHVXOWDGRGDGHÀQLomRGRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVHGDLGHQWLÀFDomRGRV
quilombos como acima referido, de modo que hoje tenham assegurados todos os
direitos de manterem-se e projetados os de reproduzirem-se de acordo com as suas
necessidades culturais e sociais.
Parece então oportuno assinalar alguns aspectos cuja apreciação se impõe re-
ODFLRQDGRV FRP D GHÀQLomR GD RFXSDomR TXH R GLVSRVLWLYR FRQVWLWXFLRQDO HVWXGDGR
refere, na perspectiva que oriente a discussão.
Com efeito, a noção de ocupação de que se serve a Constituição, porque tem re-
lação lógica e necessária com as de autoreconhecimento e de manifestação cultural,
114
que ademais constituem seus elementos integrantes, constrói-se pela compreensão
do seu núcleo essencial e da proporção, segundo quais critérios será possível com-
patibilizar a garantia constitucional do art. 68 do ADCT e a de outros valores constitu-
cionais conviventes.
Se o estabelecimento do direito à propriedade das terras ocupadas pelos rema-
nescentes de comunidades de quilombos precisa articular-se com outros valores de
nível constitucional equivalente, em virtude disso haverá certamente limitações a esse
reconhecimento jurídico ainda quando ao território não se possa deixar de reconhecer
ocupação de fato na extensão acima sugerida.
O reconhecimento garantido aos remanescentes das comunidades de quilombos
pode então em algum momento não ser incondicionalmente absoluto, já que eventual-
mente poderá ter de ceder ante necessidades nacionais e inequivocamente mais va-
liosas enquanto ligadas à segurança do Estado, da sociedade, ou limitador de valores
fundantes do Estado de Direito, da República e da Federação, desde que cumprida-
mente demonstradas pela autoridade competente.
Nesse sentido, a sobreposição ou coincidência de projetos ou programas de inte-
resse ou necessidade públicos ou de acentuada importância nacional cuja aplicação
territorial venha de algum modo a limitar ou excluir a ocupação dos remanescentes de
comunidades de quilombos será objeto de composição em que se proteja sempre o
núcleo essencial da ocupação quilombola na proporção das necessidades públicas. A
técnica constitucional da proporcionalidade é neste caso a medida natural no reconhe-
cimento dos valores coincidentes ou convergentes.
Nesse pressuposto, cabe reassentar o conteúdo da noção de ocupação. Como
assinalado, a ocupação referida pelo art. 68 do ADCT constitui naturalmente conceito
PDLVDEUDQJHQWHTXHDPHUDH[SUHVVmRJHRJUiÀFDHVSDFLDOGRVWHUUHQRVÀVLFDPHQWH
ocupados, pois precisa envolver o direito ao pleno exercício dos direitos culturais e a
difusão das manifestações culturais (art. 215 CF) das respectivas comunidades como
parte “GRVJUXSRVSDUWLFLSDQWHVGRSURFHVVRFLYLOL]DWyULRQDFLRQDO”. E ao Estado, de resto,
cabe proteger as manifestações culturais afro-brasileiras (§ 1º) exercidas pelas mes-
mas comunidades na condição de “grupos formadores da sociedade brasileira”, sendo
que o seu patrimônio cultural protegido inclui “os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
PHPyULD” dos remanescentes dessas comunidades.
Ora, como o patrimônio cultural protegido no art. 216 da Constituição – em que
os antigos quilombos são referidos explicitamente -- inclui as formas de expressão,
modos de criar, fazer e viver, e abrangem também as criaçõesFLHQWtÀFDVDUWtVWLFDV
e tecnológicas, e as obras objetos, HGLÀFDo}HV e demais espaços destinados às ma-
nifestações culturais, não é difícil compreender a relação axiológica entre as consta-
tações culturais, de costumes e tradições, e as necessidades territoriais, de modo a
DÀUPDUVHTXHDDSXUDomRGDVterras que estejam ocupando compreende os espaços
115
QHFHVViULRVVXÀFLHQWHVHDGHTXDGRVjSUHVHUYDomRHUHSURGXomRGDVPDQLIHVWDo}HV
culturais dos remanescentes das comunidades de quilombos.
3RUÀPRDXWRUHFRQKHFLPHQWRGHVVDFRQGLomRpWQLFDDGPLWLGRSHOR'HFUHWRQº 4.887 de
FRPRtQGLFHGHGHÀQLomRGRVUHPDQHVFHQWHVGHFRPXQLGDGHVGHTXLORPERVSRUVXD
vez pode revelar também, agora por outra vertente, extensão e limites dos espaços de terras
ocupadas protegidas pelo art. 68 do ADCT. Com efeito, embora não constitua critério único
RXSULQFLSDOQDDSXUDomRGDGLWDRFXSDomRYLVWRTXHpHVVHQFLDODÀJXUDomRGDVPDQLIHVWD-
ções culturais e o seu exercício efetivo, a consciência de sua etnicidade e a aceitação pelos
seus dessa condição objetiva fornece elementos preciosos para a determinação dos espaços
necessários e para a viabilização jurídica do reconhecimento da propriedade dos remanes-
centes de comunidades de quilombos.
Ou em outras palavras, o que a disposição constitucional está a contemplar é uma terri-
WRULDOLGDGHHVSHFtÀFD4FXMRSURSyVLWRQmRpOLPLWDUVHjGHÀQLomRGHXPGDGRHVSDoRPDWHULDO
de ocupação, mas de garantir condições de preservação e proteção da identidade e caracte-
rísticas dos remanescentes dessas comunidades assim compreendidas que devem ser leva-
GDVHPOLQKDGHFRQWDQDDSXUDomRGRHVSDoRGHUHFRQKHFLPHQWRGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYD
IV
Aos remanescentes das comunidades dos quilombos, como visto, “é reconhecida
DSURSULHGDGHGHÀQLWLYD” dessas terras que estejam ocupando como indicado. Tal reco-
QKHFLPHQWRFRQVWLWXFLRQDOTXHMXULGLFDPHQWHWHPRVLJQLÀFDGRGHDWULEXLUGLUHLWRHDomR
ao titular contra todos, implica recusar incondicionalmente a propriedade a quem não
seja remanescente de comunidade de quilombos mesmo que esteja ocupando as terras
em questão e DÀUPDU incondicionalmente a propriedade anterior desses remanescentes
quilombolas (sempre observada a extensão do conceito conforme acima estudado).
Desde que, evidenciado serem os ocupantes ou pretendentes à ocupação rema-
nescentes de comunidades de quilombos nas condições do texto constitucional, a
propriedade das terras assim necessárias deverá ser obrigatoriamente reconhecida,
pouco importando a que título as estejam ocupando, posto que basta para o reconhe-
cimento constitucional a ocupação e a condição de remanescentes das comunidades
com elas minimamente relacionadas. Aliás, o reconhecimento constitucional expressa
declaração da propriedade anterior cujo título é constituído pela ocupação e pela con-
dição de remanescente de comunidade de quilombo.
2TXHDUHJUDFRQVWLWXFLRQDOWUDGX]XPDYH]YHULÀFDGRVRVVHXVSUHVVXSRVWRVp
preceito erga omnes, garantindo a estes conjuntos de sujeitos de direito a propriedade
incondicional com todos os seus atributos e ações (GDtSRUTXHWDPEpPSDUHFHOyJLFD
a atribuição de legitimidade para agir em juízo às comunidades de remanescentes
de quilombos) e que obriga a todos, inclusive ao Estado. Embora o texto mencione
RUHFRQKHFLPHQWRGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYDFRPRXPPRPHQWRSRVWHULRUQmRVHVH-
4
Id. ibid. p.72
116
gue que estivesse esse direito antes submetido a alguma condição. Pelo contrário, a
determinação em causa assenta que a propriedade que antes já se admitia plena e
LQFRQGLFLRQDOPHQWHDJRUDDSyVDLGHQWLÀFDomRIRUPDOSDVVDDVHDWULEXLUSXEOLFDPHQ-
te e sem qualquer outra formalidade, e de modo coletivo porque referente aos rema-
nescentes, isto é, ao conjunto dos remanescentes de cada uma das comunidades em
questão. Ou seja, a propriedade só pode ser reconhecida coletivamente ao grupo dos
remanescentes, pois só nessa condição é que constituem remanescentes uma vez
que isoladamente deixam de sê-lo no sentido constitucional.
V
2UHFRQKHFLPHQWRGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYDpGLUHLWRGRVUHPDQHVFHQWHVGDVFR-
PXQLGDGHV GH TXLORPERV LGHQWLÀFDGRV QD IRUPD LQGLFDGD H TXH HVWHMDP RFXSDQGR
suas terras no modo referido, “devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” o que
VLJQLÀFDGL]HUTXHR(VWDGRHVWiREULJDGRDHPLWLURWtWXORGHFRUUHQWHGRUHFRQKHFLPHQ-
to da ocupação das terras. O Estado tem, por conseguinte, o dever jurídico de titular
os remanescentes das comunidades de quilombos assim como o de reconhecer-lhes
e proteger-lhes a ocupação tanto que evidenciados os pressupostos constitucionais.
Essa expressão constitucional tem extraordinária importância uma vez que não se
FRJLWDDtGHTXDOTXHURXWUDSURYLGrQFLDVHQmRDGHHPLWLURWtWXORGHSURSULHGDGHGHÀQL-
tiva, pouco importando se existem sobrepostos outros títulos públicos ou particulares
ou afetação administrativa de qualquer ordem. Tudo deve ceder ao reconhecimento
GDRFXSDomRHFRQVHTHQWHPHQWHDRGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYDGRVUHPDQHVFHQWHV
GDVFRPXQLGDGHVGHTXLORPERVRTXHVXVFLWDYiULDVGLÀFXOGDGHVMiTXHPDLVGHXP
valor constitucional de idêntico relevo pode ser invocado em oposição. Como, por
exemplo, as ocupações de quilombolas que podem situar-se em imóveis de proprie-
dade particular mais antiga, ou sobre áreas de domínio dos estados federados ou de
municípios (devolutas ou patrimoniais), ou sobre áreas de preservação ambiental de
maior ou menor restrição, e até mesmo sobre áreas indígenas, tudo a recomendar
extremo cuidado na solução.
Parece que, em tais casos, a orientação a adotar-se deve procurar a justa propor-
ção das determinações constitucionais, resguardando os diferentes valores e critérios
constitucionais nos limites da adequação de uns e outros, sempre preservado o nú-
cleo essencial respectivo. Aliás, a preservação das comunidades dos remanescentes
de comunidades de quilombos é forma de preservação ambiental cultural e se aco-
moda com a política constitucional de preservação ambiental do mesmo modo que
outras tantas comunidades, de ribeirinhos, de catadores, de quebradeiras de babaçu,
de apanhadores de castanha e seringa, ou de tantas outras comunidades tradicionais
H[WUDWLYLVWDVDRORQJRGRSDtVFXMDSUHVHUYDomRSRULVVRPHVPRQmRFRQÁLWDFRPRV
propósitos de preservação ecológica ou do meio ambiente natural, tanto que a so-
breposição dessas áreas de reconhecimento de ocupação tradicional – aí incluída a
117
ocupação dos quilombolas – com áreas de preservação ambiental e outros projetos ou
obras públicas, mais recentemente tem sido objeto de estudo e compatibilização em
respeito à proteção que lhes dedica a Constituição.
Em princípio, pois, a dupla afetação não é causa de impedimento para a titulação
dos remanescentes de comunidades de quilombos, bastando atender-lhes proporcio-
nalmente as exigências constitucionais, cabendo ao Estado emitir os títulos corres-
pondentes nos limites da afetação constitucional. Estado, nesse campo, é categoria
indicativa do poder público, pois que pode ser da União como dos estados federados a
responsabilidade pela titulação, respeitadas, entretanto, as respectivas competências
constitucionais a dizer que é à União que cabe emitir os títulos quando a tiver sobre
as terras ocupadas e outro tanto cabendo aos estados quando no exercício da sua
respectiva competência administrativa.
A responsabilidade pela titulação, nessa linha, dependerá diretamente da respec-
tiva competência administrativa sobre as terras ocupadas quando públicas federais ou
estaduais, e, quando se tratar de terras registradas como de propriedade particular,
porque se cabe à União e aos estados a desapropriação por interesse social cabe-lhes
respectivamente a iniciativa de promover a anulação dos registros e a indenização das
EHQIHLWRULDV(PERUDQmRUHÀUDRWH[WRFRQVWLWXFLRQDOQHQKXPDGLVSRVLomRTXDQWRjLQ-
validade dos títulos particulares incidentes sobre áreas de ocupação por remanescen-
tes das comunidades de quilombos (como, ao contrário, explicitamente previsto no § 6º
do art. 231 com relação à ocupação indígena), convém ter presente que a determinação
constitucional do art. 68 do ADCT é produto do PHVPRSURSyVLWR e tem o mesmo obje-
tivo podendo, no que couber e por simetria, ser invocada a mesma equação até porque
dela resulta sistematicamente a mesma conclusão. Quer dizer, os títulos particulares,
uma vez apurada área de ocupação de remanescentes de comunidade de quilombos,
são logicamente prejudicados e devem ceder ao reconhecimento da propriedade des-
tes como decorrência da supremacia constitucional que submete a propriedade privada
aos interesses nacionais e constitucionais e bem por isso sujeitam-se à “desapropria-
ção” cujo sentido aqui é, em razão dessa circunstância, diverso do sentido tradicional
comum porque não busca declarar a aquisição da propriedade, mas a publicização
GDTXHODSUHH[LVWHQWHSHODGHÀQLomRFRQVWLWXFLRQDOGHGHRXWXEURGH
Importa, contudo, assinalar a esse propósito que o Decreto nº 4.887, de 2003, es-
tabeleceu no seu art. 13 e parágrafos a hipótese de desapropriação das terras ocupa-
das por remanescentes de comunidades de quilombos quando sobre elas incidentes
WtWXORVGHGRPtQLRSDUWLFXODUQmRLQYDOLGDGRQmRSUHVFULWRRXQmRFDGXFRRXLQHÀFD]
Essa ordem de idéias sugere a ilação de que embora o art. 68 do ADCT reconheça
de pronto a propriedade particular dos remanescentes daquelas comunidades – isto
é, desconsidere qualquer outro domínio ou título público ou particular, pelos menos
a partir de 05.10.1988 -- a propriedade anterior eventualmente legítima não pode ser
desconhecida cabendo assim, com efeito, a justa desapropriação e indenização ao
então legítimo proprietário.
118
É que a despeito da regra constitucional não poder ser desatendida quando reco-
nhece a propriedade quilombola a partir de então, nem por isto os títulos anteriores,
HGLWDGRVOHJLWLPDPHQWHRXHPFRQVRQkQFLDFRPDOHJLVODomRGDpSRFDÀFDPGHVSUR-
tegidos. Perde sim o proprietário particular a propriedade por força do art. 68 do ADCT,
mas não o direito à indenização pela perda da propriedade legítima.
Assim, da compreensão e conformação deste art. 13 do Decreto nº 4.887/2003
ao sistema jurídico constitucional da propriedade privada resulta logicamente que o
reconhecimento da ocupação quilombola (observadas a extensão acima investigada
e as eventuais limitações do seu regime constitucional) implica, nesses casos, na ne-
cessária expropriação da propriedade privada.
É verdade que esta constatação deixa entrever uma possível questão, a saber: se
o art. 68 do ADCT reconhece a propriedade em rigor não opera desapropriação mas
simples transferência da propriedade do particular para os remanescentes de comuni-
dades de quilombos, cabendo ao mencionado processo de desapropriação apenas a
discussão dos valores indenizatórios. Nesse sentido, parece, é que se deve compre-
ender a regra constitucional citada e a disciplina do art. 13 do Decreto nº 4.887/2003
e a IN/INCRA nº 20/2005 que regulamentam o processo administrativo de reconheci-
mento da posse e propriedade quilombola.
Em outros termos, ao conferir o título de propriedade aos quilombolas a Constitui-
ção apagou o domínio particular outrora legítimo, e, na prática, a desapropriação de
TXHFXLGDRDUWGRGLWRGHFUHWRGHFODUDDSURSULHGDGHTXLORPERODRSHUDDGHÀQLomR
das indenizações correspondentes à terra e às benfeitorias, e faz cancelar-se os regis-
tros anteriores junto ao ofício respectivo pela transcrição do título de reconhecimento
da propriedade dos remanescentes de comunidades de quilombos.
De outro lado, os títulos emitidos a esse propósito, além de editados em nome
coletivo porque necessariamente em nome do grupo de “remanescentes”, são indivi-
síveis pela origem e inalienáveis pela destinação constitucional como se revela evi-
dente, de tal modo que não se pode tresdestinar, redestinar ou devolver a terceiro as
terras assim tituladas sob pena de nulidade plena e inconstitucionalidade material.
A eventual extinção da comunidade dos remanescentes ou o desaparecimento dos
remanescentes, tanto como a falta de ocupação, assim reconhecidos pela mesma
DXWRULGDGH H PpWRGR TXH UHFRQKHFHX D SURSULHGDGH GHÀQLWLYD GRV TXLORPERODV DR
contrário, importará na devolução das terras ao Estado, seja à União ou aos estados
IHGHUDGRV ÀFDQGR GDt SRU GLDQWH IRUPDOPHQWH GHVDIHWDGDV UHYHUWHQGR DR GRPtQLR
respectivo5. Pela mesma razão, as terras tituladas aos remanescentes das comunida-
des de quilombos também não podem ser desapropriadas por qualquer motivo (mes-
PRSHOD8QLmRDRVWLWXODGRVSHORVHVWDGRVQHPDIHWDGDVDRXWUDÀQDOLGDGHTXHMiQmR
tenham no momento do reconhecimento formal.
5
A perda da ocupação quilombola ou o desaparecimento dos remanescentes de quilombos antes da Constituição de 1988, no entanto
(ao contrário do que se discute em relação às terras indígenas – que são de domínio da União - na ADIn nº 255, em andamento no STF),
importa na devolução das terras a entidade a quem tocaria o domínio respectivo antes da mesma Constituição.
119
O desdobramento das proposições constitucionais do art. 68 do ADCT sugere ain-
da outras questões de difícil solução. O crescimento vegetativo da população rema-
nescente das comunidades de quilombos, por exemplo, pode exigir legitimamente a
expansão da área de ocupação titulada, assim como os legítimos remanescentes que
não tenham ocupação por terem sido desapossados das terras, tal qual aqueles que as
deixaram voluntariamente mas que a elas querem retornar, e outros podem pretender
aumentar as terras coletivas e não parece contestável ou infundada essa pretensão
uma vez que deriva ela da mesma razão constitucional que presidiu o reconhecimento
da ocupação e propriedade destinadas à proteção das comunidades, porque visando
também a sua reprodução natural. Ao Estado caberá, nesses casos, através da desa-
propriação por interesse social com fundamento no art. 216, § 1º da Constituição, pelo
mesmo critério e modo, prover criando os acréscimos de espaços territoriais necessá-
rios em ordem a promover o integral reconhecimento mencionado na Constituição, na
medida em que esse reconhecer abrange o universo protegido da ocupação ele mes-
mo contendo em si a necessidade da sua reprodução e crescimento.
VI
À vista desse quadro normativo constitucional e tendo sempre presentes as re-
ferências daí extraídas, cumpre ao aplicador ou administrador, sob essa luz, reler a
legislação infraconstitucional e regulamentar. As diferentes normas legais que abor-
dam o assunto, porém, não se dedicam propriamente à disciplina administrativa do
UHFRQKHFLPHQWRGDRFXSDomRHGDSURSULHGDGHGHÀQLWLYDGHTXHFXLGDRDUWGR
ADCT, circunstância já referida acima, pois foram instrumentos infralegais, primeiro
o Decreto nº 3.912, de 2001, e depois o Decreto nº 4.887, de 2003 (que revogou
aquele), que se dedicaram a detalhar “RVSURFHGLPHQWRVDGPLQLVWUDWLYRVSDUDDLGHQWLÀ-
FDomRRUHFRQKHFLPHQWRDGHOLPLWDomRDGHPDUFDomRHDWLWXODomRGDSURSULHGDGHGHÀQLWL-
va das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos...” como está
expresso no art. 1º do Decreto nº 4.887, atualmente vigente. Cumpre assim analisar
as situações nele previstas.
1
O exame das questões suscitadas com respeito a esse tema deve dar-se a partir
do texto do decreto em referência cuja relação com o art. 27, VI, ‘c’ da Lei nº 10.683,
de 28.05.2003 e art. 2º, III e § único da Lei nº 7.668, e 1988 é manifesta. A referência,
que implica na relação lógica de regulamentação, aliás, está subjacente visto que já
ali se determinava ao Ministério da Cultura e à Fundação Cultural Palmares, respecti-
vamente, adotar as medidas para tanto (e assim o dispusera no primeiro momento o
Decreto nº 3.912 de 2001) embora na fundamentação do Decreto nº 4.887 haja sido
mencionado apenas o art. 84, IV e VI alínea ‘a’ da Constituição.
120
É curioso observar que a Lei nº 10.683, de 28.05.2003, estabelecera a necessida-
de de homologação – isto é, da delimitação e demarcação da ocupação reconhecida
-- por decreto a ser editado pelo Presidente da República, mas essas incumbências
foram, por obra do Decreto nº 4.883 de 20.11.2003 com expresso fundamento no art.
84, VI, ‘a’ da Constituição, transferidas ao Ministério do Desenvolvimento Agrário –
0'$DTXHPVHHQFDUUHJRXWDPEpPGHHPLWLURWtWXORGDVWHUUDVDVVLPLGHQWLÀFDGDV
FRPRTXHÀFRXFODUDPHQWHDEVRUYLGDDKRPRORJDomRSUHVLGHQFLDOSHODWLWXODomRRUGH-
nada pelo próprio decreto presidencial que normatizou o procedimento visto que, pela
menção ao art. 84, VI, ‘a’ da Constituição no seu considerando, indica que o próprio
Presidente, por decreto, já delegou ao Ministério do Desenvolvimento Agrário a práti-
ca dos atos que se substanciariam na homologação presidencial. Daí porque não há
usurpação de poder nem violação da legalidade.
2
A primeira determinação do Decreto nºIRLGHÀQLUDUWº) os remanescen-
tes das comunidades de quilombos como “... grupos étnico-raciais, segundo critérios de
DXWRDWULEXLomRFRPWUDMHWyULDKLVWyULFDSUySULDGRWDGRVGHUHODo}HVWHUULWRULDLVHVSHFtÀFDV
FRPSUHVXQomRGHDQFHVWUDOLGDGHQHJUDUHODFLRQDGDFRPDUHVLVWrQFLDjRSUHVVmRKLVWyULFD
sofridaµVHQGRFDUDFWHUL]DGRVPHGLDQWHDXWRGHÀQLomRGDSUySULDFRPXQLGDGHº)
e como terras ocupadas “as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social,
HFRQ{PLFD H FXOWXUDO” (§ 2º (VWDV GHÀQLo}HV RIHUHFLGDV FRP ERQV SURSyVLWRV SRGH-
riam representar restrição à amplitude constitucional, à vista das considerações acima
enumeradas, embora por certo essa possível redução, conquanto extraída do decreto,
não lhe pode ser obstáculo. Retoma-se aqui, por isto, as considerações acima desen-
volvidas a respeito da apuração da ocupação (isto é, das terras que estejam ocupan-
doXPDYH]TXHDGHÀQLomRGHVVDRFXSDomRYDLORJLFDPHQWHDOpPGDPHUDLGHQWLÀ-
cação daquelas utilizadas atualmente para alargar-se até os limites constitucionais da
preservação das garantias de sua reprodução física, social e cultural.
Em outros termos, é possível, por exemplo, que grupos étnico-raciais autoatribuí-
dos, e com trajetória histórica ou sem ela e mesmo sem presunção de ‘ancestralidade
negra’ ou de ‘resistência à opressão sofrida’, constituam remanescentes de comunida-
des de quilombos, pois, ainda que à expressão quilombo se possa atribuir esse conte-
údo limitativo derivado da compreensão histórica tradicional, há espaço constitucional
e legal para construção jurídica mais abrangente sem perder a referência a quilombos.
(VVDDOLiVSDUHFHWHUVLGRDLQVSLUDomRVHJXLGDFRPRVHSRGHIDFLOPHQWHYHULÀFDUGD
Exposição de Motivos nºÁVFRQVRDQWHGLYXOJDGDjSiJLQDGR'LiULR2À-
cial da União de 21 de novembro de 2003), através da qual foi encaminhado o projeto
que resultou no Decreto nº 4.887 cuja compreensão deve-lhes obediência.
121
3
O art. 3º do decreto atribuiu competência ao Ministério do Desenvolvimento Agrá-
ULR²0'$DWUDYpVGR,1&5$SDUDDLGHQWLÀFDomRUHFRQKHFLPHQWRGHOLPLWDomRGH-
marcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes de comunidades de
quilombos sem prejuízo da competência concorrente dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios. Por essa regra a autarquia deve regular procedimentos e pode es-
tabelecer convênios, contratos, acordos com quaisquer órgãos públicos ou entidades
privadas. O art. 4º seguinte conferiu à SEPPIR competência para assistir e acompa-
nhar o MDA e o INCRA “nas ações de regularização fundiária, para garantir os direitos
pWQLFRVHWHUULWyULRVUHPDQHVFHQWHVGDVFRPXQLGDGHVGHTXLORPERV...” e o art. 5º atribuiu ao
Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares, competência para as-
sistir e acompanhar o MDA e o INCRA “nas ações de regularização fundiária, para garantir
a preservação da identidade cultural dos remanescentes das comunidades de quilombos,
bem como subsidiar os trabalhos técnicos quando houver impugnação ao procedimento de
LGHQWLÀFDomRHUHFRQKHFLPHQWR...”.
Revela-se aqui, em toda a intensidade, a transferência de competências admi-
nistrativas operada pelo decreto ao atribuir ao MDA/INCRA praticamente todas as
PHGLGDVDGPLQLVWUDWLYDVHQRUPDWLYDVSDUDDLGHQWLÀFDomRHUHFRQKHFLPHQWRGDVRFX-
pações de terras pelos remanescentes das comunidades de quilombos, o que pode
eventualmente mostrar-se excessivo visto que cabe institucionalmente à Fundação
Cultural Palmares muitas das competências ali encarregadas ao INCRA as quais são
SUHVVXSRVWROyJLFRSDUDDLGHQWLÀFDomRHUHFRQKHFLPHQWRGDVRFXSDo}HVLQGLFDGDV
Deve, assim, a interpretação desses dispositivos desenvolver-se com cuidado e com-
preensão para que não se aniquilem competências deferidas em lei, resguardando-se
portanto as atribuições próprias dos diversos órgãos legitimamente vocacionados para
a administração da igualdade racial, que certamente não cabem ao INCRA. Nesta me-
dida, a assistência e acompanhamento mencionados devem exercitar-se plenamente
pelos órgãos referidos junto aos agentes do INCRA para que não se desvirtuam os
propósitos legais de igualdade racial, pois a assistência para “garantir os direitos étni-
cos e territoriais” como para “garantir a preservação da identidade cultural” constituem na
verdade os reais pressupostos do reconhecimento da ocupação e para isso a atuação
dessas instituições mostra-se fundamental. Tal preocupação deve ser sempre reitera-
da para que regras como a IN 20/2005 do INCRA, que normatiza o processo adminis-
trativo de reconhecimento, ao atribuir ao Comitê de Decisão Regional (órgão do IN-
CRA, especializado em reforma agrária) a tarefa de julgar as contestações oferecidas
(arts 13 a 15), não venham a frustrar valores garantidos constitucionalmente se existir,
por exemplo, questionamento étnico. Daí, a necessidade de exata compreensão das
atribuições institucionais respectivas visando a adequada aplicação dos preceitos.
122
4
Assegurada a participação das respectivas comunidades (art. 6º), ao concluir os traba-
OKRVGHLGHQWLÀFDomRGHOLPLWDomRHOHYDQWDPHQWRRFXSDFLRQDOFRQIRUPHWHUPRVVXSUDUHIH-
ridos) e cartorial, o INCRA fará publicar editais com a indicação do imóvel, sua localização
HLGHQWLÀFDomRFRPOLPLWHVHFRQIURQWDo}HVEHPDVVLPDHYHQWXDOLQFLGrQFLDVREUHHOHGH
WtWXORVUHJLVWURVRXPDWUtFXODVQRWLÀFDQGRDLQGDRVFRQÀQDQWHVHRFXSDQWHVDUWº e §§).
Concomitantemente encaminhará o relatório dessas conclusões para opinião dos seguintes
órgãos: IPHAN, IBAMA, SPU/MPOG, FUNAI, Secretaria Executiva do Conselho de Defesa
Nacional e Fundação Cultural Palmares, com prazo comum de 30 dias (art. 8º).
A apuração preliminar oferecida pelo INCRA deve ser apresentada aos diferentes órgãos
públicos com atribuições potencialmente incidentes sobre a área preliminarmente reconhe-
FLGDVHPSUHTXHYHULÀFDGDDUHODomRFRPDVDWULEXLo}HVUHVSHFWLYDV$VVLPDFRLQFLGrQFLD
ou superposição com áreas do patrimônio histórico, com áreas de preservação ambiental
de qualquer tipo ou porte, ou do patrimônio da União, ou com ocupação indígena, deve ser
considerada previamente embora o direito dos remanescentes de comunidades de quilombos
mantenha-se em princípio íntegro. É que todas estas instituições têm por missão defender
interesses nacionais de fundo igualmente constitucional, cuja proteção e preservação não
podem ser abandonados, cumprindo a todos eles a administração concertada mediante ade-
quação proporcional dos interesses em jogo.
Nada obstante, parece ainda assim evidente que a remessa do relatório técnico pelo
INCRA a tais instituições precisa ser entendida na devida conta, isto é, nos limites da compe-
tência de cada uma destas organizações, mostrando-se sobremodo inconveniente e desne-
cessário, por exemplo, encaminhar-se à FUNAI, ou ao IPHAN, ou ao IBAMA cópia (muitas ve-
zes volumosa) dos relatórios técnicos quando manifestamente não se cuide de sobreposição
ambiental ou indígena, ou quando obviamente não tenham nenhuma relação com o patrimônio
histórico. Do mesmo modo, revela-se excessiva a consulta à Secretaria-Executiva do Conse-
lho de Defesa Nacional se as ocupações em processo de reconhecimento evidentemente não
se relacionarem com a soberania nacional ou a defesa do Estado democrático, nem se situa-
rem em áreas indispensáveis à segurança nacional (v.g. faixa de fronteiras) ou de preservação
e exploração de recursos naturais de qualquer tipo (art. 91, § 1º, III da Constituição).
A disposição do art. 8º do decreto, por tal razão, merece leitura compreensiva evitando-
se desnecessidades burocráticas que correm sempre em prejuízo dos interesses dos rema-
nescentes das ditas comunidades, podendo o encarregado do processo administrativo, em
manifestação devidamente fundamentada, dispensar as consultas inúteis. De qualquer sorte,
a intervenção dos diferentes órgãos tem natureza opinativa, não vinculante, e serve tão só
ao esclarecimento da autoridade administrativa encarregada de deliberar ou julgar o caso ou
recurso, razão adicional para que a esta mesma autoridade caiba deliberar também sobre a
necessidade da audiência referida no art. 8º do decreto.
Uma vez resolvidas as dúvidas, impugnações e pendências diz o decreto “o IN-
CRA concluirá o trabalho de titulação da terra ocupada.” (art. 9º). Se incidir a ocupação
123
sobre terreno de marinha far-se-á em conjunto com o SPU (art. 10); havendo sobrepo-
sição com áreas de preservação ambiental, ou situando-se na faixa de fronteira ou em
terras indígenas, os respectivos órgãos e a FCP “tomarão as medidas cabíveis visando
garantir a sustentabilidade destas comunidades, conciliando o interesse do Estado” (art. 11).
Incidindo sobre terras estaduais, distritais ou municipais, caberá aos titulares destas
LQVWLWXLo}HVDWLWXODomRFXMRSURFHVVRR,1&5$HQFDPLQKDUiDUW3RUÀPLQFLGLQGR
a ocupação sobre terra registrada como propriedade particular cuja invalidade não te-
nha sido apurada, a autarquia fundiária procederá à vistoria visando à desapropriação
(art. 13 e §§), garantido o reassentamento dos ocupantes não remanescentes de qui-
lombos (art. 14). Cabe mencionar ainda que o INCRA “durante o processo de titulação,
garantirá a defesa dos interesses dos remanescentes das comunidades de quilombos nas
questões surgidas em decorrência da titulação das suas terras” (art. 15). A propriedade de-
ÀQLWLYD´VHUiUHFRQKHFLGDHUHJLVWUDGDPHGLDQWHDRXWRUJDGHWtWXORFROHWLYRHSUyLQGLYLVRjV
comunidades referidas no art. 2ºFDSXWFRPREULJDWyULDLQVHUomRGHFOiXVXODGHLQDOLHQDELOL-
dade, imprescritibilidade e impenhorabilidade” (art. 17). A expedição do título e o registro
cadastral serão procedidos pelo INCRA (art. 22 e parágrafo único).
Neste tópico o texto cuida de disciplinar as providências procedimentais formais de re-
conhecimento e titulação das ocupações dos remanescentes de comunidades de quilombos.
E, com este intuito, as disposições fundantes do decreto, como já referido, devem ser sem-
pre recordadas e compreendidas à luz da interpretação constitucional do art. 68 do ADCT,
ou seja, têm de ser consideradas como pressupostos necessários para o objeto do estudo:
a D SURSULHGDGH FROHWLYD LQFRQGLFLRQDO H SUHH[LVWHQWH UHYHODGD SHOD RFXSDomR VXÀFLHQWH H
necessária com vistas à adequada manutenção e reprodução dos remanescentes das co-
munidades de quilombos a ser apurada em estrita atenção ao preceito constitucional com
EDVHQDDXWRDÀUPDomRGRVLQWHUHVVDGRVHb) o dever indeclinável do Estado de prover esse
UHFRQKHFLPHQWRSRUWLWXORGHÀQLWLYR
A partir daí, a questão é compatibilizar a propriedade quilombola preexistente e as situ-
Do}HVMXUtGLFDVHYHQWXDOPHQWHFRPHODFRQÁLWDQWHVSDUDRTXHRGHFUHWRPHVPRSURSRQGR
soluções por vezes incompatíveis entre si, ofereceu respostas que precisam ser compreendi-
das concertadamente conforme à Constituição.
Veja-se.
Se a ocupação estiver sobre terreno de marinha quando se tratar de rios ou lagos fede-
rais, ou marinhas litorâneas (cujo domínio é da União) – ou dos estados quando margearem
rios ou lagos de seu domínio -- o reconhecimento deverá levar em conta o regime constitu-
cional respectivo das terras de marinha e sua vocação, de modo a conviverem proporciona-
damente os interesses de cada um sem prejuízo fatal de qualquer deles, isto é, preservando
as terras de marinha naquilo que é da sua essência constitucional histórica (art. 20, VII CF)
com resguardo da ocupação dos remanescentes de quilombos e da administração pública
124
(SPU) até o limite do interesse público nacional mais relevante e que possa fazer ceder os
interesses dos remanescentes das comunidades citadas.
Assim também quando tais ocupações estiverem sobrepostas a áreas de interesse da
segurança nacional ou situadas sobre terras devolutas ou de domínio público na faixa de
fronteiras, circunstância em que os direitos e interesses das comunidades devem ser pre-
VHUYDGRVMXQWDPHQWHFRPRVGRLQWHUHVVHS~EOLFRGDVHJXUDQoDQDFLRQDOXPDYH]GHÀQLGR
este de modo concreto, evidente e objetivo, mediante demonstração fundamentada e com
respeito aos títulos constitucionais de ambas as disposições axiológicamente equivalentes.
De outra parte, quando a ocupação de remanescentes de comunidades de quilombos
estiver localizada sobre área de preservação ambiental cuja proteção também tem notório
fundamento constitucional, caberá à administração traçar regras de uso e fruição comparti-
lhados, observadas todas as restrições do regime jurídico ambiental respectivo de tal maneira
que o reconhecimento da propriedade quilombola não aniquile a proteção ambiental nem a
proteção ambiental inviabilize a propriedade dos referidos remanescentes, podendo ser estes
reeducados e recapacitados para o uso sustentável das terras em questão.
O mesmo se dá na sobreposição de terras de ocupação quilombola com terras de ocu-
pação indígena. Sendo ambas comunidades a quem a Constituição defere a posse incon-
dicional das terras e não sendo possível a posse simultânea delas, as instituições respec-
tivamente encarregadas deverão encontrar segura delimitação entre elas preservando as
JDUDQWLDVFRQVWLWXFLRQDLVGDRFXSDomRLQGtJHQDFRQIRUPHGHÀQLGDQRDUWGD&RQVWLWXLomR
ao mesmo tempo em que respeitada a ocupação dos remanescentes quilombolas, até porque
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IRUHPKLVWRULFDPHQWHFRQKHFLGRVFDEHQGRDRVSURÀVVLRQDLVGDDQWURSRORJLDHGDVRFLRORJLD
a apuração técnica.
As terras de ocupação por remanescentes de comunidades de quilombos que se encon-
trarem em área de domínio estadual serão tituladas pelos estados, devendo-se destacá-las
do conjunto de suas terras devolutas ou de seu patrimônio dominical, pelo reconhecimento
da ocupação. Uma questão possível é a discordância do estado quanto à ocupação quilom-
ERODVHpFHUWRTXHRFRPSHWHQWHSDUDDGHÀQLomRHLGHQWLÀFDomRGHsuas terras públicas é
o próprio estado federado e, de regra, é o estado federado que reconhece e titula suas terras
segundo a sua lei estadual. Embora a solução do Decreto nº 4.887 possa sugerir uma contra-
dição lógica dita regra, no entanto, tem de ser entendida apropriadamente. Isto é, a titulação
será realizada pelo estado quando as terras ocupadas pelos quilombolas estiverem situadas
QRLQWHULRUGHWHUUDVGHGRPtQLRHVWDGXDOSRUTXHpHVWHDÀQDOTXHPGHÀQHRVOLPLWHVGDsuas
terras em face da ocupação dos remanescentes de comunidades de quilombos e concede-as
visto que o domínio ou propriedade estadual anterior desaparecem pelo reconhecimento da
ocupação quilombola..
Por derradeiro, estando as ocupações referidas sobre terras particulares, ou melhor,
sobre terras registradas como de propriedade particular, e não sendo desde logo detectada
a invalidade dos títulos, o Decreto permite a desapropriação. O art. 13 não menciona se se
125
trata de desapropriação da “propriedade” do particular, parecendo, no entanto, que é a esta
última hipótese que se refere o texto. Mostra-se indiscutível, no entanto, a ilação lógica de
que a propriedade dos quilombolas, sendo reconhecida, é necessariamente decorrente do re-
conhecimento, posto que a lei constitucional assim o manifesta claramente, parecendo então
cuidar-se, nos casos de títulos anteriores legítimos, mesmo de desapropriação no sentido de
GHFODUDomRGDUHWLUDGDGDSURSULHGDGH7UDWDVHSRLVGHH[SUHVVmRFXMRVLJQLÀFDGRpSHFX-
liar, pois essa providência na prática é apenas uma desapropriação das terras, benfeitorias
e construções de boa-fé erigidas pela pessoa que até então se tinha como dona do imóvel.
De qualquer sorte, a administração deverá investigar os títulos apresentados ou apurados
quanto à sua legitimidade e validade mesmo que a propriedade dos remanescentes das co-
munidades não seja questionável, pois nesse caso a ação de desapropriação tem também
o efeito jurídico de deslindar as terras quilombolas das de propriedade particular ou pública,
para a avaliação da necessidade da desapropriação.
Dessas conclusões é possível extrair a certeza adicional de que aos remanescentes de
comunidades quilombolas, com ocupação sobre terras tidas por particulares – como de resto
igualmente quando sobre terras públicas federais ou estaduais -- deve ser sempre, da mes-
ma maneira e com o mesmo fundamento constitucional, reconhecida a posse jurídica delas
para todos os efeitos legaisDVVLPTXHFRQFOXtGRVSHOR,1&5$RVWUDEDOKRVGHLGHQWLÀFDomR
delimitação e levantamento ocupacional da área sob estudo, isto é, desde a publicação do
edital correspondente (art. 7º, do Decreto nº 4.887) o qual por isso mesmo deverá conter a
expressa referência a essa qualidade jurídica da ocupação enquanto não se expede o título
GHÀQLWLYRGHUHFRQKHFLPHQWRGDSURSULHGDGH
Finalmente, os arts. 16, 18, 19 e 20 do decreto disciplinam as providências a serem admi-
nistradas pela Fundação Cultural Palmares e a instituição de um comitê gestor com respeito
à defesa e manutenção das ocupações reconhecidas. O art. 25 revoga o Decreto nº 3.912 de
2001 e os arts. 21 e 23 disciplinam a transição de um regime para o outro, entrando o Decreto
nº 4.887 em vigor na data de sua publicação (art. 24).
Além do plano de etnodesenvolvimento a cargo do comitê gestor e da assistência técnica
a cargo dos órgãos competentes, o decreto estabelece que a Fundação Cultural Palmares
garantirá a assistência jurídica aos remanescentes das comunidades de quilombos (que o
INCRA deve garantir, durante o processamento administrativo do reconhecimento, na forma
do art.15) bem como prestará assessoramento aos órgãos da defensoria pública quando es-
tes representarem em juízo os interesses dos remanescentes das comunidades. Isto, é certo,
não exclui a representatividade social deles pelas suas próprias associações, em nome das
quais, aliás, tem sido editado o termo de reconhecimento (o modelo adotado pelo INCRA,
por exemplo, reconhece a posse às associações), mas como os destinatários do reconheci-
mento constitucional juridicamente são os remanescentes das comunidades de quilombos,
em rigor, os legitimados para qualquer demanda a respeito são os remanescentes, e não a
associação, daí porque quem pode estar em juízo são os remanescentes, os quais podem
estar representados pela associação mas não o contrário. De todo modo, presume-se estar
126
a associação em representação dos remanescentes, em juízo ou fora dele, sem embargo da
assistência jurídica que lhes pode prestar a FCP e a defesa que lhes pode prover a defensoria
pública (quando, porém, representados pela associação comunitária mostra-se discutível a
ação da defensoria).
5HVWD DVVLQDODU HPERUD R WH[WR GR GHFUHWR QmR UHÀUD R WtWXOR GH UHFRQKHFLPHQWR GD
propriedade e posse dos remanescentes de comunidades de quilombos além do registro ca-
dastral no INCRA que o expediu, deve também ser levado ao registro de imóveis da comarca
correspondente para operar o cancelamento dos registros anteriores, para segurança dos
atos e para valerem contra terceirosFRPRGHFODUDomRS~EOLFDGDSURSULHGDGHLGHQWLÀFDomRH
publicidade dos seus limites e confrontações.
VII
Nessa linha de compreensão, e para o esclarecimento das diferentes instituições
que participam do processo de reconhecimento das ocupações dos remanescentes
de comunidades de quilombos, nos diferentes aspectos suscitados, submeto tais con-
siderações à apreciação superior sugerindo, com base no art. 4º, X (“À[DUDLQWHUSUHWD-
omRGD&RQVWLWXLomRDVHUXQLIRUPHPHQWHVHJXLGDSHORVyUJmRVHHQWLGDGHVGD$GPLQLVWUDomR
Federal”) e XI (“GLULPLUDVFRQWURYpUVLDVHQWUHRVyUJmRVMXUtGLFRVGD$GPLQLVWUDomR)HGHUDO”),
da Lei Complementar nº 73 de 1993, o efeito normativo ali previsto para orientá-los e
prevenir litígios e divergências entre órgãos da Administração.
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cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanes-
centes das comunidades quilombolas de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucio-
nais Transitórias” da Constituição da República Federativa do Brasil, foi apresentado o Projeto
de Decreto Legislativo Nº 44, de 2007, que propõe a suspensão da aplicação daquele Decreto.
O art. 68 ADCT consagra diversos direitos fundamentais, como o direito à moradia e à cul-
WXUD'RUHJLPHHVSHFtÀFRHUHIRUoDGRGRVGLUHLWRVIXQGDPHQWDLVGHFRUUHDWHQGHQFLDODSOLFDELOL-
dade imediata, visto que – aponta o Professor DANIEL SARMENTO1 – “os direitos fundamentais
não dependem de concretização legislativa para surtirem os seus efeitos”1.
7DPEpPLQGLFDPDHÀFiFLDMXUtGLFDSOHQDGHVVHDUWLJRRFRQWH~GRGDGHFODUDomRQRUPD-
tiva (simplesmente o reconhecimento de um direito e a DWULEXLomRGHXPGHYHUHVSHFtÀFRGH
atuação do Poder Público) e sua localização nas disposições transitórias (que, justamente para
poderem disciplinar imediatamente situações de transição entre sistemas constitucionais que se
VXFHGHPGHYHPHVWDUGRWDGDVGHQRUPDWLYLGDGHVXÀFLHQWHVHJXQGRDOLomRGR3URIHVVRU-26e
AFONSO DA SILVA2)
$VSHFWRVHVSHFtÀFRVUHODFLRQDGRVDRkPELWRFRQFUHWRLGHQWLÀFDomRGHSHVVRDVGHOLPLWD-
ção de áreas etc.) e ao âmbito administrativo (órgãos competentes, procedimento...) não criam
1
SARMENTO, Daniel. A garantia do direito à posse dos remanescentes de quilombos antes da desapropriação. <<http://ccr6.pgr.mpf.gov.
br/institucional/grupos-de-trabalho/quilombos-1/documentos/Dr_Daniel_Sarmento.pdf>>, Rio de Janeiro, 2006.
2
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p. 189-191.
149
direitos e deveres “externos”, apenas regulamentam a atuação estatal, e não carecem, portanto,
de lei para serem disciplinados.
Ademais, para satisfazer o princípio da legalidade lá onde ele se impõe, já existe todo um
arcabouço legislativo que sustenta a aplicação do Decreto 4.887/2003: a organização adminis-
trativa, a legislação sobre desapropriação etc. Ou seja: o art. 68 ADCT não necessita de lei para
sua aplicabilidade, mas onde esta é exigida no geral, existem diversas leis pertinentes. Citem-se,
a propósito, a Lei 9.649/1998, sobre a organização da Presidência da República e dos Ministé-
rios, que atribui ao Ministério da Cultura competência para “aprovar a delimitação das terras dos
remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como determinar as suas demarcações,
que serão homologadas mediante decreto” (art. 14, IV, “c”); e a Lei 7.668/1988, que institui a Fun-
GDomR&XOWXUDO3DOPDUHVHOKHGiFRPSHWrQFLDSDUD´UHDOL]DUDLGHQWLÀFDomRGRVUHPDQHVFHQWHV
das comunidades dos quilombos, proceder ao reconhecimento, à delimitação e à demarcação
das terras por eles ocupadas e conferir-lhes a correspondente titulação” (art. 2º, III).
Mais importante, contudo, é considerar o tempo transcorrido. Passados quase vinte anos
da promulgação da Constituição, não tem mais cabimento essa discussão a respeito da autoa-
plicabilidade do art. 68 ADCT, senão com intenção de neutralizar o comando constitucional. Um
comprometimento com a efetividade da Constituição implica “construir uma argumentação sobre
o art. 68 que não inviabilizasse as ações positivas já existentes em prol da realização do direito
lá estabelecido”, destaca o Centro de Pesquisas Aplicadas da Sociedade Brasileira de Direito
Público, capitaneada pelo Professor CARLOS ARI SUNDFELD.4
Curioso que o anterior Decreto 3.912/2001, igualmente editado diretamente para regula-
mentar o art. 68 ADCT, mas cuja disciplina inadequada inviabilizava o efetivo reconhecimento
da propriedade das terras de remanescentes de comunidades de quilombos, tenha passado
incólume à declaração de inconstitucionalidade ou à sustação. Isso revela que o projeto de de-
creto legislativo em questão na verdade insurge-se contra a perspectiva de um reconhecimento
efetivo do direito de propriedade aos remanescentes de comunidades de quilombos (mais pró-
xima com o atual Decreto 4.887/2003 do que com o anterior) e não contra a validade jurídica do
Decreto 4.887.
4XDQGR D GHQVLGDGH GD QRUPD FRQVWLWXFLRQDO p VXÀFLHQWH H Ki DSHQDV QHFHVVLGDGH GH
regulamentação para uma atuação administrativa adequada, não faz falta à interposição legis-
lativa e pode ser estabelecida uma relação imediata entre a Constituição e o decreto5. Vejam-se
3
Aprovação pelo Decreto Legislativo 143, de 20/06/2002; promulgação pelo Decreto 5.051, de 19/04/2004.
4
SUNDFELD, Carlos Ari (Org.). Comunidades quilombolas: direito à terra. Brasília: Fundação Cultural Palmares; Abaré, 2002, p. 112.
150
os exemplos da “organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos”, e da “extinção de funções
ou cargos públicos, quando vagos” (art. 84, VI), bem como da intervenção federal (art. 36, § 1º).
O projeto de decreto legislativo para sustar o Decreto 4.887 utiliza como pretexto, que este
supostamente estaria exorbitando do poder regulamentar, mas o que o projeto realmente com-
bate é o acerto (conteúdo, mérito) dessa regulamentação. Desse modo, está-se a utilizar indevi-
damente o poder conferido ao Congresso Nacional no art. 49, V, da Constituição.
O que essa competência congressual tem em mira é sobretudo um defeito formal: quando
o Poder Executivo vai além da faculdade de regulamentar ou da delegação legislativa, indepen-
dentemente do acerto com que a matéria é disciplinada. Trata-se de um instrumento de proteção
da reserva de competência exclusiva do Congresso Nacional e não de uma alternativa para
contestar o mérito da atuação do Executivo, quando esta se contém em seus devidos limites.
É o princípio fundamental da separação de Poderes (art. 2º) que está em jogo. Se a compe-
tência para disciplinar um assunto é do Poder Legislativo (reserva de lei), uma indevida invasão
(usurpação) de competência pode ser combatida na esfera política pelo próprio Congresso Na-
cional (por meio da sustação: art. 49, V) e na esfera judicial pelo Poder Judiciário (por exemplo,
por meio de ação direta de inconstitucionalidade).
5
Doutrina e jurisprudência admitem a reserva de lei relativa: MARTINES, Temistocle. Diritto constituzionale. 11. ed. Milano: Giuffrè, 2005, p. 379.
6
ADI 2.398 AgR/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 25/06/2007.
7
SAMPAIO, José Adércio Leite. A constituição reinventada pela jurisdição constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 475-476.
151
Entretanto, se a competência constitucional para disciplinar um assunto é do Poder Execu-
WLYRQRH[HUFtFLRGRSRGHUUHJXODPHQWDUDUW,9ÀQDOR3RGHU/HJLVODWLYRQmRSRGHDOHJDU
que houve usurpação de sua competência e utilizar o poder de veto legislativo conferido pelo art.
49, V, apenas porque não concorda com o mérito da regulamentação. Como esclarece o Profes-
sor CLÈMERSON M. CLÈVE, quando o Executivo deve apenas “disciplinar os procedimentos
utilizados pela Administração (modo de agir) nas relações que travará com os particulares, efeti-
vamente, não há delegação”, e “o Executivo pode, perfeitamente, regulamentar a lei em virtude
de competência própria”.8 Em termos mais gerais, mas ressaltando essa atribuição regulamentar
própria, enfatizam os Professores LUIZ ALBERTO DAVID ARAUJO e VIDAL SERRANO NUNES
JÚNIOR que a lei “não pode impedir a sua regulamentação, pois estaria invadindo a competência
do Poder Executivo”.9 Portanto, a situação inverte-se no presente projeto de decreto legislativo:
é o Congresso Nacional que extrapola seu poder ao pretender suspender o exercício adequado
do poder regulamentar pelo Presidente da República.
A desautorização da opção do Executivo pelo Legislativo pode dar-se apenas onde houver
autorização expressa da Constituição. Fora daí, os Poderes deverão respeitar suas respectivas
esferas de atribuição. O Poder Legislativo pode, sim, contestar o acerto das opções do Executi-
vo, por exemplo, em relação a escolhas de titulares de determinados cargos (art. 52, III), ao veto
(art. 66, § 4º), a medidas provisórias (art. 62, § 5º), à intervenção (art. 36, § 1º). Essas e outras
KLSyWHVHVUHYHODPDLQWHUIHUrQFLDUHFtSURFDIUHLRVHFRQWUDSHVRVHQWUHRV3RGHUHVTXHGHÀQH
por exceção o princípio da autonomia.
(PVXPDRSURMHWRGHGHFUHWROHJLVODWLYRHPDQiOLVHWHPHPYLVWDLQÀUPDUDRSomRGR3RGHU
Executivo, consubstanciada no conteúdo do Decreto 4.887/2003, e utiliza indevidamente como
pretexto uma alegada – mas não explicada – ultrapassagem dos limites do poder regulamentar.
8
CLÈVE, Clèmerson M. Atividade legislativa do Poder Executivo no Estado contemporâneo e na Constituição de 1988. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993, p. 254.
9
ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES Júnior, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 310.
10
.<0/,&.$:LOO)LORVRÀDSROtWLFDFRQWHPSRUkQHD6mR3DXOR0DUWLQV)RQWHVS
152
rada como critério fundamental para determinar os grupos” aos quais se aplica a Convenção.
Tanto é assim que JULIE RINGELHEIM, ao analisar a Convenção11 Européia dos Direitos
Humanos, refere que, no contexto das diferentes culturas, conforme apontam sociólogos e
DQWURSyORJRV ´DV QRUPDV H DV SUiWLFDV VmR LQWHUSUHWDGDV QHJRFLDGDV PRGLÀFDGDV SHORV
próprios atores sociais”.12
Todavia, como o próprio Decreto determina, devem ser avaliados também outros fatores
WUDMHWyULD KLVWyULFD SUySULD UHODo}HV WHUULWRULDLV HVSHFtÀFDV DQFHVWUDOLGDGH QHJUD UHODFLRQDGD
com a resistência à opressão histórica), que revestem de objetividade a auto-atribuição inicial.
-8/,$1$6$17,//,DSRQWDMXVWDPHQWHTXHRVSULQFLSDLVFULWpULRVDGRWDGRVSDUDDLGHQWLÀFDomR
das comunidades de quilombos são “a auto-atribuição (critério também consagrado pela Con-
YHQomRGD2,7MiPHQFLRQDGRHDUHODomRKLVWyULFDFRPXPWHUULWyULRHVSHFtÀFRµ13
(VVDFRQWXGRpDSHQDVXPDHWDSDSUHOLPLQDUTXHGHYHUiVHUVHJXLGDGD´LGHQWLÀFDomR
delimitação e levantamento ocupacional e cartorial” da área (art. 7º do Decreto), retratadas num
relatório técnico. Este será encaminhado a diversos órgãos para manifestação (art. 8º) e permi-
tirá contestação por qualquer interessado (art. 9º).
0RGDOLGDGHMiH[LVWHQWHGHGHVDSURSULDomR²2SURMHWRWDPEpPDÀUPDHUURQHDPHQWHTXH
11
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. Proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. São Paulo: Peirópolis,
2005, p. 136-137.
12
RINGELHEIM, Julie. Diversité culturelle et droits de l’homme. L’émergence de la problématique des minorités dans le droit de la
Convention européenne des droits de l’homme. Bruxelles: Bruylant, 2006.
13
Op. e loc. cit.
14
*20(6-RDTXLP%%DUERVD$omRDÀUPDWLYD SULQFtSLRFRQVWLWXFLRQDOGDLJXDOGDGH2'LUHLWRFRPRLQVWUXPHQWRGHWUDQVIRUPDomR
153
o Decreto 4.887 “cria nova forma de desapropriação, alargando os limites constitucionais ao
direito de propriedade, sem previsão constitucional ou legal”.
As desapropriações por utilidade pública ou por interesse social também podem ser realiza-
GDVSHORV(VWDGRV'LVWULWR)HGHUDOH0XQLFtSLRVQDPHGLGDGHVXDVSRVVLELOLGDGHV$ÀQDORDUW
68 ADCT determina genericamente que ao Estado – no sentido de Poder Público, ou seja, a to-
dos os níveis federados de governo – incumbe a emissão dos respectivos títulos de propriedade.
eGLVFXWtYHOVHVHULDFDEtYHODLQGDHPFDVRVHVSHFtÀFRVDGHVDSURSULDomRSDUDÀQVGH
reforma agrária, pela União, ou mesmo se haveria necessidade de desapropriação ou se bas-
taria a indenização de eventuais posseiros (com ou sem título de propriedade) por outras vias.
$GHVDSURSULDomR´SRULQWHUHVVHVRFLDOSDUDÀQVGHUHIRUPDDJUiULDµDUWGD&RQVWLWXLomR
é a forma determinada na Instrução Normativa nº 20, de 19/11/2005, do Presidente do INCRA,
que regulamenta o procedimento estabelecido no Decreto 4.887/2003; essa IN prevê também
a desapropriação prevista no art. 216, § 1º, da Constituição (desapropriação com o objetivo de
promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro, hipótese contida no Decreto-lei 3.365/1941,
art. 5º, “l”) e a compra e venda “na forma prevista no Decreto 433/92” (sobre a aquisição de imó-
YHLVUXUDLVSDUDÀQVGHUHIRUPDDJUiULD7RGDHVVDGLVFXVVmRDSHQDVLQGLFDDSRVVLELOLGDGHGH
outras modalidades expropriatórias ou indenizatórias já previstas no ordenamento jurídico.
Como se pode ver, o Decreto 4.887 não “cria nova forma de desapropriação” e nem pre-
cisaria, pois as diversas modalidades expropriatórias já existentes prestam-se à regularização
fundiária dos territórios tradicionalmente ocupados por comunidades quilombolas.
O decreto legislativo de sustação dos atos do Poder Executivo que exorbitem do poder re-
gulamentar – decreto legislativo que representa uma modalidade de controle parlamentar sobre
o Executivo – também é suscetível de controle, judicial.
154
2H[DPHGHFRQVWLWXFLRQDOLGDGHGRGHFUHWROHJLVODWLYRTXHVXVSHQGHDHÀFiFLDGHDWRGR
Poder Executivo impõe a análise, pelo Supremo Tribunal Federal, dos pressupostos legitimado-
res do exercício dessa excepcional competência deferida à instituição parlamentar. Cabe à Corte
6XSUHPDHPFRQVHTrQFLDYHULÀFDUVHRVDWRVQRUPDWLYRVHPDQDGRVGR([HFXWLYRDMXVWDPVH
ou não, aos limites do poder regulamentar ou aos da delegação legislativa.
$ÀVFDOL]DomRHVWULWDGHVVHVSUHVVXSRVWRVMXVWLÀFDVHFRPRLPSRVLomRGHFRUUHQWHGDQH-
cessidade de preservar, hic et nunc, a integridade do princípio da separação de poderes. (ADI
748-3 MC/RS, rel. Min. Celso de Mello, 01/07/1992)16
DRIHUHFHXPSURFHGLPHQWRDGHTXDGRGHLGHQWLÀFDomRUHFRQKHFLPHQWRGHOLPLWDomRGH-
marcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos;
FUHVSRQGHDRFRPSURPLVVRLQWHUQDFLRQDODVVXPLGRSHOR%UDVLODRUDWLÀFDUD&RQYHQomR
169 da OIT.
:$/7(5&/$8',86527+(1%85*
Procurador Regional da República
16
Veja-se também a ADI 1.553-2/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 06/01/1997.
17
Encontra-se pendente de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.239/DF, justamente contra
o Decreto 4.887/2003.
155