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16.04.

2018 (S)

Aquisição de empresas
Nos contratos de aquisição estão sempre em causa dois riscos:
 risco da discrepância entre o preço e o valor: quem compra não quer pagar mais do que a empresa vale
 risco de incumprimento do contrato: aquele que vende, quer prevenir-se contra o risco de incumprimento
do preço; e aquele que compra, quer que lhe seja entrega aquilo que ficou acordado.
Os contratos de empresa visam essencialmente prevenir estes dois riscos.

Tipo legal: não existe um tipo legal específico de aquisição de empresas. E por isso, são aplicadas as regras gerais de
direito civil. E isto faz com que as normas a que tenhamos de recorrer no caso concreto possam não ser, as mais das
vezes, bem-adaptadas ao caso. E é neste contexto que os contratos têm uma importância muito grande. Sendo que
os contratos se concentram na proteção dos dois riscos.

Os contratos de transmissão de empresas podem ser divididos:


 tem por objeto formal as empresas propriamente ditas: bens corpóreos ou incorpóreos que compõem as
empresas: asset deals
 tem por objeto formal participações sociais que dão o controlo da empresa ou 100% dos direitos sobre a
empresas (no caso dessas participações corresponderem à totalidade do capital; ou menos de 100% mas que
ainda assim correspondem ao controlo da empresa). São os share deals. Compram-se quotas ou ações
(objeto social). Só do ponto de vista económico e social é que a aquisição é a da própria empresa. E isso faz
com que exista regulação a dois níveis/patamares: regulação da transmissão das participações sociais e a
regulação da transmissão da empresa. O que eu quero é sempre a aquisição da empresa. Quando se
compram ações ou quotas como meio de adquirir uma empresa é frequente que o objeto mediato da
operação é composto pela própria empresa, pelo que esta é descrita através das «representations and
warranties». O vendedor dá garantias também relativamente ao ativo e ao passivo de que essas ações e
quotas respeitam.

Representations and warranties (declarações e garantias): visam identificar o objeto da transmissão e servir de
instrumento para a regulação dos riscos.
 respeitantes às participações sociais transmitidas
 respeitantes à empresa, que é o objeto último da transmissão.

Asset deals
O trespasse regula os asset deals.

Contexto histórico: No direito português há uma longa tradição de asset deals através do trespasse. Constitua a
forma tradicional de transmissão de empresas em Portugal. Existem trespasses em todas as ordens jurídicas, mas em
Portugal, durante o século XX, a figura tinha uma centralidade que não tinha noutros ordenamentos. E isto devia-se
às leis sobre o arrendamento. Uma grande parte dos estabelecimentos comerciais eram instalados em locais
arrendados («as lojas de ruas»). A propriedade horizontal só começou a existir em Portugal em 1955. Os senhorios
não gozavam do direito de denuncia (dto de oposição á renovação) – eles estavam sujeitos à vontade de quem lá
estava, que tinha o direito de lá ficar até ele querer. E inclusive houve períodos de congelamento das rendas. Eram
medidas de proteção de comerciantes. Mas isto significa que a posição de arrendatário tinha valor(1112ºcc).
Poderão não ser transmitidos certos elementos do ativo e do passivo, mas o estabelecimento tem de ser sempre
transmitido enquanto unidade.

A regra do nº2 do 1112ºcc tinha importância, mas hoje não. O valor imputável á posição de arrendatário não é muito
grande. Mas quanto a posição doa arrendatário não era destruível por ato do senhorio; e quando a renda era baixa,
esta posição valiosíssima. Nos trespasses dos anos 60,70,80… o que valia dinheiro até era a posição de arrendatário.
Hoje existem trespasses em que a posição de arrendatário já não tem essa posição de importância.

Quem quer adquirir pequenas empresas faz então os assets deals: para fugir à transmissão das posições passivas
inerentes à figura do trespasse.
Existem fatores fiscais que também poderão condicionar a escolha de uma ou outra. O elemento fiscal é
determinante do elemento contratual.
Ex. a venda de ações ou quotas detidas antes de 1 de janeiro de 1989 ou herdadas de alguém que as tivesse
antes destas; essas vendas, as mais valias feitas não estão sujeitas a IRS. Se eu vender essas açoes ou quotas, pago
zero. Se em vez de vender as quotas, vender os ativos e os passivos, a sociedade provavelmente vai pagar IRC e
quando os lucros me forem distribuído eu vou pagar IRC. Por isso obviamente que nesta situação só se vai fazer um
asset deal e nunca um share deal!

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