• Durante muito tempo - até finais do século XVIII -, a
infância não foi encarada como uma fase de desenvolvimento diferente de todas as outras. • As crianças eram como que adultos em miniatura, trabalhando e divertindo-se da mesma forma. No século XIX, assiste-se a uma mudança: começa-se a perspetivar a infância como um período com características próprias, sendo o seu desenvolvimento percebido como muito importante para o futuro adulto. No século XIX, assiste-se a uma mudança:
• começa-se a perspetivar a infância como um período
com características próprias, sendo o seu desenvolvimento percebido como muito importante para o futuro adulto. Esta fase, que vai desde o nascimento até à puberdade, vai ser dividida em três períodos: Analisaremos cada um destes períodos em três vertentes: • do nascimento até aos 2 •o desenvolvimento físico e anos; psicomotor, • dos 2 anos aos 6 anos - •a capacidade de representação e função simbólica, período pré-escolar; • o desenvolvimento da • dos 6 anos aos 11/12 linguagem. anos - período escolar. O desenvolvimento e maturação corporal e o desenvolvimento cognitivo e da linguagem estão intimamente ligados. Desenvolvimento físico e psicomotor Do nascimento até aos 2 anos O recém-nascido tem um Tem capacidades de conjunto de competências que lhe permite receber comunicação muito informações do mundo que o eficientes: rodeia: •Através do sorriso, do •ouve, choro e das vocalizações, o •vê, bebé requer a atenção dos •saboreia, adultos, solicita •cheira, alimentação e conforto. •é sensível ao toque e à temperatura. Nos dois primeiros anos de vida, o crescimento do bebé é muito acelerado: • A evolução corporal está • no primeiro ano, o peso na base de um conjunto aumenta cerca de três vezes, de competências como •a estrutura corporal solidifica-se com o gatinhar, sentar-se, desenvolvimento dos ossos e andar, falar. dos músculos, •inicia-se e desenvolve-se a dentição. Dos 2 aos 6 anos • Este período é caracterizado por mudanças no tamanho, na forma e nas proporções do corpo da criança. É nesta fase que aumenta cerca de 2 kg e cresce cerca de 7 cm por ano, perdendo a aparência que caracteriza o bebé. • Estas transformações • Por volta dos 5 anos, é já físicas têm reflexo na capaz de fazer recortes e o traço do desenho é motricidade, o que progressivamente mais possibilita que seguro e controlado. progressivamente seja • Todas estas capacidades capaz de, por exemplo, são exercitadas com a apertar os cordões dos orientação dos adultos no sapatos, abotoar os contexto da família e em casacos, pegar num lápis. infantários e jardins de infância. Dos 6 aos 11/12 anos O desenvolvimento físico neste O desenvolvimento físico e período decorre de forma mais psicomotor resultam de uma lenta, por comparação com os ação combinada entre os seres períodos anteriores. humanos e o meio: •As capacidades físicas, • É pela ação dos genes que a designadamente as capacidades forma, o tamanho e a maturação motoras, aperfeiçoam-se, corporal se processa. permitindo que a criança •Contudo, tal só é possível se aprenda a ler e a escrever e, estiverem asseguradas as progressivamente, a dominar as condições proporcionadas pelo competências próprias desta meio: alimentação, higiene e fase. cuidados de saúde. • É uma fase de aceleração da aprendizagem a vários níveis. Função simbólica e desenvolvimento da linguagem • Estimulado pelo meio ambiente e motivado pela satisfação das necessidades básicas, o recém-nascido estabelece com os adultos e com o meio em geral relações ativas. Piaget • Este autor considerava que a criança era um ser ativo na relação que estabelece com a realidade na construção do conhecimento e do pensamento. • É através da atividade sensorial e motora que a criança conhece o mundo. • É a inteligência prática que lhe permite resolver problemas como, por exemplo, agarrar uma bola, procurar a chupeta, etc. • É no fim deste estádio e no início do seguinte que se dá uma conquista decisiva que é a função simbólica. • Entre os 18 meses e os 24 • É a aquisição da função meses, o bebé é capaz de simbólica que marca a representar os passagem do estádio de acontecimentos e objetos inteligência através de símbolos que sensoriomotora para o podem ser palavras, estádio pré-operatório, imagens, gestos - caracterizado pela representações simbólicas. inteligência representativa • A criança sabe que o nome e simbólica. Bobby se aplica ao seu cão, • A linguagem é uma das podendo falar dele sem que manifestações da função o animal esteja presente. simbólica. • A palavra infância deriva do latim infante, que significa "que ainda não fala". • A linguagem é uma capacidade que, tal como noutras áreas do comportamento humano, • é objeto de interpretações distintas sobre a sua origem: os inatistas defendem que há um dispositivo inato de aquisição da linguagem; os teóricos da aprendizagem defendem que a linguagem é produto da imitação e do exercício. • As conceções atuais sobre o desenvolvimento da linguagem defendem que existe uma capacidade inata para aprender uma língua, mas é necessária a maturação, o desenvolvimento cognitivo e o meio social. • O exemplo das crianças selvagens sustenta esta interpretação: • algumas destas crianças que nunca tiveram contacto humano apresentam as capacidades físicas para falar mas apenas emitem sons que reproduzem os sons ouvidos no meio onde viveram, dos animais com quem conviveram. • Sustentam assim a teoria que sem o contacto com outros seres humanos não existe a capacidade para comunicar através da linguagem. A linguagem é, portanto, o produto da interação de várias dimensões humanas: •as dimensões física, •cognitiva, •social •e emocional. Marcos da linguagem
Muitos autores designam por discurso pré-linguístico o
conjunto de comporta-mentos que visam a comunicação e envolvem o aparelho fonador: •chorar, •balbuciar, •tagarelar, •vocalizar. Sabe-se que os recém-nascidos distinguem os sons da fala e que aos 6 meses já aprenderam os sons elementares da língua materna. • Por volta dos 9/10 meses já compreendem o sentido de um discurso. • Entre os 10 e os 14 meses, o discurso linguístico inicia-se com o surgimento da primeira palavra que exprime uma ideia (holofrase). • São designadas por discurso telegráfico as frases curtas que a criança emite entre os 18 e os 24 meses. • Aos 3 anos, a gramática e a sintaxe já estão muito desenvolvidas. "(...) usam os plurais e o pretérito passado e conhecem a diferença entre eu, tu e nós.“ • Estas conquistas constituem a base fundadora deste meio de comunicação que vai progressivamente sendo enriquecido com novos vocábulos e com uma construção de frase mais complexa que resulta num discurso cada vez mais elaborado. • Entre os 4 e os 5 anos, as frases têm, em média, quatro a cinco palavras e usam preposições como: em cima, em baixo, dentro, sobre e atrás. • Aplicam rigidamente as regras gramaticais. “As crianças frequentemente cometem erros porque ainda não aprenderam as exceções às regras. Dizer 'fazi' em vez de 'fiz' é um sinal normal de progresso linguístico. Quando as crianças descobrem uma regra, tendem a generalizar, usando-a mesmo quando as palavras não seguem a regra.” (Papalia). "Durante o período pré-escolar, a Ana estava cheia de questões: 'Quantos sonos temos até amanhã?', 'Quem pôs a água no rio?', 'Os bebés têm músculos?', 'Os cheiros vêm de dentro do meu nariz?'. As crianças mais novas estão interessadas em tudo o que se passa no mundo. Fazem perguntas sobre tudo e as suas capaci-dades linguísticas melhoram rapidamente. A criança que aos 3 anos pede à mãe para "bocadar" a sua comida (cortar aos boca-dos pequenos), aos 5 anos pode dizer à mãe "Não sejas ridícula!" ou apontar orgulhosamente para os seus brinquedos e dizer: "Vês como eu organizei tudo?" PAPALIA, D. • Por volta dos 6 anos, as crianças usam cerca de 14 000 palavras. • Utilizam frases mais longas e o seu discurso é complexo. • Durante o período escolar a linguagem é progressivamente enriquecida: a criança interpreta e compreende cada vez melhor a comunicação oral e escrita.