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RESUMO
ABSTRACT
The agrarian structure is an important factor related to agricultural production and its
distribution. Brazil inherited of the colonial period practical land concentrative and until
today the country presents problems related to land distribution. This work objectified
to study the inequalities proceeding from the agrarian structure, measuring the levels of
land concentration in the Brazilian states through the Gini´s index. It was verified that
the general framework of the country didn’t present significant changes in relation to
the agrarian structure. This is because, according to Carvalho (2005), federal
governments have been interested in bringing about political reform, responding to
pressure from social movements with settlements´ compensatory policies, in order to
control or persuade the expansion of the same ones, but not by restructuration policies
in the agricultural. In short, exist evidences of naturalization land´s inequalities,
followed the lack of adequate public policies to allow for a re-ordering of composition
in the distribution of land ownership.
1
Mestre em Economia pelo Departamento de Economia da Universidade federal de Viçosa - MG. e-mail:
zezo_filho@yahoo.com.br
2
Professora Titular da do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa - MG. e-mail:
rfontes@ufv.br
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1 – INTRODUÇÃO
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Segundo o artigo 3º da Lei 601, ficava-se entendido como terras devolutas: "As que não se acharem
aplicadas a algum uso público nacional, provincial ou municipal; as que não se acharem no domínio
particular por qualquer título legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo
Geral Provincial, não incursas em comisso por falta de cumprimento das condições de medição,
confirmação e cultura; as que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que,
apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei e; as que não se acharem ocupadas por
posse, que apesar de não se fundarem em título legal, forem legitimadas por esta lei” (SILVA, 1996).
4
Originalmente o sistema sesmarial surge com o intuito de solucionar uma crise de abastecimento no
século XIV, mais precisamente em 1375, através da Carta Régia assinada por D. Fernando I em meio à
Revolução de Avis. No entanto, neste trabalho, se limitará à análise do período sesmarial brasileiro, que,
por sua vez, sofreu inúmeras transformações em relação à proposta anterior (SILVA, 1996).
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tradicional cujas propriedades com menos de 200 ha são consideradas pequenas, essa
desigualdade torna-se ainda mais gritante, pois 91,9% nessas condições possuíam, em
2003, somente 29,1% da área total registrada nos cadastro do INCRA.
Segundo Silva (1980) e Castro (1982), os avanços das transformações
capitalistas na agricultura, somado manutenção de políticas governamentais em favor
das grandes propriedades e, consequente detrimento dos pequenos estabelecimentos,
foram elementos preponderantes para a intensificação da concentração fundiária no
Brasil. Outro fator contribuinte para a concentração de propriedades citado pelos autores
é a aquisição de terras com fins especulativos, ou seja, os estabelecimentos passaram a
ser demandados, não para atividades produtivas, mas como fundo de reserva e proteção
aos ataques inflacionários.
Segundo Albuquerque, (1985 apud SOUZA 2000), a estrutura agrária no Brasil
teve poucas modificações entre 1940 e 1980. Em geral, foi mantida a concentração de
modo que se predominava a ocorrência de pequenos estabelecimentos, porém com
volume baixo em área total ocupada, enquanto que um número pequeno de grandes
proprietários dominava grande parcela das terras. O referido autor cita que em 1940, as
propriedades com menos de 10 hectares correspondiam 34,4% do número total de
estabelecimentos, ocupando somente 1,5% da área total. Já em 1980, 50% do número
desses estabelecimentos ocupavam 2,4% da área total. Assim, conclui o autor que,
durante o período verificado, as poucas modificações na estrutura agrária se deram
através do aumento da concentração, implicando na elevação do índice de Gini de
i=0,83 em 1940 para i=0,85 em 1980, ou seja, o equivalente a 2,4% mais dispare do que
no período inicial.
Souza (2000), por sua vez, considera que a maior parte dos estados brasileiros
que obtiveram tendência de concentração ao longo dos anos (1970 a 1995) passou por
um processo de modernização agrícola mais intensivo. Embora esse não seja o único
dos fatores a atuarem nos estados no sentido de contribuir para os avanços da
concentração de terras, foi possível evidenciar uma possível tendência entre ambas as
variáveis.
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3 – METODOLOGIA
Para analisar a estrutura fundiária no Brasil foram coletados dados secundários
do INCRA (1992, 1998 e 2003) e IBGE (1980, 1985 e 1995/1996) por estratos de
propriedades rurais (em hectares) referentes ao número de estabelecimentos, área
ocupada e área média das propriedades rurais. Foram calculados os níveis de
concentração de terras nos estados através do Índice de Gini (IG). Além disso, através
dos resultados obtidos, foram elaborados gráficos e mapas para facilitar a visualização e
análise dos dados.
n
IG = 1 - ∑ (Yi + Yi – 1) (Xi - Xi – 1) (1)
i=1
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4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na presente seção serão abordados aspectos relacionados à estrutura fundiária
brasileira e também mensurar-se-á os níveis de concentração de terras nos estados, bem
como as modificações ocorridas entre 1992 e 2003.
5
Imóvel Rural "prédio rústico de área contínua, qualquer que seja sua localização, que se destine ou
possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial", nos
termos da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993.
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relação ao número de imóveis, bem como suas áreas totais. A seguir, a Tabela 1 contém
os dados da estrutura fundiária brasileira em 1992, 1998 e 2003:
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2002
2003
2004
Figura 2 - Ocupações de terras no Brasil por número de famílias entre 1988 a 2004.
Fonte: DATALUTA, UNESP APUD CARVALHO, 2005.
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de terras utilizadas para produção agropecuária dos latifundiários são até 754 vezes
maior do que a dos mini e pequenos produtores que, juntos representam mais de 90% do
total de proprietários.
TABELA 3 - CLASSIFICAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS POR EM 1992 - 1998 – 2003
BRASIL
CLASSE DE ÁREA NÚMERO DE IMÓVEIS
TOTAL (HA) 1992 % 1998 % 2003 %
Minifúndio 907.764 31,04 1.144.642 31,90 1.409.752 32,86
Pequena propriedade 1.792.610 61,30 2.156.115 60,09 2.561.458 59,70
Média propriedade 182.379 6,24 229.329 6,39 250.891 5,85
Latifúndio 41.451 1,42 57.881 1,61 68.381 1,59
TOTAL 2.924.204 100 3.587.967 100 4.290.482 100
ÁREA TOTAL (HA)
1992 % 1998 % 2003 %
Minifúndio 4.429.542,7 1,43 5.422.109,1 1,31 6.638.598,6 1,59
Pequena propriedade 77.998.137,1 25,16 95.514.530,1 22,98 112.299.267,8 26,84
Média propriedade 74.960.496,3 24,18 94.809.645,0 22,81 103.845.378,0 24,82
Latifúndio 152.642.576,1 49,24 219.824.527,8 52,90 195.673.396,4 46,76
TOTAL 310.030.752 100 415.570.812 100 418.456.641 100
Fontes: INCRA - Estatísticas Cadastrais (1992 - 1998), SNCR/INCRA (2003).
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efetivação de políticas distributivas. O mesmo vale para os estados com menores IG,
tais como Rondônia e Amapá.
TABELA 5 - INDICE DE GINI - TERRAS - NO BRASIL
ANOS
ESTADOS
1992 1998 2003
BRASIL 0,826 0,838 0,816
REGIÃO NORDESTE 0,786 0,805 0,790
REGIÃO CENTRO-OESTE 0,804 0,804 0,784
REGIÃO NORTE 0,844 0,847 0,778
REGIÃO SUDESTE 0,741 0,749 0,738
REGIÃO SUL 0,692 0,699 0,672
AMAZONAS 0,935 0,927 0,837
DISTRITO FEDERAL 0,781 0,804 0,827
PARÁ 0,888 0,885 0,823
BAHIA 0,802 0,826 0,807
MATO G. DO SUL 0,807 0,806 0,805
ACRE 0,883 0,865 0,785
ALAGOAS 0,783 0,783 0,780
SERGIPE 0,788 0,789 0,773
MATO GROSSO 0,813 0,803 0,763
PIAUÍ 0,743 0,767 0,755
PARAÍBA 0,753 0,758 0,755
RIO G. DO NORTE 0,739 0,759 0,752
SÃO PAULO 0,750 0,754 0,744
PERNAMBUCO 0,757 0,756 0,742
MINAS GERAIS 0,745 0,754 0,741
RIO DE JANEIRO 0,728 0,742 0,738
GOIÁS 0,717 0,720 0,720
MARANHÃO 0,740 0,759 0,719
RIO G. DO SUL 0,713 0,718 0,693
CEARÁ 0,684 0,695 0,691
TOCANTINS 0,661 0,685 0,678
PARANÁ 0,693 0,702 0,677
ESPÍRITO SANTO 0,605 0,632 0,626
SANTA CATARINA 0,625 0,632 0,607
RORAIMA 0,870 0,789 0,597
AMAPÁ 0,842 0,775 0,585
RONDONIA 0,631 0,631 0,567
Fonte: Cálculo do autor.
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concentração de terras nos últimos anos. Da mesma forma, pôde se observar que a
região Sul também tem apresentado elementos satisfatórios na composição da
distribuição de terras, na medida em que todos os estados da região mantiveram-se na
classe intermediária de classificação de desigualdades em 2003.
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5 - CONCLUSÕES
Após analisar a questão agrária no Brasil sob diversos aspectos, é possível
afirmar que o Brasil é um país cuja distribuição de terras está altamente concentrada e
altos níveis de desigualdade ainda perduram. Mesmo contendo grande quantidade de
terras improdutivas, públicas e devolutas no país, o conservadorismo no campo
prevalece aos interesses sociais. A realização de políticas de assentamento por parte de
governos federais não se consolidam como propostas claras de políticas públicas para o
setor. Os governos, durante o período analisado, se preocuparam apenas em conter as
pressões dos movimentos sociais com algumas políticas compensatórias, mas não há
uma proposta de Reforma Agrária que vise à reestruturação fundiária e produtiva no
campo. Exemplo disso é que já foram elaborados dois Planos Nacionais de Reforma
Agrária no Brasil e nenhum deles foi implementado em favor da redução da
concentração de terras no Brasil e tampouco na realização da Reforma Agrária.
Nenhuma das regiões geográficas apresenta resultados significantes de
desconcentração de terras. A região Sul, que é a menos concentrada, ainda encontra-se
com grandes disparidades distributivas, inclusive pode-se caracterizá-la como uma
região altamente concentradora de terras, tamanha é a desigualdade fundiária no país. O
índice de Gini constata que durante os 11 anos entre o primeiro e o último período
analisado, somente os estados da região Norte proporcionaram quedas qualitativas de
concentração. Ainda assim, vale ressaltar que, em 1992, esses estados estavam num
patamar extremo de concentração e, que mesmo tendo quedas significativas, é
necessário ainda verificar se isso é uma tendência real de desconcentração ou se os
números irão se estabilizar nesses patamares de desigualdade. Observando-se os mapas
também se percebe que não está ocorrendo desconcentração, uma vez que os mapas
permanecem “escuros” e sofrem pouca modificação ao longo dos anos.
Portanto, uma vez caracterizada a questão agrária no país, pode-se concluir que
ao longo da história não foi dado o devido valor a esse setor, e dessa forma, as
desigualdades no campo estão longe de serem amenizadas. Pelo contrário, parece haver
um acomodamento dessas desigualdades, expressa principalmente na falta de interesse
político de se realizar políticas públicas eficientes na desconcentração de terras no
Brasil. Somente através de um programa estruturado de Reforma Agrária, de caráter
abrangente e com vistas ao desenvolvimento econômico seria possível mudar a
realidade atual, pois, além de modificar a estrutura fundiária, o país contaria com
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6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSELIN, V. Grilagem: Corrupção e violência em terras Carajás. Petrópolis:
Revista dos Tribunais, 1991.
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SILVA, L.O. Terras devolutas e latifúndio: efeitos da Lei de 1850. Campinas: Ed.
UNICAMP, 1996.
STÉDILE, J.P. (Org). A Questão Agrária Hoje. Porto Alegre: Ed. Universidade
UFRGS, 2002.
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