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O PROCESSO DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS

A compreensão a respeito do processo de utilização de medicamentos é necessária para os diversos cenários de prática
profissional de atuação do farmacêutico. Para os profissionais que atuam no processo de garantia da qualidade do
medicamento, por exemplo, é necessário o entendimento não somente a respeito do método analítico utilizado para
quantificar e analisar esse medicamento e/ou do processo tecnológico envolvido na produção, mas deve-se entender,
também, a forma como esse medicamento será utilizado pelo paciente, ou seja, deve-se compreender o objetivo ao
qual ele se destina, suas interações com o organismo e outras substâncias, entre outros aspectos relacionados ao seu
uso. Da mesma forma, os profissionais envolvidos diretamente com os serviços de dispensação, como aqueles que
atuam em farmácias comerciais e centros de saúde, por exemplo, devem entender o processo de produção do
medicamento. Observa-se, portanto, que é necessário que se tenha uma visão integral do medicamento.

O indivíduo central de todo o processo de utilização de medicamentos é o paciente, para o qual o medicamento é
destinado devido a uma necessidade desse indivíduo, que é constatada a partir da avaliação clínica pelo profissional de
saúde ou a partir da autoavaliação, o que gera o processo de prescrição do medicamento pelo profissional de saúde, ou
à decisão própria do paciente. Em seguida, tem-se o processo de dispensação do medicamento para o paciente,
realizada pelo farmacêutico, na qual inclui a orientação sobre a utilização do medicamento, e a monitorização do
paciente pelo profissional de saúde, verificando a eficácia do medicamento no tratamento do processo apresentado
pelo paciente, já que a utilização do medicamento leva a um resultado, que pode ser efetivo ou não, ou seja, pode
permitir ou não o alcance do objetivo terapêutico.

Portanto, o processo de utilização de medicamentos é complexo, envolvendo a interação interpessoal, tendo-se o


médico como profissional prescritor, o enfermeiro como profissional responsável pela administração do medicamento,
o paciente, que pode aderir ou não ao tratamento, o farmacêutico como profissional responsável pela dispensação do
medicamento para o paciente e pela produção do mesmo, etc. Além disso, envolve a técnica utilizada na administração
do medicamento, que pode interferir na adesão do paciente ao tratamento, e os processos relacionados à tomada de
decisão a respeito da escolha do medicamento. Logo, trata-se de um processo complexo e multifacetado, que envolve
etapas sequenciais e multidisciplinares.

O ambiente da utilização de medicamentos:

A utilização de medicamentos apresenta determinantes culturais e sociais, e também é influenciada pela mídia, pela
formação dos profissionais envolvidos no processo de utilização de medicamentos, e pelo sistema de saúde ao qual o
paciente está inserido (público, privado ou suplementar). A sociedade também incentiva o uso de medicamentos,
assumindo valores aos medicamentos, que maximizam e contribuem para sua utilização. Com relação à formação dos
profissionais, nos últimos anos a OMS tem dado direções para os profissionais de saúde, objetivando a promoção da
utilização racional de medicamentos, para que o medicamento não seja visto simplesmente como um agente
terapêutico. Com relação ao sistema de saúde, os sistemas público e suplementar apresentam normas próprias de
utilização de medicamentos, diferentemente do sistema privado, que é mais flexível.

Em determinados contextos, o paciente não é capaz de aderir sozinho ao tratamento, por se tratar de crianças, idosos,
ou pacientes com grau de comprometimento da saúde que determinou a perda de autonomia para tal, e, portanto,
necessita de um cuidador, que também participará do processo de utilização de medicamentos pelo paciente.

A atuação de um profissional no processo de atenção à saúde, em relação ao medicamento, depende de um marco


regulatório e de um marco profissional. O marco regulatório é determinado pela ANVISA, e define como deve ser
realizada a prescrição do medicamento, as qualidades dos medicamentos, as condições para a administração de
medicamentos nos serviços de saúde, entre outros aspectos relacionados à utilização de medicamentos. O marco
profissional é determinado pelos conselhos das categorias profissionais, como CRF, CRM, COREN, etc, e, portanto, é
específico para cada profissional de saúde envolvido no processo de utilização de medicamentos.

A prescrição do medicamento pode ser realizada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, dentistas e farmacêuticos. A
prescrição de medicamentos por enfermeiros se dá no contexto da atenção básica, para determinados problemas de
saúde, como tuberculose e hanseníase, e para planejamento familiar, e é exclusiva do serviço público. Atualmente, os
farmacêuticos podem prescrever medicamentos cuja aquisição não depende de prescrição. Os nutricionistas podem
prescrever determinadas plantas medicinais e suplementos.

Objetivos clínicos da utilização de medicamentos:

Os objetivos de um profissional prescritor ao prescrever um medicamento são, principalmente, alcançar a cura ou


controle de doenças, e o alívio ou controle de sintomas. Porém, alguns medicamentos são prescritos com finalidade
diagnóstica, como o controle radiológico. Existem, também, medicamentos que são utilizados com o objetivo
profilático.

A profilaxia pretendida com o uso do medicamento pode ser primária ou secundária. A profilaxia primária ocorre
quando se deseja evitar um problema que ainda não ocorreu, enquanto a profilaxia secundária ocorre quando se deseja
evitar a recidiva de um evento. O AAS e as estatinas, por exemplo, são medicamentos utilizados com finalidade de
profilaxia secundária, evitando-se a recidiva de infarto e outros eventos cardiovasculares em pacientes que já foram
acometidos com tais. Fármacos antitrombóticos são utilizados com finalidade de profilaxia primária em indivíduos
que estão em condições favoráveis à ocorrência de trombose, como indivíduos acamados.

Objetivos profissionais da utilização de medicamentos:

O medicamento apresenta valores simbólicos no processo de utilização. Um profissional pode prescrever um


determinado medicamento como uma forma de expressar preocupação e legitimar-se diante do paciente, já que, muitas
vezes, os profissionais são julgados pelos usuários como bons ou ruins pelo fato de tais prescreverem ou não um
medicamento, sendo, que muitas vezes, a prescrição não é necessária. A prescrição pode ser realizada, também, como
uma simbologia de cuidado/poder ou como uma forma de legitimar a queixa e os sintomas que foram apresentados
pelo paciente.

Objetivos individuais da utilização de medicamentos:

Os medicamentos podem ser utilizados por indivíduos com o objetivo de compreensão da doença por tal, ou seja, o
indivíduo que apresenta determinada condição utiliza um medicamento que altera o processo apresentado por ele e,
então, este apresenta melhora. Além disso, medicamentos são utilizados por respeito à autoridade, ou seja, o paciente
não entende sua utilização, mas o faz porque um profissional de saúde o prescreveu.

Muitas vezes, os medicamentos são utilizados por conveniência e adequação ao padrão social. Um indivíduo que
apresenta epilepsia, por exemplo, busca a utilização de um medicamento para evitar que ocorram sintomas específicos
da doença, que poderiam dificultar sua inserção na sociedade. Alguns indivíduos utilizam medicamentos com o
objetivo de se mostrarem produtivos no meio social, como indivíduos que apresentam insuficiência cardíaca de grau 3,
que não consegue se locomover e apresenta problemas respiratórios, o que compromete sua produção no trabalho, por
exemplo, logo, esses pacientes buscam a utilização de medicamentos para o tratamento da patologia apresentada,
diminuindo os sinais característicos da mesma. A utilização de medicamentos por um indivíduo pode ser realizada,
ainda, com o objetivo de melhoria da qualidade de vida, como melhorar o relacionamento social e a atividade sexual,
por exemplo.

O processo básico de utilização de medicamentos:

Primeiramente, o paciente acessa o sistema de saúde, seja público ou privado, e, então, o profissional de saúde
reconhece problemas objetivos (problemas mensuráveis, como elevação da pressão arterial e elevação da glicemia) ou
subjetivos (sintomas que o paciente relata, como cansaço, dor de cabeça, etc, que não são mensuráveis) do paciente, os
avalia e fornece um plano terapêutico, a partir de uma prescrição farmacológica ou não farmacológica. Após isso,
ocorrem os processos de dispensação do medicamento para o paciente, utilização do mesmo, e monitorização da
utilização. Essas etapas definem, portanto, o processo básico de utilização de medicamentos por um indivíduo.

Dimensões do medicamento:

O medicamento apresenta diversas dimensões na sociedade. Apresenta uma dimensão simbólica tanto para o indivíduo
que o utiliza, quanto para o profissional que o prescreve, e um papel típico em cada sociedade, relacionado à cultura.
Além disso, o medicamento apresenta uma dualidade. Apesar de ser um agente terapêutico, apresentando ações
curativas, profiláticas e restauradoras, o medicamento pode causar danos ao paciente, devido às reações adversas
provocadas pelo mesmo, e à sua toxicidade. Por este motivo, pacientes que utilizam medicamentos com baixo índice
terapêutico, tais como fenitoína, aminoglicosídeos, vancomicina, varfarina e digoxina, devem ser monitorados, pois
estes apresentam maior chance de provocar danos ao paciente, apesar de serem importantes para o tratamento,
trazendo benefícios ao indivíduo. Outra dualidade do medicamento se refere ao fato de este produto apresentar um
valor terapêutico e, ao mesmo tempo, econômico, mercadológico.

O medicamento apresenta dimensões multidisciplinares, já que atua em diversos setores, logo, seu uso deve ser
discutido juntamente com toda a equipe de saúde. Um medicamento que tem como efeito adverso o risco de queda,
por exemplo, deve ter seu uso discutido com o fisioterapeuta, para que sejam implantadas medidas que evitem a queda
no paciente que o utiliza, assim como um medicamento que apresenta efeito na cognição, deve ter seu uso discutido
com o psicólogo ou neuropsicólogo, ou um medicamento que pode alterar o aleitamento materno, que é uma questão
de interesse na atenção à saúde da mulher, ou um medicamento que interfere na absorção de determinado nutriente
importante para a saúde, que deve ter seu uso discutido com o nutricionista.

Formas de acesso ao medicamento:

O paciente pode ter acesso ao medicamento a partir da auto-seleção, da prescrição por um profissional de saúde
habilitado para tal, ou a partir da prescrição no contexto de saúde. A auto-seleção envolve a automedicação, que pode
ser realizada pelo próprio paciente ou pelo seu cuidador, que decide a utilização de um determinado medicamento pelo
paciente. Logo, desde que a utilização do medicamento não seja decidida por um profissional de saúde, caracteriza
uma automedicação.

Medicamentos disponíveis para utilização:

Os medicamentos disponíveis para a utilização pelo indivíduo são: medicamentos referência, medicamentos similares
e medicamentos genéricos. Essa classificação dos medicamentos deve ser conhecida pelo profissional farmacêutico
para facilitar o acesso da população aos medicamentos. Os medicamentos referência são produtos inovadores que
estão, ainda, sob patente. Os medicamentos similares apresentam o mesmo princípio ativo dos medicamentos
referência e são comercializados com um nome fantasia (nome de marca), e, de acordo com a nova legislação, alguns
podem ser intercambiáveis com os medicamentos referência. Os medicamentos genéricos são comercializados com o
nome do princípio ativo presente no produto e são intercambiáveis com os medicamentos referência.

Além disso, os medicamentos podem ser: medicamentos isentos de prescrição (MIP – medicamentos de venda livre),
existindo uma legislação que define as classes de medicamentos incluídas nessa classificação; medicamentos vendidos
sob prescrição, que são os medicamentos de tarja vermelha; medicamentos vendidos com retenção da prescrição,
como é o caso dos antibióticos, que são vendidos somente com prescrição médica e retenção da mesma, como forma
de estimular o uso racional desses medicamentos, evitando-se seu uso abusivo, que está relacionado ao
desenvolvimento de resistência dos microorganismos, e, outro exemplo, são os medicamentos que interferem com o
SNC, que também são vendidos com retenção da prescrição, como forma de segurança para o paciente; medicamentos
com uso notificado, comercializados com tarja amarela, que são aqueles que podem causar dependência no paciente
(regulamentados pela portaria 344), ou medicamentos de uso hospitalar, como derivados de opioides.

Outros medicamentos disponíveis para a utilização são as plantas medicinais e os produtos fitoterápicos, que são
comercializados em farmácias de manipulação ou farmácias comerciais, devendo-se ter uma maior preocupação com a
questão mercadológica desses produtos, já que se trata de redes privadas, o que envolve uma questão econômica.

Locais de acesso dos pacientes aos medicamentos:

Os pacientes podem ter acesso aos medicamentos através da rede privada subsidiada e através da rede pública. A rede
privada subsidiada de Minas Gerais apresenta dois programas de subsídio: “Aqui tem farmácia popular” e “Saúde não
tem preço”. No programa “Aqui tem farmácia popular”, o paciente recebe um desconto na aquisição do medicamento,
enquanto no programa “Saúde não tem preço”, que é destinado aos pacientes diabéticos e hipertensos, os
medicamentos para essas patologias são fornecidos gratuitamente. Existe uma abordagem filosófica, social e política
de que os medicamentos abrangidos por esses programas deveriam ser fornecidos pelo serviço público, mas, por
decisão governamental, esses medicamentos estão presentes também nas farmácias comerciais, além do serviço
público. Outro modelo, que não existe mais em Belo Horizonte, é o “Farmácia Popular do Brasil”, onde farmácias da
UNIMED são estruturadas para fornecer os produtos subsidiados que, atualmente, estão presentes nas farmácias
comerciais. Por questões políticas, o conselho de saúde de Belo Horizonte determinou que a formação dessas
farmácias não era favorável, defendendo que os medicamentos deveriam ser fornecidos pelas farmácias do SUS.

Na rede pública, os pacientes adquirem os medicamentos através de farmácias do sistema público, como as farmácias
das unidades básicas de saúde. Os medicamentos presentes no sistema público são classificados em 3 componentes:
medicamentos do componente básico; medicamentos do componente estratégico e medicamentos do componente
especializado. Os medicamentos do componente básico são aqueles destinados ao tratamento das doenças mais
prevalentes na população. Os medicamentos do componente estratégico não apresentam interesse mercadológico, pois
são destinados a um número menor de pessoas, para o tratamento de doenças endêmicas, tais como malária,
hanseníase, tuberculose, leishmaniose, e de problemas prioritários do sistema de saúde, como tabagismo, AIDS e
hemofilia. Os medicamentos do componente especializado são aqueles de alto custo, como medicamentos importados,
medicamentos destinados ao tratamento de doenças raras, doenças congênitas, Alzheimer, Parkinson e medicamentos
para transplantes, e são disponibilizados somente para os pacientes que se enquadram no perfil definido pelas
diretrizes de tratamento. Um paciente acometido com tuberculose, por exemplo, atendido em um hospital particular,
só conseguirá adquirir o medicamento para esse tratamento (isoniazida + rifampicina) através do sistema público, pois
os medicamentos dos componentes estratégico e especializado não estão disponíveis na farmácia comercial.

Em um hospital, o acesso ao medicamento se dá de forma diferenciada. Os medicamentos não estão presentes pelo
nome de marca, mas pelo nome do princípio ativo, e, geralmente, escolhe-se 1 ou 2 representantes de cada classe
terapêutica, para serem integrados na farmácia hospitalar, sendo que, para isso, leva-se em consideração diversos
aspectos relacionados tanto ao próprio medicamento quanto à sua demanda no hospital.

Auto-seleção (automedicação):

O paciente pode se automedicar com medicamentos de venda livre (MIPs), presentes na farmácia comunitária, ou
medicamentos presentes em seu próprio estoque domiciliar. A automedicação pode ser realizada de forma
responsável, quando destinada ao tratamento de sintomas mais leves, como dor de cabeça ocasional, e é fundamentada
no uso de MIPs (medicamentos isentos de prescrição), sendo, inclusive, incentivada pela OMS. Porém, muitas vezes,
a automedicação é feita de forma irracional, podendo provocar problemas ao paciente, já que a seleção do
medicamento pode ser inapropriada, a dose pode ser inadequada, as interações podem não ser detectada, não haverá
monitoração do paciente, e o diagnóstico pode ser inadequado.

Prescrição de medicamentos:

A prescrição de medicamentos pode ser realizada em diversos contextos, como em centros de saúde, ambulatórios,
clínicas especializadas, instituições de longa permanência para idosos, hospitais, etc, para pacientes que relatam
sintomas leves a moderados.

Em alguns hospitais, enfermeiros apresentam prerrogativa para prescrever coberturas interativas, que são substâncias
ativas aplicadas sobre a ferida do paciente, com o objetivo de facilitar o processo de cicatrização. Essas coberturas
podem ser de fibra coloide, hidrogel, carvão ativado, ou outras substâncias. Essa prerrogativa é permitida apenas para
enfermeiros especialistas em tratamento de feridas.

Alguns medicamentos prescritos são de uso hospitalar, logo, serão utilizados somente no hospital, como relaxantes
neuromusculares, anestésicos, antineoplásicos de uso parenteral, derivados do sangue (como albumina),
antimicrobianos parenterais, etc. Esses medicamentos são administrados por via parenteral, via inalatória ou ostomias.
Outros são medicamentos para urgência e emergência, prescritos em unidades de pronto atendimento (UPAs) e
SAMU. Os farmacêuticos do SAMU atuam na organização da assistência farmacêutica para este serviço, ou seja, no
planejamento da seleção e aquisição dos medicamentos, sendo que existem definições de medicamentos específicos
para determinados padrões de ambulância, variando de acordo com a urgência e finalidade do tratamento.
Problemas:

1) Para a utilização de medicamento, é necessário que haja uma programação, ou seja, o paciente deve,
primeiramente, procurar o serviço de saúde, podendo demandar um período de tempo para que ele seja
atendido, o que pode piorar o quadro clínico do paciente, atrasando o tratamento;
2) O acompanhamento/monitoramento do paciente pode ser inadequado e, além disso, o profissional, muitas
vezes, não tem as informações necessárias para garantir a continuidade do cuidado (referência e contra-
referência);
3) O tempo de consulta pode não ser adequado, tendo-se poucas oportunidades para esclarecimentos;
4) Com relação aos hospitais, um dos problemas da prescrição é a falha de comunicação na transmissão do
cuidado. Muitas vezes, o profissional prescritor não sabe o que acontece com o paciente fora do hospital, ou
seja, na unidade básica de saúde, o que gera problemas, já que o médico apresenta informações incompletas a
respeito da farmacoterapia e da história médica passada do paciente;
5) Outro grande problema está nos recursos humanos, relacionado à capacitação inadequada, e o alto volume de
pacientes;
6) Em alguns ambientes de trabalho, principalmente na urgência e unidades de terapia intensiva, muitas vezes
precisa-se tomar decisões rápidas, o que é um trabalho complexo, já que, geralmente, são situações agudas e
com múltiplos determinantes, tendo-se a qualidade da informação dificultada, o que compromete o processo
do cuidado. Além disso, medicamentos parenterais, por serem medicamentos de ação imediata, demandam
maior tempo de monitoração, e podem-se ter falhas no processo pós-alta.

O papel do paciente:

O paciente é fonte de informações para subsidiar o processo de utilização de medicamentos, sendo ele quem fornece
as informações a respeito dos sinais e sintomas apresentados, permitindo a avaliação do quadro e, consequentemente,
a definição do plano terapêutico e, posteriormente, prescrição do medicamento pelo profissional e dispensação. Além
disso, o paciente fornece informações que permitem a avaliação da eficácia da terapia.

A tomada de decisão a respeito do uso de medicamentos pode ser: paternalista, onde o paciente é mais participativo;
informativa, onde o paciente é o principal tomador da decisão; ou compartilhada, onde o profissional é o principal
tomador da decisão.

Questões importantes para a prática do farmacêutico em relação ao usuário do medicamento:

O farmacêutico deve:

1) Fornecer informações sobre o medicamento para o paciente;


2) Orientar o paciente quanto à utilização do medicamento, para que essa se dê de forma correta;
3) Incentivar o paciente a perguntar a respeito do medicamento;
4) Identificar o modelo de utilização do medicamento mais adequado ao paciente;
5) Ser o mais específico possível ao abordar informações sobre os benefícios e danos que o medicamento pode
trazer, ressaltando a relação temporal;
6) Empregar múltiplos métodos de informação para ampliar a compreensão do paciente;
7) Identificar fontes de informação adequadas, integrando-as no processo assistencial, para que seja possível
fornecer informações atualizadas ao paciente;
8) Ampliar suas ações com os médicos e com os demais profissionais de saúde onde está inserido, para ser
coerente e evitar repetições;
9) Considerar os vários fatores que podem influenciar na interpretação da informação fornecida;
10) Adequar suas informações à cultura do paciente e utilizar a linguística adequada. É importante que o
farmacêutico diga ao paciente para que repita a informação passada a ele, confirmando a compreensão do
mesmo;
11) Desenvolver materiais educativos de qualidade;
12) Incentivar o seguimento farmacoterápico, para a adesão do paciente ao tratamento e, consequentemente, para
que os efeitos terapêuticos esperados sejam alcançados.
Adesão do paciente ao tratamento:

A adesão ao tratamento contribui para os resultados clínicos e humanitários, já que melhora a qualidade de vida do
indivíduo, e tem impacto econômico, tanto positivo quanto negativo.

Alguns fatores que contribuem para adesão do paciente ao tratamento são:

1) Idade – A adesão do tratamento é dificultada em idosos, já que eles devem utilizar muitos medicamentos ao
mesmo tempo, e acabam não realizando o tratamento de forma correta;
2) Distância do serviço de saúde;
3) Questões relacionadas à condição de saúde do paciente, o a incapacidades relacionadas à doença;
4) Empatia do paciente com o profissional prescritor;
5) Questões econômicas, ou seja, a renda do paciente, pois alguns medicamentos são caros e, algumas vezes, não
estão disponíveis no SUS;
6) Suporte social;
7) Clareza do paciente a respeito da doença apresentada por ele;
8) Compreensão da indicação;
9) Observação rápida da efetividade da terapia.

Da mesma forma, existem fatores que contribuem para a não adesão do paciente ao tratamento, tais como:

1) Falta de compreensão do paciente a respeito da indicação do medicamento para o tratamento da doença


apresentada por ele;
2) Características organolépticas do medicamento;
3) Efeitos adversos
4) Falta de confiança ou crença da utilidade do medicamento no tratamento da doença;
5) Falta de confiança do paciente no profissional prescritor;
6) Dificuldade de seguir os esquemas terapêuticos;
7) Resistência à mudança de vida;
8) Dificuldade de acesso ao medicamento.

Por isso, o farmacêutico deve oferecer boas razões ao paciente para sua adesão ao tratamento, entender o processo de
saúde apresentado pelo paciente, esclarecê-lo sobre a doença e a utilização do medicamento para o tratamento de tal,
mostrar ao usuário que ele é o responsável pelo bom andamento do tratamento, disponibilizar as informações
necessárias ao paciente, assegurar ao usuário o comprometimento com o tratamento, e adaptar o tratamento ao
paciente, para que este seja realizado de forma cômoda pelo mesmo.

Para isso, o profissional farmacêutico deve apresentar diversas características promotoras da efetividade:

1) A relação com o paciente deve ser estabelecida em uma atmosfera de integração e autonomia;
2) Explorar alternativas terapêuticas;
3) Negociar o tratamento de acordo com o estilo de vida do paciente;
4) Discutir a importância da adesão;
5) Acompanhar o paciente durante o tratamento.
6) Escutar o paciente com atenção e saber entendê-lo;
7) Mostrar interesse e respeito pelo paciente;
8) Ser criativo e buscar ter posturas positivas;
9) Ter habilidades interpessoais.
MODELOS DE PRÁTICA, FUNÇÕES, OBJETIVOS E PERSPECTIVAS
Hospital:
Hospital é uma instituição milenar, existente desde a Idade Média, que passou por diversos processos de reforma até
atualmente. A função do hospital vai além de tratar doentes. Hospital é um estabelecimento cuja finalidade básica é o
atendimento assistencial em regime de internação (de onde vem a etiologia da palavra hospital – “hospedar”), sem que
isto exclua o atendimento ambulatorial.
Na Idade Média, hospital era um local de segregação, já que, normalmente, quem frequentava hospitais eram pessoas
com condições socioeconômicas mais precárias, ou seja, os excluídos socialmente. Nessa época, o atendimento
médico era domiciliar, então, os hospitais foram criados vinculados à Igreja para atender aqueles que não
apresentavam condições financeiras para este tipo de atendimento, e os feridos de guerra.
No contexto que se tem atualmente, objetivando a redução do custo com a saúde, tratamento de doenças crônicas e
tratamento de doenças controladas que necessitam de monitorização, onde o medicamento apresenta papel importante,
o atendimento ambulatorial se torna relevante para hospitais, e não somente o atendimento assistencial com o objetivo
de tratamento de feridos.
Além da atividade terapêutica, outras atividades são pertinentes ao hospital, incluindo as atividades de prevenção,
reabilitação (um exemplo são os hospitais da rede SARAH, que não especializados em reabilitação), ensino e
pesquisa. Muitos hospitais possuem centros de pesquisa ou, mesmo que não possuam, desenvolvem pesquisas, sejam
pesquisas com novos procedimentos, ou com métodos diagnósticos ou com novos medicamentos (ensaios clínicos). O
hospital é local de ensino, pois se tem informações de recursos humanos em hospitais e, além disso, existem muitos
hospitais escolas, ou que pertencem a universidades, como o Hospital São José, que pertence à Faculdade de Ciências
Médicas, e o Hospital das Clínicas, que pertence à UFMG.

• Visão sistêmica do hospital:


O hospital é composto por diversos serviços que, juntos, contribuem para os serviços de atenção ao paciente/cliente.
São eles:
1) Serviços profissionais e de organização da assistência;
Devido à complexidade dos pacientes e à necessidade de se ter uma abordagem multidisciplinar, a equipe responsável
pela assistência direta ao paciente inclui diversos profissionais, dentre eles: médicos, enfermeiros, farmacêuticos,
psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, etc.
2) Liderança e administração;
Para que a assistência ocorra, ou seja, para que o hospital funcione adequadamente em todos os setores, é preciso
liderança e administração, sendo necessário um gestor, variando de acordo com a cultura de cada organização,
existindo organizações compostas por diretores (gerais, clínicos, de apoio técnico, médico, de pesquisa) e
superintendentes. A diretoria clínica está relacionada às ações da prática médica, enquanto a diretoria técnica
relaciona-se aos demais profissionais. A tendência atualmente é que se tenha somente o diretor clínico (diretoria de
atenção à saúde).
3) Serviços de apoio técnico e abastecimento;
Alguns serviços que prestam apoio técnico para o cuidado ao paciente no hospital são: serviços de farmácia, serviços
de nutrição e dietética (também chamado serviço de alimentação e nutrição) e central de esterilização (comandada
pela equipe de enfermagem). A questão do medicamento está incluída nos serviços de abastecimento, por se tratar de
um insumo, porém, na sua essência, ele apresenta função assistencial e, portanto, também inclui-se nos serviços de
apoio técnico.
Como serviço de abastecimento, os hospitais necessitam de um setor de compras e almoxarifado.
4) Ensino e pesquisa;
5) Serviços de apoio administrativo e infraestrutura;
Nos serviços de infraestrutura do hospital inclui os serviços de engenharia, manutenção, e serviços elétricos, além dos
serviços de limpeza e portaria. Outro serviço importante na infraestrutura do hospital é o serviço de engenharia clínica,
onde atua o engenheiro clínico, que será responsável pela manutenção e avaliação dos equipamentos utilizados em
hospitais, envolvidos diretamente na assistência ao paciente.
Dentre os serviços de apoio administrativo, tem-se o serviço de gestão de pessoas, que são os RHs, que realiza o
controle, motivação e avaliação dos profissionais, ou seja, trabalha o clima organizacional da instituição. Além disso,
tanto no hospital público quanto no hospital particular, tem-se a obtenção de recursos financeiros. No caso de hospitais
público, esses recursos são obtidos através do SUS, enquanto nos hospitais particulares, esses recursos são obtidos de
convênios médicos ou pagamentos dos clientes. Logo, é necessário que se tenha uma gestão financeira (contabilidade,
tesouraria) no hospital.
O hospital deve possuir um setor de serviço de arquivo médico estatístico (SAME), onde são armazenados os registros
das assistências prestadas ao paciente, ou seja, os prontuários dos pacientes, quando os mesmos recebem alta.
6) Serviços de apoio diagnóstico.
No apoio diagnóstico encontram-se os serviços de diagnóstico por imagem, nos quais participam os radiologistas,
tecnólogos em radiologia e técnicos em radiologia. Dentre os serviços de diagnóstico por imagem, tem-se:
ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada, tomografia por emissão de pósitrons, medicina
nuclear (na qual o farmacêutico pode atuar na radiofarmácia), entre outros.
No apoio diagnóstico encontram-se também os serviços de diagnóstico através de métodos patológicos e análises
clínicas, nos quais atuam médicos patologistas, biomédicos, biólogos e farmacêuticos. Alguns exemplos de métodos
patológicos são: biópsia (realizado exclusivamente por médico patologista), hemograma, urinálise e exames
parasitológicos.
Outros exemplos são os serviços diagnósticos através de métodos gráficos, como eletroencefalograma (EEG) e
eletrocardiogradia (ECG).
O hospital no sistema de saúde:
O hospital deve:
1) Ser adequado ao perfil epidemiológico de sua área de abrangência, atendendo às necessidades da população;
2) Estar inserido em uma rede de serviços através de mecanismos de referência e contra-referência;
3) Fornecer atenção à saúde no hospital de forma humanizada, tanto na perspectiva dos profissionais, já que o
hospital deve garantir condições adequadas para que os profissionais realizem seu trabalho, quanto nas
relações dos profissionais de saúde com o paciente;
4) Ser descentralizado em sua gestão;
5) Ser administrado de modo profissional. O hospital, por ser uma organização complexa, que envolve saberes
próprios e distintos, é preciso uma gestão especializada e profissionalizada;
6) Prestar serviços públicos com responsabilidade social;
7) Ser capaz de incorporar tecnologias, baseado em critérios racionais;
8) Prestar serviços de qualidade e com segurança.
Sistemas de referência e contra-referência da rede de atenção à saúde:
Os serviços de atenção à saúde são hierarquizados, iniciando-se no PSF, ou seja, na atenção básica, que é a porta de
entrada do paciente nos serviços de saúde. O PSF deve ser capaz de resolver grande parte dos problemas de saúde da
população, porém apresenta limites e, quando os problemas ultrapassam a capacidade da atenção básica, o paciente
deve ser encaminhado para a atenção ambulatorial especializada, que inclui os postos de atenção médica e as
policlínicas, e, se necessário, encaminhado para a atenção hospitalar. Essa seria a hierarquização normal, porém, em
determinadas situações, o paciente pode procurar diretamente a atenção hospitalar. Quanto mais eficiente for a atenção
básica, menor será a procura direta do paciente pela atenção hospitalar.
Existem, também, situações onde é necessária uma abordagem aguda e, para isso, existe a rede de urgência e
emergência, composta pelas UPA’s e pelo SAMU (rede móvel), e, como suporte a essa rede, tem-se os pronto-
atendimentos dentro dos hospitais. Um exemplo é o pronto-atendimento de traumas, no Hospital João XXIII.
Farmácia hospitalar e serviços de saúde:
Um dos elementos necessários para que a assistência à saúde no hospital ocorra de forma adequada é o serviço de
farmácia hospitalar. Esse serviço necessita de uma estrutura adequada, e apresenta objetivos, funções e atividades a
desenvolver, e a forma como esse serviço ocorre, é chamada de modelo de prática da farmácia.

• Modelos de prática:
O modelo de prática é a estrutura operacional que define como e onde a prática do farmacêutico deve ocorrer. A
prática do farmacêutico inclui sistema de distribuição, estrutura organizacional dos serviços e as funções e prioridades
da prática profissional. Cada hospital apresenta um modelo de prática específico, que sofre influência de diversos
fatores.
1) Modelo centrado na distribuição:
O modelo centrado na distribuição é o modelo de prática encontrado com mais frequência. É também chamado de
modelo do farmacêutico reativo, onde se tem a ausência de envolvimento com a equipe de saúde, e, então, o
farmacêutico assume uma função de supridor de medicamentos dentro da instituição, apresentando pouca participação
dentro do processo de utilização de medicamentos, já que este profissional participará apenas do suprimento e
distribuição dos medicamentos. O farmacêutico, portanto, não é responsável pelos resultados da assistência.
2) Modelo centrado na farmácia clínica:
O modelo centrado na farmácia clínica é um modelo extremo e dissociativo, já que se tem a dissociação entre o
farmacêutico clínico e os demais farmacêuticos. O farmacêutico clínico realizará apenas atividades clínicas, enquanto
outro farmacêutico será responsável pelas demais atividades do processo de utilização de medicamentos, de forma
dissociada, ou seja, não há integração entre os serviços.
Este modelo dissociado não é o melhor a ser seguido, já que não garante uma participação integral do farmacêutico
dentro do processo de utilização de medicamentos.
3) Modelo integral centrado no paciente
O modelo integral centrado no paciente é o que tem sido proposto atualmente. Neste modelo, todos os farmacêuticos
são responsáveis pelos diversos componentes do processo de utilização de medicamentos, exercendo tanto funções
clínicas quanto funções relacionadas ao processo de distribuição. Um farmacêutico participa mais das funções clínicas
e outro participa mais das funções relacionadas à distribuição, mas eles se inter-relacionam, diferentemente do modelo
centrado na farmácia clínica, que é um modelo fragmentado, ou seja, desintegrado.
Para viabilizar o modelo integral centrado no paciente, preconiza-se que a atuação no sistema de distribuição seja
reduzida com delegação de funções para técnicos. Este modelo permite a ampliação da atuação clínica e maior
envolvimento do farmacêutico no processo de utilização de medicamentos, permitindo que este adquira alto grau de
responsabilidade e domínio desse processo.

• Fatores que interferem na seleção de um modelo de prática:


1) Cultura organizacional da instituição;
Existem instituições que veem o medicamento apenas como produto e preocupa-se menos com a questão da utilização
do mesmo. Assim, nesses casos, prevalece o modelo centrado na distribuição.
2) Nível de atuação da farmácia na instituição;
Se a farmácia é mais participativa no processo assistencial, o modelo utilizado tende a evoluir para o modelo centrado
na farmácia clínica ou para o modelo integral centrado no paciente.
3) Relação da farmácia com a equipe de saúde;
Da mesma forma, se a farmácia está integrada com a equipe de saúde, o modelo de prática tende a ser mais evoluído,
não focado somente da distribuição dos medicamentos.
4) Modelo de sistema de distribuição de medicamentos;
Se o modelo de distribuição de medicamentos for bem organizado e avançado, permite o distanciamento do
farmacêutico nesse processo, que será descentralizado para o técnico, permitindo uma maior inserção do farmacêutico
no processo de utilização de medicamentos.
5) Percepção profissional dos farmacêuticos;
Existem farmacêuticos que acreditam que sua função seja importante somente no processo distributivo, e que,
portanto, ele não deve atuar no processo assistencial. Dessa forma, o modelo prevalente é o modelo centrado na
distribuição.
6) Nível de especialização dos farmacêuticos;
7) Atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas;
8) Integração da equipe de farmacêuticos e técnicos de farmácia.
A integração entre os farmacêuticos e os técnicos de farmácia, com boa estruturação e delimitação das funções de cada
profissional, permite a descentralização da distribuição, e, consequentemente, uma maior inserção do farmacêutico no
processo assistencial, ou seja, viabiliza as ações clínico-assistenciais do farmacêutico.

• Mudança de paradigma:
Ao se referir ao modelo de prática centrado na farmácia clínica e ao modelo de prática integral centrado no paciente,
pode-se dizer que, atualmente, está ocorrendo uma mudança de paradigma. De acordo com o paradigma tradicional, o
farmacêutico é responsável por garantir que o paciente receba o medicamento prescrito e que este medicamento seja
seguro para o mesmo. Antes da existência da ANVISA, a questão da segurança não era ela levada em consideração,
preocupa-se somente com a disponibilidade ou não do medicamento na farmácia, para que esse seja distribuído para o
paciente. Porém, isso não é suficiente e, portanto, segundo o paradigma atual, o farmacêutico é responsável por ajudar
o paciente a fazer o melhor uso dos medicamentos, ou seja, o farmacêutico é o profissional de saúde responsável por
oferecer cuidado ao paciente, que garanta resultados ótimos da farmacoterapia, logo, deve se responsabilizar,
participar e se envolver com a utilização do medicamento pelo paciente, não somente disponibilizar medicamento.
Isso se aplica a todos os farmacêuticos que atuam nos serviços de saúde.

• Habilidades/atitudes do farmacêutico “sete” estrelas:


1) Ser um profissional centrado na atenção à saúde, disponibilizando seu saber técnico tanto na atenção ao
indivíduo quanto na organização do processo, como na seleção dos medicamentos, por exemplo;
2) Ser capaz de tomar decisões;
3) Saber se comunicar;
4) Estar disposto a aprender, estando em um processo de educação permanente;
5) Capacidade de liderança;
6) Capacidade de ensinar e orientar outros profissionais;
7) Ter habilidade de gestão.
Até 2006, a OMS acreditava-se que as habilidades acima eram suficientes para um farmacêutico, porém, atualmente,
trabalha-se com o paradigma da saúde baseada em evidências, logo, deve-se sempre estar buscando evidências e, para
isso, deve-se saber buscar informações. Dessa forma, outra habilidade importante para o farmacêutico é saber
pesquisar informações que também serão importantes para a prática profissional.

• Definição de farmácia hospitalar:


Farmácia hospitalar é uma unidade clínica, que trabalha com o cuidado e com a assistência ao paciente, mas também é
uma unidade administrativa, já que envolve recursos (medicamentos), e econômica. Deve ser dirigida por
farmacêutico, estar ligada à direção do hospital, e integrada ao sistema de saúde.
A farmácia deve oferecer assistência farmacêutica com critério de qualidade e custo-efetividade, visando atender as
necessidades farmacoterápicas dos usuários do hospital, garantindo uma terapia segura e efetiva que melhore a
qualidade de vida. Deve atuar de forma integrada às diretrizes e políticas do hospital e com os sistemas de saúde, seja
ele público ou privado.
Assim como o hospital está inserido no sistema de saúde, a farmácia hospitalar deve existir para o hospital, devendo
ser capaz de atender as demandas do mesmo, mas também deve sofrer adequações com relação ao que é preconizado
pela ANVISA e pelo SUS.

• Objetivos da farmácia hospitalar e serviços de saúde:


Contribuir no processo de cuidados à saúde, visando a melhoria da qualidade da assistência prestada ao paciente e
promovendo o uso seguro e racional de medicamentos (incluindo radiofármacos e gases medicinais) e outros produtos
para a saúde, nos planos administrativo, assistencial, tecnológico e científico. Isso reflete o que determina o paradigma
atual.

• Atribuições do farmacêutico nos serviços de atendimento pré-hospitalar, na farmácia hospitalar e em outros


serviços de saúde:
1) Realizar a gestão da assistência farmacêutica, observando as particularidades do contexto, seja gestão de
materiais, gestão de processos ou gestão de pessoas;
2) Contribuir para a utilização da terapia medicamentosa, na perspectiva da integralidade, da saúde e da direção
cuidadora, ou seja, realizar o que é descrito no novo paradigma;
3) Contribuir para que a utilização de medicamentos seja a melhor e que os resultados sejam efetivos;
4) Produzir informações sobre medicamentos e produtos para a saúde;
5) Contribuir para o ensino, educação permanente e pesquisa.

• Ações do farmacêutico hospitalar e de serviços de saúde:


1) Buscar meios necessários para o funcionamento dos serviços relacionados ao ambiente e aos recursos
humanos em comunidade com os parâmetros mínimos recomendados de recursos físicos e estruturais, que são
definidos pela RDC50;
2) Ter pessoal capacitado e necessário para desenvolver as atividades;
3) Implementar estrutura e procedimentos em organização de serviços visando garantir o abastecimento;
4) Organizar, supervisionar e orientar tecnicamente todos os setores que compõem o serviço de forma a
assegurar o mínimo necessário para um funcionamento harmonioso;
O farmacêutico é responsável por coordenar e treinar os técnicos para desenvolver os serviços, pois ele sozinho não é
capaz de realizar todas as atividades, sendo necessária uma equipe.
5) Incorporar sistemas informatizados para a gestão de estoques, desenvolvendo infraestrutura adequada à
utilização de tecnologia da informação;
A farmácia hospitalar deve ser informatizada, permitindo que seja interligada com os demais setores do hospital, como
faturamento, compras e internação.
6) Manter membro permanente nas comissões hospitalares;
A farmácia hospitalar participa de comissões existentes dentro do hospital, como: comissão de controle de infecções (a
farmácia deve estar presente, uma vez que envolve a questão do uso de antibióticos e saneantes), comissão de
farmácia e terapêutica, comissão de seleção de medicamentos, comissão de padronização de medicamentos, comissão
multidisciplinar de terapia nutricional (a farmácia deve participar, uma vez que envolve a nutrição parenteral),
comissão de material médico-hospitalar, comissão de ética e pesquisa, comissão de segurança do paciente, etc. Dessas
comissões, as mais importantes com relação à participação da farmácia hospitalar, são: comissão de controle de
infecções, comissão de farmácia e terapêutica e comissão de segurança do paciente.
A participação nas comissões hospitalares é importante, pois é uma forma de o farmacêutico se mostrar ativo, ou seja,
mostrar que pode contribuir para o que é discutido, tornando mais fácil a integração com a equipe.
7) Instituir processos de avaliação os resultados, aplicando critérios e indicadores de qualidade, com foco em
certificações de qualidade e acreditação hospitalar;
8) Desenvolver práticas clínico-assistenciais que contribuam com a integralidade do cuidado, como: participar de
atividades clínicas junto às equipes de cuidado, desenvolver atividades de seguimento, desenvolver
conciliação de medicamentos, participar de visitas clínicas junto ao leito dos pacientes com a equipe de saúde,
que são atividades de contribuem com a otimização do uso de medicamentos;
9) Incorporar, avaliar e criar tecnologias associadas ao processo de utilização de medicamentos;
10) Articular parcerias para viabilizar e alcançar os objetivos. Por isso, o farmacêutico deve estar presente nas
comissões.

• Requisitos para viabilizar uma farmácia hospitalar e serviços de saúde:


1) Área física e estrutura adequada;
A RDC 50 regulamenta as áreas físicas para os serviços de saúde e para as farmácias hospitalares, mas não determina
a metragem adequada para a área, informando, algumas vezes, a metragem mínima de alguns locais da farmácia
hospitalar. O tamanho dessa área dependerá da complexidade, do tipo e das atividades do hospital. Essa legislação
determina a existência de uma central de abastecimento farmacêutico na farmácia hospitalar, e, neste caso, é definida
uma metragem mínima dessa área, que deve ser de 0,6 m2/leito pra a área de armazenamento, 2 m2 para refrigerador,
10% da área para a recepção e 10% da área para distribuição.
Não é obrigatória a existência de um laboratório de farmacotécnica, sendo necessário caso o hospital se disponha a
desenvolver essa atividade. Em hospitais grandes, o laboratório de farmacotécnica pode ser viável economicamente.
Se o hospital optar por apresentar esse local, deve seguir a RDC 67.
Se o hospital possuir farmácias satélites, estas devem possuir 4 m². A área de dispensação deve ter, no mínimo 10 m².
Se possuir centro de informação, este deve ter, no mínimo, 6 m². Se possuir uma área para preparo de antineoplásicos
e citotóxicos, esta deve possuir uma sala de manipulação com 5 m², para a capela de fluxo laminar e uma sala de
higienização com 4,5 m². Se possuir local de preparo de diluição de saneantes deve ter dimensão mínima de 9 m², e
deve-se preocupar com o fluxo de área limpa e suja.
Os serviços de saúde devem possuir sanitário, local para depósito de material de limpeza (DML) e copa. A central de
abastecimento farmacêutico deve ter energia especial para abastecimento, com gerador próprio, mecanismos de
segurança e ar condicionado, evitando-se a perda de recursos.
A farmácia hospitalar deve se localizar em um local de fácil acesso para atender as unidades do hospital, além de ter
boa comunicação com a área externa, de forma a facilitar o abastecimento da farmácia.
Algumas áreas são prioritárias para a farmácia hospitalar, como: central de abastecimento farmacêutico, área de
distribuição de medicamentos/sala de dispensação, sala da chefia e sala de apoio técnico.
2) Equipamentos;
3) Colocação adequada à estrutura organizacional;
A colocação adequada da farmácia à estrutura organizacional do hospital depende da complexidade do mesmo.
4) Realizar gestões adequadas;
5) Ter um bom sistema de distribuição de medicamentos;
6) Ter inserção na atenção integral.
Estrutura organizacional da farmácia hospitalar:
A estrutura organizacional da farmácia hospitalar deve ter uma característica técnico-clínico-administrativa, podendo
se vincular tanto ao serviço técnico quanto ao serviço clínico. Algumas vezes, podem-se encontrar farmácias
hospitalares vinculadas à diretoria administrativa, principalmente em hospitais particulares, uma vez que eles
trabalham o medicamento como bem comercial. A tendência atual é que a farmácia esteja mais vinculada aos serviços
assistenciais.
Gestão de recursos humanos:
É essencial que a farmácia tenha uma boa gestão de recursos humanos. Para isso é necessário:
1) Administração por farmacêutico com boa qualificação e experiência;
2) Dispor de um número adequado de técnicos e auxiliares de farmácia;
O número de técnicos e auxiliares de farmácia é definido de acordo com os padrões mínimos solicitados para
farmácias hospitalares e serviços de saúde, e de acordo com a complexidade do hospital, com a carga horária de
trabalho do funcionário, com o tipo de atividade realizada, e com outros processos de trabalho.
3) Programas de capacitação para o trabalho;
4) Programas de reciclagem e educação permanente dos profissionais, que é de atribuição do gerente da
instituição;
5) Os níveis de autoridade e áreas de responsabilidade devem estar bem claras;
6) As atribuições devem ser bem estabelecidas;
7) Sistema adequado de comunicação.
O sistema de comunicação é importante para que os profissionais possam se inteirar a respeito das rotinas e mudanças.
Uma das formas mais simples de comunicação nos hospitais é através dos livros de ocorrência, ou livros de passagem
de turno, destinadas ao registro das informações.
Gestão da farmácia hospitalar:
Para uma boa gestão da farmácia hospitalar, deve-se:
1) Definir a missão;
2) Ter um planejamento que envolva as pessoas (planejamento participativo);
3) Possuir critérios para avaliação do desempenho do serviço;
4) Incentivar o desenvolvimento dos recursos humanos, onde a comunicação é essencial;
5) Possuir um manual de instruções técnicas de trabalho;
6) Possuir gestão econômico-financeira;
7) Possuir políticas de qualidade;
8) Ter representatividade nas comissões.
Horário de funcionamento da farmácia hospitalar:
O ideal é que a farmácia hospitalar funcione em tempo integral, ou seja, durante 24h. Atualmente, por exigência do
Conselho de Farmácia, durante todo o tempo de funcionamento, deve-se ter a presença do farmacêutico.
Gestão de materiais:
Com relação à gestão de materiais:
1) Deve ser executada pela seção administrativa e supervisionada pelo farmacêutico;
O farmacêutico, dentro do modelo de cuidado centrado no paciente, deve procurar descentralizar as atividades,
podendo ter, trabalhando no serviço de farmácia, um gestor/administrador atuando na gestão de materiais, tornando os
processos mais operacionais. As questões técnicas continuarão sendo de respeito do farmacêutico, mas a incorporação
de um administrador faz com que o farmacêutico possa executar ações mais voltadas à assistência.
2) Deve haver um sistema bem estruturado;
Deve haver um sistema de distribuição adequado dentro do hospital, uma vez que isso contribui para a gestão
econômico-financeira e para a qualidade e segurança da distribuição;
3) Deve haver uma emissão mensal de relatórios;
4) Deve colaborar para garantir a assistência dos pacientes.
Atividades especializadas:
1) Central de preparação de estéreis;
A central de preparação de estéreis é destinada ao preparo de nutrição parenteral, produtos oncológicos (citotóxicos) e
misturas endovenosas. É uma forma de economizar, centralizando, na farmácia, todo o preparo de soluções estéreis.
Na realidade, isso não é muito comum, uma vez que é necessário um espaço físico maior, assim como um maior
número de recursos humanos, já que será necessária uma tecnologia de salas limpas.
2) Farmacotécnica não estéril (deve seguir a RDC).
Serviços de informações técnicas:
Deve-se ter uma infraestrutura adequada para a produção da informação, com acesso à internet e fontes bibliográficas.
Atenção integral à saúde/cuidados ao paciente:
O farmacêutico deve:
1) Desenvolver a anamnese farmacológica;
2) Coletar a história medicamentosa;
3) Participar de planos terapêuticos;
4) Ter um guia de acompanhamento farmacoterápico;
5) Desenvolver orientação de alta;
6) Participar das equipes de saúde;
7) Desenvolver ações de farmacovigilância.
Desenvolvimento escanolado para uma farmácia hospitalar:
O primeiro passo de um farmacêutico na farmácia hospitalar é realizar um diagnóstico situacional e, a partir disso,
determinar as prioridades.
1) Fase 1:
Primeiramente, não se deve priorizar questões estruturais e especializadas, mas questões básicas, como distribuição,
armazenamento e logística. Depois, é essencial a elaboração de um manual de instruções técnicas de trabalho, para
que toda a equipe saiba quais as suas funções. Em seguida, desenvolve-se a seleção de medicamentos, faz-se um bom
controle de estoque, realiza-se a dispensação da forma mais viável e, se possuir farmacotécnica, realizar o básico.
2) Fase 2:
Após organizar os processos de seleção, controle e processos de trabalho, é possível avançar, melhorando o sistema de
distribuição, ampliando as atividades da farmácia (participando das comissões), publicando o formulário farmacêutico,
estruturando atividade de informação de medicamentos, e desenvolvendo atividades clínico-assistenciais e
farmacovigilância (novo paradigma, centrado no paciente).
3) Fase 3:
A fase 3 envolve a manipulação de citotóxicos e/ou nutrição parenteral, e misturas endovenosas.
4) Fase 4:
A fase 4 é a fase mais avançada, que envolve a estruturação de laboratórios, desenvolvimento de pesquisas e
participação em ensaios clínicos.
Inter-relações da farmácia:
A farmácia precisa se inter-relacionar com os demais setores do hospital, como setores administrativos e assistenciais,
por meio de boas estratégias de comunicação, o que contribui para a missão da farmácia e seu reconhecimento,
garantindo uma assistência de qualidade efetiva, racionalização de custos e viabilização da atenção integral, uma vez
que, quando a farmácia se inter-relaciona, ela se mostra presente no processo do cuidado.
Da mesma forma, internamente também deve haver uma harmonia e integração entre os profissionais.
Paciente – centro de atenção da assistência:
Alguns elementos importantes na relação entre o farmacêutico e o paciente são: comunicação, receptividade,
cooperação, buscar o paciente como foco da atenção e a multidisciplinaridade. Tudo isso contribui para o modelo
centrado no paciente, que é uma das metas dentro dos serviços de saúde, atualmente.
Deve-se ter o paciente como centro da atenção, buscando atender as necessidades individuais, trabalhando com o
aconselhamento farmacêutico, incentivando a adesão e oferecendo seguimento farmacoterápico, de forma a
possibilitar a integração.
O planejamento da gestão da farmácia hospitalar é de suma importância, porque quando se planeja, faz-se uma
avaliação, levando-se em consideração a missão e o que se deseja alcançar, o que contribui para a redução de custos,
diminuição do tempo de internação e melhorar a qualidade da assistência, já que a assistência farmacêutica interfere
diretamente na assistência integral ao paciente.
Tendo-se uma assistência farmacêutica organizada, contribui-se para a qualidade do cuidado prestado no hospital, uma
vez que o medicamento é importante para resolutividade do cuidado.
Diretrizes do MS para farmácia hospitalar:
O Ministério da Saúde, em 2010, definiu algumas prioridades para as farmácias hospitalares do Brasil:
1) Ter uma boa gestão;
2) Desenvolver ações visando a atenção integral à saúde, que são priorizadas a partir da fase 2;
3) Gerenciar tecnologias;
4) Quando viável, realizar, segundo as normas, ações farmacotécnicas estéreis e não estéreis;
5) Ter uma ação centrada no cuidado ao paciente;
6) Infraestrutura adequada;
7) Realizar boa gestão da informação;
8) Trabalhar com a questão da informação, pesquisa e ensino.
Perspectivas da farmácia hospitalar em um serviço de saúde:
1) Ampliar as ações e atividades direcionadas ao paciente;
2) Melhorar a qualidade do processo de utilização de medicamentos;
3) Ampliar a atenção individual do paciente e preocupar com o paciente ambulatorial;
4) Aumentar a proporção de farmacêuticos envolvidos no desenvolvimento e fundamentação de protocolos
terapêuticos, focados na farmacoterapia baseada em evidências;
5) Aprimorar as ações da farmácia em relação à segurança do paciente. Atualmente, tem-se uma preocupação
crescente com a segurança do paciente e, por isso, os serviços de saúde estão buscando incorporar tecnologias
para assegurar a segurança do cuidado, como: códigos de barras, sistemas inteligentes de suporte à decisão,
estratégias de check-list;
6) Priorizar planos estratégicos de ação.
Elementos essenciais da prática farmacêutica que impactam no cuidado ao paciente:
1) Anamnese farmacológica;
2) Participação em seções clínicas;
3) Manejo da ocorrência de eventos adversos;
4) Incentivo à adesão ao tratamento e elaboração de protocolos;
5) Informação sobre o medicamento.
São ferramentas presentes dentro da atenção integral à saúde, que viabilizam o modelo de prática centrado no
paciente. Mas, para que isso seja realizado, é necessária uma boa gestão e uma logística farmacêutica funcionando.
SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS
A seleção de medicamentos é um processo contínuo, multidisciplinar, participativo, que desenvolve-se, baseado na
eficácia e segurança. É o processo que irá assegurar o arsenal terapêutico disponível para o cuidado. A seleção de
medicamentos é importante porque existe um número significativo de fármacos e, anualmente, é incorporado um
número significativo de novos fármacos (cerca de 20), porém, nem todos são necessários em um hospital. Dos
fármacos novos que surgem a cada ano, poucos são os que trazem avanço terapêutico, ou seja, não apresentam
vantagem terapêutica. Geralmente, esses fármacos são produzidos a partir de modificações na molécula de outros
fármacos, observando-se apenas mudanças em algumas propriedades farmacocinéticas, mas que não impacta na
resposta terapêutica.
O medicamento é uma tecnologia sanitária e, atualmente, tem-se uma preocupação com os gastos crescentes em saúde,
devido à incorporação de novas tecnologias, que inclui os medicamentos. O sistema de saúde tem recursos finitos, ou
seja, os orçamentos são pré-determinados, logo, a incorporação de novas tecnologias representa um problema. Vive-
se, então, a dinâmica exponencial da incorporação de tecnologia, devido a esse paradigma biotecnocientífico (a ideia
de que a melhor tecnologia é a nova), devendo-se pensar na cultura do limite de recursos dos sistemas, tornando-se
importante a avaliação da tecnologia em saúde, que fornece uma base científica para orientar o processo de tomada de
decisão e o processo de seleção de medicamentos. Tudo isso garante o uso racional de medicamentos.
Torna-se importante, então, avaliar as novas tecnologias, levando-se em consideração o impacto que vão traz para o
serviço de saúde, a sua efetividade, e o benefício que trazem para o paciente, ou seja, devem ser analisadas tanto na
perspectiva do usuário do medicamento quanto do sistema de saúde, com relação ao custo-benefício.
Em 2004, estimava-se que, no Brasil, existia cerca de 70.000 medicamentos registrados, 1.500 especialidades
farmacêuticas diferentes e 2.100 fármacos. Nesse mesmo período, a lista de medicamentos essenciais da OMS era
composta de um número 6 vezes menor de medicamentos. Em média, um hospital padrão tem em torno de 800
medicamentos. Logo, é necessária a seleção de medicamentos, porque, diferentemente de uma farmácia comunitária,
na qual tem-se um grande número de medicamentos disponíveis para atender diversos perfis, na farmácia hospitalar,
estarão disponíveis os medicamentos que se mostrarem mais efetivos e necessários ao perfil assistencial.
A seleção de medicamentos é um processo que ocorre em vários níveis, sendo o nível mais simples a prescrição.
Quando o médico decide por prescrever um determinado medicamento, há um processo de seleção do medicamento,
que ele considera mais efetivo para o paciente. Mas a seleção também ocorre a nível hospitalar, através da comissão
de seleção de medicamentos, em planos de saúde, no Ministério da Saúde, através da REUNE, REMUME, REME, e
na OMS.
Medicamento essencial é aquele que satisfaz as necessidades prioritárias de saúde da população. É uma seleção
baseada em eficácia, segurança e custo-efetividade, e são norteadores de assistência farmacêutica. A nível estadual e
municipal trabalha-se, basicamente, com medicamentos essenciais. Já no hospital, além de se trabalhar com
medicamentos essenciais, há a seleção de outros medicamentos que não contemplam o perfil de medicamentos
essenciais, já que são utilizados para situações agudas, mas são necessários no contexto assistencial, como
medicamentos antineoplásicos. Alguns antineoplásicos não estão presentes na lista de medicamentos essenciais, mas,
no contexto hospitalar, torna-se necessária a sua seleção. Diante da evolução do câncer, as listas de medicamentos
essenciais mais modernas incluíram esta classe de fármacos.
A lista da OMS é a orientadora dos países e, além de conter os medicamentos essenciais destinados ao tratamento de
adultos, a OMS definiu medicamentos essenciais para crianças, devido às particularidades deste grupo etário. No
Brasil, existe, tradicionalmente, a RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), porém, mudou-se a
lógica dessa lista, e não se trabalha mais com a perspectiva da essencialidade para a elaboração de tal. Atualmente, a
lista da RENAME contém a relação de medicamentos do SUS, logo, a lógica de seleção de antes, pensando-se na
necessidade, efetividade, e nas condições norteadoras dos problemas de saúde da população, deixou de existir. Os
modificadores de doenças reumáticas, por exemplo, não são medicamentos essenciais, sendo utilizados em situações
crônicas e específicas que não respondem aos demais tratamentos, mas estão presentes na lista da RENAME de 2013,
uma vez que fazem parte do componente especializado, e são distribuídos pelo SUS. Um dos fatores dessa mudança
foi o programa “Mais Médicos”, pois gerou-se a necessidade de se publicar uma lista contendo os medicamentos
disponibilizados pelo SUS, como material orientador para os profissionais.
Desde 1964, a RENAME era um documento que norteava a definição de políticas para acesso ao SUS, sendo
importante para a produção nacional, e orientação com relação ao processo de incorporação de medicamentos, e passa
a ser uma lista de medicamentos que o SUS disponibiliza por meio de políticas públicas. O nome desta lista não é
adequado, pois não representa o conceito de medicamentos essenciais.
Seleção de medicamentos:
A seleção de medicamentos é um processo contínuo, multidisciplinar, participativo, que se desenvolve baseado na
eficácia, segurança, qualidade e custo dos medicamentos, visando assegurar o uso racional dos mesmos. A seleção de
medicamentos não é realizada somente pelo farmacêutico, mas trata-se de um processo multidisciplinar, sendo
realizado por uma comissão, na qual o farmacêutico está incluído, além de outros profissionais da saúde. É um
processo definido a partir de evidências científicas, e se preocupa com o impacto sanitário que um determinado
medicamento pode causar no processo do cuidado no sistema de saúde para o qual está sendo selecionado. É
importante que se tenha transparência das ações e seguir princípios éticos. Inclusive, algumas comissões de
medicamentos exigem que os profissionais participantes da comissão façam uma declaração de conflitos de interesse.
A seleção de medicamentos não é um processo neutro, pois é pressionado externamente pela indústria farmacêutica.
Por isso, é importante seguir princípios éticos para que a seleção seja realizada adequadamente. Além disso, tem-se
uma multiplicidade de alternativas terapêuticas, o que dificulta o processo de seleção, assim como as inúmeras
informações científicas disponíveis, que, muitas vezes, não são de qualidade, e, o que é mais grave, falta de habilidade
na leitura crítica de artigos científicos envolvendo farmacoterapia pelos profissionais de saúde.
Outro fator que influencia a seleção de medicamentos é a política de redução de gastos, que exerce uma pressão sobre
a comissão de farmácia e terapêutica, visando a redução dos gastos, buscando alternativas mais econômicas. Porém,
não se deve priorizar o custo em detrimento da efetividade e segurança.
A pressão da sociedade civil também influencia a seleção. Em hospitais, esse aspecto é menos impactante, mas pode
acontecer em nível estadual e municipal. Se associação de diabéticos lança uma nova caneta de insulina, por exemplo,
e os pacientes de determinado município podem pressionar o secretário de saúde do município para que o incorpore na
lista.
Vantagens clínicas da Comissão de Seleção de Medicamentos:
1) Aumenta a segurança e qualidade da farmacoterapia e aprimorar os resultados clínicos da instituição, uma vez
que serão disponibilizados medicamentos seguros e eficazes, já que são selecionados de acordo com esses
critérios;
2) Disciplina a prescrição e uniformizar a terapêutica;
3) Contribui para a elaboração de protocolos e diretrizes terapêuticas;
4) Reduz o custo da terapêutica, sem prejuízo da segurança e efetividade;
5) Facilita a monitoração dos resultados, pois garante que um determinado paciente foi tratado com alguma das
alternativas presentes na lista dos medicamentos selecionados, para a doença apresentada por ele;
6) Contribui para o controle da resistência a antimicrobianos, pois utiliza apenas um número fixo de
antimicrobianos na instituição, evitando o uso de vários tipos de medicamentos dessa classe de fármacos;
7) Contribui para a melhoria da utilização de medicamentos;
8) Facilita a ampliação do conhecimento da equipe de saúde sobre medicamentos utilizados na instituição, já que
haverá um número definido de medicamentos.
Vantagens econômicas da seleção de medicamentos:
1) Reduz o número de formas e fórmulas farmacêuticas, uma vez que há uma padronização dos medicamentos
disponíveis na instituição, logo, há uma redução do gasto com medicamentos que, muitas vezes, são
desnecessários, já que existe outro no estoque que pode substituí-lo;
2) Facilita o controle do estoque, já que há uma diminuição do número de itens a serem controlados;
3) Facilita a comunicação entre a farmácia e a equipe de saúde e os setores administrativos.
Relação de medicamentos padronizados, guia farmacoterápico e sistema de formulário:
O produto da seleção de medicamentos é a relação de medicamentos padronizados para serem utilizados em uma
instituição. Além da relação de medicamentos padronizados, pode-se, ainda, produzir o guia farmacoterápico ou
formulário farmacêutico, que é um documento, impresso ou eletrônico, que contém a lista de medicamentos
padronizados e uma seção com ações úteis para a equipe de saúde sobre medicamentos, tais como: tabela de
equivalência de corticoides, teor em mmol e meq de eletrólitos, relação de medicamentos sujeitos a controle legal, etc.
Pode-se criar, ainda, o memento terapêutico, que contém informações a respeito de cada fármaco presente na relação
de medicamentos padronizados, como: dose, indicação, reações adversas e interações medicamentosas.
O mais comum de se encontrar em um hospital são os guias farmacoterápicos, sendo os mementos os menos comuns.
O hospital apresenta um sistema de formulários, utilizado pelo médico na prescrição de medicamentos. Caso o
paciente necessite de outro medicamento que não está presente na relação dos medicamentos padronizados no
hospital, deverá ser feita uma solicitação de medicamento não padronizado, que será avaliada por um profissional da
comissão de seleção de medicamentos do hospital, podendo ser o farmacêutico ou o médico auditor. Se a justificativa
para a prescrição do medicamento não padronizado apresentar fundamentação e realmente não existir nenhuma
alternativa no formulário farmacêutico do hospital, será feita a autorização para a compra do medicamento para o
paciente.
Estrutura da comissão de seleção de medicamentos:
A seleção de medicamentos é um processo multidisciplinar, não sendo realizada somente pelo farmacêutico, mas por
uma comissão (comissão de seleção de medicamentos, comissão de farmacologia, comissão de farmácia e terapêutica
(CFT), comissão de padronização de medicamentos). Essa comissão pode ter como presidente um médico e, em
alguns locais, o farmacêutico, é apresenta participação ativa da farmácia. Fisicamente, as reuniões e arquivos de tais
reuniões estão presentes na farmácia.
Em um hospital geral, essa comissão deve possuir, além do farmacêutico, um enfermeiro, um médico representante da
clínica médica, médico representante da pediatria e um médico representante da clínica cirúrgica. A comissão não
deve ser composta por um número muito grande de profissionais do hospital, pois dificulta as reuniões, e, portanto, a
contribuição de outros profissionais é pontual, já que, na grande maioria das vezes, a representação geral pelos
profissionais que fazem parte da comissão é capaz de resolver os problemas discutidos. Pode-se ter um assessor
especial, que é convidado a participar da reunião quando a comissão achar necessário. Assim, um médico
neurologista, por exemplo, pode ser convidado para a reunião quando for discutido sobre medicamentos que atuam no
SNC, já que sua contribuição pode ser importante.
Alguns hospitais apresentam um representante do controle de infecções como membro nato da comissão, mas outros
hospitais tem esse profissional apenas como assessor especial, quando se discute a respeito de medicamentos anti-
infecciosos. A diretoria administrativa também pode ser membro participante da comissão, como caráter institucional,
mas não tem direito a voto.
A comissão pode ter mais de um farmacêutico, sendo que um deles será o assessor técnico, que fará o trabalho de
pesquisa, e o outro atuará na organização da comissão.
Em algumas instituições, a seleção de medicamentos é uma subcomissão da comissão de avaliação de tecnologias em
saúde, realizando a avaliação de medicamentos, educação sobre medicamentos, seleção e políticas de medicamentos,
que, normalmente, são atribuições da comissão de farmácia e terapêutica.
Uso racional de medicamentos:
A comissão de farmácia e terapêutica é responsável pelo desenvolvimento e supervisão de todas as políticas e práticas
de utilização de medicamentos do hospital, com objetivo de assegurar resultados clínicos satisfatórios, promovendo o
uso seguro e racional dos medicamentos.
O uso racional de medicamentos ocorre quando os pacientes recebem o medicamento apropriado a suas necessidades,
em doses adequadas e individualizadas, por um período de tempo requerido e a um custo razoável para ele e sua
comunidade.
Em 2011, o conceito de uso racional de medicamentos foi mais elucidado e, então, incorporou-se o paradigma da
evidência, sendo definido como uma prática terapêutica ideal, na qual os medicamentos são prescritos e usados em
concordância exata e com melhor compreensão da adequação da indicação, do benefício, da efetividade, do dano e do
risco para o paciente. Logo, o uso racional de medicamentos é a busca da melhor adequação do medicamento ao
contexto clínico e às particularidades do paciente, com a consciência e efetividade e do dano que este medicamento
pode causar.
Funções da comissão de seleção de medicamentos:
1) Padronizar os medicamentos necessários ao perfil assistencial do hospital;
2) Promover o uso seguro e racional de medicamentos;
3) Definir os critérios de seleção de medicamentos;
4) Elaborar o guia farmacoterápico ao final do processo final de seleção;
5) Desenvolver, adaptar e adotar diretrizes clínicas;
Em alguns hospitais, não é atribuição da comissão de farmácia e terapêutica, existindo uma comissão de diretrizes
terapêuticas, pois, muitas vezes, a diretriz terapêutica não é apenas medicamentosa. Quando isso ocorre, há uma
integração entre as comissões.
6) Desenvolver atividades educativas;
7) Realizar normatizações para substituições terapêuticas;
8) Subsidiar a normatização de procedimentos que se relacionam com o processo de utilização de medicamentos;
9) Disciplinar a ação dos representantes das indústrias farmacêuticas;
Muitas vezes, um medicamento não é padronizado, mas a indústria farmacêutica o disponibiliza na unidade, logo, é
necessário definir como será a política de amostra grátis, e em quais setores a indústria farmacêutica poderá circular
dentro do hospital.
10) Divulgar informações sobre medicamentos;
É um trabalho realizado em conjunto com o Centro de Informações de Medicamentos (CIM).
11) Apoiar e contribuir com ações de farmacovigilância;
12) Definir critérios para a utilização de medicamentos não padronizados.
O médico não pode simplesmente realizar o pedido de um medicamento não padronizado, mas deve-se ter uma
fundamentação clínica para a utilização de tal na unidade, e, por isso, esse pedido deve ser analisado por uma
comissão e, muitas vezes, a instituição apresenta critérios pré-definidos, como inexistência de resposta terapêutica
com a utilização de outro medicamento que está padronizado na instituição e desenvolvimento de reação adversa com
o uso de tal.
Critérios para a seleção de medicamentos:
1) Existência de valor terapêutico comprovado para o medicamento, com base na melhor prova em seres
humanos quanto à sua segurança e eficácia;
As informações de segurança de eficácia de um medicamento são obtidas através de ensaios clínicos e metanálises,
por isso é importante saber interpretar esses estudos. Este é o principal critério para a seleção, ou seja, o critério
norteador de todas as atividades da comissão.
Para a seleção de medicamentos, é importante saber buscar fontes de literatura em saúde e saber utilizar os
indexadores secundários, como PubMed e Scopus. A busca por fontes primárias garante publicações de qualidade.
Além disso, é importante saber trabalhar o portal de evidências, já que as revisões sistemáticas e as metanálises são
úteis, assim como saber pesquisar na biblioteca Crokane, que produz revisões sistemáticas sobre saúde, e em
organizações internacionais que trabalham com protocolos e diretrizes que podem ser orientadores.
Sendo assim, é importante conhecer os níveis de evidência, para que seja possível avaliar o estudo analisado. A
metanálise apresenta o grau mais forte de evidência (grau 1). Após a metanálise de múltiplos ensaios clínicos bem
delineados, tem-se o estudo randomizado controlado, bem delineado e adequado ao contexto, depois estudos sem
randomização, com grupo único e com análise pré e pós, depois estudos de coorte e caso-controle (estudos de
evidência intermediária). Os estudos de coorte e caso-controle, na perspectiva do medicamento, permitem apenas
determinar uma relação de causalidade, ou seja, determinar se a exposição ao medicamento está ou não associada ao
evento apresentado pelo paciente, logo, avaliar a segurança de um medicamento, diferentemente dos ensaios clínicos,
que permitem avaliar a eficácia.
Estudos não experimentais realizados em centro de pesquisa em que irá se descrever o consumo são de evidência
baixa, assim como a opinião de especialistas.
2) Escolher, entre os medicamentos da mesma classe farmacológica, um representante de cada categoria
química, ou com característica farmacocinética diferente, ou que possua característica farmacológica que
represente vantagem ao uso terapêutico.
Um exemplo são fármacos que atuam na secreção gástrica. Uma instituição não deve apresentar somente um inibidor
de bomba de prótons como medicamento padronizado no hospital para problemas gástricos, pois determinados
contextos clínicos necessitam de outras classes terapêuticas, como agentes de neutralização (antiácidos) e antagonistas
de receptores H2 de hitamina.
Na maioria dos hospitais, grande parte dos contextos clínicos que envolvem problemas gástricos é resolvido com as 3
classes citadas. Porém, existem outras situações em que é necessário um agente protetor de mucosa, como em
hospitais destinados ao tratamento de câncer, já que pacientes em quimioterapia podem apresentar mucosite como
uma das reações adversas ao tratamento. Dessa forma, justifica-se a padronização de medicamentos representantes de
quatro classes diferentes, um de cada classe.
3) Obter informações suficientes quanto às características farmacotécnicas, farmacodinâmicas e farmacocinéticas
do medicamento;
4) O custo de aquisição deve ser adequado para a instituição;
5) Menor custo do tratamento por dia e custo total do tratamento, resguardando segurança e eficácia do mesmo;
6) Não é possível padronizar todas as formas farmacêuticas e concentrações do medicamento, logo, deve-se
analisar a condição da situação para a qual o medicamento é destinado, a comodidade terapêutica para o
paciente, facilidade de cálculo de doses e de fracionamento ou multiplicação de doses, faixa etária, perfil de
estabilidade mais adequado às condições de estocagem e uso;
Com relação à condição da situação, uma instituição que trabalha com emergências deve padronizar uma forma
farmacêutica de uso parenteral, que apresenta ação mais rápida. Uma instituição que apresenta muitos pacientes idosos
e crianças, por exemplo, pode-se optar por uma forma farmacêutica líquida, como soluções e suspensões de uso oral.
Com relação à comodidade terapêutica, a melhor forma farmacêutica a ser padronizada é a forma sólida. Porém,
alguns pacientes podem ter dificuldade de deglutição, logo, justiça-se a presença também de forma líquida. Então, é
importante analisar o perfil assistencial da instituição.
Não se padroniza todas as dosagens de um fármaco, logo, é importante que a concentração do fármaco no
medicamento escolhido permita a obtenção de diversas doses, o que também inclui a forma farmacêutica, já que
existem formas farmacêuticas que não permitem o ajuste de doses. Um exemplo é a levotiroxina, utilizada para
distúrbios da tireoide. Existem apresentações desse fármaco em diversas concentrações, logo, não se justifica
padronizar todas elas, mas deve-se preocupar com a multiplicidade de doses e evitar a divisibilidade (preocupando-se
com a uniformidade de dose). Dessa forma, pode-se padronizar, por exemplo, a levotiroxina nas doses de 25 mg e 100
mg, o que permitirá certa flexibilidade para realizar a administração de outras doses, como 50 mg, 75 mg, etc. Nesse
caso, não é problemático o paciente administrar mais de 1 comprimido, mas para uso crônico deve-se pensar na
comodidade do paciente, visando a adesão do mesmo ao tratamento, e, por isso, existem diversas concentrações do
mesmo fármaco.
7) Padronizar, preferencialmente, medicamentos encontrados no comércio local, a não ser que isso não seja
possível (como algumas soluções para concentrar órgãos, que são importadas), e formas farmacêuticas
acondicionadas em dose unitária;
8) Evitar inclusão de associação em dose fixa, ou seja, medicamentos que apresentam 2 ou mais fármacos na
mesma forma farmacêutica;
Algumas associações em dose fixa são efetivas e, portanto, sua padronização é justificada. Exemplos são: amoxicilina
(antimicrobiano) e ácido clavulânico (inibidor da β-lactamase), onde o ácido clavulânico aumenta a efetividade do
antimicrobiano; levodopa e carbidopa, onde a levodopa é um fármaco precursor da dopamina, utilizado no tratamento
de Parkinson, onde se tem deficiência na produção de dopamina. Para que apresente sua ação, a levodopa precisa
atravessar a barreira hemato-encefálica, porém sofre descarboxilação no organismo, antes de atingir a barreira, logo,
administra-se a carbidopa, que é um inibidor de descarboxilase; hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio, onde
o hidróxido de magnésio é um antiácido, com efeito laxante, enquanto o hidróxido de alumínio apresenta efeito
constipante, logo, otimiza o efeito antiácido e contrabalanceia o efeito intestinal.
9) Padronizar os medicamentos pelo nome do princípio ativo de acordo com a DCB;
É uma atribuição do farmacêutico na comissão de seleção de medicamentos.
10) Realizar a seleção de antimicrobianos em conjunto com a comissão/serviço de controle de infecção hospitalar;
Deve-se verificar a ecologia hospitalar contra microrganismos prevalentes, padrão de sensibilidade e selecionar os que
permitam suprir as necessidades terapêuticas.
11) Estabelecer relação de ATM de reserva.
Deve-se preocupar com a resistência dos microorganismos aos antimicrobianos, mas não se podem padronizar todos
os antimicrobianos existentes. Logo, alguns devem ser selecionados para a reserva, utilizados em casos de resistência.
Critérios para exclusão de medicamentos do formulário:
1) Baixo consumo no período anterior;
Em caso de mudanças no perfil da assistência hospitalar, ou surgimento de um novo fármaco que seja mais eficaz e
seguro.
2) Retirada do mercado farmacêutico;
3) Eliminação de duplicidade de equivalente terapêutico ou farmacêutico;
Diz-se que dois fármacos são equivalentes terapêuticos quando pertencem à mesma classe e apresentam resposta
terapêutica equivalente. Determinadas classes apresentam essa uniformidade com relação aos fármacos, o que, muitas
vezes, dificulta o processo de seleção, como IECAs, estatinas, heparinas de baixo peso molecular e antagonistas H2 de
histamina.
Equivalentes farmacêuticos ou alternativas farmacêuticas referem-se a substâncias químicas diferentes, mas que
garantem, ao organismo, o mesmo fármaco ativo, como estolato de eritromicina e estearato de eritromicina. Podem ser
também formas farmacêuticas diferentes de um mesmo fármaco.
4) Disponibilidade de alternativas de maior segurança;
5) Medicamentos de uso exclusivo em determinado contexto assistencial.
Um exemplo é o dantrolene, que é um fármaco utilizado em casos de hipertermia maligna, que é um evento raro e
associado a determinados procedimentos cirúrgicos, logo, pode ser padronizado em hospitais com alta demanda
cirúrgica, ou pode não ser padronizado, mas mantido em estoque para estar disponível quando necessário.
Otimização do sistema de formulário:
O sistema de formulário, que contém a relação de medicamentos selecionados e o guia farmacoterápico, deve ser
atualizado periodicamente. Deve apresentar estrutura adequada, contendo: capa, que permita a identificação das
edições; índice; regulamento; apresentação; normas de prescrição de medicamentos, informando como devem ser
prescritos medicamentos para alta, medicamentos não padronizados e antimicrobianos; lista de medicamentos
padronizados; e seção de informações. Deve apresentar uma versão impressa e uma eletrônica, de forma a permitir a
difusão das informações, e o layout deve ser atrativo para que as pessoas se interessem. Além disso, deve conter
informações claras e objetivas.
Medicamentos de uso restrito:
Outra categoria de medicamentos que pode estar presente no hospital são os medicamentos de uso restrito, que são
padronizados, mas que necessitam de monitorização de seu uso, devendo ser pré-definidos critérios para a utilização
dos mesmos. Geralmente, são medicamentos que apresentam toxicidade elevada e são indicados por especialistas. Um
exemplo são os fármacos imunossupressores, que foram desenvolvidos para utilização em casos de transplante de
órgãos. Porém, com o conhecimento a respeito de doenças autoimunes, passaram a ser usados, também, para o
tratamento dessas doenças.
Esses medicamentos só podem ser utilizados diante de aspectos legais que justifiquem seu uso. Para adquirir
misoprostol e talidomida em maternidades, por exemplo, deve-se ter uma justificativa que seja plausível, visto que são
fármacos teratogênicos, logo, seu uso nesse ambiente por trazer problemas posteriores, caso sejam utilizado
inadequadamente.
Normalmente, são medicamentos de custo elevado, e, por isso, sua indicação é controlada.
Estratégias para a seleção de medicamentos:
1) Análise de solicitações de medicamentos não padronizados;
Se já existe uma comissão de farmácia e terapêutica, uma das estratégias mais simples é analisar as solicitações de
medicamentos não padronizados, uma vez que, dessa forma, será possível observar onde estão os vazios terapêuticos.
Supondo que um hospital apresente muitas solicitações de fármacos IRSS, indicando que não existem fármacos dessa
classe no formulário, é necessário analisar as justificativas, observando se não se trata de uma utilização irracional e se
há necessidade de incluir medicamentos dessa classe no formulário.
2) Revisão de classes terapêuticas;
Neste caso, observa-se uma determinada classe terapêutica, analisando o cenário atual de fármacos dessa classe,
podendo integrar essa análise com a análise de solicitações.
3) Formulário negativo;
O formulário negativo pode ser feito quando o hospital não apresenta formulário farmacêutico, ou seja, quando a
padronização estiver sendo criada. Para isso, relacionam-se todos os medicamentos disponíveis na instituição, e
realiza-se a análise por classes terapêuticas, para retirar medicamentos cuja padronização não seja necessária, por
haver duplicidade ou a efetividade não justifique sua padronização.
4) Formulário positivo.
É um contexto muito raro, utilizado quando a instituição é criada.
Conclusão:
A seleção de medicamentos é feita a partir do perfil assistencial da instituição. Logo, um hospital de corpo clínico
fechado, ou seja, que apresenta um elenco fixo de profissionais, permitindo apenas eventualmente (mediante
permissão especial) o exercício de profissionais externos, tende a ter uma seleção mais restrita, em comparação com
um hospital de corpo clínico aberto, que pode ter ou não ter um elenco fixo de profissionais, mas permite a outros
efetuarem internações e assistência a seus pacientes.
A seleção e medicamentos contribui para estabelecer diretrizes terapêutico-clínicas, que devem ser incentivadas e
avaliadas continuamente. Além disso, orienta o suprimento e o controle do estoque de medicamentos, o que garante a
disponibilidade adequada e proporciona o uso racional de medicamentos.
Todos os procedimentos realizados pela comissão de farmácia e terapêutica devem ser documentados por meio de
pareceres, que devem ser curtos, claros e conclusivos, contendo introdução e as evidências, com todas as referências.

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