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A compreensão a respeito do processo de utilização de medicamentos é necessária para os diversos cenários de prática
profissional de atuação do farmacêutico. Para os profissionais que atuam no processo de garantia da qualidade do
medicamento, por exemplo, é necessário o entendimento não somente a respeito do método analítico utilizado para
quantificar e analisar esse medicamento e/ou do processo tecnológico envolvido na produção, mas deve-se entender,
também, a forma como esse medicamento será utilizado pelo paciente, ou seja, deve-se compreender o objetivo ao
qual ele se destina, suas interações com o organismo e outras substâncias, entre outros aspectos relacionados ao seu
uso. Da mesma forma, os profissionais envolvidos diretamente com os serviços de dispensação, como aqueles que
atuam em farmácias comerciais e centros de saúde, por exemplo, devem entender o processo de produção do
medicamento. Observa-se, portanto, que é necessário que se tenha uma visão integral do medicamento.
O indivíduo central de todo o processo de utilização de medicamentos é o paciente, para o qual o medicamento é
destinado devido a uma necessidade desse indivíduo, que é constatada a partir da avaliação clínica pelo profissional de
saúde ou a partir da autoavaliação, o que gera o processo de prescrição do medicamento pelo profissional de saúde, ou
à decisão própria do paciente. Em seguida, tem-se o processo de dispensação do medicamento para o paciente,
realizada pelo farmacêutico, na qual inclui a orientação sobre a utilização do medicamento, e a monitorização do
paciente pelo profissional de saúde, verificando a eficácia do medicamento no tratamento do processo apresentado
pelo paciente, já que a utilização do medicamento leva a um resultado, que pode ser efetivo ou não, ou seja, pode
permitir ou não o alcance do objetivo terapêutico.
A utilização de medicamentos apresenta determinantes culturais e sociais, e também é influenciada pela mídia, pela
formação dos profissionais envolvidos no processo de utilização de medicamentos, e pelo sistema de saúde ao qual o
paciente está inserido (público, privado ou suplementar). A sociedade também incentiva o uso de medicamentos,
assumindo valores aos medicamentos, que maximizam e contribuem para sua utilização. Com relação à formação dos
profissionais, nos últimos anos a OMS tem dado direções para os profissionais de saúde, objetivando a promoção da
utilização racional de medicamentos, para que o medicamento não seja visto simplesmente como um agente
terapêutico. Com relação ao sistema de saúde, os sistemas público e suplementar apresentam normas próprias de
utilização de medicamentos, diferentemente do sistema privado, que é mais flexível.
Em determinados contextos, o paciente não é capaz de aderir sozinho ao tratamento, por se tratar de crianças, idosos,
ou pacientes com grau de comprometimento da saúde que determinou a perda de autonomia para tal, e, portanto,
necessita de um cuidador, que também participará do processo de utilização de medicamentos pelo paciente.
A prescrição do medicamento pode ser realizada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, dentistas e farmacêuticos. A
prescrição de medicamentos por enfermeiros se dá no contexto da atenção básica, para determinados problemas de
saúde, como tuberculose e hanseníase, e para planejamento familiar, e é exclusiva do serviço público. Atualmente, os
farmacêuticos podem prescrever medicamentos cuja aquisição não depende de prescrição. Os nutricionistas podem
prescrever determinadas plantas medicinais e suplementos.
A profilaxia pretendida com o uso do medicamento pode ser primária ou secundária. A profilaxia primária ocorre
quando se deseja evitar um problema que ainda não ocorreu, enquanto a profilaxia secundária ocorre quando se deseja
evitar a recidiva de um evento. O AAS e as estatinas, por exemplo, são medicamentos utilizados com finalidade de
profilaxia secundária, evitando-se a recidiva de infarto e outros eventos cardiovasculares em pacientes que já foram
acometidos com tais. Fármacos antitrombóticos são utilizados com finalidade de profilaxia primária em indivíduos
que estão em condições favoráveis à ocorrência de trombose, como indivíduos acamados.
Os medicamentos podem ser utilizados por indivíduos com o objetivo de compreensão da doença por tal, ou seja, o
indivíduo que apresenta determinada condição utiliza um medicamento que altera o processo apresentado por ele e,
então, este apresenta melhora. Além disso, medicamentos são utilizados por respeito à autoridade, ou seja, o paciente
não entende sua utilização, mas o faz porque um profissional de saúde o prescreveu.
Muitas vezes, os medicamentos são utilizados por conveniência e adequação ao padrão social. Um indivíduo que
apresenta epilepsia, por exemplo, busca a utilização de um medicamento para evitar que ocorram sintomas específicos
da doença, que poderiam dificultar sua inserção na sociedade. Alguns indivíduos utilizam medicamentos com o
objetivo de se mostrarem produtivos no meio social, como indivíduos que apresentam insuficiência cardíaca de grau 3,
que não consegue se locomover e apresenta problemas respiratórios, o que compromete sua produção no trabalho, por
exemplo, logo, esses pacientes buscam a utilização de medicamentos para o tratamento da patologia apresentada,
diminuindo os sinais característicos da mesma. A utilização de medicamentos por um indivíduo pode ser realizada,
ainda, com o objetivo de melhoria da qualidade de vida, como melhorar o relacionamento social e a atividade sexual,
por exemplo.
Primeiramente, o paciente acessa o sistema de saúde, seja público ou privado, e, então, o profissional de saúde
reconhece problemas objetivos (problemas mensuráveis, como elevação da pressão arterial e elevação da glicemia) ou
subjetivos (sintomas que o paciente relata, como cansaço, dor de cabeça, etc, que não são mensuráveis) do paciente, os
avalia e fornece um plano terapêutico, a partir de uma prescrição farmacológica ou não farmacológica. Após isso,
ocorrem os processos de dispensação do medicamento para o paciente, utilização do mesmo, e monitorização da
utilização. Essas etapas definem, portanto, o processo básico de utilização de medicamentos por um indivíduo.
Dimensões do medicamento:
O medicamento apresenta diversas dimensões na sociedade. Apresenta uma dimensão simbólica tanto para o indivíduo
que o utiliza, quanto para o profissional que o prescreve, e um papel típico em cada sociedade, relacionado à cultura.
Além disso, o medicamento apresenta uma dualidade. Apesar de ser um agente terapêutico, apresentando ações
curativas, profiláticas e restauradoras, o medicamento pode causar danos ao paciente, devido às reações adversas
provocadas pelo mesmo, e à sua toxicidade. Por este motivo, pacientes que utilizam medicamentos com baixo índice
terapêutico, tais como fenitoína, aminoglicosídeos, vancomicina, varfarina e digoxina, devem ser monitorados, pois
estes apresentam maior chance de provocar danos ao paciente, apesar de serem importantes para o tratamento,
trazendo benefícios ao indivíduo. Outra dualidade do medicamento se refere ao fato de este produto apresentar um
valor terapêutico e, ao mesmo tempo, econômico, mercadológico.
O medicamento apresenta dimensões multidisciplinares, já que atua em diversos setores, logo, seu uso deve ser
discutido juntamente com toda a equipe de saúde. Um medicamento que tem como efeito adverso o risco de queda,
por exemplo, deve ter seu uso discutido com o fisioterapeuta, para que sejam implantadas medidas que evitem a queda
no paciente que o utiliza, assim como um medicamento que apresenta efeito na cognição, deve ter seu uso discutido
com o psicólogo ou neuropsicólogo, ou um medicamento que pode alterar o aleitamento materno, que é uma questão
de interesse na atenção à saúde da mulher, ou um medicamento que interfere na absorção de determinado nutriente
importante para a saúde, que deve ter seu uso discutido com o nutricionista.
O paciente pode ter acesso ao medicamento a partir da auto-seleção, da prescrição por um profissional de saúde
habilitado para tal, ou a partir da prescrição no contexto de saúde. A auto-seleção envolve a automedicação, que pode
ser realizada pelo próprio paciente ou pelo seu cuidador, que decide a utilização de um determinado medicamento pelo
paciente. Logo, desde que a utilização do medicamento não seja decidida por um profissional de saúde, caracteriza
uma automedicação.
Os medicamentos disponíveis para a utilização pelo indivíduo são: medicamentos referência, medicamentos similares
e medicamentos genéricos. Essa classificação dos medicamentos deve ser conhecida pelo profissional farmacêutico
para facilitar o acesso da população aos medicamentos. Os medicamentos referência são produtos inovadores que
estão, ainda, sob patente. Os medicamentos similares apresentam o mesmo princípio ativo dos medicamentos
referência e são comercializados com um nome fantasia (nome de marca), e, de acordo com a nova legislação, alguns
podem ser intercambiáveis com os medicamentos referência. Os medicamentos genéricos são comercializados com o
nome do princípio ativo presente no produto e são intercambiáveis com os medicamentos referência.
Além disso, os medicamentos podem ser: medicamentos isentos de prescrição (MIP – medicamentos de venda livre),
existindo uma legislação que define as classes de medicamentos incluídas nessa classificação; medicamentos vendidos
sob prescrição, que são os medicamentos de tarja vermelha; medicamentos vendidos com retenção da prescrição,
como é o caso dos antibióticos, que são vendidos somente com prescrição médica e retenção da mesma, como forma
de estimular o uso racional desses medicamentos, evitando-se seu uso abusivo, que está relacionado ao
desenvolvimento de resistência dos microorganismos, e, outro exemplo, são os medicamentos que interferem com o
SNC, que também são vendidos com retenção da prescrição, como forma de segurança para o paciente; medicamentos
com uso notificado, comercializados com tarja amarela, que são aqueles que podem causar dependência no paciente
(regulamentados pela portaria 344), ou medicamentos de uso hospitalar, como derivados de opioides.
Outros medicamentos disponíveis para a utilização são as plantas medicinais e os produtos fitoterápicos, que são
comercializados em farmácias de manipulação ou farmácias comerciais, devendo-se ter uma maior preocupação com a
questão mercadológica desses produtos, já que se trata de redes privadas, o que envolve uma questão econômica.
Os pacientes podem ter acesso aos medicamentos através da rede privada subsidiada e através da rede pública. A rede
privada subsidiada de Minas Gerais apresenta dois programas de subsídio: “Aqui tem farmácia popular” e “Saúde não
tem preço”. No programa “Aqui tem farmácia popular”, o paciente recebe um desconto na aquisição do medicamento,
enquanto no programa “Saúde não tem preço”, que é destinado aos pacientes diabéticos e hipertensos, os
medicamentos para essas patologias são fornecidos gratuitamente. Existe uma abordagem filosófica, social e política
de que os medicamentos abrangidos por esses programas deveriam ser fornecidos pelo serviço público, mas, por
decisão governamental, esses medicamentos estão presentes também nas farmácias comerciais, além do serviço
público. Outro modelo, que não existe mais em Belo Horizonte, é o “Farmácia Popular do Brasil”, onde farmácias da
UNIMED são estruturadas para fornecer os produtos subsidiados que, atualmente, estão presentes nas farmácias
comerciais. Por questões políticas, o conselho de saúde de Belo Horizonte determinou que a formação dessas
farmácias não era favorável, defendendo que os medicamentos deveriam ser fornecidos pelas farmácias do SUS.
Na rede pública, os pacientes adquirem os medicamentos através de farmácias do sistema público, como as farmácias
das unidades básicas de saúde. Os medicamentos presentes no sistema público são classificados em 3 componentes:
medicamentos do componente básico; medicamentos do componente estratégico e medicamentos do componente
especializado. Os medicamentos do componente básico são aqueles destinados ao tratamento das doenças mais
prevalentes na população. Os medicamentos do componente estratégico não apresentam interesse mercadológico, pois
são destinados a um número menor de pessoas, para o tratamento de doenças endêmicas, tais como malária,
hanseníase, tuberculose, leishmaniose, e de problemas prioritários do sistema de saúde, como tabagismo, AIDS e
hemofilia. Os medicamentos do componente especializado são aqueles de alto custo, como medicamentos importados,
medicamentos destinados ao tratamento de doenças raras, doenças congênitas, Alzheimer, Parkinson e medicamentos
para transplantes, e são disponibilizados somente para os pacientes que se enquadram no perfil definido pelas
diretrizes de tratamento. Um paciente acometido com tuberculose, por exemplo, atendido em um hospital particular,
só conseguirá adquirir o medicamento para esse tratamento (isoniazida + rifampicina) através do sistema público, pois
os medicamentos dos componentes estratégico e especializado não estão disponíveis na farmácia comercial.
Em um hospital, o acesso ao medicamento se dá de forma diferenciada. Os medicamentos não estão presentes pelo
nome de marca, mas pelo nome do princípio ativo, e, geralmente, escolhe-se 1 ou 2 representantes de cada classe
terapêutica, para serem integrados na farmácia hospitalar, sendo que, para isso, leva-se em consideração diversos
aspectos relacionados tanto ao próprio medicamento quanto à sua demanda no hospital.
Auto-seleção (automedicação):
O paciente pode se automedicar com medicamentos de venda livre (MIPs), presentes na farmácia comunitária, ou
medicamentos presentes em seu próprio estoque domiciliar. A automedicação pode ser realizada de forma
responsável, quando destinada ao tratamento de sintomas mais leves, como dor de cabeça ocasional, e é fundamentada
no uso de MIPs (medicamentos isentos de prescrição), sendo, inclusive, incentivada pela OMS. Porém, muitas vezes,
a automedicação é feita de forma irracional, podendo provocar problemas ao paciente, já que a seleção do
medicamento pode ser inapropriada, a dose pode ser inadequada, as interações podem não ser detectada, não haverá
monitoração do paciente, e o diagnóstico pode ser inadequado.
Prescrição de medicamentos:
A prescrição de medicamentos pode ser realizada em diversos contextos, como em centros de saúde, ambulatórios,
clínicas especializadas, instituições de longa permanência para idosos, hospitais, etc, para pacientes que relatam
sintomas leves a moderados.
Em alguns hospitais, enfermeiros apresentam prerrogativa para prescrever coberturas interativas, que são substâncias
ativas aplicadas sobre a ferida do paciente, com o objetivo de facilitar o processo de cicatrização. Essas coberturas
podem ser de fibra coloide, hidrogel, carvão ativado, ou outras substâncias. Essa prerrogativa é permitida apenas para
enfermeiros especialistas em tratamento de feridas.
Alguns medicamentos prescritos são de uso hospitalar, logo, serão utilizados somente no hospital, como relaxantes
neuromusculares, anestésicos, antineoplásicos de uso parenteral, derivados do sangue (como albumina),
antimicrobianos parenterais, etc. Esses medicamentos são administrados por via parenteral, via inalatória ou ostomias.
Outros são medicamentos para urgência e emergência, prescritos em unidades de pronto atendimento (UPAs) e
SAMU. Os farmacêuticos do SAMU atuam na organização da assistência farmacêutica para este serviço, ou seja, no
planejamento da seleção e aquisição dos medicamentos, sendo que existem definições de medicamentos específicos
para determinados padrões de ambulância, variando de acordo com a urgência e finalidade do tratamento.
Problemas:
1) Para a utilização de medicamento, é necessário que haja uma programação, ou seja, o paciente deve,
primeiramente, procurar o serviço de saúde, podendo demandar um período de tempo para que ele seja
atendido, o que pode piorar o quadro clínico do paciente, atrasando o tratamento;
2) O acompanhamento/monitoramento do paciente pode ser inadequado e, além disso, o profissional, muitas
vezes, não tem as informações necessárias para garantir a continuidade do cuidado (referência e contra-
referência);
3) O tempo de consulta pode não ser adequado, tendo-se poucas oportunidades para esclarecimentos;
4) Com relação aos hospitais, um dos problemas da prescrição é a falha de comunicação na transmissão do
cuidado. Muitas vezes, o profissional prescritor não sabe o que acontece com o paciente fora do hospital, ou
seja, na unidade básica de saúde, o que gera problemas, já que o médico apresenta informações incompletas a
respeito da farmacoterapia e da história médica passada do paciente;
5) Outro grande problema está nos recursos humanos, relacionado à capacitação inadequada, e o alto volume de
pacientes;
6) Em alguns ambientes de trabalho, principalmente na urgência e unidades de terapia intensiva, muitas vezes
precisa-se tomar decisões rápidas, o que é um trabalho complexo, já que, geralmente, são situações agudas e
com múltiplos determinantes, tendo-se a qualidade da informação dificultada, o que compromete o processo
do cuidado. Além disso, medicamentos parenterais, por serem medicamentos de ação imediata, demandam
maior tempo de monitoração, e podem-se ter falhas no processo pós-alta.
O papel do paciente:
O paciente é fonte de informações para subsidiar o processo de utilização de medicamentos, sendo ele quem fornece
as informações a respeito dos sinais e sintomas apresentados, permitindo a avaliação do quadro e, consequentemente,
a definição do plano terapêutico e, posteriormente, prescrição do medicamento pelo profissional e dispensação. Além
disso, o paciente fornece informações que permitem a avaliação da eficácia da terapia.
A tomada de decisão a respeito do uso de medicamentos pode ser: paternalista, onde o paciente é mais participativo;
informativa, onde o paciente é o principal tomador da decisão; ou compartilhada, onde o profissional é o principal
tomador da decisão.
O farmacêutico deve:
A adesão ao tratamento contribui para os resultados clínicos e humanitários, já que melhora a qualidade de vida do
indivíduo, e tem impacto econômico, tanto positivo quanto negativo.
1) Idade – A adesão do tratamento é dificultada em idosos, já que eles devem utilizar muitos medicamentos ao
mesmo tempo, e acabam não realizando o tratamento de forma correta;
2) Distância do serviço de saúde;
3) Questões relacionadas à condição de saúde do paciente, o a incapacidades relacionadas à doença;
4) Empatia do paciente com o profissional prescritor;
5) Questões econômicas, ou seja, a renda do paciente, pois alguns medicamentos são caros e, algumas vezes, não
estão disponíveis no SUS;
6) Suporte social;
7) Clareza do paciente a respeito da doença apresentada por ele;
8) Compreensão da indicação;
9) Observação rápida da efetividade da terapia.
Da mesma forma, existem fatores que contribuem para a não adesão do paciente ao tratamento, tais como:
Por isso, o farmacêutico deve oferecer boas razões ao paciente para sua adesão ao tratamento, entender o processo de
saúde apresentado pelo paciente, esclarecê-lo sobre a doença e a utilização do medicamento para o tratamento de tal,
mostrar ao usuário que ele é o responsável pelo bom andamento do tratamento, disponibilizar as informações
necessárias ao paciente, assegurar ao usuário o comprometimento com o tratamento, e adaptar o tratamento ao
paciente, para que este seja realizado de forma cômoda pelo mesmo.
Para isso, o profissional farmacêutico deve apresentar diversas características promotoras da efetividade:
1) A relação com o paciente deve ser estabelecida em uma atmosfera de integração e autonomia;
2) Explorar alternativas terapêuticas;
3) Negociar o tratamento de acordo com o estilo de vida do paciente;
4) Discutir a importância da adesão;
5) Acompanhar o paciente durante o tratamento.
6) Escutar o paciente com atenção e saber entendê-lo;
7) Mostrar interesse e respeito pelo paciente;
8) Ser criativo e buscar ter posturas positivas;
9) Ter habilidades interpessoais.
MODELOS DE PRÁTICA, FUNÇÕES, OBJETIVOS E PERSPECTIVAS
Hospital:
Hospital é uma instituição milenar, existente desde a Idade Média, que passou por diversos processos de reforma até
atualmente. A função do hospital vai além de tratar doentes. Hospital é um estabelecimento cuja finalidade básica é o
atendimento assistencial em regime de internação (de onde vem a etiologia da palavra hospital – “hospedar”), sem que
isto exclua o atendimento ambulatorial.
Na Idade Média, hospital era um local de segregação, já que, normalmente, quem frequentava hospitais eram pessoas
com condições socioeconômicas mais precárias, ou seja, os excluídos socialmente. Nessa época, o atendimento
médico era domiciliar, então, os hospitais foram criados vinculados à Igreja para atender aqueles que não
apresentavam condições financeiras para este tipo de atendimento, e os feridos de guerra.
No contexto que se tem atualmente, objetivando a redução do custo com a saúde, tratamento de doenças crônicas e
tratamento de doenças controladas que necessitam de monitorização, onde o medicamento apresenta papel importante,
o atendimento ambulatorial se torna relevante para hospitais, e não somente o atendimento assistencial com o objetivo
de tratamento de feridos.
Além da atividade terapêutica, outras atividades são pertinentes ao hospital, incluindo as atividades de prevenção,
reabilitação (um exemplo são os hospitais da rede SARAH, que não especializados em reabilitação), ensino e
pesquisa. Muitos hospitais possuem centros de pesquisa ou, mesmo que não possuam, desenvolvem pesquisas, sejam
pesquisas com novos procedimentos, ou com métodos diagnósticos ou com novos medicamentos (ensaios clínicos). O
hospital é local de ensino, pois se tem informações de recursos humanos em hospitais e, além disso, existem muitos
hospitais escolas, ou que pertencem a universidades, como o Hospital São José, que pertence à Faculdade de Ciências
Médicas, e o Hospital das Clínicas, que pertence à UFMG.
• Modelos de prática:
O modelo de prática é a estrutura operacional que define como e onde a prática do farmacêutico deve ocorrer. A
prática do farmacêutico inclui sistema de distribuição, estrutura organizacional dos serviços e as funções e prioridades
da prática profissional. Cada hospital apresenta um modelo de prática específico, que sofre influência de diversos
fatores.
1) Modelo centrado na distribuição:
O modelo centrado na distribuição é o modelo de prática encontrado com mais frequência. É também chamado de
modelo do farmacêutico reativo, onde se tem a ausência de envolvimento com a equipe de saúde, e, então, o
farmacêutico assume uma função de supridor de medicamentos dentro da instituição, apresentando pouca participação
dentro do processo de utilização de medicamentos, já que este profissional participará apenas do suprimento e
distribuição dos medicamentos. O farmacêutico, portanto, não é responsável pelos resultados da assistência.
2) Modelo centrado na farmácia clínica:
O modelo centrado na farmácia clínica é um modelo extremo e dissociativo, já que se tem a dissociação entre o
farmacêutico clínico e os demais farmacêuticos. O farmacêutico clínico realizará apenas atividades clínicas, enquanto
outro farmacêutico será responsável pelas demais atividades do processo de utilização de medicamentos, de forma
dissociada, ou seja, não há integração entre os serviços.
Este modelo dissociado não é o melhor a ser seguido, já que não garante uma participação integral do farmacêutico
dentro do processo de utilização de medicamentos.
3) Modelo integral centrado no paciente
O modelo integral centrado no paciente é o que tem sido proposto atualmente. Neste modelo, todos os farmacêuticos
são responsáveis pelos diversos componentes do processo de utilização de medicamentos, exercendo tanto funções
clínicas quanto funções relacionadas ao processo de distribuição. Um farmacêutico participa mais das funções clínicas
e outro participa mais das funções relacionadas à distribuição, mas eles se inter-relacionam, diferentemente do modelo
centrado na farmácia clínica, que é um modelo fragmentado, ou seja, desintegrado.
Para viabilizar o modelo integral centrado no paciente, preconiza-se que a atuação no sistema de distribuição seja
reduzida com delegação de funções para técnicos. Este modelo permite a ampliação da atuação clínica e maior
envolvimento do farmacêutico no processo de utilização de medicamentos, permitindo que este adquira alto grau de
responsabilidade e domínio desse processo.
• Mudança de paradigma:
Ao se referir ao modelo de prática centrado na farmácia clínica e ao modelo de prática integral centrado no paciente,
pode-se dizer que, atualmente, está ocorrendo uma mudança de paradigma. De acordo com o paradigma tradicional, o
farmacêutico é responsável por garantir que o paciente receba o medicamento prescrito e que este medicamento seja
seguro para o mesmo. Antes da existência da ANVISA, a questão da segurança não era ela levada em consideração,
preocupa-se somente com a disponibilidade ou não do medicamento na farmácia, para que esse seja distribuído para o
paciente. Porém, isso não é suficiente e, portanto, segundo o paradigma atual, o farmacêutico é responsável por ajudar
o paciente a fazer o melhor uso dos medicamentos, ou seja, o farmacêutico é o profissional de saúde responsável por
oferecer cuidado ao paciente, que garanta resultados ótimos da farmacoterapia, logo, deve se responsabilizar,
participar e se envolver com a utilização do medicamento pelo paciente, não somente disponibilizar medicamento.
Isso se aplica a todos os farmacêuticos que atuam nos serviços de saúde.