ID-Batista Machado
Interpretação e integração da lei
Indicação da sequência
Vamos proceder a uma análise sumária do art. 9º do CC, apesar de ter
mais um caráter didático do que uma natureza preceptiva (que facilmente se
percebe, o que não é bem assim no caso).
O referido texto, situado embora no Código Civil, é 1 daquelas “normas”
de 2º grau ou normas sobre normas que valem para todo direito, qualquer
que seja o ramo em causa.
No caso presente, tratar-se-ia de uma norma que pretende “prescrever”
(ordenar, det, estabelecer) o modo de determinação do conteúdo significativo
de todos as restantes normas do sistema, pelo que, nessa medida, se deveria
considerar como que uma parte integrante -ou pelo menos como 1 dispositivo
complementar- de todas as normas do sistema.
Pode o método de interpretação da lei configurar-se como uma
“questão de direito” a que o legislador possa dar resposta?
Há quem entenda que sim (que o método de interpretação da lei pode
configurar-se como 1 questão de direito), nomeadamente: Emílio Betti, e
entre nós Oliveira Ascensão. Há quem entenda que não: assim, entre nós:
Castanheira Neves.
Seja ou não a questão do método interpretativo uma questão que entra
no círculo daquelas que são suscetíveis de uma resposta “jurídico-positiva”
(legislativa) -a nós parece-nos bem que não-, ou seja, parece-nos que a
questão do método interpretativo, não entra no círculo daquelas questões
suscetíveis de 1resposta jurídico-positiva (legislativa), o certo é que é muito
raro os legisladores se aventurarem a fixar autoritariamente qq orientação
interpretativa.
Mas, serão mt provavelmente induzidos/incentivados a esta
abstinência/renúncia/privação, pela sensata razão de que as regras legais
sobre interpretação (têm pouca importância na prática) terão nenhuma ou
escassa relevância prática, pois que sob a capa da orientação interpretativa
ditada pelo legislador (por exemplo: da orientação “subjetivista”) facilmente se
insinuariam os princípios e os argumentos da orientação oposta.
(ou seja facilmente nos podemos opor a essas regras legais sobre a
interpretação, se vestidos sob a capada orientação interpretativa ditada pelo
legislador.
recorrerá a tal forma de interpretação apenas quando só por essa via seja
possível alcançar o fim visado pelo legislador.)
A interpretação revogatória ou ab-rogante terá lugar apenas quando
entre 2 disposições legais existe uma contradição insanável.
e) Interpretação enunciativa: pela qual o intérprete deduz de uma norma um
preceito que nela apenas está virtualmente contido, utilizando para tal certas
inferências lógico-jurídicas que assentam nos seguintes argumentos:
1º a lei que permite o mais também permite o menos/"a miori ad minus"
(leis permissivas) --> se o certo indivíduo pode alienar determinados
bens, também poderá onerá-los.
2º a lei que proibe o menos também proibe o mais/"a minori ad maius"
(leis proibitivas) --> se p.ex.,proíbe onerar certos bens, também proíbe
aliená-los.
3º a lei que disciplina um caso excecional pressupõe uma disposição
contrário para os casos não execionais ou comuns/"a contrario" -->
deve ser usado com muita prudência. Por meio dele deduz-se de um
ius singulare, isto é, da disciplina excecional estabelecida para certo
caso, um princípio-regra de sentido oposto para os casos não
abrangidos pela norma excecional. Assim a aprtir de 1 norma
excecional deduz-se a contrario que os casos que ela não contempla
na sua hipóteseseguem um regime oposto,que será o regime-regra.
O art.11º, proíbe a aplicação analógica das normas excecionais, mas
não a sua interpretação extensiva (só o art 18º do Código Penal é que proíbe
tanto a aplicação analógica como a interpretação extensiva das normas
incriminadoras). (Assim, para definirmos o campo de aplicação do regime-
regra que se contrapõe ao regime estabelecido pela norma excecional,
teremos que verificar primeiro se, por interpretação extensiva desta norma,
não deverão por ela ser abrangidos casos não diretamente contemplados na
sua hipótese.
O argumento a contrario apenas terá força pela quando se consiga
mostrar a existência de uma implicação intensiva (ou replicação) entre a
hipótese e a estatuição-quando se mostre que a consequência se produz
quando se verifique a hipótese e que tal consequência só se produz qnd se
verifica tal hipótese.
Assim sucederá designadamente, quando a hipótese legal é constituída
por uma enumeração taxativa ("apenas quando se verifique um dos seguintes
casos...ou fundamentos..") e o caso em apreço não caiba decididamente em
nenhuma das hipóteses que constituem o elenco legal (numerus clausus). Ou
sempre que seja possível demonstrar que a norma em causa exprime
deveras um ius singulare.
III- A letra (texto) exerce ainda uma 3ª função (para além de ponto de
partida,e de limite): a de dar 1 + forte apoio àquela das interpretações
possíveisque melhor condiga com o significado nat e correto das
expressões utilizadas.
Art 9º nº3: o intérprete presume que o legislador "soube exprimir o seu
pensamento em termos adequados". Só quando razões ponderosas
(baseadas noutros subsídios interpretativos), conduzem à conclusão de
que não é o sentido mais nat e direto da letra que deve ser acolhido,
deve o intérprete preteri-lo.
IV- O mesmo nº3 destaca outra presunção: "o intérprete presumirá que
o legislador consagrou as soluções mais acertadas"--> propõe-nos
portanto, 1 modelo de legislador ideal que consagra as soluções +
acertadas (+ corretas, + justas, + razoáveis) e sabe exprimir-se por
forma correta.
Este modelo reveste-se claramente de características objetivistas, pois
não se toma para ponto de referência o legislador concreto (muitas vezes
incorreto, precipitado,infeliz) mas 1 legislador abstrato: sábio, previdente,
racional e justo.
Só que não convém exagerar a tónica objetivista, pois já vimos ser
ponto assente que a nossa lei não tomou partido entre as duas corretes (subj/
objet).
Pode porém acontecer que a interpretação + natural e diretamente
condizente com a fórmula verbal não corresponda à solução mais acertada.
Nesta hipótese, as duas presunções entrarão em conflito (1º-o
intérprete presume que o legislador "soube exprimir o seu pensamento em
termos adequados" 2º-o intérprete presumirá que o legislador "consagrou as
soluções mais acertadas"). Por qual das interpretações optar?
Manuel de Andrade: propõe a procura de um certo ponto de equilíbrio,
nos termos: "Dentre os 2 sentidos, cada 1 deles o + razoável sob um dos
aspetos considerados, deve preferir-se aquele que menos se distanciar da
razoabilidade sob o outro aspeto. (Apesar de equilibrada, é óbvio que apenas
será de observar se o "impasse" se mantiver depois de exauridos os outros
elementos de interpretação mencionados pelo art9º.)
V- O nº1 do art 9º refere + 3 desses elementos de interpretação: a
"unidade do sist jurídico", as "circunstâncias em que a lei foi
elaborada"e as "condições específicas do tempo em que é aplicada".
Em 1º lugar, vamos ver os 2 últimos elementos. Entre eles não existe
qq hierarquia ou melhor, como diz Varela "nenhum significado especial
possui a ordem por que são indicados esses 2 fatores".