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Práticas e Modelos da auto-avaliação das Bibliotecas Escolares

Formadoras: Isabel Antunes/ Maria José Vitorino

Tarefa 2- Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas


Escolares

1. Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas


escolares.

A implementação do processo de auto-avaliação das bibliotecas escolares, pela


Rede de Bibliotecas Escolares, é entendida, pelos seus responsáveis, como parte
integrante da “estratégia global de desenvolvimento das bibliotecas escolares
portuguesas” (texto da sessão, pág. 1), permitindo dotá-las de um “quadro de referência
e de um instrumento que lhes permite a melhoria continua da qualidade, bem como a
busca de uma perspectiva de inovação” (texto da sessão, pág. 6).
É nosso entendimento que este modelo, nos termos em que o interpretamos, se
assume como um instrumento prático-reflexivo e reflexivo-prático. Prático-reflexivo
porque a biblioteca escolar deve por um lado, objectivar as práticas e actividades mais
adequadas para o sucesso da sua missão e por outro, avaliar o grau de eficiência e de
eficácia dos serviços prestados, através da recolha e uso de evidências. E dizemos
reflexivo-prático porque a partir da avaliação da sua acção devem ser definidas
estratégias de melhoria e de desenvolvimento das suas práticas nos diferentes domínios.
Importa considerar que a informação resultante da aplicação do modelo de auto-
avaliação, entendido como um instrumento pedagógico e de melhoria, assume uma
enorme relevância quer para a Biblioteca Escolar, quer para a Escola, quer ainda para a
Rede de Bibliotecas Escolares.
No que à Biblioteca diz respeito, trata-se de avaliar as suas práticas, “tendo com
pano de fundo essencial o seu contributo para as aprendizagens, para o sucesso
educativo e para a promoção da aprendizagem ao longo da vida “ (MAABE, pág. 5).
Do ponto de vista da Escola é fundamental que esta, não só se envolva neste processo,
mas também “conheça o impacto que as actividades realizadas pela e com a BE vão
tendo no processo de ensino e na aprendizagem, bem como o grau de eficiência e de
eficácia dos serviços prestados e de satisfação dos utilizadores da BE” (MAABE, pág.
1). Assim se justifica a recomendação no sentido de que a auto-avaliação da biblioteca
seja incorporada no processo de avaliação da própria escola.
A reforçar a importância que a BE assume no contexto das escolas, refira-se, a título de
exemplo, que o relatório da avaliação externa da escola realizado na nossa escola, em
2010, remete por diversas vezes, nas conclusões da avaliação por domínio, para a acção/
contributo da BE.
Relativamente ao terceiro e último interveniente - a Rede de Bibliotecas
Escolares, a aplicação deste modelo constitui um meio/oportunidade para aferir e avaliar
práticas por parte das escolas que integram a rede e, a partir daí traçar acções futuras.

2. O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria. Conceitos


implicados

A implementação do modelo de auto-avaliação, nos termos que conhecemos,


tem como principal intenção “dotar as escolas de um instrumento qualitativo, orientado

Formanda: Maria Celeste Fortunato Custódio


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para uma análise dos processos e dos resultados numa perspectiva formativa, permitindo
identificar as necessidades e as fragilidades com vista à melhoria”. (MAABE, pág. 2)

Subjacente a esta concepção, que sintetiza e integra princípios,


comprovadamente relevantes, apontados por organismos internacionais e nacionais,
ligados às bibliotecas escolares, surgem alguns conceitos que importa clarificar:

a)- Um novo paradigma de biblioteca escolar, entendida como espaço de construção


do conhecimento, com um papel determinante no desenvolvimento curricular e
no sucesso educativo;
b)- Um novo conceito de avaliação no contexto das bibliotecas escolares:
 Entendido como um processo pedagógico e regulador, que “conduzirá à
reflexão e originará mudanças concretas na prática, visando uma melhoria
contínua” (texto da sessão, pág. 1).
 Entendido como um processo sistemático de avaliação do valor, isto é,
valorização dos benefícios das acções desenvolvidas/dos resultados, permitindo
avaliar o “impacto qualitativo da biblioteca, isto é, na aferição das modificações
positivas que o seu funcionamento tem nas atitudes, valores e conhecimento dos
utilizadores” (texto da sessão, pág. 5).
 Entendido como um processo de recolha de evidências sistemáticas que
“mostrem como as suas práticas [das bibliotecas] têm impacto nos resultados
dos estudantes.” (Ross Todd, texto da sessão, pág. 4). Ou seja, perspectiva
práticas de pesquisa acção, que no dizer de Markless, estabelecem a relação
entre os processos e o impacto ou valor que originam.
 Mobilizador de toda escola e não apenas o professor bibliotecário e os
elementos da equipa da biblioteca.
 Flexível, isto é, susceptível de ser adaptado a cada escola de acordo com as suas
especificidades.
 Exequível, ou seja, integrável nas práticas de gestão da biblioteca.

3. Organização estrutural e funcional.

O modelo organiza-se em quatro domínios e respectivos subdomínios,


precisamente aqueles que são considerados, como sendo nucleares para o
desenvolvimento e qualidade das bibliotecas escolares: A- Apoio ao Desenvolvimento
Curricular; B- Leitura e Literacia; C- Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de
Abertura à Comunidade; D- Gestão da Biblioteca Escolar.
Para cada um destes domínios são propostos indicadores “que se concretizam em
diversos factores críticos de sucesso. Os indicadores apontam para as zonas nucleares de
intervenção em cada domínio e permitem a aplicação de elementos de mediação que
irão possibilitar uma apreciação sobre a qualidade da BE (MAABE, pág. 2).

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Para os indicadores enunciados são sugeridos instrumentos para a recolha de


evidências, entendidas como suporte principal da avaliação. Aponta, ainda, no caso de
ser necessário melhorar o desempenho da BE em determinadas áreas, para acções de
melhoria.
O modelo contempla ainda uma caracterização dos perfis de desempenho que
“caracterizam o que se espera da BE, face à área analisada.” (MAABE, pág. 4) É de
salientar que a RBE considera que os perfis de desempenho dependem muito mais da
escola em geral (órgãos de administração e gestão e dos docentes), do que da acção
isolada da Biblioteca.
Feita esta descrição dos aspectos organizativos do modelo de auto-avaliação da
BE, em termos estruturais e funcionais, reconhecemos que eles se apresentam marcados
por uma divisão artificial destinada a apoiar um exercício mental destinado a orientar as
acções a desenvolver em função daquilo que constitui a razão de ser de uma biblioteca
no seu todo. Ou seja, a percepção daquilo que é e deve ser a função de uma biblioteca
no seu todo implica uma percepção integrada da funcionalidade das suas diversas áreas
e do modo como elas concorrem para melhorar o desempenho da biblioteca.
Sem por em causa o que acabámos de dizer, e embora reconhecendo o carácter
positivo de tais divisões, enquanto expressão de um exercício mental naturalmente útil
para uma orientação na acção, somos levados a considerar que existe um excesso de
pormenores associados às referidas divisões que tendem, não só a gerar repetições entre
domínios, mas também a enunciar exigências que, por vezes, se apresentam
teoricamente bem pensadas mas nem sempre compagináveis com as especificidades que
marcam o dia-a-dia da BE, em múltiplas escolas.

4. Integração/ Aplicação à realidade da escola/ biblioteca escolar. Oportunidades e


constrangimentos.

Partilhamos da necessidade/utilidade da implementação de um modelo de auto-


avaliação das bibliotecas escolares e reconhecemos que, em termos de concepção
teórica, constitui uma excelente referência para todos aqueles que exercem funções de
coordenação numa biblioteca escolar. No entanto, analisando o modelo e sobretudo
aplicando-o, são perceptíveis vários constrangimentos:

 Pressupõe um novo paradigma de biblioteca escolar que pouco tem a ver com a
concepção dominante nas escolas, sendo estas ainda entendidas como centro de
recursos/ de animação cultural da escola, sem implicações no sucesso educativo dos
alunos;
 Exige uma abertura para aceitar que a biblioteca “É uma parte vital da estrutura de
aprendizagem da Escola”, que nos parece ser difícil de alcançar, a curto prazo;
 Implica um conhecimento /compreensão da natureza e das dimensões do papel do
bibliotecário escolar;
 Exige um “compromisso da escola” (tal como recomenda a RBE) que se confronta
com vários entraves;

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 Pressupõe a existência de trabalho colaborativo/cooperativo/articulado/ entre todos


os professores e as actividades da BE, que só esporadicamente é desenvolvido;
 Pressupõe que os professores estejam muito receptivos e disponíveis para as
múltiplas propostas a desenvolver pela BE, quando sabemos que na prática, cada
vez mais os professores têm menos disponibilidade de tempo, face a uma
multiplicidade de tarefas em que estão envolvidos.
 Pressupõe que as equipas das bibliotecas escolares/colaboradores sejam vastas e
escolhidas criteriosamente, quando na verdade são cada vez mais escassos os
recursos humanos com o perfil adequado e disponível;
 Implica uma excessiva exigência de actuação e mobilização do professor
bibliotecário.

Elencados os mencionados constrangimentos, destacamos como principais


oportunidades o facto deste modelo poder ser considerado como:

 Instrumento promotor de um novo paradigma de biblioteca escolar, se entendida


como centro de aprendizagens, de construção do conhecimento e geradora de novas
competências e novas práticas;
 Instrumento promotor de inovação e de melhoria da qualidade da BE;
 Instrumento de integração da BE na Escola e no processo de ensino-aprendizagem;
 Instrumento fomentador do trabalho cooperativo/colaborativo e articulado com
departamentos, professores e alunos;
 Instrumento que permite um conhecimento mais efectivo do impacto das práticas,
implementadas pela BE, no sucesso educativo dos alunos.

5- Gestão das mudanças que a sua aplicação impõe. Níveis de participação da e


na escola.
A aplicação efectiva do modelo de auto-avaliação introduz significativas
mudanças quer ao nível da Escola, quer ao nível das práticas da biblioteca escolar.
E dizemos ao nível da escola porque entendemos que a sua aplicação requer um
“compromisso da escola”, na sua globalidade, no sentido de a implicar num processo
que deve ser entendido como uma necessidade própria, capaz de dar a conhecer o
impacto da biblioteca no sucesso educativo.
Ao nível da Biblioteca, introduz novos conceitos que exigem novas práticas,
nomeadamente: o desenvolvimento de acções de integração da biblioteca nas estratégias
de ensino aprendizagem; a promoção de um trabalho cooperativo/colaborativo e
articulado com os professores; a recolha sistemática de evidências e a definição de
acções de melhoria com base nas evidências recolhidas.
Neste processo, o coordenador/professor bibliotecário deve assumir o papel de
“elemento catalisador”, competindo-lhe desenvolver acções de sensibilização, tais
como: informar e mostrar a validade deste processo junto dos órgãos de direcção;
mobilizar os professores, em geral, e os professores da equipa e colaboradores, em

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particular, e, ainda, apresentar e promover a discussão no Conselho Pedagógico


alertando para aspectos implicados na aplicação deste modelo.
Assim, o desempenho deste papel, exige do professor bibliotecário não só uma
liderança forte, mas também uma visão estratégia e ainda competências humanas e
técnicas de carácter global capazes de assegurar uma dinamização consistente e eficaz
no que à implementação do modelo diz respeito.

Formanda: Maria Celeste Fortunato Custódio

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