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ROSA MÍSTICA

– Sempre com Jesus. Vida de oração.

– Aprender a rezar.

– As orações vocais. O Santo Rosário.

I. MARIA CONSERVAVA todas estas coisas, meditando-as no seu


coração1. E a sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração2. Por
duas vezes o Evangelista se refere a esta atitude de Maria diante dos
acontecimentos: uma na noite de Belém, e a outra em Nazaré, ao regressar de
Jerusalém depois de encontrar Jesus no Templo. A insistência do Evangelista
parece um eco da repetida reflexão de Maria, que deve tê-la confidenciado aos
Apóstolos depois da Ascensão de Jesus aos céus.

A Virgem conservava e meditava. Sabia recolher-se interiormente, guardava


e avaliava na sua intimidade, isto é, tornava tema da sua oração os grandes e
pequenos acontecimentos da sua vida. Esta oração contínua de Maria é como
o aroma da rosa “que se eleva constantemente para Deus. Essa elevação
nunca cessa, tem um frescor primaveril; é sempre jubilosamente nova e
virginal. Se a brisa das nossas orações ou os ventos tempestuosos deste
mundo passam por Ela e a tocam, o perfume da sua oração eleva-se então em
tons mais fortes e perceptíveis; Maria converte-se em intercessora, incluindo a
nossa oração na sua para apresentá-la ao Pai em Jesus Cristo, seu Filho”3.

Quando estava nesta terra, a Virgem não fazia nada que não fosse por
referência ao seu Filho: cada vez que falava com Jesus, e quando o fitava,
quando lhe sorria ou pensava n’Ele, orava, pois a oração é isso: é falar com
Deus4.

Em Caná da Galileia, nas bodas daqueles parentes ou amigos, ensina-nos


com que delicadeza e insistência devemos pedir. “Apesar de ser a Mãe de
Jesus, de o ter embalado nos seus braços, Maria abstém-se de lhe indicar o
que pode fazer. Expõe a necessidade e deixa o resto ao critério do Filho, na
certeza de que a solução que Ele der ao problema, seja qual for e em que
sentido for, será a melhor, a mais conveniente. Deixa a mais ampla liberdade
ao Senhor, para que faça a sua vontade sem compromissos nem violências.
Mas isso porque estava certa de que a vontade do Filho era o que de mais
perfeito se podia fazer e o que deveras resolvia a questão. Não tolhe os
movimentos do seu Filho, antes confia na sua sabedoria, no seu conhecimento
superior, na sua visão mais ampla e profunda das circunstâncias que Ela
provavelmente desconhecia. Nossa Senhora nem sequer considerou se Jesus
acharia conveniente ou não intervir: expõe o que sucede e abandona-o nas
suas mãos. É que a fé compromete o Senhor muito mais do que os
argumentos mais sagazes e contundentes”5.

Ao pé da Cruz, a Virgem anima-nos a estar sempre junto de Jesus, em


oração silenciosa, nos momentos mais duros da vida. E a última notícia que
dEla nos dá o Evangelho no-la retrata entre os Apóstolos, orando com eles6, à
espera da chegada do Espírito Santo.

“O Santo Evangelho facilita-nos brevemente o caminho para entendermos o


exemplo da nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si,
ponderando-as no seu coração (Lc 2, 19). Procuremos nós imitá-la,
conversando com o Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa
connosco, até dos acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos
de pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de
Deus”7. É a isso que nos deve levar a nossa meditação diária: a identificar-nos
plenamente com Jesus, a dar um conteúdo divino aos pequenos
acontecimentos diários.

II. O AROMA DA NOSSA ORAÇÃO deve subir constantemente ao nosso


Pai-Deus. Mais ainda: pedimos a Nossa Senhora – que já está no Céu em
corpo e alma – que diga a Jesus constantemente coisas boas de
nós: Recordare, Virgo Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini, ut loquaris
pro nobis bona... “Lembrai-vos, Virgem Mãe de Deus, quando estiverdes na
presença do Senhor, de dizer-lhe coisas boas em nosso favor” 8. E Ela, do Céu,
anima-nos a nunca abandonar a oração, o trato com Deus, pois a oração é a
nossa fortaleza diária.

Devemos chegar a um trato cada vez mais íntimo com o Senhor na nossa
oração mental – nesses tempos diários que dedicamos a falar-lhe
silenciosamente dos nossos assuntos, a dar-lhe graças, a pedir-lhe ajuda e a
dizer-lhe que o amamos... – e mediante a oração vocal, empregando muitas
vezes as palavras que serviram a tantas gerações para elevar os seus
corações e os seus pedidos ao Senhor e à sua Santíssima Mãe.

A oração robustece-nos contra as tentações. Às vezes, leva-nos a ouvir as


mesmas palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos no horto de
Getsemani: Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em
tentação9. Devemos rezar sempre, mas há momentos em que temos de fazê-lo
mais intensamente, porque talvez sejam maiores as dificuldades familiares ou
profissionais, ou mais fortes as tentações. A oração mantém-nos vigilantes
contra o inimigo que ataca e fortalece-nos o espírito perante as dificuldades.

A Virgem Santa Maria ensina-nos hoje a ponderar no nosso coração e a dar


sentido na presença de Deus a tudo aquilo que constitui a nossa vida: ao que
nos parece uma grande desgraça, às pequenas contrariedades, às alegrias, à
rotina do trabalho diário, às trivialidades da vida familiar, à amizade...

Como Maria, acostumemo-nos a procurar o Senhor na intimidade da nossa


alma em graça. “Alegra-te com Ele no teu recolhimento interior. Alegra-te com
Ele, já que o tens tão perto. Deseja-o aí; adora-o aí; não o procures fora de ti,
porque te distrairás e te cansarás, e não o encontrarás; não poderás fruir d’Ele
com maior certeza nem com mais rapidez nem mais perto do que dentro de
ti”10.

Nenhuma pessoa neste mundo soube tratar Jesus como a sua Mãe; e,
depois d’Ela, São José, que passou longas horas olhando-o, contemplando-o,
falando com Ele dos pequenos assuntos diários, com simplicidade e
veneração. Se recorrermos a eles com fé antes de começarmos a nossa
oração mental diária, veremos como nos ajudam a conversar afectuosamente
com o Senhor nesses minutos de silêncio e de colóquio íntimo.

III. NA ORAÇÃO MENTAL, falamos com o Senhor de pessoa a pessoa,


entendemos o que Ele quer de nós, vemos com outra profundidade o conteúdo
da Sagrada Escritura, pois “a compreensão tanto das coisas como das
palavras transmitidas cresce quando os fiéis as contemplam e estudam,
repassando-as no seu coração”11.

Juntamente com esse “ponderar as coisas no coração”, também é muito


grata ao Senhor a oração vocal, como o foi sem dúvida a da Virgem, pois Ela
certamente recitaria Salmos e outras fórmulas contidas no Antigo Testamento,
próprias do povo hebreu12. Quando começamos o trabalho, ao terminá-lo, ao
caminharmos pela rua, ao subirmos ou descermos as escadas da nossa
casa..., a nossa alma inflama-se com as orações vocais e a nossa vida
converte-se, pouco a pouco, numa contínua oração: recitamos o Pai-Nosso,
a Ave-Maria, jaculatórias que nos ensinaram ou que aprendemos ao lermos e
meditarmos o Santo Evangelho, extraídas das palavras com que muitos
personagens que se aproximavam do Senhor lhe pediam que os curasse,
perdoasse, abençoasse... Algumas dessas jaculatórias foram-nos ensinadas
quando éramos pequenos: “São frases ardentes e singelas, dirigidas a Deus e
à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje – recordava São Josemaría Escrivá –,
de manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo aquele
oferecimento de obras que os meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó
minha Mãe!, eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do meu afecto filial, vos
consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu
coração...Não será isto – de certa maneira – um princípio de contemplação,
demonstração evidente de confiado abandono?”13

A oração Lembrai-vos, a Salve-Rainha..., encerram para muitos cristãos a


recordação e a candura da primeira vez em que as rezaram. Não deixemos
que essas belíssimas orações se percam; cumpramos o dever de ensiná-las
aos outros. De modo muito particular, podemos esmerar-nos nestes dias da
Novena na recitação do terço, pois tem sido recomendada com tanta
insistência pela Igreja.

O Papa Pio IX encontrava-se no seu leito de morte, e um dos prelados que o


assistiam perguntou-lhe em que pensava naquelas horas supremas. E o Papa
respondeu-lhe: “Veja: estou contemplando docemente os quinze mistérios que
adornam as paredes desta sala, que são outros tantos quadros de consolo. Se
soubesse como me animam! Contemplando os mistérios gozosos, não me
lembro das minhas dores; pensando nos dolorosos, sinto-me extremamente
confortado, pois vejo que não estou sozinho no caminho da dor, mas que Cristo
vai à minha frente; e quando considero os gloriosos, sinto uma grande alegria,
e parece-me que todas as minhas penas se convertem em resplendores de
glória. Como me consola o rosário neste leito de morte!” E dirigindo-se depois
aos que o rodeavam, disse: “O rosário é um Evangelho compendiado e dará
aos que o recitam os rios de paz de que nos fala a Sagrada Escritura; é a
devoção mais bela, mais rica em graças e gratíssima ao coração de Maria.
Seja este, meus filhos, o meu testamento, para que vos lembreis de mim na
terra”14.

Façamos hoje o propósito de aproveitar melhor o tempo que dedicamos à


meditação diária e às orações vocais, especialmente ao terço, por meio do qual
alcançaremos graças sem conta para nós e para aqueles que queremos
aproximar do Senhor.

(1) Lc 2, 19; (2) Lc 2, 51; (3) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 201; (4) cfr. Card. J. H.
Newman, Rosa mística, pág. 79; (5) F. Suaréz, A Virgem Nossa Senhora, pág. 246-247; (6) At
1, 14; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 285; (8) cfr. Graduale Romanum, 1979,
pág. 422; (9) Lc 22, 46; (10) São João da Cruz, Cântico espiritual, 1, 8; (11) Conc. Vat. II,
Const. Dei Verbum, 8; (12) cfr. F. M. Willam, Vida de Maria, pág. 160; (13) São Josemaría
Escrivá, Amigos de Deus, n. 296; (14) cfr. H. Marín, Doctrina Pontificia IV: Documentos
marianos, BAC, Madrid, 1954, n. 322.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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