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A propaganda de guerrilha: uma nova alternativa

para posicionar marcas


Edmundo Brandão Dantas∗
Universidade de Brasília

Índice Resumo
1 Introdução 2 Posicionar marcas em um mercado fragmen-
2 Uma rápida discussão teórica sobre o tado e saturado de comunicação parece ser
marketing 2 algo cada vez mais difícil, considerando os
3 A propaganda no marketing 5 complexos níveis de diferenciação exigidos
4 A propaganda e o posicionamento de por essa realidade. Os profissionais de
marcas 5 marketing começam a adotar o marketing
5 O mercado de massa e o mercado frag- de guerrilha, aplicar as técnicas de guerrilha
mentado 6 à propaganda, para captar a atenção do pú-
6 O marketing em um mercado frag- blico de maneira pouco comum, com meios
mentado 7 surpreendentemente adequados ao produto
7 Marketing de guerrilha e propaganda ou serviço anunciado. Dessa maneira, criam
de guerrilha 8 alternativas de comunicação mais simples,
8 A propaganda de guerrilha 9 baratas e ousadas, que contribuem para
9 A propaganda de guerrilha e o posici- posicionar produtos, serviços e marcas nesse
onamento de marcas em um mercado mercado. É o que será tratado neste artigo.
fragmentado 10
10 Considerações finais 12 Palavras-chaves: Marketing, comunica-
11 Referências 13 ção, marketing de guerrilha, publicidade,
∗ propaganda de guerrilha.
Doutor em Ciência da Informação (UnB) e Mes-
tre em Engenharia de Produção, com ênfase em Pla-
nejamento Estratégico (UFSC). É Professor-Adjunto
da Faculdade de Comunicação da Universidade de
Abstract
Brasília, onde trabalha no Departamento de Audio- Brands positioning in a fragmented and
visuais e Publicidade.
Contato: edmundod@terra.com.br
saturated of communication market seems to
Site: www.edmundobdantas.com be each time more difficult, considering the
Blog: http://edmundod.blog.terra.com.br complexes differentiation levels demanded
by this reality. Marketing professionals
begin to adopt the guerrilla marketing, that
2 Edmundo Brandão Dantas

applies guerrilla techniques to advertising, parecendo se esquecer de que a exclu-


communicating in a different way, focusing são digital ainda é muito grande no Bra-
the target attention in a non-useful way, by sil e que nem todos têm acesso ao com-
using surprisingly adequate media to the putador;
announced product or service, to create more
simple, cheaper but daring communication 4. A comunicação dirigida está crescendo
alternatives, that allied to the traditional proporcionalmente mais do que a co-
media, contribute to an effective products, municação de massa (Ries & Ries,
services and brands positioning, in this 2002), ainda que de forma pouco profis-
market. This is what is discussed in this sional, muito provavelmente por causa
article. da fragmentação do mercado, que, cada
vez mais, busca soluções personaliza-
Key words: Marketing, communication, das de fabricantes e fornecedores de
guerrilla marketing, advertising, guerrilla produtos e serviços.
advertising.
Diante desses fatos, o que se percebe é
a propaganda de varejo, focada na promo-
1 Introdução ção de vendas, dominando os meios de co-
municação de massa, enquanto a propaganda
Há evidências que parecem respaldar a afir-
de marca, cujo objetivo principal é construir
mação segundo a qual a propaganda tradici-
marcas e posicionar produtos e empresas, pa-
onal parece estar perdendo força:
rece não ter mais o impacto que se espera, o
1. Tem sido muito rara, entre os anos que leva à necessidade de se pensar em novas
1998 e 2008, a divulgação de anúncios formas de propaganda, que possam vir a su-
com apelos realmente institucionais e prir tal deficiência. Em outras palavras, é ne-
de marketing nos meios de comunica- cessário fugir dos lugares comuns, se for ne-
ção. Com efeito, a propaganda desse cessário posicionar produtos, marcas ou em-
período centrou-se muito mais na pro- presas. Neste contexto surge a propaganda
moção de vendas do que propriamente de guerrilha, uma nova alternativa de co-
na propaganda de cunho institucional municação mercadológica que se apresenta
ou mercadológico; como uma ferramenta de posicionamento de
marcas, produtos e serviços em mercados
2. O apelo calcado somente em promoção bastante competitivos como tem sido na pri-
de vendas parece estar, de certo modo, meira década dos anos 2000.
prejudicando a criatividade dos publici-
tários de todo o Brasil;
2 Uma rápida discussão teórica
3. Os jovens publicitários, seduzidos pela sobre o marketing
tecnologia e pela Internet, parecem es-
Desde o início, a definição do que é marke-
tar se distanciando da publicidade de
ting não tem sido clara. Essa função empre-
massa divulgada nos meios tradicionais,
sarial é confundida até os dias de hoje com

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vendas ou com propaganda. Porém, o que tentar impor à sociedade, faz com que o mar-
mais chama a atenção do marketing, e que keting fique sempre na berlinda, uma espé-
provavelmente alimenta essa confusão, é que cie de “Judas” a ser golpeado pelos bons ci-
muitos profissionais, ainda que lidem diaria- dadãos: como o mundo capitalista é cruel,
mente com marketing ou mesmo os geren- não tem mais princípios nem amor, não vela
tes de marketing, parecem não saber o que pela humanidade e é regido pela ânsia do
é realmente marketing. É impressionante a lucro. Sendo o marketing fruto desse cruel
quantidade de profissionais que sequer abri- contexto, é algo que existe para prejudicar a
ram os clássicos para tentar entender o que todos. Tem-se que ganhar, ganhar sempre,
significa exatamente marketing. Muitos têm diariamente; a vida é venda; tudo se voltou
uma idéia do marketing baseada somente a para o comércio e comércio mesquinho. A
partir do que lêem em revistas e jornais ou sociedade humana parece ter-se tornado um
do que vêem e ouvem nos noticiários de tele- grupo indecente de cobaias, instrumento de
visão e do radio. Esta afirmação, mesmo não uso, quase como algo mais a ser explorado
seja corroborada por nenhuma pesquisa ci- e vendido. Este discurso, comum na im-
entífica, é respaldada pelas informações obti- prensa brasileira, gera um conflito que pa-
das no dia-a-dia, quando se participa dos en- rece ser o grande problema: o capitalismo é
contros sobre marketing: um fato concreto é o mal; o socialismo é o bem. Muitos jor-
que quase ninguém leu Kotler, Levitt, Chur- nalistas, formadores de opinião, que recebe-
chill Jr., Berkowitz, Kohli & Jaworski, Rai- ram durante sua formação uma forte carga
mar Richers, Marcos Cobra. Muitos já ou- de informação socialista, se negam a aceitar
viram falar desses autores, até têm acesso o marketing, porque, sendo ele fruto do ca-
aos livros e artigos de alguns deles, mas daí pitalismo, é fruto do mal. Ainda que, curi-
a abri-los para se informarem melhor sobre osamente, muitos profissionais dos meios de
o assunto são outros quinhentos. Essa ig- comunicação não desistam do abundante di-
norância sobre marketing parece ser alimen- nheiro que ganham no exercício de suas pro-
tada pelos profissionais da imprensa, que di- fissões (ou seja, não socializam seus lucros),
vulgam em suas colunas expressões que não criticam descaradamente o marketing. Uma
correspondem à realidade do marketing e constatação, entretanto, tem que ser feita: o
vendem a idéia de que é algo daninho para mundo do Século XXI é capitalista. Nesse
a sociedade, que existe para enganar as pes- mundo, ainda que tão injusto, não é pecado
soas e prejudicar aos seres humanos. Tem- ganhar dinheiro. A má distribuição de renda
se a sensação de que os profissionais da im- não é culpa do marketing. As empresas exis-
prensa desejam impor ao mundo capitalista tem para produzir coisas que satisfaçam os
uma falsa realidade socialista e utópica: um interesses da sociedade e essa produção tem
mundo mais justo, mais fraterno, em que to- um custo, que necessita ser remunerado. Es-
dos têm os mesmos direitos, cheio de so- sas empresas necessitam ser lucrativas, para
nhos e felicidades. É claro que todos dese- reinvestir parte de seu lucro e gerar mais
jariam viver em um mundo assim, inclusive conforto para si mesmas e para seu público.
os que trabalham com marketing. O exage- Quem administra melhor suas finanças e as
rado viés socialista, que a imprensa parece oportunidades do mercado ganha mais por-

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que tende a saber melhor como vender. Se é a garantia da satisfação dos clientes, mas
a sociedade aceita as mensagens persuasivas nem sempre é esta a realidade. Kotler (1980:
que as empresas, através dos meios de co- 30) cita Farmer (1967) para apresentar uma
municação, lhe dirige e compra os produtos discussão interessante sobre a “contribuição
e serviços que se lhes oferecem, isto implica sombria do marketing para a sociedade”:
que deve aceitar as regras do mundo capita-
lista. Queiram ou não aceitar, essas são as Nos últimos 6000 anos o campo do marke-
regras do capitalismo. ting foi considerado como feito de artistas de
A dura realidade é que, seja no ambiente segunda classe, trapaceiros, sem-vergonhas
capitalista ou no socialista, tem-se que co- e distribuidores de mercadorias de segunda
mão. Muitos de nós já fomos enganados pelo
locar comida na mesa. No primeiro caso,
trapaceiro; e todos nós já fomos levados a
frente às grandes diferenças sociais, o ní-
comprar toda espécie de “coisas” que, na ver-
vel de dificuldade para cumprir essa tarefa dade, não necessitávamos e que, mais tarde,
é maior. O romantismo socialista da época descobrimos que nem ao menos as desejáva-
da universidade, então, não vale no mercado mos.
capitalista. Seria ótimo se pudéssemos viver
de amor, mas o modelo econômico imposto E vai mais adiante, citando Hayden (1980:
ao mundo, escolhido e aceito pela maioria, é 30):
esse. Nessa realidade, o marketing deve bus-
car como entender o que se pode e o que não Do que um homem realmente necessita? Al-
se pode fazer. O grande desafio da ética no gumas centenas de gramas de comida todos
marketing é: fazer o que é correto, o que é os dias, aquecimento e abrigo, dois metros
decente e honesto, sob a ótica da sociedade a para deitar-se e alguma forma de trabalho que
quem se serve. Se as pessoas aceitam as re- proporcionará uma sensação de realização. E
gras e se o trabalho realizado pelas empresas isto não é tudo, sob o aspecto material. Todos
está de acordo com os preceitos da Consti- sabemos disso. Mas recebemos uma lavagem
cerebral de nosso sistema econômico, até que
tuição e das regras comerciais aceitas pelos
terminemos em uma tumba, debaixo de uma
indivíduos, não há razão para criticar o mar-
pirâmide de pagamentos em quotas, hipote-
keting. Há que se ter em conta que vivemos cas, utensílios absurdos, brinquedos que des-
em uma democracia, onde as pessoas podem, viam nossa atenção da estupidez de tudo isso.
desde que respeitadas as normas constitucio-
nais, fazer o que desejam. Como se vê, a discussão é antiga e gera
Outro ponto que deve ser discutido é o dos certo incômodo. A verdade é que essas e ou-
discursos dos executivos e dirigentes, pródi- tras questões costumam preocupar principal-
gos de promessas e vazios de ações efeti- mente os estudiosos de marketing e de Quali-
vas relativas ao atendimento das necessida- dade, já que as duas disciplinas são distorci-
des, anseios e expectativas dos consumido- das em sua essência, provavelmente devido à
res, que distorcem o conceito de marketing falta de coerência que existe entre o discurso
e, portanto, também geram uma falsa ima- e a prática, reduzindo-as a simples questões
gem do marketing no espírito das pessoas. de custos.
Sabemos que o objetivo maior do marketing

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3 A propaganda no marketing a consecução de atitudes favoráveis ao pro-


duto e o alcance de certo volume de vendas.
Marketing e propaganda são duas coisas di-
ferentes. O marketing é uma função empre-
sarial, no mesmo nível que as grandes fun- 4 A propaganda e o
ções, como recursos humanos, finanças, pro- posicionamento de marcas
dução etc., e que leva em conta toda a em-
presa. A existência do marketing em uma A propaganda ocupa um papel preponde-
empresa não se limita a um departamento ou rante no posicionamento de marcas, cuja fi-
diretoria de marketing. Ou seja, todos os se- nalidade é o esforço de fazer com que de-
tores de uma empresa podem praticar mar- terminada marca ocupe um espaço na mente
keting. A propaganda, por sua vez, é uma do consumidor. Ainda que o posicionamento
simples ferramenta de comunicação, da qual tenha mudado a natureza da propaganda,
o marketing se vale para informar aos con- muitos têm dificuldade em compreendê-lo.
sumidores, a partir de una ótica persuasiva, Como afirmam Ries & Trout (1987: 2):
onde os produtos que eles dizem que dese-
O posicionamento começa com o produto.
jam nas pesquisas de demanda estão dispo-
Uma peça de merchandising, um serviço,
níveis para o consumo. Sob a ótica do mar- uma empresa, uma instituição ou uma pes-
keting, a propaganda é qualquer forma paga soa. Talvez você mesmo. Mas posiciona-
de apresentação impessoal e promoção de mento não é o que você faz com o produto.
idéias, produtos ou serviços, de caráter per- Posicionamento é o que você faz na mente
suasivo, feita através de meios de comunica- do cliente em perspectiva. Ou seja, você po-
ção, por um patrocinador identificado, com a siciona o produto na mente do comprador
clara intenção de informar ao público o que em potencial. Portanto, é incorreto chamar
se deseja atingir, conquistar seu interesse e o conceito de product positioning. Na rea-
convencê-lo, assim, a adquirir um produto ou lidade, você não está fazendo alguma coisa
serviço ou assumir idéias. Seu propósito é para o produto em si mesmo. Isto não signi-
aumentar as vendas e/ou lucros de uma em- fica que o posicionamento não envolva mu-
presa, baseada nos índices de vendas e/ou lu- dança. Muitas vezes envolve. Mas mudanças
cros que seriam obtidos sem sua utilização. feitas no nome, no preço e na embalagem não
são mudanças feitas no produto. De nenhuma
É importante ressaltar que, pelo fato de ser
maneira. São, basicamente, mudanças “cos-
a propaganda parte de um composto, ela não
méticas” feitas com o propósito de assegurar
cria vendas. De nada adianta ter uma pro- uma posição valiosa na mente do prospect. O
paganda muito criativa, se o produto não é posicionamento é o primeiro sistema de pen-
bom, os níveis de preços praticados são in- samento que enfrenta, de verdade, o difícil
compatíveis com a capacidade de compra do problema de se fazer ouvir nesta nossa socie-
público ou a distribuição é deficiente. A pro- dade saturada de comunicação.
paganda tem como metas a apresentação do
produto, o alcance de um nível de conheci- O posicionamento está intimamente li-
mento da mensagem pelo público desejado, gado ao conceito de diferenciação. A dife-
renciação de produtos, que era una estratégia

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relativamente fácil de ser implementada num de qualidade em produtos da chamada “li-


passado não muito distante, quando os pro- nha branca”. Outros bons exemplos de po-
dutos tinham características físicas próprias sicionamento baseado em slogans de propa-
muito bem definidas, praticamente desapare- ganda são o do Bom-Bril (“mil e uma utili-
ceu, com a fragmentação do mercado. Se- dades”), o da cachaça 51 (“uma boa idéia”) e
gundo Trout (2000: 1): o da Bayer (“se é Bayer, é bom”). Trabalhar
bem essa diferenciação baseada somente na
Estima-se que haja um milhão de SKUs (uni- comunicação passou a ser, assim, o grande
dades em estoque) nos Estados Unidos. Um desafio da moderna propaganda, obviamente
supermercado médio tem cerca de 40 mil
que sem esquecer os demais itens que con-
produtos. Agora, a notícia surpreendente:
figuram o chamado composto de marketing:
uma família média satisfaz 80% a 85% de
suas necessidades com 150 produtos. Isso produto, preço e distribuição.
quer dizer que é bastante possível que 39.850
itens da loja sejam ignorados. 5 O mercado de massa e o
Alerta Trout (2000) que, com a grande mercado fragmentado
competição de hoje, os mercados oferecem Tudo mudou na comunicação a partir da dé-
aos consumidores tantas alternativas de es- cada de 1990. Os computadores, cada vez
colha que os erros custam caro. Depois que mais populares, assim como o acesso univer-
a concorrência ganha os clientes de alguma sal a eles, gerou o que se denominou de “a
empresa, não é fácil reconquistá-los. Para era do indivíduo”. Eles aceleraram a análise
Trout (2000), os profissionais de marketing dos dados e homogeneizaram os projetos,
que não compreendem isso não sobrevive- desvalorizaram a superioridade tecnológica
rão. Essa proliferação de marcas e de al- e revalorizaram o marketing, além de con-
ternativas oferecidas ao consumidor legou à seguirem oferecer a todo o mundo o acesso
propaganda um novo e importante papel, que instantâneo à informação. Essa facilidade de
no passado era, de certo modo, relegado a acesso aos computadores e o rápido acesso
um segundo plano: o de agente diferencia- às informações, permitiram aos negociantes
dor. Hoje, quem quer diferenciar seu produto monitorar cada elemento de uma estratégia
ou serviço, nem sempre pode contar com do concorrente – praticamente deixaram de
atributos físicos que realmente se constituam existir segredos pessoais e comerciais. Hoje
como uma diferença. Grande parte das mar- em dia, um negociante pode usar o poder dos
cas são muito semelhantes em termos físicos. computadores para adquirir vantagem com-
A alternativa, portanto, é a de usar a propa- petitiva, desenvolvendo percepções superi-
ganda para diferenciar. Para que ela tenha ores do pensamento do cliente. A filoso-
esse efeito diferenciador, é importante, mais fia “FOCUS”, criada e implantada na propa-
do que nunca, que exercite uma criatividade ganda por um grupo de profissionais ame-
acima da média. Quando alguém criou o slo- ricanos e europeus (Schultz, Lauterborn &
gan “Não é bem una Brastemp...”, por exem- Tannenbaum, 1993), acrescentou um nova
plo, conseguiu, com muita competência, po- dimensão ao processo publicitário, com foco
sicionar a marca Brastemp como exemplo

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em marketing, e, portanto, mais adequada ao gar que lhes eram mais convenientes, tive-
momento: “Todas as boas peças publicitá- ram que ser adaptados às mudanças do mer-
rias começam com uma compreensão funda- cado: de ora em diante, eram os consumido-
mental do receptor”. Com essa postura, as res que definiam tempo e lugar, em função de
agências tiveram que repensar suas ações de suas necessidades e programações. A proli-
comunicação. Seus clientes, melhor infor- feração das informações fez com que os con-
mados em função da disseminação dos com- sumidores passassem a exigir produtos, sis-
putadores e da Internet, se tornaram mais temas de distribuição e comunicação espe-
exigentes e pró-ativos, no sentido de dese- cializados. O mercado, finalmente, se frag-
jar saber onde seu dinheiro destinado à co- mentou.
municação seria investido. A antiga postura
das agências, de quase “empurrar” campa-
6 O marketing em um mercado
nhas goela abaixo de seus clientes, teve que
ser revista. Nunca os clientes questionaram fragmentado
tanto e foram tão exigentes. Os profissio- Diante de um cenário de tão profundas mu-
nais de propaganda tiveram, por uma exigên- danças, havia que questionar-se como fica-
cia da nova dinâmica do mercado, que en- ria o marketing, em um mercado cada vez
tender melhor o que seus clientes desejavam mais fragmentado. Nesse mercado, a seg-
em termos de comunicação. As informações mentação tradicional dá lugar a uma série
acerca do receptor, que nem sempre eram le- de subsegmentações denominadas nichos de
vadas em conta como deveriam pelos plane- mercado. A empresa atende grupos cada
jadores das agências, passaram a ser insumos vez menores de consumidores, em função de
imprescindíveis à elaboração de campanhas: seus desejos e necessidades, aproximando-
elas estão agora, mais do que nunca, disponí- se quase da individualização da produção.
veis e acessíveis como nunca foram. Parale- Diferencia-se, assim, por oferecer produtos
lamente a essa transformação no cenário da e serviços cada vez mais dirigidos e alta-
comunicação, os empresários e anunciantes mente especializados a cada nicho definido.
perceberam que as economias de escala não É a chamada customização. De acordo com
garantiam mais lucros. As gigantescas insta- esse conceito, percebe-se que nenhuma fer-
lações centralizadas de fabricação deram lu- ramenta de marketing, por si só, é capaz de
gar a fábricas adaptadas e de rápida transfor- resolver os problemas das marcas e produ-
mação, situadas estrategicamente próximas a tos. O marketing exige, cada vez mais, a in-
mercados diferenciados. O marketing de ni- tegração de seu mix. A comunicação mer-
chos substituiu o marketing massificado. A cadológica, sozinha, perde a força original
mídia de massa, em seu modelo mais tradi- e também passa por uma mudança. A co-
cional, entrou em decadência e, como con- municação integrada ocupa o lugar da velha
seqüência dessa situação, muitos dos even- comunicação: a estratégia é utilizar de forma
tos de mídia programados e planejados fo- eficaz a combinação ideal de diversas formas
ram substituídos pela comunicação instantâ- de comunicação, de acordo com cada caso,
nea entre pessoas e empresas. Os sistemas para obter o máximo retorno possível para o
de comunicação ligados ao tempo e ao lu-

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cliente. Novos canais de comunicação são guerrilha bélica. Seu criador, o publicitário
criados e colocados à disposição dos clientes norte-americano Jay Conrad Levinson, de-
e consumidores, para escutar suas reclama- fende que pequenas e médias empresas po-
ções e orientá-los. Em um mercado onde o dem e devem competir no mercado com as
consumidor é muito mais informado, a con- grandes companhias, através do uso de ar-
corrência sempre está atenta aos movimen- mas mais eficazes baseadas na criatividade e
tos e estratégias dos demais competidores. na inovação, para combater o que ele chama
A demanda por produtos melhores por parte de “exércitos convencionais". O uso das
do consumidor acaba por gerar no profissi- ferramentas de marketing de guerrilha tem
onal de marketing e sua equipe uma busca como objetivo o combate aos grandes com-
quase obsessiva pela diferenciação que, por petidores ou simplesmente a sobrevivência
sua vez, não é como a que se praticava no dessas empresas. Toda a essência da expres-
passado. É uma diferenciação baseada na co- são criada por Levinson (1982) foi baseada
municação, marcada por una batalha de per- em um artigo publicado pela Harvard Bu-
cepções, cujo maior objetivo é ocupar um es- siness Review, escrito por Welsh & White
paço na mente do consumidor. (1981), que afirmava que pequenos negócios
não são versões menores de grandes negó-
cios e que, por causa da falta de recursos dos
7 Marketing de guerrilha e
pequenos negócios, estes precisam se valer
propaganda de guerrilha de diferentes tipos de estratégias e táticas de
A palavra “guerrilha” significa, ao pé da le- marketing. Com orçamentos apertados, eles
tra, uma “pequena guerra”. Trata-se, em sua devem utilizar formas alternativas para exe-
origem, de um tipo de guerra não conven- cutar suas atividades de marketing. É jus-
cional, cujo principal artifício é a ocultação tamente essa a principal vantagem desse ap-
e a extrema mobilidade dos guerreiros, de- proach de marketing: baixos custos com pro-
nominados, neste caso, “guerrilheiros”. A paganda e um total conhecimento da parte
grande tática que está por trás de uma guer- do mercado que o empresário busca. Outra
rilha é a ação psicológica, que se impõe so- característica do marketing de guerrilha é a
bre as forças militares, fazendo com que os geração de mídia espontânea. Ou seja, fazer
adversários considerados mais fortes sejam com que o consumidor faça a propaganda do
vencidos. A guerrilha, cujas táticas são usa- empreendimento, da marca ou do produto.
das, em geral, por uma parte mais fraca con- É importante, frente à confusão que esta
tra uma mais forte, busca a vitória por meio idéia pode gerar, que se estabeleça a dife-
da infiltração discreta de seus militantes no rença entre marketing de guerrilha e pro-
meio dos inimigos, conseguindo simpatizan- paganda de guerrilha. Primeiramente, não
tes para sua causa e informações estratégicas se pode esquecer que marketing é uma fun-
sobre seus segredos e ações táticas, para, as- ção empresarial e que a propaganda, por sua
sim, neutralizá-los. vez, é apenas uma ferramenta de comuni-
A expressão marketing de guerrilha foi cação utilizada pelo marketing para infor-
criada em 1982, inspirada, justamente, na mar aos consumidores acerca dos produtos
e serviços que estão disponíveis para seu

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consumo e para persuadir aos consumido- própria de marketing de guerrilha: “O mar-


res quanto à escolha de tais produtos e ser- keting de guerrilha é uma variante do mar-
viços. Afirmar que marketing de guerrilha keting tradicional, que trabalha normalmente
é o mesmo que propaganda de guerrilha re- as quatro variáveis do marketing – os quatro
mete, então, à confusão clássica entre mar- Ps –, diferenciando-se porém no aspecto re-
keting e propaganda, tão estimulada pela im- lacionado ao composto de comunicação de
prensa, mas que deve ser evitada, pois leva marketing (a promoção) pelo uso de ações
a sérios erros conceituais. Sabe-se que o aparentemente inusitadas e mais baratas, que
marketing atua diretamente sobre quatro va- visam a posicionar produtos, serviços, idéias
riáveis, denominadas “quatro Ps” – produto, e organizações na mente do consumidor”. A
preço, promoção e praça, as quais devem ser definição é coerente com os princípios apre-
entendidas como composto de produto, com- sentados por Levinson (1982). A partir dela,
posto de preço, composto de comunicação pode-se discutir a propaganda de guerrilha.
mercadológica e composto de distribuição.
Cada uma dessas grandes variáveis merece
8 A propaganda de guerrilha
atenção específica do marketing, uma vez
que formam partes imprescindíveis de seu A propaganda de guerrilha é uma das prin-
processo. É atribuição primordial do mar- cipais alternativas de comunicação de mar-
keting cuidar dessas variáveis de forma har- keting utilizada pelo marketing de guerri-
moniosa, de modo que o produto ou serviço lha. Consiste em “comunicar de modo di-
chegue ao consumidor com a configuração ferente, captando a atenção do público de
mais próxima de seu desejo, no lugar e no maneira pouco comum, porém com meios
momento oportunos em que sua necessidade surpreendentemente adequados ao produto
se manifestar, com os níveis de preços es- ou serviço anunciado” (Dorrian & Lucas,
perados por ele e com a máxima e correta 2006:18). Trata-se de uma conseqüência na-
informação possível, que o leve a escolher tural de um momento de intensas mudanças
a marca desse produto ou serviço em detri- que caracteriza o mercado competitivo atual,
mento de outras. No que concerne aos com- onde se podem escolher os meios de comu-
postos de produto, preço e distribuição, pro- nicação. Hoje, os canais tradicionais, como
vavelmente não haja diferença entre as ativi- a televisão, a imprensa ou os meios exterio-
dades tradicionais de marketing e as ativida- res parecem não ser os mais apropriados para
des do marketing de guerrilha. A diferença que uma marca chegue com a mesma eficá-
primordial entre o marketing de guerrilha e cia que antes ao público a que se destinam. O
o marketing tradicional talvez resida especi- resultado é que as empresas optam por colo-
ficamente na comunicação, já que se vale de car em prática campanhas mais imaginativas
formas “inusitadas” de comunicação de mar- e originais, com vistas a gerar mais visibi-
keting para posicionar produtos, serviços e lidade para seus produtos: a Microsoft, por
marcas. A propaganda de guerrilha é justa- exemplo, encheu a ilha de Manhattan de ade-
mente uma forma “inusitada” da comunica- sivos de mariposas; a Volkswagen fabricou
ção. um veículo do modelo Pólo de gelo e o es-
Agora podemos arriscar uma definição tacionou em uma rua de Londres; a Adidas,

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10 Edmundo Brandão Dantas

literalmente, pendurou dois jogadores de fu- 9 A propaganda de guerrilha e o


tebol sobre as ruas de Tóquio desafiando o posicionamento de marcas em
perigo. A propaganda de guerrilha supõe que
um mercado fragmentado
as possibilidades que os meios clássicos de
comunicação oferecem são cada vez mais li- Quando pensamos por quantas mensagens
mitadas, não somente pelos custos, mas tam- publicitárias somos abordados por dia, cons-
bém pela fragmentação dos meios em parti- tatamos que é impossível saber a quantidade
cular, pelo desenvolvimento de novas tecno- de estímulos que recebemos simplesmente
logias. Para Sorrell (2005), citado por Dor- ao caminhar pelas ruas. Isso sem contar as
rian & Lucas (2006: 18), “o desafio mais im- informações a que somos expostos diaria-
portante é continuar diferenciando serviços mente pela televisão, jornais, cinema, Inter-
e produtos de um modo muito mais potente, net e qualquer outro meio que lute para ob-
criativo e construtivo”. ter pelo menos um minuto de nossa atenção.
Afirma Fairhead (2006), citado por Dor- A ânsia de causar algum impacto no con-
rian & Lucas (2006: 16), que: sumidor é tal, que não é raro um meio ca-
nibalizar outro. Se passamos, por exemplo,
O que tentamos é levar em consideração o por qualquer grande avenida de uma cidade
ponto de vista do consumidor desde a etapa e observamos os outdoors, verificamos que
inicial do processo criativo, uma vez que não eles são instalados uns em cima de outros e
trabalhamos simplesmente a partir da marca,
vários acabam sendo completamente escon-
mas também dos consumidores da marca,
didos pelo que está na frente. Com o pas-
para entender como podemos nos conectar
sar do tempo, tudo acaba se tornando “paisa-
com eles e com o que lhes interessa. A agên-
cia tem que descobrir como se relacionar efe- gem” e se incorpora ao cenário. Não quere-
tivamente com eles. Logo, quando se tem mos com isso afirmar que os meios conven-
todos esses pontos de vista, a idéia sai so- cionais sejam ruins, mas que parecem não
zinha. Desse processo são derivadas articu- ser mais tão eficazes como antes. A pro-
lações distintas. Não se trata de coordenar paganda tradicional parece necessitar, mais
bagagens diferentes, mas de expressar uma do que nunca, do suporte de meios alterna-
idéia de diferentes maneiras, uma idéia que tivos, ações ousadas e outras ferramentas de
invalide todas as demais. comunicação. Uma das novas soluções é a
propaganda de guerrilha. A função de uma
Note-se, portanto, que ao trabalhar não boa ação de guerrilha é exatamente desba-
apenas a partir da marca, mas também a par- ratar o congestionamento do mercado, onde
tir de seus consumidores, para oferecer-lhes milhares de produtos gritam por atenção, e
comunicação distintiva e interessante, se está posicionar a marca ali, na rua, lado a lado
integrado ao conceito tradicional de marke- com o consumidor. Com o mercado cada vez
ting: o cliente é o ponto de partida e de che- mais fragmentado diante de um mundo glo-
gada para toda e qualquer atividade de mar- balizado, em que a competitividade exacer-
keting. Pode-se afirmar, assim, que a propa- bada molda o comportamento do consumi-
ganda de guerrilha está em sintonia com o dor, as novas tecnologias oferecem melhores
marketing.

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A propaganda de guerrilha: uma nova alternativa para posicionar marcas 11

oportunidades para crescimento e os meios Lembram os autores que o posicionamento


tradicionais perdem parte de seu impacto de não é o que se faz com o produto, mas o que
comunicação, gerando nas empresas a neces- se faz na mente do consumidor em perspec-
sidade de encontrar novas formas de divul- tiva. Resumindo, um produto é posicionado
gação para seus produtos. Além disso, en- na mente de compradores potenciais. As-
contrar em produtos e serviços característi- sim, o posicionamento é o primeiro sistema
cas físicas que realmente gerem diferenciais de pensamento que enfrenta, de verdade, o
competitivos é cada vez mais difícil, o que difícil problema de se fazer ouvir em uma
cria um hiato ocupado pela comunicação, sociedade saturada de comunicação (Ries &
que passa a desempenhar o papel de agente Trout, 1987). Seu apelo básico não é criar
de posicionamento de marcas em mercados algo novo e diferente, mas “trabalhar” o que
fragmentados. já está dentro da mente, e realinhavar as co-
Nunca os slogans de posicionamento tive- nexões que já existem. Constataram Ries
ram tanta importância no âmbito do marke- & Trout (1987: 3) que “o mercado no re-
ting. De simples frases que ajudavam na fi- age mais às estratégias que funcionaram no
xação e refreshment da marca, passaram a se passado. Há produtos demais. Empresas de-
constituir itens praticamente imprescindíveis mais. Barulho demais no marketing”. Em
ao posicionamento, uma vez que ajudavam uma sociedade saturada de comunicação, fa-
na ocupação de espaços na mente dos con- lar do impacto da publicidade é supervalo-
sumidores de produtos e serviços, gerando rizar a efetividade potencial da mensagem.
um diferencial não-físico. Todavia, em uma Como afirmam os autores, “a propaganda
sociedade bombardeada insistentemente pela não é nenhum porrete. Mais parece uma
comunicação, somente os slogans parecem neblinazinha muito leve envolvendo os seus
não ser suficientes para posicionar marcas. clientes potenciais” (Ries & Trout, 1987: 5).
É necessário mais do que a publicidade tra- Ressaltan que a única defesa que uma pessoa
dicional, mais do que um slogan, por mais tem em uma sociedade saturada de comuni-
forte e convincente que seja, atado à marca. cação é uma mente que seja capaz de sim-
Continuava, portanto, existindo um gap, que plificar consideravelmente as coisas. Ries
necessitava ser ocupado, para que o posicio- & Trout (1987) usam a metáfora da mente
namento se concretizasse de maneira plena. como uma esponja encharcada que somente
Justamente aí é que entrou a propaganda de pode encher-se de mais informação livrando-
guerrilha: ações de comunicação altamente se da que tem. Os publicitários, entretanto,
diferenciadoras, inusitadas, criadas para pre- continuam a despejar cada vez mais informa-
encher esse gap. A marca, aliada ao slogan ção nessa esponja saturada e se desmotivam
e à ação de guerrilha, pareciam ter se trans- se suas mensagens não logram o retorno que
formado nos grandes agentes do posiciona- esperavam.
mento. Neste ambiente, o approach mais efi-
Segundo Ries & Trout (1987: 2), “o po- ciente parece ser simplificar a mensagem,
sicionamento começa com o produto. Uma tornando-a distinta das demais, direta e clara
peça de merchandising, um serviço, uma para o público que se deseja atingir. Posi-
empresa, uma instituição, ou uma pessoa”. cionar uma marca se torna, assim, um desa-

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fio interessante e curioso, que parece propí- tura média dos narizes dos caninos. Os cães
cio para as ações de propaganda de guerrilha. mexiam suas caudas e arrastavam seus do-
Há algum tempo, a 3M, ao lançar sua linha nos na direção do cartaz para cheirá-lo. A
de vidros especiais de alta segurança, insta- Affinity Petcare, fabricante do produto, posi-
lou nas paradas de ônibus de Vancouver, no cionou sua marca, graças, em parte, à ação
Canadá, painéis com revestimento resistente de propaganda de guerrilha, como “a comida
a rupturas, contendo em seu interior cédulas preferida pelos cães”.
aparentemente no valor de mais de três mi-
lhões de dólares canadenses. Na realidade, a
10 Considerações finais
maioria era falsa, com exceção de cerca de
500 dólares em cédulas autênticas, que ocu- Evidências significativas do mundo da pro-
pavam a parte superior dos “montes” de di- paganda levam a crer que a propaganda tra-
nheiro. Quase todas as pessoas que passa- dicional está perdendo força. Dados obtidos
vam pelos painéis “recheados” de dinheiro na Associação Brasileira de Marketing Di-
acabavam examinando o vidro e tentavam reto (ABEMD) mostram que o setor apre-
rompê-los a socos, pedradas e pontapés, na senta um crescimento anual médio ao redor
esperança de conseguir o dinheiro. Houve de 12,4% ao ano1 . A propaganda tradicio-
até quem voltasse com barras de ferro para nal, por outro lado, que em seu período áu-
tentar romper os painéis. Ninguém conse- reo chegou a alcançar um crescimento anual
guiu. Na manhã seguinte ao lançamento des- de 20%, hoje alcança taxas médias de cres-
ses painéis, a notícia apareceu na primeira cimento anual da ordem de 9%2 . Some-se
página do jornal Vancouver Sun, o que atraiu a isso a proliferação dos anúncios de ven-
novos informativos. A assinatura impressa das no varejo, que predominam nas progra-
nos painéis era apenas: “3M Vidro de Se- mações comerciais das emissoras de TV, jor-
gurança” e o número do telefone de contato nais, revistas, emissoras de rádio e outros
com a empresa. O investimento foi de ape- meios, em detrimento de anúncios de posi-
nas 6.000 dólares canadenses. A ação con- cionamento. São evidências relevantes, que
tribuiu para fixar o posicionamento de que a nos levam a pensar o atual modelo de co-
3M era a empresa que fabricava o vidro es- municação mercadológica. Ressalte-se que
pecial mais seguro do mundo. o objetivo deste artigo não foi desmerecer
Outro exemplo interessante foi o da agên- a propaganda e seus méritos na divulgação
cia Leo Burnett de Frankfurt, Alemanha, que de produtos, serviços e marcas em geral, e
não se deixou levar pelo clichê e, em vez 1
Fonte: “Momento de prosperidade: marketing
de criar um comercial de televisão de uma direto movimenta mais de R$ 15 bilhões em 2006
marca de comidas para cães usando a tradici- e gera mais de 930 mil empregos”, disponível em
onal imagem de um rápido e reluzente labra- http://unamarketing3.blogspot.com/ [consultado a 10
dor saltando alegremente, em câmera lenta, de Outubro de 2008].
2
Fonte: “Propaganda avança com taxa
em um parque ensolarado, idealizou e divul-
de 9%”, disponível em http://indexet.gazeta
gou cartazes, tratados para soltar um aroma mercantil.com.br/arquivo/2007/07/23/396/Propaganda-
absolutamente irresistível para os cães, e os avanca-com-crescimento-de-9.html. [consultado a 10
afixaram em diversos muros e paredes à al- de Outubro de 2008].

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A propaganda de guerrilha: uma nova alternativa para posicionar marcas 13

sim apresentar e discutir algumas evidências 11 Referências


que, face à fragmentação do mercado, pare-
cem exigir novas formas de comunicação por Livros
parte das empresas e que sugerem sua ado- CUBA (1967), Minimanual de la guerrilla
ção por parte das agências de propaganda. urbana, La Habana: MINFAR.
Tampouco foi objetivo deste artigo superva-
lorizar a chamada propaganda de guerrilha, DEBRAY, R. (1966), ¿Revolución en la re-
como se ela fosse o bálsamo para todos os volución?, La Habana: Casa de las
problemas de comunicação. Entendemos so- Américas.
mente que, em um mercado fragmentado e
DORRIAN, Michael; LUCAS, Gavin.
saturado de mensagens publicitárias, as téc-
(2006), Publicidad de guerrilha: otras
nicas tradicionais de posicionamento tam-
formas de comunicar, Barcelona:
bém tiveram seu impacto original reduzido
Editorial Gustavo Pili.
e podem ser auxiliadas por essas novas ma-
neiras de as empresas se comunicarem com GOTT, R. (1971), La guerrilha en América
seus públicos, de acordo com as expectativas Latina, Santiago de Chile: Universita-
de marketing. É nossa percepção que a cri- ria.
atividade publicitária está passando por um
momento de grandes transformações. No- GUEVARA, Ernesto “Che” (1960), Guerra
vos meios de comunicação, respaldados pe- de guerrilhas, La Habana: Dep. de Ins-
las mais modernas tecnologias, oferecem um trucción del MINFAR.
leque de novas alternativas de comunicação KOTLER, Philip. (1999), Marketing para o
que, mesmo que não substituam totalmente século XXI, São Paulo: Futura.
os canais tradicionais, os levam, pelo con-
trário, a conviver com eles e a participar no LEVINSON, Jay C. (1985), Marketing de
posicionamento de marcas. Isso exigirá dos guerrilha, São Paulo: Makron Books.
publicitários um novo modo de pensar a co-
municação, onde certos padrões do passado, RIES, Al; RIES, Laura. (2002), A queda da
como a concentração de campanhas somente propaganda: da mídia paga à mídia es-
nos meios de massa, por exemplo, terão que pontânea, Rio de Janeiro: Campus.
ser “incrementados” por ações de guerrilha. RIES, Al; TROUT, Jack. (1987), Posiciona-
Se por um lado os “gênios” tremerão, pois mento: como a mídia faz a sua cabeça,
terão que educar-se para uma nova realidade, São Paulo: Pioneira.
por outro os jovens publicitários terão seu lu-
gar sob o sol, se estiverem preparados para SCHULTZ, Don E.; TANNENBAUM, Stan-
desenvolver e aceitar ações mais simples e ley I.; LAUTERBORN, Robert F.
mais baratas para o anunciante, porém com (1994), O novo paradigma do marke-
alto valor agregado. Os clientes agradecerão. ting: como obter resultados mensurá-
veis através do uso do database e das
comunicações integradas de marketing,
São Paulo: Makron Books.

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14 Edmundo Brandão Dantas

Artigos de revistas científicas


TROUT, Jack. (2000): “Diferenciar ou mor-
rer”, HSM Management, 22:100-103.

WELSH, J. A., y WHITE, J. F. (1981): “A


small business is not a little big busi-
ness”, Harvard Business Review, 59: 8-
32.

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