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LUNIVERSIDADEDOESTADODORIODEJANEIRO Revor Amini Cela Alves Peters | : EDTORADALINERSDADE DOES | FENOMENOLOGIA DO BRASILEIRO: Conta arta EmBuscade um on ages Novo Homem Notaries edo) opie Jorge aba in memoriam) Gustavo Bernardo ae ay opp © vm HALEN Sumario "Toes rete eo reer Eh Ue ta do Re dea i spa nm scant ‘Ta (tl Sea) S67.709 ema eee Corunna Parte Roane’ Pre co rites Darrneie a Pret -A Eat earn Em busca de um now homem Imigracto Naturexa Defasagem Alenasio Mira crmatoaagio na route Ccatwra /e artnet ron Manoel blo i Pas Diagnéstico © progndatico, spun, Che Somat“ Roe sre ISoN asses |r Cg. Bed, Cte cou ssaasin) 2 0 59 % 9s ns 1381 153 163 Preficio A EPOKHE BRASILEIRA Ges Beco Um brasileiro realizou a fganha de colocar © Bras! fenire parénteses. Este brasileiro se chamava Vilém Flster, ¢ 30 snaseew'no Bras Vilém Flusser nasceu em Praga, capital da ‘Tehecosloviquia, no dia 12 de mato de 1920, Em 1999, iniciou ‘estudos de filosofia na KarleUniverstt, mas no mesio ano foi for- ‘eado a viajar para a Inglaterra, apés a invasio alema. Toda 4 sua famiia moreeu,assssnada nos campos de concentragio. Em 1940, rmigrou para o Brasil, com Edith Barth. Casaramse no Rio de Janes 10, ese estabeleceram em Sio Paulo. Nos anos 40, nasceram os és fithor do casal. Ao final da década de 30, Fluser iniiow longa colaboragio no joralO Estado de Sio Paulo, eserevendo sobre filosofa da linguagem. Em 1958, wornouse profesor de Filosofia da Ciencia na Universidade de Sio Paulo. No inicio dos anos 60, lecio- ‘not Filosofia da Linguagem, no Departamento de Humanidades do Instituto Teenoldgico da Aeronautica, cm Sao José dos Campos. Em 1965 © 1967, fi eminirio do governo braieio nos Estados Unidos ‘na Europa para projetos de colaboragio cultural, através do. De- partamento de Cooperacio Inteletal do Ttamaray. Desde 1966, Proferia palestas, como convidado, em wniversdades europeiat ¢ Americanas. Em 1972, esceveu a coluna "Ponto Zero" no jortal Folba de Sio Paulo. Em 1972, também, retornou & Europa, etabe- lecendose na Franca. Desde 1975, proferia palesras e minwtrva seminiris na. Ecole d'Art dAiven Provence. Vistava reguarmente (Brasil, En 1991, tornowse profesor convidado na RubrCniverst Bochum, #8 Alemanha, No mesmo ano, porém, morreu em acer te de aitomérel nas proximidades de Praga, a cidade em que mak ‘ce, no ia 21 de-novembro Desde entio, vrios simpésiosinternacionas sobre 0 seu pensamento foram promovides nauropa. Duas ediorasalemis fatto lancando 2 sua obra completa. Fur eine Philosophie der Fotografie, seu livro mais conhecido (publicado em portugues ‘como. Blosofir da caia pret), tem traducso em 1S lingua. Apesat ‘iso, no pait-em que mais tempo vvew produ, Vslem Flaser E praticamente desconhecide. Eo que a publicagio deste Fenomenologia do brasiciro: em busca de um novo home, real zada em bos hora pela Editors da ER], tenta reverie Fm outro momento (no ensaio Eyperando Pluses Prémio Bibliotes Nacional 1997), procure estudar mais det mente a flosofia que cle consiruia. No dmnbito desta inttoducio, abe apenas tacila em linhas bem gerais, para a seguir nos deter. tos (com algum eapante) no Ure. Professores de teoria da literatura, extudamos, com Samuel Coleridge, a suspensio da descrenca ~ she wiling suspension Of disbelief «movimento que todo leitor de poesia precisa fer, pra se permitir“embarcar” no poema que le. Estudatmos,adiante, ‘como © tebrico, oto profesor, leitores de segunda nivel, preci: ‘mos efetuar uma espécie de suspensio da suspensio da descrenca txatamente pars entendermos o proceso que no x6 faults como provoca aquela suspensio da descrenca (procesto que, de resto. nas Imethores histérias, pesstemistrioso), O que Fluser nos prope & algo semelhante, por sm lado; por outro, radicalmente difere ‘Tales se possa chamilo de “nispensio da crenca” ~ suspensio da crenca nor mapas, ale diver, na teora, na filosoia, na cigncia. Ese fexercicio continuo de “supensio da crenca” ¢ 0 principal respon ‘vel pelo misto de fescinagio e verigem que pronoca a leitura dos Tiros de Vilém Fler. 'No jargio filosico, a suspensio da crenca é mais conhecida pelo termo grogocpobbe. Para os greges, representava © estado de repouso mental, pelo qual nio afymamos nem nega ‘mos, o que tanto nos cond 3 tmperturbabiidade, quanto nos deiva aberte a todas a+ perspectias dos fendmenos. Huser, bem mais tarde, revive 0 conceito, tornandoo © eixo da wa redecéo fenomenoidgica (ou reducio cidesica), pela qual “suspendemos © jira acerea do contetido dostinal de toda flowofia determinada € Fealizamon todas at nosas compromacées dentro do quadra desta Ssupensio". A’ dpokie, portano, coresponde 4 suspeno moment net do juito, para xe wentar "ver" @ fenbmen sob nova perspec, std claro que se trata de um arifeio do pensamen to. Em termos abrolutos,€ no limite, trataae de atificio impose, (© pensamento, que se confunde necessariamente como juio, logo, com a crenca, ago tem condigoes de suspender a si mesmo, asin ‘como ima serpente nio pode devorar 0 su proprio corpo. Apesar {da impossibilidade, entretanto, hi 0. wroboro (como horizonte mitico), ¢ ha a fenomenologia. (como alternativa radical a0 Fistoricimo, contendo esta varante, interamente nic, represen tada pelo pensamento de Flaster). Em funcio da impossbilidade mesma, 4 épokhe; a suspensio da crenga, implica uma aposa inte Teetsal de alisimo risen (nos senticos academico, pistemoligic © politico). A histria pestal do fisofo ajuda a exphear por que cle povde © quis fazer esta posta Fluser comecara a estudar filosofia em Praga, na Universidade Caroling. Su formacaofloxdica prosseguiy por aq tingida pela cicunstinca brasileira. Milton Vargas espeeula que talver 0 set meade tenha sido Ortega ¥ Gasset, ela elegincia do texto © embasrmente germinico do pensamento. Eu © aproximaria tambsm, embora 3 wa reveia, de Walter Benjamin, pela rara com binacio, que ambos reliram, de gentler e ironia. Como Kafka Fluser eserevin em alemio ~ naquele alemio peculiar de Praga. No Brasil, paso a redigt 2 maior parte dos seus trabalhos a0 mesmo tempo nas eias Kgs: em alemio © cm portugues. Fenomenologta ‘do brasiliro: em busca de um novo homem foi exito em porte |gues ccm alemio, mas poblicado primeiro em alemao, por Bollmann Verlag, em 1994, 3 0 teslo: Brasilien oder die Suche nach dem neuen Menschen: Fir eine Phinomenologie der Unterentwicklung (irs, o + procura dem novo hiomem: por uma Fenomenotogia fo subdesensolsment). ‘Aqui no Beas ele “olhava” para Praga, com olhos de sudade dcida. Quando “woltou” para a Europa, forgouse a “olhar™ fe Is para o Brasil, com os mesos olbos: de saudade deida. Pa laser, tudo o que brotva das euas torts de Praga, is margens do seu rio torte indicia a secular procura de Deus através do Dabo De longe, no Brat, va su cidade natal vbrando entre dois pos fo enorme castlo, com a catedral gotica ¢ 4 torre barroca, ©-0 faglomerado de torres da "Velha Cidade”, erguidar como Tancas de lam exército contra 0 eéu. A Ponte de Carlos, com at suas eas, seria o elo impossvel, mas realizado, “ente easelo igtea, ene monte ¢ ale, entre o tet e 0 burgués,entee a soberba e & humil dade, entre a ua dos alguimistas © a universidade, ene 0 céu e 4 terra, entre 0 Castelo € aldeia de Katka (conforme escreveu nO Bsudo de Sio Paul, em 8 de outubro de 1961). Praga € uma ‘dade situada na frontera, em todos os sentidor do termo. Na fronteira entre o gotico e o barraco. Na frontcra entre os lems, (8 tchecos ¢ os jueus. Na fronteira entre a fée a demonologa. Por iso, consegue a inimaginvel fusio estética de dois esprit alos, como na catedral gotea de torre barroca ‘Ora, qualquer semelhanca com o Brasil, com as nossas fasdes estccas de esprites alheios, nio seri mera coineidénci, como o filsofo demonstra 20 longo do seu livo. A principal fro teira, para Flusser, € aguela que divide os espritos em intelectuais fe medittvos foreandows 4 coexisir com igual fore, © que prodiir Certo tipo de cinismo, woltade tanto contra intlecto quanto com: tra infuigso, A acusaco corrente de que 0 povo de Praga coopers ‘com qualquer sntema de governo, 0 filduafo responde: "€ tima ‘cooperacio oportnins, roma, cinia, Feta com tama reserva mental ‘nunca percebida pelo potentado”. O mesmo po de cooperacio, ‘ou de relagio, que te pode encontrar tanto no guarda quanto no ‘amponés do conto “Diante da le, de Kafka. Cooperacao, ou re- lacio, semelhantes, Fhaser encontea, para a nos surpresa, no hhomem braileio, Fle econhece, no brasileiro, a mesma especie de “reverva mental”, ox, melhor dizendo, de reserva de cardter~ ainda a salvo do poder c dos aparethor do poder. Como ado conhecemos Flusser? ‘Our come o esquecemos? ‘Vilém Flute lecionou Filosofia, butcando, como um ‘Geof, debater com os seus pares, scm amenizarertcas ~ mas em tum dos periodos mais excuros da histria do. Brasil, Sem civida partcipon de brigas intestinas,revesdae de ideologia, as inst {Ges em que trabalhou. A fata de hires, bem representad pelos Seulos esctros do General Presidente que asinow 0 Ato Insitictoral 10 1° 5 em 1968, nio facitava em nada debate, forgando a ae en xergar 0 pais em no miximo dois tons Ax condigbes micropoliticas ‘de uma época brutalmente infelir da historia braseta, cm termos também macroscdpicon, nio so deceeto irtelevantes para com Preender o “esquecimento", agora entre aspas, de uma obra, Thclusive porque feta, de modo mltiplo e contraditério, © pensamento em sh 'No entanto, dos muitos artigos e livros de Flusser que Jemos, ndo encontramos vestigio daguelas brigasintestinas, O iéso- {fo mip nomeia adversitios (diz que o faria apenas se provacado} ‘Acompanha, neste sentido, a postura de Gilles Delewe, para quem fserever € ui gesto abvolutamente postivo: dizer 0 que se admira fe no combater 0 que se detesta.Bserever para denunciar seria 0 Iais baixo nivel da esrta. Encontramos, eno, mais uma juss tiva, esta de ordem moral, para o metodo fenomenologico e a Sua suspensdo da erenca. Suspender 0 juizo, aqui compreendido como ‘outra maneira de dizer julgamento e crenga, implica resis & feifcagio dos fendmenos,extensvamente, a reileacio do Outro € do Real, para pensar va frente”. Penear, como artista, nSo 0 que aconteceu (segundo tal ou qual perspectiva, necessariamente es ireits), mas o que teria acontecido © 0 nowt discuso nio sabe ( orga por alo saber). (0 filésofo x sentia lancado nas praiasbrasileras como res derelict, no naulrigio de wm mundo. A despeito do nauttigio. fo por causa dele, 0 Bra The reserva a esperanca de uma ci Hiatho nova, transclturl, posvelmente livre dos mitos da raga € dda nacio. Fer grandes amigos por agul, mas foi hostizado pela Gitadura militar e, 30 mesmo tempo, patruthado pela esquerda, ‘om dlifeuldade de entender seu pensamento, io fora dos cliches igentes. Em 1990, cxcrevia, 0'0 Estado de Sio Paulo: “Nac ea Prag ¢ mews antepasados parece er habitado a Gilad Dorada por mais de tl anos. Sou jd e a sentenca “o ano vndoure em eral” acompanhou toda a minha mo Cidade Some abrigato por, plo menos, quato Tinga Seteflewe no eu tabuho ade e retrain constantemente sume das raves pele quis ne interew pelo fendmenos da Comunicaco humana, Refit sobre ov bison que separam 0 homens es ponte que atravest a abies, porque Huta fu proprio, por sia deer, De modo que a tansendéncia das ‘lias ¢ minha vivénca concrets, meu tablho ctidiano € @ ua condicio de imigrante = na Inglaterra, no Brasil ra Franga ~ lewwo a pensar o estatuto do imigrante no mundo, neste século. Entende que imigrante € nio 16.0 intelecial, que migra de seminario em seminavio, mas também 0 refugiado, 0 Magelado, 0 operiio estrangeiro. Nio se considera marginal nem refugo, mas, antes, 8 vanguarda da humanidade. Porque migrar seria stuacio criatva (pela erse de que parte e pela forma que inaugura), da qual fariam parte “os vlemamitas na California, os turcos na Aleman, os palestinos nos emirados, os nordestinon em Sio Paulo, os cientisas poloneses em Hania. Todas os imigrantes seriam “seres tomados de verigem, assumindo, com ou sem cons: Ciencia, 4 angio precipua de promover a desconfianga na patria Esta desconfianca tia como radicslmente necessri, porgue todas 1 pstrias se equialems todas limitam, O patriotism tela nelsto, porque assume € glorifica 0s fos impostos, menosprezando os fos cfiados". Fon imponts seriam aqueles que prendem a coiss, que Saeraliam as coisas. Fios eiados seriam aqueles que prendem & pestoas. Nio hi como nio asumir or fis imposts, mas hs como ‘io glorifies. “Aapren que, pare poder cir fos interes, € preciso sum os Bor mpostn No devo reprimir minha condi de praguene. de judev, de alemio. de anglosaxio, de paulistano, {erobionente, mar devo atti para poder neg eleva to nivel dat minha lagen interes Deo poe oferece or meus oso nis condigde, fim de set por eles alterado © 2 fim de poder altesion. ares dil «2 ser empreendida “empre de nov, Fis a rato pela ql no pos tr soni” Flaster nfo pode ser sionista porque nio pode ser patrioa. Entende que: “mistério mais profindo que 0 da patria ‘eogrifica € 0 que cerca o outro. A patria do apittida € 0 outro Pausotimo, para ele, ¢ sintoma de enfermidade extética, na med dda em que transforma o habito ~ "a camada de algodio que enco- bre os fendmenos ¢ ameniza as rebarbas"~ em algo misteoso, isto €, em algo a ser serahrado,glorfcado, em sim, feichirado, O patriou sempre corre 0 risco de cometer exime ético-poitce a0 1” ‘antificar 0 costume. O contume mistieado encobre a feiira, a rmisria, a doenga da nagio. Sempre que voliza a Sio Paulo de wena gem, chocavase com as eriangas famintas nas Faves © nas esquir nas, mas depots se horrorizava porque, justamente, como qualquer brasileiro, pereebiase ae acostumando com o que Ma" "0 conte patrioizado € crime éicorpliic, ou aja, um peeado que o pati ‘timo glonfica. Confundir morada com patra, costume com mis Fio, es © que me parece sero nileo do patriotismo" (estas palatas {ora publicadas por O Endo de Sio Paulo em devembro de 1991, = Togo’ apés a sua mort) (0 elogio do imigrante, em tiki andlise, do ndmade € do vajane, se relaciona com o elogi, anilogo, da traducio:“sin- terme abrigado por, pelo menos, quatro linguas, isto se reflete no ‘meu trabalho: tradwzo etraduro constantemente”. Ete elogio, fentretanto,nio € simples. A traducio, para ele, € menos wma tare ‘© mais sua prépria condicio exstencal, 0 que o far aproximar 0 ‘estatuto da traducio da definicio ontoldgiea da morte. A. morte implica uma situacio de fronteira: pode ser aleancada, tltrpasiada. Devido a este limite, ¢ tema da morte tende 2 ser Colorado de lado pela lofi, ow ao menos pela Hilosolia anglo- fxonica. Fuser ja agers (em O Estado de Sio Paulo, de 26 de ‘maio de 1962), no entant, situacio ontologicamente semelhante 3 morte © que pode ser perfeitamenteultrapassad, into ¢, apreendt dds © compreendida: a traduco, “Quando wazo do portage par o inglés, iterrompo olen tamenteo fax do incecto, x que corto oo da eas qe fgovermam lingua portgoem. A solencia deste proceso € Simirelment epelhada nor voesbuloralemies e tehecos que Sigiicam "radu, Ubersetren = "sala para outa marge ‘préklidat«recompor uma pia de aa ue ais Replo poranto a pergunta © que sono arto da radar? Sou algo feo pense de um Ea parm Onto So porse mum Fu novo. Propriamente dito, no sou e nao ou ands stow ariqiland-me par eanaigurame. Banos fem face de uma miniauea da itagem da morte. Enuetnt, fsa miniatra tem a vantgem de nada ter de misico, de Inwupervel « de tncompatel. Na taduch, aparenement, & cexisténca superao nada” as [A sequir pst consida no termo alemo, a radus cio seria, popient, ao par 2 ot alge, 0 et Mopar, entetanto, 4 pia contida no term tcheco, adc Caulcria a uma feeonsireqso de sentido, como contequéncia pone du ineviivel desconstugao, wale diter, do desmorons- frento do sentido. Somando-o» doi sentidor« acrescentandose C uocadith taliano,taduttor! trxditor, pademos perceber a farefa da traduclo, mai um ves, am eabalho para Sno, Herder {fie mesmo teadutor de espeito) Jf assnalnes que “ninguém pensa lem do idioms", fazendo eco a Witigenstein € Tess Iniciaie de. Flusser. A. simples exintencia da palavra Weltanchauung, por exemplo, de io diel tadugio nos ido twas rominicon, termina por impor rimo nico a0 pensamento Momio. Em decorrencia, taduct seta tnposivel, ot seria por Sivel apenas par 0 peronagem milco que carrogs a pedra mon tana acim, Bas Palo Rona Co ngato que fundou a Asoc fio Brera de Traducore, » Abra) Tembrava, também, que Srobjetvo de toda ate € igo impose “0 posta exprime © inexprimel o pintor reprodus 0 ireproducvel,o exatudio fina © infixivel, Nao € surpreendente, pois, que 0 taditor se tpenhe em rads o intradusive ‘Aprofundando sua condigio de “hontcra" (ow de “eceano", ene os dom continentes existencis qve 0 formaram) em 1969 Vilem Flaser esceveu um rascunho avobiograico ~ publicado em portugués, pelas Edigdes Loyola, em 1976, € Fepublicado em slemi, por European Photography: Neste (exo Fser afm: "ver &ssuminae pars alterarsc”~ ver € presi Inirse, osomente, preuno, em permanente questionarse ha Giregio da mudanga. da taneformacso. “A pergunta “quem vou" & nova toda ver que 3 formula, € ecto de pvt da ua espona € verpre pose radi 30 Ser toma, Formulae, pa pergunta "quem 3042" como fowe pla primera ve, pra (qh?) poder decidir" Fluser pode entender que a tarefapergunta renove se 8 cada momento, A questio "wer bin ici" ~ "quem sou eu”, ou *o que é eu2"~ se pe antes como decisio, 2 cada instante dolorost ce radical, Flho de Praga, intelectual judeu, Fusser expevimentou. 4 infincia € a juventude entre as duas grandes guersas. Sobrevivew 4 bestanasata, masse mundo, sas coisas, seis wares bisicos © “os Seus" no sentido metonimico mais forte do pronome, foram devo. rados. Na Taga para a Inglaterra e para o Bras precsou devorar © gue pastou a querer der “Bras A circunstncla na qual ele fo lancado. Chegando x0 pais, sentinse, na verdade, em algum lugar entre 0s continents, fobre o oceano cercado por horizontes indeterminados. Suu faa original se reconstitfa como falha, na procura de um chio que Servsse de antepato minimo 3s metiforas do sentido (no 4 toa 20 Tivo que atsinaria como sia autobiograia intelectual defini di ria, mais tarde, 0 iulo de Bodenlos, sto €, sem chio, em funda mento, ou: live de fundamentos}. No final da Segunda Guerra, impossbiltado de retornar a Praga (ou preferindo nio retornar a Praga), espan- touse com o misticismo brasileiro, que The pareceu caricatara do seu proprio misticismo. A verborragta grandilogientee irespon sivel (die unverantwordiche Crofrednere), que nos caracteriza- ria, serviadhe de incomodo espelho. Ae mesmo tempo, a situagio fo Brasil sluminava a reverto da medalha: a exterlidade do formalismo, O positivismo, marxismo, 4 excolistica, 0 academicixmo © 0 preciso “3 bratileira”) que marearam os nos 40 e 0 inicio dos anos 50, comecavam a the soar ridiulos ‘as aio 96; também se mostravam advertencias graves. Por le ts suas quests Hlos6ficas do serio ~ por entender a vida como fuma decisho Hlosifica =, admitia ter considerado a possibilidade o suicidio durante anos a fo, enquanto lia e absorvia Katka, Camus © 4 arte do absurdo, Fc aque Vilém Flasser tenha morrido exatamente num acidente de lutomével, como Camus, nas cercanias da sua (€ de Kafka) cid de natal, oto, dramaticamente cures, Quando comegava a entender o ultimo Husser, es ‘reveu 0s seus prmeios ios, Lingua e realidade eA historia do ‘dinbo, Emergia o cerne de toda a sia Hlosofia, condensada no te- tho abaixo, que precisamos spresentar nas duaslinguas que mais 0 informaram formaram: 1s DerUimkrexmeineDentensbepann |] Os contornos do meu futuro sich abruzeichnen; das zenteale |] caminho comegaam 2 deinen, Problem sole de Sprache werden. |] o problema cent sera lingua, Vor llem, natrlch, wei ich die |] Em primeiro lugar, obsiament Sprache leh iheieSchinen, |] porque amo a lingua, Amo sua item Reicha, irGeheimnivind | elera, ua riquera seu miseio © itren Charme. Ichbin nurwirtich, |] seu encanta. $6 sou. verda swemichsprecheschrabe lee,oder |] deiramente quando flo, exrevo, wenn sie in mie flastert um |] cio ou quando ea samure dence Rigeprochen mivenden Aberauch, |] de mim, querendo ser arculada velitesmbolscheFornt Wohnort || Mas sambem porque ela ¢ forma des Seine, welcher verlt und || simbaic, morada do Ser que vcs ill Weg. dermich nitanderen || ¢ revel, canal pelo qual me Igo verbindet Feld der Unstebhenbet || sor outros campo de imortalidade ere perennius Material und || sere perennius, materia ¢ InsrumentderKans.[.JSeistnein || instrumento de are. (1 Ele & Enpgementininrreaiserech mich, || men engapmento, nela me eel lund durch se glee chin Richtung || e por ela desizo ram a0 xen TirestloronteundinresFundament, || horizonte © fundamento, 0 rn SilledesUnsagharen Seitieine || silncio do inariculzvel. Fla & Formder Regist Und-viellcht |} minha forma de religosdade.€, auch ie Form, durch dieich mich || quich também forma pela qual vesere the perce [No lio A hitSre do diabo, laser fae uma longa © ppenosa meditacio sobre a morte — porque a conversa fad sobre a ‘morte jé the parecia a maxima fasidade a ser desta. Semelhan- te conversa fada faz parte das pseudocomunicagées, que amalge- ‘mam 35 soliddes individuals em soliddescoletias, sem se admitirem fenquanto tal Em entrevista, publicada no. sie “Vilém Fluser no Brasil” (wane ftopli com, faster = tats da mais importante lomte de informagées ¢ extidon sobre @ filsofo no Brasil, manta pelo pesquisador da USP, Ricardo Mendes, rvaizando com centenas de hhomepages, dedicadas a Fhnser, que cxistem no mundo toda), o ctico de cinema J. C. Ismael Ihe pergunta 0 que tem pretendido 30 longo da vida. resposta combina a fenomenologia com 4 res- ponsabiidade. pcre ena avn Mo pe sao ml now cnvontraon Sem ter sand ce ‘Shee menido por ipacénl inl una vegunda cpm oa Sul procuro, ma media ar mina forear extemament lin {ids init nasties no seta de un saneanento Coma es dacs Em extras pals, ble emna™ [A partir desta resposta, Ismael coment, com iromia rmesclada de admiragio: “o senhor vem sendo sistematicamente fscusado de 6timo poeta, Agora vejo que or seus acusadores tem Tazio.” A critica a que Ismael se refere costuma singie todos 08 partidrios do pensamento fenomenolégico, tingindo, em particn: Tar, aqueles que de fato constroem ‘um pensamento original, como Fluset. Dizse: "como filsofo, © senhor € um stimo poeta’. A er tic, que se pretendia ofensiva, tomase, no entanto, indus, quam ddo'o pensador a assume como clogio, sto €, como indicacho de que ‘sua meta estd sendo stings ‘A aproximacio da filosofia, e em particular da fenomenologia, com a are, com 4 poesia, & absolutamente pert rente, pelo menor, deude Nietzsche, ma ¥ez que ambos 0s campos fcabam realizando tare muito semelhantes, a0 perspectvizar 0 Teal ~ a0 forgar 0 olkar a ver 6 que nio via. O problema da sua filosofia da linguagem termina por colocarse, de outra parte, come (problema da arte. A tensio cate Kafka © Rilke (dois gigantes praguenses) ajudavvo a representar 0 dilema: num certo wntide fotos, em outta iemdos isepardvels, bem representavam os nivis {a linguagem = o primero, seu carter acétco, punficador, 0 9 igundo, sou carter inebriante, orgasico, No entanto, seriam, no fundo, a mesma belers: "a da poesia enquanto boca do inefivel tem Fuser Tembrava 0 que havia aprendido com Husser, no outro continente: que a vida nio € deatobera: que a vida ©. Sinngeben ~ isto €, doacio de significado. Que a vida € uma Feverente espantada nomeacio dos fendmenos. O cariter relige ‘so dasa “floolia sem religio” pode se entender 4 parir deste termo: Sinngeben. Husserl ja Ihe diners que a fenomenologia se {queria um tipo nove de filorofia transcendental, na esteira da ¥igo- Tosa religiosidade kantiana, Era possivel admithla como um fneocartesanismo, porque radicahea 0 método muito conhecido, de w foutra parte asta extranho, da divda: “tendo apenas como objetivo © conhecimento absoluto, interdiese de admitir como exstente 0 {que nio ests inteiramente a0 abrigo de qualquer possbiidade de ser posto em dida™ ‘Em primino har, quem quer verdadsramente torarse sof deverd “pelo erenor ma ver nana id’ rane par [pp a paride stent dvr toda ena di movimento de suspensio da crenca, do que o movimento fenomenologico por excelénea: a sua epokheé brasileira. Assim, sh rina viriot setores da cena brasileira ~ “imigeagio", *naturesa" “defasagem’, “aienacio", "miseria", "cultura", "ngua” ~, para, 2 guia de conchado, esbocarimultincos“eiagnico”e “prognnico™ No ens, tenta uma deci fenomenoligica de wm Bras vido “para sent de mapa, por analog e conta, a Uma humanidade Eo perdga quanto € 0 proprio ens To capitulo sobre a “migracio" deco para circus crevero seu pont de viva, reconhece que o ambiente rasleo se tferece ao imigrante de forma anbialene:€ um ambiente de fc ppenetagio, mas de diel itegraio. Em outos temmon: € fil ferse no Brasil enquantoInigrate, ¢ desesperadaments die imegrarsenele. Para capac superar a ambialencia, 0 migrante deve liberarse dos precincts que encobrem a reaade, do tipo ‘fats nov” toedade aber Spensor i preconcelor, © Bra aparece na seguinte forma 0 primero comtato se com una mates urbana heterogénes ‘equiae amor ¥verdade que amass fla una nia lingua (0 ports) esto parece davtheesutara, Mas o vido atento ‘Bescobre qi ea ing no inraentrtaa coma no ea dae ocedades europe), que forma Um tet ean a mam, ‘nal experano ow Koine, debs do qual pam snsimerat ata ngs que se eetlten no pio porto de sas ‘Ao se “integrar" na massa, o imigrante pode percebé la ela mesma devenraizada, porque perdeu suas estruturas acaicas, adaptive 4 vida urbana, sem cela novas, a ndo sera estrutura dt miquina © @ ritmo do aparelho. O brasieco nao & “indigena, mas Antes, curopeu decadente, Or brasileiros “no tomaram poste nem ‘da sua ter nem de sl mesmos, mas fltsam, tomados de wm 3t0r- ‘doamento secular chamado saudade, nas sae imensa panics, quis destrogos nas ondas". Mas, a0 olhar 0 caboclo nacional, acocorado rho mato ou na esquina da cidade grande, sofrendo de todas as oenga imaginiveis somadas A maior apatia, Fuster surpreendese reconhecendow capar de ressténcia, inteligéncia e ionia, constitu indo imprevita fonte de uma auténtica cultara do faruro. Sua proveibial paciéncia sera igualmente enganadora, podendo explo- {ir repentinamente em olencia individual ecole, para soucgar ‘gualmente de repente. A sia aparente sibmissio exconde, na ver dade, tm oxgulho e uma dignidadetais que se mostram inaceniveis 41 um “civiizado". © imigrante entio, se percebe ele mesmo inca- paz de compreender "esta gente”, precisndo recorter 2 fontes a2 Iersvias para captar algo dessa mentalidade subierrinea (nomes: ddamente, 4 Iteratura de Guimaries Rosa e Euclides da Cunha) 'A naturezs braneira, cantada em roma e ers0 para fo tursta sedento de exotismos, revelase, para o ctrangeiro que se fecide a abrir os olhos, nacrediavelmente mondtone: "o Tunds ‘mental alleamento que o bralero sente. pela naturera faz com aque a procure derrubar (em verde saientétaarificiamente, como faz o europen para 0 deleite do turita)” Quando o tursta aban ‘dons as prise pars penctraro interior, 4 coisa toda “se Lorna muito tmais terrvel™ paitgem inarculada, raseira e desolada, habitada Priortariamente por meetos. As excecdes na pasager sio acidentes figantescr ioladon, como a cachocira das Sete Quedas, “que con- finuam tediosos devdo 0 gigantismo € tolamento” (0 Ieitor devas linhas que Ihe tentam apresentar 0 pensamento de Vilém Fluser, provavelmente brasileiro nato. pode fe expantar ou se indignat,simplesmente porque nio “enxerga" nenhum aspecto de descricio to erie: @ monotonia, somada 20 habit, fa desaparecer a paisagem por ineto, extandownon apenas on versos bucolicorfanistas, porque, afinal, "os nossos prados tém fais flores" ~ ainda que haja tao poucos prados ¢ 130 poucss flores, ‘no Bras. Fhser afirma, de mancira irnica c exagerada (desde 0 principio nos advertia que o exagero fazia part constitutes do seu Inétodo), que o brasileira nio tvencia sua naturera enquanto palsagem: ignora, mesmo cult, os nomes das plantas e dos anima, Indo te increta pelo teu ritmo bioligico, nio colecona flores ot borboletae, no faz excundes excolares na “matures”, em suma, 240 passcia, Porque 0 amor plas palmeirs © pelos bis, pelos prados peli Mors, em geal pelo berso erpléndido, nao pana de fbteraura (escendente rio e def de um omantm Frances que, ele propa, pose), de oma ateratara que for pare da ieologa burguem © amex tansformarse emt chatvinismo (a parte paiagiviea do chawniamo ae cham ‘imamente,"opiaio"). Que se wat de beats, pron fa werdsdciaIteratre. Na aborn din wene em sequer co templaa ature enquanto puner (por exemplo Machado fe Ai, con romances se passa no Rio, ner segue conten i omar 2 nfo ar para tranformio em paleo de una mote). [A aparente grande excegz, Guimaries Ron, prov tse ag as defends, No canta ele natreraenquante pisgem, mat deserese plo contrite como homemenatrera ve fndem eth toco mistic, de maneira que plantas e amas pasar ase !nwopomotos.e homens pss a ser animals plantas No sew esforco de suspender os juios exitentes sor bre accra brasil, Fuser enxerga io a natutera dadivoss, gene rosa, que nos prové como cornucopia magica desde at palinrss de Pero Var de Caminka, mas sim uma natufera eninentemente per fida, que s¢ opie 30 homem tanto mais quanto este a enfremte apenas com palawras ¢ preconcetos, “Plantand di dase o esexiba; 4e fato, "da", mas no main do que as dust primeiras colheitas, porque 0 solo se esgota com rapider, O exemplo extremo encontra Sena exuberincia amazdnica, que exconde, na sombra, solo pauper fimo: "s aumosfera de estufa ea quantidade disponivel de agua possibiltain o crescimento e o desenvolvimento de irvores gigantes: 35 das madeiras mais nobres que foram a floresa amarénics, mas ‘io possibiltam praticamente outra flora, ¢ a capa formads pela copa dos gigantes esconde o reo de sombra da morte”. Nio € 0 Tinico exemplo: vasas reyides do Nordestesustentam dezenas de rilhdes de pessoas nos anos de chuva, sujeitandoy § condicio de rmendigos desesperados nos anos de seca, Os ros slinos tem a falta de vergonha de correrem todos em diego “eontrara", do oceano. para o-continente, ni formando, portato, atria de transporte, como no resto do mundo, mas obsiculos 40 transporte ‘io precsamos, € claro, concordar com Vik Flue, Profeasores que womos, de Geogrfia ou de Literatura, levantarie- ‘mos com facidade ene argumentos contra os argumenton do flo Sofo. Entretant, o seu texto nio pede exatamente umn "ebate™ justo porque nio se pretend “objetno" ele quer um dilogo, wma onversaclo, o que outra cols, Entre o céu ea texra, entre @ certo € 0 ertado, entre 0 protagonists © o antagonist, entre @ brasileiro e o estangeiro “abusado",existem tantas outras prspect vas. Uma desss perspectivas € a que ele nos oferece, pata acon ppanharmos com a testa franvida, mas, de preferenca, sem reagir fe imediato, de batepronto. Vé 0 Brasil, co brasileiro, como um ‘europeu que vveu entre nds por mais de 30 anos, © portanto nie € curopen, ¢ como um brasleito que nio marcea nem morrew no Brasil, © portanto nio ¢ brasileira, Exa condicio ambivslente, somada 3 condicio naturalmente ambivalent de todo Hato, dei 4 ‘0 num higar rare, de onde pode obserar 0 que nds outros no ‘beervariamos. Por iso, pode astamir um ponte de vista liico, recor nhecendo no brasileira verdadeiro um homem ineapa de odiar € iinvejar 0 outro, “porque toda a sia capacidade para.o ddio, toda a sa energia para vitor e toda diregio da sua agio é mobiliada ‘contra a natirens”O europe, em conteapartda, ie em soceda: {de que jf domina, defniamente, natuteza. Por so, pode as mir a attade extetica do turista, e por isto dispoe de enorme quan fidade de energianio gusta, de ddio nio consumido, de vontade de ‘gir insatfeta~ edge tudo ito contra o outro homem. “no signin omoogicamente que 0 outro homem pasa a er ‘objeto, vesiéncn, problema, e substi onologicamente ma tates ened ransormda etdeamente em abr, Por fati surg 1 ccs humanas que se tomam sempre mak ‘rans salzam com a ici da natrera, Porto cresce 2 ‘ieuldade eo bomen reconhecerse no outa ranaformad tem ajeto onheci emaniplie, 5 ghereconhementoexige ‘descbera do eit ato ewofredor no our, Uma comeqien ‘Gu dso €4 crescent wlan humana (porque 3 verdadeea “ommuncach €0dlogo do reconheciment, «mio 0 discurso ‘enliceeantopoligic sre o“homem")- Outraconseqien- {da €xtendéncn do homem de omarse mesmo como obeto fe desateclsifcrse: © braileiro, na sua perspectiva, ainda teria uma chance’, em funcao de sua amabiidade especitiea (que, no et tanto, ¢ ainda bem, alo corresponde a um carater de “polvanna") Florter nos vé como solidarios, si, mas de uma solidariedade. digamos. poliicamente incorrets. A'solidaiedade brasileira no implica, responsabilidade por grupos 08 “pobres", os “ieinamitas", os "aposentades” -, porque nio se tem contato cxistencial com grupos fais que, na verdade, correspondem a formas de objetisizacio do outto, Assumes responsabilidade por krupos, mais ou menos sincera, “porque se eré saber como ‘manipulilos,e porque se cré saber que estio sendo manipulados {de forma errada”, Assimie responsabildade por geupos seria con- twario a esséncia braicira, onde cada qual € responsével apenas por si mesmo, nunea pelos outros 35 A perspectiva flusseriana, no entanto, nio tenta ‘minimisar a Glia de responsabilidade que reina oa sociedade bra. Siler, como © provam 0 vandalsmo ea inacredtivel comscigneia “trangia” perante as injusigas que grim nas cakadas. Sev olhar mais complexo. Grosso modo, asittase com 0 europe, que tem responsabildade "demals, ea partir deste excesso pariu is revo (bes, a8 idcologias totltirias © as guerra, chamando 0 dio de “poltzagio das massas, assim como estranha o brasileiro, que tem responabilidade "de menos", 0 que promove e mantem injustigas tereveis ~ mas admite determinada esperancs ‘Ema esperanca dif. Vlem Fuser sv do Brasil, em 1973, decero por viras ages, Mas assume expictamente, em diver- sos momentos, que via aquela esperanca se encolher no horizonte do cerrado, ern funcio da ideologia do progresso que se disemine- a A direia, principalmente, nos falsos estetores da ditadura mily tar, mas também 3 eaquerda, quer na desasradaluta armada, quer ro desastre epistemologico © pedagigico que asaltva a universe es, mesclando arvogincia norteamencana com estetzagao europeia, Ea fenomenologia do. brasileira foi publicads. na ‘Alemanha em 1994, mas escrita muito antes. Mantém 0 olhar sobre fs anos 70 para “wis, mas de maneira tio abrangente especifiea Go mesmo tempo) que continua espantando 0 brasileiro nato, hnabituado a sever sem se alhar. No penlimo capitulo do seu leo, Fluser tata da lingua brasileira, rellzando in totum ab imo pectore a sua perspectia, simultneamente Aloséfea e religions, Podemos relaconar ete capitulo com © primeico Toro {que publicou, em portugués ~ chamavase Lingus ¢ realidade, In uenciow decisivamente © seu amigo, Jolo Guimaries Rosa, 20 cestudar 2 estrutura de todas as linguas conhecidas pelo metodo fenomenolégico. Combinava assim, de maneira tensa ¢ arrscada, Husser| com Witgenstein, gerando um resultado tinico, unica: mente fluscriano, que ainda precisa ser resgatado, Quatro Tinguas informavam 0 pensamento do flosfo ~ 0 inglés, alemio. o portage: {0 francés, presumimes-, porque ele as dominara ¢ era dominado por els. Para ele, quem fla vas linguas vive em virioe mindos, 0 ‘mundo mesmo se modifica quando muda a Kings Consdera a telacio ‘entre lingua e pensamento tio fore “que tem poveo sentido querer tstinguirse entre ambos”. Duvida que exita pensar em lingua acte- fia que pens, no findo, no pasa de un falar baixo. Por iso, pensar 2 ingua implica a sua forma de relgiosidade. 26 Falando baisinho, como quem tera, reconhece no portugués o eixo da chamada mentalidade latina, que @ clara Gistint em razdo deta da nua sintaxe, da manipulagio espeettica {que far do substantive © do verbo. Mas observa que a clareza © a ‘istingao Intinas suo “compradas” 20 preco da pouea profundidade Conseguida por outras linguas indogermanieas, coma 0 gteKo © & Slemao, pelt colagem de substantivor. O- portugues, enlzo, revela fama Iogiea siniearelatvamente pobre, mas que, paradoxalmen- te, em fungio mesma da son pobrera, pide se deixar penetrar por ‘lementor de linguasindigenss, como o tupi, € de Hnguas africa: fas, como o ban, que nao tertam em prinelpio 0 menor parentes fo estrutural com 0 portugues, de ver que se revelam aglutinantes 4 rigor nio formam senteneas, mas blocos de palavrasaglutinadas por sifios, prefixor ¢ nfixos. A partir dat a lingua portuguesa fe carster areico, lara mas pobre, pobre mas enriquecida por hherangas indigenas e afticanas, se ve dialogando @ forca com ‘ondas sucessvar de imigrantes, de terreno linguistico © mais ‘ariado possvel - por exemplo, 0 polonés, o irabe, 0 japonés, 0 ilemio, 0 italiano, 0 fiche. Asim, nio ha lingua brasileira em fentido extrito: ha varias Hnguas, poranto varios mundos. Logo, fer brasileiro nio pode mesmo ter estado, mas tiosomente pro Cesso: o brasileiro deve assumir com carinho a sensacio. de Irrealidade que o toma, pois pode sirgr aqui wm novo homem (2 despeita das indicacdes em contri). ‘Um novo homem capar de romper por dentro, pela lingua, a reificacio, 2 objetvacio e 4 alienagio. Um novo homem com a chance, propriamente lingitica, portanto existencial, de Superar a discusividade linear indogerminica e semi, reconhe Cendose no mais unidimensional, justo porque vive para além da historicidade do discurso que formos o Ocidente judaleo-cristio, ou seja, justo porque se pode admitir vvendo na péshistoria (todo 0 Coniravio da balela pdemaderna, devese alert). Esta busca de um nov homem, desvelando a exséncia bratilea no brasileiro, nio & todavia messiniea, Embora o Brasil 9 brasileio nio representem 2 nia esperanca da humanidade (considerandose a stuacao ata ‘do pais, "seria 0 caso de desesperarmes todos", nos alerta com le ‘vertda ionia), mostrese um don poucos lugares em que ainda se pode © se povders afimmar a dignidade perante 0 absutdo que € 0 undo, Or pafses histricos sio vtimas de ideologia que comeca @ evelarse delino, ameacando ne apenas a liberdade como ainda & 7 cxiténcia humana. No Brasil a deologia progresiaa (hoje dir ‘mos: globalizada..) também opera, e opera com maior desenvol ' porque ainda no chegamos perto do nivel que torna 0 delirio cvidente. Mas, a despeito disso, a ideologia nos encobse apenas Superfcialmence, deixando espaco para ser rompida: pela lingua, pelo jogo assumido como ta, enfim, pela fiosofia.O novo homem ‘Em Bomo fadens, sim, mas consciemte de que jogs e de que com cle jogam 0 sea homo ludens extd sempre 2 prefer 3 extraté fia “ués". Na esuarégia um, jogase para ganhar, atracando derrot €.0 jogo do norteamericano e, ainda, de algum europe. Na estra ‘égja doss, jogase para ndo perder, diminuindo os ricos tanto de derrota quanto de vitria:€0 jogo dos excltdos e, jé, de algum ccuropes, Na estratégia ts, no entanto,jogese para mudar o jogo. ‘Ora, nas duas primeiras estatégias, 0 engajado se Jintegra tragicamente 20 jogo, que pass a ser todo © univers no qual existe; em conieqiéncia, nfo Consegue mais ver este universo como jogo. Na terceiraextratéia, todavia, 0 jogo nio pasa de ele- ‘mento do universo, eo engajad se encontr “acima do jogo". Fuser 46 alguns exerplos “Se ciéni for jogo 0 ténic we engaja nel pela erates un ou dois, ecient pela exrateia es (procs mda ogo thera nas repre intone ou eliminar elemento), S i tu for jogo, 0 patcipante da convenacao ve eng neta pela ‘sata ou dese 0 poeta pla enrages (pla raze Indicada). © mesmo pode ser anim forma; quem aplca ‘satya um ou dos equecen qu ex joqand (por exempo \eenco participant de conneracio, nda pic, general «lide estudanl exqueceram que esti empenhados em jog). ‘Quem aplica estatépa ués sempre conserva dintinea su ente pata darse conta doaipetolidico da ua atnidade (por ‘exemplo centsta eirico, poeta Blosofo efatursiogo) Tam: ‘em a biéria pode ser considera jogo. Sob tal enfoque, ‘quem pensahistorcamenteesqueced que ext jogando. E ‘quem aplicaeswatégia ues & historia no pens historiamen tes por enar dvancado.” (© nove homem se diverte, muito seriamente, com @ fendmeno que representa e que a sua fala apresent, abdicando de representarse qualquer tipo de mimeno, vale dizer, abdicando de fe apresentar como qualquer exsencia que; de toda forma, nem ha {© novo homem, quem dit: pode sero leitor desta palavas, melhor ainda, 0 letor da Fenomenologia do brasitro. 29 Em busca de um novo homem (© homem é um ente essencialmente perdido e, quando se di conta, procura encontrar, Esta sentenga pode ser lida em virios ives, por exem- plo, no nivel religioto ou no nivel de um bandeirante no serio, € feu sentido € sempre ere! 8 decsio de tomar caminko (ou abrir ‘aminho) depende sempre de um mapa da situacio na qual 0 hhomem se encontra, Isto significa que toda decisio depende nio apenas da posicio das coisas, mar também da imagem que fazemos 4a posico’ das coisas (provavelmente isto tem muito a ver com o problema da liberdade). Pois esa imagem seja ela mais ou menos fil, depende sempre de um ponto de vista, partir do qual lot projet, e este ponto de vinta nfo pode, ele proprio, fee parte a situacio que enfoca 10 fate de o homem atsumir pontot de vita no diz no funda outra coisa no ser que © homem procura encontrarse. Poderiamos dizer que a capacidade para a visio ditanciada & prova ds perdicio humana, porque nio tena sentido afrmar de um ente Incapar de ver sua sitagio que est perdido. No entanto, devemos ser eautelowoe ao tentarestabelecer ulm nexo causal entre a capact ade para a superacio e a perdigdo humana, Exaremos perdidos por podermos nor dstanciar de nor mesmos, ou podemot sir de ‘és mesmor por estrmos perdidos? Provaveimente tratasc de per= {gunta sem sentido, E melhor consatarmos simplesmente que ac pacidade para a imaginacio (inclusive para a imaginacio de si mesmo) caracterra © homem tanto quanto a sensacio de: (a) ‘estar perdido em nio importa que sitiagio; (b) e dever portanto rientarse. Devemos constatar também que a consciéncia da de- sorientagio « da necesidade de orientarse nio esté desperta sem pre, nein em todos, Os asim chamados bem inegrados" (ot “quad fos") no se sentem perdidos, « neste sentido cada um de nds & ‘quadrado" na maior das vers. A sensagio da desoeentario, & angistia do beco sem sida, toma conta de nés apenas por momen fon, © tornaae insuportvel por periods mais extensos.Pois sto, ‘es momentos fagazes que ot movem para darmos o paso pars tras de née meamos. Retroceder, para podermos imaginar © depois compreender e, por fim, para agir decididamente. Pos estas sio 25 fases do encontro consigo mesmo: distancia, imaginagio, cone eit, ato: ou superacio da situacio, projeto de um plano sobre {situagio, adequacio do plano a situacio, modifieagio a situs ‘Gio de acorda com 0 plano, TE abvio que a temtaa de encontrarse pode falhar ‘em nio importa qual desas fses,e ext € 4 rao porque 4 ens mor tio raramente, Na maioria das vezes, permitimon de bom ra: fda que a stvacio nos atordoe, a fm de exaparmos 4 devorientagao cd angistia do momento, A lberdade, por louveda que tej, & incémorts, exige exforco, ¢ nio oferece garanti de suceso. O ator: doamento pela atuacio @ um bom método para evtsla, Este ator: doamento pode ser formulado assim: a siuacio me determina © me pele, ela € incompreensivel c, mesmo se pudesse compreendé ‘io bastariam minhas forgas para oporame a ela. Isto € uma formulacio razoivel ¢ uma temtativa honesta de eviar 9 uso da capacidade para conseguir a liberdade, Via de regra, no entanto, ‘no somos to homestos,e procuramos faercrer que fazemos 0 que fazemos por nos termos decidido livremente para tanto. Sio os momentos de angistia (por fugazes que sejam) que nos revelam {que fazemos o que fazemos por estarmos determinados © empurra- os por fora, Mas até 2 formulacio honesta € em certo sentido indigna, porque € da dignidade human cnesiar a Wberdade. por irraroivel que seja.Portanto:tentar manter a sensacio ds desori- fentacio desperta.Aswumir perdio & a tenth de encontarse, sob pena de fracasarmos. Ese ¢ 0 clina das consieracées seyuintes. ‘Obviamente: ditancianse e projetr planos nio pa sam das duas primeira fases do procesto'do encontrarse, Sioa faxes especuatva ¢ desenguad, © sero ws, se nfo forem seguias pla fase engajada, E certo: nfo basta explcar 0 mundo. Mas igual- Imente cero € que ni podemos modifies, sm tentarmos explick To ato nem sempre sificientemente salientado pelos enysjados) Pois um tal “expliear 0 mundo” depende de pelo menos dots fator res, a saber: da distancia do afaxtamento,e do ponto de vst. Quan to maior a distincia, tanto mais ampla a visi, mas, cambeém, tamo ‘mais indistintos os detalhes tanto menos fil 0 plano da stuagio Concreta E todo pomto de vista projeta uma hur eabre 4 stwacio na ‘gual ae coias laneam sombas especticas, e portanto aparecem dl {erentemente de nio importa que ponto de vst. Ito siaifiea que toda tentativa de vido ¢ individual, © que a vio que se oferece faracerizao viondvio pelo menos tamo quanto caraceriza a sit cio vista Mas ito ndo significa que toda tentatea assim € necessi- Tamente subjeta, © portanto nada comunica. Pelo contriri: da Soma das vies disponvels pode faze tum mapa que se aproxima, infinitamente da "verdade objetva" sem jamais aleancida. claro soma de distncias e de pontos de vista nunca resultard na reprodu Cio fiel do visto, poranto nunca levard a yerdade no sentido ristotelico do term, Mapas verdadeivos no podem exis €, por- Tanto, nio existe. Mas serim desnecessirios, se exisssem. Pelo Contr: mapas nfo devem ser vedadeitos, se quserem orientar- thos. Um mapa de uma cade, que seria fel sea reprodusse por imteiro, seria tio confaw quanta o &a prSpria cidade, © mio veria ttlidade alguma. Um elemento de simplificacio © de exagero € fssencial para todo mapa, e 0 ideal da objetividade € portanto Sumamente duvidaso, Em todo caso, nio sera este o ideal das onsideracbes que se segue. Distnciarse da siuacio e projetar de wm determina 20 ponto de vista im mapa sobre ela, esta 4 meta aqui perseguida Portanto, ete ensto tem meta e limite. A meta é, repitamos, oe recet 20 Tenor um ponte de vista, 3 pare do qual poderd ver, de tim angulo determinado, 4 situagio na qual estamos e actescentar ft isto resultante a outris vider para poder orentarse. O limite € { engajamento, do qual o presente trabalho procurari aproximar- Sesem alcancélo. Pretende este ensaio manterse desengajado, fmbora admita que todo desengajamento ou serve de trampolin & im engajamento, ou € iresponsavel. © engajamento permanecerd {assim esperemes) fora dos limites deste ensao, porque ele pretew Ge contribuir para a decsio do letor, mas nao The dar consehos as Em outros termos: o ensaio recta responsabilidade para asumirse como nio importa que ‘autoridade” (por admit ar incompete pera tanto), mas assume responsabiidade para set "Yonte de info Inacio" (porgue cré postr alguma competencia para tanto) ‘Para rerumir o que foi dite: movida por angistia pela sensagio de estar em beco sem sada, este enso se distancia {a nos stage, assume um ponto de vista especie, procira Drojetar dat uma imagem da sac, na esperanca que ta imagem poss servic, em conjunto com ontras, uma orentagio na siaagio ede wampolim para x sua modifiecio — portanto, para um engajamento, © que significa “nossa stuacio" neste contesto? Pr ieiramente, » stnacio da humanidade neste final do século XX. Mas, obviamente, um tl significado vasto obrigaia a tomar tamanha distincia da sitvaco, a fim de abarcéla, que a visio resultaia em mera generalidade banalidade. Por isso, urge definir 0 termo “noma situagio” um pouco mais razoavelmente. Por exemplo, desta, forma; situacio de un intelectual burgues, proveniente da cultura ‘ocldental, no final do seculo XX, Mas, mesmo asim detiaido, 0 problema é tio amplo que parece convidar a uma queda na conver ‘fia grandiona. Evitar tal perigo sera um das tarefas mais 4rduas deste ena. ‘A esperanca para tanto reside na estreita especifcida de do ponto de vita a ser astumido, Seré 0 ponto de vista de um intelectual brasileira imigrado da Europa. Conforme disse: toda fimagem depende de doe fatores: da ditinca e do ponto de vista [A distincia ssumida por este ensaio € grande, porter ele escolhido jum campo muito ratio. Em compensacio, © ponto de vista € tio ‘esteto que permite experar que lugares comuns sejam evitados. onto de vista a ser smumido nio exige explicacio, ja que resulta fda propria condigin de quem cxereve ese ensaio. Mata decisio de publicar tal visio deve ser expicada. O seguinte item sera, pos, fentativa de autojustificata do autor, ¢ deve portanto ser tomado ‘cum grano sais ‘A histria enguanto soma dos ats deciivos (res gestae), « no enquanto tambem soma de sofrimente, se tem desenvolvid Std agora (isto. & nos allimos 8.000 anos, aproximadamente) em larga faa que cinge 0 globo entre os graus 25 ¢ 60 do Hemisfero Norte. Nio'se trata de um perlodo muito amplo, j& que perfas apenas 2% da existencia do homem na Terra. E provivel que a Ihumanidade no sja nati desta fxs, € quicé a histéria toda no pane do método da humanidade para adaptarse a ambiente nio Inteiramente conveniente, Uma mancira de ler a historia € seguir 1 curva tagadas pelos pontos de decisio demo da fata, Eat tal leitura, por exemplo, » abertia do norte da Europa no século IV fe do norte da América no século XVI serdo tomados por momentos Aecisvos, ¢ efetvamente a histvia € geralmente lida desta forma Mas, vitor @ parr de wma distncia maior, is tras e saltos do ponto deciio na faxa no parecem consi a verdadeira medida {a hisira, © uma outra medida se impie, a saber: da relaglo ‘entre a fina hstriea e © resto da humamidade (um resto que pode Ser chamado de ahisérico ow préhistric, no importa). Esta se guna Teitura da hstriaestd se tornando mais comum: a humane flade extrshistorca deiaa de ter exdtiea, o mundo por ela habitado tdetea de ser chamado ine sunt leones e pasa a ser chamado “ter ‘eira mundo", ¢ © problema da rlacio entre histéria © naochistria al problema aparece na consciéncia sob duas for: mas, Uma o vé como deafio de enquadrar na humanidade historia 4 humanidade nioshisoria, e & esta a forma que caracteriza as fociedades hitéricas (por exemplo o Ocidente que “ajuda no de- Senvolvimento’, © 4 China que “ajuda as revolucoes libertadoras") ‘A outra 0 vé como desafio de depor a fxs histria, ¢ esta forma Caracterivaalgumas sociedades nio-histricas (por exemplo “negritide" © 0 black power 1s, no entanto, outras formas de © problema apare- cer na consciéncia, € uma € esta: € poswivel tomar a histéria no entido acima proponto como epiciclo de 8.000 anos sobre un ciclo maior a humanidade, que dura centenas de milhares de anes. E posvel dizerae que existem sintomas que apontarn © prdximo fim Be tal epiciclo, Vito da histéria, nto significa que esta emengia da prehitoria para mergulhar em porhistria, em fururo préximo. E ‘fetvamente ha vores neste sentido no Ocidente (e nio sio apenas ts vores da ova eaquerda dos hippies). Mas, visto da niohistéria, isto significa que o epiciclo hitrico surgiu precariamente da nio- histéria, para nela mergulhar novamente. Porque do ponto de vista dda niotstéria nao tem sentido querer distinguie entre “pré" “pis. 8 que significa o mesmo. Eo problema da relagio entre historia niorhistéria aparece agora como problema de absorver oramente a histdna em adohisoria 38 Este ponto de vista €raras vezes assumido,e € ainda mais raramente publieado. Ito se explie com facade. Porque ssumit al ponto de vista inelectualmente, como ginistiea mental. ‘cosa facil pode tr feta por todo aquele que tem intelecto tm pouico treinado. Mas inistir existencalmente sobge tal ponto de tina €acesivel a poucos, apenas para quem senteo prOximo fim da Instéria em todos os seus nemos,€ simultaneamente vvencia 0s problemas da nio-histria no préprio corpo. Para poder sentir 0 Pameiro, & preciso terse originado em sociedade histoica, © para ‘Vivenciar 0 segundo, € preciso rier em sociedad nio-histria, por ‘exemplo: ser intelectual brasira imigrada da Europa Mas em verdade nem requer ito basta para asturie tal ponto de vista, Nio basta pelasrazdes seguintes: 0 imigeante intelectual tem um papel na vsociedade subdesenvoliida" a 5a ber: propagar os valores hstricos em novo ambiente. Este papel € tio sedutor, que poucos a ele fesstem, e destarte 0 imigrante se transforma, sem se dar conta disso, em catalisador da historicizacio do novo ambiente. Sem se dar conta, porque, s¢ no estivesse atordoado pelo choque da imigracio deveria lem brarse que, afinal de conus, emigrou da historia porque a hiss téria the € problemética a ponto de ser insuportavel, Acontec, € claro, que o imigrante se torna consciente disto e assume 0 fealo de bom grado. Mas neste caso di as cosas & historia, qual Gauguin, e se desiteressa dela, Em ambos os casos € impossvel assumir © ponto de vista aqui proposto, porque o primeiro & frato de um engajamento na historia, € 0 segundo de um Aesengajamento dela Para se poder assumir © ponto de vista proposto, € necessirio que o imigrante te tenha perdido tanto na histéria {quanto na niorhistéria, © que procure orientarse em ambas. Que duvide de ambas, sem desesperar de nenhuma. Fortanto, que nnio deserpere da naohistria (como o faz a maioria dos peas ores do “Terceiro Mundo”, o# quais procuram desesperadamen- te penetrar a histria dentro), nem desespere da hiséria (como © fazer tantos pensadores ocidentas, os quats procuram desesperada mente uma sida dela em diveclo de uma niohistria romantics mente paradisiaca ¢ mentirosa). O autor cré estar na situacio rel tivamente rara de poder asumir existencialmente o ponto de vista proposto. E ex relatvarardade represent, assim o cre, uma jus titieatva para a publicio do seu ponto de vist s Para resumir 0 que ficou dito: este ensio asumicé 0 onto de wsta de um intelectual burguér brasileiro, imigrado da Europa, para tenar imaginar, a partir dele, a stuario do burgues itelectoal ocidental em geral.Nutee a esperanca de que 4 raridade do seu ponto de vsta porters contribuir pare que outros se orien tem e mudem o mundo, Quanto ao método a ser seguido neste ensio: sed empreendida a tentatva de dar um passo para tris com relacdo, 8 situagio de um intelectual brasileiro imigrad, para ver tal stnacio A distancia e permitir que ela propria se arucule. Into significa que Seri feita a tentatva de abandonar todo preconceto e todo valor fntes de dar o pass. Tal método consti, geralmente, 0 método a fenomenologia. Quem j4 procutou aplicsla, sabe que € um método muito penoso, porque exige consiante autocontrole para fevitar que os preconceits e valores (gue sio muito pegajsos) no ‘eontinuem agarrados aquele que se afasta. Mas pode serum métor {do extremamente poderoso, porque, quando aplicado com éxito, revela a propria eséncia das coisas Portanto: este ensaio procurara ver, descrever € rack ‘ocinar despreconceituadamente. “Despreconceituadamente” signi fica mio apenas livre de ideologias, mas prineipalmene tambem lire de conhecimentos, to €, de teers A attude seri poranto rio apenas despida de salore, mas também de instrumentos das léncias especializadas. Nao serd pretendida anslive sciogics,eco- ‘nomica,etnoligca exc, mas, plo conteirio, do posivel conhect ‘mento que porventura existe Ro autor quanto aos métodos« res tados destas dsciplinas ers posto entte paréntesen, a fim de mio Perturbar 0 fendmeno mesmo. Destarie Se procirars comeeder palavra a0 proprio mundo vital do autor, para que isto reste em Imagem via e vivicada, Obviamente o autor ado conseguirs evita aque valores e conhecimentos, tanto “fluor” quanto “verdadeirs", se infirem constantemente e perturbem imagem. Nio conseguirs tvitéto, porgue sabe que a visio ‘purs” nfo € apenas coisa da di Ciplina, mas também de um dom. e que pode ser forcada apenas XE certa medida, O resultado do entaio teri (se este tver pelo Imenos éxito fragmentiio) uma imagem do brasileiro do ponto de vista de um imgrante da Europa. Isto explica 0 stulo do ensao, ‘Quem quiser pote efetmente ler 0 ensso asim: como descricio deur pais seus habitantes. Mas, conforme fot dito, esta nio € meta do ensaio. A meta € fornecer uma imagem, a qual, gracts & 7 analogia « contaste, porta servir de ortentagho 20 ocidental em feral e-em particular a0 burgués intelectual do Oridente Parece exist, todavia, far parte, uma cera contra cdo entre método © mets: 0 método € permitir que as coisas da situagio se artculem expontaneamente; a meta & falar, sotto voce também em coisa nem sequer Vistas e, 2 saber, gragas 30 contrast ff analogia, © método continua nio deiberado, no sentido de nie fmanipular as coisas deliberadamente para que sustentem teses preconcebidas. E, enquanto método, persegue, como todo méio- fo, uma meta “Varios setores ds cena brasileira serio escolhidos st cesivamente,a fim de srem slaminados. A escola seré puramente Subjeta, no sentido de obedecer ao inteesse eA vvéncia de quem ‘ccreve cate cnstio. Mas esta na dialéuca da coisa que a escolha ‘ubjeta provoca a coisa para ser objet, isto €: coisa. No final sera fensaiada uma sintexe da imagem sob a égide do ponto de vista. E {al imagem sintetica nio passaré, ela propria, de meto setora ser por sua ver sintetizado exh visio mais ampla de wma siteacso mais fmpla, Apenas em tl sinese maloe adquird a imagem o seu ved feito sentido, «no fundo asim que exe ensto quer ser do. Para formular 0 mesmo fato de outra maneira: 0 presente ensaio é um depoimenta da nowsstuacio do ponto de fist de_um imigrante brasileira, Como depoimento, procura nio tpenas darse conta a si mesmo ¢ ao¥ outros da stuagio na qual fstames, todos, mas também encontrar eaminhos e sadas. Em tal ‘depoimento aparece, expressamente, apenas o mundo vital do favor, 2 saber, 0 Brasil, mas tambem, smplicitamente, a stuacio feral de ne todos. O depoimento procura ser honesto, mas sabe fue a honestidade € um ideal de muito dill aleance. Portanto O depoimento se oferece assim: enquanto ensaio, nao obra — ¢ sim quer ser ldo, Para resumir,finalmente: neste ensaio seré tentada uma descrigio fenomenoldgica de um Brasil vido, para sendin de ‘mapa, por analogia e contrast, a uma humanidade tio perdida {quanto'o &0 proprio ensaio. Ax analogs € os contrases deverio ser fomecides pelo proprio lito, do seu proprio ponto de vista. Por ino, a8 consideracoes que te seguirlo esto neste sentido “aberas™ fo ensaio que pataré a ser obra apenas se encontraleitor que © complete 8 Imigragao Hé na literatura que tata do problema da imigracio uma curiosa lacuna. Patece que poco ot nada tem sido ererito Sobre um tema que se poderia chamar “Filosofia da Imigracio Timigracdo da Filosofia" Embora © fendmeno da imigracio tenha sido exaus- tivamente analiado de numerosos pontos de vista (expecialmente ‘os paises imigratrios), quase aunea o foi do ponto de vista do Inelectual imigrante. Isto € surpreendent, jé que deve ser suposto ser justamente 0 intelectual o mais indicado para articular a situa ‘io existencial do imigrante, A explicagio dito lve seja eta: a Sitwacio imigratria€ de dill generaizacio, ¢ a generabzacio € 3 meta da visio filoséica. Em toda situagio migratoria predominam (0s fatores especificos (por exemplo © background séciocultural © [Reogrifco do migrate. teritério em que imigr, © 0 momento histérico no qual o faz), € estes fatores encobrem a estrutura da sitwacio quase inteiramente. A tarefa de desencobri tal estrutu- ra geral parece condenada x0 fracaeo (jt que existe 0 perigo de ao remover 0 especifico, perdermos © proprio fendmeno), © 0s pensadores estio aparentemente prontos a abandonar 0 estudo fo fendmeno as disiplinas cienifiensexpecilizadas, como sejam 4 sociologia, a economia, bilogia © 4 psiclogia Mas 0 fendmeno da imigragio € im aspecto impor: tante da hintria em geral da atulidade em partis, e, rigor, rio compreenderemos nem a histéria nem a atualidade sem onsiderio, Blondel dir que a verdadeira historia consisted vidas ‘humanas,€ vide humana é metafsica em ato. Pois se “metafsea™ tema ver com “superagio da situaqao", x vida imigratonia ser exem- plo extremo is alirmatva blondelisna, jf que tal superagio the € Eomeco. Portanto uma descrgio fenomenologica da situacio lmigeatria pelo proprio imigrante deveria a rigor poder desvendar ‘estrutra de toda vida humana, isto nio a despeto, mas por Causa dos fates especificas que a caracterizam. Tal descricio fdeverin desenterrar categorise apliciveis 4 situagdes inteiramente Giferentes, Uma tal tentativa sera agora empreendida. Nio no Sentido de visar a0 oferecimento dessus categorias js prontas para ‘oo, mas no sentido de provocar o letor a escolher tis catego fias que the parecam apliesveis 4 situacso na qual ele proprio se (© ambiente braileito se oferece 20 imigrante de for- sma ambivalent, Para eapae 4 ambivalenca,o imigrante deve liber tarse doe preconeeitor que Ihe encobrem a realidad. princi mente dos preconceitos "pais now, "sociedade abeta’ € "terreno lmericano™, mas tambem dos preconcetor “opial” “sociedade Iatina™ Tas preconcetos encobrem a reaidade mio por serem fabs, mae por serem mets vetdades, ¢ melas verdad sio periciows. Retirados os preconceitos, o Brasil aparece 20 imi srante na seguinte forma o primeiro contato se elé com uma massa rbana heterogénen e quase amorfa.E verdade que a massa fala toma snica lingua (0 portgués),« isto parece darthe estrutra Maso onnido atento descbre que ex lingua aio ¢ infeaestutura (como no caso das sociedades européias), mas que forma um eto 4 reunir a maset, qual esperanto ow hoiné, deal do qual pulsam inimeras outras linguas que se refletem no proprio portugues para poder penctrar a massa © ntegrarse nela. Mas, fora disto, cla nio ‘Merece obstécuo digno de nota. E masa num sentido mais radical ‘que & populagio urbana evropéia, A sua monotonia e a fala de fticulagdo (que contrasta com a sua heterogeneidade) € 0 que primeito salts vista, em sua a falta de especiicidade. quando Sio Paulo serve de modelo (o modelo éaplicivel a muita cidade sulina, sas ni a toda cidade branlera, por exemplo no 20 Rio de Janet +0, nio as cidades a Bahia). ‘Ao penetrar na massa, 0 imigrante descobre no min- 0 um arquipélago de ilhas em proceso de decomposicio lena, Toda ih corresponde uma sociedade européia, ou a alguma sociedade do Oriente préximo e extremo, © € habitada por im srantes dene rociedades, seus ios, © no miximo netos As thas Se diluem na massa que as bunha ese ndo se diuiam de todo, & por estarom ainda inigndas por corrente imigratria ja em was de ecat atualmente. Avihas oferecem a imagem das sociedad org nis em virat anes de decadéncia, desde um agarrarse central © rigid a formas trazidas, até urna vga lembranga periférica dos wos f abusos dor antepassados. O ritmo da decadéncia nio depende fpenas da correnteimigratoria renovadora, mas também da right fe complexidade da sociedad original: japonescs se iluem em rt ‘mo diferente dos arabes, udeus da Polonia em ritmo diferentes dos franceses. O imigrante descobre no arquipelsgo também aquela iha que corresponde & sua propria origem, ¢ vvencia» choque da ‘decadéncia, da provincalizagio da primitviagio, 0 que facili para ele a ruptura dos elos que o ligam a sua origem, ‘As ilhas sio banhadas pelo mar proletirio € subproletiio composto de descendentes da populagto rural ras Teira, de descendentes das populacSes das propria thas, e irrigado por constante e crescente imigracio do interior brasileiro, Hi, nese mar, tmbem descendentes de excravonafricanios Hbertos no fim do clo pasado, que formam poreentagem elevada (o que impress fona o imigrante), mas porcentagem nio decsva, A imigracio do Interior far com que as ead cream rapidamente e extravaser seus limites. Tratese de massa humana desenratzada, que per- ‘dew sas estruturasareaicas,inadaptaves A vida urbana, sem eriar howar, x nio ser a estruturs da mig oa € 0 ritmo do aparelho Esta massa humana ¢ alienada de tal modo que o capitulo reser: vado a0 problema neste ensaio nunca poderd exgotblo. Dene mar comeca a erstaliarse uma camada relat= vamente estes de pequena e média burguesia, que por sua ver di forigem a uma finsima camada intelectual e académica, uma espé- ‘le de elt, Poi serdo estas as pestoss que formario 0 mundo val fo imigrante, o campo do seu engajamento, seus amigos e inimigos. seus praveres e sfriments, ¢ 0 desafio para os seus aos. Diferem da burguesia europtia c, comparados com ela, causam impressio agradivel, ler devido 4 sua origem diferente, jf que no desce- dem, como a burguesiaeuropela, de artesos e proletiios, mas de Imigrantes, nto europeus quanto brasileros, em geral campesinos © desentaizamento da populagio proltria se transforma nels em bertura, relative falta de preconceitos © eaptto aventurciro, © qu jo 2 tipica moral burguesa de producio, eria um lima a jo de empresse na Europa. Esta ‘amada € 2 princpal portadora da responsabilidade pelos destinos {0 pas (na medida em que ears destinos sto decididos no proprio pai), configurandose praticamente na uniea fonte do seu progres fo econdmico, socal e cultural. Pasa a ser, ambém, portadora das fendénciae poitias, tanto das revoluciondras, quanto das conser floras. Mas, despeito disto, 0 desenraizamento € nitidamente ‘onstatvel também newsis pesoat. S30, no fundo, homens perdi dos, que nio se encontraram nem enquant individos, nem muito ‘menos enquanto grupo, ¢ que buscar identidade por vezes dese peradamente. Uma densa névoa de ideologias européias dificulta Binds mito encontro cansigo mesmo. Finalmente oimigramte descobre na massa urbana um infimo grupo de noveaueviches que vegeta em hixo ofienal sem jamais sequer contemplar 0 papel de elite que poderia desempe- Inhar esrutualmente. Interamente alienado de si mesme © de sua fociedade, tal grupo aparece 20 imigrante apenas em forma de palscetes isch, de apartamentos opulenios € de noticias "socks" fa imprensa de segunda categoria seve apenas para salientar, por conase, 2 miséna das cidades ‘0 segundo contato do imigrante com o ambiente bra sileiro corre muito mais tarde, ¢ € como homem ror, que forma 4 base das cidades e grande maioria da populacio. Ao contririo da ‘massa urbana, o homem rural se opie ao imigrante. Todas as suas ‘ategorias curopéias para captar a realdade falham perante cxsa ‘gente, inchisive categoriassociais aparentemente tao fandamentais ‘como “Familia” e “aldeia, om eategorias prcologicas como “algria™ fe "rava™ Porque aqui o imigrante ve of conta de ter abandonado hi apenas o tereno do Ocidente, senio da histéia toda. F yerda- ide-que cssas peswoas descencem em parte (‘alver em major parte) de europeus, a saber, portugueses — mas hi tempo. perderam ‘qvalquer contato com 0 Ocidente, mio apenas por causa de sua Iistura com indigenas e negros (sto seria o de menos), mas prise tipalmente por causa da ssa enorme soidio, do clima diffe © da ratarers cel que os ceeea,Perante tas homens 0 migrant se da conta oa falta de fundamento da populacio urbana, que repouss Sabre fal infrestrotura A populagao tural ndo € nem “nota” nem Jovem” (embora seis constituida em grande parte por crancas). ‘nas é tio antiga ¢ memorial quanto 0 € o neoliieo no qual vive menialmente.A saber: joguete na mio de forgas superiores benig a fas out, ni? maioria dos casos, malgnas, 2 serem constantemente propiciadas. Mas ado se trata de autentica magia nem de autentico heaitico, porguc nio se trata de sndigenas, senso de curopeus Secadentes” A snautenticdade dos rte se exprime num sincretsmo ‘abtico {rites indios © neyror e costumes europe, sperfcialmen: te informados pelo catolicsmo € pelo protestantismo americano, ‘com leve dose de um cutiorisimo postvismo), e mais ainda a0 teigica fato de que a magia nio abrga estan pessoas como abriga verdadeiramente “primitives, Pois exes homens no tomaram posse them ds sua terra nem de ni mesmos, mas fatwa, tomados de um stordoamento secular chamado “saudade", nas suas imensas plani- s, quas desrocon nas ondas. Nio que sejam némades (como 0 ‘ram os fndios, seus antepasas paras), mas no seguinte sentido: rio possvem o chio que cultiam de maneira areaica, nao bro- taram rairesnele,e quando ocorrem catistrofes naturais ov outras Ginfeliemente comuns), abandonam a terra em ondas. Sio alhe Osa si mesmos «su terra, ¢ olham espantador o mundo, i Clusive 0 migrate. Pode no entanto perfeiamente ser 0 caso de tudo 0 {que Ficou dito nio pasar de engano de um oeidental que procira ‘nterpretarfendmenos incompreensives (€ “oeidental” nao significa apenas imigrante, mas também cients brasiciro). Os fendmenor, © ficar parado na exquina olhando @ nas, 0 iar acocorado nos ‘alcanhares a las indlas de descalgos ao longo das esradas, a mulher ‘descaleae vestda de camisa de algodio montada em mula, a8 crn ‘i suas brincando com virvlatas em chio batido das eaas de lam tudo isto engana. Porque © caboclo que voire de todas a8 doencas imaginiveis € capaz de resistencia esforco surpreendentes. Embar fa aeja anallabeto e ignorance, dispoe de inteigencia ¢ wonia que formam ums fonte ainda nem sequer aproveitada para uma aut tea cultura do future. Porque o eabocto sinda nio exiow cultura ‘omparivel com verdadeiras cultura “primitvas” (aqulo que passa por "cultura primitva” no Brasil ou € feito por primitives debe os, ou € Asch), mas dispoe de uma cult do coragio que se manifesta em coresia quate cavalheirewa. A sua proverbial paige ‘ia € igualmente enganadora, ja que pode explodi repentinamente fem violencia individual ¢ coletvs, para sowsegar gualmente de re- pene. A sia aparente submissio exeonde wm orgutho e sentimento {de dignidade tnaceasieis a tm “cvizado™. Tudo ito prova que 0 imigrante € incapse de compreender cua gente, e deve se far em 4“ iterate que consegue, raat veres © gracas A empatia, capar es rmentalidade (por exemplo, Euclides da Cunha © Cuimaries Rom). Esse mundo ahinrico € arcaco € penetrado ultima mente peta historia de forma olenta. Frincipalmente em form de ltofalantes berrantes que comunicam algo interamente alhcio 30 ‘mundo desta gente. Mas também na forma de extradas, de colonise ‘urals (por exemplo, japonesas). na forma da deeadéncia do latin dio, ¢ na forma de im Estado que procura, um tanto tardiamente, tomar 4 iicativa no rea teria, O cos mental esptitual que isto & conseqigncia nio comecou sequer a ser analisado, O im fant no sente nem motivo nem incentivo para fentar asimiarse 4 ess populacio, nem poderia faxélo, dada a estrutura fechada ‘desa sociedad, mat ea continari formando o horizante de todo 0 engajamento seu, um horizon infelizmente nem sempre consciente. Porque € perante ex gente que cle seri, em sltima Andis, responsive por seus tos ‘0 ultimo contato do imigeante com o ambiente bri- sili (um contato que nem sempee se da) & com aquele grupo de pessoas que se toma por "verdadeiramente brasiras”, Tratese de fima pequena minorla de pseudoaristocatas, deseendentes, em teoria, dos primeizs colonizados do pais no século XVI, com perso- palidade nftida (vtiante da cultura portugues), nivel intelectaal © Imoral alto, e que forma uma sociedade endogama e fechada, Vive ha maioria dos casos nas cidades (e € indferenctvel da burgueia, para uum observador superficial), mas ainda se Tundamenta em parte ha propriedade rural (na atualidade, decadente). Ainda que se tate dde grupo pequen com influéncia decrescente, € importantsiino para a compreensio do pas, jé que: (a) representa até hé bem pouco tempo a sociedade toda, (b) criow ou possibiiow pratca- mente toda a cultura passada, e(¢) deteye 0 poder politico, do qual se separa atualmente com dificuldade, E um grupo tigico, porque imigrante no préprio pas; 20 contavio do imigrante europen, 130, audmite a sua prépriasituacio para si mesmo. Tomase, a despeito, fe provas ébrias, pelo contritio, como elite decisia, ¢ luta por ‘um Brasil que existe apenas na sua meméria © nas obras culturais por ele criadas. ‘A tragéia do grupo & reforcada pelo fato de que ele tem rario em chamarae "o verdadiramente braseira” Se algo € bratileino, esse algo € a menalidade dessa gente. Uma menalidade aherta © sedutora (embora se tate de sociedade fechada), influen- “ fo (o leitor ficou advertido que 0 exagero € um método deste tensaig), Todo homem € estencialmente antinatural, n3o pode haver hhomem natural, € menos o caborlo, ewe decadente. De mancira fque 2 sua unido mistica com 4 natureza nio pode ser tao perfeita {quanto o excaplo suger, Js foi mencionada a difculdade de cap- far a mentalidade do caboclo com categorias ocidentais, © no pre frente contento se dessird da tentatva. Apenas € preciso dizer que tno caboclo vem projetada uma vivéncla da natureza que espera ser ‘evelada ¢ cand. pelo “brasileiro no melhor dos estos" ~ uma fenre se miitas tartar de uma fatura cultura verdadeiramente brax ‘Slera © que nos leva 4 segunda maneira braeira de vvenciar & fatureza, ito & enquanto lutador pelo espinto humano. Ao espirto humano Tutador, © a0s seus tenticulos rmaterializdos, on intrumentes, a natureza brasileira oferece um inimigo terrvel. Quando Mane flava em peefidia da matéia, nio imaginava + perdi soratcima da naturera brava, Uma perfidia fque se apresents como aparente submisdo ¢ plastiidade, © como Feal subterfigio, na forma de uma mana que sempre escapa. Nao se fpde 20 homem como bloco de granite que faz recuar 0 espitito © ompe os intrumentos, mas como parede de algodio, na qual 0 tspifito se perde sem eco © of instrumentos se perdem sem nada ferem agarrado, Este carter pérfido pode ser demonstrido no «280 ‘mais dbo, na agriculture 1 sentenga famosa “plantando di” pode ser tomada literalmente. asa abrir campo, rabalhéto superfiialmente © espe rar por duas colhitas por ano. Pois a petfidi da navureza faz co ‘que esas duis colheitn sjam as ultimas a serem esperadas Esta Mfirmativa hoeriel (o qui horvivel ela € pode ver captado se com Sideramos que se trata de tera que se recusa a almentar 0 ho- tem), se cstende sem grande exagero A maior parte da superficie brie, Se tomarmos a baci amasinica (a parte mais hore, tas mito carateritia) por modelo, dar no seginte: I's terra tao € colo das planan (¢ portato. davis), vm colo no qual se Brigam e que a aliment, man nio pasa de be mecSnica na ual fe apsinm. O ciclo vial despresa terra ¢ circla enue plana © sé. A atmontera de etfs e a quantidade dponive de dm pos bia o ereximenta e 0 desenvolvimento de Arvores giantess das madeiran mais bres que formam 4 Flores Amt, mas ‘no positiltam pratamente outa flora, © 4 cap formada pels open dos ggants esconde 0 roteio da sombra da morte ‘Quer quer abi ena seo 8 vid (por rad, on Iago) teré a seguinte alternatives conserar floes © procurar sprovetba, ou devrubila e procurar fazer agscultors. No primer fo cato constatars que, a despeito dat madciras, forests € inaprovetve, dada a mitra catic da espécesbotinica, Sbliando spovcamento tecnico, deforma que € ras ek Ona, em cao de connrugo, importar madeira da Flndi que tira a florestana proximidade imedata. No segundo caso come tatard que este aparente limo pario da flrs oa Tera, una ves dep de ia cobertira vegetal xe tansformarsrapidament cin desero de peda. Quem the tar » miscarn vegetal descbre 4 fealidade: pedra mori. Ei um exemplo imprconante da. pert din da matron, ‘bviamente, » Amazdni € exemplo extremo, mat tho 0 nico diponivel. Out seriam van ropibes do Nordete {qe mtentam, em anen de chun, denenas de maltes de pomons (embora precarament), mau que esio sjeas a secu periods que a wanaformam er deserts, seus grande vios em ales, © tha populagio em mendigos sedentos¢ desespersdos, Ow as tstepes do planalto que florecem paradiicamente durante pow fas semanas para depois se tansformarem em arbuster mortor 4 sutentar penonamentetuiton milhScs de vacas magras © vague fo iqualente magros. Ou os rio gigantescon, on Guat, como 0 Sio Francaco, transportam maseat inacreditavelmente grandes por regides sedcata, ov os rior sulinos que tém a falta de ergo fnha de correrem todos na dregao contaria (do oceano pars 0 Continent), «nia formam portanto artéras de transprtes (como no resto do mundo), mar obsiculos 30 transporte Os exemplon ds peridia da natorers bral podetians ser oliplcador fl. 7 4 vastasregies nas quis a natureza se comporta um pouco menos maligaente, man em geral, part wabalhat tera F previo tabalhila com s mobilizacio de todos vs esforcos © wt ‘eho todon os traques de una téeniea svanada. E isto também € ‘Males um teritonio extenso que 36 permite agrculura intensiva iMihdo como as pradarias americanas, mas como os rales de um Japio Tuperpowoado, De mancira que nio € 0 ator americano que cars: feta’ agricultura bral, mas a enxada japonesa, © € possvel lirmarse deste pas vavio que estd superpovoado. ‘0 que falts aqui €-0 aspeeto materno e maternal da terra que projeta as suas dadivas exoberantes sobre uma human de grata, 6 aspecto etnico, Gaia, Magna Mater, e € ete 0 aspecto ‘gue une profundamente gente tio diferente quanto © € o campo- més proneneal, 0 flakhanilétco, 9 Kolkosmk sovitico, 0 coletivo Chines c-o hind de casa Baixa’O que falta aqui é a posbilidade de mengulhar a mio ms terra va, fazer com que se derrame entre fs dedos, «sentir o parenteo iatimo entre homem ¢ terra, O imigrane sete sempre’ essa saudade ncolitea da terra, este ventimen to cs terra e wots ser terra ~ qe se artcua desde a Genesis até Rie, e que aga falta. Quick a sadade Brasiers no € no fundo seni Ge nio mais ser terrae de no poder volar a ser ter, ois perfidia € fundamentalmente © fato de a mate reza se comportar aprentemente como mie (em todos os aspectos. fifo apenas no da agricultra), ¢ ser realmente inimiga. A maturers qui € madrasta (para continuar com + terminologia arquetpica), € fo brasileito € o enteado. par excellence da naturera. A esencia baile € incompreensvel sem este aspect. Para salient 0 cars ter "madras" da natuceza, que seam dados mas alguns exemplos © Brau € terra quente e no exige protecio do trio, por iso tanta crianca morre de frio em noites que tmnca caem ficbaixo do ponto frie. No Bratil ha montanhas inteiras composts de minério de Ferro que basta arranhar superficalmente, mas no hg carvio mineral, €o cardio pobre que existe achase 4 distincia de inihares de_quiletros do ferro. Brasil possi ers dos matores Sistemas Mavis do mundo © portanto um Sistema ideal de canais Inara, mas un dos svt, © amazinico, cobre 0 inferno mem ‘Gonado, 0s outtos dois (0 do Sio Francico ¢ o do Parana) sio interrompidos por cachocias gigantescas (Paulo Affonso © gies), tomando o pals uma das poucas regides sem naveyacio Mal digna fde nota. As oselcoes anuais de temperatura sto ffimas, de forma 68 ‘que patece exis condcio pars comsruces grandes (etd, aque: ttn rain dx fevoh pa dupes triperetos, ms oe Sha. Tacs eras oto acentudas (as veses norm de 30 gras) que, peo conti difeutam enormemente exe tipo de br xemplos mas bruni do carder “madras da nate rera poderiam ser fornceidos com faclidade, Exe carder “madras ‘2, combinando bondade e rquetaaparets com maldadee pobre 4 real, fem conseqiéncas profundat nu mentldade brasiea, A ‘alora dos raster tem dfcildae em reconhecero verdadcro Cavite da natrers, © ditciliade ainds talor em vvencisla, E, tmesmo se no cio de sun Ina anna © basivodescobvi ¢ Siuagdo real, ters ifeldade de adil, Anatuera sui mascar Tada coi a Wdeologis que a encobrem, Amul nip 6-0 caso (como ta Europa), em que a praisrompe auomaiicamenteWeolog, © em que 0 tabatho automaticamente se aliens, porqe a allenario crtaria na propria attde da naturera (ee: forpermitide antropomorfta um pouco).« para rompel precio que a piss Soja completa com esforgo ional do itlet, um eforco que tome conscienteo trabalho reaado, Logo, o marismo no pode ser wanfrio para, nem sequer no caso do trabalho, sem Aap tacdo previ Mase rupnra da allen for conse, io & se-¢ quando brace se der conta do eardcr ral da nataree © dena peigo real perute el, urge uma peronaldade provrck mente sem igial no resto do mundo, tater, oma personaidade que te empenta consentemenie no epito emanto dignidade {Sbrenatral (por antnatual) igniade ea que we maniesa em por 30 mero serauim da nature o teu deveraer de manera impesios, cores eventos, Io nfo € acm fealama nem Ides imo, mar nuperaco epontnes (por concret «exten des anvinomia nett qe alge a humanade cs historia ht centenas de ane. No Bri pode urgir um tipo humano que ca oma si tes vente Heat e realiomo, 3 qual, por configuar mancr ‘a comcrta de to pa a const va tse ns contra {Um novo homem ests surgndo: em savage ele pode repre temar se aleangado, um modelo pare ua humanilade em ee ols af agora nko se fou no apeco mal mparar- te do problema da nate teaser, [que mature € nnigo no que exige moblicagio de tot a Toran (ano das forse intelectual, quamo das do senimento¢ da intlgy, para e viet 69 aqui digna signicatvamente, nh restam foreas para serem mobi Webs eoneree outro homem, O que acaba de ser do, de mancira det Com formulae den fo comer. pode ser formula Tikal um pouco mais ea dizendo que o bravo verdader 45 Pit homem incape de ocar ive © our, porque toda & ‘Ra‘ciputdade pars, todas sua enegia pra ira, od ‘Grego da sun aco € mobiada contra nature. E ete ago fndamental da exencia baila merece ser melhor ihuminado ‘© caropen (e outee"desenvolios") vive em soe dade que doming tefnvanente 8 nairera (peo menor 8 nat eae she cere sociedad) Por pode asumir erate cla 3 fhe ees de tut orto, le eamberm de enorme vidade de ener nfo gua, de ono consumido, de impul PMlho retando pure a bse paras wisi, de wontade de gir TPaunferar © dige todo So cours 0 outro homer. It sigs, “Shotogisment, que o outro ormem pass ser objeto, resend, robe subst omtlogcamente ina natera vencida eta Ronan ewctcamente em obra, Deste cao surgem as céncis Mi Un natures Por tp cence a dfculdade deo homem reconhece: {Sno ont tansformado em jeto conhecido © manipulve, js {gue reconhecmemto enge descoberta do nyo ato, « sofredor, Ser te Comsegaenea ut €eescentesoldSo humana (porque Sendai comuniayao 0 logo do reconhecimento, © 30 0 “incu sentco ¢antepogico sobre 0 “homem"). Outa conse- GRknce a tendénca do homem de tomarse a mesmo como Spjctoe desare antacoicrse. Ete ft tetvel nao pode ser seSrado por muito tempo porno morta gue upo de progres, Traor € clatament © propesto que fem provcado € provoca © Fro" Todor os movinentos de contestaio (Ao apenas o& pps kee des mm ln xp nese Bt brie cao abe deo ty gras 2 vos, 4 imprensa, ¢ 4 shagens para ov paises desevolidos, mas nio ombgue tvenciat © prootema, f verdade que 0 problema 0 {mrerens se espelha sempre mais nos seus eseios ena sua acumen, ecom ratio, je que € precio tentarcompreender hncea que determina ta alto rato brane. Mas 6 problema tio € seu enzo ihe diz respeno smediatamente. Adaltica interna da sua defsagem com relalo 4 Rtria (da qual este 0 ¥ ‘ensaio tratard mais tarde) se manifesta da reguinte forma: de um lado procura, inautenticamente, porque especulativamente. tor nar o problema seu, mas 0 problema rerve para encobri ideoto gicamente sua stuacio verdadeira. Por outro lado prova cxisten fialmente que no compreendeu 0 problems, jé que procura ddesesperadamente penetrar historia na qual o probleme domi: na de maneira nelasta, Se, no enlanto, conseguir romper tal ideologia, a sua situacio se the apresenta, sob este agpecto, la 4eguinte forma: a Sociedade brasileira lua, inconseientemente (e, em pequens part, ‘onscientemente) contra uma naturers pérfida e madras, « todo hhomem individual € aliado dbvio e espontines nessa guerra contra a natureza. Se diflogo for democraca, eno a sociedade bral autenticamente democritica, muita’ vez a despeto das insti bes que procuram estuturida. O brasileiro € democritico existen- tlalmente. A despeito de todas as dferencas enormes (maiores que allures) entre classes, racas,niveis cultura ¢ ileogicos, a socie- dade brasileira € profundamente unida enquanto sociedade dos que procuram impor a marca de dignidade humana sobre uma naturera maligna, Desde 0 eaboclo analfabeto até cients, desde © proletitio desenraizado até 0 fildsofo igualmente sem fundamen to, este formando aqui uma solidariedae humana, solidaridade ‘ita raras vezes consctentizda pelo brasileiro, mas dbwa para 0 migrate, por contrase com a Europa Muitasvezes foi dito que a cordilidade caracterira 0 brasileiro. Aqui este waco se torma claro © merece a denominacio, talver melhor, de “amabiidade”. Esa gente merece ser ama, ji {que aio sabe ser odiosa. Nem thes acorre odiar 0 outro. ja que Tomam por dbvia a sua taela de estabelecer a dignidade. humana (@ dignidade de todos of homens) perante « nature A atmosera ‘diosa dos paises histicos thes & mcompreensivel,emborassibam da Tua compeiiva, da invela burguess e do catreiramo ferox que 1 impera, tendem a interpreta tals fendmenos como manifest Bes de ideais pollicos e outios, em vex de interpretélos como Imanifesacdes de uma stuacio exstencal tersve, provocada juste mente pelo. progress. A solidariedade brasileira nio implica sentido de rmitua responsabilidade e, embora sto poses simpreender, ¢ fac mente exphcivel. A responsablidade pelo outro € responsabilidade coletiva por grupos (por exemplo “os pobre", “ox etnamite”, "0s aposentados’), to 6 por grupos com os quais mio se tem conto CRisencal e € resado da objedracio do outro. Astimese respon Sabildade por grupos (c aqui nie € o lugar de questionar a since Tidade dene assumir), porque se 6f€ saber como manipultos. © porque se eid saber que etio sendo manipslados de forma erra {ia Mas 0 brasileiro nao vss a manipslar pessoas, j@ que para ele pesos sio sujeltos, no objetor, ¢ poranto cada qual € respon Zivel apenas por sh, nunca por outros. No fundo,assumir respon URbilidade pelo outro € aritude comudria 2 essencia brasileira, Tata explicacdes so pretendem minimizar a fata de esponsabilidade que reina na sociedade brasileira, Ela se manifesta fm toda parte: por exemplo, na forina do vandalixmo com que sio fratados edicts ¢ lugares pablicos (para no falar em privados), © han forma de uma inacrediavel consienciatranqiila perante inj ticas que gritam para os cus, Extas explicagoes nao pretendem Iminimaar 6 problema, nas coloclo no se contexto a fim de tornde To solucionivel E precisa compreender 0 sequnte: 0 sentido euro: peu c americano da responsablidade ¢ resultado de objetvacio do bulro,transformou a Europa em “Mie das RevolucSes” (para fala tor com Hees). contin poderonamente para as gueras. Ea hta de responsabilidad € chaga socal que age o braieio. Superar 4 falta de responabilade por algo que nlo sea responsabilidad (c fui pala “amor” se iit de novo) & uma das acts gigantscas fque espera pelo "brsieio no melhor dos casos" "A soldariedade fundamental c irrexponsitel tem 0 carter de una conspiracio subtersinea, lagamente inconscient, Contra 4 natures, Temse a impressio de que até em Tntas sin fgrentacentte 08 dois campos da burguesia um pisea para o outro, im de ndo exquecer 4 tlidariedade. A solidariedade nao com eque evita dertamamcnto de sangue, mas, embora 0 brasileiro pareca disposto a oferecer a propria vida ea vida de outros na fits em prol de ideas {por tlos que sejam), nunca sera lobo do fur. Para evitalo ainda restam ferae animals de sobra nos ma tos, lembrando 20 homem que € preciso unirac na luta contra ths. A ideologi dominante tende 9 chamar tal solidariedade de “eadicio erst", mas esta tradgio nfo é l grande coisa no Brasil, (como este ensaio mostra) ¢, ais, a bistria proveu de que ferocidades sio capazes cristios "verdauleros”. Na realidade se tata de uma autenter relagio intrhumana que caracteriza ceséncia brasileira, ¢ 2 disingue de outras. Fon este fio, a sabe, que 0 braeiro tem claro aunéntca,coneeta€ cordial com o vou proximo, € ui dos moines Iain poeronon para o engjamcno cm fro desta ter. Inllome te: no presente momento, multortendetao 4 tenegar tl expected tngaomento. Mulon pram o odio inclu scerdote), as pre fom, sta € a esperangas perante sun Mio se sano do feo recemaquido chum so “poltacto das masa, Mas a deseo, at agora a ideologue © metodostraridos da Exo nio conseuiram modifica fundamentamente a covdalidade sma Bidade bras, que a aeaca da natures continua mais te rnivel que a ameaca humana E pose ques no futuro, saci trade 0 do penere e neste ca 4 enéncia brea desapare, cerk: € pomiel por ext cancin mera virwaldade Se tote de, scrum pers do apes para opal sas para toda 3 humane, Porque'© que ene tape procera tmowtar € que 0 novo tipo humane, em desenvabamento agus pode seprsenar clement importante para a superagio dare dt ie a Defasagem Se a histria for comiderada desenvolvimento (digs mos, desenvolvimento de vrtualidades armazenadas no espiito ou ta informacio genética), constataremos surpresos que certas formas fe repetem 30 longo do proceso. Ha semelhanca curios entre a frquitetara helenitica a r0coe6, ou entre templos hindus do século VI e igreis espanholas do século XVI, ou entre as constru- bes pers do século VI aCe as construgées fasts do século XX ‘Seria difcl querer reduzi tis semelhancas para al uma relacio causal ete os fendmenos semelhantes. Obviamente E facil “explicar” a semelhanga,recorrendo, por exemplo. @teoras ticlcas, mas afinal udo 6 explicivel. Mais razodvel que explicar parece ser acetar o fate simples de que a aparente riquera de Formas no mundo ado € tio enorme, Para dar outro exemplo no ‘mundo da biologi, aparentemente tio rico em formas, aparecemn femelhancas inteiramente surpreendents, como entre eertos pe ev e certas borbolets, © entre eetor animais maritimes e cefas plantas terrestres, Parece pois que a natrera dispde de repertrio Timitado de formas (talvez imitado pela propria extrocara da maté ria), que o esptito humano & iguslmente hmitado no seu reper triode formas a serem impostas sobre a natutera (qui por fades semethantes). Por iso as formas tendem a se repetir (0 que nio passa de "explicagio, final de cont). Em outeas termes, 0 esp Fito humano enquanto ator no paleo da histria dispoe de mimero Timid de miscaras que reaparecem 4 medida que 0 expeticulo se desenvolve Dias coisas no devem ser negadas com isto: que sem: pre apsrecem miscaras novae (into 6, mscaras ro to anterior fgnoramos) © que, toda vez que uma miseara reaparece, adguite novo significado, O que importa aqui & apenas manter em mente aque ha “ases" na histria, ow sea, formas comparaves, sem que se poss explicar a comparabildade. Na tentatia de uma aproximaczo flo problema da defasagem este fato deve ser consttado, mas pode Ser posto de lado provisoriamente, afin de abe wma segunda aenida de acesio a0 problema ‘A todo instante histérco 0 esptito do tempo (ow como Aqueiramos chamar aquilo que se manifesta) se manifesta em todos fs fendmenos culturais, desde a lingua até os insirumentes, desde 43 moda até 0: ronhos. Ito significa que naquele instante w expiito hhumano smi ima mascara determinada Mas isto no significa que tos os homens contemporancos tenham asumido tal mise 3, nem sequer todos ox homens ativamente cmpenhados, Apens significa que uma elite decsva (a “vangvarda") consegui impor tal smdscara 1 Sociedade, mas que a grande maioris pode prfetamente ontinuar usando miscaras superadas, até muito superadas, Uma andlise da sociedade francesa no final do séeulo XVII poderia per- fetamente tesulur no sequinte: elite tenue de miscara romantia, lite mais numerosa com mascara ihuminista, massa tural Com mascara neoliiea, © vrias camadas intermediirias com mascarse ‘ariadas.E, no entanto, aio tivesse populaczo neolitica se com- portado de determinada mancira, «a revolucio romantica fran esa teria fracassado, a despeito dos esforcos da elite. De forma que a populacio ncoltica € cozesponsavel pela revolucio ro: ‘mintica, fato perturbador que igualmente deve ser mantido em mente quando for posta em questio a "detasagem", isto 3 bintria da sociedade brasileira, Porque no Brasil false em hiss, € no apenas se fala nela, mas ela € cultada desde o curso primo até @ clisico fem detrimento da histéria universal; uma torrente continua de e+ tetitos académicos tata dels nos seus minimos dealhes, torrente essa Comparivel apenas com os tratados relatos & gramtica portuguesa Como sabe todo aquele quem tem conhecimentor superficai de pcologia. este € um sintoma péssimo para a histéria braieira, Que ‘ej fornecido para ilar tal supercompensaco, sim snico exeum lo: por ocasiio da descoberta da costa brasileira, um certo Peto Var ‘de Caminha escreveu wna cara 30 Rei de Portigal e essa cata 16 persegue a jusennude brasileira dos ses sos dezesseis anos (sca eta auténtica ou no, e tenham on mio or portugurses deacoberta © Brasil como primero) Be renascentista nbecuro avangou pots pare Ser companheito constante de iniineronjowens desde tent idade 4 puberdade Que significa ito para 2 historia brasileira? ‘Uma maneira superficial de resposta a esta pergunta seria dizer que o Brasil tem hisria curt e relaamente povteo importance, mas hiséia ndo obstante, © que o tenascentisa mene. ‘onado € uma espécie de Vereingetoris, it Acminio, 0 Cheruseo, ‘que apareceu com certo atraso. Mas tal respostaiguoraria 0 Tato fundamental de que o braileito ao tem historia nem senso histo rico, € que este fat surpreende © lnigrante de novo. O Irate ppensa ahistoricamente, até © especialmente se se imeresa por hin- {Gri isto se torna especialmente claro nos flsofon bracts que se comsideram “histories”. Tal fto pode ser obserado daniamen: fe, mas basta citar apenas um tnica exemplo, O imigrante aprende ‘qe Brasil se chamava “império” durante o século XIX, © ito owen le hilaridade, até que aprenda que a hilaridade € fruto de male entendido. A hlasidade & conseqiéncia dem pensamtento hist ricamente expicivel © uo “Imperador” tem rai pers, pretende luniversalidade ("rei de todos os rein e senor de tod os aianos€ ‘loarianos"), pasion pelo banho romano e cristo, tem carter Yidamente sacral, © pode ser sorvido ma sa dernadeira decadénca has patéticas figuras de Viena © Petersburgo. Os Bonapartes € Hohenzollem iustram no séeulo XIX a tentativa de profanar tite Toe pb a serico de ua pretensio universalisia profana (revel ‘io borguesa e miso germanizadora). Ate no México o ul pode ser interpretado como tentaia (embora inauténtica) de reconrer lum pretensio universlitaastecs, mas no Brasil no passa de le de opereta, No caso, 0 pensamento hiktorico est engana Para © Pensimento ahistrico o ttalo simbolza © tamanho geogratico do Brasil a superacio de Portal, ca irtual potencia brasileira (© exemplo isa bem a dierenca entre os dois pen- samentos. Para 0 pensamento histrica a sociedad humana toma dda de proceso superador que se inicla em ongens migicormiieas (na prihistria), conserva tal origem em todas suas fases © va a meta (a pleninde dos tempos), na qual as vitwalidades originals serio toulmente realizaas. Por isn at figuras como a de Napoledo 1M permitem ver nitdamente em directo passada Ciro, Constantine Carlos Magno, e-em ditegio fatura'o reina dvino tovodsrico, a ” ar romana ¢ Jeruldm celeste na Terr. Para o pensamen finico a socldade humana & uma fora de romper ‘oldie de homem que enfenta sia morte, dar forma e Sendo 3 tha vida Uniea, incomparve,ivevogivel © repel. Para ta persamento Napoleio Ho pasa de repesntante de uma bo ori orion nas amends, + tentata de nee querer pojtar Ett cJerualem nfo pace de demonstrate de Heologiabanguess Sicnada: Nio tem snide pespuniar quai das das mancias de pensar capa melhor a feallade, porque no mmpora que Fess Tal peegunta € necesaiamentc dada por ima das duss mental dudes! Ura cola no entanto € ceria: hs atalnente nds tend Gias nos pubes hitbrices em direcdo 20 pensamento shistrco CTenomenologia,existenclsmo, exrutiralao, petvsmo Ngo), ‘a tendénias ao sinomar do abandowo da hia em seme ‘hanea com o pensanento baste, Ma apenas 0 pensament9 Wario bale ¢ capone, tasted ao deliberadan, ¢ porno divsdons per ‘Os dois horizontes do pensamento histérico, a saber a ovigem migicomitea es meta exaoigea, ding ramen: PEE metidade ds ura Pero Yard Canna no sea no ini, ¢ Pedro Il no preende Milnio, deforma que Pero Vaz de Caminha ¢ Vereingetorc detsado,c Pedro Il Carls Magoo def Sado, Tormaee seceadrio explcar 9 dierenca mab conceamenie. Meninos brosicvo tndem perguniar quando a Tia fo deco- bares ea respon de que nunca fol decoberta Ou sempre este Seveoberta to fa por ser mipicomiia, portant sem seni to comteto beater, © imigrame.pergnta peo Bra antes da desert ¢ a repost de que nio hava Bra tio sar por Ser ‘itera e sem tendo no comtexo do imigrante.E claro ue mbar a» perganas pod ser respondidartatsatrimente em hel was tefnado, por exemple apontando 3 ‘ribo itist€-2 fopulacie “primis aponeno a mirage Bab © tp mat Iirefinmentoapens obcurece a ferenga Ea mewma dierenea yrodera ser demenseade com apa ties do ponto de ita 8a ‘Rong, No fondo sects do segsinte:o homem hitrico 3c toma intonscente © expontaneament por elo de cade, portant povtaor de Ter memoria que ace em, pels quis Fesponsivelpetane son metres, a guns deve model pas dar femvldo& sn vida, ¢ ani remodcladas soe sews descendenes ferante or quis €uaiente responsive Se conseguir dae con 7” 1a disto comiclemtemente, 4d de aparecera para cle como tensio entre determinacao histrica © berdade de tanscendéta,e tal wanscendéncia sera taela da 308 vida, O homem niohistérico se toma incoascente © espontanca: Imente por existénca irevogivel © nica que se enconira etn ambi fente natural socal que o determina, Se conseguir darse conta isto conscientemente, 4 dlétca entee determinacio © lberdade apareceri para ele como tensio entre determinagio do ambiente © possbiidade de tanscendéta,¢ tal transcendéncia seri s trefa da sua vida, porque, ou poderd decair na determinacio do ambiente, ‘e-em ahiséria primltiva, ou se impord sobre o ambiente em histria gna Isto exige ser um pouco elaborado. O homem hist rico € primitivo se aceitar a determinagdo do ambiente em exteut ras rigias e bem adaptadas ao ambiente (é 0 que os etnlogos tem ‘em mente quando falam em “primitives). ¢-o shistoricinma do brasileito culto € tudo menos primito, jf que visa a modificr 0 ambient, jd que nio ¢ adaptado a cle, ja que € shistirico em nivel mais elevado. E © homem histrica, em sia capacidade de transcender a histeta, visa 4 aleangar este mesmo nivel (por exem plo, pensando formalmente, ou exstencialmente). Mas tal tentativa Feslla apenas na absorio do formalsmo e do exstencalxmo pela histria, ow na destuicso da intra enquanto dimensdo da exis ‘ia humana. Finalmente € precio diver que @ pemsamento wh rico brasileiro € constancemente tentado a historicizarse, posque visa a abrir “huuro", © sabe que faturo +6 hi sonde hil pasado (como © provam as tentativas de criararificialmente umn “ist brasileira). Tratase de um erro trigico, que confunde liberdade fexistencial shistérica com iberdade histones, aricandoe a per der a primeira, Este erro & responsivel pelo engajamento mencio- nado da burguesia e encerra todo o problema da defasagen, Pratcamente todas as ideologiae importadas, desde & Judsicocristi, pasando pela romdnticotborguess até 0 marxisi, So historicizntes. Os jrnais e demais meion de comunicacao tém fontes hisnieas e transmitem acontecimentos hitérios, as Inflen- cas econdmicas, politica e culturais provém da hintria © nenhuma fquancdade de neblina ideoldgicas conseyue encobrit 6 fato dolo- oso de que as decsdes histériess manipulan o brasileiro, A conse- ‘giéncia disso € que o brasileira se sente, perante 2 histori, injusticado, impotente e easirado, vendo na historia pouicdo que 0 cente determinagio © iberda 9 ‘objetva por interesse cientifico, por paternalismo © por manipul fio brutal ot! eneaberta, procurando aftmar, perante isto, a sua Aignidade humana. Infelzmente a burguess exolhew para tanto 0 tneiodo da penetracio da hitoria e da inversio de termos.Inelis mente, porque em na defasagent 4 burguesia nfo nots que o& hhabtamtes dos pases hitricos sio igualmente determinados « ma Iipulados © que os poucos que determinam e manipula adgui yam tal porgho pelo preco da perda da hiberdade exstencial, da tutémica Uberdade, Nao sabem eres burgses que 0 Brasil conce- ‘dea tal liberdade terreno inacredavelmente amplo se comparado com or plteshistricos, terreno exte ameacado pels suas propras fentasnas O que © burguée brasileiro arrsca € justmente aquile ‘que os homens hisricos almejam sem poder aicancélo. Tal ten ‘encia historicirante encobre para 0 brasileiro sta esséncia nio-his- tries, © tora impossiel pata ele encontrarse. Nio obstante, 2 ‘sencia niorhisrieacoatinua ata a despeito de todas a8 poses em Senido contriio,« € viel para o pensdor ditanciado, permit ddo dingnosear 9 fendmeno da defasagem ‘Como primeito cxemplo dito vejanos um fendmeno rio da atuaidade, mas do paseado, Logo depois da ierupeso da Revolucdo Francesa, aproximadamente em 1791, acontece em Ouro Preto, eno capital de Minas Gers, wma tenatva de levante pa ermubar governo portigués e exabelecer uma Independencia bratleir. Ente Ouro Preto € tomado naquele momento por onda tiatva sem paalelo no pastado brasil, resulndo em obras de Snquitenrs, esculors, misica e literatura incomparavelmente mais Tealizadas que nie import que posteriores.excecio fea a atali ‘de. Pois levante tom tragos romdnticos, efetamente ay escolas fesinam que seus motives so uauidos das revolugdes romanteas americana e francesa Suas obras culturais sio chamadas, em pra famente todos of Innes, batoeas. Portamo, tratarseia de politica Fominica em sitwacio barroca ~ of, algo deve estar rad, Obrt mente errados sio ot r6tulos "Yomantico™e “barroco", Errados no sentido de denominarem fases da histria ocidental,fses estas que fparecem em contexto brasileiro de forma deturpada, 2 saber: de- fad, Que tas tentaias de rotlsr fendmenos brasletes nao ex plicam, mas encabrem a realdade, pode ser muito bem istrado no ‘eto do "barroco micro" "Aessenca do barroco pode ser vsuaizada como clipse ‘jos dois focas slo "naturera” € "razio” num sentido muito espect- Fico (a saber: matureza enquanto mecanimo e razdo enquanto ‘cionaligmo, Tal esténca se manifesta nas ciencas da natureza como Cosmonisio, mecanicsts, na poliiea como sntemas racionaie (por fexemplo: absoluismo, na teologia como misticimo racioalizane tna misica come composicio exata, ma pinta como tensio entve Tee sombra, na escatora e arguitetura como elipse, espial, © le biviatoexatamente caculado, € o teato come gesto amp, redon- dd, « bem estado. Fsta ima manifesacio, a teatral, que eria a ‘tusdo da grandiosdade a ponto de 1ornarse grandiosa em segundo frau, caraterza todo bartoco, HL algo do grandioso ceetmonial fre spanhol em tudo, e por to o material da escultara © da arguite ura € 9 fho mérmore, 4 sua cor € 0 pirpura, e 0 seu métode € a ilusio da grandisidade. De tudo ino em Ouro Prewo nada pode ser fencontrado a ado sera espira ¢ 4 elipse. O material € madeira ou pesra mole, a cor € 0 otro ingénuo, e a irejas Go pequenas « canals, O iigrante que vinta 4 cidade pretensamente barroca principalmente se for maiwo de cidade barroca europtia, sente Tentagho de cair na risada porque a comoventeingemuidade mineira ‘onata violentamente com a refinada t€nicaisionsta do bao ‘co, Os profets do Alejadinho sio para as estituas de Bernini como eninge que brincam de bola para mestes de xadree. Ali, faze 150 anos desde Bernini, e 4 mhsicn mineira € contempordnea de Beethoven, no de Vivaldi. Portanto, defasagem. Mas a risada somega e vira admiragio desde que 0 limigrante se liberte do roto barroco. Porque entho descobre um fenbmeno sem paralelo, no qual elementos portuguese orientais {hindus ¢ chineses) € tegtos conseguem formar uma sintese ma qual é posse! descobritemse of germes de um now ipo humane. Breraade que o elemento portugues tem mascara aproximadamen te barroca {dai as elles © espiris, € € verdade que © elemento hindu tem algo barroca (pelo menos para 0 obserador ocidental), nas isto € 0 que menos importa, O que importa é inteiramente fora de comente hiss, em canto perdido do. mundo, surgiv um ho- nem que impée a sia sontade sobre a matéria em forma de belera Surge aqui uma maneira de informar organizar matéra, ¢ porta to afirmar a dignidade humana, em sintese espontinea © nao pre tendida, Surge aqui ima cultura nio histriea, a qual, embora ingé- faa, € tido menos primitia ~ portanto, um acontecimemto de primeira ordem. Poi'o curios € que o bral atual, a0 ver tal Fenomeno, nao se descobre asi proprio nele como sendo uma das \dcoogia, pre nen. ‘nus rales € pontencialidades, mas, obceeado pel tende ver bartco e, se for chausinit, até bartoeo exeepeio te bem cliborado, um ponto alto do barroco ‘Quanto aintentona aparentemente romantica no meio de tal situacio, € ficil recolocéla em seu verdadero contexto, porque conseqiéneia de wma ideologia de burgueses aienados do eu ambiente que procusam impor sobre ele wm espisito romansco fmericano « francés, um espirito que talver compreendem, mas Certamemte no vivenciam, € portanto estio eondenados 20 fracaso, Prova de que ov homens esti prontos a sacificat a vida em prol de hima pose, Com efeito, a realidade passa por este episédio com indiferenca (embora ques, poseriormente, glonficar sentimental mente a figura principal, Twradentes). © busca seu caminho no tmencionado Imperio, do qual um principe portagués € 0 impera dor, de forma que € um eaminho que pode ser tudo menos revo Iconrio, no sentido dos insurretos. A falta de eco da intentona pprova tratarse de alienagao e de pose romantica, « nio de aconte Eimento historico (4 que no foi “superado”), Este fato os butgueses fais everiam notar com atencio, para retomarem contato com fealidade, em ver de brincar com ieologis. O exeiplo dado do pasado torna evidence aesséncia da defasagem, No Brasil se do procesos que vsam espontaneamen- te a sintese de tendéncis histrieas © ahistrias contradivorias que podem resultar em cultira, atextando um homem shisérico nio Primitivo que empresta sentido novo a vida humana. Hi outros procesios que procuram impor sabre este fases ltrapassadas da Fistira oriental, cuja conseqigncia € do apenas encobrir 0s pro- esos aténticos, mas susfocos, Se forem sitoiosos, transformario. (Brasil ent sociedade istrica atraada, mimetica falsa, na qual iver careceria de sentido, E tempo de retomar os dois ftores histricos menei- ‘onador no inicio do capitulo presente: a repetigio de formas no ‘curso da histéna, ¢ a crcunstncia de que a eada instante histrico Spenas uma pequena elite € portadora do espirto do tempo, mas Sincronizada problematicamente com 0 resto sociedade. Ambos os fatores feta sobremaneirao problema da defasager,e devem Ser considerades honestamente. Permitem 0 seguinte argumento, five parece depor em favor do engajamento atual da burguesia: 35 faues histricas que sparecem com ataso no contexto brasileiro (entre clas o bartoco € a fewlugso industrial) tm aqui significado nove pelo simples fata de serem atraadas. Ea clite vanguard, embora ‘Sra com exptto diftreme da mans (+ ber: hisoriamentc), nfo ‘ci alenada da mate, mas, pelo contirio ars © pono congo Istria adeno, € por iso que ela €vanguardas ‘Os argumenton sto capronos © devem sr clininads. (© princi srpoento sire: quando dois facon & rmcama coisa nio\é a mena cota, Pls no cao do helene © do rococé isto € verdade,€ nlo.o € no caso da defssagem, Nio 0 € Porque no primero exemplonio hi elagio aparente entre as duas fares, e no segundo se ata de deliberad tanaertncia de fse cagotada.O argumento arma que 0 barrocomincro tem signi Go dierent do baroco curopes,simplesmente por exar stad, Errado. Tem cfetramente significa’ ferent, mas nio. por ser burro atraado, mas por nfo ser baroco, «nese caso nio ne at de defuagem. Eo segorento afrma que + reologio industrial braeira tem significado diferente da eutopéia por darse na segu- da meade do stculo XX © oa primeira mete do século RIX. Errado, Tratase de forma defsada que ters exatamente a0 mesmas conseqincias que tee no seu prmeo aparecmento, ©. alien ‘do di socedade urbana brailira dede jo prom. Dizer que © Strato permite “aprender dos ern pusados”€ querer 5 que s+ meamas coisas provocam ox mesmoscfeton, HA uta hid. Tia que conta de una entrevista entre um minis da Farenda bra Sera eae colega americana. Tera dito 0 braseia que 4 sfagso zo Brasil teri consegdencas diferentes da ewropel, Js que as iis ‘conmicas nio se aplcam a cla. "Um dia sero aplicad’ tt responce o american, « tinka rari, obviamente. A difcldade € ising entre fendmenosautenicon como 0 € 0 barroco mint ror, ¢ fendmenos defirados como 0 1 induseazago, © iso € tarts para analsadores serio, ua in gigetescas tare 3 ser ‘esol pelo pensamento brea 1 segeedo arporentafmna que hina sempre tem sido feta por pequena minora, e que poranto 0 fato de a inate braieravver shistoriamente nfo impede que a minora ‘anguardisa a hstrize. Masa comparagio entre a Revol Fram este 4 itentona mincia prov tatarse de er pevigono. Igual ‘mente o pro a comparacio entre a revolugo europea de 1848 ¢ 2 Tut aaa entre on dls campos burgess verde que pop Jacio rural frances via Go neoitcamente amo 8 miners, Nio menos verdade que se tater de populao infimemente india, ea ete sempre mantinhs contato com ela. Em Minas 0 {ao € pesto elte mo tre nia fonts na masa rural endo na Sle eorbpea Io expla inerenga da sa minis 3 marcha fara Venues dos saneciloes paren, E bu explca também Forgue sunlmente tanto consradorer com revoaciondrionde- Tem contr com indferenen de msc (por ta que proce ‘Scondeln) © porque o mono pect do comniamo que tre s burg copia cm 1 te matraou dene eno de forma a meonimemar'e mesiear a masa O argumento era a0 fpenas porque a lve braces eta cfetamenteslenada da masa tas mul ais aida por ela cor alenada des! mesma. Tratase 4c cego engatmento no qual se manifetam apenas tendéncis frcrmas dan quai aia “lie™ no pas de Instumenta ‘ engajmento em hor sempre tem io no Brasil acompanhado de pers de Wentdade © continua asim no qo pene E porto qu se tat de égmento defeado, mesmo re Usposto a oferecr sun propia we a da do. oto em hotoetso, Esta crcunstincta no obriga que a eséncia brasileira eva fecharse & influéncia hitérica para conservarse, Muito pelo ontririo, afrma que € da esénaa brasileira abrirse para tal in ‘uéncia, nto para copitla, mas para asia Um exemplo dso, a indusrializago, sera discuido neste ensaio, quando a mista for f tema, Tornase necesivio agora iluminar mais de perto 0 fendme- tno da defasagem. ‘A evolucio atual dos meios de comunicacio parece ter influenciado profundamente s defaragem, porque sincronizou a fonte da informagao (a histéria) com o receptor (@ Bras), aumen tou em muita a quantidade disponivel de informagées e faciitou a flecodiicagio das mensagens. Nz realidade, no entanto, 0 fenéme- fo da defasagem permanece o mesmo, Pelo contro, aquela evo- Tugdo ajuda a remover o erro que afirma ser a defasagem conseqi- fncia da morosidade, dieuldade ¢ custo da comunicacio entre 0 Brasil ea Europa e os Extados Unidos. A remocio de tal erro reve lard o fendmeno verdadeiro de forma mais clara, ‘Quando a comuniacio entre hitéria ¢ Bra se dava ‘quase excusivmente por va maritima, 0s burguess iteralmente se Selomeravam nos portos para receber e sorer as ulimas noticias (rincipalmente parsienses), como para malar uma sede terivel Provavelmente a curva da filosofia, da politica, da arte © da moda a baileieas do século XIX espelharia a cur ds chegada de navios ros portos de Salvador, Rio'e Santos, com atzaso de poucor dis Tratae de fendmeno que exacteriza 0 exilio, «na Ilha do Disho em Papete deve ter sido © mesmo. Que nio € assim, provo a auual delasagem brasleva, que continua defasda a derpeito da faciidade comunicativa. Porque 2 defasagem tem cassas mais pro- fondae © interewantes que at comunicatvas, e 0 Brasil nig € nem Papete nem a tha do Dabo. [io € preciso insistir no fato conhecido (embora nem sempre compreendido) de que atialmente todos os acontecimen- tos do globo (e nio apenas do globo} se dio simultaneamente. Nio apenas acontecimenton decsivor, mas também epidérmicos © pasts: {geiros. Nio apenas toda catitrofe natural ¢ socal e toda expedicao Tua, mas também todo aeontecimento exportvo © toda co amo: oso de ator de cinema & presencado pelo proletarado brasileiro no instante mesmo em que acorre. O burgues brasileiro pode sem frande dificuldade janar em Sio Paulo ¢ omar seu souper no dia eguinte na Rte Gauche parsense. Nao se nega que tal revolugio ras comunicagdesteve importantes consequencias no Brasil, como alhures. Negase, isto sim, que tenha modificade fundamental. ‘mente o problema da defasagem. ( estencial dt deftsagem € ser tentativa de tradusie ‘© comunicado para o mundo concreto € vivido do receptor da mensagem, Poisfatos comunicados nio sio fatos vvenciados pelo receptor, jé que vvéncias (0 “conereto") podem ser comunicadas. A ‘cominicacio sda por simbolos convencionads (eédigas) que sig: nificam o conereto, ¢ portanto se i sempre na teors, Jé Witgenstin disse ser possivel comunicar pelo telefone a noticia de que tenho ‘srampo, mas ser impossvel comunicarsarampo pelo telefone. Exe aspecto da comunicarsoilutra 0 Imite do pensimento humano, & ‘Sis Incompeténcia para captar a vvéncia toda, © & aproximadamen’ te este 0 problema da relacio entre tard tedrica ¢ pritica no ste: tna kantana, A revoluglo na comuniagio tornou ainda mais claro fue na época de Kant o fato de que mensigens comunicadas nio So vivencdves, © quando retransferidas para a viéncia sio deturpa das, Nao forse assim, e reagiriamos violentamente a cenas televisonadas de combatesafrcanos, por exemplo, em vez de ass rmirmos poses varias. A tese de Shaw, de que o paraiso na Terra surgi quando a8 pessoas chorarem ao lerem exaisticas econdim cas, € conseqiénca da sua falta de compreensio da comunicac cenguanto canal nio vvencvel. A defasgem ¢ a tntatva, conden {ino ucaso, de venclar mensagenn 0 facaso nio pode sr ‘Sado com falidade ¢ reveribltdade dos meior de comunicacao ‘TaponivemsPelo contro, tal faciidade pode em certs casos ate imenncar 9 defasger. id um ifinidage de exemps pra proviso, € sexio dlados dois que parceem ser tration. O imigranteacha evltante {en de maton burgess Hsin 0 to a ge cm mda eifeenca entre wvenciado © 0 comuniado. Aenea Uo marsin €« do tse vulgare € ext vénca queda colorido 20 fmovimento todo. A fundameatal mentira que fol 0 nazismo € SHofcada imediatamente como abismo entre © isch e'26 demas poses, manifesta eat do tassmo, e esa vena € incomunt Gael (nem sequer pela sentenea que acaba de se esr) Poi 0 inasto, no tendo tal nena, interpretata © nazto ou como tarbirie bral ou como vergem nietacheana,e perdeu em ambas tS interpretages a ena do nario, Esto ndo a despeit, mas por caves da comunicacio imtensa na forma de arradiacoes Fiotelegricas, de filmes Ula de jornale que chegavam com povee suo © arimo € exemplo indcuo, uma ver que us a pects eicos(e-€ que tem eora e nfo apenas prensa milo fa se opacm desxcnen rales, se txtando de tendéncia elemera Eas pra poder ter sido transplantada Mais importante € 0 uo fxemplo, de uma tendencia bem melhor fandada teoricamente tin mais condiente com a exncia brates, € bem mas sida: © Imarssmo Ness exemplo se manifesta a tiga dialetea da defse- fem plenamente. Fats a0 braslieo 2 vignea da tendénca, tanto fa sun forma vitoriona quanto na aia forma oposconista e tanto na fun forma revolucionéta quanto na wa forma acomodada. Assim inarxismo pases ser paavcle ox monnzo mieo sangrento (que lembra com seu "materialimo atew” 0 monstro ainda nao rivencindo da burguesia europe do inicio do século) 08 Wop paradisiaca (que lembra 0 marsisme tomantco da juventude Evrgucra européia dos anor XX ate a guerra espanhola). De forma que te aplica no Brasil a conhecidasentenga mada € mat terrvel do que 0 marcia, a ndo er 0 antimarvista. O outro lao fa daleica'€ que 0 marsismo prega 0 apego 4 stuacio concrea, fhas a situagio concreta nao pode ser eaptada, no Brasil por Categorias marxists, Resumindo a diléien da sefanagem, neste 86 250, pode ser dito que, para ser mars no Brasil, €necessirio, dears de ser mars ‘Os dois exemplos poder ser muliplicados em ind: rmeros campos e revclario nio apenas que a defatagem € resultado di fala de svéncia, mas também da eatutura hatriea da mens jem comunieada,inapiivel e nio vvenciivel em contexto brasiley {o. Vale para modelos econdmicos, soca, culture, atticos Filer S6fics e teligiosos, inclusive para 0 extlicmo, A despeito da sua “catolcidade’, uatrse de sistema informado pelo pensamento histoicistajudeu, comunica mensagem em “historia sacra” © se transforma aqui em magia Enuetanto, 0 exemplo do marximo oferece s visio de uma possvel ruptura da delasagem, suptura casa queesta se dando em virios campos. O marist brasileiro procura captar alterar a siwacio brasileira com categoria marastas¢ est conden fo a0 malogro, © que scja apenas por razio olerecda pelo proprio. rmarvamo (jt que este afrma dalétia entre modelo e realdade na {qual ambos se alteram, © no caso brasileiro 0 modelo se altera a Ponto de deivar de ser marssta). Ha outra atude perante 9 mar. ‘imo, a de nio engajarae nele mas procitar absorvéle come infor ‘macio importante para uma sntee em nivel diferente. Tal ruprura da defasagem toma ot elementos concretos da sitio bral ‘como base vificada e acrescentethe wiriar comiunicagBes histricas para sinteizar os ingredientes em extrtura nova, pode ser obser ‘ada em muitos lugares da cena brasileira, eepecialmente na arte fe literatura. Mas, antes de se falar nese antentico despertar de luma cultura bratileira, € precio considerar um perigo latente A diferenca entee mistora ¢ sintese ca presominar cia da mistura Sobre a sintese no Brat js for mencionada, No p= frente contexto a mistra se manifesta na forma da electio, ¢ este rnio € ruprura da defasagem, mas defasayem violent. Para ofereeet apenas exemplos do ecletismo brasileiro em fllosofa: postvismo ‘migico, anise lgicaespiri, caballo marsista, zen eatolicsmo, vitalsmo espinozsta (9 autor esté pronto, sob desaho, a nomear oF respecivos autores). E posivel chamarse tis ecetiemos de love ra, nio.no sentido esttamenteclinico do term, sendo no ventido de’ evidéncia de alienacio violenta de uma burguesia defasada. A tendéncia pars o ecletimo se manifesta também na pronto de aceitar 0 "mat novo” (no sentido de skimo a ser communicado) € Comélo como mais um retalho a ser acrescentado na cok. Iso 6 7 a prontidio de gritar 0 dernier eri com veeméncia maior € menos Tetaeada do que nos pais historicos, que aqui nose tata, como Ii de digerio, io explica 0 aspecto aparentemente "modemo” ancado" que 6 Brasil oferece a0 obseriador incauto. AS cidades branlciran patecem exiremamente madras, até que se descubra fque 30 matto mais “velba” do que as eidades europea, e depois que ‘io te idade, jd que nio tem historia no sentido esto do term. ‘Emboraecletismo no sea ruptura da defasagem, mas defasagem volenta, hi surpreendente abertura da mentalidade Iyasieira,abertura essa que, quando tormada consciente, pode pase Sra ser crstva © reviltr em aintese verdadeira. Em Os Serides uclides da Cunha descreve 0 esmagamento de um levante misico- rmessinico por uin exéreitotéenico que funciona friamente, © suge- qe que © Bail do futuro seré sintese entre o elemento. misico Imestinico ¢ 0 elemento téenico fio. Desde Euclides da Cunha ‘Svacio brasileira se tornow make complexa, a sintese debxou de set {do simples, mas em compensugdo pasion a ser muito mais rca em potencaldades, Desde endo yeio & onda smigratiria da Europa e fo Oriente proximo « extremo, o centro do pais se deslocou rumo io Sul em drecio 2 Sko Paul, e© proletariado se rornou numeroso 2 ponto de rvaizar com a populario rural e deixar de ser clase priilegiada. Iso signiliea, do ponto de vista de uma possvel sntese, {que aumeniou o mimero dor elementos a serem sintetizados. E que 1 Sintese deve se dar em nivel bem mais elevado do que 0 imagine fo por Euclides da Cunha. Para ele, os elementos mio histicos inagicormessinicos) cram representados pela magia negra, 0 rite al indio e o sebastianismo portagués, mas a estes devem ser acres Centados agora outros, igualmente AZo hiséricos, mas em sentido Fadiealmente diferente, Por exempl: shinoistn, zen buds, a (hi, conn cantonesa Para ele. os elementos istricos (tecnicos fos) eram representados pela cults portuguesa, © postsmo francés, um poco de idealimo alemio pragmatsmo americano, mas devern fer acrescentados agora nmerows gutzos elementos. Por exemple. Isis napoliana, firiemo norteamericano, iridenta polonesa, frtodoxia Tusa, casiniemo holandé, iconia Juda, mitcikmo espa ‘hol, abstracionismo arabe ¢, como wés elementos muito carscte- Fisicos: condotteriemo industrial italiano, agricultura e arquite- tora japoness, © intelectualidade judia. E possivel imaginarse fintese tio complex? a8 INio € precino imaginéla, se jé ext ocorrende. Na Poltéenia de Sio Paulo um profesor judeu com alunos japoneses ‘eth claborando projeto de ftiea nuclear a set realizado com méto- fos americanos por operitios mulatos Um arguiteo de origem ale ‘mi ¢ outro de orgem brasileira, junto com paisagita de origem Jia, sob ovientacio de um presidente de origem teheea, procaram ‘uma nova capital de acordo tom dois planos a serem sintetirados, fque eth sendo vealizada por operirioe de origem eabodla. Un pi tor de origem italiana tornotse portador da mensagem cabocla iracas 4 téeniea francess, um pintor de origem judia sinteuzou oncretismo geométrica com abstracioniamo, recorrendo a cores, braieitas, tm pinto de origem japonesa usou téenia zen para um absiracioninmo american com cores gualmentebrasieiras. Um poeta de origem irabe tow iciomatismos pornigueses empregados por ‘perros ialianos para aleancar composicdes pseudecorsnicas em ‘concretimmo americano; um poeta de origem grega conseguitt © Imesmo concressmo gracas a stmica greya e méticaalema em line fron portuguesa: um poeta de origem brasileira em colaboracio com tim filglogo de origem judiatradusiu Maiakowki para tornilo mo tlelo de poesia braulera. Um propagandina de origem italiana sou téenica americana € teoria mars para transformar propaganda ‘comercial em canal de comunicacio com a populacio rural, © um ‘ccrtor de origem brasileira recorrew & lingua do interior para fenriquectla com elementor curapeus para pola na boca de" um ‘aboclo que leu Plotino, conhece Heidegger ¢ Camus e tem visio {afkiana do mundo, Um compositor de origem bralleira tomou fstruturas Bachianas, harmoniae schoenbergianas, melodias port {guess e rior africanos, etal composicio fos apresentada por te fgente de origem beiga, cantora mulata © coro japonds perante um publico entusiasmato de origem italiana, Tai exemplos podem ser Continuados ad nauscom ~ provavelmente os mas complesos sequer foram mencionados (Com que direto se afta uatarse nesses exemplos de sinteses¢ no de mistaras? Para sustentar tal ditito seria a rigor Inecessrio analinar cata obra individual do ponto de vst estético, ‘oncoligico, para consatar a sia carga de informacio (originalidar de). Tarets giganteaca a ser ainda realizada pela Mlsofia brasileira {uma das inimeras tare que esperam por uma flosofia merece- ‘dora do nome), de se recear que tal anilise revelaria watarse, na msorin don cass, de obras potco originals © pouco importants 89 {embora certamente haja também obras importantssimas entre eas) Mas ito fo significara que no ac tata de ruptura da defaagem, io tem senudo fiarse em tals obras como defasadas, jt que nao Inf fae histiriea que espethem, E claro: espetham aspectos de f2ses Iistéicas(e vere 0 fazem de modo inepto © como mera cépia), ras todas contém também elementos inexstentes nas cultran his ‘erica. ¢ neste sentido elementos “originals” para a cultura da his ‘manidade. Se isto for verdade (e nlo € possvel ver como se possa hogar © fato), enti extamnes presenciando 0 desperiat de uma nora ‘altura, Ito é a manifestagio de uma nova pessonalidade cultural 4 qual, embora amplamenteirigada por fonteshistrica, tem esti Tura prépria nio histrica, © embora posa ser personalidad sind no bem arsculada, € ceramente tudo menos primi. E era iso {que o presente capitulo viva a transmitn comoveséncia da situacao brasicen Do ponto de vista da defasagem a situacso brasileira no sitio terga do secalo XX se-apresenta da seguinte forma: 3 frande massa a populacio, tanto rural quanto proletinia, vive Nistoricamente. A mass rural vive scistoricamente, no sentido de ter degenerado em segunda primitvdade (se for permitda contra: dicho), e-estruturada por magia ritual nig inteiamente verdades tos. A maa proletria uve whistoricamente, no sentido de er per ‘ido o contato com a histéria © 2 capacidade de pensar historic tment Eatefato nfo € deamentido pelo constante mater da mass pelos meios de comunicacio, js que fais meios Wansmitem mene fens ndo vivencadas, nem pelo falo de estar a massa em grande Parte determinada por métedos téeniens © por intrumenton téen 0s (portanto hstrieos).j4 que tais métodos ¢ instrumentos 530 Sirenciados como estranhos 2 prépria ina. A burguesa vive, n0 finde, tio ahistoricamente quanto o resto da populagio, embora ro queira admitto e embora uma série de ideologas dificult para ela a descoberta desse fato. E igualmente incapar de vm pensamento autenticamente histrico, e as manifestagdes defass das em sua cultura, politica ¢ economia © provam. ‘Aisto a burguesia reage de das manciras:ideologicae ‘Quem obsera o pals pela superficie vé apenas as eagbes ideoligieas, quer dizer, a tentativas desespersdae da bur juesia de cransplancar fases superadas (inclusive as recentsimas) para a realdade brasileira. As tentatvas io desesperadas, a burguc 20 ‘te oe ne ina ga compen ecient (ambém duvidso, em mats casos) Ma quem te engje no pak procua ser “braleto no melhor dow ato” ober nem de ma ruptrs da dtaagesn emits gars norms se aes tm idenidadeautentea, va forma de wa cltra th nese de elementos propio © asimlados. Rupture da defsagem nio € pois, como extem os burgucesaicnadon eupedo pata dentro da isa, posta peo pris irupedo € fada Disc (ow procira se di) Wo momento ‘rato no. qual hi tendéncis na propia hin que van omper 2 Nstorcdade, Ruprra da detaagem ¢ pelo contro aur cos lente decidiamente sua propria idendade no historic, rans formando eriavamente com abertira em curs Iso de fo taal que semethante Wenddade here Stwaio natal ¢ socal {atnamente, para dae sentido sds, Paar de al emprena, Sterecer a prépris tenade para tats, € enajanento no reds eto senido do terme, Vver signer despresr' morte © tiarlhe ero, porno vara imortiade no imenente No cso: dear a matea da sn propria Wentdade sobee um cra deypont dare ors ae toma cultura que, realzad,contbuia com uma now peta cc extraotdinariamente original para a cultura humana, rica que a Alienagao © conccito da aienagio,elaborado por Hegel tans: formado por Marx em sim dos probicmas centri da atualdade, revela, lem dos aspector ontologicas © epstemoldgicos origina, aspects dics, pcoldgicos religions. Ito ocorre pelo pensamen te histérico e tomado como que naturalmente por problems histo fico, ndo apenas porque tal pensamento tende a tomar todos ot problemas em sua hisorciade, mas também porque se origina em Sistemas histriizantes (embora o hegeianismo seja mais sistema speculative debrucado sobre o pasado, eo marxismo fai sistema revolucionirio encarando o fue) Mas a alienacdo nio é necessariamente assim historcizivel, como 0 prova 0 existencalixmo, No hisoriciemo cla aparece como aspecto da contradigio que propele todo proceso € twansforma toda histria em historia sacra, Vita a parti da origem, 2 alienacio aparece como sistema da perda de um estar sbrigado original no Ser (sja este Ser esitto absolute ou Natureza), esta tseatologicamente como método, por superacko, para a volta 30 Set abrigante. A sitmacio atual da humanidade, caracteriada por alien ‘do individual e coletiva, aparece como siuacio nefasta. Basta isto para mestar que todo pemsamento histérico tem base teolgica. Saber, judi, e que o Ocidente continua basiamente exist, no despeito mas por causa do marxismo, Tito sugere que a transmissio do marcismo para terrk ‘Grios exracristis (como China e india) resulta na transformagio as suas categoras fundamentais, a sienagSo inclusive. O fato de 0 pensamento hisrco ter estrutura judsio-rst € alse reconhecido por seus grandet opositores, coma Nietache, Huser, Heidegger ‘Witgensten ¢ os exrutaralias,e isto explica porque sempre surgia para eles a questio do seu posse! “humtanismo" (eiase "rstiani Ino"). Por ito também a afirmacio da morte de Deus tem na boc ide Nictache maior radcaidade que na boca de Hegel, pois, se for ‘erdade que 0 pensimento braseizo nao € histrico, deve também er verdadie que aqui o problema da alienacio se apresenta de for tna radieslmente dversa pela qual se apresenta na Europa © nos Estados Unidos Embora isto seja generalizcio muito grande, nio € provivel que alguém queira contesar a afirmativa de que o brasil 0 ¢ alienado, desabrigado, exlado, © nio habia, que ve sente re ccmado, que a realidade Ihe € diffi! (ow qualquer que sea a formu Tacdo que s© prefra). Um aroma de jrrelidade, de sono, de fata zmorgans, impregna aqut todon of fendmenos, e nada € sélido € ‘efintivo, Um belo exemplo dsto € a vivenca das cidade, princi palmente da maior, So Paulo. Aglomeracio colossal que supera de Tonge, com seus subirbios, os seis milhdes de habitanes,espalhase qual doencs de pele ou cincer pela planicie ondulante, abre com eur teticilon chagas atermelhadas no mato verde escuro, € mio obedece, nese proctsso, a nenhum plano, mas a impulsos momen ‘Sncos, quis ejam: especulacio imobildia,instalacio acidental de indistia, ou aglomeragao igualmente ackdental de migrantes nor- destinos A conseqiéncia disto € que esti surgindo uma formacio fque nem sequer merece scr chamada de “Tormagio", dada a a pobreza de estrutura. Tal pobreza nio The & externa, verificivel apenas sob perspectiva de pissaro, mas the € geneticamente ineren- te. O exemplo Sio Paulo vere como ihstraco inlrodutéea 20 prox Dlema da alienacio brasileira Durante séculos mio passava de cidadezinha interiorana com poucas dezenas de milhares de habitantes, ponto ide parida das banderas e ligada 0 seu porto, Santos, por caminho ‘de mula ingreme e df, Formava wiagulo cua hipotenusaligava ‘0s mosteiros de Sio Francisco © Sio Bento, ¢ euja ponta apontava Sé, como que para traduzir 2 contenda dos universis medieval em igeografi. Depois la primeira, mais ainda depos da segunda guera, Iniciouse enorme aglomeracio de imigrantes externos ¢ internos que desprezavam o tilngulo e enchiam vals ¢ lito de correntes dde uma mancira que torna pido o respective termo romano “ple- 4 be" para denominéda. Para dentro de tal aglomeragio se introme iam em canvas aventaronascaminhos © rian sguidon com grade atraso de nsalagées de canlizacio, Agua, fore etlefone, de forma {do mal sineronizada que o feito pela Companhia Telefonica era desfeito pelo Deparamento de Aguas © Esgotos. Ito resslton em ‘ios infernal manifestado por trisito dessmano, meion de comin ‘acio em colapuo e pandemonio geral, © Municipalidade decidhs lardiamente (quando dispunka de capital para tno) ceria ordem, A ordem tomou o aspecto de quarter doe, viadutos em construcio, abismos abertos na espera de uma Tunura comunicacio subterrinea, e avenidas largas sem casas “Tudo isto acompanhado de barulho intolerivel, at- rmosferairesprivel ¢ fro insuportivel, Ninguém, € menos ainda 0 pulistano, contegue orientarse em tal sitio cadtiea, 2 que trajeto entre morada e lugar de trabalho deve ser literalmente redescoherto de més em més, os Gnibus midam de rota menal mente ljss © reparicoes dessparecem para reaparecerem de sur presa em lugar inadivinhivel, bairos bem conhecidos desaparecem para dar gat a desconheids, e 0 centro (ve € que tl cois existe) tomado de Fisio nuclear que far aparecer pequenos centios em lugar que nio fazem sequer parte da cidade. "Se habiar™ tem aver ‘com "habituarse™ ninguém habita Sio Paulo, ¢ a engrenagem toda tem alto ar de irealldade do tipo “pesadelo Gidades européias (e americana) passaram no fim do século XIX por expansio semelhante, como Paris, Viena e Berl, mas sempre conseguiram conservar um micleo ¢ dar extrutura © poo aos habiantes Ale dela Cité, a cated de Exe, grea Andache garaniram, pela sua permanéncia, uma aumosfera uma na, razio por que hina fol conservada até em ruinas, Eo mesmo pode ser afirmado de Roma e Londres, Nova Torque e Boston, © 36 Kembora problematicamente) de Los Angeles Chicago. Mas © paullstano nie tem apoio, nem sequer um fio, € estranho na edad ‘que estranha, nie consegue formar els humanos com vzinhos e coisas, c, para exagerar tim pouco, nio fcaria muito surpreso 20 constatar de manha que a cidade desapareceu na noite precedente (© exemplo Sio Paulo € extremo, mas nio demasiada- mente extremo, jé que aglomera nas redondezas uns 10% da pope lacio brasileira, ji que se torna sempre mais decisivo para 0 Brasil, todo, Hi outras clades de alenacio comparivel, ea alenacio das ‘idades pequenas, embora diferente, € igualmente acentuada. O ‘exemplo aigere a diferenga entre a alienacio curopéia © americana {aallenacio brasileira, Now pats hintrios o homem e alienou da fealidade «de si proprio, porque se perdeu para um aparetho transumano indurra, cultural © administrative, tomandose soda dle engrenagem que funciona sempre mais cficentemente. A sua transformacio em funcionsia, ¢ a8 coneqiéacias ontologies, &t fas, estat € religions decorrentes dsto foram exaustvamente Snalindas por pensadores curopeus e americanos e nio precisam Ser diucutidae, O brasileiro alienouse da sua realdade € de si pro- pro porque no conscguiu firmarse e abrgarse em nada, porque hhio € tomado de movimento histérico, qual grio de poeira de movimento browniano, porgue carece de fandamento, Uma é alienacio enquadrada (sentacio de estar preso), 8 outa alienacio fexilads fsensacio de ter sido expuso), ¢ ambas se manifestam de forma diferente, embora ax veres convergente ‘A alienacia do caborlo € de dilfell anise, jé que carecemos de categorise para captila. Nio ha civda, no entato {que cust, Tratase de pessoas de tal forma allenadas que no ape- fs no conseguem relaconarse com seus prGpriossitos © mags, mas nein sequer com @ seu cima, Ao contario do indo, caja aic- hacdo € perferamente adaplada 20 ambiente, €a alimentacio do ‘aboclo inteiramente inapropriada (Leif, mandioca, carne seca), pata nio falar na foal ineapacidade do caboclo em assunirse em fa situagio socal, econbmica e cultural real, coisa que garante a Imposibldade de uma veedadeira revolucio (a despeito dos esior fos insinceros de uma burguesia slienadn qe descarta empurrar 0 ‘abocio nesta ditecio). Mas continua verdade que a compreensio profunda de tal slienacio € inaceave, © nio teré ensaiada. Este Capitulo restringird sua atengio 4 alenagio do proletariado da burguesia © proletirio € © subproletiti, isto é 0 eaboclo trbanizado, vvem em sitagio superfciimente semelhante a do proletirio turopeu e americano, ito é: em fungio de aparelhos. Isto ria uma dificuldade de compreensio inversa 4 da diculdade ‘com relago a0 caborlo, 4 carecem de categoris, aqui dispomes de fategori aparentemente aplciveis, mas na reaidade inaplicive's (Queter chamar o caboclo de “camponés" ou “uabalhador Fural” ou “reno” € chia imposibildade. Mas querer chamar 0 proletirio de snio-specialzado” ow “contramestee™ ou "de colarinho branco” parece indicado, Somente depois de contato mais atime veriicase 96 a disorgio dest categorias no exo bratileito. As categoria trane- posts de contextos hitGricos sofrem defasagem e passam no a Explicar mas a encobrit a realidade. E pois necessiro primeira fiscuttr porque se adaptam aparentemente e, depois, porque iio se aaptam realmente “Tal qual © proletiio histérico vie © brasileiro em fungio de sparethos de complexidade crescemte, composto de ‘miquinas, insivies € melos de comunicacio mais out menos sin Cronivades, aparelbor que bé mito mio tem dono autdntien e que ‘bedecem decides intiramente inacesives para 0 proletirio (tis Gecisoey se automatizam de tal forma que até o burgués tem Gifculdade em acompanhitlas). © proleario ignora © projeto de fcordo com o qual ele préprio transforma naturera em cultura, Taras vezes vé 0 produto do seu teabalho, mais raras sezes ainda pasa a possullo, © se 0 ¥é no capa nem sua funcio nem Finalidade, De forma que o prolerio di um sentido & natureza ‘que no € 0 seu proprio sentido, e a sua vida earece pois de femtido, As coisas que 0 cercam, € das quals aparentemente se Serve, na realidade 0 condicionam, € os instrumentos que api rentemente escolhe na reaidade Ihe foram imposts. Estes fato- fer allenamh 0 protetirio do seu trabalho, do seu mundo © de st proprio. e isto tem sido discutida amplamente na Europa © nos Esuados Unidos Parece adaptarse perfetameate 2 stuacio bra sileira Na realidade aio se adapta, porque © proletirio brasileiro se dstingue do Bistorico no fundamento. Setio men Cionados uns pouicos fatores da diferenca. Os projetos que aqui Iansformam # naturera em cultura sk0 de procedénca preport derantemente externa, © no provém do proprio aparelho. AS Secises sobre © aparelho so tomadas em grande parte alhures. Partes do aparelho sio traridas de fora, em forma fisca, ou mo delar, ou de capital, parte do resultado € climinado em forms td royalty, ou hucro, O governo participa de mancira crescente tna adiministragio do aparelho, mas nio como os governos hist Fieon, que 0 farem, em tse, para representarem proletitio, ‘mat sim pata tenta elminar decisoes externas. Tratase pois nio de “socializacio", mas de *nacionaliragio, como se diz aqui ex Cepcionalmente de forma correta (excepcionalmente, porque em feral reina uma tendéncia para 0 doublevald oficial encobeir 3 Tealidade), Esta € uma espécie de diferenca 7 0 protetirio dos paises hstéricos lata ha quase dois séculos contra a burguesia, € tornouse, no curso da Tuth, parcial mente consciente da ua situacio verdadelea, Embora a sua alien co persist, encontrou certs formas (sindicatos, partidos politcon, ooperatvas de consume) que ariclam de algua mantra asa iemtdade. Um dos problemas dos paises neacapitalistas € 0 esac famento dessas formas pelo aburguesamento do proteariado (para fio falar nos problemas ainda mais nelaston que estio surgindo, este sentido, nos paises socialists. Até aquela curioea mistura de pequena burguesia em deeadéncia © subproletariado que © 0 fsci ‘mo, embora procure encobrir 4 realidade, contibuis negatvamen- te para despertar 0 proleuriado, Mas no Basil todas ests formas foram importadas em forma ideologiada © defasada pela propria. ‘burguesi, impestas de cima para baixo sabre o proetariado, para depois serem parcialmente retrada sem protexto por parte do proletariad. A conseqiéncia € que o proletiio nio assume pro- Tetirio (portanto nio € proletino em sentido subjetio, mas se as ime pequensburgués (e'em cero sentido 0 & efeivamente, se com prado com o eaboclo), accitando ideologias borguests cot facili {de muito maior que o proleirio verdadeiro. Nio pode ser captdo, Portanto, por categorias provenientes de fora. Para dar um nico exemple: familia € propriedade the dizem respeto tinda menos ‘que a0 proletirio histéico que tém menos tradico familiar © ja tém muito menos propriedade. Mas a despelio dito empenhese fem construir casa para sua familia (embors a pague em prestacoes ‘que objetivamente equialem a servidio, « embora 4 casa pos rit antes da ikima prestacio), co fae gostosamente, jé que visa. qual bourgués, sazus Bsa € a segunda especie de dilerengas © Brasil vive, hé uma gerago, em economia inflada Isto equivale, obviament, 3 wibutagso matcarada do proletario (erm bora se posta argumentar que no Brasil 0 proletirio forma classe Drviegiada, e que a wibuuagio beneficia © caboclo). Ea todo caso 8 inflcio representa véuideologirante que contabu para encobrit 4 realidade, Um dos elementos desalienadores nos patses histicos 0 ordenado, ji que mede objetvamente situacao seal de aslo Fiado, Tal medida objetva aqutnio exist, © o saliio aumenta sem bre para criar a ilusio do "aango" do proleisio namo & burguesia, Evesta € a terceirs especie de dilerenca Selo expos for mais ou menon cornet, as categorias ocidentais para caprara stuacio do prolearado,sejam biberais ou oe rarxistas, aqui no podem ser apicadas sem grave rico de flsiics- tio da reahidade. Trot, no cso do proletanin brasileiro, de um Ihomem to afmtado de st mesmo edo seu mundo que sia allenacio se manifesta, nio como claustrofebia (como nos paises histicos), mas como agorafobia, E tal fobia xe maniesta em forma de fas que sio basicamente diferentes da clinica aienacio europea ¢ Americana, As fugasresllam em choques com a tealidade, mas tis choques devem ser interpretados tambem de forma diferente. AS fuagat io mais sbi que os choques, por serem publics, e 08 chor ques prvados. Serio diseuidas wes formas de fuga ~ 0 futebol @ Toteria eo carnaval -, por serem excepcionalmente significativs Depo sers considerado brevemente o choque, Nio se considerars a fuga cisica, a reigiio (emboraseja ela sumamente interessante ‘com a adoracio magica de Nossa Senhora Aparecida, com 0 farandeitismo e 0 espirismo), porque ainflaci & épio do pow de frau auficientemente forte ‘Do ponto de vis histérico, seria fel dizer que o fuebot no Brasil é 0 equialente do eirco romano, com 3 dilerenca de que If ofereciam circo © pio, ¢ aqui Futebol apenas. Tal ponto de vista insistiria no fato de ser_o futebol instinico importada financiada pela burguesia fim de drigr energias para canaisino- fensvor ate mustentadores da sitmacio, como prova 0 campeonato mundial recente. Seria fil se argument isto, mas entio se perde- Tia a esseneia do fendmeno a ser evidenciado, O ponto exsencal & ‘que © futebol & muito bem estrutrado, com acontecimentos previ streis,com particpacio emocional solenta, mas fem engajamento nem ro. Faz parte de um mundo auténomo, mas eom pontos de Contato suficientes com o otro mundo para permit projecio de frustraces e sua sublimagio. Tratase de um mundo consistente & permanente que rhalia com vantagem, meses aspectos, com 0 pth Ineiro. Mundo hierirquico (chubes formam rexibes, reioes pals, piss um universo), que permite valoraco, portanto eca e Yegras ‘de comportamento; mundo no qual os atoressio profisionals (por tanto auslariados pagos), que portanto no passam de objets Imanipulives, até quando transformades em iolos e mites (como ddeuses do paganismo). Tudo isto permite 20 proletinio que foge para tal mundo © nele se abriga estabelecer lagos concretamente hhumanos com seu préximo ~ lagos de conhecimento, emocio € valores, Com efit: permite estabelecer esesI¢os com intense fe autenticidade nio alcancivel em nio importa que outro mundo 99 Lagos que no se testringem, em sus autemtcidade, apenas a este sundo, mas extravazam, como 0 prov 0 fato de o gonernador de ‘io Paulo ter sido nomeado nie. apenss por ser banqueito, nas também por ser presidente de om dos clubes, O quanto tal mundo invade os outros, 0 eampeonato mundial recente 0 demonstra Do ponto de vista hirtrico pode ser argumentado que a onda de entusiasmo popular que 0! campeonato provocou ‘manifesta manipulagio e ongantzacao deliberada de cima, mas no se captariao fato. Tratase de uma onda espontines que rompeu as fronteiras do futebol para se alastar pela cent inter. O terme “eufori” € ultimamente empregado com sentido positive (no ne sabe bem como). Pois no eat se trativa de euforin no verdadei sentido do termo, a saber: capacidade de suportar bem um fardo, pesado. Ese felicidade tem a ver com supottar bem a realidade, aqui se poe um problema ontologien da primeira ordem, © muito signiicatvo para a compreensio da exeéncia braalleira. Merece set Hiseuido levemente 0 futebol brasileiro (ede outros pater nichisricos) € ontologicamente diferente do futebol europe. Livnio passa de fuga alienada aberta a0 prolerriado. Aqui serve de canal para rc ‘go suténtica inrshumana, Lé faz esquecer uma dura realidade Aqui € realidade (aconteceu uma guerra de futebol na América Central, no pasado recente) Ito prona que 0 tcrmo alienagio € termo relate, aspecto este sbsio ne Brae encoberto na Europa, Alienacio tem significado relitvo a relidade,c estar alienado nifica estar separado da fealidade, Poi a realidade nao € problema concreto na Furopa (embora sci problems especulaio). porque hi consenso quanto & realidade: 9 proceso historco objeto. Nao 4 ‘quer negar com isto que tal consenso amcagaruiratualmente, xe ‘28a alienacGes vilentas do tipo LSD e hope, que tornam conere tamente duvidosa a froneira entre histéria © ivenci priv, Mas © consenso ainda persse precatlamente. No Brasil a felidade € problema concreto (embora taker no seja problema especulativo) Se o proleisio se realiza existencialmente no futebol de forma que tal realiacio extravate as fronteiras do fatebol ¢lnvada todos os ‘campos ¢ dé sentido sua vida, como negarihe reaidade? E como falar em alienacao no caso? Mais adequado 30 fenomeno sera diver © seguinte: a alienacio que propel o proleitio rma a futebol lum salto qualitative © resulta cm verdadero engajamento. Por exe salto proletiio abandona uma realdade para descobrit nova Fes: 100 Tidade, a reaidade do futebol, pelo menos to real quanto a aban- ddonada.Pelo menos tio real, porque € nela que o proletarie Pode (persue happines, ale dizer, buscar a flcdade. E tata, no 250 fo futebol, de uma realidade no jogo. ‘De modo que o salto dialeticamente qualitsti© de alienacio em engajamento resulta em nova forma de vida sal a aber vida real no ogo, verdade, 0 jogo em questo € rlatiamen- {e simples e pouco elaborado, © a vida nele portant relathanente pobre. Outras jogos hi que permitem vida muito mais rics NAO Importa. © que importa € que ests surgindo no Brasil um autenco ‘espontineo, aiodelierado. homo ludens Um homem que soCot 4 reaidade social e econdmica por ours, igualmente rel, mas de ‘cotruura e de vivénciaintiramente diferente. Que significa "20¥0" hhomem senio homem que vive em realdade diferente do "lho"? Um homem no mais condicionade por economia, para falarmos rmarxisicamente. Um homem para o qual ate € melhor que verde fe, para flarmos nisuscheanamente (als, o parentesco entre Mare fe Nietsche esti se tomando sempre mais patente). De modo que € possivel afirmarse que no Brasil se dium processo (nio apenas ro futebol, mas tambem nele) no qual por alienagio de unt Fe Tidade esgorada, & descobert outr a realidad do jogo, E um dos sentdos da afirmacio de que no Bra esti surgind um no Bo- sem. E é um dos sentidor da afirmagio que a aienagio € no Brasil, fendmeno incomparivel com 3 alenacio europe © america HA muito hi loteria no Bra por exemplo 0 jogo do Dicho, ¢ este wera semelhanca com 0 Tots italiano tanto. quattO 0 fatebo! brasileiro com o Mallano. Recentemente, 0 governo instill uma lotera esportva que liga esiraturalmente, de forma geaial, 0 jogo da loteria com o jogo do futebol. Trateae de um apostar sobre resultados de jogos de futebol, cujo principal ganhador € 0 proprio {governo. Quem angumenta hstoricamente dita que se vata pois de tim imposto sobre‘ alienacio, cobrado pelo govern, Mas tal argu mento perde, como no caso do futebol estncia do fendimen 2 ser desencoberta, O exencal € que em mutnerosos lugares ds ea des brasileiras esto surgindo lojs. na frente das quais se formar longas filas de operirios (homens, mulheres e eriangas). aMe ‘esperam a vez de fazer apostas. Um obsenador ingénvo poderia conclir, dada a pobreza dos que esperam, que se tata de fis de pio ou de racionamento, Seria erro crer que east gente apo Porque espera ganhar, pelo conus, ndo espera ganhar — mas 101 quer deixar 0 ganho no terreno do inetperado, portanto da expe Fanca, O'sctfieio da expera na fila €sserficio ritual, e tem 0 care ter de um rito. Porgue v jogo di Hume e significado a vida. O proletrto wve dorwante de semana para semana, no sensido de fiver de tiragem pars tiragem, porque toda semana doravante waz hhova aventura. Viver pata ser experar (em ports, multo crac teriicamente, site hope s40 © mesmo verbo), e portanto passa & ter clima religioso K isto prova que se dew no caso da loteria © ‘mesmo salto qualitative de alienacio para engajamento que foi ob- serado no futebol, a saber alienacio passa ser dialetcamente, escaberta de nova reaidade. De realdade, no caso, amber de jogo, mas em nivel mais elevado. Porque 2 partiipacio na lote temolne isco, logo, cra clima de engajamento imediato, porque & Toteria combina, enquanto jogo, o elemento de previsbiidade com fo elemento do aciso, homo fidens se reakra de maneira ui pouco mais sfiiada no caro da ltera ‘0 carnaval tom sido comentado muita vexes de vieios Anglos, na mairia das veres daquele ponto de vista paternalisico ‘que caracteriza 38 penguins “objetivas” dos fendmenos exsticorexst Cos brsileros por parte dos centsas europeus e americanos. Com eit, trtase de fendmeno complexo que sinttiza, entre outros lementos, rit africanos com elementos da commedia delTarte ‘eneriana, Embora atualmente em aparente decadéncia,abriga muita tendéncia via inaproveliada por uma cultura que queita asumirse verdadeiramente brasileira. Ecaracerizado por improvisacio dentro de estrutura dada, por “abertra" (no sentido de Eco), por espon- taneidade, e por engalamento no jogo (embora se diga “brincar” © no “jogar”, no caso) Tratse de happening em sentido muito mais radial do termo que-nos pases histéricoe, supera de Tonge io import que’ Liviag Theater ou pricodrama. No presente contexto serd considerado eXclusvamente do ponto de vista da alienacio ‘Quatro dias representam, para grande parte do. pro- Jeriado (especialmente, mas ndo exclusivamente. negro € mulato) una epole que poe, graas a gestos e miscaras, 0 resto do ano fentre parenteses, de forma que desaparesa cxistenciaimente, Surge ‘novo mundo vital que transforma ruas em palcos,automéveis em ‘arruagens, sendedoras em bacantes, mecinicos em principes, car regadores em acrobatas,¢ 8 sia em orgia. Tal fantastico reino de Momo mio €, como parece ser para wna anise istorii, um terreno de fuga aienada que visa fazer esquecer a realdade mas, 102 pelo contririo, wm recone festio no tempo (semends) que di sem fido 0 ano. O ano todo tem 0 sentide de preparacio do carnaval jque vem e de rememoracio do carnaval passado. As preparacies fnvohem ano todo na forma do inventar realizar fantasan, do ‘ompor, ensaiar © comparar sambas, do propor e elaborar temae armavalesos, do. projetar pasos e clevilos a nels de perfeigio crobitia,e do investi capital econémicoe sentimental ne carnaval Tindouro. Para o pensamento hietrico 0 fendmeno se torna mais {cesivel se for comparado com 0 ssbado jude. Ambos so rupturas Festive do cotidiano, ruptures periddieas que dio sentido sacral 30 profano. Mae ae semethangas sio menos interesante que as difeeen- {8.0 sibado é irupcio do eterno na histria € princess Sabado {santa no sentido transcendental no qual Deus é santo. Eo carnaval umna suspensio mfoshistrica de wim cotidiano iqualmente do historco, e €siero no rentdo imanente da hieroania do corpo. E "jogo" em sentido relgios: encenacio do Sacro no imanente, por ‘anto paganismo, no entender de Oto. ‘Sob andlivehistoricista 0 carnaal € alenacio radical porque afusa da realidade econdmica e socal e mergulha em ver. tigem coletva ma qual os homens se esquecem de tudo. Mas tal anilite perde a exéncia do fendmeno a ser desencoberta. Porque 0 ‘ssencal @ que no carnaval os homens nao se esquecem da realida- fe, senio se descabrem a i mesmos e descobrem a realidad prov funda nio histérica que 0s sustenta, pasando a vver nea, Pasam a ser autenticamente, a saber: passamy a ser atores em mundo absurdo fe dar sentido ao absurdo, como pretendia Camus 20 tratar do ator. apenas em sentido muito mais radical que 0 camusino. O salto de ahenacio em engijamento resulta, no caso do. carnaval, em tesalienacio, por redescoberta de fundamental reaidade, 4 saber: realidade sacral e poranto religosa. Esta surgindo, no carnaval, 0 Jogo cto, portanto. 0 homo ledene no sentido mais fundamental ‘deste terme, Um "novo" homem, porque 0 camatal, sendo sitese de clementor inclusive histéricos, mio € primitive. Uma enomenologia do carnaval ainda est por ser feta. Eis mals uma tareta para ima Glosofia verdadeiramentebrasileiea ‘Outrasfagas alienadas do proletariado hrasileizo po- eran faclmente ser ofetecdas,algumas faeinantes como a tele- ‘visio, o io ports e 38 revista iustrads,e ani revelaia, em todos os casos, ratarse de alienacio inteitamente diferente da do proletariade europes e americano. Sempre podria ser apontado 0 103 ‘ako qualia pars engjmento,porgu a reside da qual Drolern franco sens nao € "adden sp ea 12°6 protests nines ve pre seu taba © mun sacl ee: ‘omit social © pol, mat cme ve fandamenanent, Para 0 jogo Se Yea” iis sbigo ma rela, eno o base fora buses em outs cetidde, Ali, minim ma Europe e or Ee {idon Union comeca desperiar a conienca de ques feta to cd necenaramente ida a proven hati, € ue © pro. fren no tar necartamente emento de feidad. bw exlca org, o roto do prokearo bras llenado miseries ‘occu serra fe to ak prontmente do que no Tosi t Drolero aburgedo do Ocideme (que nio impics + nepicio do choque que eta seme sofre quando ven fread ola jogo pars economin ‘Todo carnal € gui de quart de crs As ina queso Aepentam sobre ombro do proleido asumem orn da Imola infiniti dat condigdsdensmans de haba ¢ an port, dos hota pertain com fats de medics do stein {iwi moran indfereme, em geal na forma eum aban to por parte do apatetho adminis Incite ecapcene 6 {que bie aio prs. como dia 0 penamento hoa ue ho fina das conta a conor @ a “Teahdade’: Prova apenas que © homem sendo,enre ours coos, manifero, no pe ser fess ri forem safes st neces bas logins, ¢ qe, nao tances tn neces, ni tem sentido falarse em gna humana. Ms, ndosendo apenas mame, sun igidade nao reside apenas na economia’ © fate € este 0 pole basen tend + boner na fide wo jogo antes de er ssi a Sat ‘neces bibs, ito problemsten proce todo. Una Yer ‘ne tis neceniades (poem solo apenas apticand on met dor da tecnologin hia) poderd. peste a ver autensamerte ‘ne Jogo © para ogo ito ser suencanents “now home iis po 3 concano ar tnd da allenaco do po- teuriado: vie intramente sewado des meso e de seu mono Enquanto tala, etal minds nem sequer conse sare a sms necestade bis de maifre human. Ma dsp dit Conse reairase po ga ue irs dleseamente autodsbert ta realidad dos ogo Se ni for sta» needa bs, Teliacio contin peidorealiaio: mae for eit, pode "ira consi a bate param novo homo, O perigee se forem aplicados movlelos ocdentais para forgar © progreso econd- rico (inentiveis no presente esigio, mas perniciosos em estigio Segintc), 0 protetariado pode perfeitamente perder sua capaci Ge Kies passar para uma alienacio histories, com toda a inel feidade que ‘sto acarela, e da qual 0 Japio atval € exemplo, As Fecomendacdes de Hermann Kahn nese sensdo devem ser tom das muito a serio, embora lidas de trds para frente. Sio estas a erative que se oferecem atvalmente: ou rerio saisfitas at ne: ‘esidades bisicas por métodos teenologicos enquanto métodos, io metas, surgiti © nove homem, ou seraosatistettas tis necessidades fc eriadae otras em nivel econdmico mais eleva, por terem os rmétodos teenoligicos sido aplicados enquanto meas, € surgiré uma ‘opin atranads € mimiea do prolearado europe americano = {que tima eda infelit, por se haver perdido a esincia brasileira, ‘Um aspecto da alenacio burguesa, 0 da defasagem, {ok tema do capitulo precedente. Nio € 0 unico, no entanto (em: hora posielmente o mais nefasto). Esta parte procurar, em pri miro haga, apresentar alguns otros, ¢ depois apontar alguns Sin- tomas de sea ruptura. A dficuldade aqui € tmtevamente diverse das fiffedades no caso do eaboclo © proletanado. E est 0 proprio futor faz parte da bunguesia “Teds aspects devem ser dstinguidos o que o burgués arma ser, 0 que é eo que pode vir a er (e, em certs esos 6) No primeira aspecto € preciso dstinguir enue burgués culo © pe- aquena burguesis. © burgués cult afirma ser algo sem realmente assumirse asim (como prova 0 sorriso cinico que acompanha a aft- Imatia). O pequeno bungués nio afrma muito consstentemente 0 seu ser, tas asume a afrmatia do urgués cut, O que o burgués ‘iz que € pode asim ser formulado: € elite decisia de uma soci dade jovem, enérgica © em pleno desenvolvimento, Tal sociedade omega a romper a8 algemas seculares da miséria e ignorincia. (im postas sobre ela imperialistcamente), ¢ abrir seu territrio imenso 2 cultura ¢ 20 progresso, Toma poste dese teritério (integrao fim de nio entregio), se um mundo invejoso pretende roubilo, « pasa a elevar sua vor aia no coro admirado das nacBes como vor 4 primeira cvlizacio poderosa tropical latina, Passa portant tal Sociedade a assumir o papel que 0-destno the reserva. Com enti slasmo e energia incomparsvesjé dew os primeiros pasos decisos fem direcio da nobre meta: represase barragens fornecem eletrick dade em abundineia, uma nora capital arranea a populacio da costa 105 «transplanta o centto pura o interior, esradasestio sendo abertas fm terreno hi pouco habitado por wibos primitas, surgiam indie tras pesada,siderigics, fabricas de autuandves, complexos meek cose quimicos ¢ 6 pals se tormou praticamente independente de ‘mportacio de matériprima, produtos manufatuados passa a set fexportados, © pats ext tendo coberto por rede de exradan sft as, analfabetsmo ead sno combat, universidades etto sur indo até em cidades interioranas, a igiene far diminuit taxa da ‘mortalidade sem diminuir a da naualidade, de forma que © nimero rmajesoso de 100 miles de habitants ser aleancado em breve, a8 ‘metrépoles do tipo Sio Faulo e Rio, Belo Horizonte « Porto Alegre levantam seus tenticulos rumo ao ef, © ein todos os canton do Pais € possvel sentirse a musculatura do gigante que desperta, Tal milagre brasileiro provoca admiracso ¢inveja universal, mundo nfo quer admitir © fato obsio, eriicando maliciosamente os pe- quenos defeitos em vias de serem superados que ainda persis tem. Especialmente o estrangeiro que aqui estd tende a crtiear assim destrutivamente, portanto: “Brash amen ou deixeo", O veradciro brasileiro, no entanto, sente a euforia de um pore Drestes a assumir seu destino © esti pronto a provar, mediame ‘sforco construtivo, a0 estrangeiro (especialinente no america no), de que feito € capaz uma sociedade jovem que se asi AAté'o campo revolucionério, embora lamente os erros atusis, concorda com tal visio, ¢ aié as lutar intestinas da burguesia Provam a sua maturidade, Quem, em tal situacio, no se engajaria ‘com entuslasmo, e quem ndo concederia a tl situagio toda con fianca © todo esforgo? Pols © primeiro a nio faxélo & © proprio burgués brasileiro, Nao tem confianga no fara, receia 0 futuro e sente saudade do passdo. Nio se esforca em prol do. pals, mas em prol da familia € de si mesmo. Como poder ser diferente. ji que 0 bburgués (como todo burgués) € raradvel? A despeito do progreso conémico gigantesco, a renda_per capita nio ulerapasiou os USS 400 e, embora a tenda nacional aumente em mais de 8% por ano, também aumenta a populagio razio des 8%, de modo.que senda aumenta uns US$ 20 por ano, por brasileiro, O Bras continua Imiservel ser miserével, no futuro pressive, Embora as constr es sejam gigantescas,igualmente giganteco ¢ © pals 4 sua vac dade. ¢ foram compradas pelo prego de uma inflac que persiste ‘hi 25 anos. Embora aeducagaoseaceete geometricamente,o abso 106 Sear eaten eee ee peeks ei cee ease ag reilly cen 107 produtos arias (0 frendeiro nto &canpont, endo especoante fom cafe algo e milo) Se ther profsdo Hera espcal com fa fama e seu tempo ser for academico,exere am do ens Ghar ou tes poftoes para ura rapidamente-Troea de profit com falidade, ¢ tudo para ele € vendivel ecompriel, que em fide se firma’ Quer ter fortuna antes que a caso chepue Ha una geracto nova na alta burguesia que se itor suc da acima sbocada, So teenoratay,adminintadorese managers tues no estangeir, que nam framente 3 manipalar sacle dade e imprimir sabre ea os exquemas cenifione ents de malo tes (ordre), estes ao sho bruilelos no setdo ett do te tho, que a rigor nio alo homens (ao tendo valores). Sto fend tmenos dh auto colegio (unconiis) que eaactersm a a Tedade em tods parte e eles. o reno da burguda Inve + xpe- ranga para contomar a eaistofeameagadora Ele, porta ¥en dlespretam 4 burgusiabraeira (© burgues procura eiconder para si uma stacio Imtolecivel, o pation desrito € uma dat mancias de fuga B precio admit que al patotsmo ainda nao aleangou fe quic nso eancar) a wulencia do palriotsmo europeu ene as quer Dada a defusagem, comesponde aproximadamente a0 patotsmo rope antes da princra gta (ant da diet, quant da aque: 4h) pefetamente pote! que a aberura corde bases “omsigam superar 0 paotsmo, mas €necessisio regis. Tova, hi metoios mais eleganes de fuga A Tgeia fomece excelentes exemplo. Nio que © burgestenha probemss teolgicos © por iso busqe alge, nem que se efgie has ites ‘ou na prece para conjrar um perigo. Na verdad, a lgreja € {a tradicho do pany sstent fafa, propiede © posto, mas a ooversas ers alo puna de parfendi, No ano de 1964 a ‘lamas de Sio Paulo, com macia aistinda barges, organiaram pasicata de sliariedae com Dev conta © marximo ate. Pois€ Imporantisimo obsemar como tal abenacto tipo “atlicno 2 Peta vrs. por so qualita, engaamento verdadeiro (como no ‘aso do proleuriae). Peante os olhon anita da urges exio Surgind jovens burgese que fem do se crianineexcandlo, smconsequénca, stan no verdadero sentido do term, Eso [rons para sofcr em testemunto do (rato. Tas miter podem ter importncia radial ao apenas pa una cultra bases ser tina, mas pra oeistaismo no mundo injetando nel uma dove 108 brasileira. Posvelmenteestejam surgindo of primeiros santos bras Ieiros © ito seria mais importante que © primeiro premio Nobel (Gte quando se tata de prémio para sacerdote que preg para te- levisbes europea) ‘Outra fuga elegante € em direcio da sabedoria do Oriente. Obviamente & imporacao ocidental, nada tem aver com foriente, nas com or discursoe da Vivekaananda, das mil thas norte: Americans, © com of hippies, As damas que cercam gurus ‘iriméticor (chamemse 09 nio de gurus) sho Go ridieulas quanto 4: londrinas eae ealifornianas. Mas neste terreno também pode dat- Se o salto qualitative, por dus rades diferentes, Uma tem aver com 6 fato de 8 mentaldade braslera ser autenticamente migico-ist ‘a, propenss pars uma vvénca verdadeiramente mistica do mondo, fc que pode ariclarae inclusive em canal tio pretenso quanto 0 € tal orientalimo, A outta tem a ver com ofato de existirem no Bras ‘etdadeitos pensadores ovientals, Imigrados do Japdo ¢ da China, ¢ {que podem entrar em contato com esta borguesia alienada. Dados ‘Stes dos fats, a cultura brasileira pode, efetwamente, por salto de Slienacto para engajamento,absomer elementos orienta sintetiz lo com ot lementos ndehistéricos dormentes na eséncia braile: rm Sintomas que spontam para ito podem ser vivenciados principal Incnte nas artes ena literatura, Asim, o que € mera allenaclo nos paises histricos, pode aqui vita produrir nova realidade, e a floso- fia brasileica tm campo vasto para explora tl ato. (© borguts, ta qial 0 proletiro, na medida em que for verdadeiramente brasileiro, tende para o jogo. A sua tendéncia aventurers tem carter hiico, que se arucula nao apenas na Bola mas nas apostas em coridas, em jogos de baralho ¢ a sua saudade pelos cassnos perdos, Mas como todo burgués, cambém 0 braile fo € sétio (no sentido pejratio do temo) e tende a sélo mas, de forma que 9 abertaraIidiea ¢ mais caracteristca do prolearado. A ienacio mais imporante, no entanto,e a mals promissora para © futuro, €a tendéncia da burguesia para a foga na diregio da “cul tura”, Obviamente € mimétea e importa (como als tudo na barguesiaideologzada).e assume a forma clissca das fihas da boa soctedade que estudam matérias nobres (ite), © asim aumen- tam 0 mimero dos estudantes universitrio,lotando ax faculdades hhumanisticas © vemelhantes, Assume também a forma de grupos de fetudes, «forma de poetisas e pintora as mihares(esposs ¢filhas {de indstiais um tanto prosicos), ecm geral a forma storia das 109 rmogaseducadas que tocam piano. Mas agui é preciso interalar um parigrafo dedicado 2 mulher burguesa, A familia burguesa espelhava a vitorana até a shima serra, pelo menos quanto 3 poscio da mulher ncla Pols sto mudow Fadiealmente. Est surgindo novo tipo de burguesa, sem igual no roxio do mundo, ¢ que alia 2 feminiidade de boneca, herdada da nie © da av5, com shertura, Hberdade, espinto de independéncia empreendimento, e forma wm tipo humano muito superior 30 Dburgués masculino, Nunca havers um women's ib no Brasil. por: aque, se ¢ quando surgir uma anténicaeultora brasileira, 2 mulher Sssumird automaticamente papel de Ideranca Eatretanto, 0 diletantisno cultural (especialmente feminino) ¢ sério perigo para tal cultura. Tratase de imexpomabilidade incompetente, senta de uadicio ¢ sedenta de senmicio, que se derrama na forma de exposicies, reprsentaches teatras, concertos ¢ publiagies, © inunda o ambiente. O perigo info € 2 propria onda, jé que cla€tpicaalienacdo igual no mundo intero, mat sim que tal onda ameace sufocar as verdadeiras man festagdes de nova identidade que aqui ocorrem. Tais manifestagoes fcorrem (jf foram levemente discuadas,¢ 0 serio novamente). ¢ é tarefa-da erfca consciente (praticamente inesstente) sahaguard- las da ond, Aqui serio consderadas apenas do ponto de vista da alienagio. 0 fendmeno pode ser descrto da seguinte forma: 0 burgués foge da sttacao econdmica, socal poles insuportivel diregio da cultura c, por sto repentino, descobre uma nova real- fade, a do espirto erlador humano. E um tereno que the oferece desafo intciramente diferente do desaio do qual esta fugindo. Nele pode realiarse autenticamente, livremente, e humanamente. E terdade que tl realracio € acompanhada de surda mi consents (quanto & reavdade abandonada, mas ¢ iqualmente verdade que existe SSjusiicada expersnca do feedback posterior entre ambos on terre hhos da realdade. Se 0 burgués descobre que seu verdadeiro fengajamento € no terzeno da cultura, seria wait no apenas a si mesmo, mas também a sociedad, se quisese desistir por causa da simmagio da qual esa, originalmente, fugindo. Pelo conteitio, a situagio da qual fogia se benefciari de seu novo engajamento. E ‘ste fato (incontestavel) most bem como a alienagio no Brasil é Inteiramente diferente da histriea, © como aqui entegoriae marxi+ tas so inaplicives no Pode perfetamente acontecer que no Brasil econo: ria no sejainfrsestrutura mum sentido dileic, cultura no teja superestrutura, mas que exatamente © contraio set ca, Depise a for de tl texe mio apenas 0 fato de que 2 orgialidade a erinividade brasleiras se ariculem mito mais na eultira do fue na economia, © que a cultura absorve « engaja ex melhores Brasileiros, em detimento da politica, por exemplo, mas principal mente 0 seguinte: a unica verdadcira revohigao Brasilia, 2 "Sema hha de 22", se deu ma cultura, E cla que revokew a esrucura inter Tamente allenada da cultura anterior, formando a base de toda Cultura futur, seja postiamente, seja negatimente. De forma ‘que engajamento em cultura pode perfelamente ser no Brasil fngulamento no que hi de mat fundamental, © mais significative pao futuro, Seri na cultura que se dari o novo homem, ow no fe dara em parte alguna Para resumit 0 que se ratou da burguesia alienada: © Dbucgués pretende idcologieamente ser elite de wma sociedadde em ripido progresto, © tio forte ¢ tl ideologia que por vezes vira fengajamento de segunda ordem. Em momentos de angistia 3 periculosidade da sa situagio se torna patente, e para sufocar a Engistia 0 burgués foge ei toda diregio posrvel. Mat 0 cutso, a Taga acontece que sua alienagio vire engajsmento, e que 0 burgues descubra e altere novae reaidades. Asim estd suryindo ‘um now eristianisao, uma nova eeligiosidade nfoshistrica, e uma hhova cultura, a articularem um novo tipo de burgués, sem igual fo resto do mundo. “A andlse asumidamente fuga da alienacio no Brasil tem por resultado: « populagao vive em alenacio impenetrvel € fandamentalmente inexpicével, com a qual € necesito contarse ro futuro peeve, © ito problematiza todo o processo brasileiro © proletisio vive alienado por fatores emelhantes 20s que alienam fo proletariado univeralmente, © por outros, xpecficamente bras Teios, Da sitagio econdmica e social foge paras jogos. € eles ‘sutpreendentemente, para © pensamento histrico, onde consegue fealizarae. E claro que tal reiracio € duvidosa enquanto ni est ‘ere satsfeitas a sas necensidaces basin. Mas, se sates, pode {urge um nove tipo de proleario que enta a allenago historia por tomar por realidade a vida no jogo, 2 nio ser que a tendéncia siolenta rumo a0 progreso hixérico sufoque esta Vetualidade para (© homo tudens, O bburgués vive envolto por ideologias que nic m permitem que se encontre consigo mesmo « o fazem arratar 0 pais ba direcio japoners, ou na direcio do proprio suicldio. Mas ha Eintoms que apontam um auténtico encontro do burgués consigo Incsmo, e exes permite 4 esperanca do nurgimento de um novo tipo de burgués, nao histérico em sua cultura e veligiosidade ra resumir tudo ito: a tendéncia chamada aliens ‘io (ve for interpreta com categorie histéricas) pode perfeti- fnente ser, no Brasil, auténieatendéncia para 0 enconteo do bras Tero conga mesmo, ito € com sua verdadcira exencia brasileira Se tl tendéncia nio for siforada e transformada em alienacio hi ‘rica, pode srg aqui um novo tipo de homem, com novo tipo de teligicsdade, cultura, jogo e, porteiormente, com novo tipo de vida fmm sociedade, ne Miséria (© termo “miséria” tem, em muita Kguas,inchsive erm portugués, uma conotacio que aponta avareza. Em alemio, no tntanto, significa, em oxo antigo, “vier alenado" ~ im Elend leben inguassf0, entre outras cota, tesouros de sabedoria das geracées, fe nao €0 pior dos pontos de partda para resolver um problema consular lingua a respite Mas, no. presente caso, como interpretar “miséria” fenquanto slienagio © atarera? Por exemplo, asim: avavera € res tudo da autocntrega alienada a coisa (Selbstentacuserung), que pasa a scr acumuladas para feencontrarse nelas © isto € misétia hhumana, Mas tal miséria no € 0 que o termo pretende, via de regra. De modo que a sugestio Linguistica deve ser arquivada para {io posterior, embora notada O termo significa, via de regra, em contexto econdini- co, caréncia acentaada, O aparente contrino seria exceso. Mas desde jis sugesto ingistica advert: hi miéria do exces. A mise rir da riquera excestva, a couleur grse de Vargent que marca os Tost don capitalists, vise até na face, queimada pelo sol, dos Dplayboys De forma que exceso no € 0 coniririo da misésia, mas fia outta forma. importante notito, O excewo ¢ miséra, porque tem a ver com dependéncia de coisa Tem a ver com reversio da Felacio "homenrcoist, na qual 2 coisa deixa de funcionar em fun ‘Go do homem eo homem passa a funcionar em fungio da coisa De forma que o homem deiza de posir coisas e pasta a ser poss ido e poseso por elas Este tipo de miséra ¢alienacio por exces. Portanto a miséria por carénda, por ser miséria também, deve ter estratura semelhante. A saber: também deve extar relacionsda com fdependéness de cons, com falta de Iiberdade. A estrutura pode ser tsi formulada: na caréncia 9 homem é misersvl, porque cutie apertado por coisas que Ihe fallam, e neste sentido radicalinente tscravo. No exeesso © homem é miserivel, porque coiificado e aper tado por coisas em exceso, © neste sentido {embors secundino}, to eravo quanto As ontologiasinspiradas pelo exstencialsmo, expecial- mente Heidegger, analicam tal estrutura culdadosamente. O fexstencalimo tenta romper o pensimento historicista, até porque © pensamento historicsta, at se colorido existencialmente (como acontece atualmente, e nip raras vets), tende a menosprezat Imisia por excesso aflemar que falar nel implica querer minimizar 2 misérla por caréncla, a nie verdadeira, Ito se explica para @ ppensamento histérico, a plenitude dos tempos (sca ela paraiso na terra, a sociedade perfeita de consumo, om 2 sociedade comunista) € base do engajamento histéico e ¢ stuagio na qual reina exceso ‘Quem apontar 0 fato de poder exinir mise inclusive a plenitude dos tempos, miséia ndo menos terivel que a outra (quem até in Sisir que cal misria € ineviivel),extars minando 0 engajamento histérico em prot do progreso, © nico concebivel para opens mento histories, Serd“reacondrio" num sentido mutto-nefasto do termo, Tal ipo de reagio se artcuta nos paites que se aproximam da plenitude dos tempos em nivel econdmico, porque Ii se manifer- 1a, nefastamente, a miscia do exceso, E ateta 0 “fim préximo da Inswra", do qual tanto se fla. AS defeas do historic contra exte tipo de ataque “Teaciondio”sio tentaivas de passr do nivel econd> ‘mico para outro *histrico", por exemplo, pars da libido, no qual © progresso continua com mesma esuutira. Mas ndo convencem muito, jd que pode haver miséria por excesio de libido, como © prova's propria Califnia na qual Marcuse enna Mas, seo problema da misria for dscutido no Brasil « nio na Calfénia falar em miséria por exceso parece demonstrar {alta de goro, para dizer 0 menos, Porque aqui, sparemtemente se trata de miséria por dbviacaréncia em todo os campos, e de miseria Drutalmente acentuada. Parece pois que falar em miseria por cexcesio beira@ alienagio criminosa. Parece, mas nio é, © 0 pre- sente capitulo pretende mostrélo. Pretende mostrar que, pelo contrério, aqui € 0 lugar ¢ agora € 0 momento de consilerar a au sniséria em seus dois aspects. Porque, se for verdade que 0 Bratt pensa nio historicamente, entio deve ser igualmente verdade que o problema da miséria aqui é existencal, © naotistorieo, © ue apenas asim pode ser compreendido a fim de ser atacado. Ese isto for verdade, entio a miscria brasileira devers revelat ‘quando analisad, exatamente aqueles aspectos que $40 salient dios pela andlse exisencial, © ter portanto importinca para hhumanidade toda (Como se sabe, na andlise heideggeriana (€ ao ape- nas nela) aparece a questio da angistia ¢ da preocupagio intima tnenteligada & questo do tempo. Smpiicando muito. o complexo todo pode ser assim resunido: hi uma maneira de ser da existent fae qual esta se rende ao mundo ¢ se aliena progresivamente de si mesa, ¢ esta maneira Heidegger chama de “decadente". Mas é perfeitamente Het chaméla de "existencia miserivel. Pols se a xisténcia ve der conta da sua miséra, seré tomada de angistia, a aber, da sensacio de estar empurrada para um canto, cobficada, fpertada,e ola, Pois tal angistia abre para existéncia a poss bilidade da liberdade, ou seja, a possibilidade de existir no indeterminado, portanta no futuro, Esta posibiidade aberta pela fngistia se realiza na preocupacio, que € uma forma de ser da Cxbténcia tipiamente humana, Porque preocupacio € um preocw: par o futuro, um apresentar 0 futur, wim exist para o futuro. E Elaro que este conceito do futuro mada tem em comum com 0 futuro do historicamo, O historikmo toma futuro como tendéncia fe um proceso objeto © universal, ¢ 0 existencialismo o toma ‘como posibiidade aber para’a exsténcia humana, upicamente hhumana. Pois, como se sabe, 0 Brasl € chamado em toda parte "pas Go futuro”. Tl lugar comm € imterpretado, aqui fora, apenas no Seu significado histérico ~ por exemplo, como pais que tende a transformarse em grande poténcia. Sob tal leitura a sentenca é provavelmente fan Mat pode ser também lida existencalmente, por exemplo asim: pais mieréel, comado de angista, e que da Finais de preocuparse. Sob tal interpretacio a sentenca passa a ser Sitamente signfcata, porque af © Brasil pass a ser, do apenas pais do seu proprio futuro, mas do futuro da humanidade. O ene capitulo procurard mostrar 9 quanto tal interpreta & ¢ E conret.isto.€. 0 quanto o brasileiro € realmente angustiado © preocupado, ¢ 0 quanto cle € “eufrico", no sentido recomendado pela buirguesia abienada Hi obtervadores do Brasil (ndo necessariamente os Piores) que falam em um “wago oriental” que o caraceria (ag noo lugar de ertear 0 termo, praieamente vaso, “ortental jt ‘que procura ingenuamente Feunir sob denominador commu fend menos dspares como "Ili" e “Xintfsmo") E verdade’ no Brail hi elementos orients, por exemplo, japonescs ¢-chineser fe irabes, desde que se decida, muito problematicamente, chamslos de “ori cemtais”). Mas nio € ito que’ os observadores menclonados preter dem Pretendem aquele aspecto chamado pelo século XIX teeming iilions (isto, antes que ox milles pasate formigar tambcm nos Estados Unidos), ow aeja, 0 aypecto que expe a misria dat ‘massis compacts na forma de sues, docnca, mendicincia, defor ‘magio fisia, e também na forma de indilerencafaalisica, ¢ que 4 expe nas ruas das eidades © nas estradas do pais impudicamente E sob este aspecto que chamam o Brasil de a “India sulamerieana” ‘quando justamente a India € um dos poucos lugares que nio con ‘uibuiram com imigracio para a massa brasileira, © portant, neste Sentido, no se pode falar em indiuéncia hindu sobre ¢ caster bee- sili. Mas nio'é isto que pretendem os obsenadores, Pretendem ‘onstatar uma semelhanca Superficial entre os dois paises. seme thanca esta notada por turisa. Para enumerar alguns tagos de tal semelhanca: ambos possuem populagio de raga mista, e de mistura hippie). Soo reacionsras no sentido de que toda verdadeira rex olugio, no seio de tal ieologa, necessriamente resulta em mais tim pasio rumo 20 abismo, Tal afirmativa apenas significa que atual- mente o progres se automatizou ata ponto que desprera as meras feagoes humanas, A "revolugio americana’, que dizem estar ocor endo atvalmente, nada modifica a este Tespeito, por set fmtiprogressnta, portanto fadada 20 malogro. A revolucio chines, fsa sim (por parcas que sejam as informardes a seu respeito}. par rece querer tra as kimas conseqiéncas da ideologia.¢ 0 abismo Cento se aproxima mais ripido a exda dia que passa. Mas, no Brasil erquase que apenas no Bras, extio surgindo tendéncias que se poem a tal ideologia sem serem reaciondtas, porque ni sio “com "A xdcologia progress ter, no Bras papel diferen te do que em outras trras ndohistricas tals como a China. Nao se ttata de ideologia importada como na China, mas de parcela da pripria mentalidade brasileira, trazida pelos primeiros imigran {es € constantemente reforcala por outtos. Neste sentido 0 Bra- Sil 6 efetivamente “eristio". Mas a ideologia progressisa ndo € tubsrato de todo pensar, esperar, sonhar © agir, como na Euro- pa, mio passando de wm dos elementos da sua mentalidade ‘eterminar grande parte do pensar, sim — mas nio o resto, Neate sentido, o Brasil nao ¢ “erst, afinal de contas. Por iso ‘0 brasileizo pode ssw atinude muito mais independente pe: ante a ideologia que 0 europeu (embora termos como "acim" Yembaixo" sejam apenas relativos, nlo deixa de ser sintomitico (que Witgenstein afirme extar °absixo” da ideologia, of extrut 168 ralistas se percebam “de fo ‘Svar “acima’). ois tal extar a dessus de Ia melée € extremamente problematico, e tem sabor de uva azeda, Se esa aitude Fosse assu- fda apenas por pensadores braietos (e por pequena minoria fentre estes) sera deaprenvel. Ndo provaria nada @ alo ser a tents tia de tranaformar um defeito (estar eliminado) em vantagem (es tar por cima), $6 que fa “estar acima dos acontecimentos” no € attade de pensador, mas sm gesto concreto no diaaia. Por exe: plo, na forma do jogo. Por exemplo, na relacio cordial entre as pessoas, ¢ que despreza “ate”, Por exemplo, na atitde aswmida perante a mséria do ouro, Por exemplo, nt arte © na tecnologia E, por exemplo, mais significativamente, ma lingua. Todos estes ‘exemplos proram concretamente que, no Brasil, 0 "estar aca dos fcontecimentos” no € pore, mas atitde auténtca, e que, pelo ‘ontario, "participar” aqui € pore, Para tar ta afirmativa de’ um postive! oprdbriohisoricsta,o primeiro exempl, 0 dos jogos, serd Hluminado tum pouco mais intensamente. 1 terme "jogo" pasow 2 scr central na atualidade, € € earacteritico do momento £m que esto surgindo, 20 lado de fours teorias formais (como a da decisio, a da informacio, a dos Sistemas complexor), ¢ extretamente relacionadas com elas, tam ‘bem teoras de jogos E caracteristico, por duas razdes diferentes. A primeira € que isto prom que 0 pensamento formal se opde 20 hhistrico, © @ segunda € que isto prova que “jogo” nio mais € udo por funcio de ontrasavdades, ms outras atidades € que so tdas, por fone de jogos. Esta segunda rario significa que a seriedade e {moral de trabalho do burgués esto sendo superadas. “Jogar” nio ‘Sgnifea mae apenas atiidade preparatria para o wabaiho, ov at vidade rertauradora de foreas depois do tabalho, mas, pelo contr- fio ciéis, economia, téenicae fuerra no passam agora de varia tes de jogos. Conseqiéncia da nova atinude € nova terminologa, portano novo pensamento. Falase em reyras do jogo da cigncia, em fextrategis no jogo da economia, € 0 enfoque witigensteiniano da Tinga como jogo redobea significado, posrivel engajarse de viras manciras nos jogos. Por ‘exemplo: jogur para ganhar, arriscando derrota. Ou jogaé para nio perder, para diminuit © risco da derroca e a probabilidade da vite ‘ia. Ou jogar para mudar o jogo. Nas duas primeiras estratégias © ‘engajada Se integra no jogo, e este passa a ser universo no qual © 0 brailero tenha a senancio de 189 ‘exis, Na terceira esratégia 0 jogo ao passa de elemento do unie verso, « 0 engajado en "acima do jogo" Se ciéncia for jogo, 0 Xeno se engaja nel pela estratégia um of dos, e 0 cents pela festrategia tres (procura mudar 9 jogo, alterar suas vegas eintrod tir ou eliminar elementos). Se ingua for jogo, o participante da Conversagio se engaja nela pela estratéyia um ot dois, ¢ 0 poeta pela estratgia tes (pelas fazdes indicadas). O mesmo pode set {sim formulade: quet splica esratégia um ou dois exquecew q ‘etd jogando (por exemplo-técnico, paricipante de comersacio, industrial, politico, generale lider esdantil exqueceram que esto tmpenbados em jogo). Quem aplica estatéyia ts sempre conser- ta distincia suficiente para darse conta do aspecto lidico da sua Stvidade (por exemplo:centitateérico, poeta soto e fturGlogo) ‘Também 4 histéria pode ser considerada jogo, Sob tal enfoque, quem pensa historicamente eaquecen que esta jogando. E quem ‘plica ‘estratégia tés & historia no pensa historiamente, por ‘etar_distanciado, is um tal enfoque hidico da histéria no & nov dade. Omar Khayam diz, pela boca de Fitgersld, que is all ‘checquerboard of night and days, whereon faith with ourselves {or ploces plays ha quem considere a vida humana jeu de amour fet dy hasard. O enfogue Widico da historia resultado do pro Dio jogo histérico, como o prova a teoria dos jogos que surgid no Gcidente. Embora assim sea, tem sentido a aflrmativa de que 0 serdadcito homo fudens (ou, quem aplica a estratégia 85) nao hnabita 0 historicamo, e nele no se sente abrigado. O Brasil € prova dist. O braslelzo aplica estratégia tés sem qualquer teo Fa, € homo ludens espontaneamente, © com isto se torna 0 oposto ‘exito do jogador de Dostoiesky. "Em portugués, de modo caracterstico,existem dois verbos para signiicar 0 play inglés, © spielen alemio, 0 jouer francés: 0 futebol ¢ "jogado", enquanto que 0 carnaval € “brin- ‘eado”. Os termos “brincar”e “brincadeira”sio de dificil captacto para quem nio fala o portugues, j2 que nio significam apenas Sfogar alegremente sem regea™, nem significam apenas "farer graca", mas, também, “agir com faclidade”. Este profundo signi> Fieado do verbo aparece na expressio "0 brasileiro trabalha brin- ‘ando e brinca tabathando”. Semelhante significado nio aponta apenas a estratégiatrés, mas também um desprendimento. quise alegre, espontineo, e quase sacr. Signifca o homo ludens 170 Percebé nos coloca no lado contrtio da faturologia, pensando a aplicacio da tcoria dos jogos 8 histéria humana, Proc Ela deseabrir as regrat do jogo, 08 elementos do jogo, a stuagio Stal do jogo, ¢ ov lances posses Se todos os lances posiveis no Joyo resultarem em situagdo indesejivel, propie a futurologia que jum modadas a8 regras, 0% oF elementos, ot ambos. Tal proposta parece provar estar futurologi “acima da hiséra", tendo super fo o pensamento hioricita, Nao descobre ela o futuro (qual pro- fecia, que € um dos bergos do histricismo), mas manipula o futur, Pois quem brinea nio pode fazer futurologia. Porque quem brinca io est empenhado em futuro histérico (porque o futuro da farologia € histrco, apenas histria maniplada), mas em futuro fxstencia que a propria brincadeira esabelece. Nio se preocupa om o faturo.e nese sentido €.0 homo ludens. um homem despre ‘eupado, Mas avanea contra o futuro, e neste sentido pré-ocupa 0 fro. E despreocupado, portanto préocupa. O exemplo do teen fo brasileiro, dscutido no capitulo “Calura, astra 0 caso, Quem fem palpite genial trabalha brincando. Tal asude permite que 0s problemas (o futuro existencial) se apresentem e, 20 se apresentae fem, revelem aspects insuspeitos, O tecnico, enguanto hom ludens, {st acima dos: problemas, porque no apenas iteressdo na sa Solucio, mas nor proprios problemas. Nio mergutha neles qual ho- mem historic jf. que nio os toma snteramente a sério, etl dst Cia permite novo tipo de engajamento. Esatégia tés € 0 nome fesse engajamento na teoria dos jogos. Quem pois resolve proble- ‘nas brineando € brinca com problemas, nao para resolvlos mas para telon, tem fro, poss furo, no € possnido, no € posssso por cle, © pade recorrer 4 futwologia como apenas tum dos seus Insiramentos dsponives. 1 tecnica ¢ exemplo de homo hudens tomado da elite brasileira. Que seja completado por outro muito mais modesto. O imigrante ota surpreso a total indiferenca do brasileiro com relagio ao barutho, Choferes de tx ligam © Fidio num volume tal que esespera 0 pasageiro, Nat ljas ¢ nos restaurantes reverberam Imisieasignoradas por todos em decibels incontaveis, € nos cine nas a fits sonora praticamente ensurdece. Este fendmeno pode ter incerpretado de duas maneiras. Pode se dizer que isto prova folidao do brasileiro, « os ridios portitei, que acompanham 0 proletirio constantemente. depriam a favor de tal tese. Mas se pode dizer também que © brasileiro esti acima do barutho. Tal m Ieitura do fendmeno implica a constatacio de que o brasileiro, 40 contririo do eutopeu, no esti banhado pelo baruho © engajado hele, mas brinea com o barulho e brinca de fazer barulho. E nome Jadens em forma asumidamente primitira 'No capitulo sobre a alienacio,virias formas de jogos foram discuidas, como 0 futebol, a loteria e 0 camara, portanto formas que fazem parte do nivel cultural aqut chamado “basic Tair formas promam ser o brasero bascamente homo ludens. ©. cxemple do tecnico ihutra como exte taco bisice pode romper a Fecudocultura hisiriea esubdlecerse em ne elevado € compexo, io € dico exemplo posi. A btratura, as artes plsicas a miniea | provam outasrealiagoes no mesmo sentido, hi viralidaes ain: a inaproveiadas. © homo ludens conscente esd surgindo em toda pare, © ele € aspeco importante do now home, (Os paises histricos sio vismas de ideologia que co- imeca a revelarse’delitio, deliio este que ameaca nio apenas a Iiberdade ¢ a dignidade humanas, mas talvez até a existénda fisea ‘numana. No Brasil a ideologia progressta opera, € opera com maior jjsificativa, porque aqui ainda nio foi alcancado 9 nivel que torma © delirio evidente. Mas, a despeito dss, a ideologia nao permeia © Ambiente brasileiro, apenas © encobre superficialmente. Sob tl Ianto se prepara nova identidade humana, que em certs lugares | rompeu # cobertura © surgi toma, Isto nio significa ser o Brail o Snico Inger no mundo no qual © proceso ocorte, nem que o Brasil rea nica esperanca para a humanidade, Se fose assim (considerandose a situacio atual {do Brasil), a humanidade exaria em mats lengsin, 4 pomto de de~ sesperarmos todos. Nio se defende aqui uma atiude messinica ‘quanto ao Brasil A texe defendida ¢ aproximadamente esta 0 ho- mem dispde de capacidades incrives de nio apenas safarsc de situages aparentemente sem saida, mat até de chriquecerse com tals experigneias adquirda. Into ele tem promdo no cuno da hie t6ria, © provavelmente ainda melhor no curio da préshistérin que ignoramos. Atualmente ele se encontra mait uma vez em sitwagio Alife. O fato de ter sempre se safado no passado nio prov que ‘conseguirs o mesmo atualmente. No entanto, em virioe Ingares surge sintomas que torvam possiel nutrirae experanea de que Tmumanidade se salvars ainda uma ver, ¢ afirmars sun dignidade petante o abrurda que & 0 mundo, Eun dos vrs hgares (ndo de ‘muitos lugares) € o Brasil da atualidade. 1 Fis 0 diagnésico © © prognésico para 0 brasileiro tal do pomto de vista de um inigrante que se engajs ncle © com tle: 0 Brasil € pats miserivel, ha fore © ha docncas, grande parte {4 populacdo vegeta em primitvdade second, encontrase con ‘dictonade por naurera périda eforgas externas, Em tal stag de Iniséia, porém, exstem germes de in projeto brasileiro, 0 qu ‘mediante sintese de elementos heterogéneos, vist uma now mi neira de vida humana, digna, Mdiea e exladora O sabor dessa nova rmaneira de vida impregna a stuagio, a despeito da miséra reinan- te, © toma a existéncia no Brasil empresa signifcatia. O projet, cembora apenas germe, estd aqui, ndo € mera fantasia, por mais que viriasideologis © queiram negar porque © projeto se opie ao pro- {grewo por elas vsado, Nio é mera fantasia tal projeto, nem € utopia ‘querer descobrio, porque, no final das contas, se nio fosse tal proje- to, a vida nio teria sentido, Fazer mai atstoméveis, oo mas um leo, sera tio absurdo quanto 0 € na Europa e nos Estados Unidos, A sensacio do absurdo nio caracteri 0 Brasil justamente por- aque existe 0 projeto Pode perfeitamente ser que os sintomas do. projeto, apontadas ao longo deste eno, scam fodor ele fakor. Pode perf ‘amente ser que todos tenham sido mal interpretados. Mas, em ta cao, deve haer outros sniomas que ete eneaio ou nfo note, 0. Se 05 notou, nio capiou coretamente. Porque, quanto 20 projto, 30 pode haver divida existendal: fala do abwurdo 0 prov Prow-o 3 rosa sensagio: quem se engajanele poders dive, na hora da more (que no vvew ineiramente sem sentido ~ embora ta afirmatio vi pasar pelo crivo da hora da morte, chirando, no momento, perige- Samente, a demagogia O problema é este: no fundo, quando se trata de dar Semtdo a vida, quando se wata de engajarse, quando se trata de ‘am now homem’, € da religioridade que se tata. E quem quer falar em religiosdade (em yer de vvéla ou nio vivela) cana de rmagogia, Inclusive, quicd, © subtulo do presente ensio. as

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