LIVRO I
CAPÍTULO 1
D e s e nho s
LENA BERGSTEIN
Ateliê Editorial
Título original em inglês
FINNEGANS WAKE
1• edição, 1999
2• edição revista, 2004
Joyce,)ames, 1882-1941.
Finnegans wake Finnicius revém /)ames Joyce;
=
04-3868 CDD-823
Ateliê Editorial
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Brasília, 23 de maio de 2017.
IN T R O DUÇÃO 13
NOTAS D E L E I TU RA 87
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I
Introdução
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I
Intro dução
Por flores e por floras, por faunos e por faunas, por vidas e por vias, flui
Finnegans Wake, o romance e o rio, o romance-rio. E fluem recordações,
estilhaçadas, entrelaçadas. Como os átomos epicúreos, os fragmentos joycianos
caem em efêmeras e progressivas combinações.
Finn MacCool, gigante mítico, capitão dos guerreiros 'irlandeses, os valentes
fenianos, eleva-se entre as recordações antigas, instigado pelo nacionalismo ir
landês, e arrasta consigo o pedreiro Tim Finnegan, o da canção popular, que,
embriagado, caiu da escada, feriu a cabeça e morreu. A queda do pedreiro entra
no rol de outras: a de Lúcifer, a de Adão, a de Roma, a de Humpty Dumpty, a de
Charles Stewart Parnell, a do rei Marc, a de Tristão, a do Noé embriagado, a da
maçã de Newton, a da chuva, a queda diária de todos os homens, sem excluir o
colapso da bolsa de Wall Street. Quedas e restaurações movem o universo.
Na terra da magia, o uísque é poção poderosa. Um amigo lembra-se, entre
fumo e círios, de administrá-lo a Finnegan. A imobilidade cadavérica não freia a
ação da bebida. O pranteado se levanta, e o velório culmina em festa. Líquido,
não importa a natureza, regenera. À semelhança de Thor, de Prometeu, de Osíris,
de Cristo, de Buda ... , no ressurreto borbulha a vida. Persuadem-no a voltar ao
leito da morte para que outros vivam em seu lugar.
Ouvem-se em Finnegans Wake sonoridades do idioma que uniu o Ocidente, o
latim do império romano:.ftnis (fim) aposto a again para anunciar a circularidade
viconiana. O componente latino induz os irmãos Campos à tradução Finnicius
Revém. Ao passar pelo francês (rêve- sonho), o título traduzido sustenta a subs
tância onírica do romance. O tradutor romanceia na esteira do original. Opor
tuno é recordar, na composição do título, a expressão latina fines jluviorum, as
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desembocaduras dos rios. Podemos ignorar fin (fim), substantivo francês que
rima com revém, vínculo sonoro de princípio e conclusão?
Nada impede que se veja em Finnegans o s de posse, em outros tempos escri
to sem o apóstrofo. Assim, o título nos encaminha ao velório (Wake) do infaus
to operário. Se retivermos, contudo, o plural, assinalado por s, alcançamos o
despertar dos Finnegans. Quem são eles? Todos os homens? Por que não? Ho
mens Concorrem. Ei-los. (Here Comes Everybotfy), HCE, o Homem a Caminho Está...
Morrer e renascer é o destino de todos. Os que morrem renascem em filhos, em
feitos, em livros, em monumentos, em casas, em árvores... De muitas formas se
regenera a mesma energia vital. Finn MacCool revém em Tim Finnegan, assim
como Odisseu refloresce em Bloom (Flor) . Outros sentidos haverá. Repetidas
leituras não esgotam a reserva das criações joycianas.
Sobreposições afetam tanto o título quanto a variedade das narrativas. Co
mecemos, por conveniência, pela mais banal, a de um certo Porter, já na me
tade da vida, de raízes escandinavas, taberneira e unido a Anna, de ascendên
cia russa, uma ex-caixeira de pouco estudo. O casal vive num arrabalde de
Dublin, Chapelizod, nas proximidades do Phoenix Park, às margens do rio
Liffey. Porter, aventureiro, faliu e recomeçou. Ele, episcopal, e ela, presbiteriana,
ambos isolam-se da maioria católica. O isolamento lembra Bloom, de sangue
judeu. Porter e Anna têm uma filha, Isabel, e os gêmeos Kevin (chamado as
sim em homenagem ao santo ascético, S. Kevin) e Jerry. O primeiro é prático;
as artes, ao contrário, seduzem o segundo. Dos afazeres domésticos cuida Kate
(Kathleenna Hoolian, Old Mother Ireland) viúva de Finn MacCool; ela guar
da lembranças dos tempos em que seu marido era senhor da Irlanda. Porter
mantém ainda um empregado, Joe. Mencionam-se doze fregueses habituais e
quatro anciãos. Entram na trama as amigas de !solda, vinte e oito jovens que
moram na vizinhança.
Porter bebeu mais do que a prudência mandava, aliás, atravessou o dia rega
do a uísque. Isso sucedeu num sábado de muito calor. Cantou-se. Visões oníricas
povoadas de pesadelos reelaboram os excessos diurnos.
Já sem atração mútua, marido e mulher ainda se recolhem ao mesmo leito.
Os filhos são agora a paixão dos velhos. Anna se afeiçoa a Jerry, Porter prefere
Kevin. Sempre em conflito, Jerry e Kevin evocam Caim e Abel, inimigos até ao
fratricídio, ou Esaú e Jacó, candidatos à primogenitura. Uma mulher mais jo
vem perturba os sentimentos do taberneira, a própria filha. Interiormente in
cestuoso, um pesadelo o degrada a símio, a inseto. É assim que aparece Humphrey
I n t r o d u çã o DONALDO SCHÜLER 17
·
Hoel. Este, em reconhecimento de seus feitos, dá-lhe em casamento a irmã, a
!solda das Mãos Brancas. Como Tristão não conseguia varrer da memória a
outra, o casamento não se consumou. Fingindo-se louco, volta ao palácio de
sua inesquecível amada. A irlandesa exprime o desejo de morrer nos braços do
amado e partir para o país donde ninguém volta, a terra de cânticos sem fim.
Às desventuras de Tristão, Joyce aproxima a aflitiva vida amorosa de Jonathan
Swift (1 667-1 745), nascido e formado em Dublin, ironista a quem as Viagens de
Gulliver deram notoriedade. Jonathan, já nos seus maduros vinte e dois anos,
conheceu, quando secretário de William Temple, numa localidade não longe de
Londres, Esther Johnson, uma menina de oito anos. Swift homenageou-a em
]ournal to Stella, lembrando-a com este nome literário. Esther Johnson seguiu
Swift até Dublin, cidade a que o escritor foi levado por deveres profissionais,
chegando a ser deão da igreja St. Patrick. Na Irlanda conheceu outra Esther,
filha de Vanhomrigh, comerciante de origem holandesa, a quem dedicou o livro
Cadenus [Decanus] and Vanessa. Indeciso entre uma e outra, apressou, ao que
parece, a morte de ambas.
O romance alude, incorpora, modifica e parodia número imenso de obras,
núcleos seminais de nova floração. Não há página em Finnegans Wake sem evo
cações literárias - as bíblicas superam todas - como se Joyce quisesse abarcar
tudo o que se escreveu, fazendo de todos os textos um livro só.
Apontou-se Gimbattista Vico, aludido já na segunda linha de Finnegans Wake,
como uma das colunas do romance. Para Vico, quatro são as Idades: a dos
deuses, a dos heróis, a dos homens e o ricorso, período confuso, fim de um ciclo
e princípio de outro. Saídos da barbárie, os homens entram na idade dos deuses,
orientados - como pensavam - por governantes celestes, cuja vontade se expri
me em oráculos e auspícios. A passagem da barbárie para a idade dos deuses é
acionada por fenômenos assustadores: dilúvio ou fogos caídos do céu. Os ho
mens vivem na mira de seres disformes que não habitam em cidades, os gigan
tes. Intimidados, os homens dobram-se ante governantes celestes, controlados
os impulsos destrutivos. Na idade dos heróis, a segunda, dominavam as repú
blicas aristocráticas. Essa idade é inaugurada por combatentes da estatura de
Hércules e dos guerreiros homéricos que ampliam o espaço da civilização. Na
terceira idade, a dos homens, surgem as repúblicas populares e as monarquias
orientadas por leis humanas. Platão, autor da República, atua na idade dos ho
mens. Vem a débâcle: paixões desenfreadas Quxo, indolência, avareza, inveja, so
berba) . Entramos no ricorso. A providência socorre os degenerados. Confundi-
Introdução D O N A L D O S C H Ü L E R 21
Ungeseres é criação onírica: sem-queixa. Tudo indica que a expressão onírica foi
calcada sobre a expressão corrente: Auf Wiedersehen - Até à vista. Que sentido
terá Até à sem-queixa? Ora, entre queixa e sem-queixa, esta última vale mais à
semelhança do caviar sem sal (ungesalzene) que supera em prestígio o salgado
(gesalzene) . Ocorre a Freud que o povo de Israel, saindo apressadamente do
Egito, levou pão sem levedo (unsgesauert ), razão por que durante os festejos da
Páscoa os judeus comiam, ainda em sua época, pão sem levedo. Freud recorda
que, andando no período de Páscoa em Breslau, uma menina perguntou-lhe o
nome de uma rua, quando viu uma placa em que se lia Dr. Herodes. Observa
jocosamente que não podia tratar-se de um pediatra, já que Herodes ordenou a
matança dos infantes em Belém. Um colega que lhe expôs o significado bio
lógico da simetria bilateral observou preliminarmente: "Se tivéssemos um olho
só na testa como o ciclope... ". Ciclope evoca míope. Freud lembra o filho de um
professor molestado por uma afecção em um dos olhos. Na opinião do oftal
mologista, o mal não seria grave se permanecesse unilateral. Normalizada a visão,
a doença se manifestou no olho antes sadio. A mãe, aflita, voltou ao médico,
obtendo por resposta: "Por que fazer geseres? - Por que queixar-se?" A restauração
de um dos olhos anuncia a recuperação do outro.
A leitura dos sonhos abre caminho a processos narrativos que incorporam
várias línguas, conjugam lugares, aproximam culturas, congregam épocas, mis
turam expressões vulgares com relevantes encadeamentos teóricos. Joyce reali
za o que os textos de Freud sugerem. Joyce explora mo/ate - lembrança de Freud?
- já na primeira página. Finnegans Wake exige interpretação. O romance faz do
leitor analista.
A experiência onírica parte o eu em dois. Um é o eu que restaúra o sonho,
outro é o eu que origina as imagens estranhas, aflitivas. Nos tempos míticos,
dava-se ao sonho personalidade própria. O sonho estava a serviço dos deuses,
era um outro, portador do bem e do mal. No sonho guerreiam eus - sonheus. O
eu consciente alista-se na milícia dos construtores de individualidades, o eu do
sonho divide-se em muitos: guerreiros, gigantes, jovens e velhos, pais e filhos,
patrões e empregados, escritores e carteiros, reis e rainhas. O sonho abre a
porta a todos - Here Comes Everybotfy - o Homem a Caminho Está. Do sonho
nasce o romance.
Assim como Ulisses, Finnegans Wake impõe renovados hábitos de leitura. A
linear não basta. Em cada parágrafo, em cada frase, em cada palavra, tocamos
estratos sobrepostos, convite a trabalho de arqueólogo. Verticalidade e
24 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
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Finnicius Revém
rolarríuanna
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riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend
2 of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to
3 Howth Castle and Environs.
4 Sir Tristram, violer d'amores, fr'over the short sea, had passen-
5 core rearrived from N orth Armorica on this side the scraggy
6 isthmus of Europe Minor to wielderfight his penisolate war: nor
7 had topsawyer's rocks by the stream Oconee exaggerated themselse
8 to Laurens County's gorgios while they went doublin their mumper
9 all the time: nor avoice from afire bellowsed mishe mishe to
10 tauftauf thuartpeatrick not yet, though venissoon after, had a
11 kidscad buttended a bland old isaac: not yet, though all's fair in
12 vanessy, were sosie sesthers wroth with twone nathandjoe. Rot a
13 peck o f pa's malt had Jhem or Shen brewed by arclight and rory
14 end to the regginbrow was to be seen ringsome on the aquaface.
15 The fall (bababadalgharaghtakamminarronnkonn bronn tonner-
16 ronn tuonn th unn trovarrhounawnskawn to o hoohoordenen th ur-
17 nuk!) of a once wallstrait oldparr is retaled early in bed and later
18 on life down through all christian minstrelsy. The great fall of the
19 offwall entailed at such short notice the pftjschute of Finnegan,
2o erse solid man, that the humptyhillhead of humself prumptly sends
21 an unquiring one well to the west in quest of his tumptytumtoes:
22 and their upturnpikepointandplace is at the knock out in the park
23 where oranges have been laid to rust upon the green since dev-
24 linsfirst loved livvy.
[3]
rolarriuanna e passa por Nossenhora d'Ohmem's, roçando
2 a praia, beirando ABahia, reconduz-nos por commódios caminhos recorrentes
3 de vico ao de Howth Castelo Earredores.
4 Sir Tristrão, violeiro d'amores, d'além do mar encapelado, não tinha
5 passancorado reveniente de Norte Armórica a estas bandas do istmo escarpado da
6 Europa Menor para o virolento conflito de penisoldada guerra: nem
7 as pétreas bolotas de Sawyer ao longo do Oconee caudaloso se tinham seggsagerado
8 ao território laurenciano da Geórgia enquanto se dublinavam
9 em mamypapypares o tempo todo: nem avoz do fogo rebellava mim-She,
10 mim-She ao tauftauf do pautripedrícioquetués: ainda não, embora desvanessido
11 depois, um braço novilho tinha iludido um cego revelho !saque: ainda não, embora
12 em invernesses fantasvale tudo, as tristes esthernes tinham dilaceradoo duuno
13 nathandeãojo. Barrica nenhuma de maltescocês tinham Jhem ou Shen fermentado
14 à luz iriada darco e a chuvosa-pestana brilhava em anel à tona d'aquaface.
15 A queda (bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonner-
16 ronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthur-
17 nuk!) dum dantanho wallstreetado velhonário é recontada cedo no leito, depois
18 sabe viva no conceito ao longo de toda a cristã menestrelidade. A grande queda
19 desdeo altomuro recortou em curtolance a pftjqueda de Finnegan,
20 varão outrora mais q'estável, que a humptymontesta lá dele prumptamente
21 desvestiga quem lhe diga no Ocidente o acidente de seus tumptytum-
22 dedos: e seu parcoespaçoepouso é na porta do parque,
23 lugar de arranjos de oranges mofados sobre o verde desde que Dia-
24 dublin um diamou Livvydinha.
[3]
32 JAM E S J OYCE F i n n ega n s Wake
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F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 33
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34 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
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F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 35
[5]
36 JAM E S J OYCE Finnega n s Wake
[6]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 3 7·
[6]
38 JAM E S J OYCE Finnegans Wake
[7]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 39
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40 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
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F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 41
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42 }AM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
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F i n n i c i u s R e v ém D O NAL D O S C H Ü L E R 43
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44 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
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a este som de Eiriado sentido. Realmente? Aqui o Inglês pode ser visto.
2 Realeza? Um soberano punido a penada penitência. Regalado? O
3 silêncio segue a cena. Acorda!
4 Então Esta É Dublíngua?
5 Hescuta! Cautela! Ecolândia!
6 Ho charme estranho! Lembra-te as deslavadas
7 engravuras que costumávamos jazigar no manchamuro de sua
8 barcampada casa. Costumavam? (Estou certo que o fatigante vôo-rasante
9 do Marmanjo Miguel, com sua caixapela de chocolates mujicais, está escutando)
10 Digo, os restos do abusado campamuro onde costumavam estar
11 barpultados os Ptollomens dos Incabus. Costumávamos? (Ele está só
12 pretendentro estudar a harpa jubilar de um segundo existido
13 ouvinte, Percebe-Orelha.) É bem sabido. Olha por ele e
14 vê o velhomonte novo. Dbln. WK.O.O. Ouve? Juntao muro
15 maussolmano. Fimfim. Com um grande funforró. Fumfum
16 fumfum. 'Toé optophone que ontophana. Escuta! É de Pontepedra
17 a mágica lira. Eles glutarão porvir. Eles luzirão
18 prasser. Eles pretumblarão praver. A harpadiscorde
19 será deles prassempre.
20 Quatro coisas, portento, disse o nosso herodotário Matemarco Lucajoão
21 em seu grão velho historiorum, escreveu ele perto de Boriorum, no livro mais
22 azul dos anais urbanos, q. c. em Dublininsky nunca faltar hão enquanto fumaça
23 não nem cerração o coração d'Eire mal turarem. Aqui pois então, os quatro
24 estão. Te-dou-totais! Unum. (Adar.) Uma montanha
25 nas costas dum velhirlando. Sim, sim! Duum. (Nizam.) Um sapato na pobre
26 velhirlanda. Ah, oh! Triom. (Tamuz.) Nubente ruiva, noiva
27 nova, a ser desnoivada. Nossa, Nossa! Quodlibus. (Marchessvan.) Um
28 escrevinhista não mais pesado que um postalista. E assim. E assado. (Succoth.)
29 Assim, como a preguiça do vento varando página sobre página, como
30 inocência com anacleto brincam de papa e antipupa, assim as folhas dos viventes
31 no bivro dos actos, anais deles mesmos medindo os ciclos dos eventos
32 evidentes e nacionais, oferecem fossilidade de passar como.
33 1 1 32 A.D. Homens como furmigas ou myrmecas andam sobre bruta
34 branca Barleia adrumicida num Riucho. Blutalhas sanguiviolentas em Ub
35 laniwn.
36 566 A.D. Na noite fuegoembaalada desse ano pós-diluvial uma coroa
[13]
52 JAM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake
hadde a wickered Kish for to hale dead tunes from the bog look-
2 it under the blay of her Kish as she ran for to sothisfeige her cow-
3 rieosity and be me sawl but she found hersell sackvulle of swart
4 goody quickenshoon ant small illigant brogues, so rich in sweat.
5 Blurry works at Hurdlesford.
6
7 (Silent.)
8 566 A.D. At this time it fell out that a brazenlockt damsel grieved
9
(sobralasolas!) because that Puppette her minion was ravisht of her
10
by the ogre Puropeus Pious. Bloody wars in Ballyaughacleeagh
11
bally.
12
1 1 32. A.D. Two sons at an hour were born until a goodman
and his hag. These sons called themselves Caddy and Primas.
13
Primas was a santryman and drilled all decent people. Caddy
14
went to Winehouse and wrote o peace a farce. Blotty words for
15
Dublin.
16
Somewhere, parently, in the ginnandgo gap between antedilu
17
vious and annadominant the copyist must have fled with his
18
scroll. The billy flood rose or an elk charged him or the sultrup
19
worldwright from the excelsissimost empyrean (bolt, in sum)
20
earthspake or the Dannamen gallous banged pan the bliddy du
21
ran. A scribicide then and there is led off under old's code with
22
some fine covered by six marks or ninepins in metalmen for the
23
sake of his labour's dross while it will be only now and again in
24
our rear of o'er era, as an upshoot of military and civil engage
25
ments, that a gynecure was let on to the scuffold for taking that
26 same fine sum covertly by meddlement with the drawers of his
27 neighbour's safe.
28 Now after all that farfatch'd and peragrine or dingnant or clere
29 lift we our ears, eyes of the darkness, from the tome of Liber Li
30 vidus and, (toh!), how paisibly eirenical, all dimmering dunes
31 and gloamering glades, selfstretches afore us our fredeland's plain!
32 Lean neath stone pine the pastor lies with his crook; young pric
33 ket by pricket's sister nibbleth on returned viridities; amaid her
34 rocking grasses the herb trinity shams lowliness; skyup is of ever
35 grey. Thus, too, for donkey's years. Since the bouts of Hebear
36 and Hairyman the cornflowers have been staying at Ballymun,
[14]
F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 53
que havia um cesto de phirme para trazer turfas mortas do banhado espiando
2 debaixo da tampa do seu cesto quando ela corria para zastisfazer vaca e
3 siriusmente sua curio-sidade, pela saulvação de minh'alma, ela achou
4 um saco cheio de soberbos ebons lêmures apressados com pequenos ilegantes
5 sapatos, tão ricos em suor. Dlúbias ocorrências em Dublin.
6
7 (Silente)
8 566 A.D. Aconteceu naqueles tempos que a donzela dos brincos de bronze
9
choramingava (sobralasolas !) porque a Muiiequita dela a bellinha tinha sido
10
raptada dela pelo ogro Pyropeu Pio. Sangrentas guerras em Dabelledobelledu
11
bellin.
12
1 1 32 A.D. Dois filhos advieram numa hera a um bom homem
e sua megera. Estes hijos apellavam-se Catulus e Primus.
13
Primus era um santurião e treinou os retos todos na retidão. Catulus
14
preferiu as farras dadega e foi comparsa duma farsa. Verbotes rubrinetos
15
pra Dublinitos.
16
Alhures, parentemente, em fenda-vai-e-vem entre o
17
antedilúvio e o annadominante, o copista deve ter fluído com seu
18
percaminho. O bule-dilúvio o elevou, um alce o encarregou, o cosmoturgo
19
sáltrapa do excelsíssimo impyrial (isso rápido-raia, em suma)
20
tremeterra falou ou os gaélicos Dannomens arremeteram contra a rubra
21
duraportata. Um escribicídio lá e então foi cometido sob o código dos antigos
22
com alguma pena coberta por seis marcos ou nove alfinetes em metaleiros para
23
efeito de escória de trabalho, já que isso será uma vez que outra em nossa
24
retro ou pró era, como excrescência de engajamento militar ou civil,
25
que uma gynecura foi levantada ao andaime para levantar esta
26 mesma rara soma cobiçosamente com o olho nas gavetas da poupança
27 da mulher do próximo.
28 Agora depois desse copcioso, pelegrino, marco-polado, vespuciado
29 levanta o mento, as orelhas, os olhos da escuridão desde o tomo de Tito
30 Uvido e, (mira!), quão aprazível, irenicamente todas as dunas creposculares
31 gladíolo glamorosas sestendem afora nas planícies de nossa freudlândia!
32 Pastor e cajado repousam à pedra sob pinhos; o cordeirinho
33 com a irmã do cordayro mordiscam verdidades revenientes; Antre a
34 erva balouçante a trindade se trivializa em trevo. O céu ascendente é desdantanho
35 gris. Bem assim é por asnáticos anos. Desde os embates de Ogum e
36 Xangô, floridos florescem trigais à luz da lua-pançuda,
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54 }AM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
16 blond has sought of the brune: Elsekiss thou may, mean Kerry
17 piggy?: and the duncledames have countered with the hellish fel-
18 lows: Who ails tongue coddeau, aspace of dumbillsilly? And they
19 fell upong one another: and themselves they have fallen. And
20 still nowanights and by nights of yore do all bold floras of the
21 field to their shyfaun lovers say only: Cull me ere I wilt to thee !:
22 and, but a little later: Pluck me whilst I blush! Well may they
23 wilt, marry, and profusedly blush, be troth! For that saying is as
24 old as the howitts. Lave a whale a while in a whillbarrow (isn't
25 it the truath I'm tallin ye?) to have fins and flippers that shimmy
26 and shake. Tim Timmycan timped hir, tampting Tam. Fleppety!
27 Flippety! Fleapow!
28 Hop!
29 In the name of Anem this carl on the kopje in pelted thongs a
30 parth a lone who the joebiggar be he? Forshapen his pigmaid
31 hoagshead, shroonk his plodsfoot. He hath locktoes, this short-
32 shins, and, Obeold that's pectoral, his mammamuscles most
33 mousterious. It is slaking nuncheon out of some thing's brain
34 pan. Me seemeth a dragon man. He is almonthst on the kiep
35 fief by here, is Comestipple Sacksoun, be it junipery or febrew-
36 ery, marracks or alebrill or the ramping riots of pouriose and
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F i n n i c i u s Revém DONALDO SCHÜLER 55
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60 JAM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake
Jute. 'Zmorde!
2 Mutt. Meldundleize! By the fearse wave behoughted. Des
3 pond's sung. And thanacestross mound have swoliup
4 them all. This ourth of years is not save brickdust
5 and being humus the same roturns. He who runes
6 may rede it on ali fours. O'c'stle, n'wc'stle, tr'c'stle,
7 crumbling! Sell me sooth the fare for Humblin! Hum
8 blady Fair. But speak it allsosiftly, moulder! Be in
9 your whisht!
10 Jute. Whysht?
11 Mutt. The gyant Forficules with Amni the fay.
12 Jute. Howe?
13 Mutt. Here is viceking's graab.
14 Jute. Hwaad!
15 Mutt. Ore you astoneaged, jute you?
16 Jute. Oye am thonthorstrok, thing mud.
17 (Stoop) if you are abcedminded, to this claybook, what curios
18 of signs (please stoop), in this aliaphbed! Can you rede (since
19 We and Thou had it out already) its world? It is the same told
20 of all. Many. Miscegenations on miscegenations. Tieckle. They
21 lived und laughed ant loved end left. Forsin. Thy thingdome is
22 given to the Meades and Porsons. The meandertale, aloss and
23 again, of our old Heidenburgh in the days when Head-in-Clouds
24 walked the earth. In the ignorance that implies impression that
25 knits knowledge that finds the nameform that whets the wits that
26 convey contacts that sweeten sensation that drives desire that
27 adheres to attachment that dogs death that bitches birth that en-
28 tails the ensuance of existentiality. But with a rush out of his
29 navel reaching the reredos of Ramasbatham. A terricolous vively-
30 onview this; queer and it continues to be quaky. A hatch, a celt,
31 an earshare the pourquose of which was to cassay the earthcrust at
32 ali of hours, furrowards, bagawards, like yoxen at the turnpaht.
33 Here say figurines billycoose arming and mounting. Mounting and
34 arming bellicose figurines see here. Futhorc, this liffle effingee is for
35 a firefing calied a flintforfali. Face at the eased! O I fay! Face at the
36 waist! Ho, you fie! Upwap and dump em, "':: ace to t:I.. ace! When a
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F í n n í c í u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 61
Juta. Àmerda!
2 Mud. Mild und leise! Levada pela vaga voraz. Despounderado
3 canto. Tanatancestrosas bocas os engoliram
4 todos. Este nosso horto de anos não é mais que pó de tijolos
5 e o homem humus ao mesmo roturna. A rede do ruminador
6 de runas passa por todos os fornos. Ó c'clos, neocicl's, tric'clos,
7 em ruínas! Quero tranqüilo bilhete para Humoblin. Humo
8 dama Sonhada. Fala-me fofa, humilda! Guarda-te em
9 teu solêncio!
10 Juta. Silêncio?
11 Mud. Em atenção ao formidável Forfícula com a fada Morgana.
12 Juta. Como?
13 Mud. Esta é a sepultura do Vicequingue.
14 Juta. Uai!
15 Mud. Tremes em pétrea idade, tu jutas?
16 Juta. Bah thou tonitruado, borrado.
17 (fecurva) se és abecementado, já a esse argilivro, quão kuriosos
18 os sinais (vamos, tecurva) nesse allaphbedo! Sabes recitar (pois
19 Nós e Tu já o atravessamos de pontaponta) seu logocosmo? É o mesmo narrado
20 de todos. Menu. Miscigenações sobre miscigenações. Teclas.
21 Chegaram y amaram e pariram and partiram. Previsto. Teu terreino foi
22 dado a Medianos e Perversas. O meandrolato, com perdas e
23 ganhos, da nossábia Pagãburgo nos dias em que Cabeça-nas-Nuvens
24 andava na terra. Na ignorância quimplica aimpressão que
25 tece o conhecimento que forma a onomatoforma quinflama a mente que
26 veicula vínculos que adoça sensações, que destina o desejo que
27 adere a adesões que cachorreia a caveira que cadeleia a cuna que en-
28 raba o seguro da existencialidade. Mas com um racha desde seu
29 umbigo até aos ré-chedos do Mahabarata. Terriculosa vívlica
30 vista esta; abalada em contínuo balouço. Habitação, Charrua,
31 Ealçapão, os pru-quês dos quais foi de rachar a crosta da Terra a
32 toda hora, prafrente, pratrás ao modo de vacangas na moenda.
33 Figurina-se ser aqui beligansa em armas e montaria. Em montaria e
34 armas belijactanciosos figurinantes eis aí. Afutriquem-se, estEva efingida é pra
35 trabuco chamado phala-fogo. Cara arriba! Eu em riba! Mais pra
36 cá! Toma lá! Sujeita o sujo, n ara a U ara! Quando uma
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(
62 JAM E S J OYCE Finnegans Wake
part so ptee does duty for the holos we soon grow to use of an
2 aliforabit. Here (please to stoop) are selveran cued peteet peas of
3 quite a pecuniar interest inaslitde as they are the peliets that make
4 the tomtummy's pay roli. Right rank ragnar rocks and with these
5 rox orangotangos rangled rough and rightgorong. Wisha, wisha,
6 whydidtha? Thik is for thorn that's thuck in its thoil like thum-
7 fool's thraitor thrust for vengeance. What a mnice old mness it
8 ali mnakes! A middenhide hoard of objects! Olives, beets, kim-
9 melis, dollies, alfrids, beatties, cormacks and daltons. Owlets' eegs
10 (O stoop to please!) are here, creakish from age and ali now
11 quite epsilene, and oldwolidy wobblewers, haudworth a wipe o
12 grass. Sss! See the snake wurrums everyside! Our durlbin is
13 sworming in sneaks. They carne to our island from triangular
14 Toucheaterre beyond the wet prairie rared up in the midst of the
15 cargon of prohibitive pomefructs but along landed Paddy Wip-
16 pingham and the his garbagecans cotched the creeps of them
17 pricker than our whosethere outofman could quick up her whats-
18 thats. Somedivide and sumthelot but the taliy turns round the
19 same balifuson. Racketeers and botdoggers.
20 Axe on thwacks on thracks, axenwise. One by one place one
21 be three dittoh and one before. Two nursus one make a plaus-
22 ible free and idim behind. Starting off with a big boaboa and three-
23 legged calvers and ivargraine jadesses with a message in their
24 mouths. And a hundreadfilied unleavenweight of liberorumqueue
25 to con an we can tili alihorrors eve. What a meanderthalitale to
26 unfurl and with what an end in view of squattor and anntisquattor
27 and postproneauntisquattor! To say too us to be every tim, nick
28 and larry of us, sons of the sod, sons, litdesons, yea and lealittle-
29 sons, when usses not to be, every sue, siss and saliy of us, dugters
30 of Nan! Accusative ahnsire! Damadam to infinities
31 True there was in nillohs dieybos as yet no lumpend papeer
32 in the waste and mightmountain Penn stili groaned for the micies
33 to let flee. Ali was of ancientry. You gave me a boot (signs on
34 it!) and I ate the wind. I quizzed you a quid (with for what?) and
35 you went to the quod. But the world, mind, is, was and will be
36 writing its own wrunes for ever, man, on ali matters that fali
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F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 63
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64 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
under the ban o f our infrarational senses fore the last milch-
2 carne!, the heartvein throbbing between his eyebrowns, has still to
3 moor before the tomb of his cousin charmian where his date is
4 tethered by the palm that's hers. But the horn, the drinking, the
5 day of dread are not now. A bone, a pebble, a ramskin; chip them,
6 chap them, cut them up allways; leave them to terracook in the
7 muttheringpot: and Gutenmorg with his cromagnom charter,
8 tintingfast and great primer must once for omniboss step rub-
9 rickredd out of the wordpress else is there no virtue more in al-
10 cohoran. For that (the rapt one warns) is what papyr is meed
11 of, made of, hides and hints and misses in prints. Till ye finally .
12 (though not yet endlike) meet with the acquaintance of Mister
13 Typus, Mistress Tope and all the little typtopies. Fillstup. So you
14 need hardly spell me how every word will be bound over to carry
15 three score and ten toptypsical readings throughout the book of
16 Doublends Jined (may his forehead be darkened with mud who
17 would sunder!) till Daleth, mahomahouma, who oped it closeth
18 thereof the. Dor.
19 Cry not yet! There's many a smile to Nondum, with sytty
20 maids per man, sir, and the park's so dark by kindlelight. But
21 look what you have in your handself! The movibles are scrawl-
22 ing in motions, marching, all of them ago, in pitpat and zingzang
23 for every busy eerie whig's a bit of a torytale to tell. One's upon
24 a thyme and two's behind their lettice leap and three's among the
25 strubbely beds. And the chicks picked their teeths and the domb-
26 key he begay began. You can ask your ass if he believes it. And
27 so cuddy me only wallops have heels. That one of a wife with
28 folty barnets. For then was the age when hoops ran high. Of a
29 noarch and a chopwife; of a pomme full grave and a fammy of
30 levity; or of golden youths that wanted gelding; or of what the
31 mischievmiss made a man do. Malmarriedad he was reverso-
32 gassed by the frisque of her frasques and her prytty pyrrhique.
33 Maye faye, she's la gaye this snaky woman! From that trippiery
34 toe expectungpelick! Veil, volantine, valentine eyes. She's the
35 very besch Winnie blows Nay on good. Flou inn, flow ann.
36 Hohore! So it's sure it was her not we! But lay it easy, gentle
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72 JAM E S J OYCE Finnegans Wake
to play cash cash in Novo Nilbud by swamplight nor a' toole o'
2 tall o' toll and noddy hint to the convaynience.
3 He dug in and dug out by the skill of his tilth for himself and
4 all belonging to him and he sweated his crew beneath his auspice
5 for the living and he urned his dread, that dragon volant, and he
6 made louse for us and delivered us to boll weevils amain, that
7 mighty liberator, Unfru-Chikda-Uru-Wukru and begad he did,
8 our ancestor most worshipful, till he thought of a better one in
9 his windower's house with that blushmantle upon him from ears-
10 end to earsend. And would again could whispring grassies wake
11 him and may again when the fiery bird disembers. And will
12 again if so be sooth by elder to his youngers shall be said. Have
13 you whines for my wedding, did you bring bride and bedding,
14 will you whoop for my deading is a? Wake? Usgueadbaugham!
15 Anam muck an dhoul! Did ye drink me doornail?
16 Now be aisy, good Mr Finnimore, sir. And take your laysure
17 like a god on pension and don't be walking abroad. Sure you'd
18 only lose yourself in Healiopolis now the way your roads in
19 Kapelavaster are that winding there after the calvary, the North
20 Umbrian and the Fivs Barrow and Waddlings Raid and the
21 Bower Moore and wet your feet maybe with the foggy dew's
22 abroad. Meeting some sick old bankrupt or the Cottericks' donkey
23 with his shoe hanging, clankatachankata, or a slut snoring with an
24 impure infant on a bench. 'Twould turn you against life, so
25 'twould. And the weather's that mean too. To part from Devlin
26 is hard as Nugent knew, to leave the clean tanglesome one lushier
27 than its neighbour enfranchisable fields but let your ghost have
28 no grievance. You're better off, sir, where you are, primesigned
29 in the full of your dress, bloodeagle waistcoat and all, remember-
30 ing your shapes and sizes on the pillow of your babycurls under
31 your sycamore by the keld water where the Tory's clay will scare
32 the varmints and have all you want, pouch, gloves, flask, bricket,
33 kerchief, ring and amberulla, the whole treasure of the pyre, in the
34 land of souls with Homin and Broin Baroke and pole ole Lonan
35 and Nobucketnozzler and the Guinnghis Khan. And we'll be
36 coming here, the ombre players, to rake your gravei and bringing
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74 JAM E S J OYCE F i n n e g a n s Wake
you presents, won't we, fenians? And il isn't our spittle we'll stint
2 you of, is it, druids? Not shabbty little imagettes, pennydirts and
3 dodgemyeyes you buy in the soottee stores. But offerings of the
4 field. Mieliodories, that Doctor Faherty, the madison man,
5 taught to gooden you. Poppypap's a passport out. And honey is
6 the holiest thing ever was, hive, comb and earwax, the food for
7 glory, (mind you keep the pot or your nectar cup may yield too
8 light!) and some goat's milk, sir, like the maid used to bring you.
9 Your fame is spreading like Basilico's ointment since the Fintan
10 Lalors piped you overborder and there's whole households be-
11 yond the Bothnians and they calling names after you. The men-
12 here's always talking of you sitting around on the pig's cheeks
13 under the sacred rooftree, over the bowls of memory where every
14 hollow holds a hallow, with a pledge till the drengs, in the Salmon
15 House. And admiring to our supershillelagh where the palmsweat
16 on high is the mark of your manument. All the toethpicks ever
17 Eirenesians chewed on are chips chepped from that battery
18 block. If you were bowed and soild and letdown itself from the
19 oner of the load it was that paddyplanters might pack up plenty and
20 when you were undone in every point fore the laps of goddesses
21 you showed our labourlasses how to free was easy. The game old
22 Gunne, they do be saying, (skull!) that was a planter for you, a
23 spicer of them all. Begog but he was, the G.O.G! He's dudd-
24 andgunne now and we're apter finding the sores of his sedeq
25 but peace to his great limbs, the buddhoch, with the last league
26 long rest of him, while the millioncandled eye of Tuskar sweeps
27 the Moylean Main! There was never a warlord in Great Erinnes
28 and Brettland, no, nor in ali Pike County like you, they say. No,
29 nor a king nor an ardking, bung king, sung king or hung king.
30 That you could fell an elmstree twelve urchins couldn't ring
31 round and hoist high the stone that Liam failed. Who but a Mac-
32 cullaghmore the reise of our fortunes and the faunayman at the
33 funeral to compass our cause? If you was hogglebully itself and
34 most frifty like you was taken waters still what all where was
35 your like to lay the cable or who was the batter could better
36 Your Grace? Mick Mac Magnus MacCawley can take you off to
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a perfeição pura e Rey Noldo Bolsas de Couro quer tetrapacear e fazer t'em
2 pedaços. Mas como Hopkins & Hopkins o formularam, tu eras um apagado
3 resmungão pingado e umovada caixa dilusões. Nóis o chama jornerall
4 Buffaloff depois quele foi Jerusalemear em Anúsia Manor. Tu
5 tinhas um peru mais competitivo que Pedro, Tiago ou Martin e tua arquiperua
6 de peruas peruava pra Todos os Anjos. De sorte que o padre dos sete
7 vermes e da tábua escaldante, Papa Vestrey, nunca chegue perto de ti
8 enquanto tua cabeleira sintriga junto da Liffey questá nos Céus!
9 Hep, hep, hurrah lá! Herói! Sete vezes, há, nós te saudamos,
10 já! Teu saco cheio de apetrechos, penas de falcão e botas inclusas,
11 estão onde tu os lançaste então. Teu coração está no sistema
12 da Loba e tua cabeça cristada está no trópico Copri-
13 capron. Teus pés estão no claustro da Virgem. Teu olalá está na
14 região das almas pinguças. E foi nestas margens que tu nasceste. Teu leito
15 é um deleite. A textura do linho é tua armadura. A só nolenta
16 reumaria a Lafayette é finda. Segue teu caminho, amor! Não
17 esmoreças! O vigia-chefe da capela de Í sis,
18 Totumcalmum, disse: Conheço-te, metherjareira, conheço-te, barco
19 da sal v ação. Pois em ti performamos, tu, a bramanação,
20 que vens e revéns sem ser invocada, cujo vir
21 desconhecemos, todas as coisas ke a companhia de preceptores
22 e de gramáticos de Cristopatrício ordenaram concernente
23 a ti nos negócios do serviço de teu tumbamento. Persoval
24 do barco, murodurmam bem!
25 Todacoisa in do mesmo jeito ou assim apetece a todos de nós,
26 no antigo dormicílio por cá. Tu s'indo no santutério, mau
27 recado pra minha tia in Flurenza. Corneta pro desjejum, gongo
28 pro almoço, sinos pro jantar. Popular como quando Pança Primeiro
29 foi kengo e seus membros se reuniram na Dieta de Man. A mesma
30 baboseira exposta na vitrine. Biscoitos letrados de Jacó, do Dr. Tripa
31 Vi co co, a sopa só só brada d'Esaú ao lado do xarope da Mãe
32 Gaivota. Tomei um trago quando Lacrainha capotou. O carvão
33 tá curto mas barro no pátio não falta. A cevada desponta,
34 granulada. Os garotos freqüenta bestiscola regular, mestre,
35 só letrando nigóscio com heisitação e virando mesas com
36 mudaplicação. Tudo pelos livros e nunca se apegar
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seen your missus in the hall. Like the queenoveire. Arrah, it's
2 herself that's fine, too, don't be talking! Shirksends? You storyan
3 Harry chap longa me Harry chap storyan grass woman plelthy
4 good trout. Shakeshands. Dibble a hayfork's wrong with her only
5 her lex's salig. Boald Tib does be yawning and smirking cat's
6 hours on the Pollockses' woolly round tabouretcushion watch-
7 ing her sewing a dream together, the tailor's daughter, stitch to
8 her last. Or while waiting for winter to fire the enchantement,
9 decoying more nesters to fall down the flue. lt's allavalonche that
10 blows nopussy food. If you only were there to explain the mean-
11 ing, best of men, and talk to her nice of guldenselver. The lips
12 would moisten once again. As when you drove with her to Fin-
13 drinny Fair. What with reins here and ribbons there all your
14 hands were employed so she never knew was she on land or at
15 sea or swooped through the blue like Airwinger's bride. She
16 was flirtsome then and she's fluttersome yet. She can second a
17 song and adores a scandal when the last post's gone by. Fond of
18 a concertina and pairs passing when she's had her forty winks
19 for supper after kanekannan and abbely dimpling and is in her
20 merlin chair assotted, reading her Evening World. To see is
21 it smarts, full lengths or swaggers. News, news, all the news.
22 Death, a leopard, kills fellah in Fez. Angry scenes at Stormount.
23 Stilla Star with her lucky in goingaways. Opportunity fair with
24 the China floods and we hear these rosy rumours. Ding Tams he
25 noise about all same Harry chap. She's seeking her way, a chickle
26 a chuckle, in and out of their serial story, Les Loves of Selskar
27 et Pervenche, freely adapted to The Novvergin} Viv. There'll
28 be bluebells blowing in salty sepulchres the night she signs her
29 final tear. Zee End. But that's a world of ways away. Till track
30 laws time. No silver ash or switches for that one! While flattering
31 candles flare. Anna Stacey's how are you! Worther waist in the
32 noblest, says Adams and Sons, the wouldpay actionneers. Her
33 hair's as brown as ever it was. And wivvy and wavy. Repose you
34 now! Finn no more!
35 For, be that samesake sibsubstitute of a hooky salmon, there's
36 already a big rody ram lad at random on the premises of his
[28]
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antro de seus centenares bardéis, como me foi dito. Mercado Ilícito, mas
2 florescendo com'um lordemaior ou comuina bahitabilônia, iluminando um baque
3 perdido (soltar!) e sotavento mas levantando um mastro de jarda
4 (Ivoeh!) do lado da brisa (que chuá), da altura da chaminé da
5 brahma e da largura do cristo-redentor; chuá de
6 pencadas que se derramam sobre seu corcovado, ele é um tal
7 britamontes com uma fâmina n'algibeira em conserva que é um lampopyri e três
8 insetos, campânulas pendentes, dois escaravalhos crepusculares e uma
9 pulganã zinha. E ultrajante ele cursou e recursou e foi semprevisto fazer
10 o que vossos quatrantepastados viram ou ele nunca foivisto faucer o que vossos
11 olheiros sabem, chorem as nuvens dalto, testemunhas de rasos sorrisos,
12 e ist'é tudo agora sobr'omishado e asmishadas.
13 Indak Esopo o fabule aos zéfiros e Astrursa o orce em rodadas
14 celestes sempiternas. Creator ele creaturou para os seus creados
15 esta creação. Monotóide branco? Teatrocrata rubro? E todos os
16 rosaprofetas qoheligados? Vira-e-mex' é assim! Porém, o que quer
17 que tenha sido, isto é certo, o que xerife Torá sarapheou e
18 Mapequique publica, que o tal, O Hummem, o Comezinho, Esc,
19 negligenciado k homo pensávamos, que nem merece ste noyme,
20 veio a este cronocolor lugar onde moramos em nosso paroqial
21 fermamento, crononda sobre crononda, com uma puta pressa em lufa
22 ufa, barco de turbina dúplex, A Baía para Dublinagem, a primeira
23 escuna a visitar este arquipélago, com uma estatueta de cera no papel de
24 imagem de proa à maneira de Vicolou, o dugongo do marmorto
25 emergindo dos abismos e ele sermoneou-se a si mismo
26 como um peixeiro durante todesses sessenta-e-dez anos seu rosto
27 frente ao mosto, adeus e adiós, grisalhando revelho sob seu turbante
28 e mudando cana em rapadura (Tutu lhe cessa!)
29 e isso também, encolhendo a protubepância de que se gabava quando inneebbria-
30 do, nosso velho ofondedor stava humilis, comum e insextuoso
31 de natura, o que cê pode excogitar dos cognomes nele
32 supostos em sermos de línguas, (esconda acara quem
33 pinça só nexo!) e, totalizando, mesmo por hadamita que o herremita
34 seja, sóbrio e sério, ele é ke é e não sencontra kem contra será, fritos
35 os ovos, respunchável pelo cacaos caosado no Eden-
36 burgo.
[29]
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primeiro. Embora ela tenha sido feita da costela de Adão, ela lhe deu origem.
Sem ela Adão não existiria, não como existiu a partir dela. O Adão solitário, o
andrógino, ficou na pré-história. Em Eva e Adão estão compreendidas a polari
dade mulher-homem, a queda, a promessa de redenção. O s precedido de após
trofo vale tanto para uma igreja quanto para uma taverna. A bebida alcoólica,
como todos os líquidos, irriga o corpo. Éden, igreja e taverna convergem na
geração e na regeneração da vida. Vicus é a Vico Road de Dublin. Commodius
evoca Lucius Aurelius Commodus, imperador da Roma decadente, filho e su
cessor de Marco Aurélio, o rei-ftlósofo. O reinado de Cômodo (1 80-192) dis
tanciou-se muito do sábio governo de seu pai. Inepto e tirânico, atraíam-no
lutas de gladiadores. Combateu mais de setecentas vezes, obrigando os adversá
rios a conceder-lhe a vitória. Súditos insurgiram-se contra suas loucuras, assas
sinaram-no. O senado, querendo riscá-lo da memória, determinou que seu cor
po fosse arrojado ao Tibre. Nas iniciais do nome do imperador, LAC, combi
nam-se letras das iniciais dos protagonistas, ALP (Anna Lívia Plurabelle) e HCE
(Here Comes Everybody). Diu (há muito tempo), que se agrega ao nome do
imperador para formar o adjetivo, lembra a antigüidade da queda. Commodius
vicus é uma via que atravessa o mundo em queda. A queda precipita do paraíso
estático (sem sofrimento e sem morte) ao móvel mundo da história, seqüência
interminável de desgaste e regeneração. Vicus evoca ainda Giambattista Vico,
para quem o mundo, alcançada a degenerescência da última fase, renasce de
suas ruínas. Philippe Lavergne, o tradutor francês de Finnegans Wake, traduz
commodius com chaise percée, cadeira cujo assento se abre em círculo para receber
um vaso noturno. A tradução não espanta leitores de língua inglesa já que commode,
numa de suas acepções, significa o que Lavergne entendeu. Associações
excrementais, expressão da vida que se renova, abundam em Finnegans Wake.
Excremento é a literatura, registro de restos da vida, sonho. A vida se refaz em
sonho, em literatura. Sinônimo obsoleto de vaso noturno (chamberpot) éJordan.
Jordan chama-se também um dos afluentes do rio Liffey. Ora, Jordan é o cor
respondente inglês do prenome de Vico, Giordano. Os conceitos acumulados
em commodius seguem o caminho do sonho. À medida que os significantes são
distanciados de seus referentes, a conotação aumenta.
O rio nos devolve (brings us... back) - todos os que navegamos, vivemos, lemos
- ao Howth Castle and Environs. Destacam-se, na região mencionada, as iniciais
.
HCE que se derramam pelo texto em conjuntos como Hush! Causion! Echoland!,
How charmingjy exquisite, Heare Comes Everybotfy, Hircus Civis Eblanensis, Haveth
92 JAM E S J OYCE F í n n e g a n s Wake
Childers Everywhere, Heiz Cans Everywhere, Haroun Childeric Eggebert, Humme the
Cheapner Esc, Humphrry Chimpden Eanvicker. .. impera urbi et orbi, em Dublin, nos
homens, nas coisas, em todos, em tudo. Age em quem age. Ele é razão, espaço
construído. Opõe-se à natureza, que o alimenta, ALP, sua mulher, o rio, o tem
po, o líquido, o feminino em geral. Ele é o actante masculino que age nos atores,
actante ativo no interior da natureza.
Vemos que Finnegan não é um gigante que vem do passado. Finnegan, como
geografia e como história, acontece aqui e agora, ele se mexe em cada linha, em
cada palavra do romance. Finnegan é o romance que desperta a cada leitura sem
que se renda de todo. Todos vimos e vemos partes. Ninguém conhece o gigante
inteiro.
O sono é comparável à morte. O gigante adormecido não se distingue de
outros adormecidos. O romance nasce do sono, da morte. A leitura a todo ins
tante nos devolve ao castelo (à cabeça onde se formam os sonhos) e arredores.
Quem fala? Em outros tempos o autor era o maestro. Entre autor e leitor
havia um pacto. O leitor sabia que o autor não o trairia. Adivinhava expectativas
e empenhava-se em satisfazê-las. O pacto se rompeu. Abandonado, o leitor
anda em floresta escura. Ameaçam-no silêncios, ausências, mistérios, interrup
ções. O autor conta com leitores adultos, independentes, responsáveis, cida
dãos da viconiana idade dos homens.
Philipe Lavergne traduzpastEve andAdam's com pass' notreAdam. Ouve-se em
notre Adam o nome da catedral parisiense Notre Dame, ligada ao pai da humanida
de, Adam. A tradução é feliz. Tira, entretanto, a ação da Irlanda e a leva a Paris o
que, aliás, não contradiz a intenção universalizadora de Joyce. Os topônimos
modificados perdem rigor denotativo. Se estamos interessados em fazer com
que o rio universal atravesse o Brasil, podemos substituir a igreja dublinense por
uma igreja brasileira, Nossa Senhora do Ó, por exemplo. Se quisermos incorpo
rar nela o princípio masculino, a exemplo do que fizeram Joyce e Lavergne, po
deremos dizer Nossenhora do Ohmem. Recriemos o parágrafo todo:
mentos para escrever a história de Tristão e !solda. !solda evoca a ilha, o isola
mento de quem escreve, de quem reúne fragmentos aquém da história inteira.
Escrever é travar uma guerra para unir o que irremediavelmente se rompeu.
Além da espada, instrumento de guerra é a pena. Ato tardio (I so late) . Tristram
é o cantor, o executor da viola d'amore, instrumento de cordas feito para emitir
sons suaves. Tristão, violeiro e violador (violate), violando !solda, rompeu os
compromissos de fidelidade com o rei, tio, amigo, benfeitor, senhor. Empenisolate
ressoapeninsular, isto é, as batalhas travadas por ingleses e irlandeses na penínsu
la ibérica sob o comando do fático Wellington contra as femininas forças fran
cesas. Penisolate lembra ainda as penas do guerreiro que pensa em amor e guerra.
A guerra interior, a erótica, isolada, solitária, humaniza-o. Além de brandir a
espada, ele maneja o instrumento da paixão amorosa. Em penisolate, soa o nome
de I solda. Guerra penetrante de quem usa a pena, o pênis e a espada. Guerra de
palavras, de línguas, de culturas, de níveis... Guerra de quem veio tão tarde (I so
late) ou muito cedo. Guerra que perpassa todos os que passam. Guerra que
pende no fluir. Guerra de vida e morte. Guerra de um guerreiro apaixonado,
guerra da paixão. Sem paixão não se travam guerras. Sem guerra, não se ama;
não em Finnegans Wake. O amor aproxima e separa, une e opõe. O isolamento
ou o isoldamento de Tristão é insuperável. Para quem sofre de amor não há
repouso. A união não se consolida. De dois não surge um. Lacan: não há rapport
sexual. Tristão vive na transição entre o bárbaro sem lei, o herói matador de
gigantes e o homem que ama até à loucura. Não é impertinente procurar em
penisolate o próprio Joyce, que partiu com sua mulher Nora para a Europapemryless,
sem vintém.
Finnegan é o livro, os fragmentos recolhidos, o herói que revém na escrita.
O texto que deriva de si mesmo, o texto que reflui sobre si mesmo. O pensa
mento que não sai de si mesmo porque é uma totalidade, a totalidade parmenídica,
gorgiana (gorgios) .
Doublin (Dublin+doubling) duplica-se na Geórgia (USA - gorgios, às margens
do rio Oconee. Peter Sawyer, fundador da Dublin duplicada, prospera em di
nheiro e testículos (rocks) na terra prometida), a nova Laurens Counry, longe da
Irlanda castigada pela fome, a velha Laurens Counry - assim chamada em home
nagem a Laurence O'Toole, bispo de Dublin no tempo da conquista anglo
normanda. Números (numbers) compensam a penúria dos mendigos (mumpers).
A prosperidade multiplica pares (pair) formado de mum (mãe) e pere (pai). A
palavra-valise thuartpeatrick abriga Saint Patrick, o apóstolo, o patrono da Irlanda
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 95
e thou art Peter ( "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja", disse
Cristo), e pea (ervilha), imagem do que se duplica. A igreja, edificada sobre
Pedro e Patrick, carateriza o invasor como Shaun, cujo símbolo é a pedra. Shaun
que é sempre o mesmo, edificado sobre a imobilidade da pedra, contra o movi
mento revigorante das águas e da história. Ele ataca com a imposição do batis
mo (Tauftauj). A ordem de batizar, repetida, vem em alemão em lembrança ao
tutor espiritual de Saint Patrick, Saint Germanicus. Em bellowsed ouvem-se a voz
dos sinos (bel/), a voz da guerra (bellum), a voz antagônica das águas do Liffey
(Piurabelle), voz de fogo, voz que vem debaixo, da terra (bellow). Contra a voz do
conquistador - Henrique 11, Shaun Qohn chama-se o governador da Irlanda
conquistada) - levanta-se a voz da resistência à conquista, voz de Shem. Mishe,
mishe (eu sou, eu sou, na língua nativa), inverte Shem me ou sintetiza I'm Shem.
"Eu sou" confirma a fidelidade à origem pagã, a ordem de batizar determina a
propagação do cristianismo. O mishe mishe: a concentração pagã em si mesma,
contra o batismo que obriga sair de um corpo para entrar em outro corpo. A
contradição anuncia o antagonismo dos filhos: Shem, ligado à mãe, ao ato gera
dor, à resistência satânica e Shaun, o homem da ação, da repressão, da domina
ção, da ordem.
Somos devolvidos ao Antigo Testamento, à luta entre Esaú e Jacó, filhos de
!saque, pela primogenitura. Este, querendo abençoar o filho mais velho, cai na
trapaça do filho mais moço, Jacó, que reveste o braço com o pêlo do animal
sacrificado para assemelhar-se ao irmão peludo e receber a bênção. Em kidscad,
aparece pela primeira vez o nome Cad (Camarada), personagem que difamou
Earwicker, causando-lhe graves prejuízos morais.
Finnegans Wake lembra também a história do ironista Dean Jonathan Swift,
que manteve relação ambígua com duas mulheres, Esther Johnson (Stella) e
Ester Vanhomrigh (Vanessa). Os dois amores o dilaceraram, viraram-no do aves
so. Joyce o expressa na partição e reconstituição do nome (nathantfjoe). Os confli
tos de Swift evocam dramas bíblicos. Sesthers alude a Susannah, Esther e Ruth,
mulheres jovens que em três narrativas bíblicas envolvem-se, à maneira Esther
Johnson, com homens velhos. Há quem veja em in vanes[J, além de Vanessa,
Inverness, o castelo de Macbeth, seduzido pela astúcia das Três Fantásticas Irmãs,
Three Weird Sisters, declaradas insolentes (Sosie altera saury, insolente).
A narrativa retorna à época imediatamente posterior à descida da arca no
Ararat, quando a humanidade recomeça com os filhos de Noé: Ham, Shem e
]apheth. Plantar uma vinha e produzir vinho foi, relata o Gênesis, uma das primei-
96 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake
ba-ba-ba-dal-gharagh-takam-minar-ronn-konn-bronn-tonner
ronn-tuonn-thunn-trovarr-houn-awn-skawn-toohoohoor-denen-thur
nuk!).
A primeira palavra do trovão abre com a sílaba ba, alma na mitologia egípcia,
representada por uma ave de cabeça humana. Ela sai do moribundo e retoma.
Ba é também uma das primeiras sílabas articuladas pela criança. Do a passa-se
ao colorido das consoantes nas palavras seguintes, muitas delas soam como
puro exercício do aparelho fonador, sons que exprimem o desejo de expressão,
obscuros, fonte da fala, do romance. A fala, marco de novo ciclo vital, assom
bra. A queda, interiorizando o conflito, erotiza-se ao assinalar o início da sexua
lidade consciente. Entre palavras que significam trovão em várias línguas, ouve-
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 97
entretanto, de uma queda para o alto. Pela queda, o s homens caem da pré
história bárbara para a história da vida legislada, urbana, política, criativa, artís
tica. O estrondo da queda retumba no polissílabo, ressoa nele a ira da voz divina
que encerra a idade da barbárie.
Offwall evoca Abjfal, queda em alemão. Quedas: a de Adão, a do pedreiro
Tim Finnegan, a da bolsa de valores em Wall Street, a de HCE no Phoenix
Park ... A queda da bolsa de valores traz à lembrança a queda de Thomas Parr,
personagem legendária que alcançou a avançada idade de cento e cinqüenta
anos. Até o mais durável cai. Em oldparr lê-se ainda old pa, pere (pai) . Cai o
velho pai, perde a virilidade. A resposta à sedução no parque explica a luta
contra a degenerescência. A sedução vem em sonho, lugar em que desejos se
realizam. Pjijchute, palavra que carateriza a queda de Finnegan, é composta do
substantivo francês chute e de um som puramente onomatopaico, pfij. O con
junto sugere o atrito na atmosfera dos meteoros ou de Lúcifer em queda.
Alude-se à queda de Humpty Dumpty, que ocupa todo o VII capítulo de
Looking-glass. Conta Alice que Humpty Dumpty, o homem-ovo, estava senta
do de pernas cruzadas à maneira turca sobre um muro tão estreito que a
menina não entende como a estranha aparição conseguia equilibrar-se. Ocor
rem-lhe os versos:
está delimitada pelo ovo, origem e leito de morte. Homem nenhum sustenta-o
no alto do muro, por ser insuficiente a base. O conflito contra a degenerescência
dá-se aí. A queda provoca um estilhaçamento que o romance procura dirimir.
Ou não? Unquiring (desvestigação) nega a investigação. Ou - quem sabe - o
romancista antecipa o fim? O projeto de investigação, ao falir, teve a desvestigação
como resultado. Evoca-se o mito de Osíris, cujo corpo dividido em pedaços
espalhados pela terra por Set, o assassino, é recolhido por Í sis, a irmã, empe
nhada em restaurar-lhe a vida. Os dedos dos pés representam os ftlhos do gi
gante, partidos e perdidos no Ocidente. Não disse Deus a Abraão que a sua
descendência seria numerosa como as estrelas do céu e a areia do mar? Filhos
são também os sonhos do gigante (os sonhos de todos os sonhadores) que o
romance pretende recolher.
A fragmentação afeta a formação das palavras, dos períodos, das idéias, das
culturas, das línguas. O recontado (retaled) não corresponde ao recortado (entailed).
Fique-se, por ora, com essa noção esquelética, que será detalhada no capítulo
onze, ao longo do episódio do capitão e do alfaiate (tailor - narrarfaiate). O
romance busca reduzir todas as línguas a uma só, conjugar todas as culturas.
Constituída a precária unidade, haverá nova queda. No Phoenix Park há um
cemitério em que foram depositados os corpos dos oranges - Orangemen, invaso
res, que apodrecem como laranjas sobre o verde para um novo ciclo de vida.
Isso acontece desde o primeiro a amar livry (a vida, to live, Liffey, o rio, a mulher).
As duas cores, o laranja e o verde (a Irlanda ligada à natureza) entram em con
flito. O laranja e o verde estão no contexto do rio Liffey, objeto do primeiro
amor de Dublin (Devilin: devil e Dublin - Diadublin) . Desde o Éden o diabo
está unido ao amor.
tem-se na luta dos povos irmãos, conflitos ainda mais antigos, época em que
comedores de ostras agrediam comedores de peixes. Alterando o nome de po
vos irmãos e rivais (Ostrogoths e Viszgoths), Joyce concentra na mesma frase refre
gas de outros lugares e de outros tempos.
Vencida a primeira frase, assistimos a uma descida aos infernos. Brekkek...
nos leva às Rãs de Aristófanes, comédia em que Dioniso, o padroeiro do teatro,
dirige-se ao hades em busca de Eurípides, recentemente falecido, para salvar
da ruína a cena ateniense. Chegado ao mundo dos que já partiram, depara com
um tribunal em que o teatro de É squilo e o de Eurípides se confrontam -
outra concretização da eterna luta entre Shem e Shaun. Depois de cuidadoso
exame do legado dos tragedistas em conflito, Dioniso persuade-se da inferiori
dade do aplaudido Eurípides, o popular, o divulgador (Shaun) e se decide por
É squilo. Abrem-se as cortinas aos espetáculos teatrais reelaborados nos pará
grafos seguintes.
Joyce revive conflitos de Aristófanes. Duas correntes literárias se digladiavam
no início do século XX. Uma, liderada por Gautier, partidário da arte pela arte,
defendia a tese da absoluta inutilidade da produção artística; outra, representa
da por Wilde, Yeats e Joyce, sustentava que a arte poderia regenerar a humani
dade. Wilde inverteu a tese de Aristóteles: não é a arte que imita a natureza; a
natureza, ao contrário, imita a arte. Invertida a polaridade, arte e vida se
reunificaram. Para Wilde, o pôr-do-sol é belo, mas para ilustrar o que disseram
poetas. Homens apaixonam-se porque poetas elogiam a paixão. A arte é subver
siva, desafio a todas as virtudes estabelecidas. Mina as normas para refazer o
mundo. Hostil a quaisquer normas, a arte abre as portas a possibilidades infini
tas. O limite mata, a negação do limite vivifica. Em lugar da barreira, o fluir que
regenera. Fluir é vida, renovação. A cultura, a língua, a gramática, o vocabulário
não vedam possibilidades de ser e de fazer. A arte está na transgressão, não na
obediência. No empenho de revitalizar a cultura, Joyce desce ao mundo dos
mortos para recuperar poetas tão antigos como Homero.
Estrugem guerras entre tribos de nomes exóticos. Baddelaries - nome com
posto de Babd, deusa da guerra, de Balar, deus celta do Sol, de badelaire, sabre,
de Baudelaire, o poeta - arrasamassacram (tradução de mathmastefj composto de
math, ceifar em anglo-saxônico, aniquilar em sânscrito, cabana ou mosteiro em
hindi + mastefj dominar + mathematics, matemática), Malachus Micgranes (nome
arquitetado de malachu� variedade de espada, de Molech/Moloch, divindade pagã
bíblica [Lv 18,21; 20,2; At 7,43], de malakos, negro em grego, de mzgraine, grana-
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 10 1
que nos últimos tempos, dois povos, Gogue e Magogue, que representam a
totalidade dos infiéis, comparecerão unidos contra o povo de Deus. Finnegans
Wake antevê o congraçamento de todos em torno do grogue.
Priam Olim empastela Príamo, o velho rei de Tróia encantado com a beleza
de Helena, Príapo, deus da ereção peniana e o advérbio olim (outrora). A rigidez
cadavérica lembra a intumescência fática. No velho e no morto a vida se refaz.
Tradutor tem coração. Olim evoca Olinda (O'lin da!). O que fazer? Olinda en
trou no Finnegans Wake. Na tradução!
Na bebida que anima a festa flui o fluxo universal. Líquido é vida, jorre da
fonte, do corpo ou da garrafa. Guinness, a cerveja irlandesa, e Gênesis, o pri
meiro dos livros de Moisés, se fundem. Reclames televisivos nos sugeriram
loirespumante, erotização da cerveja. Gênesis chama ao último livro da Bíblia, o
Apocalipse (a bockalips), traduzido com Abocálipce (Apocalipse + boca + lips +
cálice). Do Gênesis ao Apocalipse vai-se do princípio ao fim, da vida à morte e
vice-versa.
O salmão e outras variedades de peixe evocam o herói que morre e renasce.
O peixe foi eleito pelas primeiras comunidades cristãs como símbolo de Cristo.
O episódio termina em eucaristia.
No fluir final soa o bucólico som da flauta ao alvorecer.
Nada se perde. É o que ensinava Giordano Bruno (Bronto) depois dos estói
cos e antes de Vico (Brunto). A substância infinita, ao deslizar pelo espaço infi
nito, assume formas infinitas. O universo de Giordano é ictiano, move-se vivo e
ágil como os peixes.
O sonho da experiência diurna desemboca no sonho da narrativa. Aí repou
sa HCE junto a ALP, escondidos nas iniciais das duas frases latinas. Hic cubat
edilis. Apud libertinamparvulam - Aqui repousa o edil. Junto à pequena liberta. A
língua latina, morta nas relações de todos os dias, vive como experiência literá
ria. As elevações e o rio Liffey, que compõem a paisagem dublinense, atestam a
presença do mítico casal adormecido. lnteriorizados, constituem a substância
das visões oníricas que se formam e diluem-se ao longo do romance.
HCE, que vem em Bruno, em Vico e em inúmeras outras aparições,
dinossauro morto e sempre vivo, origina-se da voz do trovão (bronto), queda e
emergência de vida na origem de todo acontecer. Como entendê-lo longe do
agir universal, o princípio feminino que flui em todos os eventos? Sejam os
nomes Liffey, !solda, Anna, chuva, chuvinha ... , a vigorosa força gerativa é uma
só com infindos nomes. Em todas as palavras sonhadas ou proferidas ressoam
as origens. Do que foi ao que será através do que é, via nenhuma é interrompi
da. Quem corre percorre, morre e vive.
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER lll
A ave não vem durante as fúrias de Thon, o deus da guerra. Ela conhece o
meio de regenerar a história. Sabe que no ritmo queda-reerguimento residem
sentido e vida. A pergunta de agora não é: como é que o mundo se parece após
a queda? Mas, como a história se refaz das cinzas? A ave toca no passado para
1 16 JAM E S J OYCE Fin n e ga n s Wake
1 9. TECURVA [1 8.17-19.19]
caçar para garantir a existência. Nas iniciais do trinômio destaca-se HCE, es
sência de todos os que em qualquer tempo e lugar labutam. A sigla permite ver
mais do que a paisagem imediata. Delineia-se a imagem do Homem que se
opõe e se une à Terra. Os tempos se sobrepõem como as páginas de um livro.
Ainda não saímos da aurora da humanidade e já estamos no Parque em que
Earwicker tombou seduzido pela fonte de que jorrava a urina (ftgurina), mani
festação peculiar do líquido que irriga o corpo feminino e o universo. As jovens
(protegidas pelos três guardas que sujeitam o sujo Earwicker) são gansas e guer
reiras, seduzem e atacam, comportamento que também marca a agressão mas
culina. Irmãos armados contra irmãos lembram os spartoi, da mitologia grega,
os nascidos dos dentes do dragão, que já saem de espada em punho e se atacam,
impelidos por ódio fratricida. O episódio do parque é o primeiro passo de um
modelo que resume toda relação amorosa esboçada nas linhas seguintes. Na
parte vemos o todo (holos - panta). No percurso percorrido recebemos muito
mais que um alfabeto, atravessamos um al!forabit, alfarrábio que contém tudo
(ali, sem excluir ALP), que se destina a todos (for ali), que transforma os que o
interpretam em rabinos (rab[b}t), que instrui como o coelho (rabit) em Aventuras
de Alice no País das Maravilhas. O allforrábio nos devolve ao argilivro donde par
tiram estas reflexões. O alfarrábio é uma tentativa de controlar o incontrolável,
o todo em movimento contínuo. Quem escreve assemelha-se à ave que percor
re seletivamente os fragmentos que cobrem o território onde se travou a guerra.
Outro não é o comportamento do leitor. À maneira do homem das origens,
movemo-nos entre o arado e as nuvens, a exploração da terra e os lugares a que
ascendemos para, à distância, interpretar os fatos.
com a irmã deles, a boba (dummy). Esboçado está o protótipo da família wakiana,
reiterada em inúmeras situações e nomes. O conde e seu castelo se confundem
com Porter e sua taberna.
O ataque ao brutamontes vem de uma mulher, a princepaquera (prankquean,
PQ), síntese de ALP, !solda e as moças do parque. À maneira delas, PQ rega,
com um jato de urina, o roseira! do castelo, antes de bater à porta.
Modelo do idílio é um relato que vem do século XVI. Grace O' Malice,
uma pirata, ao voltar de uma visita à rainha Elisabete, chegou ao Castelo do
conde à hora de jantar. O conde, para não interromper a refeição, manteve a
porta rudemente cerrada. Vingativa, a visitante raptou o pequeno herdeiro do
castelo e rumou para seu próprio território. Não devolveu o menino enquanto
o pai não prometesse que as portas do castelo jamais seriam fechadas à hora
da refeição.
Na reelaboração de Joyce, a pirata vem com um enigma: "Marc o Primeiro,
por que eu, alooka alice, peço uma poção e semelho cervilhas Porter em va
gem?" O enigma encerra outros. Destaquemos o mais simples: "Marc o Pri
meiro, peço uma poção de cerveja Porter". A pergunta confunde o castelão
com o rei Marc, tio de Tristão, e sobrepõe !solda à princepaquera. Não admira
que Marc recuse o pedido com violência. Transtornada por uma poção mágica,
!solda cedeu a virgindade ao sobrinho.
' Uma segunda pergunta insinua-se na primeira: "Por que sou uma ervilha na
vagem, uma Porter?" Agora PQ mascara ALP, que na sua exuberância juvenil
desperta a masculinidade de HCE. Não são ambos semelhantes como ervilhas na
vagem? Tão próximos, compreende-se que PQ aspire à condição de membro da
família Porter. Compreende-se que o castelão se oponha energicamente a tama
nha insolência. Como pode uma vagabunda, perdida na inconstância dos mares,
comparar-se a ele, o imóvel, o absoluto, o sempre idêntico a si mesmo? Ofendida,
PQ rapta um dos meninos, Tristófero e, numa paciente educação de anos, o con
verte no contrário. Esta é a primeira vitória de PQ sobre existências monolíticas.
Operada a transformação do menino, ela tem motivos para investir com
dobrada energia sobre a resistência pétrea de quem se sente seguro. Depois de
quarenta anos, não é provável que o mesmo monarca ocupe o trono. Reina
agora Marc o Segundo. Mudou o ator, o actante ainda é o mesmo. Mais con
fiante que antes, PQ dobra o pedido. Quer que lhe sejam servidas duas poções
de Porter. Furioso como o seu antecessor, Marc o Segundo repele PQ. Esta,
deixando Tristófero, leva Hilário e o submete com êxito ao mesmo processo de
128 JAM E S J OYCE Finnegans Wake
homens. Shem escreve com/ do corpo. A força lhe vem dos excrementos onde
a vida se desfaz, do sangue em circulação - Isolda, fluir das águas e da vida, dos
mosteiros aos prostíbulos. Os lábios rubros, sedutores, festivos da jovem es
tampam beijos por toda parte.
O gigante vive sem trilhar as rotas da aurora. Vive na sombra. Pulsa na escri
ta, na circulação das cartas, nos sorrisos, nos abraços. Que outra existência lhe
conviria exceto a seiva que robustece as raízes? A campa é seu lugar. Campa que
é berço.
Kate não reerguerá o muro para a ascensão do herói que se revira inquieto
na tumba. É como na Teogonia de Hesíodo. Os gigantes tiveram vez. Outrora!
Agora é a vez de outras vidas. Kate seduz como em outros tempos, embora
acene no rubor de rostos refeitos. A energia masculina ou feminina do que já
foi não cessa. A presença física barraria o fluxo da vida que requer amplos
espaços para respirar, livre do peso de outras eras.
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_,·
f'-.7/{:{�; :'
' ,. · ·
..•
crever FW?
Lembro-me de ter lido, já não sei onde, um ensaio
de Ernst Robert Curtius, escrito logo apôs a publ icaçào
do Ulisses, em 1922, em que, pelo menos, duas daque
las três questões são, por assim dizer, implicitamente
propostas.
Referindo-se àquela obra, Curtius observava como
era difícil ler um livro em que um l enço que cai na
página 245 (uso um número hipotético) só é retomado
do chão à página 385 (outra hipótese). E duas observa
ções de Curtius são básicas: a primeira, é de que o en
contro do lenço na última página citada só é plenamen
te apreendido pelo leitor se ele se transforma num releitor,
aspecto que o crítico amplia para todo o mecanismo de
leitum da obra; a segunda, é de que se este mecanismo
de leitura e releitura é difícil de ser mantido pelo leitor,
pode-se imaginar quão difícil terá sido para o escritor
fazer dele um processo ininterrupto de composição. E
se isto ocorre na obra de 1922, ónde ainda se conser
vam tra�;os narrativos que cativam a disposição do leitor
pela intriga, imagina-se a de 1939, em que, como já ano
taram todos os seus inumeráveis e gr,mdes leitores críti
cos, a linguagem, com tudo o que ela implica de mundo
e existência, parece ser o grande tema da obra.
Embora tenha um elenco de personagens e um nú
cleo temático perfeitamente identificáveis, o espaço e o
tempo preferenciais de FW são aqueles do sonho e da
noite, em marcante contraste com os da vigília e do dia
que são os de Ulisses.
Os estilha�:os de sessenta e cinco línguas diferentes
( segundo a tradição dos estudos joycianos), se espa
lhando nos sombrios intervalos entre consciente e sub
consciente, contam a história do mundo e da literatura,
sempre a partir da sensação de exílio e de estranhamento
que, para Joyce. era a Irlanda . Por isso, a sua mais ade
quada k·itura, talvez, seja mesmo .a fragmentária, como
perceberam os seus primeiros e argutos tradutores bra
sileiros: uma leitura também in progress .e que, assim,
nunca termina. Ou como a que agora propõe, em capí
tulos. que também são parágrafQs de partes mais am
plas, a ousadia notável de Donaldo Schüler.
O leitor, que deve se preparar pacientemente pam
ser um releitor, indo e vindo entre o texto original e a
sua tradução. descobrindo em cada página as contor
çóes de l íngua e linguagem a que foi obrigado o tradu
tor ( encontrando, por exemplo, a presença de um Ma
chad< > de Assis ou de um Eça de Queirós que traduzem
Sterne e Swift), não está diante apenas de um texto
traduzido mas de uma arqueologia poética em que as
camadas de história e d e significações traduzem
palimpsestos que se desdizem pois, como já se obser
vou , em FW as escrituras subjacentes continuam vivas
na superfície.