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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS


1º semestre de 2009

APOSTILA 3: A CIÊNCIA DAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES

Adaptado de:

CAMPOS, Flavio de & Miranda, Renan Garcia. Oficina de história. São Paulo: Moderna, 2000.
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2004.
COTRIM, Gilberto. História e consciência do mundo. São Paulo: Saraiva, 2001.
NEVES, Walter A. E no princípio... era o macaco! São Paulo: Estudos Avançados, vol. 20, n. 58, 2006.
PARKER, Goffrey. Atlas verbo de história universal. Lisboa: Verbo, 1997.
RONAN, Colin A. História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge, volume 1: das origens à Grécia. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
DAMPIER, William. História da Ciência. São Paulo: Ibrasa, 1986.

Egito
A civilização egípcia era centrada no rio Nilo, apresentando certa insularidade devido às
condições geográficas da região: era limitada ao norte pelo mar e em suas outras fronteiras pelo
deserto. Suas fronteiras asseguraram uma defesa natural contra invasões e influências
estrangeiras, o que resultou em uma economia e uma cultura de caráter auto-suficiente. A água
e a terra arável eram fornecidas pelas inundações periódicas do Nilo. Carregadas de húmus
vegetal, as águas transbordantes fertilizavam o solo inundado. Quando o rio voltava ao seu nível
normal, a terra estava pronta para o plantio. Através de trabalho humano, os egípcios tiraram o
máximo proveito das cheias do Nilo. Construíram grandes canais de irrigação para levar as águas
do rio às regiões mais distantes e diques e barragens para proteger vilas e casas contra a violência
das inundações.

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A civilização egípcia atingiu um nível elevado de desenvolvimento. Apresentava linguagem e
escrita próprias, sendo a última caracterizada pelo sistema hieróglifo; o transporte era feito
principalmente através dos canais construídos no Nilo, com o uso de barco à vela; o comércio
contava com a utilização de balanças com pesos; e o vestuário valia-se do surgimento do tear.

Fonte: William Dampier. História das Ciências, p. 11.

O Egito possuía deuses independentes e era uma terra essencialmente de agricultores e


escribas. Os soberanos eram os faraós, que governavam como déspotas (isto é, podiam exercer
seu poder de modo arbitrário e absoluto) e eram considerados deuses. O faraó era o senhor
absoluto de todas as terras e de todos os seres que viviam nela. A ausência desse poder, ou seu
enfraquecimento, era considerada como causadora do caos e da miséria. Esta crença, entretanto,
pode ser explicada pelo fato da construção de canais de irrigação e de outras grandes obras
coletivas exigir uma administração forte e centralizada, capaz de vencer resistências locais e impor
unidade política no país. O primeiro faraó foi Menés (3188-3141 a.C.), que se tornou soberano em
todo o Egito.

As grandes pirâmides foram construídas entre a quarta e a oitava dinastia (2575-2150 a.C.).
Essas monumentais construções apresentam aspectos surpreendentes como as faces voltadas
exatamente para os quatro pontos cardeais e sua constituição de até cerca de 2 milhões de blocos
de pedra, cada uma pesando até 2,5 toneladas.

Havia um sistema de numeração decimal para contagem, sem símbolo para o zero (criação
indiana muito ulterior), nem símbolos diferentes para números entre 1 e 10, de modo que, a
unidade tinha de ser repetida até perfazer o número desejado. A matemática concentrava-se
apenas em somar, subtrair, multiplicar e dividir. Apesar dos egípcios terem desenvolvido cálculos
para medições de áreas e volumes, estes apresentavam finalidade prática ao invés de uma razão
teórica. Não havia uma teoria básica da matemática ou um sistema teórico de geometria.

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O calendário oficial era constituído 365 dias por ano, embora os egípcios parecessem
saber que o ano solar era mais próximo de 365 dias e um quarto. Assim, ao longo do tempo, os
anos iam se atrasando com relação às estações, completando um ciclo em cerca de 1500
anos, período que talvez tenha sido considerado como o marco de uma era de tempo. Nos
templos, os calendários eram de 360 dias, divergindo ainda mais do ano verdadeiro. Os
egípcios agrupavam as estrelas em constelações identificadas com nomes de divindades.

Constelações egípcias
representadas no teto do
túmulo de Seti I (cerca de
1318-1304 a.C.).
Fonte : Colin Ronan. História
Ilustrada da Ciência, p.43.

Um conhecimento considerável da anatomia humana surgiu da prática de embalsamamento,


a qual estava relacionada com a crença da existência de vida material após a morte. Assim sendo,
o corpo deveria ser cuidadosamente preservado e o trabalho deveria ser realizado com uma
preocupação estética para atrair os componentes espirituais de volta ao corpo. O método de
embalsamamento iniciava-se com a retirada das vísceras, que eram lavadas em vinho e
guardadas com ervas em vasos canopos (recipientes ornamentados, confeccionados com pedra,
madeira, barro ou carbonato de cálcio, que tinham a finalidade de acondicionar os órgão dos
mortos). As cavidades do corpo eram, então, preenchidas com perfumes e resinas aromáticas e o
corpo era costurado. A seguir, o corpo era imerso no salitre (nitrato de potássio) por setenta dias,
após os quais era lavado e envolto por bandagens. Por fim, era colocado no sarcófago e selado.

Hieróglifos egípcios

Hieróglifo é um termo de origem grega (ieros = sagrado; glifen = escrita), que significa escrita
sagrada. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos e escribas (sendo que, estes
últimos serviam ao faraó e à administração em geral) conheciam a arte de ler e escrever esses
sinais. A escrita hieroglífica constitui um dos mais antigos sistemas organizados de escrita do
mundo e era utilizada principalmente para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos em
torno de 3100 a.C. Tratava-se de um sistema pictográfico e ideográfico, porque usava imagens

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bastante simplificadas para representar objetos concretos, mas também as utilizava para
representar uma idéia abstrata ou mesmo uma unidade de valor fonético.

Com o tempo, a escrita hieroglífica evoluiu para formas mais simplificadas, como o hierático
(assim chamado porque hieráticos significa “sacerdotal” em grego e os escribas eram em grande
parte clérigos). A escrita hierática, que surgiu por volta de 2400 a.C., era uma variante mais cursiva
que se podia pintar em papiros ou placas de barro e, além de ser usada em templos, tinha uma
finalidade administrativa. Ainda mais tarde, em cerca de 500 a.C., com a influência grega crescente
no Oriente Próximo, a escrita egípcia evoluiu para o demótico (que recebe essa denominação
devido à popularização da escrita que se deu nesta fase; “demotikós”, em grego, significa “relativo
ao povo ou popular”). Na escrita demótica, os hieróglifos iniciais foram intensamente modificados e
aprimorados, havendo a inclusão de alguns sinais gregos. A escrita demótica era uma
simplificação da escrita hierática, que, por sua vez, era uma redução da hieroglífica.

Trecho do Livro do Mortos. Fonte: Gilberto Cotrim, História e consciência do mundo, p. 43.

As escrituras egípcias eram documentadas em pedra talhada ou em papel feito de papiro,


uma erva aquática nativa da África Central e do vale do Nilo. A técnica de fabricação de papel foi
desenvolvida por volta de 2500 a 2200 a.C. As folhas de papiro eram feitas de tiras cortadas dessa
erva, que eram umedecidas, justapostas ou entrecruzadas, e, a seguir, batidas para se obter sua
unificação, sendo geralmente polidas após a secagem. Tratava-se do material ideal para ser usado
nas condições secas do Oriente Médio e foi empregado em grande quantidade em Roma. No clima
mais úmido da Europa, entretanto, o papiro era menos estável, deteriorando-se com facilidade.

Os hieróglifos foram usados durante um período de 3500 anos para escrever a antiga língua
do povo egípcio. Existem inscrições desde antes de 3000 a.C. até o ano de 394. Em sua fase mais
antiga, a escrita hieroglífica era constituída de cerca de 6900 sinais. Com o surgimento das formas
mais simplificadas a escrita egípcia passou a ter cerca de 700 sinais. Contudo, houve uma
diversificação do conjunto de símbolos originais, o que resultou em numerosos sistemas locais
diferentes, dificultando sua compreensão.

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Com a invasão de vários povos estrangeiros ao longo da história, a língua e escrita locais
foram se alterando e incorporando novos elementos. Fatores decisivos foram a introdução dos
idiomas grego e latino, com a conquista pelos respectivos impérios. Também o cristianismo, ao
negar a religião politeísta local, contribuiu bastante para que o conhecimento desta escrita se
perdesse, no século V. Tudo o que estava relacionado com os antigos deuses egípcios era
considerado pagão e, portanto, era proibido.

Mesopotâmia
Diferentemente do Egito, a Mesopotâmia não foi um local de um só país nem de um só povo.
Situada na região que pertence ao atual Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia
começou a ser ocupada por povos nômades, muitos dos quais (principalmente os sumérios)
acabaram se estabelecendo em casa permanentes como conseqüência da necessidade de se
construir barragens e canais para aproveitar a cheia dos rios. Entre 10000 e 5000 a.C.,
estabeleceram-se grandes colônias e a agricultura começou a ser praticada. Foram construídos
templos para os deuses; a manufatura de vasos de cerâmica e de outros artefatos se desenvolveu
e o metal foi descoberto e trabalhado. Durante toda a sua história, a Mesopotâmia valeu-se
praticamente do comércio, uma vez que, muitas de suas terras eram impróprias para o cultivo.
Além de não haver pedras duras e madeira de qualidade, havia pouco metal em seu território.
Apenas alguns produtos como peixes, tâmaras e junco eram abundantes na região.

A escrita cuneiforme

A invenção da escrita, uma das criações


mais importantes da cultura humana e vital para
o desenvolvimento da ciência, é geralmente
atribuída a esse povo. Para contabilizar os bens
do Estado, foi criado, por volta de 3500 a.C., um
sistema de sinais denominado sistema
cuneiforme. Esses sinais eram gravados com
ferramentas cuja ponta tinha forma de cunha, o
que justifica a denominação da escrita
mesopotâmica.

Plaqueta cuneiforme sumeriana, contendo


detalhes do aparecimento do planeta Vênus, no
Placa sumeriana de escrita cuneiforme. Fonte: segundo milênio a.C.).Museu Britânico, Londres.
Gilberto Cotrim, História e consciência do Fonte : Colin Ronan. História Ilustrada da Ciência,
mundo, p. 34. v. 1, p.43.

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Esse sistema era, a princípio, essencialmente pictográfico, isto é, constituído de sinais para
representar objetos. Com o tempo, as imagens passaram a caracterizar idéias abstratas e sons da
linguagem falada, originando uma escrita silábica com cerca de 2000 sinais. Esses registros eram
gravados em tabuletas de argila úmida que eram postas para secar ao Sol ou cozidas em uma
espécie de forno, garantindo sua durabilidade.

Apesar da escrita cuneiforme ser considerada a mais antiga da história da humanidade,


pesquisas recentes, realizadas pelo Instituto Arqueológico alemão no Cairo e anunciadas e 1995,
contrariam essa teoria. Foram encontrados em Abydos, a 590 km do Cairo, textos representando
hieróglifos com mais de 5000 anos. Os arqueólogos alemães chegam a sugerir que algumas letras
cuneiformes podem, inclusive, ter sido adaptadas dos hieróglifos egípcios.

A ciência na Mesopotâmia

Uma das conquistas científicas dos povos da Mesopotâmia foi o reconhecimento de unidades
fixas de medição de comprimento, peso e volume e a padronização dessas unidades em cerca de
2500 a.C. O peso, que foi empregado inicialmente para o comércio, tinha como unidade básica o
siclo (que corresponde a 8,36 gramas). As medidas de comprimento eram baseadas em partes do
corpo (mãos, palmos, dígitos e pés) e a unidade era o dedo, que equivalia a dois terços de uma
polegada (ou 16 milímetros), o cúbito continha trinta dedos, a corda 120 cúbitos e a légua 180
cordas (ou 10,71 quilômetros). O comércio era realizado sem sistema de moedas, mas empregava
metais preciosos para o intercâmbio e empréstimo de valores, que era feito com alta taxa de juros.

Os sumerianos também apresentaram habilidades em matemática e engenharia. Possuíam


tábuas de multiplicar e listas de quadrados e cubos. Usavam os sistemas numéricos decimal e
duodecimal. Desenvolveram fórmulas simples para a medição das terras que representaram o
início da geometria. Possuíam relógios solares e medidas sistemáticas do tempo (o ano babilônico
tinha 360 dias, distribuídos em doze meses, e o dia era dividido em 24 horas de 60 minutos) e
apresentavam profundo conhecimento das estações, o que era fundamental para o
desenvolvimento da agricultura. Realizavam observações do Sol, da Lua e de planetas, calculavam
antecipadamente suas posições relativas e faziam previsão de eclipses. Com base nesses
conhecimentos, os mesopotâmicos traçaram a trajetória anual do Sol e dividiram-na em doze
partes, associando-as a animais míticos. Essa divisão deu origem aos signos do zodíaco.

Na medicina, os sumerianos destacaram-se pelo tratamento de doenças como febre, lepra,


sarna, hidropisia, hérnia, entre outras, com preparo de remédios derivados de plantas. Os meios
mágicos, assim como os científicos, eram usados na cura de moléstias, de modo que os
curandeiros procuravam auxílio das adivinhações para prever o possível sucesso de suas poções.
Eles reconheciam várias afecções de pele, garganta pulmões e estômago e tinham remédios para
o tratamento desses distúrbios. A medicação não se limitava a remédios feitos de ervas; mas
minerais, pedras moídas, sal e partes de animais também eram prescritos. O tratamento era
influenciado por números considerados mágicos. Assim, as prescrições eram feitas com três
sementes de uma determinada planta ou por uma combinação apropriada (três e sete, por
exemplo). A época de colheita do material também poderia influenciar a cura, tal como na lua cheia
ou três dias antes ou depois dela. Durante a mistura de ingredientes, a presença de uma pessoa
especial como uma criança ou uma virgem, poderia ser convocada devido à influência de sua
pureza ou inocência.

China
A civilização chinesa se desenvolveu, por volta de 2500 a.C., no vale do Rio Amarelo ou
Hoang-ho (que corresponde à porção oriental da China atual; ver mapa da pág. 1). A sociedade
era organizada em torno da produção agrícola, atividade que se destacou muito mais que a criação
de rebanhos.

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A escrita chinesa foi inventada em aproximadamente 1500 a.C. e permanece essencialmente
a mesma desde os tempos antigos. Os ideogramas exprimem uma ideia ou o som da palavra (ou
de parte da palavra) que representa essa ideia. Enquanto no Ocidente a tendência foi pela redução
do número de sinais, dando origem ao alfabeto, na China ocorreu o contrário. A escrita
permaneceu não alfabética e tornou-se ainda mais complexa.

Os sinais chineses representam conceitos e o fazem de inúmeras formas. Por exemplo,


alguns dos sinais são figuras estilizadas de objetos, alguns são combinações desses sinais para
indicar maior complexidade de ideias abstratas, alguns são combinações junto com sinais
adicionais para indicar um som. O conjunto básico completo é formado por cerca de 15.000
ideogramas. Quando surgiu, no período Shang (1766-1122 a.C.), havia cerca de 2.500 sinais;
atualmente inclui aproximadamente 50 mil. Isto torna a escrita muito difícil de ser apreendida. No
entanto, à medida que a influência chinesa aumentou, sua forma de escrever de disseminou.

Um país que sentiu muito cedo a influência da China foi a Coreia. O imperador chinês Wu Di
conquistou a Coreia no ano 109 e muitos chineses o seguiram até lá. Eles levaram a escrita que
sobreviveu, muito embora os governantes chineses tivessem deixado a Coreia um século mais
tarde. A escrita chinesa permaneceu em uso durante séculos, embora tivesse que ser modificada
para se adequar ao coreano, uma língua bastante diferente da chinesa. A influência chinesa foi
ainda maior no Japão. Houve uma invasão japonesa da Coreia no ano 370 e os especialistas
coreanos em língua chinesa falada e escrita logo chegaram ao Japão. A disseminação do budismo
também trouxe muita interação entre a China e o Japão, sendo que este último país adotou a
escrita chinesa e adaptou-a à língua local.

A ciência chinesa

O artesanato (cerâmicas e produtos têxteis) e metalurgia (vasos de bronze, usos de ferro


para a fabricação de arados) desenvolveram-se durante a dinastia de Chang (1520 a 1030 a.C.).
Nesta mesma época, difundiram-se rituais de adivinhação denominados “escapulomancia”. A
técnica consistia da utilização de ossos, principalmente omoplatas de bois e outros animais
domésticos, bem como de osso de tartaruga, para prever o futuro. Aplicava-se ferro em brasa ao
osso e as rachaduras produzidas eram interpretadas como respostas dos deuses a perguntas
específicas. O resultado desses rituais era escrito
sobre os próprios ossos.

O período de Chang foi notável pela beleza


de seus trabalhos em bronze, pelo uso
generalizado de bambu (por vezes preparado em
tiras para a escrita), e pelo emprego de conchas de
cauri como forma de moeda. Os cauris são
conchas ornamentadas de moluscos do gênero
Cypraea, que apresentam coloração branca ou
amarelo-clara e possuem 5 a 11 cm de
comprimento. A valva dorsal é convexa, enquanto
a ventral apresenta uma fenda. São encontradas
apenas em mares quentes, principalmente no
Pacífico Sul e no oceano Índico. Uma possível
fonte das conchas de cauri na China era a costa do
Pacífico, próximo a desembocadura do Yang-tsé Osso oráculo chinês da dinastia Chang com
(Rio azul). inscrições de pedidos de orientação aos espíritos,
datando do segundo milênio antes de Cristo.
A matemática chinesa era muito
Museu Real de Ontário, Toronto. Fonte: Colin
desenvolvida, tendo sido documentado o Ronan. História Ilustrada da Ciência, v. 2, p. 41.
conhecimento de frações e potencias de dez (102,

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103, 104, por exemplo) em cerca de século II a.C. e de números negativos e irracionais em cerca
de século II d.C. Os chineses estudavam quadrados, cubos e raízes; mostravam interesse pelas
relações entre números (por exemplo, sabiam que a soma da seqüência de números ímpares é
sempre um quadrado), por análise combinatória, por geometria (calculavam um valor aproximado
para o número pi, fundamental para a determinação da área do círculo, em V d.C.), por álgebra
(equações) e por probabilidade. Os chineses conheciam o “triangulo de Pascal” desde o século XI,
enquanto no Ocidente seu desenvolvimento data do século XVII.

Entre 350 e 250 a.C., as ideias básicas da ciência chinesa eram influenciadas pelos cinco
elementos: água (associado a molhar, gotejar, movimento descendente e ao sabor salgado), metal
(que representava modelagem e fundição e o sabor acre), madeira (relacionada ao corte, à
escultura e ao sabor ácido), fogo (associado à queima, ao aquecimento, ao movimento ascendente
e ao sabor amargo) e terra (que representava a produção de vegetação comestível e o sabor
doce). Os cinco elementos eram considerados como princípios ativos e estavam ligados pelo
princípio da mútua conquista (o metal domina a madeira, por exemplo, pois pode cortá-la e esculpi-
la). Eles eram associados a todas as experiências, constituindo símbolos de mudança e de
quantidade, representando os cheiros e os gostos, os pontos cardeais, as funções humanas físicas
e mentais, os animais, o tempo atmosférico e, até mesmo, os aspectos do governo (se o
comportamento do imperador fosse bom, por exemplo, seria guiado pela ordem da mútua
conquista de elementos).

Uma segunda ideia básica da explicação chinesa sobre o mundo natural eram as duas forças
fundamentais, o Yin e o Yang. O Yin era associado às nuvens e a chuva, ao frio e ao escuro e ao
princípio feminino. O Yang, por outro lado, estava relacionado ao calor e ao morno, à luz do Sol e à
masculinidade. Eram complementares, mas dependendo da situação um tomava precedência em
relação ao outro, em uma relação de dominância e recessividade.

A astronomia sempre foi uma ciência desenvolvida na China. A aceitação do calendário


oficial era considerada parte das obrigações daqueles que deviam obediência ao imperador. O
calendário, portanto, precisava ser razoavelmente correto e emparelhado com as estações. Para
determinação do calendário sazonal, os chineses acompanhavam a posição do Sol utilizando
como referência a localização de constelações (usavam
um conjunto de 28 constelações) e o trajeto da Lua. Por
volta de 1400 a.C., sabiam que a duração do ano solar
era 365 dias e 1/4 e que o período entre duas luas novas
consecutivas (lunação) era 29 dias e 1/2. Desde os
tempos mais remotos, os chineses observavam planetas
e vários fenômenos astronômicos como eclipses,
aparições de cometas e explosões de estrelas. Eles
elaboraram catálogos de estrelas, sendo cada uma delas
numeradas e localizadas num sistema de coordenadas
geográficas.

Muitos fenômenos meteorológicos foram descritos


pelos chineses. Em cerca de II a.C., já se conhecia que a
ocorrência das marés altas estava relacionada com a lua
cheia. No século II d.C., foi projetado o primeiro
sismógrafo (que continha um pêndulo pesado o suficiente
para não responder a pequenos distúrbios, sendo Reconstrução do sismógrafo de Chang
sensível, porém, aos movimentos do interior da Terra). O Heng (século VII a.C). Fonte: Colin
primeiro higrômetro data de século II a.C.; em IV a.C. já Ronan. História Ilustrada da Ciência,
v. 2, p. 47.
se conhecia o ciclo da água.

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Os minerais eram amplamente conhecidos na China, sendo classificados de acordo com a
dureza, a cor, a aparência e o gosto. Os chineses utilizavam os minerais em vários processos, tais
como pintura, medicina, análise de materiais etc.

A tradição do mapeamento data de cerca de 100 d.C. A cartografia chinesa sempre foi muito
avançada, os mapas representavam sempre o norte na porção superior. A invenção da bússola
pelos chineses foi derivada da prática da geomancia, que consistia em fazer girar uma colher e ver
em qual posição ela se deteria. Em cerca de 100 d.C., houve a introdução do sistema de grade
(sistema de linhas formando ângulos retos) para especificar posições geográficas, o que levou à
expansão do mapeamento preciso.

O mais antigo mapa impresso do


mundo, produzido em 1155 d.C. e que
mostra a região oeste da China.
Fonte: Colin Ronan. História Ilustrada
da Ciência, v. 2, p. 47.

A medicina chinesa destacou-se pelo conhecimento de inúmeras moléstias e seus


respectivos tratamentos. Em 610, foi publicada a obra intitulada “Tratado geral das causas e dos
sintomas das moléstias”, na qual centenas de doenças foram classificadas e descritas. A prática da
acupuntura data de cerca de 600 a.C. e desde essa época a técnica não deixou de ser empregada.

Na Biologia, havia grandes conhecimentos sobre controle de insetos e de ervas daninhas. No


século IV a.C. foi realizada a compilação e a descrição de um grande número de animais e plantas.
Desde o século III a.C., os chineses já classificavam as plantas com nomes científicos de duas
palavras. A criação de insetos para a obtenção de seda, ceras (usadas na medicina e para a
fabricação de velas) e corantes era uma prática muito difundida. Os chineses estudaram
cuidadosamente o solo, praticavam rotação de culturas, faziam sua fertilização.

Os chineses adquiriram um enorme conhecimento de química prática e compreenderam


desde muito cedo que as reações químicas podiam prover não só misturas, mas também
substâncias totalmente novas e, para tanto, sabiam pesar e medir proporções das substâncias que
tomavam parte das reações. Para realizar seus experimentos desenvolveram instrumentos como
fornalhas, vasos, recipientes com isolamento térmico, destiladores, balanças, tubulações de bambu
e banhos de água. Os alquimistas chineses visavam produzir ouro a partir de metais menos
nobres. Acreditavam que ao ingerir “medicações” a base de ouro e mercúrio alcançariam a
imortalidade.

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A escrita alfabética
A origem da escrita alfabética é creditada aos fenícios, uma civilização que floresceu por
volta de 3000 a.C., na região onde situa-se atualmente Israel. Eles utilizavam uma escrita
composta de consoantes, portanto, não era um alfabeto verdadeiro.

Alfabetos fenício, grego, romano e latino. O alfabeto fenício era composto de 22 sinais, sendo, mais tarde
aperfeiçoado pelos gregos que lhe acrescentaram outras letras. O alfabeto gergo deu origem ao alfabeto latino,
que é o mais utilizado atualmente. . Fonte: Gilberto Cotrim, História e consciência do mundo, p. 55.

Pelo fato de serem excelentes comerciantes, os fenícios deixaram suas inscrições por uma
extensa área, incluindo o norte da África e a Grécia. Nesta época, os gregos usavam muitas
formas diferentes de escrita, dentre as quais se destacavam a cipriota e a linear (esta última foi
encontrada nos palácios da civilização Minoica, em Creta). Ambas eram escritas silábicas, isto é,
os sinais representavam sílabas inteiras ao invés de letras individuais. Ao entrarem em contato
com a escrita fenícia, os gregos fizeram uma adaptação, usando os sinais consonantais, que eram
pouco usados na sua própria língua para representar as vogais. Este foi um passo de importância
fundamental: quando os gregos encontraram uma forma de representar as vogais, descobriram
uma maneira eficiente de escrever sua língua e um alfabeto havia, então, sido criado. A palavra
alfabeto deriva de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego.

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Índia
A história da ciência hindu ainda requer muita pesquisa. A literatura existente ainda é
escassa, o que gera dificuldades para diferenciar o surgimento de idéias independentes daquelas
provenientes da influência de outras culturas. Contudo, a história da civilização da Índia é tão
antiga quanto a da China. Escavações revelaram cidades que datam do período de 2300 a 1750
a.C. e mostram surpreendentes trabalhos de urbanismo, com notáveis sistemas de drenagem e de
banhos públicos, além de ruas pavimentadas, revelando elevado planejamento urbano e
conhecimento de engenharia.

São desse período os Vedas, o conjunto de escrituras sagradas que representam várias
religiões da Índia, principalmente o vedismo, o bramanismo e o hinduísmo. Os Vedas foram
transmitidos inicialmente pela tradição oral e posteriormente foram transcritos para o sânscrito
arcaico. Os textos sagrados dos Vedas constituem a base dos ritos, da crença e da organização da
sociedade hindu e são representados por diversos volumes contendo poemas, hinos, orações
fórmulas mágicas, mitos e lendas. O sânscrito foi uma língua que se dispersou por todo território
hindu, em diversos dialetos, e ainda é utilizado atualmente. Trata-se de uma língua alfabética
derivada do latim que, por essa razão, é vulgarmente conhecida como “o latim da Índia”.

No primeiro milênio a.C. surgiu o Buda (560-480 a.C.), que propôs uma filosofia moral
difundida também em sânscrito, que pregava o amor, o conhecimento e o respeito à verdade. A
filosofia budista buscou explicações para problemas científicos e estimulou a formulação de uma
teoria atômica. A teoria atômica indiana estava associada à teoria dos quatro elementos e de uma
quinta essência celeste (a qual havia sido proposta pelos gregos), que, contudo, eram descritos em
um contexto atômico. Assim sendo, cada um dos quatro elementos possuía sua própria classe de
átomos, sendo todos indivisíveis e indestrutíveis. Átomos de classes diferentes não podiam se
combinar, enquanto que aqueles de classes semelhantes podiam se associar, desde que
estivessem na presença de um átomo.

O conhecimento da química na Índia surgiu provavelmente com interesse em assuntos


puramente práticos, como a fusão do ferro, a fabricação de cerâmica e de vidro, a manufatura de
pigmentos e a tinturaria. A fusão do ferro começou na Índia entre 1050 e 950 a.C. Um milênio e
meio depois, os fundidores hindus eram capazes de fundir alguns pilares peculiares. Um deles,
ainda presente em Nova Deli, tem a altura de mais de 7 metros, estando mais um metro abaixo da
superfície, com um diâmetro de cerca de 40 centímetros e pesando mais de 6 toneladas. Um pilar
de ferro com tais dimensões, até uma época relativamente recente, seria impossível de ser fundido
na Europa. Além disso, surpreendentemente, esse e outros pilares não apresentam deterioração
ou qualquer sinal de ferrugem. O motivo, não se sabe ao certo até hoje, embora pareça que isso
se deva à presença de óxido magnético de ferro na superfície, resultante de seu tratamento
original.

Há informações de que a aritmética hindu tinha um sistema de numeração do qual derivou o


sistema que utilizamos atualmente e que recebe a denominação equivocada de “numeração
arábica”. Provavelmente os árabes assimilaram esse sistema a partir dos gregos, que, por sua vez,
o teriam recebido dos hindus. O calendário indiano era constituído de 360 dias divididos em doze
meses e tinha como base o período de lunação.

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Questões para estudo

1. Monte um quadro comparativo da ciência desenvolvida pelas quatro civilizações estudadas


acima. O quadro deve apresentar as seguintes informações: sistema de escrita, as principais
descobertas na matemática, os destaques das outras áreas da ciência e os calendários
desenvolvidos.

2. A que povo é atribuída tradicionalmente a invenção da escrita? Essa visão está correta?
Por quê?

3. a) Explique os cinco elementos e as duas forças fundamentais da cultura chinesa.


b) Como esses elementos eram utilizados para fornecer explicações científicas?

4. Onde surgiu a escrita alfabética? Por que o alfabeto é considerado pela maioria da
população como uma invenção grega?

5. Relacione as civilizações apresentadas a seguir com os aspectos de sua ciência e cultura.


Atenção, mais de uma civilização pode apresentar a característica apontada.

I. Egito II. Mesopotâmia III. China IV. Índia

( ) escrita alfabética
( ) escrita simbólica e silábica
( ) sistema de numeração atual
( ) técnicas de irrigação
( ) conhecimentos avançados de anatomia humana
( ) uso da légua como unidade de medida de distância
( ) prática da alquimia
( ) conhecimentos de geometria e engenharia
( ) comércios com uso de conchas como forma de moeda
( ) tratamento de doenças

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