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APOSTILA 5:
OS GRANDES FILÓSOFOS E O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GREGA NO
PERÍODO CLÁSSICO
Adaptado de:
ABREU, Yma, S. de. O método de Aristóteles para o estudo dos seres vivos. Revista da Sociedade Brasileira de História da
Ciência, n. 11, p. 35-40, 1994.
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2004.
CRESCENZO, Luciano de. História da filosofia grega: de Sócrates ao neoplatônicos. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
FARIA, Romildo P. (org.) Fundamentos de astronomia. Campinas: Papirus, 1987.
HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
MALATO, Maria Luísa. A Academia de Platão e a matriz das academias modernas. São Paulo: Notandum, v.19, p. 6-16,
2009.
PECORARO, Rossano (org.). Os filósofos: clássicos da filosofia, v. 1, de Sócrates a Rousseau, Petrópolis: Editora Vozes,
2008.
RONAN, Colin A. História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge, volume 1: das origens à Grécia. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
OS SOFISTAS
SÓCRATES
Sócrates (470 ou 469-399 a.C.) nasceu em Atenas. Era filho de um escultor chamado Sofronisco e
de uma parteira cujo nome era Fenarete. Não tinha escola e não deixou nenhuma obra escrita porque seu
ensino era pela conversação. Somente por intermédio de Platão, Xenofonte e Aristóteles conhecemos sua
obra. É considerado o consolidador da filosofia dos que o antecederam. Sócrates pregava ideais como a
virtude e a justiça. Era um homem de grande simplicidade e nada chegava a despertar seu interesse no
âmbito de luxos e futilidades. Nasceu pobre e conservou-se assim até a sua morte em 399 a.C. Andava
pelas ruas de Atenas, no verão e no inverno, sempre descalço e vestindo o mesmo manto grosseiro. Teve
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três filhos, Lamprocles, Menexeno e um terceiro chamado Sofronisco como seu pai. Foi casado com
Xantipa, mulher com temperamento decidido que ficou conhecida por suas constantes reclamações. Teve
provavelmente outra esposa chamada Mirto com quem teve seu terceiro filho. Naquela época, a poligamia
(união conjugal de uma pessoa com várias outras) era permitida e incentivada para combater o
decréscimo populacional decorrente das sucessivas guerras nas quais Atenas havia se envolvido.
Como qualquer outro garoto de Atenas, provavelmente, durante sua infância, frequentou a escola.
Aos dezoito anos serviu ao exército, exercendo posteriormente deveres militares e participando de
batalhas em que se destacou como bom soldado. Segundo alguns autores, foi discípulo de Anaxágoras,
Damão e Aquelau e, deste último também foi amante. Quanto a estes aspectos dos amores homossexuais
dos filósofos gregos é importante esclarecer que o homossexualismo, naquele tempo, era algo
perfeitamente normal e não foi por acaso que ficou conhecido na história como “amor grego”. Para os
antigos gregos, “era natural sentir-se atraído pelo belo” e o fato desse belo ser representado por um
homem ou uma mulher era um detalhe sem importância. Os verdadeiros problemas para os homossexuais
começaram com a chegada do Cristianismo: a nova moral só aceitou a relação sexual como meio de
procriação e considerou pecaminoso qualquer envolvimento amoroso que se desviasse desse objetivo.
Então surgiram as perseguições e os preconceitos até hoje disseminados. Já em idade madura, Sócrates
teve outros amores desse tipo na vida, entre os quais o mais famoso foi com Alcibíades, seu discípulo,
que se apaixonou pelo mestre.
Quando Sócrates diz “sei que nada sei” não está negando a existência da verdade (como os sofistas
fizeram antes dele), mas sim incitando à busca da mesma. Ele propõe que a verdade existe, embora não
a conhecesse. Para ele, era necessário alcançar o conhecimento para que se pudesse compreender o
que é o Bem.
Essa era também a essência da sua forma de argumentação, pois, aparentando ignorância, ele
portava-se como se quisesse aprender alguma coisa com o interlocutor, improvisando uma conversa de
acordo com os estímulos fornecidos por este último. Assim, fazia com que o interlocutor encontrasse a
verdade sobre ele próprio, sobre os outros homens e sobre o mundo. Para exemplificar seu método, a
seguir, é exposto um dos diálogos de Platão, no qual Sócrates pede ao interlocutor a definição de valores
morais:
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SÓCRATES: E se, ao entregar o dinheiro ao amigo, tu já soubesses que ele tenciona cometer
alguma coisa maldosa, tu continuarias considerando tua ação boa?
MÊNON: Não, neste caso já não acharia boa.
SÓCRATES: Vamos recapitular, então: doar dinheiro a um amigo poderia e não poderia ser uma boa
ação, enquanto poderia ser uma boa ação dar dinheiro a alguém que não é seu amigo.
A esta altura, Mênon fica completamente confuso e Sócrates continua procurando demonstrar a ele
a “essência” da virtude e da bondade.
2. Maiêutica
3. “Conhece-te a ti mesmo”
Esta expressão resume suas principais idéias expostas anteriormente. Sócrates afirmava e
acreditava que nada sabia para, através da maiêutica, fazer os homens encontrarem sua própria verdade
(isto é, a bondade e a virtude). Para Sócrates, fazer com que os homens atingissem o conhecimento seria
equivalente a ensiná-los a praticar o bem, a adquirir a consciência dos valores que traziam para si e a
administrar a cidade com justiça.
Devido à popularidade que conquistou e ao potencial transformador de suas idéias, muitas vezes
mal compreendidas, foi acusado por Meleto (principal acusador), Anito e Licão de corromper os jovens,
ser inimigo das leis e das autoridades e de ser desobediente aos deuses. Na verdade, em Atenas,
ninguém se preocupava com a religiosidade dos outros, mas qualquer desculpa era válida para livrar-se
de um adversário político ou de alguém como Sócrates que, com sua dialética implacável, ameaçava o
poder constituído. Além disso, foi justamente por sua retidão moral e por sua busca permanente pela
verdadeira justiça que conquistou muitos inimigos.
O julgamento resultou na sua condenação à morte pela ingestão de cicuta. Logo após a definição da
sentença, estando na prisão à espera da execução, Críton, discípulo fiel de Sócrates, lhe propôs um plano
infalível de fuga: subornaria os carcereiros e o conduziria ao exílio na Tessália. Sócrates recusou a
proposta explicando que morrendo daquela forma seria vítima da injustiça dos homens, mas mesmo assim
não desobedeceria as leis da cidade. Pois, se através de suborno e fuga salvasse sua vida, estaria ele
próprio também cometendo injustiça. Filósofos como Anaxágoras e Protágoras também foram acusados
de impiedade, mas todos, com exceção de Sócrates salvaram-se fugindo.
A justiça na época era organizada da seguinte forma: no começo de cada ano eram sorteados seis
mil atenienses com mais de trinta anos que formavam a Eliea, isto é, o conjunto de homens que poderiam
ser sorteados para compor o grupo de quinhentos jurados necessários para cada processo. O segundo
sorteio ocorria na mesma manhã em que a causa iria ser julgada para evitar que os réus pudessem
corromper os juízes. Diante das entradas dos tribunais havia grandes caixas de mármore chamadas de
cleroterion, nas quais os membros da Eliea que estavam presentes e, portanto, eram candidatos ao júri
colocavam plaquetas com seu nome. Depois de introduzir a plaqueta, um mecanismo interno fazia rolar
por uma série de dutos um dado branco ou preto e conforme a cor do dado que saía do cleroterion o
cidadão fazia ou não parte do júri. Por sua participação, os juízes recebiam três óbolos por dia, o que
equivalia a cerca de sessenta por cento do salário de um operário. Nos tribunais de Atenas, a acusação
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podia ser feita por qualquer cidadão que, ao fazer isso, assumia riscos: se o incriminado fosse condenado,
o acusador apossava-se de um décimo dos seus bens, mas, se não conseguisse conquistar pelo menos
um quinto dos votos a favor da acusação, tinha de pagar um multa dez mil dracmas. Os acusados
precisavam defender-se sozinhos.
O dia da execução é relatado no diálogo de Platão intitulado “Críton”. A seguir, são expostas partes
desse diálogo com pequenas modificações na narrativa a fim de sintetizá-la:
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Sócrates não sabe mais o que fazer. Passa de um para o outro tentando confortar cada um deles:
corre atrás de Críton e leva-o de volta à cela, afaga a cabeça de Apolodoro, abraça Fédon e enxuga as
lágrimas de Ésquines.
- Afinal, o que há convosco? - protesta Sócrates, entre um e outro consolo. - Mandei sair Xantipa e
as crianças justamente para evitar cenas como esta. Nunca poderia imaginar que vós iríeis portar-vos
ainda pior. Ficai firmes e serenos, meus amigos, como convém aos filósofos e aos homens de bem.
Ao ouvirem isso os discípulos ficam um tanto envergonhados e Sócrates aproveita para andar de um
lado para o outro da cela, seguindo o conselho do escravo. Depois de alguns minutos, sentindo as pernas
mais pesadas, deita-se no catre e fica esperando calmamente pelo fim. O escravo aperta com força a sua
perna e pergunta se está sentindo alguma coisa. Sócrates diz que não: o veneno está cumprindo seu
papel. O ventre, nesta altura, também perdeu qualquer sensibilidade.
- Não te esqueças, Críton, estamos devendo um galo a Asclépio - sussurra Sócrates -, lembra-te de
devolvê-lo em meu nome.
- Farei isto - assegura Críton. - Há mais alguma coisa que queres que eu faça?
Mas Sócrates já não responde.
Alguns dias depois os atenienses arrependeram-se de ter condenado Sócrates: fecharam todos os
ginásios, os teatros e as escolas, mandaram Anito e Licão para o exílio e condenaram à morte Meleto.
PLATÃO
Aristocles (428-347 a.C.), conhecido como Platão, apelido que recebeu devido à largura (plátos) de
seus ombros, nasceu em Atenas. Era um aristocrata e tinha parentes tão influentes que parecia inevitável
que ele acabasse se envolvendo com a política. Contudo, teve de enfrentar tantas e tão grandes
decepções durante os primeiros anos da democracia em Atenas que chegou a perder por completo a
confiança nos políticos, dedicando-se à filosofia. Tornou-se um anti-democrata por observar que os
aristocratas e os políticos de sua época eram, em geral, pouco confiáveis no ponto de vista moral e,
finalmente, por ver Sócrates, o único homem que considerava merecedor de admiração, ser condenado à
morte.
Conta-se que, aos vinte anos, só se interessava pela poesia e que, certo dia, quando estava a
caminho do teatro para participar de uma competição poética, ouviu Sócrates discursando para um grupo
de jovens. Compreendeu de imediato que aquele homem iria ser seu novo guia espiritual, deixando os
poemas de lado e passando a acompanhá-lo a partir de então.
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Após a condenação de seu mestre (em 399 a.C.), Platão deixou Atenas e visitou outros centros de
estudo: conheceu os matemáticos de Cirene, os sábios do Egito e os pitagóricos na Itália. Após suas
viagens dedicadas à filosofia, trabalhou como mestre de Dionísio, chefe da cidade de Siracusa, um tirano
cruel e autoritário. Contudo, a corte e os costumes de Dionísio o desagradaram e quando Platão
expressou seu descontentamento foi vendido pelo tirano no mercado de escravos, embarcando em um
navio espartano que tinha como destino o Egito. Felizmente, no caminho, foi encontrado por um de seus
amigos e admiradores, Aniceride, que pagou seu resgate e deu-lhe dinheiro necessário para comprar um
terreno e construir uma escola.
A fundação da Academia foi um dos eventos mais importantes do mundo antigo. Tratava-se de uma
escola que estava localizada a cerca de dois quilômetros de Atenas, ao lado de um bosque dedicado ao
herói Academo. Ali, em torno de Platão, reuniu-se um grande número de discípulos (Xenócrates,
Espeusipo, Aristóteles, Erasto, Timolau, entre outros) e de alunas (Lastênia e Axiotélia). Suas atividades
incluíam passeios e conversas, que ocorriam num agradável cenário de bosques e riachos e que
procuravam conciliar ensino e especulação filosófica. Ambas as práticas eram concebidas como formas
de maiêutica, isto é, da descoberta da Verdade. A Academia não tinha fins lucrativos, ao contrário do que
acontecia nas escolas dos sofistas, mais técnicas e comprometidas com a eficácia da argumentação
política ou jurídica.
ACADEMO foi um herói ateniense que revelou o local onde sua irmã Helena, princesa de Esparta,
estava escondida desde que fora raptada por Páris. E, em homenagem a este herói, o terreno que lhe
pertencia e onde ele foi sepultado, situado a noroeste de Atenas, foi transformado no Jardim de Academo
e nele construído um templo dedicado a Atenas, deusa da sabedoria. E em todas as invasões de Atenas
pelos espartanos, este Jardim foi rigorosamente respeitado em homenagem àquele que ajudara na
libertação de Helena. Em torno do ano 387 a.C., Platão reunia ali os poucos homens cultos da Grécia. O
termo ACADEMIA foi utilizado, pela primeira vez, no século XV, em Florença, Itália e definia grupos de
estudos de cultura clássica. Posteriormente se estendeu às escolas de ensino superior.
Apesar de ter retornado ainda algumas vezes a Siracusa, Platão permaneceu na direção da
Academia até sua morte, em 347 a.C., quando tinha 81 anos. A escola resistiu por cerca de novecentos
anos. Foi fechada em 529 d.C. por decreto do imperador romano Justiniano (483-565 d.C.) que
determinou a extinção de todas as escolas pagãs quando o cristianismo se tornou hegemônico no império
romano.
A verdadeira realidade seria representada por uma Forma ou Idéia essencial permanente e imutável.
O que observamos não teria tal permanência e seria uma imitação inadequada da Forma ou Idéia
essencial (que seria real). Por exemplo, quando observamos um gato, o que estaríamos, de fato,
observando seria um exemplo imperfeito do gato essencial. O gato visualizado ficará velho e morrerá, mas
idéia essencial do gato permanecerá. Assim, a verdadeira e permanente realidade seria representada pela
Idéia essencial e o mundo observado seria apenas sua sombra.
Platão acreditava que essa visão de conjunto, esse aspecto único, reunia em si uma multiplicidade,
delimitando as características principais que conferiam unidade a uma determinada classe de coisas. A
Idéia seria a essência das coisas, de modo que somente definindo o que seria a Idéia correspondente,
que se poderia dizer o que é algo como, por exemplo, a virtude e a justiça.
Mas o que é uma Idéia? Quais são suas principais características? Como Platão demonstra que as
Idéias existem e cumprem as funções que lhe são atribuídas? Simplificando bastante, podemos dizer que
o principal argumento de Platão é o chamado “argumento do conhecimento”, que podemos esquematizar
assim: a) Todas as coisas que percebemos pelo sentido estão em constante transformação; b) Não pode
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haver conhecimento verdadeiro daquilo que está em transformação; c) Logo, as coisas que percebemos
pelos sentido não podem ser conhecidas; d) No entanto, há conhecimento; e) O conhecimento só é
possível se for de algo que é e que permaneça constante (eterno, imóvel, idêntico); f) Logo, deve existir
algo que permaneça constante (eterno, imóvel, idêntico); g) As Idéias têm essas características; i) As
Idéias, portanto, não são perceptíveis pelos sentidos, não são concretas, são entidades abstratas
conhecidas somente pela inteligência.
De acordo com o que foi exposto no item acima, para Platão, o conhecimento verdadeiro não
poderia ser acessado pelos sentidos. A verdadeira realidade seria, portanto, algo que jamais
observaríamos e que só poderia ser contemplada no pensamento. Procurando conciliar as idéias de
Parmênides com as de Heráclito para explicar a diferença que existe entre a realidade e a aparência,
entre “o uno, o puro e o imutável” e o “multíplice, o impuro e o mutável”, Platão conta em República o Mito
da Caverna:
Imagine uma grande caverna e, dentro dela, uns homens acorrentados desde que foram meninos,
de forma que lhes seja impossível olhar para a saída e que sejam forçados a olhar o tempo todo para a
parede do fundo. Por trás deles, logo fora da caverna e num nível levemente mais elevado, há uma
estrada margeada por uma mureta, atrás do qual passam outros homens que carregam nos ombros
estátuas e objetos de natureza diversa. Os carregadores conversam e a ressonância da caverna deforma
suas vozes. Atrás de tudo isso, o Sol ilumina a cena.
Interpretando essa exposição alegórica, vemos que, nessa condição, os homens acorrentados iriam
pensar que aquelas sombras e aqueles sons eram a única realidade que existe.
Vamos supor então que um deles consiga libertar-se e se vire para olhar as estátuas. Num primeiro
momento, ofuscado pela luz, iria vê-las de modo confuso e acharia as sombras que via antes muito mais
nítidas. Em seguida, no entanto,depois de sair da caverna e já acostumado com a luz do Sol, perceberia
que tudo que vira até aquele momento nada mais era do que a sombra dos objetos.
Vamos finalmente imaginar o que aconteceria se esse homem voltasse a caverna e contasse aos
seus companheiros o que vira. Provavelmente não acreditariam nele o zombariam de suas palavras e, se
ele insistisse, como no caso de Sócrates, poderiam até condená-lo à morte.
Em uma explicação simplificada do Mito da Caverna, observar os objetos sob a luz do Sol e a
libertação da caverna significa atingir o conhecimento. As sombras projetadas na caverna significa a
realidade vista de uma forma borrada e confusa e representa aquilo que podemos perceber pelos
sentidos (o multíplice, o imperfeito e o mutável). As sombras da realidade podem ser interpretadas ainda
como os falsos objetivos como o dinheiro o poder e o sucesso. A filosofia seria o modo através do qual os
homens poderiam libertar-se e conhecer a verdade. Sair da caverna, portanto, seria chegar ao
conhecimento das Idéias imutáveis.
Este modo de pensar exerceu uma grande influência na história das ciências e acabou originando
um sistema denominado Idealismo Objetivo ou Racionalismo, que se baseia no pressuposto que apenas a
razão, isto é, o raciocínio (sem a necessidade de experimentação) é necessária para gerar o
conhecimento. Esse método se contrapõe ao método hipotético-dedutivo, que é mais experimental e
envolve a observação de variados fenômenos da natureza e a tentativa de construir uma única explicação
que os reúna.
3. O estado ideal
As teorias políticas defendidas por Platão aparecem em três livros: A República, O Político e As Leis.
Em tais livros é proposta uma sociedade elitista, com um grupo formado por um quinto da população que
controlaria o resto. Platão justificava sua idéia da seguinte forma: "... os males não cessarão para os
humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das
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cidades, por uma divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente". Na república de Platão haveria
três classes de indivíduos: os que controlariam o poder político (os filósofos), os que combateriam (os
soldados) e os que trabalhariam (agricultores e todos os demais). Quem nascesse em uma categoria
acabaria quase certamente morrendo nela, a não ser que fosse promovido por um motivo especial ou
rebaixado por igualmente especial demérito.
4. A ciência de Platão
Em seu trabalho mais científico, o livro intitulado Timeu, Platão discute o universo, a teoria dos
quatro elementos e a relação entre o corpo e a alma do homem. Nessa obra, há uma parte dedicada à
fisiologia e as doenças humanas. Para Platão, o universo seria um lugar ordenado e racional, o que
poderia ser demonstrado pelo movimento regular dos planetas. A alma do universo seria comparável a do
homem. Os planetas e as estrelas seriam as mais sublimes representação da “Realidade Essencial” (isto
é, são exemplos das “Idéias Imutáveis” de Platão) e matemática expressaria os movimentos divinos dos
planetas.
No Timeu, Platão combina ainda a matemática pitagórica com a física de Empédocles - os quatro
elementos que forma a matéria - terra, fogo, água e ar - são representados por figuras geométricas
compostas de triângulos, que são expressões de sua essência numérica. A partir dos triângulos
retangulos formam-se os seguintes sólidos: tetraedro (figura com quatro faces), octaedro (oito faces) e
icosaedro (vinte faces). Essas figuras representam respectivamente os seguintes elementos: fogo, ar e
água. Quando os corpos compostos destes elementos se decompõem é possível que ocorra o rearranjo
dos triângulos, dando origem a materiais de outra natureza. Assim, de dois elementos fogo, forma-se o
elemento ar; de dois elementos ar e mais um elemento fogo, forma-se o elemento água. O elemento terra
seria representado pelo hexaedro (figura de seis faces), que, por sua vez, seria composto de triângulos
retângulos.
Platão atribui a esses quatro elementos funções análogas àquelas que os humores desempenham
na medicina hipocrática. Assim, o estado de saúde dependeria do equilíbrio entre os quatro elementos e a
doença recorreria da desarmonia entre eles. Platão se refere também a certos humores como a bile e a
fleuma quando descreve o mecanismo de algumas doenças.
Em A República, Platão havia dividido a alma em três partes, no Timeu ele localiza no corpo cada
uma delas. Inicialmente o filósofo distingue uma porção imortal e outra mortal. A primeira está localizada
na cabeça - a alma racional. A segunda, localizada no tronco, se subdivide em duas outras: a porção
torácica, situada no coração - sede da coragem (alma irascível) - e a porção abdominal, situada no fígado
- sede dos desejos (alma concupiscente). Estas duas últimas estão separadas pelo diafragma - músculo
que divide o tronco em dois segmentos. Embora separadas anatomicamente, as partes da alma se
comunicam. Seria possível, então, que a alma racional exercesse o comando sobre as demais partes.
Segundo Platão seria ao nível da medula (tanto óssea, quanto espinhal e inclusive o cérebro, de
acordo com o que interpretamos a partir do que ele afirma) que se fixariam os laços da vida. Alma e corpo
estariam aí unidos. Os triângulos primitivos, misturados entre si numa certa proporção, seriam os próprios
elementos constituintes da medula. Dela se originam todas as outras partes do corpo. A quantidade de
medula presente num sítio corporal estaria em relação direta com a porção de alma a ela associada. Por
esta razão, quando Platão descreve a formação dos ossos, ele afirma que da quantidade de medula
presente em cada um deles irá depender sua maior ou menor participação na inteligência.
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As doenças da Alma seriam derivadas de distúrbios do corpo e são denominadas por Platão de
demência ou desrazão, subdividindo-se em loucura e ignorância. Antes de preconizar o tratamento
adequado para as afecções que atingem o corpo e a alma, Platão assinala que deve-se observar a
proporção entre alma e corpo. Uma alma superior que habita um corpo débil, dedicando-se ao estudo e às
investigações, ou então ao ensino, provoca neste último o surgimento de certas moléstias. Ocorre o
inverso quando o corpo é forte e a alma possui um baixo grau de inteligência: prevalecem os desejos que
visam alimentar o corpo em detrimento daqueles que engendram, na alma, a sabedoria; do que resulta a
ignorância, a pior doença que pode acometer a alma.
Por fim, Platão afirma que há uma interdependência entre alma e corpo; a alma, que dá vida a um
corpo, estabelece com este uma ligação orgânica que só se desfaz com a morte. Não é possível, então,
pensar as doenças que afetam a alma como limitadas a esta última. Como também o inverso não é
possível, visto que as doenças do corpo atingem em alguma medida a alma.
Academia de Platão, 1510/1511, de Raffaello Sanzio, em que se vê Platão (no centro, à esquerda) e Aristóteles (no
centro, à direita) e curiosamente Sócrates (quinto homem à esquerda de Platão) conversando com Alcibíades, Xenofonte
e possivelmente Alexandre Magno. À esquerda, em baixo, Pitágoras escrevendo. Junto a Pitágoras, apoiado num bloco
de mármore, encontra-se Heraclito, uma figura isolada. À direita de Heráclito, podemos ver Euclides inclinado sobre uma
lousa e Ptolomeu segurando um globo terrestre.
ARISTÓTELES
Aristóteles (384-322 a.C.) foi a figura mais significativa da ciência grega. Ele é, provavelmente, o
personagem que por mais tempo, em todo o mundo, influi na produção filosófica e científica da
humanidade. Desde seu tempo até o Renascimento cultural na Europa (século XVI), apesar de muitos
homens terem feitos apreciáveis avanços no conhecimento, não houve nenhum outro que tivesse reunido,
de maneira tão sistemática e harmônica, os conhecimentos produzidos até então, além de tê-los feito
avançar significativamente, propondo teorias que serviriam com base para explicações nos mais variados
ramos da ciência.
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O filósofo nasceu em Estagira, uma colônia grega sob domínio da Macedônia. Seu pai, Nicômaco, foi
autor de obras de medicina e conhecimentos naturais e médico pessoal do rei da Macedônia, Amintas II.
Por essa razão, Aristóteles freqüentava Pela, a capital do reino, e pôde estreitar vínculos de amizade com
Felipe, futuro rei e futuro pai de Alexandre o Grande. Ao ficar órfão, ainda menino, foi entregue aos
cuidados de um primo, Prosseno, que o levou para Atarneu, na Ásia. Aos 17 anos, foi estudar em Atenas
com Platão. Sem dúvida, foi o grande discípulo de Platão, que o chamava de “o leitor”, não só porque
tinha grande paixão pelos textos, mas também porque foi o primeiro a produzir comentários escritos.
Frequentou a Academia por vinte anos, no período em que esta florescia, reunindo em discussões todas
as linhagens filosóficas da época.
Aristóteles teve uma vida errante, em grande parte devido aos acontecimentos políticos de sua
época. Certamente, em Atenas, sua condição de macedônio não era bem vista devido à ameaça de
invasão que pairava e que futuramente viria efetivamente a se consumar. Mas o filósofo só deixou Atenas
após a morte de Platão, talvez por não ter conquistado a direção da Academia, que ficou nas mãos de
Espeusipo, que divergia da opinião de Aristóteles em muitas questões.
Parte, então, para Atarneu, onde foi convidado por Hérnias, governante da cidade de Assos, para
realizar reformas políticas segundo preceitos acadêmicos. Datam dessa época muitos de seus estudos e
escritos zoológicos, como a História dos animais. Em 342 a.C., Aristóteles deixa a ilha para se tornar tutor
de Alexandre, filho de Felipe, o rei da Macedônia, que tinha 14 anos.
O assassinato de Felipe, em 340 a.C., fez com que Alexandre trocasse seu papel de estudante pelo
de rei (e viria a se tornar Alexandre Magno ou Alexandre, o Grande) e Aristóteles aproveitou a ocasião
para voltar a Atenas, onde fundou sua própria escola e centro de pesquisa: o Liceu (nome que recebeu
por estar situada no local em que se encontrava o templo dedicado Apolo Liceu, deus dos pastores e
defensor dos rebanhos e manadas).
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1. Astronomia e Física
● Para Aristóteles, o universo era uma esfera com a Terra fixa no centro; era finito porque, segundo
ele, se fosse infinito não teria centro. Acreditava que a Terra era fixa porque, caso não fosse
experimentaria fenômenos como ventos muito intensos ou instabilidades.
● Aristóteles propôs que as estrelas e os corpos celestes se moviam em órbitas circulares e a força
que as movia era a esfera na qual estavam situadas (a esfera das estrelas). Mais adiante, sugeriu que
existia um motor imóvel que dirigia todo o sistema (extrapolação metafísica, isto é, além da física, ou
ainda, além do âmbito racional).
● Segundo o pensamento aristotélico, o céu era íntegro e imutável, o que era uma conclusão
bastante razoável considerando-se que nunca havia sido observado alterações nele. As mesmas estrelas
e os mesmos planetas tinham sido observados por inúmeras gerações. Por outro lado, a Terra era
caracterizada pela mudança e pela decadência. Ele explicou isso, afirmando que as mudanças ocorriam
somente na esfera abaixo da Lua, isto é, na esfera mais interior de todas, que tinha a Terra em seu centro.
Assim, os meteoros e cometas não eram considerados como verdadeiros corpos celestes e deveriam
existir no espaço sublunar, assim como as nuvens, a chuva e os ventos.
● De acordo com Aristóteles, a Terra era esférica. As razões para tal consideração eram estéticas
(uma esfera é uma figura totalmente simétrica) e físicas (os navios pareciam afundar no horizonte,
conseqüência natural de uma Terra curva, mas não plana; e os objetos caíam sempre verticalmente ao
chão). Esta segunda observação, entretanto requeria uma proposta de explicação mais elaborada, que foi
formulada por Aristóteles da seguinte forma: na Terra tudo tinha seu lugar natural. O lugar dos materiais
terrestres era o centro da Terra, e quanto mais elemento terra um corpo tivesse, mais fortemente buscaria
chegar lá. Por essa razão, os corpos mais pesados (isto é, com mais terra, ou ainda os corpos mais
”grávidos”) chegariam mais rápido no chão do que os mais leves. Assim, o corpo caía ao chão devido à
sua “gravidade”. O lugar natural do elemento aquoso seria a superfície da Terra e essa era a razão para
que a água se espalhasse no chão. O lugar natural do elemento ar era ao redor da Terra, enquanto o do
elemento fogo era acima da superfície e, portanto, as chamas queimavam para cima.
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2. Biologia
● Forneceu uma descrição das partes da boca do ouriço-do-mar tão detalhada, que, ainda hoje, são
conhecidas como “lanterna de Aristóteles”.
● Observou que os filhotes da lampreia eram abandonados pela fêmea logo após a postura e que
era o macho cuidava da prole. Isso foi posteriormente desacreditado e até ridicularizado. A confirmação de
suas observações foi feita somente em 1856.
● Descreveu o nascimento das abelhas e o comportamento das operárias e dos zangões, e forneceu
detalhes sobre o ferrão da abelha.
●. Discutiu a anatomia e a função dos órgãos do corpo humano: acreditava que o cérebro era um
órgão destinado a resfriar o sangue e que o coração era o centro da consciência.
● Agrupou os elementos da natureza nos reinos mineral, vegetal e animal de acordo com as
propriedades de cada um que, segundo ele, eram conferidas pela presença de diferentes almas
(vegetativa ou nutritiva, sensitiva e racional). Para Aristóteles, cada tipo de alma teria suas faculdades
fundamentais: a vegetativa seria responsável pela reprodução, nutrição e crescimento; a sensitiva
produziria as sensações, os apetites (vontades) e o movimento; e a racional, possuiria a capacidade de
conhecer as formas puras, isto é, seria responsável pela inteligência. Com base na presença ou ausência
de cada um desses tipos de almas as entidades da natureza seriam classificadas como: minerais, não
possuíam alma de qualquer tipo; vegetais, teriam somente a alma vegetativa; animais, eram portadores
das almas vegetativa e sensitiva; e o homem, que teria as almas vegetativa, sensitiva e racional.
Exercícios
1. Por que Sócrates se opunha aos ensinamentos dos sofistas? Em que aspectos seu método de
ensino e seus princípios se diferenciavam da prática e da doutrina dos sofistas.
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