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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

CAPÍTULO 3 – EXISTE ÉTICA NO


DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO?
Maicon Costa Borba Macedo

INICIAR

Introdução
O desenvolvimento tecnológico é apontado por muitos pensadores contemporâneos
como o motor do progresso dos países. Afinal de contas, as nações com maiores índices
de crescimento em ciência e tecnologia também são as com melhores índices de
emprego, educação, saúde, transporte. Além disso, graças aos avanços tecnológicos
dos últimos anos, mais pessoas têm acesso a produtos como notebooks, celulares,
smartphones, tablets e fármacos para as mais diferentes doenças. E os prognósticos
apontam que, no futuro, isso se intensificará ainda mais, abrangendo todos os aspectos
da existência humana. Mas quais são, verdadeiramente, as consequências desse
intenso desenvolvimento tecnológico? Ele traz somente benefícios às sociedades? E
quais seus impactos no meio ambiente? É preciso se preocupar com questões éticas?
Neste capítulo, vamos abordar o impacto do desenvolvimento tecnológico no meio
ambiente, sobretudo, sua interface com o consumo e o consumismo. Também vamos
estudar os principais marcos do desenvolvimento tecnológico e sua influência na
organização social, especialmente a partir da expansão da internet. Vamos ver os
avanços da ciência na área da saúde e as questões éticas que isso suscita. E, por fim,
iremos refletir sobre a influência das tecnologias no mundo do trabalho, identificando
os desafios impostos aos trabalhadores.
Bons estudos!

3.1 Meio ambiente, consumo e ética


O consumo faz parte da história humana e está associado à sobrevivência dos grupos
sociais, como bem sugeriu o sociólogo Zygmunt Bauman (2012) em sua obra “Vida para
consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.” Produzir, estocar e trocar
produtos tem sido algumas das principais atividades humanas desde a Pré-História.
Durante muitos anos, o consumo visou suprir as necessidades humanas: compravam-se
ou trocavam-se produtos que eram necessários à sobrevivência ou à condução da vida
social. Mas essa maneira de consumir se modificou ao longo do tempo, principalmente
após a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII.
A partir da Revolução Industrial a oferta de produtos passou a ser mais abundante e
barata. O consumo tornou-se a base da movimentação da economia. E é com o
aumento do consumo que as empresas passam a obter lucros. O consumidor, então,
torna-se central nesse processo, pois é preciso convencê-lo a comprar os novos
produtos disponíveis no mercado. Gradativamente, ao longo do século XX, temos a
passagem do consumo para o consumismo. Mas qual a diferença entre consumo e
consumismo? Vamos para a resposta a seguir.

VOCÊ SABIA?
No âmbito da natureza, são muitos os problemas ecológicos que resultam da
sociedade atual, dos métodos de consumo de energia, de matéria-prima e,
principalmente, dos rejeitos dos produtos eliminados no ambiente. A título de
exemplo, podem ser citados: desertificações, buracos na camada de ozônio,
alteração da acidez dos mares, desgelo das calotas polares, alterações climáticas,
alterações das correntes marítimas, improdutividade das terras, entre outros. Na
realidade, esses exemplos citados são somente alguns dos problemas ambientais que
ameaçam o ecossistema da Terra. (PEREIRA; HORN, p. 17, 2019).

O que se percebe na prática são os danos causados pelo consumismo desenfreado,


que enfraquece a consciência do sustentável e se forma cada vez mais a mentalidade
do ter em vez de preservar, porém, existem formas de produzir sustentavelmente,
como é o caso das novas formas de energia, a reciclagem do lixo e o tratamento da
água.

Podemos observar que a sociedade em geral, bem como indústrias e empresas,


principalmente esta última, trabalham para incluir o termo sustentabilidade, a fim de
estabelecer o equilíbrio entre o consumo e a preservação, e um detalhe importante é
que os consumidores estão preferindo produtos de empresas que desenvolvem
projetos sustentáveis e isso consequentemente, está agregando valor aos produtos,
incentivando ainda mais a produção sustentável, sabemos que é quase impossível
recuperar o que foi danificado, mas ainda existe a possibilidade de desenvolver
formas inteligentes de consumo sustentável.

3.1.1 As diferenças entre consumo e consumismo


Seguindo as reflexões de Bauman (2012, p. 25), o “consumismo é um tipo de arranjo
social” baseado nos desejos e anseios das pessoas. Mas estes desejos não obedecem a
uma reflexão autônoma dos indivíduos. Eles são fruto de construções sociais, impostas
pelas empresas, com a ajuda de campanhas de marketing, que têm o objetivo de
convencer as pessoas – agora transformadas em “consumidoras” – de que elas
precisam de determinados produtos. Temos, então, um tipo de organização social em que
o consumo tornou-se tão importante que passou a ser percebido como “o verdadeiro
propósito da existência” (CAMPBELL, 2004, apud BAUMAN, 2012, p. 24).
De acordo com Bauman (2012), se nas sociedades e períodos históricos marcados pela
lógica do consumo, a qualidade e a durabilidade dos produtos eram requisitos
importantes, nas sociedades marcadas pelo consumismo os valores que implicam no
consumo são outros. A segurança de um bem durável é substituída por uma quantidade
cada vez maior de desejos imediatos, que são sempre renovados e ampliados, com a
substituição constante dos objetos de desejo. Um bom exemplo é a velocidade com que
os produtos tecnológicos, como celulares e computadores, tornam-se obsoletos. Como
desfecho dessas constatações, temos uma espécie de círculo vicioso em que novos
desejos demandam novos produtos e novos produtos demandam novos desejos.

VOCÊ QUER LER?


O site “Um Ano Sem Lixo”, da designer brasileira Cristal Muniz, relata a experiência da autora em tentar
produzir o mínimo de lixo possível, evitando desperdícios e buscando alternativas viáveis para situações do
dia a dia. O estilo de vida adotado pela blogueira prima por opções sustentáveis e que não agridam o meio
ambiente (MUNIZ, 2018). Disponível em: <https://www.umanosemlixo.com/
(https://www.umanosemlixo.com/)>.

Mas quais as consequências para o meio ambiente do consumo desenfreado? Os


produtos que são vendidos nas lojas e supermercados pressupõem a utilização de
recursos naturais, sendo que muitos não são renováveis. E se os produtos se tornam
rapidamente obsoletos, isso significa que muitos vão parar na lata do lixo. Então,
quanto mais consumimos, mais produzimos lixo. Quais as consequências para a
natureza de uma produção descontrolada de lixo?

3.1.2 Produção de bens de consumo e o meio ambiente


Para sustentar uma sociedade baseada no consumo, a produção de bens deve ser cada
vez mais intensa. O desenvolvimento tecnológico, sobretudo, nas últimas décadas, tem
intensificado a produção desses bens. As empresas mais sofisticadas utilizam
máquinas, computadores, robôs, dentre outras tecnologias para aumentar a sua
produtividade. Com uma maior oferta e demanda de produtos, acompanhamos o
aumento do uso dos recursos naturais, o avanço da emissão de gases poluentes e uma
acentuada produção de lixo (LEONARD, 2011).
O uso intensivo dos recursos naturais nem sempre é acompanhado dos cuidados que a
atividade demanda. Um exemplo que ilustra essa questão refere-se ao que ficou
conhecido como o “Desastre de Mariana”, no estado de Minas Gerais, em que o
rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração, em 2015, causou uma série de
danos ambientais. A tragédia é fruto de uma exploração desenfreada dos recursos
naturais, almejando o lucro sem as devidas preocupações com o meio ambiente.
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Figura 1 - O lixo é um grande desafio às cidades: apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado.
Fonte: Strahil Dimitrov, Shutterstock, 2018.

Outro recurso natural bastante utilizado em nossa sociedade é o petróleo, que ainda é
uma das bases que possibilita o movimento da economia de diversos países, tanto
como combustível para veículos automotores, como em seus diversos usos na indústria
de materiais plásticos. No entanto, a queima de combustíveis fósseis é responsável
pela emissão de grandes quantidades de CO2 (dióxido de carbono) no planeta, um dos
principais gases responsáveis pelo efeito estufa e, consequentemente, pelo
aquecimento global (GIDDENS, 2012).
A produção de lixo é outra consequência do consumo desenfreado dos nossos tempos.
Em todo o ciclo de produção de bens, que começa com o processo de extração de
matérias-primas da natureza, até sua utilização e descarte, há a geração de lixo em
estado gasoso, líquido e sólido. Além disso, um grande desafio enfrentado pelas
cidades é o que fazer com a quantidade de lixo produzido diariamente, uma vez que seu
descarte inadequado causa sérios danos ao meio ambiente. Um dos danos é a poluição
dos mares e rios, que gera degradação da vida marinha e põe em risco o abastecimento
de água potável (PEREIRA, 2011). Além disso, há a emissão de gases produzidos pelos
lixões, que intensificam o aquecimento global e poluem os lençóis freáticos. Apesar
disso, muitas pessoas ainda não têm consciência dos riscos à vida do planeta que o
descarte incorreto do lixo representa, por isso sacolas plásticas e embalagens de todo o
tipo são comumente encontrados jogados pelas ruas.
Mas será que a produção de lixo e a poluição do planeta é um caminho sem volta? E o
que nós podemos fazer para amenizar ou até mesmo frear essa situação?

3.1.3. Possibilidades para reverter a degradação do meio ambiente


As soluções para os problemas apontados anteriormente não são simples e exigem a
sensibilização do maior número possível de pessoas e, também, dos nossos
governantes. Como afirma Anthony Giddens (2012), é preciso impor limites à destruição
do planeta e para tanto o engajamento das nações é imprescindível. Mas em escala
individual, algumas atitudes, como as descritas a seguir, também podem ser adotadas
para transformar nossa sociedade e colaborar com o planeta.

VOCÊ SABIA?
Anthony Giddens descreveu um cenário limítrofe que chamou de paradoxo de Giddens: por
mais que os prognósticos em relação ao futuro do planeta sejam desastrosos se não
revertermos a destruição do meio ambiente, o conhecimento que temos acerca do
fenômeno da mudança climática não é suficientemente forte para mudar os hábitos
cotidianos que contribuem para este fenômeno. O paradoxo reside no fato de que,
quando a mudança climática se fizer sentir ao ponto de modificar os hábitos da
população, será demasiado tarde para freá-la (GIDDENS, 2012).

Uma atitude passível de ser adotada é repensar nosso modelo de consumo. É


necessário que cada vez mais pessoas passem a praticar um consumo consciente,
refletindo se os bens adquiridos são uma necessidade ou apenas um impulso
consumista. Junto disso, é possível contribuir com a preservação dos recursos naturais
ao buscar informações sobre a origem da matéria-prima dos bens que consumimos – se
foram produzidos com baixo impacto ambiental, por exemplo, e se são recicláveis.
Outra providência que tem sido empregada em cidades que buscam reduzir a emissão
de gases poluentes é o estímulo ao uso do transporte público.

CASO
A cidade de Paris, na França, tem por prática dar gratuidade no transporte
público em dias que a poluição na cidade alcança picos muito elevados, o que faz
com que menos carros circulem, diminuindo a emissão de gases poluentes. No
Brasil, há cidades em que a poluição alcança níveis até duas vezes superiores aos
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, como é o caso de São Paulo.
Apesar disso, não são tomadas medidas como a adotada por Paris. Quais
interesses estão em jogo quando medidas comprovadamente eficazes para o
combate à poluição não são observadas no Brasil? É comum em nosso país que
decisões importantes a respeito do meio ambiente sejam tomadas levando em
consideração, primeiramente, interesses econômicos – como é o caso dos das
empresas de transporte público – em detrimento de interesses de ordem social e
ambiental. Nesse sentido, é necessário um amplo debate na sociedade civil e
uma maior pressão sobre o poder público para que interesses econômicos não se
sobreponham ao da maioria da população.

Para além das ações individuais, também é preciso demandar ações voltadas para a
preservação do meio ambiente, tais como leis que coíbam o desmatamento e a
poluição do solo e dos rios. Adotar uma postura ética perante a natureza, tanto a nível
individual quanto a nível institucional e governamental, é urgente para frear a
degradação ambiental. Além da questão ambiental, o desenvolvimento tecnológico
também tem impacto nas relações sociais, assunto de estudo do nosso próximo tópico.

3.2 O impacto da tecnologia nas relações


sociais
As tecnologias são inerentes à vida do homem em sociedade. Embora o termo seja
costumeiramente empregado para designar produtos modernos e sofisticados do
tempo presente, tecnologia remete às técnicas, métodos, instrumentos, utensílios
empregados na realização das atividades humanas. Se pensarmos nas ferramentas
construídas com pedras lascadas, no período que remonta à Pré-História, as
ferramentas com pedras polidas representam uma tecnologia melhorada e as com
metais, uma verdadeira transformação tecnológica. Comparando com as máquinas e os
instrumentos do nosso tempo, as ferramentas do período histórico denominado Idade
dos Metais parecem obsoletas.
Mas será que o domínio tecnológico do presente não seria consequência de
cumulativas invenções e descobertas realizadas ao longo do tempo? E, por outro lado,
existiriam peculiaridades no desenvolvimento tecnológico contemporâneo? Na
verdade, o homem sempre desenvolveu tecnologia, a novidade é a dinâmica que elas
assumiram nas sociedades capitalistas atuais.

VOCÊ QUER VER?


Nesta vídeo-reportagem você vai perceber a influência da tecnologia no desenvolvimento humano e social do ser
humano, se pensarmos em gerações podemos separar basicamente em dois grupos, a geração pré internet e a
gerações pós internet, você nasceu antes ou depois da internet? Que impacto a tecnologia tem na sua vida e na vida
de sua família? Vamos juntos refletir com a ajuda desta belíssima reportagem. Clique no link para acessar
<https://youtu.be/DLwmdfvC_cs>.

3.2.1 Os grandes marcos tecnológicos das sociedades humanas


A história das tecnologias é marcada por eventos importantes, que determinaram a
sobrevivência da espécie humana no planeta e a forma de organização social. Na Pré-
História, por exemplo, a descoberta do fogo foi fundamental para a sobrevivência do
homem. Além de proteger do frio, possibilitou o cozimento dos alimentos e,
posteriormente, trabalhar com os metais. Já a agricultura aumentou significativamente a
oferta de alimentos e possibilitou fixar o homem em um território, que até então era
nômade, colaborando para o surgimento dos primeiros povoados e cidades
(CARVALHO, 2014). Com a fixação do homem e o desenvolvimento da agricultura, o
tempo que antes era gasto na caça e na coleta passou a ser empregado em outras
atividades, resultando em novas invenções.
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Figura 2 - Imagens de arte rupestre nos mostram que há muito tempo o homem já domina ferramentas e
domestica animais. Fonte: Jannarong, Shutterstock, 2018.

Ao longo do tempo, a invenção de objetos, a maneira de produzir os bens e a forma de


organização social foram se transformando. É a Revolução Industrial o principal
acontecimento que marca o início da sociedade capitalista moderna. Esse evento
desencadeou profundas transformações na forma de produzir manufaturados, com a
intensificação do uso de maquinas a vapor, novas formas de organizar a produção nas
fábricas e dando início a produção de massa. Temos, então, um progresso acelerado da
indústria, com destaque para a têxtil e a dos transportes, com o desenvolvimento das
ferrovias (CASTELLS, 1999).
A Revolução Industrial também colaborou para o surgimento do capitalismo e para a
destruição dos modos de produção artesanais. Os países que, na esteira da Inglaterra,
se industrializaram, logo experimentaram um crescimento econômico sem
precedentes. Não obstante, os trabalhadores perderam o controle sobre o processo de
trabalho. Se antes o trabalhador era o responsável pela concepção e construção dos
produtos, agora ele não é proprietário dos meios de produção, não cabe a ele sua
concepção e irá executar apenas uma parte do trabalho, alienando-se do processo e do
produto final. Além disso, as primeiras fábricas desse período proporcionaram lucros
extraordinários para seus proprietários, mas péssimos salários e condições de trabalho
aos trabalhadores (HOBSBAWM, 1977).
A chamada Segunda Revolução Industrial, no século XIX, é um desdobramento da
primeira, porém com a participação proeminente dos Estados Unidos. Neste período,
temos a intensificação de inovações importantes, que se mantêm até os dias atuais, tais
como o emprego da energia elétrica, a utilização do petróleo nos motores a combustão,
as novas ligas metálicas mais resistentes e maleáveis. É nesse contexto que surgem os
primeiros protótipos e os primeiros automóveis são comercializados. Novos métodos
gerenciais também remontam a este período, buscando organizar as empresas para
aumentar a sua produtividade. O norte-americano Frederick Taylor é uma das
personalidades mais marcantes, ele elaborou uma obra chamada “Princípios da
administração científica”, publicada em 1911, considerada um marco na história da
administração. Nela, Taylor detalha como deve ser uma administração científica,
buscando a eficiência da empresa. Até mesmo os mínimos gestos dos trabalhadores
são estudados por Taylor, buscando fazer com que se produza mais em menos tempo
(BRAGA, 1995).

VOCÊ QUER VER?


O filme Tempos Modernos (CHAPLIN, 1936) mostra o impacto da Revolução Industrial do final do século XIX
sobre o trabalho e a vida dos operários das fábricas. Com a implementação do modelo de produção taylorista-
fordista, o tempo de trabalho, os corpos e os gestos dos trabalhadores passam a ser controlados e
cronometrados de forma a minimizar o tempo utilizado na produção.

Na primeira metade do século XX, ocorre a consolidação e expansão do uso das


tecnologias desenvolvidas ao longo do século anterior. Os países mais industrializados
dominam a utilização do petróleo, da energia elétrica e possuem indústrias altamente
mecanizadas. Já na segunda metade do século XX, a grande novidade advém das
chamadas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Também chamada de
Terceira Revolução Industrial, Revolução Informacional, Era Digital, Era da Informação,
dentre outras denominações, o que caracteriza este momento histórico é o
desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, personificadas na
figura dos computadores. A rede mundial de computadores, a internet, permitiu
conectar o mundo com qualidade e instantaneidade. Rapidamente os computadores
foram adotados pelas empresas, pelos governos e pelas pessoas. A capacidade que os
computadores possuem de processar uma grande quantidade de dados é sem
precedentes, além de permitir inúmeras outras atividades, pois se trata de uma
tecnologia em constante aprimoramento (CASTELLS, 1999).

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Figura 3 - A rede mundial de computadores conectou pessoas em todo o mundo, com velocidade e
qualidade. Fonte: nmedia, Shutterstock, 2018.

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vêm tendo, a partir de então, uma


influência crescente em nossa sociedade: nas empresas, nos governos, nas
universidades, na ciência e na vida pessoal de cada um. Mas para além dos produtos
tecnológicos entregues pela Era da Informação, existiriam singularidades na forma de
organização da nossa sociedade causadas pelas tecnologias informacionais? E quais
seriam as características principais desta nova Era? Precisamos refletir sobre isso, afinal
de contas, estamos vivendo sob seus efeitos.

3.2.2 A singularidade da Era da Informação


As transformações trazidas pela Era da Informação estão sendo impactantes, em graus
diferentes, para todos os países. As novidades e possibilidades ensejadas pelos
computadores e pela internet afetaram a organização das empresas, a forma de
produzir e de trabalhar. Pela primeira vez na história, temos o conhecimento como a
matéria-prima principal, como fonte da produtividade.
O sociólogo Manuel Castells (1999), um dos principais teóricos da Era da Informação,
apresenta as principais características deste período histórico, fornecendo pistas para
entender as mudanças que ainda estão em curso. Segundo o autor, a penetrabilidade
das novas tecnologias seria um dos fatores principais de sua abrangência. Dessa forma,
todos os processos da vida, tanto individual quanto coletiva, seriam atingidos pelas
novas tecnologias. Outro ponto importante seria o que o autor chamou de lógica das
redes. Isso significa que as tecnologias permitem um estreitamento das relações, tanto
dos sistemas produtivos quanto das relações sociais.
Conectado à lógica das redes, Castells (1999) destaca outra característica de nossa
época, trazida pelas TIC, que é a flexibilidade. A flexibilidade das redes faz com que os
processos, as organizações ou instituições possam ser alterados a qualquer momento,
pelo rearranjo de seus componentes. A flexibilidade é também responsável pelas
rápidas mudanças que ocorrem nos padrões produtivos a nível mundial. Por fim, o
autor aponta outro aspecto emblemático da Era da Informação, a intensa convergência
de tecnologias em um sistema cada vez mais integrado. Ou seja, as novas tecnologias
de comunicação e de informação estão integradas com todo o sistema produtivo, com
as engenharias, com a química e com as demais ciências, influenciando-se
mutuamente, estando em constante evolução.
Afora essas características apresentadas, temos ainda outros desdobramentos
oriundos do desenvolvimento das TIC. A internet, por exemplo, além de conectar as
pessoas que se encontram em diferentes locais no globo, deu um novo impulso à
acumulação capitalista, com o protagonismo do mercado financeiro que, a partir de
então, controla o movimento da economia em tempo real e transfere seu capital de um
país a outro em um clique. Temos aqui o que foi denominado de globalização, marcada
por intensas trocas comerciais e culturais entre os países.
Outro aspecto marcante é a automação de muitas atividades que antes eram realizadas
pelo ser humano. Há uma crescente substituição da mão de obra humana por
máquinas, computadores e robôs. Nesse ponto, a interpretações sobre as novas
tecnologias é bastante polarizada: há quem argumente que as máquinas estão
destruindo o emprego das pessoas; e há quem pense que, se empregos estão sendo
destruídos, também novos empregos estão sendo criados.
Em que pesem as especulações, ainda não se tem com exatidão a resposta para a
questão se a balança entre extinção e criação de empregos se equilibrará. O certo é que
as indústrias e empresas que mais se desenvolvem na atualidade são aquelas que se
utilizam das novas tecnologias. O mercado de trabalho cresce em áreas que produzem
computadores e seus componentes, como softwares, circuitos eletrônicos e serviços
voltados à informática e a tendência é que isso se intensifique, abrangendo todos os
setores da economia de forma cada vez mais intensa.
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Figura 4 - A tecnologia abrange, hoje, todas as esferas da sociedade e das relações humanas trazendo
impactos positivos e negativos. Fonte: Shutterstock, 2018.

É importante destacar que as novas tecnologias de informação e comunicação


transformaram, significativamente, o sistema produtivo mundial. Mas também é
importante compreender que estas mudanças atingiram a forma de organização da
sociedade, que passou a estar conectada com o mundo por meio da internet
(CASTELLS, 1999). É a natureza das relações humanas que está se transformando. A
proximidade virtual entre as pessoas, a velocidade dos acontecimentos e a
penetrabilidade das tecnologias transforma a maneira como nos relacionamos uns com
os outros e com a sociedade. Realmente, vivemos em um mundo surpreendente e a
questão do desenvolvimento tecnológico também requer uma abordagem do ponto de
vista ético, como vamos acompanhar no próximo tópico.
3.3. Ciência, tecnologia e ética
Você acredita que sempre se fez ciência da mesma forma, ao longo da história da
humanidade? Ao contrário do que se possa imaginar - de que a ciência é uma atividade
sempre cumulativa e que progride linearmente ao longo do tempo - ela possui rupturas
e reorientações, que a conduziram até seu estado atual (KUHN, 1997). Os primeiros
passos da ciência, tal como a conhecemos hoje, foram dados a partir do século XV, com
a Revolução Científica.
Se até o final da Idade Média a forma como a humanidade conhecia o mundo estava
vinculada a concepções teológicas e filosóficas, a partir do século XV e, especialmente,
com os estudos de Galileu Galilei, a produção de conhecimento científico tomou um
rumo mais prático. O empirismo e o método indutivo, que define a produção de
conhecimento científico através da observação e a da experiência, firmaram-se como
paradigmas metodológicos da nova forma de fazer ciência.

VOCÊ O CONHECE?
Considerado o pai da ciência moderna, Galileu Galilei foi um cientista italiano que viveu entre os séculos XVI e
XVII. Por defender a teoria heliocentrista de Nicolau Copérnico (1473-1543), de que a Terra girava em torno do
Sol, e não o contrário, entrou em conflito com a Igreja, instituição que definia então o que era a “verdade”,
segundo a interpretação das Sagradas Escrituras. Foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício e obrigado a
desmentir suas teses para escapar da morte.

Observamos uma maior profissionalização e institucionalização da prática científica


durante o século XIX. Descobertas, invenções e novas tecnologias se conjugaram e se
retroalimentaram para promover grandes saltos de conhecimento que transformaram
o modo como nos relacionamos com a natureza e com o mundo. Quais seriam os
principais avanços trazidos pela ciência?

3.3.1 Passos cada vez mais largos e mais rápidos: os avanços da ciência

Ao longo do século XX, o desenvolvimento tecnológico e a expansão econômica e


industrial causaram impactos profundos na vida social e cultural, na organização das
cidades, nas formas de comunicação e transporte, bem como na relação entre homem
e natureza. Se no início do século XX a ideia de que algum dia o homem pudesse “voar
como um pássaro” parecia algo fantasioso e altamente improvável, na segunda metade
o homem já dava seus primeiros passos na lua. Esse exemplo ilustra a rapidez crescente
com que as transformações, inovações, tecnologias e descobertas científicas se
descortinam diante dos olhos das sociedades nos séculos XX e XXI (HOBSBAWM, 1977).

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Figura 5 - A tecnologia nuclear pode ser usada para gerar energia limpa, mas também para construir armas
de destruição em massa. Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2018.

A primeira metade do século XX foi profundamente marcada pela eclosão de duas


Grandes Guerras de implicação mundial, e os desafios impostos por este contexto
acelerou o desenvolvimento de tecnologias e inovações, dentre elas a que marcou o
século XX: a energia atômica, cuja aplicação trágica pôs fim à Segunda Guerra Mundial,
mas sob pena de devastar duas cidades japonesas – Hiroshima e Nagasaki, a fim de
mostrar a força bélica dos Aliados. Foi a primeira vez na História que uma criação
humana mostrou força com potencial de colocar em suspenso a garantia da própria
sobrevivência da espécie humana no planeta, e os aspectos éticos que decorrem daí se
tornaram incontornáveis.

VOCÊ QUER VER?


O premiado documentário Nós que aqui Estamos por Vós Esperamos (MASAGÃO, 1999) retrata em forma de
flashes, imagens e sons do século XX, em suas características históricas, econômicas, culturais e científicas. Os
contrastes do período são enfatizados no documentário: se por um lado, temos desenvolvimento tecnológico
e esperança no avanço da ciência, por outro temos a banalização da violência, dois grandes conflitos
internacionais e as brutais consequências sobre a vida das pessoas.

A medicina científica foi uma das áreas que mais cresceu no último século. Em 1920,
Alexander Fleming descobriu, por acaso, o mais poderoso antibiótico utilizado na
medicina: a penicilina. Junto com os antibióticos, as vacinas, cirurgias assépticas,
anestesia, transplantes de órgãos, cirurgias menos invasivas, dentre outros, fizeram
saltar a expectativa de vida dos seres humanos no período (UJVARI; ADONI, 2014). No
Brasil, por exemplo, em 1910, a esperança de vida ao nascer era de 34,6 anos. Em 2010,
de 72,6 anos, ou seja, aumentou 38 anos no período (IBGE, 2018). Já o desenvolvimento
da engenharia genética, a partir da década de 1950, viria revolucionar o entendimento e
as possibilidades das terapias médicas.
Por outro lado, a história da tecnologia e da ciência médica é também um terreno
tortuoso no qual se conjugam avanços significativos com debates e entraves éticos
ferozes. Muitos dos tratamentos terapêuticos disponíveis atualmente são resultados de
testes, experiências e estudos questionáveis do ponto de vista ético.

3.3.2 Os avanços da ciência médica e a ética científica


Os campos de batalha das duas grandes Guerras Mundiais tornaram-se verdadeiros
laboratórios a céu aberto para a atuação médica. Com pouco tempo para agir, poucos
recursos e a alta probabilidade de que soldados feridos nestas condições viessem a
óbito, era justificável que tratamentos mais arriscados e inovadores fossem utilizados,
de modo que a medicina pôde testar métodos, refutar alguns e validar outros, bem
como descobrir tratamentos inteiramente novos. Foi nesse contexto que surgiram
novas técnicas cirúrgicas, anestesia, o tratamento com soro fisiológico, transfusão de
sangue, dentre outras (UJVARI; ADONI, 2014). Mas no que diz respeito à Segunda Guerra
Mundial, não apenas o campo de batalha foi utilizado como laboratório médico. Os
experimentos médicos levados a cabo pelo regime nazista junto aos prisioneiros dos
campos de concentração chocam pela crueldade: as cobaias humanas eram coagidas a
participar e as experiências resultavam, em grande parte das vezes, em morte,
incapacidade permanente, mutilação ou desfiguração.
É impossível negar que a ciência médica tenha evoluído graças a episódios tão
grotescos e chocantes, e hoje parte dos conhecimentos médicos de que dispomos são
resultados de tais experiências. Existe, inclusive, o debate sobre se os dados produzidos
em situações tão desumanas poderiam ser utilizados pela medicina atual.
Os avanços da ciência médica nas últimas décadas têm suscitado debates éticos de
outra ordem. Quando os norte-americanos Watson e Crick desvendaram a estrutura
molecular do DNA em 1953, abriram-se as portas para que se começasse a adentrar um
dos maiores mistérios da humanidade: como a vida funciona. Cerca de 50 anos mais
tarde, a descoberta da estrutura da dupla hélice levou ao sequenciamento do genoma
humano, uma verdadeira revolução na medicina. Considerando que a genética é
responsável, pelo menos em parte, por todas as doenças que acometem os humanos, o
seu sequenciamento torna viável a chamada “medicina individual”. Ou seja, já é
possível conhecer as características genéticas individuais de uma pessoa de modo a
garantir tratamentos mais eficazes e personalizados, ou mesmo prevenir doenças com
base em suas predisposições genéticas (UJVARI; ADONI, 2014).
O cenário, nesse sentido, é de grande otimismo. Doenças que hoje afetam grande parte
da população e se constituem em fonte de preocupação, como é o caso do câncer em
suas diversas manifestações, poderão ser tratadas mais eficazmente, e até mesmo
prevenidas antes de se manifestar. Mas o debate ético sobre o uso e a aplicação deste
poderoso conhecimento tem se acirrado cada vez mais. Imagine se uma empresa, antes
de contratar seus funcionários, pedir exames de sequenciamento genético. Ao
identificar riscos de doenças futuras, se eliminaria o candidato da disputa pela vaga?
Pesquisadores já têm alertado para o fato de que cada vez mais o conhecimento sobre
o genoma pode se transformar num elemento de poder das instituições sobre os
indivíduos.

VOCÊ QUER LER?


O livro de ficção “Admirável Mundo Novo” (HUXLEY, 1932) desenha um cenário em que o conhecimento
tecnológico é utilizado para condicionar e pré-programar pessoas de modo a se comportarem de acordo com
as regras impostas pela sociedade. Na distopia de Huxley, a ciência e a tecnologia são as bases de uma
sociedade que aboliu a possibilidade de livre-arbítrio, mostrando que a ciência não é neutra e que é preciso
ter cuidado com seus usos.

Dominar o conhecimento sobre o sequenciamento genético significa também conhecer


as bases da manipulação genética. Poderíamos fazer a analogia com o poder dos
cientistas em “brincar de Deus”. O ser humano hoje é capaz de interferir na natureza de
outro ser humano – escolher sexo, cor dos olhos, cor da pele, e outras características.
Os passos dados em direção ao maior domínio genético do ser humano são também os
passos que nos aproximam de uma manipulação e interferência cada vez maior. Assim
como os usos negativos de tecnologias, como a energia atômica, corremos os riscos de
utilizar indevidamente a engenharia genética. Quais medidas devemos tomar para
conseguir aproveitar os benefícios desses avanços e evitar as tragédias que podem
decorrer?

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Figura 6 - Da descoberta da estrutura do DNA a clonagem de animais, os avanços da ciência na área da


genética causaram uma verdadeira revolução na medicina. Fonte: emin kuliyev, Shutterstock, 2018.
Outros exemplos podem ser citados para debater a questão da ética da ciência médica
e do fazer científico em geral: já somos capazes de clonar animais – o caso da Ovelha
Dolly foi um marco na história da ciência. Quanto falta para clonarmos seres humanos?
A tecnologia permite realizar modificações genéticas para aumentar a produtividade de
inúmeras culturas que servem de base para a alimentação humana. A indústria aplica
esse conhecimento em larga escala e hoje boa parte do que consumimos provêm de
organismos geneticamente modificados. Mas temos a garantia de que esses alimentos
são realmente seguros, especialmente em médio e longo prazo?

VOCÊ SABIA?
Há uma grande polêmica envolvendo a pesquisa de células-tronco embrionárias para o
avanço da ciência médica. Células-tronco têm a capacidade de se recompor em qualquer
tecido do corpo humano e, teoricamente, seu uso poderia tratar um infindável número de
doenças, inclusive alguns tipos de câncer. Cientistas alegam que seriam usados embriões
descartados em clínicas de fertilização, mas setores religiosos e grupos antiaborto, que
consideram que a vida começa no momento da concepção, travam o avanço da pesquisa
neste setor da ciência (TAKEUCHI; TANNURI, 2006).

Os debates mencionados acima são questões para as quais não temos respostas exatas.
O que precisamos manter presente é a necessidade de estar atentos ao
desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas, pesando as consequências de
seus usos e aplicações sob a égide da ética científica e do respeito à dignidade humana.
Inovações tecnológicas e científicas não são boas ou más em si mesmas, mas
dependem dos usos que a sociedade faz delas. E estes usos, muitas vezes, são pautados
por interesses econômicos, especialmente, de grandes corporações. Como
consequência desses interesses, temos o impacto do desenvolvimento tecnológico
também no mundo do trabalho, nosso assunto de estudo a seguir.

VOCÊ QUER LER?


O texto “A Produção Científica e a Ética em Pesquisa” de Luiz Carlos Duarte de Miranda nos traz um
apanhado geral sobre ética na pesquisa científica. Podemos perceber que a pesquisa tem avançando
significativamente ao longo da história, podemos recordar que a primeira reunião de diretrizes para pesquisas
em seres humanos ocorreu no ano de 1833, exigindo do sujeito pesquisado o inteiro e livre consentimento,
com isso vieram as atrocidades, quando por falta de ética se realiza pesquisa sem o consentimento do
indivíduo.
Em 1964 com a Declaração de Helsinque, que trouxe um roteiro de exigências, entre elas, submeter o
protocolo de pesquisa ao comitê de ética. As conquistas continuam provocando um avanço e uma maior
formalização do sistema de pesquisa, falando de Brasil entre a década de 60 e 70 já representava 0,019 da
produção mundial da produção de artigos científicos, já em 2001 a média de produção passava de 10.555
artigos produzidos no ano, um grande avanço na área médica e biomédica.
Após essa pequena prévia, você é convidado a ler o texto na íntegra, clique no link e aproveite
<http://www.scielo.br/pdf/rcbc/v33n6/v33n6a13.pdf>.

3.4 Trabalho e desenvolvimento


tecnológico
O atual desenvolvimento tecnológico ensejou importantes transformações e desafios
ao mundo do trabalho. Sua natureza e sua centralidade são objeto de indagações,
tanto por parte dos especialistas, quanto por parte dos empresários e trabalhadores.
Muitas coisas mudaram ou estão mudando na realidade do trabalho, tais como
qualificações necessárias para desempenhar determinadas tarefas, o local em que o
trabalho é realizado, o tempo dedicado ao trabalho e a flexibilidade do trabalho e da
legislação. Tudo isso só é possível graças ao desenvolvimento acelerado e abrangente
das tecnologias de informação e comunicação, que possibilitaram a reestruturação
produtiva dos últimos anos.
Mas afinal, o que mudou no mundo do trabalho? Quais os requisitos que são
demandados aos trabalhadores na atualidade? E como o desenvolvimento tecnológico
se encaixa nesta complexa engrenagem que é o mundo do trabalho?

VOCÊ QUER VER?


Tecnologia e mercado de trabalho, neste documentário você é convidado a interagir com essa revolução
tecnologia que cada vez mais ganha espaço e vem substituindo o trabalho braçal, mas também a
tecnologia ajuda o homem a desenvolver seu trabalho de forma mais rápida e fácil, os aplicativos, as
automações e as tradicionais ações como a de pedir um táxi, vem a cada dia ficando na tela de um
Smartfone. Vamos refletir sobre isso? Clique no link e aproveite <https://youtu.be/oDcgWE_3VII>.

3.4.1 A reorganização do mundo do trabalho e os impactos sobre os


trabalhadores
A reestruturação produtiva que as empresas realizaram após a chamada crise do petróleo,
nos anos 70, teve forte impacto no mundo do trabalho e sérias consequências para os
trabalhadores. Neste período se dá a substituição paulatina do paradigma fordista de
produção pelo modelo denominado Toyotismo. O novo modelo caracteriza- se pela
produção enxuta, também denominada acumulação flexível (HARVEY, 1992). A produção
passou as ser Just-in-time, ou seja, o tempo entre comprar insumos, produzir os produtos
e vendê-los no mercado foi reduzido a fim de evitar desperdícios e melhorar a eficiência
dos negócios. Temos aqui a chamada produção por demanda, em que o produto é vendido
primeiro e fabricado depois.
A grande maioria destas transformações no modo de produção só foi possível de se
concretizar devido ao desenvolvimento das novas tecnologias de informação e
comunicação e das inovações delas decorridas. O controle exigido durante todo o
processo somente é realizado de forma virtuosa com a ajuda de máquinas e
computadores. Além disso, as máquinas são responsáveis por desempenhar, com
maior perfeição e velocidade, as atividades que antes eram realizadas por vários
trabalhadores. Como consequência, e devido à crescente automatização, temos uma
redução do número de trabalhadores no chão de fábrica e uma modificação no tipo de
trabalho demandado (ANTUNES, 2003).
As mudanças no padrão produtivo, para além das tecnológicas e gerenciais, também
estão acompanhadas de mudanças políticas e econômicas. Observou-se nas últimas
décadas, juntamente com a reestruturação produtiva, a flexibilização do trabalho e das
leis trabalhistas, tendo como consequência a perda de direitos por parte dos
trabalhadores (HARVEY, 1992; ANTUNES, 2003).
Todas estas mudanças relatadas até aqui chegaram ao Brasil no final dos anos 1980 e se
intensificaram nos anos 1990, com o processo de liberalização da economia brasileira.
Em que pese a reestruturação produtiva ter eliminado empregos que pertenciam ao
modelo Fordista e Taylorista de organização, bem como ter imposto uma nova forma
de inserção profissional tendo como suporte as novas tecnologias, estas mesmas
tecnologias podem representar uma janela de oportunidades para os países se
desenvolverem. É por isso que o Brasil vem realizando esforços para se integrar aos
mercados mundiais de forma diferenciada. Mas para que o país aproveite as
oportunidades que as TIC abriram às economias emergentes, é preciso elevar os
investimentos em ciência e tecnologia e também em educação e superar, assim, os
efeitos negativos do novo paradigma produtivo. E, afinal, quais as características do
trabalho na Era da Informação? O que se espera dos trabalhados inseridos nesse
contexto?

3.4.2 As singularidades do trabalho na Era da Informação


As mudanças no mercado de trabalho desenharam também um novo perfil de
trabalhador desejável. Em períodos anteriores, as empresas demandavam em grande
escala trabalhadores pouco qualificados, que desempenhavam tarefas repetitivas ao
longo da linha de montagem, produzindo bens de forma massiva e padronizada. Com
os rearranjos proporcionados pela Era da Informação, hoje o trabalhador que quiser se
manter empregável precisa ser qualificado, pois o tipo de atividade que ele deve
desempenhar é cada vez mais complexo. Além disso, o perfil ideal é de quem sabe
trabalhar em equipe, pois a estrutura rígida e hierarquizada da fábrica Fordista dá lugar
a ilhas de produção em que a cooperação e a criatividade são indispensáveis.

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Figura 7 - Saber trabalhar em equipe é hoje uma exigência do mercado de trabalho configurado em um
ambiente marcado pelas TIC. Fonte: kurhan, Shutterstock, 2018.

Além disso, observa-se que as trajetórias profissionais se multiplicaram. Se no passado


o trabalhador aposentava-se na mesma empresa em que começou a trabalhar, ou no
máximo trocava de empresa, mas seguia na mesma profissão, no presente as trajetórias
são múltiplas. O tempo de permanência do trabalhador em uma mesma corporação
diminuiu significativamente e a mobilidade entre empresas é uma constante.
A estabilidade do trabalho pode não vir do fato do indivíduo permanecer no mesmo
emprego durante muito tempo, mas por ele se manter empregável. O fato é
frequentemente verificado no mercado de tecnologia da informação, sobretudo, no
setor de software, em que os trabalhadores atuam em equipes e por projetos. Assim que
os projetos acabam, a equipe é desfeita e o trabalhador fica sem trabalho até que um
novo projeto inicie. O intervalo entre um e outro não se configura em desemprego, uma
vez que faz parte deste mercado de trabalho em específico, embora, devido à demanda
da área, o intervalo muitas vezes seja inexistente.

VOCÊ SABIA?
A crescente informatização das relações de trabalho tem feito despontar novas relações e
formas de trabalho. Uma dessas novas formas é o home office, ou seja, o trabalho em
espaço alternativo ao escritório, ou trabalho remoto. Estudos apontam que tal
modalidade pode aumentar a satisfação pessoal do trabalhador com sua atividade, ao
mesmo tempo em que diminui o impacto ambiental, uma vez que haveria menos
deslocamentos nas cidades. Segundo dados do IBGE, em 2010 23% dos brasileiros
trabalhavam em home office durante parte da semana (FEIJÓ, 2017).

Por outro lado, se há um novo perfil de empresas com demandas específicas aos
trabalhadores, há também, como demonstra Mocelin (2009), uma nova geração de
trabalhadores que aspiram empregos com este perfil que surgiu na Era da Informação.
São pessoas dinâmicas, bem escolarizadas, que preferem um trabalho desafiador,
mesmo com risco de cair no desemprego, a um trabalho com estabilidade, mas
monótono. Preferem também a liberdade de escolher o tempo e o local de trabalho.
Enfim, os computadores e a internet mudaram o mundo do trabalho, e as sociedades
devem compreender estas mudanças para melhor reagir a elas.

Síntese
Chegamos ao final deste capítulo que nos proporcionou uma reflexão sobre o impacto
do desenvolvimento tecnológico na sociedade e sua influência em aspectos como o
meio ambiente, as relações sociais, a produção científica e o mundo do trabalho. Vimos
que a tecnologia contribui para suprir as necessidades humanas, mas, em decorrência
do desenvolvimento tecnológico, a oferta de bens tornou-se barata e abundante,
colaborando para o surgimento de uma mentalidade consumista na sociedade. Essa
pressão gera impacto ao ambiente e é responsabilidade da sociedade como um todo
adotar medidas, como as práticas de consumo responsável, para buscar o equilíbrio
ambiental. Isso nos permite repensar como a tecnologia deve ser utilizada para
trabalhar em favor da humanidade, não para degradá-la.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• entender a relação da tecnologia com a sociedade e suas consequências;
• refletir sobre os impactos do desenvolvimento tecnológico e industrial no meio
ambiente, e a responsabilidade humana diante disso;
• compreender que o desenvolvimento científico pode melhorar nossa qualidade
de vida, mas que também comporta questões éticas que devem ser observadas;
• aprender que o trabalho e a forma de trabalhar foram completamente
modificadas pelo uso dos computadores e da internet, bem como pelas
inovações decorrentes destas tecnologias.
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