Você está na página 1de 22

CAPA

CONTRA CAPA
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Esse relatório visa relatar a minha experiência durante meu estágio na área
hospitalar, relacionando os principais pontos da minha atividade na instituição com a
teoria, além de fundamentar e apresentar os aportes teóricos que sustentaram a
minha prática durante o período de estágio.
O presente relatório desenvolve-se a partir da atividade que eu pude exercer
no Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana, que se constitui em prática e
supervisão, sendo uma preparação educativa da minha formação, onde tive a
oportunidade de observar e praticar dentro de uma instituição hospitalar com
profissionais capacitados com o auxílio de supervisão orientado por uma professora
da faculdade onde sou graduanda.
Meu interesse pela área Hospitalar se manifestou bem antes da própria
disciplina de Psicologia Hospitalar na faculdade, sempre me senti muito atraída por
esse ambiente, não sei se pelo fato de ter muitas pessoas da família que trabalham
em hospitais, mas pude confirmar essa afinidade semestre passado, enquanto
cursava a cadeira, e esse semestre, enquanto estagiei.
Acredito que diversas situações em hospitais podem ser ganchos para
sofrimento intenso, e percebo a importância do auxílio da psicologia para esses
pacientes que se encontram em um momento de desequilíbrio ou desorganização.
Tendo em vista o benefício que esse serviço pode ofertar, optei por estagiar nessa
área com a expectativa de ver a realidade desse trabalho, aprender observando,
praticando e proporcionar algo positivo para algum paciente, sempre que fosse
possível.
Como já dito, o estágio aconteceu no HDGMM, onde eu permanecia na
instituição todas as terças-feiras de 08h às 12h e baseou-se na teoria e prática da
Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar, visando trabalhar adversidades
relacionadas à doença, internação e os impactos que isso pode trazer, ajudando tanto
o paciente, como também seus familiares e a equipe a conviver e lidar com as
questões que irão surgir e trazer sofrimento à tríade citada anteriormente. Nosso
trabalho irá ajudar o paciente a adaptar-se a essa nova situação de forma que ele não
sofra além do necessário, auxiliando o seu ajustamento a um novo meio físico,
buscando auxiliar o seu equilíbrio emocional durante o período que pode ocasionar
uma crise.
É importante destacar, e aprofundaremos mais a frente, que a Psicologia
Hospitalar e a Psicologia da Saúde são conceitos diferentes. A primeira diz respeito
a uma prática inexistente em outros países, recebendo essa denominação apenas no
Brasil, enquanto a Psicologia da Saúde é o termo utilizado nos outros países para
denominar essa atividade, sendo essas, duas práticas bastantes próximas, mas ainda
assim distintas, pelo menos de forma teórica.
Na minha experiência pude ver algumas situações em que o atendimento da
psicologia era extremamente necessário para assegurar o equilíbrio emocional e a
organização do paciente em momentos críticos. Pude perceber como é importante ter
profissionais que tenham sensibilidade frente às pessoas que estão em momentos de
fragilidade, e que na grande maioria das vezes, o processo de escuta é o melhor
benefício que se pode propor a alguém. E não só uma sensibilidade para ouvir, mas
também para falar. Falar de forma que o outro realmente te escute e sinta-se ouvido,
compreendido, amparado.
Dessa forma pude confirmar a importância do trabalho de um psicólogo em
hospitais e como a intervenção feita por esses profissionais pode ser benéfica e
prevenir situações mais agravantes aos pacientes.

2. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
O Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana é referência em assistência à
saúde materno-infantil, oferece internação nas especialidades de pediatria,
neonatologia, ginecologia, obstetrícia (parto normal e cirúrgico), estrutura para
atenção às urgências na área materno-infantil (24 horas), unidade de observação,
tecnologia diagnóstica e terapêutica clínica e funcional. Também está no perfil da
unidade, oferecer assistência ambulatorial especializada, Serviço Interdisciplinar em
Ginecologia e Obstetrícia para Adolescente (SIGO-Adolescente), Mastologia,
Cardiologia, Hematologia, Endocrinologia, Psicologia, Fisioterapia Obstétrica e nas
Disfunções do Assoalho Pélvico, Estimulação Precoce (Fisioterapia, Fonoaudiologia
e Terapia Ocupacional) e ainda, Programa de Atendimento à Mulher Vítima de
Violência Sexual e Doméstica.

O Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana - HDGMM tem a missão de


Proporcionar e promover assistência à saúde da população a descrita da SER VI e
região metropolitana de Fortaleza em Clínica Médica, Pediatria e Ginecologia/
Obstetrícia dentro dos precipícios da Humanização.

O HDGMM possui 121 leitos no total, sendo 70 leitos de enfermarias e 25 leitos


de Neonatologia (10 UTI Neonatal e 15 de UCI), 13 leitos de observação, Centro
Cirúrgico com 03 salas Operatórias. O serviço de internação está dividido nos
seguintes: Clínica Médica, Cirúrgica (Mastologia / Ginecologia), Pediatria, Alojamento
Conjunto I e II e Neonatologia.

O HDGM-M possui os seguintes serviços de apoio técnico: Enfermagem,


Farmácia Hospitalar e Laboratorial, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social,
Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Imagem (Ultrassonografia, Raios X e
Mamografia), Ouvidoria, Central de Esterilização, Manutenção Predial e de
Equipamentos e Faturamento/ Arquivo Médico.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como falei no começo desse relatório, apesar de estar inserido dentro de um
Hospital e desse trabalho da Psicologia ser conhecido como Psicologia Hospitalar
aqui no Brasil, o trabalho de um psicólogo em uma instituição como essa se aproxima
do que seria Psicologia da Saúde em outros países, na minha visão. Podemos
começar com a diferença entre os termos utilizados em cada denominação. Saúde se
refere à um conjunto de funções físicas, orgânicas e mentais, onde a Organização
Mundial da Saúde (OMS) define-a como sendo o estado de completo bem-estar físico,
mental e social, enquanto a mesma diz que o hospital é parte integrante de um
sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa
assistência médica e complementar, preventiva e curativa, incluindo serviços
extensivos à família em seus domicílios e ainda um centro de formação dos que
trabalham no campo da saúde e para pesquisas biossociais.
É importante compreendermos os tipos de prevenções para depois falarmos
os níveis de atuação do psicólogo da saúde e do psicólogo hospitalar e a forma como
eles se encontram. Temos quatro tipos de prevenção, distribuídas entre primária,
secundária, terciária e quaternária.
A prevenção primária diz respeito a promoção e educação da população para
a saúde quando ainda não existem problemas de saúde já instalados, tendo como
objetivo evitar a emergência e os estilos de vida que aumentem o risco de doença.
Aqui podemos citar como exemplo o trabalho realizado junto à comunidade sobre os
riscos de contágio de doenças sexualmente transmissíveis e como preveni-las.
A prevenção secundária diz respeito ao trabalho realizado por profissionais
junto ao paciente quando já existe uma demanda instalada, e a partir disso, surge a
necessidade de que se trabalhe os possíveis efeitos negativos que essa demanda
pode trazer. Como exemplo podemos citar o trabalho com pessoas que recorrem à
exames de DST e durante o período de espera esse o profissional irá intervir visando
prevenir efeitos prejudicais.
Ao falarmos de prevenção terciária estamos discutindo sobre o trabalho
realizado com pessoas com problemas de saúde já instalados, e aqui os profissionais
atuam para minimizar o sofrimento dessas pessoas adoecidas. Como exemplo temos
o trabalho com pessoas infectadas pelo vírus do HIV, onde é possível promover
grupos psicoterápicos e de apoio.
E quando pensamos em prevenção quaternária, não estamos tratando da
prevenção a doenças, e sim do risco de excessivo intervencionismo diagnóstico e
terapêutico e a medicalização desnecessária. O exemplo que podemos citar é de uma
pessoa doença, sem indicação de tratamento curativo ou realizado em UTI, sendo
mantida internada em UTI obstinadamente recebendo tratamentos desnecessários, e
então essa prevenção buscará protegê-lo para que esse paciente não continue
passando por intervenções médicas inapropriadas que não irão lhe promover nada
positivo. Vale ressaltar que essa última prevenção ainda não é amplamente
conhecida, mas já existe em sua prática e é desenvolvida em teoria.
Retomando ao assunto, a Psicologia da Saúde, de acordo com Matarazzo
agrega o conhecimento educacional, científico e profissional da disciplina da
psicologia, para utilizá-lo na promoção da saúde, na prevenção e no tratamento da
doença, na identificação da etiologia e no diagnóstico relacionados à saúde, à doença
e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema político de saúde. A
Psicologia da Saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos,
comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença (APA, 2003). Podemos
complementar essa definição com o conceito que o Colégio Oficial de Psicólogos da
Espanha (COP, 2003) utiliza-se para definir a Psicologia da Saúde como a disciplina
ou o campo de especialização da Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e
conhecimentos científicos para avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os
problemas físicos, mentais ou qualquer outro relevante para os processos de saúde
e doença. Esse trabalho pode ser realizado em distintos e variados contextos, como:
hospitais, centros de saúde comunitários, organizações não-governamentais e nas
próprias casas dos indivíduos.
Apesar da Psicologia da Saúde ser uma área amplamente difundida e
consolidada fora do país, no Brasil ela vem se desenvolvendo cada vez mais e
conquistando o seu espaço. Temos a American Psychological Association (APA,
2003) como referência na história do desenvolvimento da Psicologia da Saúde.
Fundada em 1970, essa foi a primeira associação de psicólogos a criar um grupo de
trabalho na área da saúde. Foi criada a divisão 38, em 1979, denominada por "Health
Psychology", com o objetivo de avançar no estudo da Psicologia como disciplina que
compreende a saúde e a doença através da pesquisa e encoraja a integração da
informação biomédica com o conhecimento psicológico, fomentado e difundido na
área (CASTRO & BORNHOLDT, 2004).
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001), o Psicólogo
especialista em Psicologia Hospitalar atua em instituições de saúde, participando da
prestação de serviços de nível secundário ou terciário da atenção à saúde. Atende a
pacientes, familiares e/ou responsáveis pelo paciente; membros da comunidade
dentro de sua área de atuação; membros da equipe multiprofissional e eventualmente
administrativa, visando o bem-estar físico e emocional do paciente. Promove
intervenções direcionadas à relação médico/paciente, paciente/família, e
paciente/paciente e do paciente em relação ao processo do adoecer, hospitalização
e repercussões emocionais que emergem neste processo. Podem ser desenvolvidas
diferentes modalidades de intervenção, dependendo da demanda e da formação do
profissional específico; dentre elas ressaltam-se: atendimento psicoterapêutico;
grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e
Unidade de Terapia Intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral;
psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico;
consultoria e interconsultoria.
Para compreender o surgimento e a consolidação do termo Psicologia
Hospitalar em nosso país, é importante ressaltar que as políticas de saúde no Brasil
são centradas no hospital desde a década de 40, em um modelo que prioriza as ações
de saúde via atenção secundária, e deixa em segundo plano as ações ligadas à saúde
coletiva. Provavelmente, por termos essa ideia até hoje de que o hospital é o símbolo
máximo de atendimento em saúde, é que a denominação do psicólogo que trabalha
no campo da saúde recebe a denominação de Psicologia Hospitalar (CASTRO &
BORNHOLDT, 2004).
Considerando o surgimento e a definição da Psicologia Hospitalar e da
Psicologia da Saúde, podemos discutir sobre a atuação e as questões que essas
práticas remetem. Considerando as definições, de forma geral, podemos dizer que a
Psicologia da Saúde alcança um campo de atuação mais amplo que o da Psicologia
Hospitalar, onde a primeira está em todos os cenários de prevenção, à medida em
que a segunda está presente na prevenção secundária, terciária e quaternária, tendo
em vista que a prevenção primária está voltada para além da instituição hospitalar, e
a Psicologia Hospitalar está voltada notadamente para a atuação dentro de hospitais,
enquanto a Psicologia da Saúde difunde-se para além dos hospitais, como em ONGs,
outros centros de saúde etc.
Um outro contraste entre essas atividades diz respeito a sua formação. A
prática profissional na área da saúde exige especialização obrigatória em alguns
países, enquanto no Brasil a atuação como psicólogo hospitalar não exige
especialização obrigatória além do curso de graduação. A Psicologia da Saúde utiliza
os conhecimentos das ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e da Psicologia
Social-comunitária, tendo como base o modelo biopsicossocial (Remor, 1999).
Os dois exercícios mantêm uma prática interdisciplinar, no entanto, a prática
com outros profissionais do psicólogo hospitalar está limitada a equipe do hospital, já
que seu trabalho está demarcado à instituição, e o psicólogo da saúde tem a
possibilidade de atuar com outros profissionais de acordo com a sua vinculação a
outras instituições. Cada prática utiliza distintas teorias psicológicas, e um ponto que
pode ser destacado, é a escassez de materiais internacionais sobre a Psicologia
Hospitalar como campo específico. E a razão disso é pela denominação dessa
atividade existir dessa forma apenas no Brasil. Alguns autores falam que o uso desse
termo não é adequado, pois ele não se refere a forma da atuação do psicólogo no
campo, e sim ao campo em si. Essa conduta acaba passando a imagem de que o
trabalho desse profissional se reduz a instituição, e não como um profissional da
saúde que atua em hospitais.
Vale destacar que o psicólogo, dentro do contexto hospitalar, não voltará sua
atenção unicamente para o paciente, e sim para a tríade paciente, família e equipe,
pois com uma visão ampla do contexto, esse profissional poderá identificar o foco do
sofrimento psíquico e intervir de forma a minimizar o prejuízo. Dentre as atividades
exercidas pelo psicólogo para alcançar os objetivos, temos a promoção da percepção
do paciente como sujeito, pois em muitas situações o paciente pode passar pelo
processo de despersonalização em meio ao seu tratamento e a falta de atenção da
equipe para a pessoa em si, propiciar informações necessárias que forem solicitadas
pelo paciente, bem como averiguar se a comunicação do paciente com a família está
clara e saudável, auxiliar a desenvolver estratégias para lidar com a situação dentre
tantas outras possibilidades que tenham como finalidade o bem-estar psíquico do
paciente, que poderá, muitas vezes, influenciar na sua saúde física e biológica e
interferir no seu tratamento.
O profissional da psicologia tem como instrumentos a escuta terapêutica, a
fala, a entrevista, observação e outros mecanismos. Essas possibilidades facilitam a
vinculação com o paciente e dessa forma o auxílio fornecido para ele ajuda-o a passar
de forma equilibrada pela experiência do adoecimento. Vale ressaltar que nesse
processo não será o psicólogo que irá guiar e impor a forma como o paciente vai lidar
com essa situação, e sim ser um instrumento, mas sem perder o seu valor como
pessoa, para que esse outro possa se organizar e ter o mínimo possível de prejuízo.

5. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES


Desde o primeiro momento em que cheguei ao hospital para estagiar tive
contato com práticas educacionais, como uma semana científica que estava
acontecendo no hospital, e desde então pude observar a inclinação do hospital em
promover discussões entre os profissionais com o intuito de incentivar a sensibilidade
da equipe frente ao paciente, com a finalidade de que essa sensibilidade possibilite e
fortaleça o vínculo com os pacientes. Além dessa semana científica que aconteceu
no hospital, pude observar um outro momento em que parte da equipe estava reunida
para trabalhar especificamente questões para melhorar a comunicação, e
consequentemente a vinculação e os benefícios almejados, com os pacientes do
hospital.
Apesar das atividades não terem sido voltadas unicamente para os
profissionais da psicologia, as práticas que descrevi acima me remetem ao que
sempre leio nos textos sobre Psicologia Hospitalar que decorrem sobre as funções e
deveres desses profissionais, pois esse serviço "tem por finalidade o desenvolvimento
de atividades assistenciais, de ensino e investigação científica e a contribuição para
o aperfeiçoamento dos padrões profissionais, éticos e científicos da Psicologia da
Saúde" (BRUSCATO, 2004). Dessa forma, observei o empenho do hospital em
prestar um serviço completo e sensível, que enxergue os pacientes como pessoas, e
não como mais um. Esse cuidado tem um imenso valor, que certamente reflete nos
processos dos pacientes.
No meu primeiro dia fiquei sabendo das situações que eram mais recorrentes
no hospital e a forma como o acompanhamento era sucedido. Posso dizer que meu
primeiro dia foi basicamente de observações em torno do hospital e dos profissionais.
Em uma determinada manhã a minha preceptora fez a sala de espera, como
eles falam. Acredito que a função básica desse momento é apresentar os serviços
que o hospital oferece, mas ainda não são muito conhecidos como deveriam ser, e
até mesmo apresentar a utilidade e a forma como funcionam. Penso que os assuntos
mais discutidos na sala foram depressão pós-parto, o serviço para vítimas de
violência sexual e a descoberta tardia da gestação.
Pelo que pude observar, a depressão pós-parto foi uma questão bem discutida
entre a psicóloga e as pacientes que estavam aguardando, pois algumas delas
estavam gestantes e uma em processo de parto, e suponho que nesse momento a
tensão tome conta de boa parte das emoções, e ouvir falar em algo novo que traz um
certo receio realmente chama atenção.
Apesar das discussões sobre o atendimento as vítimas de violência sexual
também ter se estendido um pouco, esse não foi o assunto que mais me chamou
atenção. E acredito que o assunto foi discutido porque muitas pessoas não sabem da
oferta desse serviço e a forma como a vítima deve proceder para receber o
atendimento e cuidados necessários. Aqui o que mais atraiu minha atenção foi a
dedicação da Juliana em falar sobre o assunto e a relevância disso para ela, pois
lembro de sua fala expressar a importância da disseminação desse assunto e como
ela ficaria feliz em saber que através daquele momento essa informação poderia
chegar em pelo menos mais uma pessoa e isso já a deixaria contente. Desde esse
momento eu comecei a perceber a sensibilidade dos psicólogos que trabalham nesse
hospital. Eu pude sentir a dedicação de todos os profissionais da psicologia que tive
a oportunidade de acompanhar e observar. Como falei para eles, eu admirei muito o
trabalho que fazem, pois não estão ali apenas para cumprir sua atividade de forma
seca e preguiçosa, eu pude perceber como eles se entregam à profissão e como o
resultado desse esforço os gratifica.
Continuando com as discussões na sala de espera, o assunto que me chamou
muita atenção foi a descoberta tardia da gestação. Eu não imaginava que isso fosse
algo tão recorrente, e até brinquei dizendo que achava que esses casos só apareciam
na televisão. E os casos que falo aqui, são de mulheres que descobriam a gestação
por volta dos sete meses ou quando estavam no processo de parto. Parecia muito
irreal para mim uma mulher não ter a percepção de que o seu corpo está gestando
um bebê completamente formado, não sei ao certo quais são os fatores que
contribuem para isso, e, quando pesquisei sobre esse conteúdo, infelizmente me
deparei com a falta de materiais acadêmicos que discutam sobre esse assunto.
Apesar de perceber essa possibilidade, não poderia afirmar com segurança que o
fator econômico está ligado a essa questão por dois motivos: em primeiro lugar a
minha experiência e o meu defronto com esses casos se deu apenas em um hospital,
que é uma instituição pública e de modo consequente (pelo menos na maior parte
dos casos) atende uma população de classe mais baixa; por último, não tive a
oportunidade de pesquisar diretamente ou indiretamente essa hipótese.
Tendo concluído os assuntos mais relevantes da sala de parto, acredito que
esse momento é importante e tem sua contribuição. Desde o momento inicial no
hospital, esses pacientes são acolhidos, podem ser ouvidos e recebem informações
do hospital de forma geral. Sem esquecer do serviço de psicologia que também é
ofertado e informado nesse momento. Muitas pessoas ainda não sabem como
funciona esse serviço, apesar de já terem ouvido falar na palavra "psicologia". É
importante esclarecer a utilidade do serviço e demonstrar a disponibilidade dele nos
casos de necessidade.
Finalizada minha experiência na sala de espera, comecei a ver a prática dos
psicólogos em cada setor. O primeiro contato com uma paciente que estava internada
foi um caso de aborto espontâneo de uma jovem. Acompanhei o atendimento que a
Juliana prestou a ela, e a conversa se desenvolveu em torno da chegada dela ao
hospital, o recebimento da notícia e como ela estava se sentindo com toda aquela
situação. Pude observar que em poucos minutos de atendimento a paciente que ao
mesmo tempo que se emocionou, tentou evitar esse sentimento de tristeza, e sua
mãe também tentava consolá-la através da evitação. A psicóloga respeitou essa
esquiva em relação a emoção, e acredito que esse posicionamento tenha sido
correto, pois, apesar de acolher e ajudar o paciente a expressar e vivenciar todos os
sofrimentos e sentimentos, nós também devemos respeitar os limites e o tempo que
cada pessoa leva para lidar com uma situação.
A todo momento eu recebia explicação de como era o funcionamento da sala
de parto, a comunicação utilizada lá, a evolução do prontuário etc. Era importante eu
conhecer o movimento daquele setor, pois era o local onde, a princípio, eu teria minha
experiência. Inclusive no meu último dia de estágio pude fazer a evolução em
prontuário com o acompanhamento da minha preceptora.
Uma dificuldade que avistei foi a realização do serviço na sala de medicação,
pois é inviável ter um atendimento completamente sigiloso nessa sala quando há mais
de uma paciente, o que é muito comum em hospitais, segundo textos sobre Psicologia
Hospitalar e relato de psicólogos com experiência em instituições assim. Aqui pude
ver na prática uma situação em que o psicólogo tem que ser criativo para saber lidar
com essas circunstâncias.
Em um outro dia a Juliana me falou sobre o caso de uma paciente gestante
que tinha chegado ao hospital por estar perdendo líquido e com um risco muito alto
de perder o seu bebê. Antes de a visitarmos fiquei sabendo que ela queria muito esse
filho e já era a sua segunda gestação, mas a sua primeira tinha resultado em um
aborto. Quando vimos a paciente observei como o vínculo que a Juliana havia
formado com ela estava forte e muito positivo. Pude perceber que apesar dessa
gestante querer muito esse bebê e se apegar bastante a esperança, ela estava muito
consciente da realidade e de todos os riscos que o bebê corria. Quando saímos do
quarto a Juliana me falou mais sobre o caso dela e como ela havia chegado. No dia
em que a paciente chegou, ela estava muito desorganizada e nervosa. Me foi relatado
que ela não queria tomar nenhum medicamento com medo de que isso fosse para
fazer ela abortar. Minha preceptora falou que imaginou que ela fosse surtar por conta
de toda essa ansiedade e nervosismo no momento inicial da interação. Acredito que
graças ao acompanhamento da psicóloga nesse momento perturbador,
principalmente durante a chegada, é que a paciente conseguiu se manter mais
equilibrada, e que interligado a esse cuidado psíquico está a continuidade da
gravidez, pois considero a importância do bem-estar emocional como fator
fundamental nos processos físicos e biológicos.
Ainda nesse dia, mas entre a visita e conversas sobre a paciente da qual acabei
de falar, tive a oportunidade de conhecer o alojamento com a psicóloga responsável.
Nesse setor, o trabalho da psicóloga constitui-se da visita aos quartos, onde há uma
série de leitos em cada quarto com pacientes puérperas que podem estar
acompanhadas ou não e geralmente estão com os seus bebês, mas em alguns casos
não estão. Durante a visita em cada quarto é como se a psicóloga responsável fizesse
uma sondagem para averiguar como essas pacientes estão emocionalmente e
discutir sobre o serviço de psicologia que é ofertado no hospital. Eu percebi que aqui
é muito importante se ater a todos os detalhes que o ambiente pode propor, como por
exemplo quando a mãe não está acompanhada com seu bebê. Quando há casos
assim, é relevante investigar o motivo dessa situação e, se possível, debater sobre
isso, até mesmo para verificar como está o estado emocional dessa paciente. Ainda
nos quartos, é fundamental que se discuta sobre o que a psicologia propõe e o serviço
disponível no hospital. Além de verificar o estado emocional dessas mães, é proposto
uma breve discussão informativa sobre a depressão pós-parto, alertando os riscos e
sintomas que acompanham essa condição.
Ainda nos alojamentos tive a oportunidade de falar, discutir e observar tudo o
que falei a cima. Para mim foi muito interessante ter essa experiência e lidar
diretamente com essas pacientes, ainda mais por estar tendo a oportunidade de
visitar e conhecer uma outra parte do hospital que inicialmente eu não deveria passar.
E falando nisso, a minha passagem aqui se deu por conta de uma reunião da minha
preceptora, e para não ficar aguardando sem fazer nada, ainda mais por não
sabermos quanto tempo a reunião iria durar, pude acompanhar a Wladilene no
alojamento 1. Ainda nesse setor ela me mostrou como funcionava a identificação de
cada paciente e as anotações que deveriam ser feitas após a visita técnica. Gostaria
de ressaltar mais uma vez a dedicação que os psicólogos do hospital têm. Achei ela
muito dedicada e empenhada a fazer esse trabalho e realmente perceber se havia
alguém precisando de um atendimento individual e deixar claro a disponibilidade do
serviço.
Mais uma vez tive a oportunidade de conhecer um outro ambiente do hospital,
dessa vez o setor Neonatal. Por uma razão pessoal minha preceptora precisou se
afastar do trabalho, e como ela não estava lá para me acompanhar na sala de parto
eu pude conhecer um outro setor. Dessa vez acompanhei o Felipe, psicólogo
responsável por esse setor, e antes mesmo de fazer a visita nós conversamos sobre
um mecanismo que é utilizado nesse setor e que auxilia na produção de uma
pesquisa. Além disso tive acesso a uma entrevista que foi criada por ele para auxiliá-
lo nessa pesquisa e ainda facilita a conversa com a paciente, dando um suporte. Ao
entrar na sala pude observar o funcionamento das fichas dos bebês, a divisão do
quarto de acordo com o risco de cada recém-nascido e a conversa do psicólogo com
as mães que estavam acompanhando seus bebês no momento. Fora essas mães, o
Felipe foi conversar com uma outra que estava prestes a sair do hospital e que ele
havia feito o acompanhamento dela durante sua estadia. Além da preocupação dele
em ver como todas as mães estavam e se despedir de quem já estava partindo, uma
coisa que me chamou muita atenção foi o seu interesse em pesquisar dentro do
hospital, porém essa iniciativa não é tão apoiada e incentivado como eu acho que
deveria ser, o que acaba prejudicando o andamento da pesquisa. Sem falar da
incerteza da permanência no hospital por conta de se tratar de um cargo de seleção.
Agora falando dos casos do meu último dia, posso dizer que foi o dia mais
cheio de experiências. Assim que entrei na sala de parto já me deparei com uma
paciente que seria acompanhada até o necrotério para ver o seu bebê que havia
nascido morto. Me senti incomodada com a situação por conta do despreparo da
instituição em um momento como esse. O freezer onde o bebê estava sendo
conservado tinha pedaços de gelo caindo o tempo todo, quem é responsável por
mostrar o bebê para a mãe é um funcionário da limpeza, e para piorar a situação, o
pacote onde a criança estava enrolada ainda não estava aberto quando chegamos e
a pessoa que estava abrindo teve muita dificuldade. Fiquei sabendo que geralmente
quando a mãe chega para ver o bebê o pacote já está aberto, mas de forma geral, eu
achei o momento muito angustiante, não por ser uma situação de óbito, mas sim por
parecer ser um ambiente despreparado para lidar com essas situações.
Quando a mãe pôde pegar seu bebê no colo, chorando muito, ela o deixou em
pouco tempo e voltou para o seu leito. Não havia como ajudar ou amenizar o
sofrimento dela naquele momento, a única coisa que podíamos fazer era dá espaço
a ela e expressar que estávamos disponíveis quando ela precisasse. Essa atitude de
se afastar da paciente num momento como esse tem sua validade, pois devemos ter
a consciência de não "psicologizar" tudo e achar que podemos ser úteis em todos os
momentos. Nós temos limitações como profissionais, e reconhecer isso é o primeiro
passo para quando não pudermos ajudar, também não atrapalharmos.
Quando paramos para olhar o quadro da sala de parto, a Juliana me colocou
para atender uma paciente que estava doente e de acordo com o seu prontuário
existiam chances de ela estar gestante. Antes de entrar no quarto fui brevemente
orientada a como conversar com essa paciente e que pontos investigar, pois esse
seria o primeiro contato sozinha que eu teria com uma paciente. Me apresentei,
perguntei como ela estava se sentindo e desde esse momento ela relatou estar
sentindo muita dor, falei um pouco sobre o serviço de psicologia e conversamos sobre
sua doença e o processo pelo qual ela estava passando. A paciente estava falando
muito pouco e dando respostas breves, mas acredito que isso se deu, principalmente,
por conta da dor que ela estava sentindo, pois suas feições e movimentos
demonstravam o tempo todo que ela parecia estar com um incomodo. Durante esse
momento lembrei de um dia em que um psicólogo do hospital me falou que achava
que o trabalho mais difícil da psicologia era na sala de parto, pois você tinha que
saber lidar com uma paciente sentindo dor, e é muito complicado a paciente de
concentrar ou se dedicar a conversa em situações assim. Como não percebi nenhuma
alteração emocional na paciente no momento e ela me falou, quando questionada,
que não tinha mais nada para falar no momento pois estava difícil conversar enquanto
sentia dor, a deixei sozinha depois de falar mais uma vez que o serviço de psicologia
estava disponível caso ela sentisse que precisava.
Mal deu tempo falar sobre esse caso com a Juliana e ela já me falou que eu
iria acompanhar um atendimento a uma possível vítima de abuso sexual com a Carla,
e eu fiquei muito surpresa com isso, pois não esperava ter essa oportunidade, já que
no meu primeiro dia de estágio eu disse que gostaria de ficar no setor de atendimento
a essas vítimas e me foi dito que eu não poderia, pois eram casos mais delicados e
não seria muito adequado ter uma estagiária nesse setor.
Acompanhei o atendimento junto a uma psicóloga, uma médica e uma
assistente social. O caso em si era muito confuso, mas todas tentavam acompanhar
e demonstrar uma postura de acolhimento. A minha dificuldade nesse caso foi para
tentar acompanhar tudo o que a paciente dizia, principalmente em relação aos
eventos que ela descrevia e referenciava pelo tempo, no entanto, ela não conseguia
precisar os períodos descritos. Foram colhidas informações necessárias para o
atendimento e ofertadas as opções que ela tinha. Como a paciente queria sigilo em
relação ao seu caso, foi complicado trabalhar com ela em relação ao seu estado
emocional, pois ela queria ir trabalhar depois do atendimento, mas todas sentiam que
ela estava frágil demais para isso. Ninguém queria e muito menos podia impor o que
ela iria fazer, apesar de acreditar que a melhor opção era ela permanecer no hospital
ou em algum outro lugar sem ser no seu trabalho, deixamos ela a vontade para
escolher, e logo mais ela mesma percebeu que a melhor opção era não ir trabalhar.
Quando estávamos na sala com a paciente apenas eu e a psicóloga, depois de um
tempo conversando e acolhendo ela, a Carla questionou se eu gostaria de fazer
alguma pergunta para a paciente, mas não senti necessidade.
Finalizei o meu dia no hospital e estágio acompanhando um caso de processo
de parto. Inicialmente fui ver como a paciente estava e tentar fazê-la caminhar, pois
uma enfermeira havia relatado que seria bom, mas ela estava se negando. Quando
entrei conversei com ela e sua mãe que a acompanhava, pude perceber que a
paciente estava bem e a mãe tranquila. As duas estavam apenas ansiosas com o
parto, mas nada fora do normal. Acabei conseguindo convencer a paciente a caminha
e depois ela começou a ser examinada, pois o processo do parto estava acelerando.
Fiquei de voltar para falar com elas e fornecer algumas informações, como funcionaria
a visita do pai, já que ele é menor de idade, e como elas poderiam receber itens do
bebê, pois não haviam levado para o hospital por terem ido pensando se tratar apenas
de uma consulta e não saber que o bebê iria nascer naquele dia.
Repassei o atendimento para a Juliana e ela me orientou a fazer a evolução
no prontuário. Depois disso ela perguntou se eu gostaria de assistir o parto e eu fiquei
sem saber o que responder, pois gostaria de ver, mas não gostaria de permanecer
na sala apenas para satisfazer um desejo pessoal e correr o risco de atrapalhar a
equipe ou a paciente de alguma forma, e até mesmo, ser invasiva. Por fim, voltei a
sala para passar as informações para elas e acabei permanecendo lá com a Juliana
durante o restante do processo. Foi imensamente interessante ver esse
acontecimento. Pois além de ver um nascimento, pude também perceber como é o
funcionamento da equipe durante um parto.
Essa foi a última atividade da qual eu participei nesse hospital durante o meu
estágio e considero que todas as minhas experiências contribuíram de alguma forma
e me deram a oportunidade de aprender.

6. CONCLUSÃO
Falar aqui pq eu ainda não fiz
Posso falar que não sei se consegui conversar muito superficialmente com ela
pq não sabia como prosseguir ou pq ela estava com muita dor
Acho que na conclusão: quando tiver falando da recepção do psis, dizer que
todos me deram abertura para falar a agir nos setores, que eu me senti muito livre
para experimentar e tal

Lembro que queria passar por várias experiências e conhecer vários setores
do hospital, e quase como uma conspiração do mundo ao meu favor, tive essa
oportunidade e pude conhecer um pouco de vários setores
Será que eu devo falar que não me senti fundamental em nenhum processo,
mas acredito que isso colaborou para a minha formação?
Lembrar de colocar as referencias direito
https://saude.fortaleza.ce.gov.br/infosaude-menu/2-uncategorised/58-
hospitais-distritais-gonzaguinhas

http://partoquetequeroperto.blogspot.com.br/2011/07/o-gonzaguinha-de-
messejana.html
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932004000300007&lng=en&tlng=en
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2006/01/resolucao2001_2.pdf
Capitulo 1 da apostila

7. ANEXOS
Diário de Campo 1 – 19/09/2017
Hoje, dia 19 de setembro de 2017, fui para o meu primeiro dia de estágio no
Hospital Doutor Gonzaguinha Mota de Messejana. Ao chegar, procurei a Professora
Sandra no CEAP e me informaram que ela estava na sala da Assistência Social.
Fui até a sala onde a Sandra estava e lá ela me recebeu, me desejou boas-
vindas e tivemos uma rápida conversa. Falou bem rapidamente que o Hospital
oferece assistência à saúde materno-infantil e que me levaria para a sala da
Psicologia e lá eles iriam conversar mais sobre o hospital comigo. Ela perguntou se
eu tinha levado jaleco e crachá, pontuou que meu calçado estava adequado e me
instruiu rapidamente sobre o uso do crachá e de acessórios. Ela me informou que
seria melhor utilizar o crachá apenas pelo prendedor e deixar o cordão guardado, me
aconselhou a não utilizar acessórios, como brincos, pulseira e cordão, pois poderia
acontecer imprevistos com algum paciente e esses adornos poderiam interferir
negativamente na minha própria proteção. Enquanto ela terminava de falar, tirou o
brinco na minha frente, e então eu tirei o meu também.
Após ter permanecido menos de cinco minutos com a Sandra, nós
caminhamos até a sala da Psicologia. Quando entramos, fui apresentada aos
psicólogos que estavam presentes e a Juliana, coordenadora do setor da Psicologia,
me chamou para sentar perto dela e conversar. Eu disse que sou aluna do oitavo
semestre de Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau e que estava fazendo
supervisão com a Mykaella. Mais uma vez recebi boas-vindas e ela me falou dos
serviços que eram ofertados pelo Gonzaguinha, mas deixou para me explicar melhor
quando estivéssemos conhecendo o hospital e visitando o respectivo local de cada
setor. Perguntou se eu tinha preferência por algum setor para estagiar e eu disse que
gostaria de conhecer um pouco mais antes de decidir, quis saber quais eram as
minhas expectativas em relação ao estágio e eu contei que esperava ajudar alguém,
mesmo que através da forma mais simples, acolhendo e ouvindo quem estivesse
precisando.
Ela me informou que hoje os psicólogos estariam mais dispersos por conta de
um evento que estava acontecendo no hospital e aproveitou para me convidar a
participar do evento, já que ela iria me acompanhar nesse momento inicial e ela
participaria do evento.
Quando saímos da sala fomos caminhando pelo hospital, antes de ir para o
evento e passamos por alguns setores. Ela me mostrou onde ficava e explicou como
funcionava o alojamento, a sala de parto, a emergência e internação pediátrica e
alguns outros locais do hospital antes de seguirmos para o evento. Enquanto estava
acontecendo o coffe brake nós permanecemos no auditório conversando. Ela me
falou sobre as outras áreas que ainda não tínhamos visitado. Apresentou verbalmente
o ambulatório e disse que lá aconteciam os atendimentos para mulheres vítimas de
violência doméstica e sexual e paciente com HIV e AIDS e também falou da UTI. Após
saber superficialmente como funcionava cada um desses setores do hospital, fiz
algumas perguntas sobre alguns setores e perguntei se poderia ficar no ambulatório,
mas ela explicou que lá só ficavam profissionais até mesmo por conta da gravidade
dos casos e da importância do sigilo. Decidi então ficar no parto e fiquei sabendo que
ela mesma é a psicóloga responsável por esse setor.
Eu perguntei sobre a atuação dela no Gonzaguinha, há quanto tempo ela era
formada e se trabalhava em alguma outra área da Psicologia além da área da Saúde.
Fiquei sabendo que ela também trabalha em consultório e ficamos conversando sobre
a abordagem que ela utiliza, a Análise Transacional, da qual eu nuca havia ouvido
falar e pedi para que ela me falasse um pouco sobre ela. Ficamos conversando sobre
a abordagem e as formações dela até o evento começar.
O evento foi sobre cuidados humanizados com recém-nascidos e, apesar do
diálogo não ter muita relação com a psicologia, eu achei muito interessante e rico,
fiquei sabendo de várias coisas que podem até mesmo me auxiliar no diálogo com as
pacientes gestantes e mães, além disso, foi bom para conhecer alguns outros
profissionais do hospital e perceber a implicação e sensibilidade deles frente a essa
temática.
Quando as atividades da manhã do evento acabaram, nós voltamos a visitar
alguns setores do hospital, começando pela área onde as gestantes ficam
aguardando atendimento para saber como irão prosseguir com elas. Já na recepção
desse setor, a Juliana ficou sabendo que estavam procurando-a para atender uma
paciente que estava chorando muito desde o momento que chegou. Ao prosseguir,
passamos pela UTI Neonatal e por um outro setor de internação que estava
desativado por questões físicas, mas realocado em outra parte do hospital. Depois
visitamos a sala de medicação e enquanto isso a Juliana falava sempre com algum
outro funcionário para saber como as coisas estavam e buscando a paciente que
estava precisando de atendimento.
Voltamos para a sala da Psicologia e quando a Juliana abriu a porta, um dos
psicólogos estava atendendo justamente a paciente que chegou chorando.
Recuamos e nos sentamos em um banco no corredor e ficamos conversando sobre
o meu primeiro dia e o funcionamento do hospital.
Fiquei sabendo de alguns casos que chegam ao hospital e que muitas vezes
há a necessidade de acompanhamento psicológico para eles, como o caso de
dependentes químicos que por vezes chegam sob efeito de drogas e passam pelo
processo de abstinência. Que é muito recorrente casos de aborto, onde muitas vezes
as gestantes descobrem numa simples consulta que o feto está morto. Também
falamos sobre o acompanhamento de algumas gestantes durante o parto e como a
simples presença e o ato de segurar na mão da paciente pode ser tão importante.
Alguns minutos após sentarmos no corredor, o psicólogo que estava
atendendo a paciente da qual falei a pouco, saiu da sala e repassou o caso para a
Juliana, pois ela que ficaria pela tarde no Hospital e havia a possibilidade da paciente
precisar de atendimento novamente.
Logo após ela me perguntou o que eu tinha achado do meu primeiro dia e eu
respondi que gostei de ter conhecido um pouco do Hospital e que foi bem tranquilo,
e ela me disse que nem todos os dias são tranquilos assim. Ela pediu para que eu
preparasse algumas perguntas que deveriam ser feitas para a gestante na sala de
parta com a finalidade de facilitar o começo da comunicação quando fossemos
apresentar o serviço para a próxima terça e me deixou à vontade caso eu queira levar
algum texto que tenha relação com o nosso trabalho para que possamos ler juntas.
Eu lembrei da sala de medicação e perguntei quais pacientes passavam por
lá, de onde vinham e como era o atendimento com elas. Fiquei sabendo da dificuldade
de prestar atendimentos para elas devido a condição física da sala, um local muito
pequeno que impossibilita o sigilo, formando um setting bem despreparado. Por fim,
ela perguntou se eu tinha alguma ideia que possibilitasse um melhor atendimento
para essas pacientes e que se alguma ideia surgisse eu poderia levar para ela. Pediu
até mesmo que eu levasse para minha supervisão e que se a Mykaella pensasse em
algo nós poderíamos avaliar, pois três cabeças, mesmo que separadas, pensam
melhor que uma. Finalmente nos despedimos e ficamos de nos ver na próxima
semana.
Achei que o primeiro dia foi bem tranquilo e me senti bem confortável durante
a manhã toda. Me senti bem recebida e pude conhecer um pouco do Hospital e seu
funcionamento. Apesar de não poder ficar na área que eu mais me interessei a priori,
acredito que a experiência na sala de parto poderá ser bem rica, e é algo que eu não
imaginei ter a oportunidade de passar, mesmo no estágio. Se eu pudesse, passaria
por todas os setores do Hospital, com a expectativa de poder contribuir de alguma
forma e tirar um aprendizado disso. Mas acredito que mesmo sendo um estágio de
pouca duração, será uma experiência rica na minha vida e acredito que irá colaborar
de alguma forma na minha futura atuação profissional.

Diário de Campo 2 – 26/09/2017


Ao chegar na sala de Psicologia me informaram que a minha preceptora estava
em uma reunião no CEAP e que eu estava sendo aguardada por ela lá. A reunião se
tratava de uma discussão para melhorar a forma como as instruções deveriam ser
repassadas para cada setor sobre como aconselhar e conversar com as pacientes do
hospital, de forma que o vínculo e a comunicação possam ser melhorados.
Após a reunião nós nos dirigimos para a sala de espera, e para isso tivemos
que dar a volta no hospital, respeitando a entrada correta. Na sala de espera a
psicóloga se apresenta, apresenta o serviço e conversa um pouco sobre algum
assunto que seja importante discutir, promovendo também informações sobre os
serviços do hospital.
No começo, quando a sala estava mais cheia, algumas pessoas não estavam
dando atenção e me passaram a impressão de estar desmerecendo o que estava
sendo discutido no momento, mas, felizmente, algumas pessoas estavam interagindo
muito bem, demonstrando interesse e até mesmo compartilhando as próprias
experiências.
Discutimos sobre depressão pós-parto, falamos sobre o serviço ofertado para
pessoas que sofrem de violência física e sexual e a forma como esse serviço ocorre,
e surgiu também falas de mulheres que haviam descoberto a gravidez com um tempo
bem avançado, e essa questão me chamou bastante atenção, pois naquela sala,
onde, no momento, tinham apenas quatro mulheres, duas delas relataram gravidezes
anteriores que foram descobertas em estado bem avançado, e um outro caso que
havia acontecido na semana anterior de uma mulher que descobriu que estava
grávida quando o bebê estava nascendo, que foi relatado pela psicóloga.
Depois dessa conversa na sala de espera nós fomos para a sala de parto e
começamos a olhar os prontuários. A psicóloga começou a me explicar algumas
coisas, como as siglas que ficam anotados nos prontuários, algumas dessas siglas
nem ela sabia, pois são bem voltadas e usadas por outros profissionais da saúde,
como os médicos e enfermeiros. Observamos as placas das pacientes, onde ficam
informações básicas de cada uma delas próximas aos leitos. Antes de irmos
conversar com uma paciente, ela me perguntou como eu gostaria de fazer, pois
segundo a psicóloga, ela já teve dois tipos de estagiários, os que preferem ver ela
fazendo a visita e falando primeiro, e os que preferem entrar e falar sozinhos antes
de vê-la fazendo a visita e relatar para ela depois. Eu preferi vê-la fazendo a visita e
acompanhar para depois eu mesmo fazer a visita, pois não me sentia segura, já que
nunca tinha visto um psicólogo iniciando uma visita na sala de parto, ou algum relato
sobre isso.
Nós visitamos uma jovem que estava em processo de abortamento, a
psicóloga nos apresentou e começou a conversar, perguntando como ela estava se
sentindo, o que tinha acontecido para ela ir ao hospital, como tinha sido receber a
notícia da perda do bebê e mais coisas que foram surgindo. A paciente estava muito
tranquila, porém abalada com a perda. Relatou e aparentava estar bem triste, e não
sabia muito bem o que estava sentindo além disso. Em um certo momento ela
começou a se emocionar e percebi uma tentativa dela de evitar essa emoção, pois
começou a mexer no celular e evitar que o assunto se aprofundasse mais. A paciente
estava acompanhada com sua mãe que parecia tentar consolar a filha. Esse momento
com a paciente não demorou muito, mas me pareceu ser suficiente para que elas
pudessem perceber que o serviço de psicologia estava a disposição delas a qualquer
momento que elas precisassem.
Após esse atendimento e o registro no prontuário nós seguimos para a sala de
medicação, pois a sala de parto estava bem tranquila, algumas pacientes já haviam
saído, pois já tinham tido seus bebês e outras estavam dormindo. Na sala de parto,
mais uma vez, o serviço de psicologia foi apresentado e assim iniciou-se uma
conversa. Havia uma paciente que aparentava estar com dor e não interagiu e ficou
mais quieta O restante das pacientes parecia estar prestando bastante atenção e uma
delas conversou bastante, ela estava bem nervosa por achar que ia fazer o parto
cesariano e todos os outros partos dela tinham sido normais. A psicóloga conversou
com ela, tentando acalmá-la caso fosse realmente necessário fazer a cirurgia e se
ofereceu para acompanhá-la no parto, independentemente de ser normal ou
cesariano.
Logo mais nós fomos para a sala da psicologia, conversamos um pouco sobre
como tinha sido a manhã e pouco tempo depois finalizamos nosso segundo encontro.

Diário de Campo 3 – 03/10/2017


Ao chegar no Hospital fiquei aguardando a minha preceptora do lado de fora
da sala de Psicologia, pois uma outra psicóloga estava com algumas pessoas lá e
precisava de privacidade. Pouco tempo depois a Juliana chegou e nós conversamos
sobre como havia sido essa última semana e ela me falou sobre uma paciente e
detalhes sobre o caso dela, disse que queria até que eu a conhecesse, pois ela era
uma ótima pessoa para conversar.
Nessa terça-feira eu fiquei as primeiras horas com uma outra psicóloga, pois a
Juliana tinha uma reunião e não poderia ficar comigo no começo do dia. A psicóloga
que ficou comigo é a responsável pelo alojamento, e no caminho para lá ela foi me
explicando como acontecia o trabalho dela nesse setor e me mostrou os registros das
pacientes que ficam lá.
O trabalho da psicologia nos alojamentos que eu pude observar e participar se
constitui na visita da psicóloga em cada quarto, onde há vários leitos e pacientes
puérperas, com ou sem acompanhantes, e com ou sem os seus bebês, pois alguns
têm a necessidade de permanecer no berçário e ficam separados de suas mães, e lá
fala-se um pouco sobre o serviço da psicologia disponível do hospital, questiona-se
sobre o emocional dessas mulheres, como elas estão se sentindo, onde e por qual
motivo o bebê não está com ela, quando observa-se a ausência deste, é discutido
sobre depressão pós-parto e deixa claro a disponibilidade do serviço para essas
pessoas mesmo depois de receber alta do hospital, dando até mesmo exemplos de
formas como essas mulheres podem se sentir e a importância de buscar ajuda.
Após visitar alguns quartos e observar ela falando com essas pacientes, ela
perguntou se eu gostaria de falar nos próximos quartos, e apesar de ter me sentido
nervosa, pois não estava esperando por isso, concordei em fala e pedi para que ela
ficasse à vontade para falar comigo caso eu esquecesse de dizer algo ou falasse
muito superficialmente.
Achei muito interessante ter essa oportunidade, pois pude observar e
experienciar uma outra realidade do hospital, e me senti muito confortável quando
comei a falar. As pessoas presentes interagiram, a psicóloga que eu estava
acompanhando também participou e a conversa fluiu muito bem, possibilitando
diversas informações e uma vinculação com essas pacientes.
Algumas mulheres do último quarto que estávamos visitando nunca tinham
ouvido falar em depressão pós-parto e nós discutimos muito acerca desse assunto,
conversamos sobre como elas estavam se sentindo, pois estavam distantes de seus
bebês e acabamos descobrindo que uma delas já estava lá há alguns dias e ainda
não tinha tocado em seu filho, pois ninguém a informou que ela podia tocá-lo. A
psicóloga informou que ela poderia falar com a equipe para saber se poderia tocar
em seu bebê, pois dificilmente esse contato é restrito, e isso faria muito bem para a
relação deles.
Depois de visitar todos os alojamentos e fazer as anotações sobre a visita
técnica, fomos para a sala de psicologia e conversamos um pouco sobre esse
momento. Os pontos principais que eu pude perceber foi a observação de forma geral
que a psicóloga faz quando entra na sala, percebendo quem está ou não está com o
bebê, quem não está acompanhado e por qual motivo, há quanto tempo estão
internadas e conhecer as situações das mulheres que estão lá por mais tempo, a
importância da amamentação, saber se ela está ocorrendo bem com todos os
pacientes e fornecer o auxílio adequado caso não esteja ocorrendo bem e deixar bem
claro que o serviço de psicologia existe, para que existe e que está disponível para
elas quando houver necessidade.
Como não surgiu nada que demandasse mais atenção, ficamos na sala de
psicologia aguardando a Juliana chegar. Depois de algum tempo minha preceptora
chegou, perguntou como tinha sido no alojamento e nós caminhamos para a sala de
parto. Observamos como estava o ambiente naquele dia e depois fomos ver a
paciente que a Juliana já havia me falado. Ela era realmente uma pessoa muito boa
de conversar, bem descontraída e bastante consciente de sua situação. Nós
conversamos como havia sido o dia dela no hospital, ela perguntou como estava o
trabalho da Juliana naquele dia e discutimos um pouco sobre o caso dela, a opinião
dos médicos e as possibilidades dela.
Após passarmos algum tempo com ela, nos despedimos e fomos ver uma outra
paciente que uma enfermeira havia falado, uma jovem de 11 anos que estava
internada por estar com hemorragia. Foi uma visita bem rápida, pois ela pareceu estar
psicologicamente bem.
Após essas duas visitas conversamos um pouco sobre os atendimentos, fomos
para a sala da psicologia e nos despedimos.

Diário de Campo 4 – 24/10/2017


Ao chegar no hospital fiquei aguardando fora da sala da psicologia, pois estava
acontecendo um atendimento. Algum tempo depois um outro psicólogo chegou e se
sentou comigo. Ele me falou que a Juliana não estava indo essa semana por um
motivo pessoal, e depois disso ficamos conversando sobre concursos na área da
Psicologia.
Quando as pessoas que estavam sendo atendidas na sala saíram, nós
entramos e ficamos com outras duas psicólogas. Uma delas ia me liberar por conta
da ausência da Juliana, mas eu acabei ficando e indo para outro setor novamente.
Como eu já havia conhecido o alojamento, e a outra psicóloga estava apenas para
demandas de abuso, eu fiquei nesse dia com o Felipe, que é responsável pela UTI
Neonatal.
Nos dirigimos para a UTI e antes de entrar o Felipe me mostrou e explicou
como funciona o preenchimento de um mecanismo que é utilizado nesse setor, o que
já existia quando ele começou a trabalhar no Hospital. Esse mecanismo também
auxilia na produção de uma pesquisa com bebês que nascem pesando menos de 1,5
Kg. Pude ler também uma entrevista, que foi criada por ele mesmo, para auxiliar nos
processos da pesquisa, que serve como um norte, um caminho para facilitar a
comunicação com a mãe do bebê, como ele mesmo falou.
Depois de conversar um pouco sobre a pesquisa nós entramos e fomos ver os
bebês. Ele me mostrou algumas informações que continham nas fichas de cada bebê,
os que não estavam participando da pesquisa, pois estavam fora do critério peso, a
forma como a divisão da sala funciona, um lado para os casos de risco maior e um
lado para os bebês que apesar de estarem lá, o risco é bem menor e falou da situação
de alguns bebês que estavam internados, me explicando alguns instrumentos que
estavam sendo utilizados neles nas incubadoras.
O Felipe falou bem rapidamente com duas mães que estavam com seus filhos,
e aparentemente estava tudo bem, casos esses que já estavam sendo
acompanhados por ele. Quando saímos, fiquei sabendo por ele que um dos casos
que estavam lá, é de um bebê que nasceu dentro de um Uber, quando a mãe estava
a caminho da maternidade, depois de sair de um hospital, onde havia ido por estar
sentindo cólica e acabou e descobrindo que estava grávida em processo de parto.
Agora ao escrever esse diário, fico me perguntando se esse caso se trata do que a
Juliana havia me contado, ou é mais um caso de uma mãe que só ficou sabendo da
própria gravidez quando estava tendo o filho.
Antes de sairmos da UTI passamos em um quarto onde algumas das mães
dos bebês internados ficam e conversamos rapidamente com as duas que estavam
no quarto, sendo que uma delas estava de alta prestes a sair
Depois ficamos por um tempo fora da UTI conversando sobre a pesquisa e a
dificuldade acerca dela, pois é complicado fazer uma pesquisa e se empenhar quando
não se tem garantia de que permanecerá no hospital, e o tempo que é certeza
trabalhar lá, não é suficiente para que a pesquisa seja considerada boa pelas grandes
revistas que publicam trabalhos.
Voltamos para a sala dos psicólogos e ficamos esperando alguma demanda,
quando ligaram e fomos até o alojamento para procurar a paciente e entender o caso,
mas não a encontramos e então seguimos para a sala do Serviço Social, quando lá,
além dessa paciente, falaram sobre uma outra que também estava precisando ser
atendida, pois estava querendo dar seu filho para adoção, pois alegava que não tinha
condições de criá-lo, apesar de querer ficar com o bebê. Ela tinha ido ver o bebê e
estava bem fragilizada, chegando até mesmo a passar mal, e como ela não se
encontrava no alojamento, provavelmente ainda estava com o seu filho. O Felipe
achou melhor atendê-la sozinho, por conta da delicadeza do caso, e foi para o
berçário para encontrá-la.
Enquanto isso eu fiquei na sala da Psicologia aguardando as outras psicólogas
voltarem de um curso, quando umas delas chegou e pediu para que eu ligasse para
as pacientes da minha preceptora que estavam marcadas para atendimento no dia
seguinte e desmarcasse com elas, avisando que a Juliana ligaria quando possível
para remarcar o atendimento. Após fazer as ligações eu voltei para a sala e logo mais
fui liberada para sair.

Diário de Campo 5 – 31/10/2017


Hoje, sem dúvidas, posso dizer que foi o meu dia mais intenso no Hospital. Não
sei se dei sorte por ser o último dia de estágio lá, mas tive a oportunidade de ver e
lidar com alguns casos bem diversos.
Como de costume eu cheguei ao hospital e aguardei fora da sala de Psicologia,
pois estava tendo oficina. Algum tempo depois chegou uma psicóloga que eu ainda
não havia visto e quis saber se eu estava aguardando alguém, me apresentei a ela e
disse que era estagiária. Rapidamente ela demonstrou e falou que já tinha ouvido
falar de mim, apesar de também estar me vendo pela primeira vez. Ela foi muito
simpática e receptiva comigo, perguntou o que eu estava achando de estar no
Hospital e mais algumas coisas. Lembro-me também dela falar que já conhecia minha
supervisora e referiu-se a ela muito bem.
Logo depois desse contato umas das psicólogas que estavam na sala abriu
para nós e falou que a Juliana já estava na sala de parto. Fui para lá e assim que
cheguei falei muito rapidamente com minha preceptora e já fomos em direção ao
necrotério com uma paciente que teve um bebê morto. Ao chegar no necrotério e
dentro da sala aguardamos o funcionário da limpeza abrir o pano em que o bebê
estava enrolado e congelado. A Juliana perguntou para a paciente, mãe do bebê, se
ela sabia a razão de seu bebê está congelado e explicou que era para conservação
para quando forem examiná-lo e investigar a causa da morte. A paciente estava bem
estável até o momento em que o pano foi completamente aberto e ela pôde ver seu
bebê. Rapidamente ele o segurou e começou a chorar, poucos segundos depois ela
disse, que não queria mais de segurar o bebê e quis sair de lá. Todas nós voltamos
para o quarto e no leito a paciente ficou com o rosto coberto por um lençol enquanto
chorava. Antes de sairmos do quarto a Juliana disse para ela e sua acompanhante
que as deixaria sozinhas naquele momento e qualquer coisa que elas precisassem
ela estaria logo ali.
A Juliana me apresentou o novo quadro na sala de parto, que reúne as
principais informações de cada paciente. Nós observamos o quadro e depois olhamos
o prontuário de uma paciente que estava internada por conta de uma doença na pele,
da qual eu não me recordo do nome, mas eram bolhas na região genital. Ela me falou
um pouco sobre a doença, de acordo com o que ela sabia através da experiência de
uma pessoa que ela conhecia. Depois me orientou como conversar com ela, alguns
pontos que eu poderia investigar e então eu fui falar com a paciente.
Ao me aproximar de seu leito, me apresentei e perguntei se poderia falar com
ela. Após seu consentimento me sentei próximo a ela e perguntei como ela estava, e
foi relatado que estava sentindo muita dor, perguntei como tinha sido o processo para
ela chegar até lá, se ela estava acompanhada, se ela já sabia se estava grávida ou
não, pois no seu prontuário dizia que havia possibilidade de ela estar gestante,
conversei com ela sobre o exame ter dado negativo e a gravidez anterior que ela
havia tido e abortado espontaneamente, segundo ela. Conversamos rapidamente
sobre como estava sendo estar nessa situação, e a todo momento ela aparentava
estar bem incomodada com a dor. Eu expliquei como funcionava o serviço de
psicologia e para que servia, disse que a qualquer momento em que ela precisasse
poderia nos chamar. Estava achando complicado continuar tentando conversar com
ela por conta da dor, não queria incomodar num momento que estava bem ruim para
ela, então perguntei se ela gostaria de falar mais alguma coisa ou sobre algo, e ela
disse que no momento não, pois estava difícil conversar enquanto sentia dor. Então
falei novamente que ela poderia chamar caso quisesse e que deixaria ela sozinha, já
que estava complicado conversar.
Após sair do quarto conversei com a Juliana e contei como havia acontecido.
Ela disse que provavelmente teria um outro atendimento para essa paciente. Logo
mais ela me falou que chegou uma mulher que achava que tinha sido vítima de abuso
sexual e eu iria acompanhar com a Carla, outra psicóloga do hospital. Percebi que
todos nós ficávamos confusos quando ouvíamos que a paciente achava que tinha
sido violentada, ao invés de afirmar com certeza do ocorrido. Alguém supôs que ela
poderia ter ingerido álcool no dia do possível abuso e por isso a incerteza.
Nós, eu, a Carla r uma assistente social, seguimos até o local em que a vítima
estava, e foi questionado se ela preferia que o atendimento acontecesse lá ou em um
local mais reservado. Ela optou pelo local mais reservado e fomos todas para lá. A
paciente pediu para que todos que precisassem ouvir a história se reunissem, pois
ela não gostaria de contar várias vezes o ocorrido.
Notava-se que ela estava bem abalada emocionalmente e que estava sendo difícil
lidar com aquilo. Ela começou a contar o que havia acontecido e várias questões
importantes da vida dela. De forma geral, a história é bem confusa e difícil de
acompanhar, principalmente por ela relatar várias coisas com referência temporal e
não ter certeza do tempo do ocorrido. O início do diálogo foi facilitado pela médica
que estava conosco e então a paciente explicou como aconteceu o suposto abuso e
o motivo de não ter certeza. Falou sobre a ralação com o marido e sua vida sexual
inativa, sobre um episódio em que havia tentado suicídio, terapia de eletrochoque que
fez na época, quando foi diagnosticada com esquizofrenia, quando recentemente um
outro psiquiatra disse que ela não era esquizofrênica, seu histórico com antipsicóticos,
sua dificuldade em se consultar com ginecologista e como ela queria manter segredo
sobre o que havia acontecido com ela, dentre algumas outras informações que foram
surgindo.
Para mim foi difícil acompanhar o que ela falava sobre uma hemorragia que
ela teve num período de desmame ou troca de remédio, tão confuso que eu não sei
nem exatamente o que ocasionou esse sangramento. Foi discutido brevemente
alguns exames que ele poderia fazer e os medicamentos que ela poderia tomar. Além
disso, ela disse que não poderia demorar muito, pois ninguém sabia que ela estava
no hospital e de lá ela iria para o trabalho. Argumentaram se não seria melhor ela
faltar naquele dia e que podiam dar um atestado para que ela faltasse naquele dia e
não tivesse nenhum problema. No começo ela não aceitou por achar que seria pior
que desse jeito as pessoas poderiam saber o que tinha acontecido com ela. Mas
depois ela mudou de ideia e ligou justificando a falta no trabalho sem revelar o que
estava acontecendo. Isso aconteceu quando estávamos apenas eu, a Carla e a
paciente na sala, pois as outras pessoas da equipe haviam terminado por enquanto
e a psicóloga pediu para ficar sozinha com ela por um tempo.
Durante todo o atendimento ela estava bem abalada, chorando bastante e muito
inquieta.
Enquanto estávamos apenas as três na sala, ela falou sobre o histórico de
depressão da família, relatando que sua mãe, duas irmãs, sendo uma adotiva, e seu
irmão tinham histórico de depressão. A conversa com a psicóloga não foi muito além
do que já havia sido dito, ela só descreveu alguns episódios sobre o dia do abuso e
o dia seguinte. Após cerca de 15 minutos nós fomos para a sala que ela iria tomar a
medicação e aguardamos até que a médica que estava a acompanhando a atendesse
para que ela tomasse a medicação.
Depois de acompanhar essa paciente fui procurar a Juliana e a encontrei na
sala da psicologia, lá ela me falou de uma paciente que estava em processo de parto
e então seguimos novamente para a sala de parto. Quando ela estava me falando
sobre essa paciente e o que eu poderia conversar com ela, passou uma enfermeira
e disse que ela não queria andar, e então eu perguntei se poderia tentar fazê-la andar.
Quando entrei no quarto me apresentei e comecei a perguntar sobre a gestação,
como ela estava e sobre o pai do bebê. A paciente estava sentindo muita contração
e estava acompanhada com a mãe. Entre uma fala minha e uma fala delas consegui
convencê-la a caminhar, quando a mãe dela lembrou que ela ainda não tinha tomado
banho, então ela foi para o banheiro e em seguida conversei com a Juliana sobre ela.
A paciente estava estável e então eu fiz a evolução do prontuário com a Juliana e nós
duas assinamos. Quando a paciente voltou ao quarto eu passei lá novamente e ela
começou a caminhar. Elas achavam que o pai da bebê não poderia visitá-las pois ele
também é menor de idade, além de não saber como iriam pegar as coisas para a
bebê, pois a paciente havia ido para uma consulta e acabou ficando internada para
ter o bebê. Eu falei que iria me informar melhor sobre essas questões e depois voltei
para informá-las.
Quando eu estava fora do quarto, a Juliana perguntou se eu iria assistir o parto,
e no momento eu não sabia se dizia que sim ou não, pois gostaria de ver, mas não
queria ficar na sala para satisfazer um desejo meu e correr o risco de atrapalhar o
processo. Acabei assistindo o parto com a Juliana e acredito que não atrapalhamos
em nada. Depois do nascimento a equipe continuou trabalhando e parabenizando a
paciente pelo nascimento do bebê. Quando estávamos prestes a sair da sala a mãe
da paciente agradeceu a todas da equipe e então nos despedimos.
Finalizei as minhas atividades desse dia bem movimentado para mim e
acompanhei a Juliana até a sala da Psicologia. Lá nós assinamos a folha de
frequência do meu estágio e ficou combinado que eu iria próxima terça, mesmo tendo
cumprido a minha carga horária, pois quando falei para a minha preceptora que esse
era meu último dia, ela perguntou se eu gostaria de continuar indo e eu disse que sim.
Antes de sair, eu agradeci a todos que estavam na sala por terem me recebido
muito bem, terem permitido que eu os acompanhasse em diversas atividades e os
parabenizei pelo trabalho que eles realizam lá, pois como disse, vi que eles são ótimos
psicólogos que atuam como reais psicólogos, que estão ali para ajudar quem precisa
da forma como eles puderem, ao invés de cumprir o trabalho simplesmente como
uma obrigação.
Acredito que, não só hoje, mas todos os dias do meu percurso no hospital até
o momento, foram de muitas experiências que levarei sempre comigo, não só
profissionalmente, mas acredito que como pessoa também, sinto que cada momento
auxilia na minha constituição como profissional e ser humano, que busca sempre
crescer e evoluir através da sensibilidade que cada experiência me traz.

Você também pode gostar