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Kant foca-se em duas vertentes: a teórica, que fala acerca do conhecimento, e a prática,

onde mostra como devemos agir. Na sua mais importante obra, “A Crítica da Razão Pura”,
Kant vai mostrar como conciliar a razão com a experiência a partir da distinção entre
conhecimentos à priori e à posteriori.
Um conhecimento à priori é um conhecimento com três características essenciais: a
universalidade, a necessidade e o facto do predicado nada acrescenta ao sujeito. A estes tipos de
juízos, em que o predicado nada acrescenta ao sujeito, chamamos juízos analíticos. Já um
conhecimento à posteriori é um conhecimento também com três características essenciais: a
particularidade, a contingencialidade e o facto de o predicado acrescentar algo ao sujeito. A
estes tipos de juízos, em que o predicado acrescenta informações acerca do sujeito, chamamos
juízos sintéticos.
Em pleno século XVIII, o conhecimento mais válido para Kant é a ciência de Newton,
porém, para o filósofo, a ciência de Newton não se encaixa nem nos conhecimentos à priori nem
nos conhecimentos à posteriori. No caso dos conhecimentos à priori, as únicas características
que se aplicam ao conhecimento científico de Newton são a universalidade e a necessidade, já
que as leis de Newton são válidas em toda a parte. Por outro lado, nos conhecimentos à
posteriori a única característica que se aplica às leis de Newton é o facto de o predicado
acrescentar algo ao sujeito. Tendo em conta isto, cabe a Kant criar um novo tipo de juízos a que
vai chamar juízos sintéticos à priori, ou seja, juízos em que o predicado acrescenta algo ao
sujeito, mas ao mesmo tempo são universais e necessários, tal como todos os juízos da ciência
de Newton. No fundo, as leis de Newton e estes juízos acabam por articular a experiência e a
razão.
Kant vai agora tentar mostrar como estes juízos sintéticos à priori são formados fazendo
a distinção entre sensibilidade e entendimento. Para o filósofo, o ser humano tem quatro
faculdades: a sensibilidade, a imaginação, o entendimento e a razão. De todas estas, apenas o
entendimento e a sensibilidade são importantes para conhecer com rigor. Para Kant, a razão e a
imaginação não têm um papel relevante no processo de conhecimento, já que considera a razão
como algo especulativo, ou seja, a razão pensa, mas não conhece e a imaginação apenas inventa
ficções e, portanto, não é capaz de conhecer.
Kant também não defende a existência de ideias inatas, mas sim que o ser humano nasce
com uma estrutura à priori que irá permitir conhecer as coisas de uma determinada maneira em
função das nossas características. Essa estrutura acaba por ser constituída pelo entendimento e
pela sensibilidade.
A sensibilidade tem o espaço e o tempo como as suas formas à priori. Por exemplo, ao
ver uma cadeira todos os seres humanos irão vê-la da mesma maneira já que todos temos as
mesmas características. Se fosse outro ser a ver a cadeira poderia vê-la de outra forma. Assim, o
conhecimento da cadeira trata-se de uma adaptação do mundo às nossas características. Dessa
forma, não conseguimos ver a cadeira fora do espaço e do tempo, ou seja, o ser humano não
consegue conceber nada fora do espaço e do tempo, sendo assim, o espaço e tempo acabam por
ser características dos seres humanos e não do mundo exterior. Para percebermos qualquer coisa
precisamos de pensar nisso em função do espaço e do tempo. A sensibilidade acaba por captar
os dados aos quais chama intuições sensíveis, enquanto que o entendimento pensa essas
intuições sensíveis através dos conceitos puros (unidade, pluralidade e totalidade).
O Homem é um ser matemático e, portanto, a matemática é que aquilo que nos permite
conhecer com rigor o mundo. Será que a realidade é matemática ou o ser humano força a
realidade a ser matemática? Kant defende que aproximamos o mundo às nossas características,
concordando, assim, com a segunda hipótese, logo ficamos a conhecer apenas uma
representação da realidade ao invés da realidade em si. Kant não é dogmático já que defende
que não temos nenhum conhecimento absoluto, mas também não é cético já que defende a
universalidade das características do ser humano.
Desta forma, Kant relaciona o empirismo e o racionalismo já que reconhece que o
conhecimento tem por base a experiência (Sensibilidade) e a razão (Entendimento). Caso não
houvesse a articulação entre o entendimento e a sensibilidade ficaríamos com conceitos vazios e
com intuições cegas e desordenadas, então, há a necessidade de haver uma ligação entre a
matéria do conhecimento (sensibilidade) e a forma do conhecimento (entendimento) para
alcançar o conhecimento assim chegando ao fenómeno. O fenómeno trata-se daquilo que as
coisas são para os humanos enquanto que o númeno trata-se da realidade e não está dependente
das características do ser humano. Deste modo, o fenómeno não passa de um juízo sintético à
priori, onde a razão é articulada com a experiência.

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