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Desde os povos antigos a morte tem uma significação diversa conforme a cultura.

Enquanto
nas culturas orientais ela é vista como o ponto máximo da evolução terrestre humana, no ocidente a
maior parte das culturas ainda hoje criam um tabu em torno dela. Para Lacan, a morte é abordada
como o Real, aquilo que não pode ser simbolizado, significado, compreendido. Talvez daí surja
nossa dificuldade em tratar dela em vida. Por consequência, não se têm uma “preparação para a
morte” e, na maioria das vezes, quando ela faz parte de um processo, no caso de não ser uma morte
abrupta, o sofrimento é imenso, pois caímos no vazio do desconhecido. Assim, falar de morte, hoje,
em nosso cotidiano, trazê-la para as rodas de conversa, torná-la presente ao menos parcialmente de
forma simbólica, pode ser uma forma de reinvenção da existência, uma forma de, pela sua negação,
apontar a vida.
Depois de morta, em nossa cultura cristã-ocidental, o que poderíamos entender como uma
“essência” da pessoa é tudo que resta. Diversos rituais dão conta do corpo como uma passagem de
momento único. O corpo perde sua função e não precisa mais de cuidados. A alma sim. A alma é
lembrada, é resgatada, é relembrada. Não à toa, corpos que passam por uma exumação causam
estranhamento, e muitas vezes, incômodo. Não ao morto, que não tem mais nada com isso, mas
àqueles que estiveram com ele em vida. Essa passagem toca numa questão Real desse corpo que
repousa em um lugar sagrado, sem interferência do mundo externo, e que de repente é violado.
Embora, o sujeito permaneça como uma aura externa ao corpo. Falar desse processo é simbolizar
essa separação, é compreender a existência como além do corpo vivo ou morto, mas das ações de
uma vida, das produções desta vida, e do legado que aquele sujeito deixa.

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