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A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ NA HISTÓRIA ( Part, Final)

Justificação Pela Fé nos Dias Atuais

Embora a resistência da Igreja Católica Romana a Sola Fide não tenha se


encerrado nas decisões do concílio de Trento, não tomaram outros rumos.
Recentemente, no entanto, apologistas católicos, em vista do crescimento do
protestantismo, têm envidado esforços para “despertar” os chamados “filhos da
igreja” que estão desviados, atacando a doutrina reformada da Justificação. Em
diversas ocasiões, os ataques desse grupo ignoram por completo os aspectos
exegéticos, demonstrando inteiro desconhecimento acerca da percepção
reformada da Justificação, trilhando caminhos de apego e apelo emocional como
no caso dos não mais presbiterianos Scott Hahn, Kimberly Hahn na obra “Rome
Sweet Home” (Roma Doce Lar), quando narram as razoes pelas quais
abandonaram a fé reformada e voltaram-se para Roma escrevendo:
A nova aliança que Cristo estabeleceu conosco, portanto, foi muito mais que um simples
contrato ou ato legal pelo qual Ele tomou os nossos pecados e nos deu sua inocência, como
explicaram Lutero e Calvino. Embora essa explicação tenha algo certo, não reflete a plena
verdade do evangelho. A nova aliança estabeleceu uma nova família que abarca toda a
humanidade com a qual Cristo compartilhou sua própria filiação divina, nos fazendo filhos de
Deus. Como ato de aliança, ser justificado significa compartilhar da graça de Cristo como filhos
e filhas de Deus; ser santificado significa compartilhar a vida e o poder do Espírito Santo. Debaixo
dessa luz, a graça de Deus se convertia em algo muito maior que um simples favor divino; era o
dom da vida de Deus e a condição de filiação divina.

Lutero e Calvino explicaram isso em termos exclusivamente jurídicos, mas eu havia


começado a ver que, muito mais que um simples juiz, Deus era nosso pai. E que muito mais que
simples criminosos nós éramos filhos fugitivos. E muito mais que uma corte judicial, Deus havia
restaurado a Nova Aliança na casa familiar.
São Paulo (a quem eu havia considerado um precursor de Lutero) ensinou que as Cartas
aos Romanos e aos Gálatas, e em outros lugares, que a justificação era algo mais que um
conceito jurídico: nos estabelecia em Cristo como filhos de Deus só por sua graça. De fato,
descobri que em nenhum lugar São Paulo ensinou que somos salvos somente pela fé. Somente
pela fé (sola fide) não estava na Escritura. Me entusiasmei muito com este descobrimento e
compartilhei em seguida com vários amigos, que se maravilharam ao constatar quanto sentido
tinha.1

Hahn, ainda no mesmo livro, menciona diálogo que teve com o reformado
Dr. Jonh H. Gerstner, dando o relato das suas impressões da conversa. O Dr.
Gerstner, do mesmo modo, apresenta sua própria versão dessa conversa, em
artigo de sua lavra: “Roma Não é o Lar Doce Lar”, onde diz:
Minha leitura da nova apresentação de Hahn da essência desse diálogo, conforme ele a
entendeu e entende, capacitou – me a vê-lo de um modo como nunca o vira antes. O que percebi
nessa leitura é que Scott Hahn nunca entendeu, e pareceu que não entende ainda, a fé
reformada da qual ele pensou que estava saindo. De fato, ele adotou uma visão anti reformada.
Isso ele entendeu, sim. Até ter lido esse relato, no entanto, eu não percebia que ele não entedia
a fé da qual ele achava que estava saído.(...)A justificação pela fé somente, mas não por uma fé
que está sozinha, é o ensino da Reforma. Esse é o ensino de Matinho Lutero; esse é o ensino
de Ulrich Zuínglio e João Calvino e da Confissão de Fé de Westminster e todos os credos
reformados de todos os tempos.Que Scott Hahn imaginasse que eu sofreria trauma por causa
da insistência de Roma em que as obras sejam ligadas com a justificação mostra que ele nunca
me entendeu a doutrina num nível elementar que seja.2

Embora apologistas romanos como Hahn continue lançando seus ataques


a sola fide o maior ataque no século XX e XXI à doutrina reformada da
justificação veio do meio protestante. Já no início do século XX Albert Scheitzer
em sua obra Die Mystik des Apostels Paulus (traduzido para o inglês em 1931
com o título The Misticismo of Paul the Apostle), diz que “a doutrina da
justificação pela fé é uma cratera secundária, formada dentro da cratera
principal, a doutrina mística da redenção por meio do estar em Cristo.”3 Por volta
de 1956 a 1957 o bispo anglicano Leonard Hodgson declarou que “a frase
justificação pela fé tem perdido sua utilidade”. Em sua opinião o conceito devia
ser descartado do nosso vocabulário teológico. Uma decisão similar pode ser
encontrada em outro bispo anglicano, Jonh Macquarrie, que sugeriu que a
tradicional ênfase protestante sobre justificação era muito exagerada. 4
Com o advento de métodos cada vez mais sofisticados de crítica bíblica,
deu-se à impressão, especialmente durante o século XX, que existia uma
disjunção radical entre a pregação de Jesus e a de Paulo, de modo que a
doutrina da justificação representou uma distorção grosseira da mensagem
essencialmente simples de Jesus. Karl Barth, considerado o maior teólogo
protestante do século XX, defendendo o cristianismo contra o racionalismo e
liberalismo teológico dos seus dias sob a influência do filosofo dinamarquês
Soren Kierkegaad descreve a fé justificadora como um salto no escuro:

Esta realidade é perceptível pela fé, e somente pela fé. [Ter fé e crer]; fé é a própria
fidelidade de Deus, ainda e sempre reiteradamente escondida por traz e por sobre todas as
afirmações, intenções e conquistas humanas perante Deus. Por isso a fé jamais é integral,
completa, pronta; nunca é dada, assegurada, garantida. Do ponto de vista psicológico a fé é um
salto no incerto, no escuro, no espaço vazio.5

Nesse sentido Barth vai na contramão dos reformadores e dos puritanos.


Mas a doutrina da justificação de Barth não é apenas oposta aos reformadores
e puritanos no aspecto da fé, mais do que isso, estendia-se a ao entendimento
acerca da justificação. Apesar de Barth falar de uma justificação pela fé somente
como ato instantâneo, não a considerava como um ato realizado de uma vez por
todas. Barth defendeu uma justificação que andava com a santificação o tempo
todo. Segundo ele, todas as vezes que o homem chegasse ao ponto de
desespero quanto as suas crenças e valores sobre os quais edificou sua vida,
dá um novo salto de fé e a justificação se renova.
No final da década de 50 do século XX a German-language New
Testament Scholarship, falava abertamente sobre a Luterinarização de Paulo
(die Entlutherisierung Pauli). Essa percepção tornou-se cada vez mais influente
no meio acadêmico Inglês, dada sua nova perspectiva sobre Paulo. Mas foi nas
últimas décadas do século XX que surgiu um grande debate em torno da relação
entre as perspectivas de Paulo sobre a justificação e as perspectivas do
judaísmo do século I. Um dos mais influentes escritores dessa chamada “nova
perspectiva paulina”, era professor da Universidade de Duke, E.P. Sanders, que
escreveu duas obras que são tomadas como base para o tema. Sua primeira
grande obra a tratar sobre o assunto foi Paul and Palestinian Judaism de 1977 e
Paul, The Law and Jewish People de 1983. Para o erudito metodista James D.
G. Dunn é a mais bem sucedida obra dos últimos vinte anos em quebrar os
paradigmas dos estudos paulinos.
Sanders observou que Paulo tem sido, muitas vezes, interpretado de
acordo com uma ótica Luterana enfatizando a diferença entre lei e o evangelho.
Na sua conhecida obra, Paul and Palestinian Judaism, Sanders parte de suas
pesquisas em material rabínico para argumentar que o judaísmo da Palestina na
época de Jesus e Paulo não era uma religião legalista, preocupada em acumular
méritos diante de Deus; antes, era uma religião baseada na graça de Deus
revelada nas alianças com Israel, especialmente no Sinai. 6 Portanto, longe de
ser legalista, o fariseu da época de Jesus e de Paulo já se considerava, por
nascimento, dentro da graça e da aliança. Ele não praticava as “obras da lei” de
forma legalista nem para justificar-se – mas simplesmente para manter-se dentro
do círculo da aliança. A conclusão de Sanders é que Paulo tem que ser
interpretado dentro do seu próprio contexto histórico do judaísmo do século I.
Dessa forma “obras da lei” não podia ser entendida como meios pelos
quais os judeus acreditavam poder ter acesso à aliança, pois eles já eram parte
dessa aliança. Antes, essas obras são uma expressão de que de fato os judeus
já pertenciam ao povo da aliança de Deus e estavam, apenas, cumprindo suas
obrigações para com a aliança. O judaísmo da época de Paulo, diz Sanders,
poderia ser caracterizado como uma forma de “nominalismo contratual”. Para ele
o “problema” de Paulo com a lei não era um problema em si – sua dificuldade
com o judaísmo da Palestina é simplesmente que o judaísmo não é cristianismo
por isso ele questiona a tradicional interpretação protestante de Gálatas dizendo
que “O ponto da discussão em Gálatas, não é se os homens, considerados
abstratamente, pode ou não conseguir através de boas obras méritos suficientes
para serem declarados justos no julgamento; trata-se da condição para os
gentios entrarem no povo de Deus”.7 Segundo Sanders, “parece ser claramente
errado dizer que Paulo, em Gl 3, defende a opinião de que, uma vez que a lei
não pode ser inteiramente observada, em consequência a justificação é pela
fé.”8 Sanders no mesmo caminho de Schweitzer e na contramão do
entendimento reformado de que a justificação pela fé estava no centro da
teologia de Paulo defende que na verdade a doutrina representa uma tática
pragmática para facilitar a missão aos gentios. A implicação procedente dessas
conclusões é que o judaísmo dos dias de Paulo não era uma religião de justiça
por obras, logo não precisaria ouvir a mensagem da justificação pela fé, ao passo
que essa mensagem faz todo sentido caso seja dirigida somente aos gentios.
Se seguirmos o raciocínio de Sanders as características básicas da
interpretação luterana e reformada acerca da justificação em Paulo estão
incorretas e precisam ser objetos de radical revisão.
Ainda que a análise de Sanders tenha servido como ponto de partida para
vários teólogos do século XX e XXI questionarem a interpretação tradicional da
doutrina paulina da justificação, vários estudiosos reformados e luteranos tem
apontado os problemas nessa abordagem da nova perspectiva. Peter
Stuhmacher, professor emérito do Novo Testamento na Universidade de
Tubingen, resume os problemas na nova perspectiva dizendo que:

A nova perspectiva não consegue dar espaço a nenhuma relação clara entre a cristologia
e a justificação. Ela não só reafirma a distinção errônea entre justificação e o misticismo de Cristo,
como não vê que essa distinção se deve a uma compreensão deficiente da expiação. As falhas
desse novo estilo de interpretação já não podem, portanto, ser desconsideradas. Ela tem o intuito
de apresentar uma alternativa a interpretação luterana e nos tem ajudado a considerar com mais
atenção o problema do anti – judaísmo (oculto) na exegese paulina. Mas também truncado
declarações de Paulo sobre justificação a cada passo a cada curva. Isso não pode ficar assim. 9

Donald A. Hagner professor do Novo Testamento no Seminário teológico


de Fuller, responde as críticas dos autores da nova perspectiva de que os
reformados têm lido Paulo pelas lentes de Lutero, quando dizem: “pode ser,
portanto, que Paulo não esteja tão longe de Lutero quanto alguns tem afirmado.
Pelo contrário, pode de fato ser que Lutero tenha sido até bom exegeta de Paulo
e sua teologia seja verdadeiramente paulina.”10 Convencido desse fato, Hagner
refuta o que ele considera ser uma interpretação equivocada de Filipenses 3.6
por parte dos proponentes da nova perspectiva de Paulo, pois alegam que o
apóstolo não experimentou uma nova fé, não trocou de religião, mas um
chamado e uma comissão para levar o evangelho aos gentios. Para eles Paulo
permaneceu judeu plenamente fiel durante toda a vida. Já que o judaísmo não é
uma religião de justificação por obras Paulo não teve de passar do legalismo
para a graça como no esquema protestante típico. Contra isso Hagner responde:

Em minha opinião, exageramos na leitura da declaração de Paulo em Filipenses 3.6:


“quanto à justiça que há na lei, eu era irrepreensível (amemptos)”, quando concluímos por ela
que Paulo estava plenamente satisfeito, tanto com a lei como com seu cumprimento dela. Aqui
ele só indica que pelos padrões dos fariseus praticantes, obtiveram um desempenho
excepcionalmente bom (cf. Gl 1.13-14). Certamente não se trata de nada em que pudesse
confiar. Pelo contrário, todas as suas credenciais e esforços resultaram em lixo sem valor, já que
passa a dizer, colocando-se em completa dependência de Cristo... “Não tendo justiça própria
que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo” (Fp 3.8-9). Timo Laato demostrou
como Paulo critica a soteriologia judaica pelo aspecto antropológico. Laato mostra como, contra
a opinião judaica otimista, Paulo entende que a natureza humana é dominada pelo pecado e
pela carne. Laato observa que Robert Grundry já havia chegado a uma conclusão semelhante
acerca da importância da fraqueza humana dentro do conceito paulino da salvação. A
consequência é que Paulo abandonou o sinergismo da soteriologia judaica pelo monergismo da
dependência total da graça de Deus em Cristo. Laato conclui corretamente em minha opinião,
que Paulo assim repudia o conceito judaico da justificação e a soteriologia judaica.11

Mais recentemente, N.T. Wright também questiona (embora em termos


diferentes de Sanders e seus seguidores) a interpretação reformada e luterana
da justificação. Wright apresenta uma série de inovações na sua doutrina da
justificação, mas, ao que nos parece ser um caminho de volta para Roma. O que
mais chama a atenção, e o ponto em que ele afirma que a justificação futura se
baseará em obras, conforme Piper denuncia:

Wright faz declarações assustadoras com o sentido de que a nossa justificação futura se
baseará em obras. “O Espírito é o caminho pelo qual Paulo traça o curso da justificação pela fé
no presente até a justificação, pelo desempenho ao longo de toda a vida, no futuro”. “Paulo falou
[...] em Romanos 2 sobre a justificação; final do povo de Deus com base na totalidade da vida
deles”. “A justificação presente declara, com base na fé, aquilo que a justificação futura afirmará
publicamente (de acordo com [Rm] 2.14-16 e 8.9-11) com base na vida inteira”.12
Essas alterações de Wright na doutrina reformada da justificação
provocaram reações por parte de vários calvinistas, entre esses, o próprio Jonh
Piper que em resposta a Wrigth escreveu: O Futuro da Justificação, obra em que
refuta e reafirma a posição clássica da justificação apresentada pelos
reformadores e os puritanos reiterado por obras e artigos recentes de Teólogos
reformados como Ronald Hanko em sua definição de Justificação:

Justificação envolve o status (estado, situação) legal de uma pessoa, isto é, a posição
de uma pessoa diante da lei e diante de Deus (Salmo 130:3). Este status ou posição legal
determina se desfrutaremos certos direitos e privilégios ou seremos punidos. Quando uma
sentença é expedida por qualquer juiz, há somente duas “posições” possíveis: culpado ou
inocente, injusto ou justo. Na justificação de pecadores, Deus como juiz declara-os inocentes de
qualquer pecado ou crime (Nm 23.21; 2Co 5.19).13

Hoje, enquanto vários teólogos protestantes, surfando na onda da “nova


perspectiva paulina” tem tentado obscurecer o conceito de justificação resgatado
pela reforma do século XVI, outros continuam apegando-se a ortodoxia
protestante perseverando na sola fide. Wayne Grudem, por exemplo em 1984
na sua teologia sistemática reconhece que “a correta compreensão da
justificação é absolutamente essencial para toda a fé cristã” 14.
Ele não seguiu as novidades trazidas pela nova perspectiva paulina, mas
permaneceu na ênfase dada pelos reformadores: “é fundamental para a
essência do evangelho insistir que somos declarados justos por Deus, não por
nossa justiça ou santidade, mas em função da perfeita justiça de Cristo, a qual
pertencemos”15.
Ainda mais recente o Dr. Michael Horton em um artigo sobre a justificação
pela fé faz um alerta de como muitos evangélicos estão se desviados do conceito
de justificação defendido pelos reformadores e as confissões reformadas:
Nossa cultura terapêutica de sentir-nos cada vez melhor é contraria à pregação da cruz
e a nossa sociedade consumista fez da doutrina (da justificação pela fé) um pária. Uma
característica mais desconcertante deste desenvolvimento, que tem afetado igrejas
professadamente confessionais, é o silencio a seu respeito. Tem havido poucos protestos
audíveis. Até teologias mais contemporâneas a respeito da cruz promovem o padrão de Jesus
como modelo, mas a própria justificação é raramente descrita em harmonia com o padrão da
reforma, mesmo por evangélicos conservadores (...) A maioria deles são conservacionistas
apegados a versões arminianas da ordo salutis, que estão muito mais distantes da teologia da
Reforma do que esteve o Concilio de Trento. Onde a cruz estava, agora há um vácuo. Hoje, o
evangelicalismo parece mais com Erasmo do que com Lutero.16

Concluindo esse capitulo é valido mencionar uma outra obra abordando o


pensamento de Paulo que vai no sentido oposto ao de Sanders e seus
seguidores. Herman Ridderbos o respeitado erudito que foi catedrático de Novo
Testamento da Universidade Teológica das Igrejas Reformadas em Kampen
escreveu 1966, a obra que é por muitos considerada definitiva sobre o
pensamento do apostolo Paulo. Nela, Riddebos explicando a justiça de Deus em
Cristo a luz de Romanos 3.24 aponta para o mesmo caminho trilhado pelos
primeiros cristãos resgatados na reforma e ratificados pelos puritanos:
O que é de importância particular para nós nesse contexto é que, aqui, a justificação é
fundamentada na morte de Cristo. Além disso, fala-se da justiça de Deus num sentido
diferenciador. Deus fez de Cristo um meio de propiciação em sua morte e, desse modo,
manifestou sua justiça em sua morte. Com isso, não é possível entender outra coisa senão que
Deus mostrou o poder de adjudicação de sua justiça em Cristo ao dá-lo a outros como meio de
propiciação na morte. É acrescentada a isso a ideia de que até esse momento Deus não havia
dado o devido castigo pelo pecado dos homens, mas estes haviam sido passados de geração
em geração à medida que ele reteve seu julgamento. Agora, “no tempo presente”, Deus
abandonou, entretanto, essa atitude de espera e mostrou sua justiça vindicadora na morte de
Jesus. Aqui, mais uma vez, o apóstolo elucida claramente o significado histórico-redentor da
morte de Cristo, no sentido de que o julgamento divino sobre os pecados do mundo foi, por assim
dizer, ajuntado na morte de Cristo e desse modo, o eschaton tomou-se presente. Assim como a
ressurreição de Cristo é o irromper da nova criação (2Co 5; ver acima, pp. 56ss), também o
julgamento final de Deus tomou-se manifesto em sua morte. Desse modo, Deus justificou-se a
si mesmo em relação ao mundo dentro dele e ao mesmo tempo tomou conhecida, revelou, a
justiça que é necessária para que aqueles que têm fé em Jesus possam ser julgados por Deus.
Porquanto assim como o abandono de Cristo em sua morte ocorreu por causa de nossos
pecados, também sua ressurreição ocorreu para nossa justificação (Rm 4.25). Assim como a
morte de Cristo foi uma demonstração do julgamento justo de Deus, sua ressurreição foi a
demonstração e prova da justiça absolvida de Deus, sendo desse modo revelação de justiça no
sentido de Romanos 1.17; 3.21.17

A discussão em torno do tema da justificação está longe de acabar, mas


a bandeira da “sola fide” continua tremulando na igreja. Todas as ocasiões na
história em que a jactância humana se levantou para apresentar algum mérito
para sua justificação, Deus levantou seus servos para anunciar o seu evangelho
que justifica o homem pela fé somente, independente das obras da lei.

Josué Marcionilo

1 HAHN SCOTT & KIMBERLYN. Rome, Dulce Hogar. Nuestro Caminho al Catolicismo.9ª
Ed.Madrid.Ediciones RIALP.2003.p.46
2 JR MACARTHUR JONH. Justificação Pela Fé Somente.1ª.Ed.São Paulo. Cultura Crista.
1995. p.128,132
3 SCHWEITZER ALBERT. The Mysticism of Paul the Apostle.1ªEd.New York.
Seabury.1931.p.225
4. MACGRATH ALISTER E. Iustitia Dei: A History of Christian Doctrine of Justification.
3ªEd. New York. Cambridge University Press. 2005 p.407
5 BARTH KARL. Carta aos Romanos.5ªEd.São Paulo. Fonte Editoral.2008.p.147
6 SANDERS, E. P. Paul and Palestinian Judaism: a Comparison of Patterns of
Religion. Augsburg/London: Fortress Press/SCM, 1977.p.442
7 SANDES E.P. Paulo a Lei e o Povo Judeu. São Paulo. Academia Cristã & Paulus. 2009.p.30
8 ibid.p. 43
9 STUHMACHER PETER & HAGNER A. DONALD. Lei e Graça: Uma Resposta Polemica em
Torno da Doutrina da Justificação.1ªEd.São Paulo. Edições Vida Nova. 2002.p.54
10 Ibid.p.117
11 STUHMACHER PETER & HAGNER A. DONALD. Lei e Graça: Uma Resposta Polemica em
Torno da Doutrina da Justificação.1ªEd.São Paulo. Edições Vida Nova. 2002.p.114-115
12 PIPER JONH. O Futuro da Justificação.1ª Ed. São Paulo. Tempo de Colheita. 2014p26
13 HANKO RONALD. Disponivel em: www.monergismo.com. Acessado no dia 15/06/2014
14 GRUDEM WAYNE. Teologia Sistemática. São Paulo. Vida Nova.2007.p.1126
15 GRUDEM WAYNE. Teologia Sistemática. São Paulo. Vida Nova.2007.p.1133
16 HORTON MICHAEL. A Justificação Ainda é Importante? Revista Fé Para Hoje nº36. São
Paulo.2013.p.40
17 RIDDERBOS HERMAN.A Teologia do Apostolo Paulo.1ªEd. São Paulo. Cultura
Cristã.2004.p.186

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