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Capítulo I

Baldeação ideológica inadvertida ou plano maquiavélico mal concebido: dois anos de


dissensões na TFP

História de uma arbitrária e injusta “expulsão”

Ao partir para a Eternidade nosso Pai e Fundador nos deixa como herança uma especial
graça de união
Em torno de um leito de hospital, um seleto grupo de pessoas presencia a serena e
dolorosa agonia do Sr. Dr. Plinio. Nas mãos segura ele uma vela benta acesa, símbolo da Fé
que lhe iluminou os passos ao longo da vida, e um lignum crucis em que foi crucificado Nosso
Senhor Jesus Cristo. Consumido pela doença, as forças físicas o abandonaram totalmente, mas
não sua inabalável energia de alma. A confiança na Providência continua mais firme que
nunca. Se naquelas circunstâncias ele pudesse dirigir algumas palavras a seus filhos que pelos
cinco continentes mantêm erguido com ufania o estandarte da Contra-Revolução, certamente
não seriam elas diferentes das que em 6 de fevereiro de 1975 pronunciou, pouco antes de ser
submetido a uma cirurgia, à qual não sabia se sobreviveria:

Ninguém no Grupo tem idéia de como eu quero individualmente e especialmente a cada


um. Se tivessem idéia, talvez bastasse para convertê-los. Ninguém também tem idéia do desejo
intensíssimo que eu tenho da conversão de todos e de cada um. No momento em que me
apresente perante Nossa Senhora, peço a Ela perdão por todas as minhas faltas e pelas de todos
os meus amigos, de tal modo que no Céu tenham uma união de que eles não podem sequer ter
uma idéia. Se for do desígnio de Nossa Senhora que eu vá para o Céu, peço com toda a alma
que Ela faça junto a cada qual o que eu mesmo faria e de modo muitíssimo incomparável.
Termino dando a todos uma bênção do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.

Às 18h20 nosso Pai e Fundador exala o último suspiro.


Naquele instante dois julgamentos se iniciam, um no tempo, outro na eternidade. Após a
morte, a serena fisionomia do Sr. Dr. Plinio, na qual um ligeiro sorriso se esboça, não nos deixa
dúvidas quanto ao resultado do seu Juízo particular. O Supremo Juiz certamente lhe terá dito
aquelas doces palavras do Evangelho:

Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do

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mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e
me recolhestes; estava nu e me cobristes; enfermo e me visitastes, estava no cárcere e viestes
ver-me.(1)

Mas também para os presentes iniciava-se outro tipo de julgamento, como nos tinha
advertido o próprio Sr. Dr. Plinio. Quando ele morresse, afirmava, todos nós seríamos julgados,
porque teria chegado o momento de prestar contas por tudo quanto tínhamos aprendido dele ao
longo dos anos.

Esse demônio interno se chama saudades das cebolas do Egito. O sujeito tem saudades
da porcaria que ele tinha antes. Por exemplo, gosta mais da conversa que ele teria na bomba de
gasolina do que da conversa que ele tem comigo. Porque a minha conversa eleva, e ele não
quer elevar-se. Ele quer fazer assim pequenos vôos de morcego, mas não quer chegar até as
nuvens. É o mundo aí fora. Quer dizer, é a Revolução. Mas a Revolução sob esse aspecto,
considerada assim.
Então, constante tendência: objetar contra mim. Objeção, objeção, objeção. Em certo
momento, saturação. [...]
Agora, eles manifestam, de vez em quando, um certo temor de que eu morra, e deixe
esse caminho assim... Mas eu pergunto o seguinte: o dia de minha morte que juízo seria para
eles?
No dia em que eu morrer vocês serão julgados, porque está encerrada uma coisa. Vocês
virem com história de dizer que não terá quem lhes guie, etc., etc...
A resposta de Deus é:
— Já tiveram! Reddite rationes vestras! Prestem suas contas! Tantos anos! Agora estão
clamando contra Mim porque não é capaz de se dirigir, porque Eu não mando outro. Preste
conta de 30 anos de sua vida!
De um jeito ou de outro, eu morrendo, o sujeito é julgado. Aí pode ser que sobrevenha
um esquecimento completo — muito fácil de acontecer — ou elogios hiperbólicos, mas que
não resolvem o caso. Quanto mais elogiarem, tanto mais acumulam a montanha das acusações
contra si: se você viu isso, porque você não agiu en conséquence?(2)

Com efeito, naquele quarto de hospital estavam pessoas que com nosso Pai e Fundador
haviam convivido quase diariamente ao longo de 30, 40, 50 anos, e até mais. Chegara o
momento de fazer render os talentos recebidos.

1
Mt. 25, 34-36.

2
Almoço de 20/1/89.

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Porque será como um homem que, partindo para longe, chamou os seus servos e lhes
entregou os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um
segundo sua capacidade, e partiu logo. Foi-se pois o que havia recebido cinco talentos, e entrou
a negociar com eles e lucrou outros cinco; do mesmo modo também o que havia recebido dois,
lucrou outros dois; mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou a terra e escondeu o
dinheiro do seu senhor. Porém, depois de muito tempo, veio o senhor daqueles servos, e
chamou-os a contas.(3)

Para a família de almas da TFP, no seu conjunto, uma nova era se abria, na qual,
confiantes na proteção de Nossa Senhora, teríamos que caminhar por nossos próprios meios e
assumir, ante Deus e os homens, a responsabilidade das decisões tomadas. Nas mãos dos
dirigentes das TFPs estava o futuro desta Obra monumental fundada pelo Sr. 20Dr. Plinio. Mas
se a todos nos dilacerava a alma a dor pela perda sofrida, alentava-nos o clima de união, que
reinava no Grupo. Parecia que, em conseqüência do sacrifício aceito por nosso Pai e Fundador,
uma graça especialíssima havia tomado conta de todos. Esquecidos os antigos pontos de
discórdia, parecia possível, e até fácil — sob a proteção especialíssima do Sr. 20Dr. Plinio, da
Eternidade — dar continuidade à atuação empreendida por ele, desde que se mantivesse a todo
o preço essa união, tão recomendada por ele no fim da vida. E em seus últimos dias, já no
hospital, chegou ele a ressaltar a necessidade de todos permanecerem não só unidos, mas
também “juntos”.
De encontro a estas esperanças, que não pareciam vãs, veio a auspiciosa mensagem dos
membros da Martim ao Sr. João Clá, transmitida por meio do Sr. M. Navarro, de que, a partir
daquele momento, eles eram “um com o Sr. João”.
O clima de bênçãos, das reuniões que se seguiram no Auditório de Nossa Senhora
Auxiliadora, pareciam confirmar essas esperanças. Tratava-se então de pôr todo o empenho na
expansão da obra do Sr. Dr. Plinio, a fim de fazer render os talentos...

Uma pena desproporcionada para punir um delito inexistente: precipitação ou falta de


sabedoria?
Pouco tempo depois, recebo do Sr. João Clá a missão de assumir o cargo de Encarregado
de Disciplina do Êremo de Jasna Gora. De si a tarefa era bastante difícil. Nesse Êremo, como
era do conhecimento geral no Grupo, localizavam-se alguns focos de resistência ao espírito do
Fundador, os quais, embora muito restritos, não deixavam de ter importância.
Imediatamente, tomei consciência do alcance de minha função para o bom entendimento
mútuo dentro da TFP brasileira. Tanto mais que lá residia o vice-presidente da entidade, com
funções de presidente, recentemente eleito pelo Conselho Nacional.
Nessa posição privilegiada, eu deveria fazer todos os esforços para facilitar o mais
possível o bom relacionamento entre o Dr. Luiz Nazareno e o Sr. João Clá. O que me parecia
indispensável para a continuidade da Obra do Sr. Dr. Plinio. E devo dizer, com toda a

3
Mt 25, 14-19.

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sinceridade, que procurei sempre ter em vista esse objetivo.


Animado por essas perspectivas, e confiante no auxílio da Providência, o qual, ainda
mais agora do Céu o Sr. Dr. Plinio não deixaria de me obter constantemente, cruzei os portões
de Jasna Gora, para assumir minha nova função.
Passam-se dois anos...
“Expulso” da TFP, injusta e arbitrariamente, no dia 13 de outubro de 1997, deixo Jasna
Gora ao meio-dia em ponto.
O sino tocava para o Angelus e, junto com meus acompanhantes, rezamo-lo dentro do
carro que me conduzia a um destino incerto. Aquele som argênteo que ia ficando distante
evocou-me um passado que parecia definitivamente encerrado. Diante de mim as incertezas de
um futuro caótico, inseguro e convulsionado. O que será da minha vocação? O que será da
minha alma? Como farei para perseverar? Mas, sobretudo, dilaceravam-me a alma algumas
perguntas: O que aconteceu comigo não será o início de um plano? Assim sendo, qual será o
futuro da querida TFP de nosso Fundador?
Enquanto percorria o caminho rumo ao centro de São Paulo, ao menos pude gozar um
pouco da paz que os dias anteriores, tensos e conturbados, me tinham roubado. Parecia ter
acordado de um pesadelo, ou estar vivendo uma vida irreal. Seria possível que tudo aquilo
tivesse acontecido de verdade, dentro dos muros benditos da TFP, entre irmãos de vocação?!
Inacreditável!...
Naquela triste circunstância veio-me à mente o infame estrondo político-publicitário
contra o Grupo da Venezuela, em conseqüência do qual a TFP seria proscrita ilegalmente
daquele país, tendo os membros do Grupo que fugir de sua pátria, permanecendo no exílio até
hoje os que se mantiveram fiéis.
Apesar de que posteriores sentenças judiciais reconheceram a inocência da TFP, a
situação do país é tal que se algum de nós pretender voltar à Venezuela, só o poderia fazer
como “apóstata” ou à procura da palma do martírio.
Foi em reconhecimento explícito da fidelidade que os venezuelanos tiveram ao Sr. 20Dr.
Plinio, que nosso saudoso Fundador reuniu-os em torno de si, e lhes concedeu a Sede do Reino
de Maria como lugar de refúgio no exílio.
Lembro-me emocionado que, estando em Lima, no ano de 1985, num telefonema, nosso
Pai e Fundador disse-me que Nossa Senhora tinha poupado do estrondo vários venezuelanos
que naquele momento estávamos fora da Venezuela, mas que deveríamos prepararmo-nos,
porque Ela nos proporcionaria um sofrimento análogo ao que passaram os nossos compatriotas.
Pensava agora que, exatamente no décimo-terceiro aniversário do começo do estrondo
(6 de outubro) e na Sede do Reino de Maria, fora convocado para uma reunião onde começou a
desabar sobre mim um sofrimento não menor do que devem ter sofrido meus irmãos
venezuelanos...
Naquele dia, naquele local, passei a ser punido por me recusar a abandonar a prescrição
do Sr. Dr. Plinio: “Procurar a unidade entre os membros do Grupo”.
Com efeito, sem admoestação prévia, sem direito a me defender, sem serem
apresentadas provas nem testemunhas, fui acusado de exercer uma “influência má”, suspenso
das funções de Encarregado da Disciplina de Jasna Gora e compelido a sair daquela sede, por

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causa de uma “dissonância” com relação à interpretação dos difíceis momentos pelos quais está
passando a TFP. E depois disso, por não ter acatado uma arbitrária determinação de abandonar
imediatamente a casa, fui “expulso” da própria TFP...
Recorrer aos Céus com a mesma insistência de meu Pai e Fundador, foi a disposição
que, na minha triste situação, tomou conta de minha alma conservando, porém, uma certeza; eu
não estou fora da TFP. Os senhores membros da Martim, por maior que seja a autoridade de
que se acham investidos, não têm o poder de me excluir de nossa família de almas nas
condições em que o fizeram.
“Expulso” injustamente da instituição à qual dediquei e dedico toda minha vida e todas
as forças de meu ser, continuarei a amá-la de todo o meu coração, perdoando, de antemão a
todos aqueles, que, pondo em risco até a salvação de minha própria alma, tão cruelmente me
ofenderam e prejudicaram.
Naturalmente, comecei a fazer uma análise retrospectiva de minha atuação na TFP, e até
de minha vida. Para trás ficavam mais de vinte anos de serviços prestados à Obra da
Contra-Revolução. Quantas graças recebidas nas missões apostólicas que o Sr. 20Dr. Plinio me
dera: Costa Rica, Peru, Encarregado de Disciplina de São Bento, estrondo de Porto Alegre,
onde, lado a lado com o Dr. P. Xavier e o Sr. João Clá, tive a honra de trabalhar na defesa do
Sr. Dr. Plinio. Sobretudo no atendimento médico ao próprio Sr. 20Dr. Plinio, que a par da
grande responsabilidade que isso implicava, me proporcionou um inefável convívio com ele,
até o momento de exalar seu último suspiro no hospital. A tal propósito, não posso deixar de
assinalar a alegria por ter conseguido, após amplas e laboriosas pesquisas, mitigar o severo
regime alimentício ao qual, durante mais de 20 anos, havia se submetido o Sr. Dr. Plinio.
Não resisto a deixar de transcrever aqui uma das dedicatórias que nosso Pai e Fundador
me fez no livro “Preces” (4):

Ao meu caro Ramón, médico exímio, filho devotado, igualmente benfazejo para a boa
saúde e o bom paladar.
In Jesu et Maria,
Plinio

Quanta paternalidade, quanto afeto no trato, quantas saudades...


Pensava eu, ingenuamente, que aqueles que sucederiam ao Sr. 20Dr. Plinio, nos cargos
estatutários, dariam continuidade a esse riquíssimo patrimônio espiritual herdado do Fundador,
e seriam imagem viva dele. Quanta decepção ao defrontar-me com a dureza de seus
sentimentos e a implacabilidade fria de suas decisões movidas quase exclusivamente pela
ambição de dominar a qualquer preço e quanto antes a TFP! O castelo de cartas de minhas
cândidas ilusões desmoronou-se irremediavelmente. Trata-se agora de enfrentar a realidade.
Nestes lamentáveis episódios por mim vividos, pude constatar que, para a nova diretoria
estatutária da TFP brasileira, autoridade resume-se no direito irrestrito de dar ordens aos
4
Livro elaborado sob a direção do Sr. João Clá, o qual passou, na prática, a ser o livro de orações dos
membros do Grupo, inclusive dos membros da Martim.

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subordinados, sem levar em conta o bem da Causa contra-revolucionária nem as necessidades


espirituais deles, o modo de ser de cada um, as considerações que tenham a fazer,
contrariamente ao modo de proceder paternal e afetuoso do Sr. 20Dr. 20Plinio. A quantos
desvios se presta aquele singular método de governo... Se o Sr. Dr. 20Plinio tivesse procedido
assim com eles, quantos teriam ficado no Grupo? Todavia querem eles impor aos outros um
jugo muito mais pesado do que aquele que não tiveram coragem nem forças para carregar.
No que teria errado eu em minha atuação? Se nada fiz de mal e mesmo assim chegam ao
extremo de me “expulsar” de forma tão cruel, será de fato possível obter a união sem um
milagre?
Eu fui o primeiro, quem será o próximo? Se as coisas continuarem assim, a TFP será
destruída, pois não nos unirá mais uma mesma Fé e o afeto desta decorrente, mas apenas o
pavor de ser “expulso” da TFP, por ter causado algum desagrado à diretoria. Isto não é união
baseada no afeto, mas apenas um triste viver sem objetivo, sob um mesmo teto. E, é preciso
dizer, esta não é mais a TFP.
Expulsão da TFP é quase sinônimo, para quem tem a nossa vocação, de ser catapultado
para o Inferno. Como perseverar na prática dos Mandamentos e na vocação, nos dias de hoje,
neste mundo repleto de fatores de perdição? Mas é também ser lançado do dia para a noite na
miséria mais negra. Pois quase todos nós renunciamos a fazer carreira para nos dedicar à
Causa. Fora da TFP não temos aonde ir, nem o que fazer.

Dissonância com o Quidam de Jasna Gora: uma acusação vaga que ninguém conseguiu
definir
Afinal, qual o verdadeiro motivo de minha “expulsão”?
A simples leitura do comunicado(5) subscrito pelo Dr. Paulo Brito e enviado a todas as
TFPs do mundo, é suficiente para perceber que foram cuidadosamente omitidos todos os fatos
ou razões desfavoráveis à atitude tomada por alguns diretores da TFP e que facilmente poriam
a nu a falta de fundamento de sua atitude. Por exemplo, alega o Dr. Paulo Brito que houve um
“motim caracterizado”. O termo, tipicamente militar, cujo inspirador não é difícil identificar,
implica na existência de amotinados. Onde estão eles? Por que não foram também “expulsos”,
uma vez que teriam participado ativamente do mesmo “delito”? E o que justifica tanto rigor em
relação a mim, e tanta indulgência para os “cúmplices”? Também é omitido um caso muito
mais grave do que o meu, sob certo aspecto, cujo desenrolar foi concomitante: a reclusão
forçada do Sr. Fernando Larrain, sob pena de “expulsão” de Jasna Gora.
Desnecessário será dizer que essa absurda imposição viola não só os costumes vigentes
na TFP, mas também o Direito Natural, o Direito Canônico e o Direito Civil, constituindo
abuso de autoridade e sendo portanto totalmente nula.

***

5
No final, em adendo, encontra-se a íntegra desse comunicado

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BOX

CONSULTA DE CONCIENCIA
1. El Sr. Fernando Larrain tiene 53 años, es celibatário, con estudios universitarios, y
colabora voluntariamente a tiempo integral, desde hace 27 años con la Sociedad Brasileña de
Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad — TFP, siendo socio de ella y a ella dedicado su
vida por vocación de índole religiosa.
La Sociedad Brasileña de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad — TFP, se
define como una asociación integrada por fieles laicos, orientados por la doctrina tradicional
del Supremo Magisterio de la Iglesia, para actuación en el campo temporal. Tal actuación, la
entidad la ejerce bajo su única y exclusiva responsabilidad, y estructurada según la legislación
civil.
La asociación tiene como finalidad la preservación de la Civilización Cristiana, en lo
que se refiere directamente al orden temporal, o en lo que está indirectamente relacionado con
dicho orden. La TFP tiene en vista, en ese sentido, no sólo al socialismo y al comunismo —
adversarios irreconciliables de los principios del orden natural y de la moral católica — sino
todos los demás factores de deterioración de la sociedad actual. De ahí su lema: Tradición,
Familia, Propiedad — pilares de la Civilización cristiana.
Juridicamente, la TFP constituye una realidad de naturaleza mixta: si se la considera
desde el ángulo de las leyes del Estado, es una sociedad civica de fines no económicos, regida
por estatutos civiles; si se la mira bajo el prisma del Derecho Canónico, constituye una
consociatio privata de fieles, sin personalidad jurídica eclesiástica y sin inserción en el
ordenamiento jurídico canónico por cualquier forma de reconocimiento o erección.
En efecto, fué constituída por libre acuerdo de fieles entre sí (canon 299 Ê 1), en el uso
de su derecho de fundar y dirigir libremente asociaciones para fines de caridad o piedad, o para
fomentar la vocación cristiana en el mundo (canon 215); para impregnar y perfeccionar el
orden temporal con el espíritu del Evangelio ( canon 225 Ê 2); para la animación con espíritu
cristiano del orden temporal (canon 298 Ê 1); en fin, para trabajar en el sentido de que el
mensaje divino de salvación sea conocido por todos los hombres en todo el mundo (canon 225
Ê1).
Y no solicitó el reconocimiento canónico a ninguna autoridad eclesiástica (canon 299 Ê
3), ni intentó obtener personalidad jurídica eclesiástica (cánones 310 y 322).
2. Para el mejor cumplimiento de sus finalidades, la entidad mantiene, entre otras cosas,
casas de estudio, trabajo, formación y oración, donde moran los miembros que a ellas
voluntariamente deseen pertenecer.
En una de estas residencias, llamada de Jasna Gora, vive y trabaja hace 22 20años el Sr.
Fernando Larrain en perfecta armonia con los directores de la Institución, de la Casa y con los
otros habitantes de esta.
3. El dia 6 de octubre de 1997, el Sr. Fernando Larrain fue convocado por un director
nacional da la TFP brasileña quien le comunicó la exclusión de la casa del entonces encargado
de la disciplina y que para él, Sr. Larrain, poder continuar a morar, estudiar y trabajar en su
actual residencia debía pasar a llevar un nuevo régimen de vida que llamó de “Camáldula de

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clausura restricta”.(6)
Durante esta conversación, como en otras que se siguieron, los directores de la TFP
reconocieron explicitamente que no había contra el Sr. Larrain acusación alguna sobre su
ortodoxia católica, sobre su moral y buenas costumbres, ni indisciplina o falta cualquiera al
respeto debido a las demás personas. La causa de la medida era exclusivamente por
divergencias de opinión sobre la orientación a dar a la referida Casa de Estudios y otras
divisiones sobre el modo de dirigir la Sociedad en general, surgidas en los últimos meses
dentro de la Entidad.
4. En posteriores conversaciones, intercambios de notas y mensages grabadas, tres
directores de la Sociedad determinaron que el Sr. Larrain tendría el siguiente reglamento de
vida:
— Vida interna
Silencio obligatorio y proibición de mirar otras personas. Solo puede conversar con el
director de la Casa o su secretario. La correspondencia solo puede ser dirigida a las mismas
personas. Las comidas deben ser hechas en su propio escritorio o dormitorio.
— Vida externa.
Las salidas solo pueden ser hechas con autorización previa del director de la Casa y con
la exclusiva finalidad de negocios particulares. Los telefonemas también solo pueden versar
sobre negocios particulares. Al salir no puede frecuentar otras sedes de la Entidad sin previa
autorización.
El Sr. Fernando Larrain debe, aún, hacer un relatorio semanal dirigido al mismo director
de la Casa a respecto de todas las salidas y telefonemas dados.
5. El dia 11 de octubre del mismo año, uno de los directores de la Sociedad, se presentó
en la mencionda Casa de Estudios y por vuelta de las 18 hrs. ordenó al Sr. Larrain que, a partir
de esa misma media noche, debía pasar a llevar el regimen de vida de “Camáldula de clausura
restricta” arriba descrito, bajo pena de sumaria expulsión de esta residencia.
6. El Sr. Larrain, entretanto, según los directores de la Sociedad, es libre de escoger
entre eso o irse a vivir a otra Casa de la Entidad, a una residencia propia, o abandonar la
entidad a la cual por especial vocación voluntariamente dedicó su vida.
7. El Sr. Fernando Larrain se siente coartado. O él se sometía al inusitado régimen de
vida que le era impuesto con un plazo de horas, o sería excluido de la Casa con la cual colabora
y donde mora hace 22 años. De hecho, habiendo dedicado su vida y parte de sus herencias a las
actividades de esa Casa de Estudios y a la Sociedad en general, no tiene medios económicos
para escoger un lugar adecuado a sus condiciones para residir. En las otras Sedes que la entidad
posee, el Sr. Larrain considera que no es factible él residir, por el hecho de que en ellas sería
una persona completamente ajena, donde no tiene relaciones, donde viven miembros de la
entidad de muy diferentes edades y condiciones, y dependeria de autoridades que

6
El término “camáldula” o “camaldulense”, es utilizado en la TFP para designar um régimen de vida
totalmente voluntario y, evidentemente, no exigido ni previsto por los estatutos civiles de la entidad, en el cual
algunas personas llevan una vida, durante el tiempo en que lo desearen, de especial recogimiento, oración y
estudio.

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probablemente no tendrán gusto en recibirlo.


8. El Sr. Larrain no tiene en relación a los actuales dirigentes de la Sociedad voto alguno
de obediencia, ni promesa que permita a estos imponer cual el regimen de vida que desean que
él practique.
Consultas
1. El Sr. Fernando Larrain está obligado en conciencia a obedecer las órdenes dadas a
respecto de su modo de vida sobre clausura, silencio, proibición de mirar otras personas, de
tener libre correspondencia y de tratar sobre temas que no sean sus negocios particulares?
2. Es moralmente lícito a los directores de la Sociedad imponer tales órdenes bajo pena
de exclusión de la Casa de la cual, por su vez tendría que salir, bajo pena de exclusión de la
Sociedad?
3. Independiente de las circunstancias concretas, de acuerdo a la moral católica, una
autoridad puede, bajo cualquier forma de presión, que no sea un mero consejo, constreñir a un
súbdito a llevar un régimen personal de vida que implique clausura, silencio, o proibición de
libre correspondencia, etc., como el caso arriba descrito?
Respuesta a la consulta de Don Fernando Larrain
I - Respecto a las preliminares de la presente consulta de conciencia digo lo siguiente:
A) Respecto al punto 3. ¿Qué autoridad tiene ese “director nacional” para imponer una
Camáldula de clausura restricta?
B) Respecto a los reglamentos de la vida interna del punto 4, tengo que decir que no se
puede imponer esa obligación a nadie que no quiera aceptarla libremente.
Respecto a las imposiciones sobre la vida externa: las considero un gran abuso, de una
autoridad que no se tiene.
C) Respecto al punto 5 es de preguntarse: ¿Qué autoridad tiene ese director para ello?
D) Encuanto al punto 8. No tiene obligación de obedecer el que no tiene voto u
obligación de hacerlo.
II - Respecto a las “Consultas”, tengo que decir:
A) A la nº 1. ¡De ninguna manera! Todas esas exigencias coartan la libertad y atentan
contra la dignidad humana y sus derechos fundamentales.
B) A la nº 2. No es lícito moralmente.
C) A la nº 3. ¡De ninguna manera! Por las razones indicadas. Es un atropello de la
libertad y de la dignidad humana.

Madrid, 21 de Noviembre de 1997


Fray Antonio Royo Marín O.P.

***

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Ambos os casos têm de ser vistos juntos, pois as razões que levaram esses diretores da
TFP a investir contra nós são as mesmas.
Afirma o Dr. Paulo Brito em seu comunicado que as razões da minha destituição do
cargo de Encarregado da Disciplina de Jasna Gora estavam expostas num fax que me foi
enviado pelo Dr. Luiz Nazareno: “...o Quidam já enviara ao ED em questão circunstanciada
exposição de motivos mostrando essa dissonância”.
Alguns trechos desse documento do Dr. Luiz Nazareno são bastante elucidativos,
ajudando a descobrir as causas inconfessadas da atitude dos membros da Martim.

FAX DE DR. LUIZ NAZARENO PARA SR. RAMÓN LEON, 24.8.97

Caríssimo Sr. Ramón,


Salve Maria!
[...] Veja minha situação: durante dez anos ouvi as reservas de MS [em relação ao Sr.
João Clá]. Já lhe expliquei que não se pode considerá-las como reservas “adaptadas” a LN. Isto
porque em numerosíssimas ocasiões era MS que levantava o assunto. Em outras, MS dizia
coisas tão puxadas, que não se pode conceber (hipótese uma vez levantada pelo sr.) tratar-se de
uma “adaptação” a LN. Expliquei-lhe de viva voz que MS não poderia falar de uma eventual
morte do Sr. João, e de outras coisas pesadas, só “para agradar”. Seria totalmente inconcebível
fazer esse julgamento de MS. Seria desfigurá-lo.

Diga-se de passagem que consideração análoga é válida em relação aos muito


numerosos elogios do Sr. Dr. Plinio ao Sr. João Clá feitos de público, e que ficaram registrados
em textos de reuniões. Não se compreende, pois, que o Dr. Luiz Nazareno não os queira tomar
em conta, no juízo unilateral que faz do Sr. 20João Clá.
Continua o texto:

Além do mais há os erros e desvios de maior gravidade posteriores à morte de MS.

Por uma questão de justiça e objetividade, é preciso reafirmar que até agora nenhuma
das incontáveis e pesadas acusações e calúnias lançadas contra o Sr. João Clá pelo Dr. Luiz
Nazareno e por outros, foi comprovada. Tudo não passa de boatos, inverdades e distorções.

Com efeito, ao voltar a São Paulo após a minha viagem de março-abril notei uma
influência crescente do sr. FL sobre todo o ambiente da Casa, e, não me leve a mal, sobre o ED.
Parecia-me fundado um PDC, centrista como todos os PDCs. Aqui em Spring Grove escutei a
seguinte fórmula: centrista é aquele que se põe no centro e olha severamente um lado, e
indulgentemente o outro. Antipolítico passa a ser o que machuca um dos lados, o lado

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“coitado”. O que este lado faz de errado é preciso “compreender”; confusões a respeito da
Missa nova, apostolado feminino inteiramente oposto à conduta de MS nessa matéria,
homenagens ridículas e biriquinas a uma pessoa inteiramente sem títulos para recebê-las, sem
falar no erro que importa na crença de que essa pessoa recebeu o mandato de sucessão, etc.
A tudo isso a influência Larrain — que muito me desagrada — responderá sempre:
“tenha paciência, já passou, ele sempre foi assim, isso não tem o alcance que os Provectos e
seus seguidores atribuem, são coisas passageiras”; ou “pobre coitado, não mede as
conseqüências de seus atos”. Se uma vez obtida a UNIÃO, o conjunto ficar manchado de
biriquinismo, de imprecisões doutrinárias, de costumes não “laudandos” como o apostolado
feminino, nada disto tem verdadeira importância. A união precede a permanência dessas
manchas. “E são mesmo manchas...?”
Some-se a necessidade absoluta da assim chamada animação, vibrante e entusiasmada.
Os “povos” todos vão, coitados, morrendo à mingua se o Animador não tiver parte
majoritariamente atuante no movimento da CR.
Curioso é que não se nota essa falta em Grupos que se separaram do Animador.
Argumento que no entanto de nada serve aos centristas, pois são tomados de um misterioso
apego e uma verdadeira compaixão pelo Animador caso venha a perder novas áreas.
Nunca os centristas consideram que o Animador deseja uma paz que só encontra o seu
verdadeiro modelo na “pax soviética”: tudo bem, desde que ele esteja por cima com a parte do
leão e pronto a abocanhar aquilo que a “pax” não lhe deu ainda. Trata-se de pessoa que há
décadas, ou desde sempre é exclusivista, personalista e, época houve em que ele confessou que
só era capaz de agir assim.
Não parecem também considerarem os centristas que o “partido da animação” visa
muito mais o simples viver animado (ainda que com as manchas acima mencionadas) do que a
estrita fidelidade a todas as características bem claras e definidas do espírito de MS e de seu
modo de tocar a CR.
Sr. Ramón, perdoe-me o desabafo. Acontece que fui encontrando forças para dizer
coisas que — oralmente — correriam o risco de serem empanadas por um ânimo exaltado de
momento.
O sr. FL tem realmente influência na Casa e aos poucos adquiriu também influência no
dedicado médico e ED, que é o nosso Dr. RALI. É claro que o Sr. vai se defender. Saiba porém
que tenho firme convicção do que digo.
[...] Sr. Ramón, vou terminando pedindo que releve alguma paixão ou alguma “ponta”
que transpareça no que acabo de ditar.
Cumprimento-o muito fraternalmente e com saudades
in Iesu et Maria
Luiz Nazareno(7)

7
O sublinhado é nosso.

(IHS) – p. 12 de 29

Deixo de lado as críticas feitas ao Sr. 20João Clá e ao seu método de apostolado,
elogiado continuamente, de público e sem dar margem a contestação, pelo próprio Sr. 20Dr.
Plinio. Não há quem de nós não possa testemunhar a esse respeito. Minha intenção, contudo,
não é fazer aqui uma defesa do Sr. João Clá, mas sim dar a público fatos reveladores dos
critérios que norteiam o método de governo da diretoria estatutária da TFP brasileira, pondo em
risco a unidade de nossa família de almas.
É fácil constatar, no que o Dr. Luiz Nazareno escreveu, qual o fundo de quadro de seu
pensamento. Segundo ele, o grupo está dividido em direita, centro e esquerda. A direita seria
ele, e a esquerda o Sr. João Clá. Centristas são todos os que não querem que haja discórdia na
TFP, e portanto fazem o possível para evitar disputas. É exatamente a situação do Sr. Fernando
Larrain, bem como a minha: não fizemos mais que evitar o estabelecimento em Jasna Gora do
ambiente de discórdia que passou a imperar na TFP norte-americana, na francesa e em
Campos, por ser tal ambiente contrário ao espírito do Fundador.
Para o Dr. Luiz Nazareno, esses “centristas” seriam esquerdistas velados, “agentes” do
Sr. 20João Clá, em relação aos quais é necessário ser intolerante. Assim, todo aquele que não
aderir declaradamente ao partido dos chamados “provectos”, é ipso facto suspeito de
infidelidade ao espírito do Fundador, e ao acervo doutrinário por ele deixado, cuja guarda lhes
compete a eles, os mais antigos do Grupo.
Este é, definidamente, o programa que a nova diretoria estatutária porá em prática nos
próximos tempos, expulsando de modo inexorável da TFP todos aqueles que não aceitem os
“provectos” como sucessores do Sr. Dr. 20Plinio. Será exigida dos membros da TFP brasileira,
a partir de agora, uma “profissão de fé” neles para poderem permanecer na instituição e gozar
do “suave jugo” de sua autoridade?
Não é difícil perceber, em face da missiva do Dr. 20Luiz Nazareno, que qualquer
tentativa de conciliação se torna infrutífera por maior boa-vontade que haja. Nem se consegue
entrever bem qual o regime que a nova diretoria estatutária quer implantar na TFP, pois nem
ela mesma revela qual será. A única coisa clara é que não se pode ter nenhum tipo de adesão ao
Sr. 20João Clá, e nem ter a “ousadia” de defendê-lo.
Esta atitude explicitada no fax do Dr. Luiz Nazareno e posta em prática na minha
“expulsão” e na reclusão forçada do Sr. Fernando Larrain contraria frontalmente as
recomendações de nosso Fundador:

Se eu morrer, o que é que vai acontecer?


Tudo, mas tudo, vai girar em torno de um só ponto: manter a coesão do Grupo; e os que
assumirem a tarefa de manterem a coesão vão carregar sobre as costas todo o peso de minha
Obra; é uma coisa tremenda! De resto, não se preocupem. Nossa Senhora resolve.( 8)

Querer impor uma unidade em torno dos membros da Martim — como se estes
personificassem a TFP como nosso Pai e Fundador personificava —, com exclusão de uma

8
Desp. de 9/2/95 ou 5/6/95, citado no documento “Sursum Corda”.

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ponderável parte do Grupo, é sinônimo de divisão. A posição intransigente por eles


demonstrada nestes últimos acontecimentos faz suspeitar que a nova diretoria estatutária se
julga investida de uma espécie de infalibilidade, legada pelo Fundador pelo simples fato de
estarem de posse dos cargos estatutários da TFP.
Quando eu recebi o fax acima transcrito, não tirei todas as conseqüências que ele sugere,
nem acreditei que o Dr. Luiz Nazareno e os demais membros da Martim fossem até o extremo
em que chegamos. Julguei que aquilo era fruto de um estado de agressividade e irritação
doentias, mas passageiras. No entanto, minha “expulsão” não deixa margem a qualquer dúvida
de que se tratava de uma atitude deliberada, firme e convicta, mais do que de um estado
doentio.
Certas afirmações do Dr. 20Luiz Nazareno nos últimos dias não fizeram senão confirmar
o dito anteriormente.
Foi assim que, numa conversa no dia 7 de outubro, ao lhe ser demonstrada a contradição
de suas atitudes face ao Sr. João Clá, afirmou o Dr. 20Luiz Nazareno, para se 20justificar, que
pouco depois da morte do Sr. 20Dr. 20Plinio já havia rompido interiormente com o Sr. João
Clá. Todas as suas atitudes posteriores teriam em vista tentar salvar (sic) o Sr. 20João Clá. E já
em janeiro de 1996 — apenas três meses após a morte do Sr. 20Dr. 20Plinio — tinha causado
espanto aos srs. F. 20Antúnez, M. Navarro e O. L. de Carvalho, ao falar abertamente contra o
Sr. 20João Clá.
Outro fato esclarecedor deu-se por ocasião do aniversário do Sr. 20João Clá, no dia 15
20de agosto deste ano: a inusitada, deselegante e pouco cavalheiresca atitude do
Vice-presidente da TFP brasileira em relação ao aniversariante, proibindo aos camaldulenses
de Jasna Gora o comparecimento a qualquer tipo de comemoração que se fizesse. Vê-se aí a
radicalidade da animadversão que contra ele alimentam. Falando com o Dr. Luiz Nazareno por
telefone para tratar do caso — encontrava-se ele nos Estados Unidos — ouvi a seguinte norma,
que mais parecia um ultimato: quem quisesse poderia ir à Missa a ser celebrada nas intenções
do festejado, mas isso significaria um rompimento com ele, Dr. Luiz Nazareno. Acrescentou
depois que o Sr. 20João Clá era um “anti-Plinio” (sic), e que dedicaria o resto de sua vida para
impedir que “esse mal-nascido” (sic!) tomasse conta do Grupo.
À luz destes fatos, tão expressivos como surpreendentes, torna-se fácil compreender
como se chegou ao absurdo de minha “expulsão”. Fica a lição também para os próximos da
lista. Está vigorando a lei dos suspeitos. De nada adianta tentar defender-se, provar que sempre
se acataram as determinações da diretoria, que tudo se fez em prol da união, etc. Para quem
estiver na “lista negra”, a degola será inevitável, como aconteceu ao Sr. 20Fernando Larrain e a
mim.

Primeira cena de um pesadelo


Pouco antes de 3 de outubro deste ano, os 5 membros da Martim, a saber, Dr. Eduardo
Brotero, Dr. Caio Vidigal, Dr. Plinio Xavier, Dr. Luiz Nazareno e Dr. Paulo Brito, realizaram
um simpósio para o qual convocaram de maneira muito especial o Sr. 20M. Navarro. Estiveram
também presentes o Sr. 20F. Antúnez e o Cel. Poli.
Candidamente, todos julgávamos que, após se reunirem, eles tinham chegado à
conclusão de que a atitude dura e de contenda que vinha sendo mantida desde o caso da Missa,

(IHS) – p. 14 de 29

passando pelas convulsões da TFP norte-americana e as dissensões do Norte Fluminense, etc.,


iria mudar de fisionomia, e passar-se-ia a um entendimento mútuo muito grande. E que,
portanto, o “Sursum corda”(9) e o “Habemus ad Dominum” iriam finalmente produzir seus
efeitos.
Qual não foi a surpresa quando começam a se fazer notar as primeiras medidas em
sentido diametralmente oposto.
No dia 6 de outubro, o Dr. 20Plinio Xavier convocou-nos, ao Sr. 20Fernando Larrain e a
mim, para uma conversa urgente na Sede do Reino de Maria, exigindo que ambos
comparecêssemos em separado, ou seja, eu em primeiro lugar e, logo a seguir, o Sr.
20Fernando Larrain.
Fiquei perplexo quando o Dr. Plinio Xavier, que nunca teve nenhuma atividade
relacionada com a direção de Jasna Gora, ordenou-me taxativamente que deixasse a função de
Encarregado da Disciplina e abandonasse a Sede. Tão surpreso fiquei que não opus resistência,
pois percebi que, naquela circunstância, fazer qualquer arrazoado contra uma determinação
peremptória e intransigente só poderia piorar a situação, já tão conturbada pelos destemperos
anteriores.
O fato era totalmente inusitado, pois nunca houve entre nós uma intromissão do
Conselho Nacional, enquanto tal, na vida interna do Grupo. Esta sempre se regeu de acordo
com os costumes estabelecidos orgânica e naturalmente ao longo das décadas, tendo-os o Sr.
20Dr. Plinio ratificado explícita ou implicitamente, não os modificando, e até mesmo
submetendo-se a eles. Que o Dr. Luiz Nazareno, como Quidam de Jasna Gora, de iniciativa
própria, houvesse tomado a decisão de me remover, e me tivesse chamado para comunicá-la,
teria sentido. Mesmo assim, sendo eu eremita do São Bento, tinha o Dr. 20Luiz Nazareno
obrigação de se comunicar previamente com o Sr. João Clá e obter o assentimento dele, tanto
mais que fora a pedido do próprio Dr. 20Luiz Nazareno que eu me tornara Encarregado da
Disciplina de Jasna Gora. Nunca o Sr. 20Dr. 20Plinio tomava uma decisão a respeito de algum
subordinado, sem antes consultar os superiores intermediários e obter o seu consentimento. O
bom senso mais elementar faz ver que assim se deve proceder. Caso contrário cai-se numa
concepção bonapartista de autoridade, que impõe, de cima para baixo, um nivelamento
igualitário. Todos recordarão que o Sr. 20Dr. Plinio afirma, na RCR, que a Revolução odeia
mais aos corpos intermediários e à sociedade orgânica do que à própria monarquia absolutista.

* Abolição dos corpos intermediários entre os indivíduos e o Estado, bem como dos
privilégios que são elementos inerentes a cada corpo social. Por mais que a Revolução odeie o
absolutismo régio, odeia mais ainda os corpos intermediários e a monarquia orgânica medieval.
É que o absolutismo monárquico tende a pôr os súditos, mesmo os mais categorizados, num
nível de recíproca igualdade, numa situação diminuída que já prenuncia a aniquilação do
indivíduo e o anonimato que chegam ao auge nas grandes concentrações urbanas da sociedade
socialista. Entre os grupos intermediários a serem abolidos, ocupa o primeiro lugar a família.
Enquanto não consegue extingui-la, a Revolução procura reduzi-la, mutilá-la e vilipendiá-la de

9
O teor destes documentos será explicado adiante.

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todos os modos.(10)

No encontro do Dr. 20Plinio Xavier com o Sr. Fernando Larrain, estranhamente, foi
introduzido na conversa o Sr. 20F. Antúnez, pessoa que nunca teve qualquer cargo diretivo na
TFP. Por longos anos foi encarregado da secretaria do Sr. Dr. Plinio, função essa que não lhe
dava autoridade para interferir na vida dos diversos setores da TFP, que sempre tiveram
autonomia própria. Na conversa, a função do Sr. F. Antúnez era declarar ter ouvido do Sr.
20Dr. 20Plinio a afirmação inequívoca de que a única via para o bem espiritual do Sr. Fernando
Larrain seria a de uma camáldula restrita (o que corresponde em linguagem presidiária à
“solitária”). Não deixa de surpreender essa súbita preocupação pelo bem espiritual do Sr.
20Fernando Larrain, ainda mais da parte de duas pessoas que nunca sobressaíram nos assuntos
dessa natureza. No entanto, esqueceram-se de perguntar antes ao Sr. 20Fernando Larrain se
queria ser beneficiado por suas sábias orientações, pois, por Direito Natural, cada um deve
escolher o próprio diretor espiritual. Querer forçar alguém a acatar determinações dessa
natureza constitui uma violação da liberdade de consciência.
A conversa foi muito acalorada e demorou mais de uma hora. O Dr. Plinio Xavier estava
muito nervoso; manteve-se, contudo, intransigente e radical, dizendo terem determinado “pôr a
casa em ordem”, começando por Jasna Gora. Impunham, portanto, ao Sr. Fernando Larrain a
obrigação de submeter-se ao regime de uma “solitária” ou, caso não aceitasse, abandonar
imediatamente Jasna Gora — instituição na qual vive há 22 anos e para a constituição da qual
doou boa parte dos bens por ele herdados.
O Sr. 20Fernando Larrain desejou saber por que somente agora, após dois anos do
falecimento do Sr. Dr. Plinio, ele deveria ser obrigado a levar essa vida de camáldula restrita.
O Dr. 20Plinio Xavier deu-lhe como razão estar ele exercendo “má influência” em Jasna
Gora (recorde-se o fax do Dr. Luiz Nazareno transcrito na p. .
O Sr. 20Fernando Larrain pediu que fosse definido em que consistia essa “má
influência” e quais eram os fatos que lhe imputavam. Por acaso teria feito algo de infamante
para merecer uma punição?
O Dr. 20Plinio Xavier, então, afirmou que não se lembrava de nenhum fato. O Sr. F.
Antúnez, que também não soube dizer nada, acrescentou que o Dr. 20Luiz Nazareno seria
capaz de gravar uma fita inteira com fatos nesse sentido.
Convém salientar que a vida de “camaldulense”, no sentido entendido por nós na TFP, é
uma vocação especial, de cunho essencialmente religioso, para a qual se exige uma graça muito
particular. Ninguém tem o direito de impor a uma pessoa um regime de vida como esse. O Sr.
Dr. Plinio nunca o fez.
Pelo contrário, dado o delicado do assunto, e a altíssima consagração que esse tipo de
vida implica, ele estabeleceu que quem quissese a ela aceder deveria assinar uma declaração
escrita, afirmando que o fazia por livre e espontânea vontade.

10
Plinio Corrêa de Oliveira: Revolução e Contra-Revolução; Chevalerie Artes Gráficas e Editora Ltda.,
1993, São Paulo, p. 65-66. [O sublinhado é nosso.#

(IHS) – p. 16 de 29

Ora, no presente caso se exigia, sob coação, um regime muito mais estrito do que o
existente atualmente na TFP. De tal modo tratava-se de uma invenção, alheia aos costumes da
TFP, que quando o Sr. Fernando Larrain perguntou aos Drs. Eduardo Brotero e Plinio Xavier
no que consistiria tal regime, este último respondeu, não sem uma boa dose de simplismo:
“quando o Sr. 20Dr. Plinio fez o primeiro camaldulense restrito, também não existia” (sic!).
Tal resposta mostra o desconhecimento absoluto que do tema têm os atuais diretores
estatutários, inculpando o Sr. 20Dr. Plinio de algo que nunca fez. Ele estimulou e orientou
paternalmente a graça camaldulense, mas não a impôs. Menos ainda “fez” algum
“camaldulense restrito”.
Na TFP, todos os que se tornaram camaldulenses o fizeram de livre e espontânea
vontade, e de igual modo todos os que quiseram abandonar esse regime de vida também o
fizeram quando bem entenderam. Para se pertencer à TFP nunca se exigiu de ninguém que
seguisse este ou aquele estilo de vida. Cada um escolhe o que mais lhe convém. Pode até
mesmo não dedicar o tempo integral à Causa, como acontece com alguns que trabalham fora da
TFP e levam vida própria. Uma dessas pessoas é o próprio Dr. Plinio Xavier, que durante toda
a sua vida trabalhou como diretor da Construtora Adolpho Lindenberg (CAL), até a venda
desta há pouco tempo.

Um mistério a decifrar: quem exerce, efetivamente a autoridade na TFP


De regresso a Jasna Gora, passei imediatamente a função de Encarregado da Disciplina a
outra pessoa — escolha ratificada pelo Sr. Dávila — e naquela própria noite pedi ao Sr. Dávila
que, se fosse possível, gostaria de falar com o Dr. 20Luiz Nazareno. No dia seguinte de manhã,
o Sr. Dávila me avisou que o Dr. 20Luiz Nazareno estava à minha espera. A conversa
transcorreu de modo muito cordial e durou duas horas. Nela o Dr. 20Luiz Nazareno manifestou
surpresa quando lhe disse que o Dr. 20Plinio Xavier tinha me comunicado que deveria sair de
Jasna Gora. Nessa ocasião disse-me o Dr. 20Luiz Nazareno que as razões de meu desligamento
do cargo de Encarregado da Disciplina já haviam sido expostas por ele no fax de 24 de agosto,
no qual tecia críticas ao meu relacionamento com o Sr. João Clá. Combinamos continuar a
conversa à tarde.
Em vez dessa conversa, o Sr. 20Fernando Larrain recebeu um telefonema do Dr.
Eduardo Brotero, que, aos berros — outra pessoa presente na sala pôde ouvir com nitidez as
violentas e estridentes palavras transmitidas pelo aparelho telefônico — exigia o
comparecimento do Sr. Fernando Larrain e o meu a uma outra reunião na Sede do Reino de
Maria. Neste telefonema, esse irreconhecível Dr. 20Eduardo Brotero — que até então
destacava-se entre nós pelas boas maneiras e afabilidade no trato — ameaçou o Sr. Fernando
Larrain com as seguintes palavras: “Se os senhores não comparecerem, os senhores verão o que
lhes vai acontecer!!”
Ao chegarmos ao local da reunião, o Dr. Eduardo Brotero e o Dr. 20Plinio Xavier
quiseram que o Sr. F. Antúnez novamente estivesse presente. Porém, eu não consenti, dizendo
que já conhecia bastante os irmãos dele, o Carlos e Jaime Antúnez, e ficara também muito mal
impressionado ao presenciar, em inúmeras circunstâncias, o tratamento muito pouco filial que o
Sr. F. Antúnez dava ao Sr. Dr. Plinio. Em vista disso, não admitia que ele estivesse presente.
A reunião foi inteiramente gravada com o assentimento de ambas as partes. Logo no

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início, censuram-me por ter tratado do problema de minha saída de Jasna Gora com o Dr. Luiz
Nazareno, pois, segundo afirmavam, ele não tinha condições de conversar sobre isso comigo,
pelas crises de depressão psíquica.
O restante da reunião se resume às afirmações do Dr. Plinio Xavier e do Dr. 20Eduardo
Brotero no sentido de que a TFP estaria em desordem há dois anos; de que teria deixado de ser
“TFP” há dois anos; que esta não era a TFP para a qual eles haviam entrado... Deixaram claro
que os cinco da Martim se consideram os sucessores do Sr. 20Dr. 20Plinio no âmbito da
família de almas das TFPs, no mundo inteiro — a prova dessa sucessão seria a própria palavra
de cada um deles! — e que agora vão “pôr a casa em ordem”. E não intervirão,
terminantemente, apenas na TFP brasileira, mas em todas as TFPs do mundo, com base num
hipotético poder absoluto — que o Sr. 20Dr. Plinio nunca exerceu, diga-se de passagem — e
que lhes teria sido legado.
Declararam ainda, de forma inequívoca, que a autoridade está sendo exercida na TFP de
forma colegiada pelos cinco membros da Martim. Autoridade essa que se sobrepõe à opinião
individual de cada um deles, mesmo à do Dr. 20Luiz Nazareno, vice-presidente da TFP
brasileira. Por suas próprias palavras fica pois constatado que a autoridade estatutária não passa
de mera figura decorativa, sem qualquer efetividade, na prática, pois quem decide tudo é o
auto-eleito “senado” da Martim. É muito importante deixar isto registrado.
No entanto, é oportuno recordar que, em sua visita a Campos, o Dr. Plinio Xavier
afirmou que o sucessor do Sr. Dr. 20Plinio, segundo declarações de nosso Fundador à
imprensa, seria eleito. O Dr. 20Luiz Nazareno foi eleito pelos que tinham direito a voto, e
portanto era preciso aceitá-lo, concluiu o Dr. 20Plinio Xavier.
Qual das duas versões do Dr. 20Plinio Xavier deve ser acatada? A que deixou gravada
conosco ou a que contou em Campos? Seja como for, ele confunde também as atribuições dos
eleitos pelo Conselho Nacional para cargos estatutários e os superiores das unidades de nossa
“família de almas”. Voltarei a este ponto depois.
No fim da conversa os dois diretores da TFP reafirmaram que deveríamos acatar a
decisão anteriormente comunicada: a reclusão forçada do Sr. 20Fernando Larrain e minha saída
de Jasna Gora.
No dia seguinte comecei a ordenar o meu volumoso arquivo referente a estudos
profissionais, ligados à defesa psiquiátrico-forense da TFP, bem como ao delicado aspecto de
fichas de clientes a quem dou atendimento médico-psiquiátrico.
Não pretendia ficar na cidade de São Paulo, por razões de ordem pessoal e espiritual, e,
portanto, tinha de refletir, a fim de escolher bem o lugar de meu destino. Por outro lado, como
várias vezes fiz ver ao Dr. 20Luiz Nazareno, ao Dr. 20Eduardo Brotero e ao Dr. 20Plinio
Xavier, a minha saída abrupta de Jasna Gora, bem como a destituição precipitada do cargo de
Encarregado da Disciplina, sem nenhum motivo razoável a não ser o arbítrio dos membros da
Martim, tinha algo de infamante para mim. Todos imaginariam que medidas drásticas e
inusitadas como essas deveriam decorrer de alguma falta moral grave que impedisse um
convívio normal com a pessoa culpada.
Estava eu, no sábado, dia 12, atendendo uma alta autoridade da Polícia Civil, a pedido
do Sr. Bidueira, quando, inopinadamente apareceram em Jasna Gora o Dr. 20Plinio Xavier e o
Sr. 20F. Antúnez, com dois automóveis.

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O Dr. Plinio Xavier chamou-me e me inquiriu sobre o andamento de minha saída da


casa. Respondi-lhe que estava estudando os vários oferecimentos recebidos, bem como
preparando a minha bagagem, e sobretudo meu arquivo profissional. O Dr. Plinio Xavier
sugeriu, então, dois lugares para eu ficar provisóriamente. Disse-lhe que necessitava
permanecer em Jasna Gora alguns dias, até encontrar um destino definitivo. Para meu espanto
ouço do Dr. Plinio Xavier as seguintes palavras: “Tem que sair comigo e com o Sr. Fernando
Antúnez até a meia-noite de hoje.”
E isso era imposto em nome da autoridade suprema das TFPs, ali representada pelo Dr.
20Plinio Xavier.
Estupefacto ante tal violência, procurei manter-me calmo, respondendo que eu desejava
receber essa ordem por escrito. Acrescentei que não estava recusando-me a sair de lá, mas
apenas pedia algum tempo para pensar o que fazer no futuro.
Após certo intervalo, reunimo-nos novamente e o Dr. 20Plinio Xavier deu outro
ultimato: ou eu saía até as 9 horas da manhã do dia seguinte ou estaria ipso facto expulso da
TFP.
Ora, é preciso dizer que jamais o Sr. 20Dr. Plinio, com toda a autoridade que tinha, usou
esse sistema. Nem com o O. Fedeli, nem com o A. X. da Silveira, nem com o L. F. Ablas, nem
com ninguém! Nunca houve uma expulsão da TFP por uma falta disciplinar.
Até mesmo no caso do O. Fedeli, houve uma tolerância do Sr. Dr. Plinio em relação a
ele, que a todos deixou admirados. Com efeito, mesmo depois das declarações que fez pelos
jornais contra o Sr. 20Dr. Plinio, não foi tomada nenhuma medida concreta contra ele. Do
mesmo modo se procedeu em relação a seus escassos partidários, que continuaram a assistir às
reuniões plenárias da TFP, feitas pelo Sr. Dr. Plinio, durante o tempo que bem entenderam.
Foram eles que, de própria iniciativa, se afastaram. Também é expressiva a atitude do Sr. Dr.
20Plinio em relação ao Sr. Arnolfo. Era sabida e comprovada sua ligação com o O. Fedeli. No
entanto, o Sr. 20Dr. Plinio conservou-o ao seu serviço, como acompanhante no automóvel, até
o fim da vida.
Não me consta que por ocasião da investida, do O. Fedeli contra a pessoa, a vocação e a
autoridade de Fundador do Sr. Dr. 20Plinio, os membros da Martim tenham demonstrado tão
inflamado zelo pela salvaguarda do “princípio de autoridade” como fazem agora. Terá sido por
que suas pessoas não estavam diretamente em jogo?
Também, em 1993, por ocasião do plebiscito da monarquia, ficou público e notório no
Grupo que a atitude tomada por D. Bertrand contrariava frontalmente as orientações do Sr. Dr.
Plinio. É sabido que a insistência de D. Bertrand em levar adiante a campanha monárquica pôs
em risco não só a TFP, como também foi a causa do estrondo do Rio Grande do Sul que
procurava pôr nosso Pai e Fundador na prisão. Em nenhum momento o Sr. 20Dr. 20Plinio
encontrou o apoio que seria de esperar, nos membros da Martim, para fazer valer a vontade do
Fundador sobre as ambições pessoais.
Voltando ao relato, no domingo de manhã, o Dr. Plinio Xavier chegou em Jasna Gora às
9 horas e comunicou ao Encarregado da Disciplina estar eu “expulso” da TFP.
Ao ouvir as respeitosas ponderações de vários camaldulenses, a respeito da clamorosa
injustiça que estava sendo cometida, o Dr. 20Plinio Xavier não teve outra resposta senão
afirmar que o problema não estava em Jasna Gora. Que há dois anos, eles, membros da Martim,

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vinham contemporizando, mas agora estavam determinados a assumir o controle absoluto de


todas as TFPs. Que o sistema antigo (note-se: o sistema usual de nosso Pai e Fundador) tinha
fracassado e que eles assumiam a responsabilidade pelo que acontecesse.
Que diferença com os termos em que foi redigido o “Sursum Corda”. Com razão já
dizia o poeta: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / Muda-se o ser, muda-se a
confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades...”

Nosso Mestre, Modelo e Guia exercia a autoridade de modo sublime, todo inspirado no
Sagrado Coração de Jesus: era sua ação de presença que perfumava com sacralidade todos os
ambientes das TFPs, mesmo os mais distantes; era o estilo paulista “400 anos”, aristocrático,
austero, ordenativo, mas também paternalmente afetuoso até na hora de admoestar.
Sem pactuar em nada com o mal, o Senhor Doutor Plinio, entretanto, por vezes
contemporizava com problemas a ponto de causar espécie em filhos que desejavam soluções
imediatas e mais enérgicas. Sua paciência, toda feita de sabedoria, de bondade, de força, de
altíssimo amor a Deus e à Igreja, avaliava tudo do ponto de vista dos interesses da Causa e
confiava, antes de mais nada, na ação da graça sobre os corações. A TFP foi assim um paraíso
no qual os irmãos se amavam apesar das diferenças de temperamento, nacionalidade, condição
social ou idade, fazendo lembrar a frase da Escritura “Quam bonum et jucundum est habitare
fratres in unum”.
Nosso estilo de exercer a autoridade não pode ser, nem queremos que seja outro, senão o
que nos legou nosso querido Pai.
Nele, só nele almejamos nos calcar, pois calcamo-nos na doutrina católica sobre os
fundadores e em sua formal promessa: “Se eu morrer, de algum modo me comunicarei com
vocês, porque Nossa Senhora lhes engajou no meu caminho, eu não faltarei”.(11)

Depois de declarada minha “expulsão”, no mesmo domingo dia 12, o Dr. 20Plinio
Xavier e o Dr. Luiz Nazareno chamaram-me para uma conversa, na qual ficou patente que tudo
isso acontecia por causa de minha posição em relação ao Sr. João Clá, pois alegaram como
motivo de meu afastamento de Jasna Gora as razões expostas no fax do Dr. Luiz Nazareno,
acima mencionado. (Ver p. .)
Era a primeira vez, desde a 3ª feira anterior, que eu voltava a falar com o Dr. Luiz
Nazareno. Em todo esse tempo ficara ele recolhido em seu apartamento sem atender ninguém,
alegando questões de saúde. Cada vez fica mais claro que o cargo de vice-presidente da TFP é
meramente honorífico, pois quem decide tudo são outras pessoas. Quando os problemas se
complicam um pouco mais ele bate em retirada, alegando não ter saúde para cuidar do caso.
Sendo a justificação real ou não, na prática há uma omissão grave da parte dele. Se não tem
condições de exercer seu cargo de vice-presidente da TFP, embora não seja culpado disso —
pois a saúde é um dom dado por Deus —, em consciência não poderia ter aceito o cargo. Na
hora das grandes decisões em que se joga o destino da Causa, ou o destino das almas, os cinco

11
“Sursum Corda”, de 13/12/96.

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“provectos” são na realidade quatro. Serão mesmo?


Todos os que trabalham na DAFN têm experiência semelhante em relação ao Dr.
20Eduardo Brotero: este, por sofrer de uma doença crônica, com freqüência fica
impossibilitado de trabalhar. Na prática, o que mantém de pé a muralha da DAFN é o empenho
abnegado dos que exercem funções em seus escritórios, os quais, ao longo das décadas, vêm
prestando esse insubstituível serviço à Contra-Revolução.
Uma ponta do mistério (de quem exerce efetivamente a autoridade) foi levantada pelo
próprio Dr. Luiz Nazareno, nessa conversa, no domingo. Afirmou ele — para que eu
compreendesse o porquê de sua surpreendente atitude em relação a mim, depois de dois anos
de relacionamento cordial — que entre os chamados “provectos” havia uma predominância do
Dr. Caio Vidigal, em razão de sua grande capacidade para os negócios. Essa habilidade
qualificava-o para decidir sobre os “negócios” (lato sensu) da TFP. E deu o exemplo dos
grandes investimentos que ele fizera nos grupos da França, Itália e Alemanha.
Que entre membros do Grupo alguém tenha ascendente sobre os outros por seus êxitos
financeiros, é o que há de mais contrário ao espírito do Fundador e ao amor de Deus. Entre nós
deve ter predominância aquele que mais ama a Nossa Senhora.
Se entre aqueles que pretendem ter o mandato do Fundador para dirigir a “família de
almas” da TFP, o que dá o rumo é quem tem espírito empresarial mais acentuado, para onde
quererão conduzir o Grupo? Transformá-lo num banco, ou numa máquina de produzir dinheiro
como parece acontecer na França e na Alemanha, onde o que importa é o lucro e não a
preocupação de conquistar almas para Nossa Senhora?

Os “provectos” honorários
Afirmar simploriamente que quem tem a última palavra no aparentemente restrito e
hermético círculo dos membros da Martim é o Dr. Caio Vidigal, seria uma simplificação do
problema.
Há cerca de vinte anos desligados do contacto direto com a vida real do Grupo,
limitando-se apenas a exercer uma autoridade circunscrita e mais burocrática do que de
direção, não se lançariam eles na aventura de querer enfrentar a opinião contrária da quase
totalidade do Grupo se não contassem com o “conselho” de elementos que eles julgam ser
representativos na TFP. A presença dos Srs. M. Navarro, F. Antúnez e Poli, no sigiloso
simpósio realizado recentemente em Minas Gerais, deixa claro que existe uma oligarquia em
ascensão no Grupo.
Alguns fatos, dos quais posso dar testemunho seguro, confirmam o papel que algumas
dessas pessoas pretendem desempenhar no governo da “família de almas” da TFP, e também
sua lamentável atuação nas atuais dissensões que tanto vêm prejudicando o progresso da Causa
da Contra-Revolução.
Quando, ao se aproximar a festa de 21 de abril deste ano, estando o Dr. 20Luiz Nazareno
de viagem para os Estados Unidos, começou a correr a notícia de que ele imporia o hábito a
alguns membros da TFP norte-americana, procurei fazer-lhe ver a óbvia inoportunidade de tal
atitude, cuja conseqüência seria aprofundar o valo que já dividia a TFP. Respondeu-me estar
sofrendo pressões dos Srs. F. Antúnez e M. Navarro, que até o tinham aconselhado a levar o
próprio hábito na mala, para essa eventualidade. De nada adiantaram as razões apresentadas.

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Prevaleceu a “pressão” dessas pessoas contra a opinião geral do Grupo que começou a ver mais
claramente para que lado pendiam as simpatias dos membros da Martim.
O Sr. F. Antúnez, que em numerosíssimas ocasiões ouviu dos próprios lábios do Sr.
20Dr. Plinio elogios rasgados e inequívocos ao apostolado do Sr. João Clá, muitos deles
registrados em fita, foi o fator decisivo do lamentável rompimento de relações do Dr. 20Luiz
Nazareno com o Sr. João Clá, por iniciativa do primeiro. Rompimento ao qual se seguiu a
catadupa de calúnias contra o Sr. João Clá e as correspondentes de Miracema, que todos nós
conhecemos. Ninguém poderá sustentar de boa-fé que tal rompimento tenha contribuído em
algo para a união de nossa família de almas.
Segundo contou o próprio Dr. 20Luiz Nazareno, o Sr. F. Antúnez lhe dissera que ele, Dr.
Luiz Nazareno, tinha um certo pendor temperamental favorável ao Sr. 20João Clá, em razão do
que era necessário romper com este último, a fim de se libertar de sua suposta influência. Esse
rompimento permitir-lhe-ia julgar melhor os acontecimentos e enxergar a “maldade” do Sr.
20João Clá.
Digamos que o Sr. Dr. Plinio tenha realmente, na intimidade de conversas com o Dr.
Luiz Nazareno e o Sr. F. Antúnez, emitido juízos severos sobre o Sr. João Clá. Ora, esses
hipotéticos juízos severos, ditos em particular, pelo menos foram contrabalançados por elogios
sem conta de público. Já no caso dos membros da Martim, deu-se quase que o contrário:
elogios substanciais de público, praticamente nenhum! Juízos severos, documentados, muitos.
É um contraste sobre o qual o Sr. F. Antúnez terá de pensar bastante para arranjar uma
explicação conforme o seu ponto de vista.
Ao lembrar estes fatos na conversa com o Dr. Plinio Xavier, sábado à tarde, à qual
estava presente o Sr. F. Antúnez, este último, friamente, se limitou a responder que apenas
lembrara ao Dr. 20Luiz Nazareno a severidade do julgamento do Sr. 20Dr. 20Plinio sobre o Sr.
João Clá. Surpreende-me ver como em todos esses assuntos a verdade é manipulada, ou
contrariada, ao sabor das conveniências pessoais do momento.
Em toda a questão de minha substituição como Encarregado da Disciplina, no
estabelecimento do novo regime de Encarregados da Disciplina rotativos, bem como na
“camaldulização” forçada do Sr. Fernando Larrain, o Sr. F. Antúnez teve papel predominante,
fazendo reuniões para os novos Encarregados da Disciplina, redigindo um projeto de “Ordo” da
“camáldula” restrita do Sr. Fernando Larrain, etc.
Que credenciais pode ter uma pessoa que não leva vida de recolhimento e que está longe
de ter experiência na direção de almas para dar conselhos nesta matéria? E que autoridade tem
para impor a outros uma regra de vida de caráter religioso? Não é isto uma violação da legítima
liberdade de consciência que todo o homem, por direito natural, tem?
Dadas as limitações dos membros da Martim para exercerem plenamente a autoridade
que se atribuem, não é despropositado levantar a hipótese de que a defesa dessa autoridade,
feita por algumas pessoas como os Srs. F. Antúnez, M. Navarro e Cel. Poli, não esteja
totalmente isenta de interesse pessoal. No horizonte está possivelmente o objetivo tentador de
dirigir a TFP com o anteparo da figura dos “provectos”.

Coação financeira: o novo sistema de governo.


Terminada a conversa com o Dr. 20Plinio Xavier e o Dr. Luiz Nazareno, não se tendo

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chegado a nenhuma conclusão válida, separamo-nos em um clima de grande tensão. Até então
em nenhum momento os membros da Martim pediram a mediação do Sr. João Clá para
solucionar o problema, o que era sua obrigação fazer, dado o papel dele no Grupo e sua
condição de encarregado do São Bento, reconhecido por eles mesmos publicamente e por
escrito.
Surpreendentemente, algumas horas depois, recebe ele do Dr. 20Plinio Xavier, o fax
transcrito a seguir: inaugura-se o novo sistema de governo da diretoria estatutária da TFP, uma
vez fracassados os intentos anteriores de desestabilização do apostolado do Sr. 20João Clá, o
que já é do conhecimento geral.

Urgente
São Paulo, 12 de outubro de 1997
Festa de Nossa Senhora Aparecida
Caríssimo Sr. João,
Salve Maria !

É com suma dor que constatamos que a revolta-motim do Sr. Ramón León
consumou-se, assim como sua expulsão definitiva da TFP, por insubordinação grave e ato de
aberta rebeldia à autoridade constituída.
Em conseqüência, caso ele não saia da Sede de Jasna Gora até o meio-dia de amanhã 2a.
feira, 13 20de outubro, seremos constrangidos a que outras severas medidas sejam tomadas
automaticamente e a terem vigência a partir daquela hora.
É notório que a atitude dele é coonestada pelo Sr. E com isso é-nos doloroso constatar
que o Sr. tornou-se o fautor de divisão na TFP.
Com efeito, sem uma palavra do Sr. 20ao Sr. Ramón León este já teria deixado
dignamente Jasna Gora e a harmonia ter-se-ia restabelecido.
Assim foi que na 2a. feira passada, quando da primeira vez disse-lhe que ele deveria
abandonar o posto de encarregado de disciplina e deixar a Sede de Jasna Gora indo para outra
Sede da TFP, não só reconheceu ele que havia realmente falta de sintonia entre ele e o
responsável por aquela Sede, nosso caríssimo e tão dedicado Dr. Luizinho, como ele mesmo
acrescentou que ele deveria sair daquela Sede por uma questão de honra. Foi somente após ter
tido conversa com o Sr. que inflectiu ele sua atitude optando por ali permanecer, pondo-se em
estado de aberta revolta.

Não deixa de surpreender o singular senso de justiça do Dr. Plinio Xavier, para o qual
bastam simples suposições, saídas de sua imaginação, para fulminar com as mais severas
penalidades suas vítimas. Legítima defesa para ele é sinônimo de “Revolução Francesa”, ou de
“revolta-motim”. A autoridade, nunca pisoteada pelo Sr. Dr. Plinio, de que estão investidos
outros encarregados de setores da TFP, como o Sr. Kallás ou o Sr. 20João Clá, inexistente.
Constatando-se que as provas e argumentos apresentados não correspondem à realidade, ou não

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são válidos, terá o Dr. Plinio Xavier a lealdade de voltar atrás e reconhecer seu erro?

Se portanto, até a data e hora acima indicadas, não deixar ele a Sede de Jasna Gora, é
com constrangimento e dor que somos levados a preveni-lo de que severas medidas começarão
a ser tomadas. À primeira delas, impele-nos nossa consciência.
Com efeito, há mais de 3 anos que unilateral e liberalmente, por iniciativa de Dr. Caio e
do Cel. 20Poli, acrescentamos a cada mês à transferência de verba ao São Bento — coletada
por eremitas do São Bento-Presto Sum e Saúde — um elevado montante extra. Fazíamo-lo até
aqui na certeza de estarmos colaborando com a obra do Senhor Doutor Plinio.
Se o Sr. Ramón León não desocupar aquele local da TFP até o prazo acima indicado,
confirmar-se-á que essa verba está sendo desviada das intenções com que ela foi liberalmente
concedida.
Assim sendo, estará essa verba, a partir do meio-dia de amanhã, suspensa, definitiva e
irrevogavelmente, caso o sr. Ramón León não tenha desocupado a Sede de Jasna Gora.
Prevenimos pois que, nessa penosa hipótese, jamais, portanto, esta verba poderá ser
restabelecida.

Quase se torna supérfluo ressaltar o chocante contraste entre o novo sistema de governo
do Dr. Plinio Vidigal, todo ele argentário, chegando até o extremo da chantagem, e os
procedimentos paternais do Sr. Dr. Plinio...

É-nos penoso igualmente ter de lhe dizer que outras medidas igualmente graves
seguir-se-ão, de diferentes ordens, se tais atos de rebeldia continuarem.
Uma vez que foi expulso da TFP, saindo de Jasna Gora não poderá o Sr. 20Ramón León
ser acolhido em nenhuma sede do Brasil. E qualquer outra TFP que o acolher pôr-se-á “ipso
facto” em estado de rebeldia em nossa família de almas com as conseqüências que isto
comporta.
Constrangidos — acuados mesmo — a tomar medidas tão severas, não nos move senão
o desejo o mais entranhado de que a ordem e a hierarquia sejam escrupulosamente respeitadas
no seio das TFPs, oásis de Contra-revolução neste Mundo onde infelizmente não vigora senão
o “non serviam”.
Envio-lhe esta em nome de todos os provectos que a fazem sua.
Que o Senhor Doutor Plinio, o varão da sacral hierarquia e do sumo amor à ordem, nos
guie e inspire nesses gravíssimos momentos.

in Jesu et Maria !
Plinio Vidigal Xavier da Silveira

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Lamentavelmente o amor do Dr. 20Plinio Xavier à ordem e à hierarquia não se


manifestou nos casos de Campos e de Spring Grove. Nem quando, em vida do Fundador, se
tratou de defender sua autoridade. Mas este último ponto seria tema para outro livro, bem
volumoso: “A pesada Cruz do Fundador”...
Se os membros da Martim tivessem tomado mais a sério os ensinamentos do Fundador
de forma a estarem consoantes com seu espírito, certamente não produziriam tão lamentável
peça como o texto acima.
Não posso deixar sem um reparo importante a referência a uma verba que “unilateral e
liberalmente” o Dr. Caio Vidigal e o Cel. Poli teriam “concedido” ao São Bento e Praesto Sum,
há mais de três anos. Ora, não se poderia encontrar termos mais distantes da realidade para
referir-se a tal verba.
O que aconteceu foi que, em 1992, o setor de coleta de donativos do caixa central da
TFP brasileira estava inteiramente falido. A ponto de ter o Sr. 20Dr. Plinio afirmado, segundo
contou na ocasião o Cel. Poli, que era tão grave a situação financeira da TFP, que deveria ser
fechada, e só não o fazia porque confiava na proteção de Nossa Senhora. Em vista disso, o Dr.
Caio Vidigal propôs ao Sr. 20João Clá um acordo, pelo qual seria desmontada a propulsão de
donativos dos êremos São Bento e Praesto Sum, e os eremitas passariam a propulsionar as
duplas do Êremo de Nossa Senhora da Divina Providência. E ficou acertado que, a partir do
momento em que a coleta atingisse um determinado valor (que corresponderia a um orçamento
básico), o dinheiro que entrasse além desse valor seria dividido entre a caixa central e a dos
Êremos São Bento e Praesto Sum. Assim foi feito, a situação financeira da TFP se estabilizou e
até hoje as duplas do Êremo de Nossa Senhora da Divina Providência são propulsionadas pelos
eremitas do São Bento, alcançando muito bons resultados.
Ao fax do Dr. Plinio Xavier, o Sr. 20João Clá respondeu com estas linhas:

Êremo de São Bento, 12 de outubro de 1997

Caríssimo Dr. 20Plinio Xavier,


Salve Maria!

“Je suis troublé!” Os Srs. não me disseram uma palavra até o presente momento a
respeito de tudo o que está se passando lá, em Jasna Gora. O que sei, veio-me por vias
indiretas.
Apesar de não aceitar as acusações que me são feitas — nem mesmo as AMEAÇAS,
aliás totalmente injustas — pôr-me-ei a campo para atender sua “amável” solicitação devido ao
respeito e gratidão que lhes tenho e sobretudo pelo bem da união entre todos nós, tão desejada e
várias vezes enunciada por nosso Fundador e Pai. Rogo-lhe rezar para que eu seja bem
sucedido nessa tarefa, pois o Sr. mesmo sabe não ser ela tão fácil.

Recomendando-me às valiosas orações de todos, despeço-me,


in Jesu et Maria,

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João Clá

Após enviar essa resposta, o Sr. 20João Clá entrou em contacto telefônico comigo.
Comuniquei-lhe que, após ter conversado com o Dr. 20Luiz Nazareno na tarde daquele dia, já
havia decidido abandonar a casa.
O Sr. João Clá aconselhou-me no mesmo sentido, ou seja, que atendesse o desejo
manifestado pelo Dr. Luiz Nazareno.
Os Drs. Duca e Kallás ofereceram-se para me ajudar nessa difícil situação e foram
buscar-me de automóvel na 2ª feira de manhã. Eles haviam tomado conhecimento da existência
de uma orientação explícita do Sr. Dr. Plinio, no sentido de que nunca deveria hospedar-me
sozinho num hotel. O Dr. Duca ofereceu-me, então, acolhida em sua residência.
Alma generosa, sempre muito elogiada pelo Senhor Doutor Plinio devido ao seu caráter
afetuoso e abnegado, merece de minha parte uma especial menção nestas páginas a fim de
agradecer-lhe a caridade catolicíssima com que vem me tratando neste período de abandono e
até posso dizer, perseguição.
Rogo a Nossa Senhora que lhe retribua ao cêntuplo tudo o que ele está fazendo por mim.
E que sirva a atitude tomada por ele para modelo de todos, dentro da TFP.
A caminho da Rua Traipu, o Dr. Kallás e eu deixamos o Dr. Duca num consultório
médico onde ele tinha marcado uma consulta com um oftalmologista. Essa consulta — na qual
deveria ser decidido se o Dr. Duca se submeteria a uma nova intervenção cirúrgica — por
causa dos delicados exames especializados, com anestesia, demorou quatro horas. Após isso,
Dr. Duca dedicou o resto do dia a realizar várias perícias de sua especialidade, já previamente
marcadas. Por tal motivo, em compreensível estado de cansaço, só à noite deixou um recado na
secretária eletrônica do Dr. Plinio Xavier, explicando-lhe como ele e o Dr. 20Kallás tinham
procedido, acrescentando que gostariam de conversar com ele no dia seguinte.
Surpreendentemente, o Dr. 20Duca foi acordado, às 7 horas da manhã de 3ª feira, por
um telefonema do Dr. Plinio Xavier, no qual este, aos berros, exigia a minha saída imediata da
casa dele. Em seguida, chamando ao fone o Sr. 20Kallás, fez a mesma exigência, ameaçando-o
com punições imediatas e indefinidas caso não fossem atendidas suas imposições.
É importante ressaltar que há cerca de 20 anos a casa da Rua Traipu não é mais sede.
Convém lembrar que durante algum tempo o Sr. Dr. Plinio transferiu o MNF para lá, a fim de
que dele pudesse participar o A.X. da Silveira, que por sua conduta moral havia sido afastado
da TFP e proibido de freqüentar qualquer sede da entidade. Atualmente, na casa da Rua Traipu
funciona uma empresa do Dr. Duca, na qual emprega dez pessoas não pertencentes à TFP,
entre os quais alguns ex-membros da entidade...
Não será levar longe demais o âmbito da autoridade que o Dr. Plinio Xavier se atribui, o
querer mandar na intimidade da casa de um outro?
Creio que se torna cada vez mais urgente definir claramente esta questão da autoridade,
sob pena de agravar o regime de atropelos e absurdos que só aumentará o caos na TFP.
Soube-se, de fonte certa que, para a solução deste impasse, não tendo sido possível ao
Dr. Plinio Xavier entrar em contacto com o Dr. Caio Vidigal, procurou “conselho” com o Sr. F.

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Antúnez, o articulador de boa parte destas brilhantes iniciativas, o qual “sugeriu” que se
exigisse a minha saída da casa do Dr. 20Duca...
Depois desse telefonema matutino, houve a seguinte troca de fax entre o Dr. 20Plinio
Xavier e o Sr. João Clá:

FAX DE PLINIO XAVIER PARA O SR. JOÃO CLÁ


14/X/1997
Caríssimo Sr. João
Salve Maria!

Cumpre-me informar-lhe que, no domingo, por volta das 24 hs., os Srs. Kallás e Duca
vieram ao 4º andar para pedir autorização para ajudarem o Ramón León a sair de Jasna Gora, a
qual foi concedida. E pediram também para recebê-lo na Traipu, o que, por razões óbvias, foi
negado.
Esta noite o Sr. Duca deixou recado, em minha secretária eletrônica, pedindo que lhe
telefonasse para tratar do caso Ramón. Telefonei às 7 hs. da manhã. Ele me informou que o
Ramón, alegando razões espirituais, dissera que não podia ficar em hotel. E que ele, Sr.
20Duca, o acolhera na Traipu. Como o Sr. Duca tem obrigações profissionais que o impedem
de providenciar qualquer coisa referente ao caso nesta manhã, chamei o Sr. Kallás.
Dei ao Sr. Kallás o prazo até 12 hs. de hoje para que o Ramón saia da Traipu. Disse ao
Sr. 20Kallás que estarei no 4º andar até às 12:30 hs., para que ele me comunique a saída do
Ramón dentro do prazo concedido.

In Iesu et Maria
PLINIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA

P.S. — O Sr. Kallás acaba de comunicar que o Ramón já está num hotel.

O Sr. João Clá respondeu com as seguintes palavras:

FAX PARA DR. PLINIO XAVIER

Caríssimo Dr. Plinio Xavier,


Salve Maria!

Muito lhe agradeço a informação que o senhor teve a bondade de me enviar hoje pela
manhã. Continuemos a rezar pedindo o auxílio e intercessão de Nossa Senhora para o bom
sucesso deste e de tantos outros assuntos.

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In Jesu et Maria,
João Clá

Uma vez mais se constata a aplicação do critério, tão contrário à justiça, de “dois pesos e
duas medidas”. Ainda há poucos meses o Dr. 20Plinio Xavier mandou renovar o contrato de
locação do apartamento onde mora, em Curitiba, à custa da TFP, o Sr. Francisco Pinhata,
enquanto à própria Sede da entidade nessa cidade, onde se realiza florescente apostolado, foi
negado pela caixa central qualquer tipo de ajuda financeira!
Transcrevo abaixo o pedido feito pela referida pessoa e a solícita resposta do Dr.
20Plinio Xavier.

GFN PARA SR NÉLIO DE FCO. PINHATA


29-04-97
Caro Sr. 20Nélio, Salve Maria!

Dr. PX disse que poderia renovar o contrato do apartamento que vence agora dia 25/5. Já
falei com o proprietário e ele manteve o mesmo valor.
Gostaria que o Sr. providenciasse a documentação e me mandasse para providenciar as
assinaturas dele como do fiador.
Era só isso. Reze por nós.
Muito obrigado,
Salve Maria!

Na mesma folha, logo abaixo do grafonema, pode-se ler:

Dr. 20Plinio
Salve Maria
Peço-lhe o favor de ratificar a informação supra, do Sr. Francisco Pinhata, para
prorrogarmos o contrato em referência.
Grato.
Edson

Por fim a resposta do Dr. Plinio Xavier em que ele mostra uma generosidade que, no
meu caso, infelizmente, não se manifestou.

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Sr. 20Edson
Renovar. Não há precedente no grupo de se expulsar gente deste geito (sic). Renovar só
por 1 20ano.
ID
PX
20/5

“Alienus factus sum fratribus meis et peregrinus filiis matris meae”(12)


Mal poderia imaginar eu, quando em minha alma brilharam os primeiros fulgores da
vocação e dei um sim irrestrito ao chamado do Fundador, que um dia me encontraria em tão
trágica situação: considerado um estranho na casa de minha própria mãe!
É bem verdade que uma vocação como a nossa tem de passar pelo crivo purificador da
provação do absurdo, mas também é certo que nestas circunstâncias, por mais que as
aparências falem em sentido contrário, nunca faltará o auxílio da Providência. Foi esse o
exemplo que nos deixou nosso Fundador.
Contribui para aumentar a solidão, destes meus primeiros dias de exílio, o receio de
retaliações da diretoria estatutária da TFP brasileira sobre aqueles que manifestarem
solidariedade comigo. Porém o isolamento favorece a reflexão, e posso dizer com o profeta:
“Tornei-me como um homem que não ouve, e que não tem na boca palavras com que replicar.
Porque em ti, Senhor, esperei, tu me ouvirás, Senhor, Deus meu”.(13)
Este meu forçado exílio num hotel do movimentado centro da cidade de São Paulo
leva-me, pois, a compulsar esclarecedoras diretrizes e doutrinas dadas por nosso Pai e
Fundador, bem como a alinhavar alguns dados e comentários sobre os acontecimentos que
convulsionaram a nossa “famílias de almas” nestes últimos dois anos.

12
Tornei-me um estranho para meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe (Sl. 68, 9)

13
Sl. 37, 15-16.

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