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PRESBITÉRIO DE RESPLENDOR

MAXIMILIANO DA SILVA GAMA

PERSEVERANÇA DOS SANTOS:

UMA DOUTRINA QUE AFASTA OS TERRORES

DA 'SÍNDROME DA QUEDA'

VITÓRIA

2013
MAXIMILIANO DA SILVA GAMA

PERSEVERANÇA DOS SANTOS:

UMA DOUTRINA QUE AFASTA OS TERRORES

DA 'SÍNDROME DA QUEDA'

Tese apresentada ao Presbitério de

Resplendor em cumprimento parcial às exigências do

Manual Presbiteriano, da Candidatura e Licenciatura para

o Sagrado Ministério,Art.120, b.

Tutor: Rev. Roney Protes Faria

VITÓRIA

2013
Agradecimentos

Ao Senhor Jesus, meu Rei, Dono e Salvador!

À Úrsula e Rafael, minha família, que compreensivamente me apóiam.

Aos Conselhos das Igrejas Presbiteriana em Jardim Camburi e Igreja

Presbiteriana em Aimorés, pela oportunidade de aprendizado e crescimento.

Ao Instituto Bíblico Eduardo Lane (IBEL), pela formação e preparo.

Ao Presbitério de Resplendor (PRSP), pelo suporte constante desde

2003, custeando, inclusive, meus estudos.

Ao amigo, pastor e tutor, Rev. Roney Protes Faria, pelos anos de

convivência e aprendizado para uma vida piedosa.

Ao Rev. Ronildo Miguel Soares, pela inspiração de sua sábia liderança.

E a todos quantos nos ajudaram nessa caminhada!


Resumo

GAMA, Maximiliano S., Perseverança dos Santos: Uma doutrina que

afasta o terror da 'síndrome da queda'. Tese, Presbitério de Resplendor,

Vitória, 2013.

Esta tese tem como objetivo demonstrar a paz fornecida na doutrina da

'perseverança dos santos' em contraste com o terror causado pelo ensino da

perda da salvação. O trabalho está divido em três partes. A primeira parte trata

brevemente da história e desenvolvimento da doutrina da 'perseverança dos

santos' em alguns dos Símbolos de Fé Reformados. Na segunda parte será

feita a exposição da doutrina segundo a CFW, comentando os textos de apoio,

tanto do Antigo, quanto do Novo Testamento. Serão apresentadas também, as

objeções à doutrina da 'perseverança dos santos', bem como, a exposição do

quinto ponto da Remonstrância e comentário crítico. A terceira parte fala dos

resultados de se crer em um ou noutro sistema.

Palavras-chaves: Perseverança, Conservação, Salvação, Queda,

Espírito Santo.
Abstract

This thesis aims to demonstrate peace provided in the doctrine of the

"perseverance of the saints' in contrast to the terror caused by the teaching of

loss of salvation. The work is divided into three parts. The first part deals briefly

the history and development of the doctrine of the "perseverance of the saints'

in some of the Symbols of Faith Reformed. In the second part of the exposition

of the doctrine will be made according to CFW, commenting on handouts from

both the Old and New Testaments. Exposure of the fifth point of the

Remonstrance and critical commentary are also presented objections to the

doctrine of the "perseverance of the saints', as well as. The third part talks

about the results of believing in one or another system.

Keywords: Perseverance, Conservation, Salvation, Fall, Holy Spirit.


2

Sumário

Sumário ............................................................................................................................ 2

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 3

O DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS ....................... 4

Agostinho ..................................................................................................................... 4

Lutero ........................................................................................................................... 5

Calvino.......................................................................................................................... 6

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS NA CONFISSÃO BELGA, NO CATECISMO DE


HEIDELBERG E NOS CÂNONES DE DORT ....................................................................................... 6

Na Confissão Belga (1561) ........................................................................................... 6

No Catecismo de Heidelberg (1563)............................................................................ 7

Nos Cânones de Dort(1619)......................................................................................... 8

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER ..................... 9

BASE BÍBLICA - REFERÊNCIA E BREVE COMENTÁRIO................................................ 10

Primeiro ponto ...................................................................................................... 10

Segundo ponto ..................................................................................................... 10

Terceiro ponto ...................................................................................................... 12

PROPOSIÇÕES DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS ................................... 13

PROVAS DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA .................................................................. 17

OBJEÇOES E REFUTAÇÕES .............................................................................................. 19

ORIGEM DO MEDO DA QUEDA ...................................................................................... 22

Usos e costumes ........................................................................................................ 22

Uma criação da Igreja Cristã Maranata (ICM) .......................................................... 22

O MEDO DA QUEDA ....................................................................................................... 24

A COMPREENSÃO DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA AFASTA OS PAVORES DE CRER NA


PERDA DA SALVAÇÃO .................................................................................................................. 26

CONCLUSÃO ................................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 29


3

INTRODUÇÃO

A maioria das denominações ditas protestantes encontradas em nosso

país tem como base o sistema arminiano. Em se tratando do cerne, dificilmente

encontraremos diferenças significativas no objeto da fé, Cristo Jesus. Porém,

quando questões dogmáticas mais específicas são tratadas, fica evidenciado o

grande abismo entre esses e a corrente reformada calvinista.

Um bom exemplo desse desencontro é visto quando analisamos os

efeitos da queda. Na linha reformada, a queda trouxe morteao gênero humano

em todos os sentidos (depravação total), de forma tal a impossibilitá-lo voltar-se

ao Criador sem que este anteriormente o vivifique dando-lhe como selo o

Espírito Santo.

Já a linha arminiana, argumenta que a queda apenas machucou o ser

humano, não o comprometeu completamente, permitindo que lhe restasse algo

de bom, uma centelha que o capacita a ouvir a voz de Deus, dando-lhe crédito

ou não, conforme o seu livre-arbítrio.

Com a proliferação dos nichos arminianos, somado à herança pelagiana

do romanismo, tem-se um contexto onde a maioria dos crentes tem medo do

inferno, e pior, medo de perder a salvação. Contudo, não é difícil encontrar

quem pense assim em arraial reformado, bem como, o legalismo e o pavor que

acompanham tais crenças.

Alguns fatores podem ser listados como principais causas de tal

fenômeno: O empobrecimento doutrinário nos materiais editados para a

"EBD"(Escola Bíblica Dominical) salta os olhos; a preguiça de alguns

professores, aliada a irresponsabilidade dos superintendentes, permite que


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material com matriz doutrinária "X" seja comprado e utilizado em igrejas com

escopo "Y", fomentando assim comunidades multifacetadas doutrinariamente;

pregadores que enxergam doutrina como enfado, passam a mesma percepção

para suas congregações, que por sua vez, perdem a palatabilidade da sã

doutrina.

Em suma, temos uma realidade alarmante, onde os Ministros

reformados vacilantes neste quesito, em número cada vez maior,precisam

retomar o ensino sistemático das 'antigas doutrinas da graça'.

Este estudo mostra que a doutrina da perseverança dos santos, pela

atuação do Espírito Santo, não só afasta o pavor da 'síndrome da queda', mas

livra os crentes do legalismo, trazendo paz e refrigério ao coração do

regenerado.

O DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS


SANTOS

Agostinho

Agostinho ou Santo Agostinho, como ficou popularmente conhecido, foi

o teólogo, escritor e filósofo argelino, que entre os séculos IV e V, inspirado

pelos escritos de Cipriano (Séc. III) quanto a necessidade da graça na

perseverança, e grandemente persuadido das terríveis consequências da

queda, formatou sua doutrina da perseverança dos santos, denominada por ele

"dom da perseverança". Gregório é igualmente citado como alguém que não


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somente cria, mas ensinava o mesmo postulado, entendendo a necessidade da

graça divina.

Assim, Agostinho foi um dos primeiros teólogos a sistematizar uma

soteriologia monergista, ou seja, um sistema com ênfase na soberania de Deus

como causa absoluta da salvação humana. Nesse contexto, enxergou a

perseverança como um dom de Deus e não como uma obra da capacidade

humana. Renomados teólogos, anteriores a Agostinho, compartilhavam do

mesmo entendimento acerca deste ensinamento.

Agostinho definiu a perseverança da seguinte forma:

"É um dom de Deus, pelo qual o fiel é preservado no


amor a Cristo até o fim da vida. Inclui as lutas terrenas contra o
pecado e não pode ser confundida com perseverança
momentânea. Sendo um dom de Deus, é como Mt.10.22:
'Aquele que perseverar até o fim, será salvo.'"(AGOSTINHO,
1999. P. 209)

Incoerentemente, sustentava ser possível que alguns revestidos da nova

vida e da fé verdadeira poderiam cair completamente da graça e, por fim, sofrer

a condenação eterna.

Lutero

Defendeu a doutrina da perseverança nos mesmos moldes de

Agostinho. Lutero cria que o cristão poderia ter certeza acerca do presente

estado de graça, mas não quanto à perseverança final. Como a tradição

católica romana que o precedeu e a tradição wesleyana que o sucedeu, Lutero

não via a regeneração como inextricavelmente ligada à salvação final.


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Calvino

Somente com o reformador francês, a doutrina da perseverança dos

santos toma um bojo coerente. Na 'Instrução da fé' ou 'Catecismo de Calvino'

encontramos uma síntese do que escrevera anteriormente nos pontos 6

(Temos na comunhão com Cristo o penhor de nossa eleição, que nos faz

ovelhas de sua igreja e nos mantém perseverantes na fé) e 7 (O verdadeiro

eleito, cuja comunhão com cristo não é mera aparência, jamais decairá de sua

eleição, perseverando, com real humildade e piedoso temor, até o fim) do

capítulo XXIV falando sobre a vocação, segurança e perseverança em sua

obra mais famosa, 'As Institutas:

"Se, pois, possuindo a Cristo pela fé, possuímos


também a vida nEle, não temos por que pesquisar por mais
tempo o conselho eterno de Deus; pois Cristo não é tão só um
espelho no qual nos é apresentada a vontade de Deus, senão
um penhor pelo qual essa vontade de Deus nos é selada e
confirmada." (CALVINO, 1989, p. 433)

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS NA CONFISSÃO BELGA, NO


CATECISMO DE HEIDELBERG E NOS CÂNONES DE DORT

Na Confissão Belga (1561)

Não há menção clara da doutrina da perseverança dos santos. Porém, é

inferida com grande facilidade no Art. 24 , que trata da santificação:


7

Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa no


homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito
Santo, regenera e o torna um novo homem. A verdadeira fé o
faz levar uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado.
Por isso, é impossível que essa fé justificadora leve os homens
a se descuidarem da vida piedosa e santa. Pelo contrário, sem
essa fé jamais farão alguma coisa por amor a Deus, mas
somente por amor a si mesmo e por medo de serem
condenados. (Confissão Belga 1561 apud Bíblia de Genebra,
2009, p. 1755)

Nota-se que, mesmo sem argumentar a premissa que a 'perseverança' é

uma obra de Deus na vida do homem regenerado, afirma-se que sem a fé

salvadora é impossível manter-se casto e puro. Assim, conclui-se que o fim

natural de alguém que recebeu fé salvadora é a manutenção em santidade, é a

perseverança dos santos. Ou seja, a perseverança está diretamente ligada a

'fé salvadora'.

No Catecismo de Heidelberg (1563)

Semelhantemente à Confissão Belga, este catecismo não trata

claramente o termo 'perseverança' ou 'perseverança dos santos'. Todavia,

também é possível perceber que o consenso está em que Deus não é vacilante

no cabal cumprimento do plano da salvação, sendo fiel para completar o que

iniciara, conforme lê-se na primeira resposta:

O meu único fundamento é meu fiel Salvador Jesus


Cristo. A Ele pertenço, em corpo e alma, na vida e na morte, e
não pertenço a mim mesmo. Com seu precioso sangue Ele
pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o
domínio do diabo. Agora Ele me protege de tal maneira que,
sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de
cabelo. Além disto, tudo coopera para o meu bem. Por isso,
pelo Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna e me
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torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o


coração.(Catecismo de Heidelberg 1563 apud Bíblia de
Genebra, 2009, p. 1760)

É interessante perceber que a prerrogativa da manutenção da vida

encontra suficiência em Deus apenas, não dependendo de mera obra ou

esforço humano. Deus é quem guarda, livra, enfim, persevera.

Nos Cânones de Dort(1619)

Jacob Arminius, pastor e professor que havia estudado em Genebra,

começou a questionar a doutrina vigente (calvinista). De 1588 à 1609, Arminuis

e seus ensinamentos dividiram a nação. Logo após seu falecimento, teve seu

legado continuado por seus discípulos no documento conhecido como

"remonstrance" ou "protesto".

Com a missão de resolver a controvérsia arminiana, o Parlamento

holandês convocou um sínodo que reuniu-se entre novembro de 1618 e maio

de 1619, totalizando 180 sessões. O resultado do 'Sínodo de Dort' foi a rejeição

do 'remonstrance', com refutação de tudo o que pudesse ser identificado como

'pelagiano'; a reafirmação da fé reformada; a formatação dos 'cinco pontos do

calvinismo', onde no quinto ponto encontramos o alvo desse trabalho, a

perseverança dos santos.

Em suma, a doutrina da perseverança dos santos diz:

Que a salvação, desde que é obra realizada


inteiramente por Deus, que o homem nada tem a fazer para
salvar-se. desta forma, é óbvio que o “permanecer salvo” é,
também, obra exclusiva de Deus, à parte de qualquer bem ou
mal que o eleito possa praticar. Os eleitos „perseverarão' pela
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simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a


obra que começou. (DORT, 1619)

O Rev. Júlio Andrade Ferreira diz que Dort reafirmou mais uma vez a

'perseverança dos santos' como pensado por Calvino.

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE


WESTMINSTER

Herdeira das resoluções do Sínodo de Dort e concílios anteriores, a

Assembleia de Westminster proporcionou a sistematização de fé reformada

mais robusta já produzida, tanto na profundidade, quanto na harmonia,

abrangência e profícua produção literária, formada por uma Confissão de fé e

dois catecismos (breve e maior). Tratou a perseverança dos santos nos três

pontos do capítulo XVII, a saber:

1 - Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que


ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não
podem decair do estado da graça, nem total, nem finalmente;
mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o
fim e serão eternamente salvos;
2 - Esta perseverança dos santos não depende do
livre arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição,
procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia
do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do
Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da
graça; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade;
3 - Eles, porém, pelas tentações de Satanás e do
mundo, pela força da corrupção neles restante e pela
negligência dos meios de preservação, podem cair em graves
pecados e por algum tempo continuar neles; incorrem assim no
desagrado de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e de
algum modo vêm a ser privados das suas graças e confortos;
têm os seus corações endurecidos e as suas consciências
feridas; prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si
juízos temporais. (CFW, 2001, p.135-139)
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De acordo com a exposição acima e falando em caráter estrito, é Deus

quem persevera, não o homem. Não há maneira do homem regenerado

distanciar-se de Deus ao ponto de ser amputado da Videira ou contado como

incrédulo, está salvo e seguro pela influência do Espírito Santo.

BASE BÍBLICA - REFERÊNCIA E BREVE COMENTÁRIO

Primeiro ponto

 Filipenses 1.6: O apóstolo Paulo enfatiza a fidelidade de Deus em

completar a obra por Ele iniciada;

 João 10.28 e 29: Jesus fala da impossibilidade de alguém, uma vez

dado pelo Pai, ser subtraído por quem quer que seja;

 1 Pedro 1.5, 9: Pedro louva a Deus por Sua misericórdia manifestada

no cuidado aos regenerados, de tal forma que, os conduzirá,

consequentemente, à vida eterna;

Segundo ponto

 2 Timóteo 2.19: Falando de falsos mestres e seus ensinos, Paulo dá a

entender que os que se afastaram como Himeneu e Fileto, não eram

conhecidos de Deus, não pertenciam a Ele, pois não deixaram o erro;

 Jeremias 31.3: Mostra a realidade do amor objetivo, eterno e

incondicional de Deus que atrai os Seus para Si;


11

 Hebreus 7.25: Por ser Cristo o sacerdote Perfeito, ocupado na

incessante intercessão pelos que por Si achegaram-se a Deus, salva-os

totalmente;

 Lucas 22.32: Jesus intercede por Pedro, para que sua fé não

esmorecesse quando ainda não era convertido;

 Romanos 8.33-34, 38-39: Nada, ninguém ou condição alguma pode

separar os salvos do amor de Deus;

 João 14.16-17: Jesus intercede ao Pai para que através do

Consolador, os Seus tenham companhia, consolo e assistência eterna dentro

em si;

 Jeremias 32.40: A aliança que Deus faz com seu povo é provida de

meios para que jamais seja quebrada, é indissolúvel;

 2 Tessalonicenses 3.3: Paulo está convicto de que o Senhor

confirmará a salvação dos Seus, guardando-os dos desafios do cotidiano, mas

principalmente, do Diabo;

 1 João 2.19: João afirma que os que saíram do meio do convívio dos

salvos, não pertenciam à cristandade, e saíram justamente para testificar que

nunca fizeram parte verdadeiramente, caso contrário, não teriam se retirado;

 João 10.28: O mesmo apóstolo João registra a afirmação de Jesus,

quando este afirma dar a vida eterna e assegura que os que receberam tal

dádiva nunca perecerão eternamente, nem sequer há quem possa tirá-los de

Sua posse.

 Romanos 11.29: Paulo fala da impossibilidade de revogação, tanto da

vocação, como dos dons dados por Deus. Inclui-se aqui a salvação.
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Terceiro ponto

 Salmo 51.4: O salmista reconhece que Deus é justo em Seu

julgamento;

 Mateus 26.70-74: O texto mostra que é perfeitamente possível que

alguém que Deus queira salvar, cometa pela dureza de seu coração, pecados

horrendos, sem com isso comprometer o propósito da salvação;

 2 Samuel 12.9, 13: Percebe-se na vida de Davi, que o salvo, ainda que

se afaste por um período da comunhão com Deus, não é abandonado por

Deus e este lhe garante o retorno ao antigo estado de comunhão Consigo.

 Isaias 64.7, 9: Fica clara a confiança do profeta no perdão de Deus,

pois intercede pelo povo do Senhor, posse da qual tem ciúmes;

 Efésios 4.30: É possível que o salvo entristeça o Espírito Santo;

 Salmo 51.12: Logo após ter pedido renovação ao próprio espírito, pede

que Deus permita que ele se alegre novamente por sua salvação;

 Apocalipse 2.4: Na Parousia, Jesus fala à igreja de Éfeso que ainda

que tenham perseverança, abandonaram o primeiro amor.

 1 Coríntios 11.32: Paulo explica que,com o objetivo de conduzir os

Seus à salvação eterna, diferenciando-os do mundo condenado, o Senhor,

num ato de graça e misericórdia, disciplina os Seus.


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PROPOSIÇÕES DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS

Em seu comentário da Confissão de Fé de Westminster, A. A. Hodge

sistematiza 'perseverança dos santos' nas seguintes proposições:

 O verdadeiro crente, um salvo, regenerado e justificado por Deus, não

pode jamais um dia, totalmente, nem finalmente, apostatar da graça, mas

infalivelmente perseverará nela até o fim;

 O princípio da infalível perseverança não está, em qualquer grau, no

livre-arbítrio dos santos, mas totalmente:

1. Na imutabilidade do decreto eterno da eleição;

2. Nas provisões do pacto eterno da graça;

3. Nos méritos e intercessão de Cristo;

4. No poder constante e preservador do Espírito Santo.

 Não obstante, o verdadeiro crente pode cair em graves pecados e,

por algum tempo, continuar neles.

 As ocasiões em que os crentes caem são:

1. As tentações do mundo;

2. As seduções de Satanás;

3. As corrupções restantes de sua própria natureza;

4. A negligência dos meios de graça.

 Os efeitos da queda dos crentes são:

1. Deus se ofende e o Espírito Santo se entristece;

2. Eles mesmos são, em certo grau, privados de suas graças e

confortos; seus corações se endurecem e suas consciências se ferem, e suas

pessoas, visitadas por juízos temporários;


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3. Sua conduta é uma pedra de tropeço a todos aqueles que os veem e

uma ocasião de tristeza a seus irmãos.

Em sua síntese da doutrina da perseverança, Wayne Gruden conclui

que:

Pela perseverança dos santos, todos aqueles que


verdadeiramente nasceram de novo serão guardados pelo
poder de Deus e perseverarão como cristãos até o final da
vida, e só aqueles que perseverarem até o fim realmente
nasceram de novo. (GRUDEN, 1999, p. 659)

Segundo Berkhof, a doutrina da perseverança deve ser exposta com

certo cuidado, devido, principalmente, ao fato de que a expressão

'perseverança dos santos' pode dar margem a equívocos. A doutrina não

pretende ensinar apenas que os eleitos serão certamente salvos no final como

entendia Agostinho, mas sim, que aqueles que uma vez foram regenerados e

chamados eficazmente por Deus para um estado de graça, jamais poderão cair

completamente deste estado e deixar de alcançar a salvação eterna, mesmo

podendo, às vezes, serem dominados pelo mal e cair em pecado. Entende-se

também, que a vida própria da regeneração e hábitos que advém da

santificação jamais desaparecerão inteiramente.

Mais cuidado ainda deve-se ter com a tentação de imaginar que a

perseverança é uma propriedade natural do crente, ou como uma atividade

continuamente conquistada pelo homem, no qual, por meio desse esforço,

persevera.

Na argumentação de A. H. Strong, as Escrituras declaram que pelo

propósito original e operação contínua de Deus, todos os que estão unidos a

Cristo pela fé continuarão infalivelmente em um estado de Graça, e finalmente

alcançarão a vida eterna. Traçando um paralelo entre os crentes em Cristo e


15

Adão, explica que sua queda se deu pelo fato de Deus não haver determinado

guardá-lo, diferentemente do que fez ao regenerados, "a estes Deus

determinou dar o seu reino" (Lc.12.32). Strong trata perseverança como sendo

a parte humana, que empreende esforço e diligência, que é precedida pela

santificação dada por Deus. Entende-se, portanto, que o próprio Deus aparelha

o salvo para que no exercício da responsabilidade humana, seja o Pai

glorificado. Como lastro desta perspectiva utiliza textos como: "Guardava-os

em teu nome... tenho guardado aqueles que tu me deste... e nenhum deles se

perdeu, senão o filho da perdição" (Jo.17.11-12); "o que de Deus é gerado

conserva-se a si mesmo." (1 Jo.5.18); "Conservai a vós mesmos no amor de

Deus... Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar..." (Jd. 21,

24). Nesse entendimento o crente entregue a ação divina, esforça-se por

confirmar sua vocação.

Em Christian Thelogy, Adam Clark, mesmo sendo metodista e

consequentemente arminiano, diz:

"O homem é capaz de cair e Deus é capaz de guardá-


lo de cair; e por meio de várias experiências da vida, Deus
salvará o seu filho de todo o mal para que ele seja moral e
espiritualmente incapaz de cair". (CLARK.em
<http://www.studylight.org/com/acc/view.cgi?bk=64&ch=0> Acesso
em : 1 out. 2013)

John L. Dagg afirma que o Espírito Santo continua a santificar todos os

regenerados e que em consequência disto, todos os regenerados perseveram

em santa obediência até ao fim da vida, não importando quantas lutas

enfrentem, todos serão, por fim, graciosamente preservados de uma apostasia

total e final.
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Segundo a vontade de Deus revelada nas Escrituras, o que acontece na

regeneração dura para sempre, de forma que a união mística de Cristo com os

crentes é indissolúvel, o amor de Jesus os sustém, as promessas de Deus

garantem a nossa segurança em Cristo. Quando ocorre a apostasia final, as

Escrituras asseguram que a razão é a ausência da verdadeira religião, em

outras palavras, nunca foram salvos. "...saíram para que ficasse evidenciado

que nunca foram dos nossos" (1 Jo. 2.19).

L.W Munhall, compositor de pelo menos oito hinos, embora fosse

pregador metodista e, portanto,arminiano, não tinha problema com a doutrina

da perseverança dos santos.Falando sobre as doutrinas que devem ser

enfatizadas no evangelismo bíblico, chama perseverança de "Garantia" e

discorre explicando que a salvação da morte espiritual por meio do novo

nascimento vem imediatamente após o "testificando tanto a judeus como a

gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor, Jesus

Cristo" (At. 20.21); "porque pela graça sois salvos, mediante a fé" (Ef. 2. 8); e

"Estas coisas vos escrevi, afim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós

outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1 Jo. 5.13). Declara-se que

algumas coisas estão na Palavra de Deus e por meio delas o crente deve

saber que possui a vida eterna. Aqui estão algumas delas: "Em verdade, em

verdade vos digo: quem houve a minha palavra e crê naquele que me enviou

tem a vida eterna, não entrará em juízo, mas passou da morte para vida" (Jo. 5.

24); "Aquele que tem o filho tem a vida" (1 Jo. 5. 12-13); "Por isso, pois, os

judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado,

mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (1

Jo. 5. 18); e "E por meio dele , todo o crê e justificado" (At. 13. 39). Uma obra
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realizada assim, a Bíblia ensina uniformemente. Ao crer nessas palavras de

garantia, encontra-se paz e alegria. Essa é a tarefa do pregador, tornar clara

essa questão aos convertidos, para que suas esperanças estejam

seguramente ancoradas, certos de suas almas estarem guardadas em, e por

Deus.

É absolutamente verdade que Deus é aquele que santifica o crente.

Ninguém pode fazer isso por si mesmo. Paulo afirma: "... porque Deus é que

efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp.

2.12).

PROVAS DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA

Há duas formas principais de provar a veracidade da doutrina da

perseverança, mediante a inferência de outras doutrinas, como a da eleição

(significa que é eleição para um determinado fim, um telos, a salvação. Para

isso, Deus reveste os seus com a influência do Espírito Santo), da aliança da

redenção(Deus entregou ao seu povo o próprio filho como recompensa da

obediência e sacrifício deste. Recompensa esta, estabelecida na eternidade e

isenta da influência do objeto da aplicação, o homem. Assim, define-se ser

impossível que o homem anule o propósito de Deus), da eficácia dos méritos

da intercessão de Cristo (o preço do pecado da humanidade foi pago na obra

expiatória de Cristo, que é a base perfeita para a justificação do pecador.

Somado a isso, vem o fato de que Jesus intercede constantemente e

eficazmente por aqueles a quem redimiu no seu sangue), da união mística com

Cristo(os que são unidos pela fé em Jesus, tornam-se participantes do seu


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Espírito, tornando-se assim, um só corpo com ele. Uma vez na Igreja

Triunfante, o Corpo místico de Cristo, a amputação é impossível), da obra do

Espírito Santo(é evidente que o Espírito Santo jamais deixaria incompleta a

obra de salvação iniciada no coração humano, de forma alguma o abandonaria.

Contudo, pode o Espírito entristecer-se) e da segurança da salvação(a firme

convicção que Deus completará o que iniciara, fornece ao crente a indubitável

certeza de que estarão no Céu com Cristo. A Bíblia deixa isso muito claro em

Hb.3.14; 6.11; 10.22 e 2Pe.1.10;eatravés de afirmações da própria Escritura,

tais como, "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me

seguem;E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as

arrebatará da minha mão." (Jo.10:27-28), " Porque os dons e a vocação de

Deus são sem arrependimento (ou em outra versão, a ARA, irrevogáveis)."

(Rm. 11:29). Ainda que este último texto se refira diretamente à vocação de

Israel, o apóstolo Paulo, falando à igreja de Filipos, consola os crentes com as

seguintes palavras: "Estou plenamente certo de que aquele que começou a

boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (Fp.1.6). Em

2Ts.3.3, ele diz:"Todavia, o Senhor é fie;ele vos confirmará e guardará do

Maligno" e ainda, em 2Tm.1.12 "... porque eu sei em quem tenho crido e estou

certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia", e

2Tm.4:18, " E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o

seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém." (2 Timóteo

4:18).
19

OBJEÇOES E REFUTAÇÕES

Segundo Charles Finney, renomado teólogo arminiano do século

dezenove, tendo ampla concordância de seus pares, a doutrina da

'perseverança dos santos' é incoerente com a liberdade humana. Respondendo

a esse questionamento, citando Moule, Strong diz:

"Deus levará todos os verdadeiros crentes a enfrentar


tais influências, de modo a perseverarem livremente" (MOULE,
1891 apud STRONG, 2003, p. 627)

É importante relatar que na teologia arminiana a queda não desabilitou

totalmente o homem a fazer escolhas contrárias em questões espirituais e

morais. Um segundo ponto a recordar é a inabilidade de conciliar a soberania

de Deus com a responsabilidade humana. Havendo um debate entre

monergista e sinergista, o último, geralmente acusa o primeiro de pregar

fatalismo, fazendo o homem parecer um robô. Não se consegue perceber Deus

agindo no homem pelo Espírito.

Outra objeção afirma que a doutrina da perseverança conduz à

passividade ética, ou melhor dizendo, levar à indolência, ao abuso ou até

mesmo à imoralidade. Não há lastro que apoie essa afirmação, haja vista não

ser possível encontrar, em qualquer passo das Escrituras, o ensinamento de

que a graça anula a responsabilidade humana ou necessidade de vigilância.

Pelo contrário, admoesta-se a honrar a vocação com a vida (2Pe. 1.10-11).

Essa objeção é uma perversão da doutrina, possível apenas para o não


20

regenerado. O salvo não tem prazer em algo que desagrade a Deus e/ou

afronte Sua santidade.

Uma afirmação superlativamente grave contra a doutrina da

perseverança é quanto a sua biblicidade. Segundo os acusadores da doutrina

da perseverança, se o crente não pudesse cair, as advertências contra a

apostasia e permanência no caminho da santificação perderiam a razão. Não

pode-se esquecer que os contextos dos textos apresentados como

argumentos, consideram a questão partindo do lado do homem e não provam

que o crente possa cair da graça definitivamente, mas que o uso dos meios

para que esse pecado não ocorra são necessários, o que é visto em um exame

mais cuidadoso de Mt.24.12;Cl.1.23; Hb.2.1-2; 3.14; 6.11; 1Jo.2.6. Refutando

esta abjeção, Berkhof argumentou que uma comparação entre At.27.22-25 e

31, resolve o caso. Porém, outra contestação diz que em 1Tm. 1.19-20;

2Tm.2.17-18; 4.10; 2Pe.2.1-2 e Hb.6.4-6, há registros concretos de apostasia.

Contudo, a afirmação que se faz, não prova que um cristão regenerado, de

posse da fé salvadora e habitado pelo Espírito Santo, possa cair da graça. É

certo que os que aparentemente caem da graça, nunca foram regenerados -

tiveram suas vidas moldadas à sistemas religiosos, morais e éticos, sem

contudo, haver regeneração. Assim, é impossível que um salvo caia

definitivamente da graça, perdendo desta maneira, a salvação. Se morre sem

Cristo, na verdade, nunca O teve, conforme registrado em 1Jo.2.19.

Falando sobre esse assunto, Gruden afirma que os que se afastam,

naufragando na fé, podem apresentar muitos sinais exteriores de conversão. A

passagem de Mt.7.21-23 deixa claro que é possível servir a Deus, sem


21

contudo, conhecê-lo, esse conhecimento está pautado na intimidade que só o

Espírito Santo fornece.

Embora a última objeção relatada seja gravíssima, tornando a doutrina

da perseverança dos santos uma heresia, sua argumentação é relativamente

frágil. Se levarmos em conta cada uma das objeções, será obrigatório atribuir a

salvação à volição humana, tornando assim, o Deus Soberano em mero e

passivo expectador, dependente e refém da meritocracia.

Pode-se alegar dificuldade ou inabilidade na compreensão da doutrina

da perseverança como descrita pelos reformados, mas, jamais, mencionar que

não seja bíblica.É um acinte.

É preciso recordar que falando da possibilidade da perda da salvação,

em sua conclusão, o quinto artigo da 'Remonstrância' diz:

"... Mas quanto à questão se eles não são capazes


de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida
em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo
a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi
entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a
graça – isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada
nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com
inteira segurança." (Remonstrância, 1610)

Fica absolutamente claro que não havia certeza se a queda definitiva da

graça fosse possível. Qualquer pregador sinergista que leve o texto do quinto

ponto e seus termos em consideração, usando de coerência mínima, não mais

pregaria a possibilidade da queda. Fica evidente que o exagero neste ponto se

dá para que houvesse harmonia e concordância com os demais pontos. De

outra forma, todos seriam tacitamente derrubados pela inconclusiva dúvida

restante.
22

ORIGEM DO MEDO DA QUEDA

Usos e costumes

A psicologia define medo como o sentimento de insegurança em relação

a uma pessoa, uma situação ou um objeto.

Afirmando que um salvo possa cair definitiva e finalmente da graça,

perdendo assim a salvação, o sistema arminiano requer o cumprimento de

alguns dispositivos capazes, como se crê, de assegurar a manutenção da alma

entre os eleitos, além da graça de Deus.

Popularmente conhecido, no nicho em questão, como 'doutrina', mas

baseados na prática local e particular, os "usos e costumes" cumprem um

papel vital nesse sistema. Compreende uma série de normativas extra-bíblicas

que arbitram toda a vida do indivíduo, refletindo assim, segundo eles, o estado

espiritual. Em sentido latu, funciona como termômetro de salvação. A não

observação resultaria na perda da vida eterna, gerando insegurança e medo.

Uma criação da Igreja Cristã Maranata (ICM)

Tendo como um de seus objetivos o mesmo enfoque, servir de aferidor,

surgiu na ICM, dissidente direta da Igreja Presbiteriana do Brasil no estado do

Espírito Santo,o "Seminário da Síndrome da Queda Espiritual" (SSQE). Nota-

se nos adeptos que fizeram o curso, grande dificuldade de deixar a

agremiação, ainda que estejam decididos. Se pelo medo ou não, não é correto

afirmar, porém, o medo é sempre presente.


23

Embora não seja de circulação externa, adeptos partícipes do curso e

algumas congregações locais divulgaram o conteúdo em suas páginas de

internet, possibilitando o uso em outros arraiais. Vejamos seu teor:

“Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a


vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais
tropeçareis.“ (2 Pe. 1.10)
1 - Definições:
a)Síndrome - É o conjunto de sinais e sintomas de uma
determinada patologia (doença).
b)Sinais - É aquilo que vemos ou observamos.
c)Sintomas - São as queixas do paciente.
2 - Introdução
Síndrome da queda espiritual não foi escrita em nenhum
livro de medicina, mas nesta Obra se descreve tudo. Esta é uma
doença grave, que se no princípio for atendida o paciente será salvo,
mas se não pode evoluir para a morte e morte espiritual, e começa
sem a gente perceber.
3 - Os Sinais
a) Comodismo e apatia - Não participa do culto profético,
evangelização, falta aos cultos, na limpeza, nas reuniões.
b) Desobediência - Nas coisas mínimas, não atende as
orientações, “A Revelação,“ Culto ao meio dia, Madrugada etc.
Não existe a sua participação, não cuida daquilo que o
Senhor concedeu, se torna infiel.
c) Auto Suficiência - Age como quer, não precisa mais do
Pastor, das revelações que o Senhor dá no corpo; faz o que pensa;
ele decide tudo.
d) Murmuração - Comentários estranhos, não concordam
com nada, e fala com qualquer um, novo convertido e até visitante.
e) Insensível - Não está bem, o Senhor dá as orientações e
ele não aceita, diz que não é com ele, não acredita mais nos dons.
f) Volta ao Passado - Costumes e coisas que havia
abandonado, vota a praticá-las.
g) Isolamento - Afasta-se do corpo, perde noção de corpo,
faz aquilo que entende, perde vida.
“Busca satisfazer seu próprio desejo aquele que se isola;
ele se insurge contra toda sabedoria”. (Pv. 18.1).
4 - Sintomas
a) Saudosismo - “A Obra não é mais a mesma”. A frase
correta é “A Obra não é mais a mesma na minha vida”.
“No começo era melhor, o fogo caía, tudo era melhor, hoje a
Obra mudou”. Quem mudou foi ele, a Obra evoluiu e ele envelheceu.
“Não sirvo a homens, estou aqui para servir a Deus”, mas é escravo
de si mesmo.
Não tem humildade para ouvir o que o Senhor fala através
de um companheiro.
b) Ninguém me Entende - “Ninguém me dá razão, contei
para o diácono: mas não me entende”
c) Auto Piedade - “Tanto que eu fiz pôr esta Obra e agora
ninguém me entende”. O amor pelo Senhor deu lugar ao sentimento
de pena de si mesmo.
d) Insensibilidade - Incapaz de sentir em profundidade a
presença do Espírito Santo no culto. Não crê mais.
24

Não se quebranta. A palavra já não fala mais ao seu


coração.
e)Transferência de Culpa
“A culpa é de fulano, estou assim porque ele falou um
negócio comigo e eu não gostei”.
“O Senhor sabe do meu coração”.
f) Fastio/Tédio - Está sempre aborrecido e nervoso. Não
desperta mais interesse pelas coisas do Senhor, pelo zelo, etc.
5 - Prevenção
A melhor forma de prevenirmos esta doença é estarmos na
revelação.
“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho,
nos purifica de todo o pecado”. (1Jo. 1.7)
6 - Conclusão
A situação dele é critica. Só um milagre. Essa doença deve
ser prevenida e identificada no começo. Se a igreja não estiver
vacinada pega, porque ela é contagiosa, e se ela evoluir leva a
pessoa ao estado de coma.Se fizermos o diagnóstico a tempo, salva-
se o doente.
Temos que identificar essa doença na vida do crente
(membro da Igreja) com rapidez. Disponível em:
<http://www.icmbelavista.com.br/index.php?pagina=1761678879>.
Acesso em: 15 out. 2013.

Mesmo se o objetivo não for causar medo, insegurança e culpa,

inevitavelmente, o texto acima o faz, evidenciando assim, essa peculiaridade

dos sinergistas. Observa-se que esse ensinamento, pelo ardil psicológico em

seus argumentos, pode facilmente ser usado como instrumento de dominação,

como visto em alguns casos.

O MEDO DA QUEDA

O pensamento quedista afirma ser perfeitamente possível estar salvo em

um dia e noutro não, e mais, um eleito pode morrer afastado de Deus, indo

para o inferno, conforme afirma EduradoJoiner:

O justo (justificado) pode retornar ao pecado, e se não


se arrepender dele e não o abandonar, e morrer nele, terá
como resultado disso a morte eterna. (JOINER, 2005, p. 444)
25

A implicação natural, como já mencionada, é o medo, o que é bem

compreensível quando não se depende unicamente da graça, misericórdia e

cuidado de Deus, mas da capacidade de permanecer castos.

A extensão desse argumento alcança também a manutenção da vida em

Deus, ou seja, da salvação. Desta forma, toda exortação bíblica à vigilância

apontaria para a possibilidade de queda, o que é alardeado por seus

pregadores, também como forma de manter o rebanho.

Todo cristão, independente do sistema doutrinário, tem momentos de

estima baixa, dúvidas, questionamentos, enfim, apresenta o que aqui é

qualificado como sinais e sintomas da 'síndrome da queda. Com efeito, é

comum encontrar-se entre os crentes na perda da salvação, pessoas

desoladas, deprimidas, perturbadas e em constante agonias, afinal, ninguém

deseja o inferno, e perceber que é impossível se manterem puros o tempo

todo, não é agradável. De fato, é aterrorizante pensar que Deus pode encontrar

o homem com algum pecado não confessado, comprometendo assim, toda sua

eternidade.

Em conversas informais com dissidentes do sistema quedista, foram

ditas frase como:

"Nunca me senti segura";

"O medo é algo comum e constante";

"Houve uma época em que tive medo de dormir esquecendo de

confessar algum pecado e ser pego de surpresa durante o sono";

"Estar em momentos íntimos com minha esposa era um dilema"

"Me isolei de tudo, pensando em não pecar";

"Tinha medo de tomar banho e ser pego sem roupa";


26

"Mesmo tonta, passando mal e indisposta eu estava na igreja. Pensava:

E se Jesus voltar enquanto eu estiver em casa descansando?";

"Toda vez que adoecia, me diziam que era uma pecado encoberto";

É impossível manter-se insensível diante de tanta alienação, coerção e

paranóia propositalmente infringida.

Há, no entanto, um lenitivo, uma solução capaz de estancar todo o pavor

causado pela crença na possibilidade de se perder a salvação.

A COMPREENSÃO DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA AFASTA


OS PAVORES DE CRER NA PERDA DA SALVAÇÃO

Aos seus, Deus, através do Espírito Santo se permite conhecer. Sua

eterna graça e misericórdia são expostas e gravadas no coração do crente de

tal forma que toda insegurança e medo são substituídos por alegria indizível.

Não há mais espaço para incertezas quanto ao destino eterno e os terrores de

ser apanhado subitamente foram dissipados pela manifestação da glória do

Senhor.

Para o regenerado, pensar em santidade é pensar no Deus que o

capacita à santidade. O pecado, embora o entristeça, é um acidente e não lhe

tira a certeza da casa final e eterna. Ao invés disso, o coloca na exata posição

em que deve permanecer, prostrado diante da majestade benfazeja do seu

Salvador. Não há espaço para estagnação ou passividade, tudo o que lhe

ocupa a mente é honrar, agradar e satisfazer Aquele que lhe deu vida plena.

Seu relacionamento com Deus não está mais pautado em obrigações legais,

mas na devoção simples pura e prazerosa.


27

Cada ponto da doutrina fala ao mesmo tempo da incapacidade do crente

em manter-se separado para Deus através dos próprios meios; mostra um

Deus que não tem sua vontade frustrada pelo homem, mas a cumpre

cabalmente; trás o conhecimento da ação do Espírito Santo como guia e

penhor da salvação; exibe Aquele a quem pertence os méritos pela interseção

ininterrupta em favor dos seus; desvenda oconhecimento Daquele que

persevera nos Seus, pelos Seus e através dos Seus, ainda que se cometa

pecados horrendos, sinta suas agruras e perca a alegria de pertencer a Deus.

CONCLUSÃO

É fato, no Brasil, a maioria dos crentes professa fé que põe a segurança

da salvação dependente da instabilidade humana,crê e ensina a possibilidade

da queda final e total.

Não se pode impedir tal pregação de acontecer em seu nicho de origem.

De igual forma, não se pode impedir que os resultados devastadores da psique

aconteçam. Conclui-se, portanto, que no meio reformado, tal ensinamento deva

ser rechaçado sistematicamente. É nítido que recebendo dissidentes com tais

premissas, a igreja deve agir com cordialidade, sem contudo, diminuir a firmeza

doutrinária. Não há subterfúgio que justifique o uso de materiais que propagam

tais absurdos em ambiente calvinista. A preguiça dos responsáveis pelo ensino

nas Congregações deve ser amorosamente confrontada.

O mito pietista que transformou o estudo teológico em algo frio, sem

piedade ou devoção precisa ser destronado.


28

Em suma, faz-se urgente por parte de algumas igrejas reformadas a

retomada da paixão e cuidado pela ortodoxia. Nesse bojo, a doutrina da

perseverança dos santos precisa ser redescoberta, assim como os Cânones de

Dort, de onde ela procede.


29

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