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Rev. do Museu de A rqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3: 285-302, 1999.

REPENSANDO OS RÓTULOS E A HISTÓRIA


DOS JÊ NO SUL DO BRASIL A PARTIR DE UMA
INTERPRETAÇÃO INTERDIS CIPLINAR

Francisco Silva Noelli*

Ao longo dos últimos 120 anos diversos pes­


quisadores trabalharam para definir quais as po­
pulações humanas que ocuparam o sul do Brasil e
as áreas vizinhas no estado de São Paulo e na Pro­
víncia Argentina de Misiones. Foram definidos
conjuntos distintos, relacionados a grupos de caça-
dores-coletores não ceramistas (tradições Umbu e
Humaitá; cf. Dias 1994, Hoeltz 1997) e ceramistas
(tradição Vieira; cf. Brochado 1984, Robrahn-Gon-
zález 1998), bem como agricultores e ceramistas
falantes de línguas da familia Jê (tradições Taquara,
Casa de Pedra e Itararé; cf. Brochado, 1984; Robrahn-
González, 1998) e da família lingüística Tupi-gua-
rani (grupos Guarani; cf. Brochado 1984, 1989;
Noelli 1993, 1996a, 1998).
Porém, foi apenas nos últimos 35 anos que se
conseguiu reunir e sintetizar coerentemente os da­
dos, ordenados em conjuntos denominados tradi­
ções arqueológicas (Terminologia 1976). Estes fo­
ram rigidamente definidos sob um recorte funda­
mentado pelo histórico-culturalismo, difusionismo
e determinismos cultural e ecológico, personifica­
dos no gigantesco programa dirido por Betty Meg-
gers e Clifford Evans para a América do Sul e Cen­
tral (cf. análise crítica emLathrap 1970a, 1973; Fa­
ria 1989; W. Neves 1988; Roosevelt 1991a, b, 1995;
Funari 1989,1991,1994,1995,1998; Barreto 1998; Fig. I - Area com registros arqueológicos e his­
E. Neves 1995, 1998; Noelli 1993, 1996a, b, 1998). tóricos sobre os Jê do sul do Brasil.
A versão brasileira do projeto de Meggers e
Evans foi denominada Programa Nacional de Pes­
quisas Arqueológicas - PRONAPA, que funcionou a abordagem pronapiana tinha por princípio um pres­
entre 1965 e 1970, desenvolvido por 11 arqueólogos suposto sugerido nos anos 50 por Meggers (1955:
em 9 Estados (Pronapa 1970; Meggers 1985, 1992; 129): “tratar a cultura de uma maneira artificial­
Meggers & Evans 1978; Dias 1995). Em nível geral, mente separada dos seres humanos”. A adoção des­
te princípio justificou uma interpretação hermética e
refratária em relação as idéias e fatos do panorama
(*) Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-Histó- americanista, instrumentalizando uma estratégia de
ria. Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações. seleção de dados que ignorou o conjunto de infor­
Universidade Estadual de Maringá, Paraná. mações preexistentes e os resultados obtidos parale­

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lamente por pesquisadores movidos por outras idéi­ Minuano, Charrúa e Guarani, salvo nos casos onde
as. Sua aplicação propiciou a formulação de mode­ há evidência arqueológica ou histórica de contato,
los e hipóteses estanques em relação as que estavam são bem distintos dos relativos aos Jê do sul.
sendo desenvolvidas por outras disciplinas, dis­ Olhando além da bibliografia arqueológica e
sociando a pesquisa arqueológica da Antropologia e tirando os óculos pronapianos, verifica-se que o
das outras Ciências Sociais que vinham florescendo conjunto das informações sobre os Kaingang e
no Brasil desde o século XIX. Xokleng tem origem diversa, a partir de estudos
A manipulação pronapiana criou um cenário científicos realizados desde o século XIX e docu­
artificioso, baseado em “poucos e freqüentemente mentos burocráticos ou pessoais, redigidos a par­
irrelevantes atributos” (Barreto 1998:577) de amos­ tir do século XVI por civis, militares e religiosos.
tras cerâmicas e líticas coletadas na superfície ou Estes dados estão acumulados em um volumoso
em poços-teste. Trabalhando em campo com a maior conjunto de publicações, ultrapassando 1.100 títu­
rapidez possível - um ou dois dias em cada sítio - los para os Kaingang (Noelli et al. 1998), e mais
para cumprir o programa de atividades determina­ de 600 para os Xokleng (Noelli et al. s.d.), além de
do por Evans & Meggers (1965) no Guia para incontáveis documentos inéditos em arquivos pú­
prospecção arqueológica no Brasil e colher evi­ blicos e privados no Brasil e em outros países. Infe­
dências na superfície ou em pequenos poços-teste, lizmente, graças ao domínio pronapiano, estas
os arqueólogos pronapianos não criaram as condi­ informações ainda não foram consistentemente uti­
ções para perceber contextos regionais, realizar es­ lizadas pelos arqueólogos, que primaram por fazer
tudos de adaptação/manejo ambiental e de antro­ compilações empobrecidas e analogias distorcidas
pologia física, pesquisas de cultura material ou en­ com os dados históricos e etnográficos (p. ex.:
frentar questões sociológica e politicamente dirigi­ Chmyz 1981; Becker 1975a, 1975b, 1985, 1991;
das, dentre as diversas possibilidades de pesquisa E. Miller 1971; Schmitz & Becker 1991).
arqueológica. De acordo com Roosevelt( 1991 a: 107), Diante deste quadro, a pretensão deste traba­
“seus métodos de escavação e análise combina­ lho divide-se em duas partes. A primeira trata das
vam materiais de períodos diferentes, comprimin­ principais criações e conclusões pronapianas em
do artificialmente a seqüência arqueológica” tomo das “tradições arqueológicas Itararé, Taquara
Desta forma, foi construído um cenário interpre­ e Casa de Pedra” procurando evidenciar o cená­
tado “sob a égide de um determinismo ecológico não- rio estanque construído nas últimas quatro déca­
histórico” (Funari 1998), recheado por publicações que das sobre sua origem e definição. A segunda com­
se contentavam apenas em transformar as poucas evi­ preende a minha interpretação do conjunto de to­
dências em fatos e números (Funari op. cit.). O resul­ das as informações sobre os Jê do sul, visando dis­
tado deste quadro acadêmico predominante, ainda bem cutir as idéias em tomo de sua história, suas ori­
vivo e pouco discutido no presente, é a prevalência de gens e expansão pelo sul do Brasil e adjacências.
uma postura e de uma abordagem que não contribu­ Ao mesmo tempo, aproveitarei esta segunda parte
em para revelar especificidades materiais e possíveis para ir apontando como várias idéias e fatos ante­
realidades históricas e sociológicas vividas pelas po­ riores e contemporâneos ao PRONAPA foram ig­
pulações no que hoje classificamos como “região sul norados ou utilizados indiretamente, a partir de
do Brasil e áreas vizinhas”. leituras de segunda ou terceira mão.
Embora não exista nenhum estudo rigoroso Um dos meus objetivos é tentar sair do círcu­
das coleções e dos sítios arqueológicos em nível lo vicioso criado em torno do universo pronapiano,
local ou regional, é possível empregar uma abor­ e contribuir para uma interpretação alternativa que
dagem alternativa, interdisciplinar, que considere comece a ver os Kaingang e Xokleng como inte­
a uniformidade dos atributos morfológicos da ce­ grantes do conjunto multicultural que define os po­
râmica, do lítico e cerca de 1000 sítios arqueoló­ vos Jê do Brasil Central. Também gostaria de in­
gicos, de maneira que nos permita estabelecer uma sistir num aspecto fundamental para consolidar
associação genérica entre os elementos das “tradi­ minha proposta: que se trabalhe para estabelecer
ções Taquara, Itararé e Casa de Pedra” e a cultura as correlações entre o passado arqueológico e o
material dos povos Jê do Sul. Ao mesmo tempo, presente etnográfico, seguindo o exemplo da rigo­
por exclusão, os conjuntos materiais das popula­ rosa abordagem empregada por Wüst (1998) no
ções pré-ceramistas Umbu e Humaitá e ceramistas caso Bororo. Para tanto, precisamos re-analizar e

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re-interpretar as coleções arqueológicas deposita­ ções de segunda mão), e o publicado por Menghín
das no museus e laboratórios, desenvolver pesqui­ (1957), sobre o nordeste argentino. Com as pes­
sas regionais duradouras, realizar pesquisas etnoar- quisas da década de 60 e o aproveitamento das rea­
queológicas, estabelecer estudos de'Antropologia lizadas no final dos anos 50, os pronapianos e ali­
Física e integrar criticamente as informações his­ ados reuniram material suficiente para produzir
tóricas e etnográficas existentes. uma visão geral sobre a presença do que eles defi­
niram inicialmente como “cerâmica não-Guarani”.
Eles conseguiram superar o que não houve no pe­
PRONAPA, seus seguidores e a criação ríodo entre 1880 e 1960, pois, junto com a escassez
das tradições arqueológicas no sul do Brasil de pesquisas, a falta de comparação de resultados
e treinamento científico foram os maiores impedi­
Cumprindo suas partes no PRONAPA, Eurico mentos para estabelecer sínteses regionais que con­
Th. Miller, José Proenza Brochado, Wilson F. Piaz- tribuíssem para identificar os registros arqueoló­
za, Igor Chmyz, José W. Rauth e Silvia Maranca, gicos dos Jê do sul.
localizaram inúmeros sítios, contribuindo para am­ No final dos anos 60, a interpretação prona-
pliar substancialmente o mapa arqueológico do sul piana postulou três tradições arqueológicas para o
do Brasil e São Paulo, inclusive em diversas áreas sul do Brasil e Estado de São Paulo, denominadas
que ainda não tinham sido pesquisadas até mea­ Itararé, Casa de Pedra e Taquara, definitivamente
dos da década de 60, como os interiores do Paraná conceituadas em 1968, quando foram realizadas
e Santa Catarina. Devem ser incluídos outros pes­ as primeiras comparações sistemáticas entre os da­
quisadores que adotaram nas décadas de 60-70 as dos obtidos no sul do Brasil é Misiones, Argenti­
metodologias e idéias do PRONAPA no Rio Grande na. De acordo com a metodologia do PRONAPA,
do Sul, Santa Catarina e Paraná (Pedro I. Schmitz, os marcadores eram obtidos nas vasilhas e/ou frag­
ítala B. Becker, Guilherme Naue, Fernando La mentos cerâmicos, como o anti-plástico, a cor, o
Salvia, Pedro Mentz Ribeiro, João A. Rohr, Al- acabamento de superfície e, eventualmente, as for­
roino Eble, Oldemar Blasi). Todos estes pesquisa­ mas das vasilhas e os diferentes ambientes de in­
dores podem ser enquadrados entre os “pronapia- serção dos sítios arqueológicos para definir suas
nos” (Meggers 1985:369-70). Pode-se, também, in­ tradições (cf. método em Meggers & Evans [1967]
cluir neste conjunto a geração p osterior ao 1970; veja descrição detalhada dos registros ar­
PRONAPA, principalmente nos anos 70-80, por queológicos em Brochado 1984: 109-138).
reproduzir suas metas e idéias, estando inserida Igor Chmyz (1968), no Segundo Simpósio de
no rol de interesses da conjuntura político-acadê- Arqueologia da Área do Prata, realizado em julho de
mica dominada pelos pronapianos e seus adeptos 1968, propôs a definição de duas tradições arqueoló­
(Funari 1989, 1994, 1995, 1998; Roosevelt 1995). gicas, baseando-se principalmente nas característi­
Embora ocasionalmente façam menção a tra­ cas das vasilhas cerâmicas encontradas no sudeste
balhos arqueológicos publicados desde o século de São Paulo, no Paraná, Santa Catarina e Misiones
XIX, os pronapianos basicamente consideraram (Argentina), denominando-as “Itararé” e “Casa de
apenas o produto de suas atividades, cuja finalidade Pedra” (em menor escala, também considerava os ti­
programática derivava de sua meta: definir “rotas pos de sítios ocupados e o material lítico).
de difusão das cerâmicas” (cf. Dias 1994, 1995). No mesmo Simpósio, contribuindo para a for­
Conseguiram definir pela primeira vez os regis­ matação de uma síntese sobre todas as tradições
tros arqueológicos dos povos Jê, que até então só ceramistas no sul do Brasil, Pedro I. Schmitz (1968:
haviam sido pontualmente mencionados e que não 128) incluiu as evidências do Rio Grande do Sul,
constavam nas principais sínteses relativas ao sul ampliando a área de ocorrência dos registros ar­
do Brasil e adjacências publicadas por arqueólo­ queológicos das tradições “Itararé” e “Casa de Pe­
gos profissionais até o início dos anos 60 (cf. dra”. Sem utilizar a terminologia pronapiana, Sch­
Howard 1948, Willey 1949, Silva & Meggers 1963). mitz (1968: 128) sumariou em uma síntese “ é/ c véí-
As exceções, restritas a áreas relativamente peque­ lidez muito transitória” e “«ma tentativa sujeita a
nas, são os trabalhos de Serrano (1936, 1937) so­ muitas revisões” a respeito dos três “grandes com­
bre o litoral e o território Kaingang no noroeste do plexos de cerâmica indígena” localizados no sul
Rio Grande do Sul (a última baseada em informa­ do Brasil, apresentando-os de modo ainda indefi-

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nido (“complexo tupiguarani”, “fases Cerritos e produção, na forma e na decoração dos vasi­
Vieira” e “gê meridional”). lhames sejam suficientemente distintos para
Poucos meses depois, em Belém do Pará, os fundamentar tradições. ... Por enquanto é bas­
membros oficiais do PRONAPA reuniram-se para tante claro que o conjunto forma uma tradição
comparar seus dados (Pronapa 1970; Meggers 1985, tecnológica e cultural... (Schmitz 1988:75)”
1992). Ali ratificaram as propostas de Chmyz, e, Pouco tempo depois, em outra síntese geral para
com mais uma revisão dos dados gerais do sul do o sul do Brasil, Schmitz (1991: 9), ainda sem novos
Brasil, propuseram uma terceira tradição arqueoló­ fatos ou pressupostos, concluiu totalmente a meta­
gica, batizada como “Taquara” por Eurico Th. Miller morfose de suas conclusões preliminares sobre as “
(Brochado et al. 1969: 12-16; Meggers & Evans três tradições” cerâmicas na região sul do Brasil:
1978). Obedecendo as decisões pronapianas quan­
to ao conceito de tradição e adotando o que foi es­ a área mostra densa ocupação neolítica,
tabelecido em Belém sobre as tradições em ques­ que os arqueólogos identificaram como três
tão, Schmitz deixou de tentar estabelecer relações tradições (cerâmicas) regionais: no sul a tra­
entre os registros arqueológicos e as populações “gê dição Taquara, no meio a Casa de Pedra, no
meridionais” mencionados em seu trabalho de 1968. norte a Itararé. A diferença entre as três, para
E importante destacar que neste período foram quem olha de fora, é tão pequena que talvez
definidas as distinções materiais entre os registros fosse mais objetivo falar de uma tradição com
arqueológicos das populações ceramistas do sul do três subtradições.
Brasil. Schmitz (1968:138), ao comparar os regis­ As modificações na interpretação sobre a pre­
tros relativos aos Guarani, Jê do sul e Charrua/Mi- sença destas populações, apoiadas basicamente nas
nuano, concluiu que: diferenças/semelhanças das vasilhas cerâmicas,
até agora não se descobriu um único tipo traduzem as limitações de uma abordagem hermé­
que seja comum a dois ou três dos grandes tica e refratária em relação ao conjunto de fatos e
complexos [tradições] cerâmicos do Sul do idéias no cenário mais amplo da Etnologia do les­
Brasil em análise, indicando que o desenvolvi­ te da América do Sul. Isto revela a instabilidade de
mento dos mesmos fo i independente. um modelo sem dados suficientes para sustentar
Desde então, apesar de serem transitórias e su­ as supostas diferenças entre estas três tradições ar­
jeitas a muitas revisões, essas conclusões gerais são queológicas. Para Brochado (com. pessoal, 1998),
repetidas e aceitas até o presente, inclusive por pes­ um ex-pronapiano, a criação destas “três tradições”
quisadores que utilizaram abordagens distintas (cf. foi muito mais um ato de vaidade do que a delimita­
Schmitz 1968,1972,1973,1977, [1979] 1981,1988, ção de uma descoberta científica, pois alguns dos seus
1991; Schmitz e Brochado [1972] 1981a, [1974] colegas do programa estavam mais interessados em
1981b; Blasi, 1973; Chmyz 1968,1971,1976; Meg­ “batizai’novas “tradições arqueológicas” em um enor­
gers & Evans 1978; Reis 1980; Brochado 1984; Cag- me território que ia sendo pesquisado pela primeira
giano 1984; Neves 1984; Barreto 1988; Blasis 1988; vez. Já naquela época, durante a primeira reunião do
Robrahn 1988; Ribeiro 1991; Poujade 1992; Prous PRONAPA em Belém, segundo Brochado, não ha­
1992;Noelli 1993,1996a, 1996c, 1998; SilvaeNoelli via acordo em tomo da definição das três tradições.
1996; Kem 1981, 1994; Robrahn-González 1998). Porém, acabaram obedecendo Meggers, dona do pro­
Vinte anos após o evento de 1968, sem que grama e do dinheiro, que decidiu pela criação das
nenhum novo elemento material fosse apresenta­ tradições Itararé, Casa de Pedra e Taquara.
do além da localização de mais sítios arqueológi­
cos, ou que se reavaliasse o problema sob o enfoque
de outras abordagens, Schmitz começou a alterar A idéia pronapiana da origem
substancialmente suas conclusões preliminares, em geográfica das tradições
outra síntese dos dados disponíveis até 1988, ex­ Itararé, Taquara e Casa de Pedra
clusivos para as “ três tradições”:
Apesar de comumente se usarem estes no­ Outra idéia adotada e desenvolvida pelos pro-
mes, como identificadores de três tradições napianos, que também reflete o isolamento do con­
cerâmicas, não todos os pesquisadores estão texto americamenista, diz respeito a origem autóc­
de acordo em que as diferenças na técnica de tone destas três tradições no sul do Brasil, a partir

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de princípios evolucionistas e difusionistas sim­ arqueológicos: 1) “preceramico”; 2) “alfarero tem-


plificados. A base é a hipótese de Osvaldo Men- prano”; 3) “alfarero tardio” (Serrano 1972). Os pe­
ghín (1957), sobre a continuidade entre as popu­ ríodos “temprano e tardio” refletem, com outras
lações “Altoparanaenses” e “Eldoradenses” na Pro­ designações, a continuidade entre o Altoparanaen­
víncia Argentina de Misiones, a partir da seme­ se IV e o Eldoradense. Outros trabalhos importan­
lhança entre alguns objetos líticos comuns as duas tes que também sintetizaram a ocupação humana
tradições. Nos termos pronapianos significa a con­ no nordeste argentino, reproduziram acriticamente
tinuidade entre populações pré-ceramistas da tra­ estas idéias, sem nenhum tipo de discussão (cf.
dição Humaitá e populações ceramistas Taquara, Lafon 1971,1972; Caggiano 1984; Poujade 1992).
Itararé e Casa de Pedra. O postulado central desta Podemos, também, considerar a interpretação
hipótese é que as populações do “Altoparanaense IV” de Willey (1971: 459), no seu conhecido manual
que ocupavam a região desde 8.000 A.P. passaram sobre a pré-história das Américas, que pode, mes­
por uma processo de “neolitização” a partir de 2.000 mo que indiretamente, ter reproduzido as idéias de
A.P., adotando, por difusão, a tecnologia do alisa- Canais Frau. A partir de uma perspectiva distanci­
mento de arenito (sem polimento) e, posteriormen­ ada das pesquisas do sul do Brasil, Willey sugeriu
te, a agricultura e a cerâmica (Cf. Menghín 1957). que a cerâmica Taquara teria tido origem na cerâ­
Estas idéias já eram conhecidas pelos futuros pro­ mica Vieira. Diversos estudo demonstraram que
napianos, como Schmitz (1959), aparecendo nos este desdobramento não seria possível, tendo am­
primeiros relatórios do PRONAPA (p. ex. Chmyz bas as populações tradições culturais e tecnológicas
1969: 114; E. Miller 1967: 19,1969: 46) e diversas distintas (cf. Brochado 1984).
publicações posteriores. No final dos anos 70 Sch­ Apesar do conjunto de resultados factuais con­
mitz (1981) analisou a obra de Menghín, estabele­ sagrados ou em discussão entre os americanistas, a
cendo correlações com os resultados arqueológicos hipótese de Menghín continua sendo aceita até o
posteriores aos anos 50 e considerando a síntese do presente pela maioria dos pesquisadores que estu­
arqueólogo alemão “bastante valedera” dam o sul do Brasil: Ribeiro (1991: 106) comparti­
Menghín, por sua vez, parece ter baseado suas lha do mesmo pressuposto de E. Miller (1967,1971),
idéias e modelo interpretativo nas hipóteses de Ca­ considerando que não há, excetuando as casas semi-
nais Frau (1940,1954: 294), sobre a relação de con­ subterrâneas e a cerâmica, diferenças entre os re­
tinuidade histórica entre os Kaingang e populações gistros arqueológicos das tradições Humaitá e
pampeanas. Apesar das advertências de um destaca­ Taquara. Kem (1981: 193-4), Robrahn-González
do americanista, Herbert Baldus (1941, 1954: 250, (1998: 622), Schmitz & Becker (1991: 275-276) e
1955, 1968: 296), que demonstrou que Canais Frau Schmitz (1991: 9) também compartilham dessa po­
estava propondo uma interpretação meramente es­ sição, sendo que os dois últimos sugerem o Rio
peculativa (“pura fantasia!”), sem a devida funda­ Grande do Sul como centro de origem da tradição
mentação, os pronapianos ignoraram estas advertên­ Taquara. Posteriormente, Kem (1994:78-9) modi­
cias. Muito menos, prestaram atenção em trabalhos ficaria sua interpretação, seguindo o modelo de “mi­
de ordenação de dados materiais e antropológicos e gração dos grupos Jê”, que introduziriam no sul uma
sociológicos que demonstravam as relações culturais série de “inovações neolíticas”
entre os Kaingang/Xokleng e os demais Jê, como as Pesquisadores de renome de outras discipli­
sínteses de Ploetz & Métraux (1930), Métraux (1963), nas das Ciências Sociais também incorporaram sem
Haekel (1952, 1953), Schaden (1958), Hicks (1966, ressalvas estas idéias, expandindo-as para fora dos
1971) e, mais recentemente, Kühne (1979,1980), que confins pronapianos e da Arqueologia sul-ameri­
tomavam improcedentes as hipóteses e conclusões cana. Um exemplo disto, é Susnik (1975: 58,1994:
de Menghín e Canais Frau. 44-46) que considera os Kaingang como “proto-
Um outro produto derivado das idéias de Ca­ povoadores pré-cerâmicos” do sul do Brasil e de
nais Frau e Menghín foi a sugestão de Antonio Misiones, usando como suporte para sua interpre­
Serrano que, após mais de quarenta anos de pes­ tação a noção já obsoleta de “povos marginais” con­
quisas no nordeste argentino, também formulou um solidada por Lowie (1946, 1949) no Handbook o f
modelo de ocupação da região, propondo três pe­ South American Indians.
ríodos gerais baseados na sua interpretação das se­ Outros arqueólogos destacados, apesar de mo­
qüências estratigráficas e na tipologia dos registros dificarem a hipótese original de Menghín e de consi­

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derarem a relação das “ três tradições” com os de­ ancestrais dos Macro-Jê, passando a operar num ce­
mais Jê, também reproduziram, ainda que parcial­ nário até então sem qualquer explicação subsidiada
mente, suas idéias evolucionistas e difusionistas. A arqueológicamente com a mesma consistência. Es­
maior síntese da Arqueologia brasileira, publicada sas evidências corresponderiam aos ascendentes mais
por André Prous em 1992 com título de Arqueologia antigos do tronco Macro-Jê, que Brochado qualifica
Brasileira, sugere que a cerâmica “Taquara-Itararé” (seguindo Làthrap 1970b) como sendo os represen­
estaria relacionada a uma “onda que ultrapassa de tantes das “línguas do antigo Brasil oriental”, cujas
longe o Brasil meridional e norte argentino para se relações “umas com as outras e com as do grupo Gê
estender no Brasil central, onde se associa a padrões não foram demonstradas” (Brochado 1984: 3). Es­
culturais distintos” (Prous 1992: 329). Embora te­ sas tradições cerâmicas consideradas mais antigas,
nha dúvidas que o impedem de “fundamentar qual­ além de terem pobres evidências devido às poucas
quer hipótese evolutiva” (1992: 331), apresenta di­ pesquisas, ainda não estão em condições de serem
versas semelhanças entre os registros arqueológicos associadas a povos historicamente conhecidos, ex­
similares entre a tradição Humaitá e “Taquara- cetuando a tradição Una, nos Estados da Bahia, Mi­
Itararé”. Todavia, do ponto de vista arqueológico, nas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, relacio­
perguntando-se sobre as origens geográficas dos nada aos falantes da família Purí, do tronco Macro-
“Taquara-Itararé” André Prous conclui que “não Jê. Na mesma situação, mas ainda sem um estudo de
existem ainda nem hipóteses a respeito... Provavel­ correlação com populações históricas, encontram-se,
mente, um dia será possível associar esta grande segundo Brochado, os estilos Periperi (Bahia) e Jatai
'onda ’ à dispersão antiga dos Jês: meridionais (Goiás), em uma região intermediária entre a Ama­
(Taquara-Itararé) e centrais (tradição Una eformas zônia e o sul do Brasil. A partir de evidências arque­
aparentadas)” (Prous 1992: 329). Por fim, Prous ológicas e lingüísticas, Brochado (1984) sugeriu que
(1992: 330) sugere que “se formos respeitar a prio­ os Jê teriam primeiro se expandido até o sul, e depois
ridade cronológica normalmente aceita na nomen­ teriam adotado a cerâmica através de difusão, partin­
clatura científica, todo o vasto complexo descrito até do da hipótese de que eles já estariam culturalmente
agora deveria ser chamado ‘Eldoradense’...” ori­ definidos e instalados em seus territórios no leste e
ginalmente batizado por Menghín (1957). no sul do Brasil quando as cerâmicas originadas no
José Brochado (1984, 1991), por sua vez, após baixo Amazonas passaram a ser difundidas. Este mo­
abandonar publicamente os pressupostos do PRO- delo arqueológico de 1984, apesar de estar baseado
NAPA, procurou demonstrar que, em geral, as dis­ em informações muito precárias, de acordo com o
tribuições dos povos históricos “coincidem precisa­ autor (Brochado, comunicação pessoal, 1990), não
mente com as distribuições dos materiais arqueoló­ está divergindo dos modelos lingüísticos (Davis 1966,
gicos”, principalmente nas regiões planálticas de cer­ 1968; Rodrigues 1986; Urban 1992). Brochado (com.
rados e caatingas ao norte de São Paulo e de campos pessoal, 1992) considera que seu modelo necessita,
e florestas de latifoliadas e araucárias na Região Sul todavia, de ajustes e contínuos testes à medida em
do Brasil, incluindo a província de Misiones (Bro­ que novos dados forem surgindo, para prosseguir re­
chado 1984: 1-3). Segundo Brochado, eles estariam finando a definição das populações pré-históricas e,
filiados na sua origem mais remota, nas origens do quando for o caso, relacioná-las aos povos históricos
Macro-Jê, à tradição “Pedra do Caboclo”, que suge­ ou descartá-las definitivamente.
re ser um dos focos originais de desenvolvimento da
cerâmica na América do Sul, cujos representantes
mais antigos são as cerâmicas globulares de formas As idéias pronapianas em torno da
simples de Taperinha, no baixo Amazonas, que al­ continuidade histórica das populações Jê
cançam mais de 8.000 anos A.P. no baixo Amazo­
nas (Roosevelt et al. 1991). Brochado, basicamente Juntamente com a definição das tradições ar­
a partir de evidências relacionadas à cerâmica e, em queológicas e a questão da origem geográfica, há
menor escala a outras evidências materiais e ao po­ um outro problema insolvido, derivado do herme­
sicionamento geográfico dos sítios, comparando as tismo pronapiano, relativo à definição da continui­
tradições Mina (baixo Amazonas) e Pedra do Cabo­ dade histórica das populações indígenas no sul do
clo (Nordeste), propôs uma hipótese para explicar a Brasil. Como os pronapianos consideram “a cultu­
origem e expansão dos povos passíveis de serem os ra de uma maneira artificialmente separada dos

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seres humanos”, não criaram os meios para definir vas que questionem os elementos que distinguem
quais populações históricas estavam relacionadas os povos Guarani, Charrúa, Minuano, Kaingang e
às evidências arqueológicas. Desta forma, como se Xokleng, existe a possibilidade de se detectar fu­
pode verificar na maior parte da bibliografia ar­ turamente evidências materiais que revelem distin­
queológica do sul do Brasil, o único critério empre­ tas etnicidades, a exemplo das multivariações veri­
gado para estabelecer estas correlações foi uma sim­ ficadas historicamente em nível lingüístico, bio­
plista superposição geográfica entre registros arque­ lógico, antropológico e sociológico.
ológicos e populações historicamente conhecidas. Ao contrário do hermetismo pronapiano, que
Abaixo, alguns exemplos de correlação entre tradi­ interpretou as evidências arqueológicas a partir de
ção arqueológica e populações Kaingang e Xokleng: suas próprias idéias, totalmente refratário e des­
conectado do desenvolvimen­
to da Arqueologia internacio­
nal e das demais Ciências So­
Autor(es) Kaingang Xokleng ciais no ambiente americanista,
o conjunto de dados em ques­
La Salvia, Schmitz
& B eck er(1970)
= Taquara tão deve ser analisado compa­
rativamente dentro de um con­
E. Miller (1971: 54) = Taquara
junto cultural mais amplo, no
T. Miller (1978: 30,33) = Itararé / âmbito do tronco lingüístico
Casa de Pedra Macro-Jê e da cultura Jê, re­
fletindo as posições e discus­
Chmyz (1967: 35, 1981: 95) = Casa de Pedra = Itararé
sões de etnólogos e lingüistas.
Sem deixar de considerar as
Brochado (1984: 109) = Itararé / = Taquara /
inúmeras armadilhas que a
proposta de um modelo desta
Casa de Pedra Taquaruçu natureza possa conter, tal co­
Schmitz & Becker (1991: 252) = Taquara mo advertem Jones (1997), Si-
ms-Williams (1998) e diversos
Prous (1992: 329) Jês meridionais = Taquara-Itararé
pesquisadores que estudam o
“Problema Indo-Europeu”, en­
tendo que há dados suficien­
Os Jê no sul: roteiro tes para iniciar a construção de um modelo não-
para um modelo alternativo difusionista de origem e expansão para os Jê no sul
do Brasil. Afinal, estamos tratando de populações
com consideráveis informações lingüísticas, bioló­
“An interpretative archaeology should be
gicas, etnográficas, históricas, geográficas, arqueo­
more restrained, respecting the past and never
lógicas, e não de povos ou populações antigas que
seeking the final word. ”John C. Barret (1996:
necessitem de malabarismos analógicos para serem
578)
estudadas e interpretadas.
Também não pretendo reproduzir aqui os mo­
No meu ponto de vista, apesar dos inúmeros delos difusionistas de Gustaf Kossinna, nem as
problemas existentes, a questão dos Jê no sul do Brasil manipulações nazistas para a origem dos povos
está definida em termos de continuidade histórica. germânicos, tal como comentou equivocadamente
Apesar do conjunto de dados existentes ter sido obti­ Funari (1997: 91) sobre a minha análise da expan­
do a partir de pesquisas arqueológicas considera­ são Tupi (Noelli 1996a, 1998). Considero que esta
das pouco rigorosas e, de maneira monocausal, in­ é uma investigação que ainda está iniciando e que
terpretado apenas por pressupostos deterministas e suas problemáticas, dimensões e complexidades
difusionistas, é possível afirmar que as linhas ge­ ainda não foram totalmente definidas, estando to­
rais da seqüência de ocupação humana de po­ talmente abertas à diversas possibilidades teó­
pulações ceramistas no sul do Brasil deixaram ricas e metodológicas da Arqueologia e Ciências
de ser hipotéticas. Embora os registros arqueoló­ afins, como já discuti em outra ocasião (Noelli
gicos não tenham revelado diferenças significati­ 1996b).

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Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3: 285-302, 1999.

Afinal, quais são os subsídios para explicar a sil, sendo incluídos no conjunto dos Kayapó, Tim-
presença dos Kaingang e Xokleng no sul do Brasil ? bira, Kren-akarôre e Suyá (Davis 1966, 1968; Ro­
A primeira síntese que incluía os povos hoje drigues 1986). Observando o mesmo mapa de Ni­
enquadrados no tronco Macro-Jê foi feita por Mar- muendajú, observaremos que os Kayapó se locali­
tius há cerca de 140 anos, quando ele propôs a de­ zam ao longo das bacias do Xingu e do Paraná, na
nominação Jê (cf. Martius 1867). Posteriormente, área oriental do baixo curso do rio Tocantins (Tim-
empregando os métodos lingüístico-comparativos bira), no alto curso do Xingu (Suyá) e no médio
vigentes no cenário acadêmico europeu do final curso do rio São Manoel (Kren-akarôre). O mapa
do século XIX, von den Steinen (1894) revisou o de Urban (1992), ao lado, representa a posição geo­
trabalho de Martius, ampliando o conjunto de lín­ gráfica historicamente conhecida das línguas do
guas da família Jê. Ao longo do século XX, a lin­ tronco Macro-Jê e da família Jê.
güística comparada entre os grupos Jê foi sendo A partir deste conjunto de dados lingüísticos,
desenvolvida por Loukotka (1939, 1968), Mason Urban (1992:90-91) propôs um modelo para a “ár­
(1950) e Davis (1966, 1968), definindo o tronco vore genealógica” Macro-Jê, sugerindo os proces­
Macro-Jê e estabelecendo as relações internas en­ sos de separação e diferenciação entre as línguas.
tre as suas línguas/populações. Estas relações in­ Segundo Urban, a primeira separação teria ocorri­
ternas também contêm uma série de evidências de do entre os Jê meridionais (Kaingang e Xokleng),
contato destas línguas entre si e com línguas de iniciando seu deslocamento para o sul do Brasil,
troncos, famílias ou línguas distintas, tomando ne­ sobre ao territórios do Planalto Brasileiro. Embo­
cessária a consideração de uma abordagem que ra Urban (1992:90) entenda que as causas desta
contemple aspectos multivariados de origem bio­ migração sejam desconhecidas, é possível evocar
lógica, sociológica e antropológica. a hipótese de Lathrap (1970b) e Brochado (1984),
O atual conjunto de dados etnológicos/lin­ Brochado & Lathrap (1980), de que estes movi­
güísticos/biológicos e arqueológicos sustentam a mentos populacionais para fora da Amazônia seri­
hipótese de que a origem e começo da expansão dos am derivados de um importante aumento demográ­
Kaingang e Xokleng começou a partir de uma área fico que os teria pressionado para fora de suas áre­
fora do sul - a ser definida - , no Brasil central e as originais. Este processo de separação ainda não
áreas vizinhas acima do Paralelo 16° onde está foi suficientemente estudado arqueológicamente,
concentrada a maioria das populações do tronco ficando totalmente em aberto às futuras relações
Macro-Jê (Davis 1966, 1968; Rodrigues 1986; entre os registros arqueológicos do Brasil central
Salzano & Callegari-Jacques 1988: 35-37; Urban que possam ser associados aos Jê (exceção às hipó­
1992). Isto contribui para eliminar definitivamente teses de Brochado que foram mencionadas acima).
as idéias de Menghín, Canais Frau e dos pronapia- Além da demonstração de os Kaingang e Xo­
nos sobre a origem autóctone das “tradições Itararé, kleng não serem originários do sul do Brasil, um con­
Casa de Pedra e Taquara”, evoluindo das “popula­ junto de conclusões importantes obtidas em meados
ções Humaitá” no sul do Brasil. dos anos 60, que nunca foram consideradas pelos
As relações entre as línguas da família Jê, den­ arqueólogos, fundamentam os parâmetros que dife­
tro do tronco Macro-Jê, mostram que a língua Kain­ renciam os Kaingang e Xokleng: 1) Kaingang e
gang pertence ao conjunto que inclui as línguas Xokleng são duas línguas distintas (Davis 1966,
do grupo Akwén (Xakriabá, Xavante e Xerente) e 1968; pesquisa aperfeiçoada nos anos 70 por
a língua Apinayé, estabelecidas nos Estado de Mi­ Wiesemann 1978); 2) são populações biologicamente
nas Gerais, Mato Grosso e Goiás (Davis 1966, Ro­ distintas (Salzano & Sutton 1965, Salzano & Freire-
drigues 1986). Observando o mapa de distribuição Maia 1967); 3) são culturalmente distintas (Schaden
destas línguas (cf. Nimuendajú 1981), veremos que 1958;Hicks 1966,1971; Urban 1978,1992). Ao mes­
elas se localizam desde o Brasil central, nas baci­ mo tempo que revelam claras distinções entre os
as dos rios Tocantins (Xerente) e Araguaia (Xavan­ Kaingang e Xokleng, estes estudos propiciam os ele­
te) e, também, nos seus baixos cursos (Apinayé); mentos que possibilitam considerar as informações
na área do divisor de águas das bacias do Tocan­ destas populações de modo unificado, a exemplo dos
tins, São Francisco e Paraná (Xakriabá). Por sua estudos comparados de sistemas sociais propostos
vez, os Xokleng também estão relacionados com por Maybury-Lewis e colegas (1979). Isto é, quando
grupos da família Jê localizadas fora do sul do Bra­ estou falando das populações arqueológicas, também

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I in n i i ac M a rrn .. là

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poderei me referir simultaneamente às informações tidade de informações etnográficas a respeito da


lingüísticas, biológicas ou culturais. matéria-prima, forma, manufatura, funcionalida­
Todavia, apesar das evidentes diferenças bio­ de e nomenclatura, Miller Jr. se restringiu aos as­
lógicas, lingüísticas e culturais referidas acima, o pectos materiais da cerâmica a partir da perspecti­
conjunto dos registros arqueológicos ainda não va arqueológica para subsidiar sua hipótese, per­
apresentou diferenças e contrastes marcantes, que dendo uma excelente oportunidade para apresen­
possam ser utilizados para distinguir materialmente tar incisiva e definitivamente um modelo alterna­
os Kaingang e Xokleng. As diferenças entre os sí­ tivo e substitutivo ao pronapiano.
tios parecem estar mostrando distintos indicado­ Por outro lado, há uma série de publicações
res de adaptabilidade ou de funcionalidade, uma vez do século XIX e início do XX que documentaram
que todos os tipos aparecem representados nos di­ os Jê do sul em sua vida quotidiana e coletaram
ferentes ambientes do sul do Brasil e áreas vizinhas dados de interesse à interpretação arqueológica.
(cf. Brochado 1984). As diferenças em outros as­ Porém, como a metodologia pronapiana ignorou
pectos culturais (materiais ou simbólicos), tal como estas fontes, perdeu-se a oportunidade de avançar
verificaram diversos pesquisadores (p. ex.: Ploetz a construção da história dos Kaingang e Xokleng.
&Métraux 1930;Métraux 1963;Hicks 1966,1971), Estas publicações descreveram genérica ou espe­
ainda não foram consideradas até recentemente pe­ cificamente os Kaingang e Xokleng usando e fa­
los arqueólogos, especialmente pela ausência de zendo suas vasilhas, desde o século XVIII, além do
correlações com os registros arqueológicos. registro de outros elementos da cultura material e
Alguns pesquisadores que conhecem o con­ dos seus empregos no cotidiano, bem como diver­
texto que envolve os Jê do sul vêm demonstrando sas informações sociologicamente úteis. A revi­
que não há diferenças significativas entre as evi­ são criteriosa destas fontes e dos dados etnográfi­
dências encontradas nos registros arqueológicos e cos teria evitado a “reinvenção da roda”, iniciada
aquela feita pelas populações etnográficas ou pe­ nos anos 60, antes mesmo do advento do PRONA-
las citadas em fontes históricas. Também, que as PA, pois os arqueólogos teriam vislumbrado a exis­
informações históricas contêm os elementos que tência de populações Kaingang e Xokleng fazen­
demonstram as diretas relações de continuidade do e utilizando suas culturas materiais.
histórica das populações distinguidas por diversos Utilizando documentação histórica e trabalhos
nomes ao longo de quase 400 anos. etnográficos que descreveram as cerâmicas Kain­
Nos anos 70, considerando as informações ar­ gang e Xokleng, preparando-se para realizar um
queológicas conhecidas até então, Tom Miller Jr. futura pesquisa arqueológica e etnoarqueológica,
(1978: 31), na conclusão de sua pesquisa etnográfi­ Fabíola Silva (s.d.) identificou os seguintes itens,
ca sobre a cerâmica dos Kaingang paulistas, suge­ para estabelecer comparações, organizados crono­
riu que: logicamente a partir das fontes mais antigas: 1)
processos de seleção; 2) extração e tratamento da
por razões de (1) tecnologia, (2) formas
matéria-prima; 3) técnicas de construção; 4) seca­
e (3) distribuição em espaço e tempo, estamos
gem; 5) queima; 6) acabamento de superfície. Pro­
mais do que inclinados a considerar que to­
curou identificar aspectos gerais do sistema tec­
das as tradições regionais não-tupiguaranis
nológico dos Kaingang e Xokleng, a fim de definir
desde o planalto riograndense ... até a bacia
cadeias operatorias da produção da cerâmica, se­
do Tietê, devem ser consideradas como uma
guindo a proposta de Lemmonier (1992; 26). Com
única tradição cerâmica.
os resultados, elaborou uma caracterização preli­
Miller Jr. se justificava, manifestando que o minar dos estilos tecnológicos dos Jê do sul, na
antiplástico, a cor e o tratamento de superfície não perspectiva de Reedy & Reedy (1994), visando de­
seriam elementos suficientes para separar as duas finir os elementos tecnológicos que contribuem
tradições arqueológicas que estava analisando para demonstrar a continuidade histórica entre os
(Itararé e Casa de Pedra), pois os dois primeiros ele­ Kaingang e Xokleng e seus ascendentes pré-colo-
mentos poderiam ser derivados das ofertas locais niais. Silva sistematizou os dados encontrados em
de matéria-prima conforme as características geo­ Ambrosetti (1895), Barbosa (1916), Fernandes (1941),
lógicas de cada região (Miller Jr. 1978: 32-33). Kempf (1947), Keller (em Lovato 1974), Mabilde
Embora tenha apresentado uma significativa quan­ (1896), Maniser (1930), Métraux (1963), T. Miller

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(1978), Moura (1905), Paula (1924), Piza (1938), histórico e positivista ingênuo” Isto é, enquanto
Santos (1973), Serrano (1957), Simonian (1975) e americanistas de diferentes disciplinas, movidos
Sullivan & Moore (1990), concluindo qüe os esti­ por distintas orientações teóricas, debatiam e cons­
los tecnológicos de produção dos Kaingang e Xo- truíam um modelo para os Jê e os Macro-Jê, os
kleng “são bastante semelhantes, principalmente pronapianos iam “reinventando a roda” sem ne­
no que se refere ao processo de manufatura e, mais nhuma conexão com as demais descobertas de et­
especificamente, à construção do vasilhame'". nólogos, lingüistas, geneticistas, historiadores e
Isto contribui para demonstrar que as cerâmica outros cientistas.
dos Kaingang e Xokleng possuem uma tecnologia e A característica marcante do campo pronapia-
uma aparência comuns, definidas a partir da mesma no é o isolamento do campo maior, que integra a
matriz cultural, dentro dos povos Jê. Considerando comunidade de americanistas. Apesar das claras re­
que as razões culturais podem ter influenciado na uni­ lações que pòdem ser facilmente estabelecidas en­
formidade de escolha de certos elementos (matéria- tre o passado arqueológico, o passado histórico e o
prima, antiplástico, acabamentos de superfície etc.), presente etnográfico dos Jê do sul, a mentalidade
Silva (op. cit.) chama a atenção para que se abando­ majoritária da comunidade de arqueólogos que atu­
ne a perspectiva pronapiana de que teria havido três am no sul do Brasil e o tipo de produto científico
tradições distintas. Ao mesmo tempo, deixou claro por eles construído, impede o estabelecimento des­
que a cerâmica não é um indicador seguro de dife­ tes relacionamentos. Esta completa desconexão re­
renças entre os Kaingang e os Xokleng, sendo ne­ sulta de uma monopolização da produção científica
cessário buscar outros indicadores. da Arqueologia sul-brasileira em tomo de suas re­
Utilizando informações históricas e arqueo­ lações de força, interesses, lutas político-académi­
lógicas para definir a relação direta de continuida­ cas e lucros na forma de prestígio, sendo um clássi­
de histórica e as diversas denominações atribuídas co exemplo daquilo que Bourdieu (1976) definiu
aos grupos locais/regionais pelos cronistas ao lon­ como “campo científico”. A sobrevivência deste
go de mais de 400 anos, José Reis (1997a, 1997b) campo até os dias atuais só foi possível graças ao
também concluiu que existe o conjunto de dados compadrio dominante, sobretudo entre os arqueó­
necessários para estabelecer a continuidade entre logos, tal como vem mostrando Funari (1989,1994,
os Kaingang e Xokleng e as populações que ocu­ 1998) e Roosevelt (1991a, 1995). Qualquer pesqui­
param os sítios arqueológicos. Este importante tra­ sador que analisar a produção científica dos pro­
balho contém as bases para que se desenvolvam napianos, dos seus aliados e descendentes, verá que
pesquisas regionais, com o objetivo de estabele­ eles não dialogam regularmente com as demais dis­
cer definitivamente (ou não) quais são os territóri­ ciplinas, como a História e a Etnologia, em direção
os e registros arqueológicos dos “G uaianá, àquilo que Lightfoot (1995) chamou de abordagem
Gualacho, Chiquis, Cabelludos, Mbiazá, Caaguá, holística e diacrônica. Alguns tentaram iniciar estes
Ibiraiara, Botocudo, Coroado” etc. diálogos, mas não prosperaram, como foi o caso de
Eble (1973). Outros, simplesmente amontoaram
acriticamente dados históricos e etnográficos, a
Conclusões exemplo de Becker (1975a, 1975b, 1985, 1991).
Se ignorarmos o conteúdo do monopólio pro-
Um modelo alternativo sobre as populações napiano e interpretarmos as evidências arqueoló­
Jê no sul do Brasil, a partir de uma perspectiva gicas atribuídas às tradições “Itararé, Casa de Pe­
interdisciplinar e de fora do ambiente dominante dra e Taquara” como sendo dos Jê do sul, a partir
da Arqueologia brasileira, deixa claro que a in­ de um ponto de vista americanista, estaremos abrin­
terpretação motivada pelo PRONAPA está obso­ do os caminhos para encontrar e construir uma his­
leta. Por outro lado, se considerarmos as idéias e tória dos Kaingang e Xokleng, a exemplo dos tra­
fatos produzidos no ambiente americanista desde balhos recentes que procuram fazer estudos histó­
o século XIX, somos obrigados a considerar que ricos e antropológicos a partir de informações orais e
os pressupostos, hipóteses e interpretações pro- documentais (Urban 1978; Lavina 1994; Veiga 1994;
napianas conceberam um cenário falseado e estan­ Tommasino 1995; Reis 1997a; Mota 1994, 1998).
que em relação à América do Sul, caracterizando Considerando que os dados pronapianos são
o que Funari (1998) chamou de “empirismo anti- pouco confiáveis, temos poucas informações úteis

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e que constituem objetos independentes dos obser­ mavam seus mortos, se todos os dados a este res­
vadores: a localização geográfica dos sítios, as co­ peito foram documentadas apenas durante o inten­
leções arqueológicas depositadas em museus e la­ so processo de contato em Santa Catarina (Santos
boratórios e, provisoriamente, com muita cautela, 1973), a partir do final do século passado? A cre­
as datações radiocarbônicas. Isto nos leva a uma mação entre os Xokleng era um comportamento
ingrata e radical conclusão: os sítios devem ser pes­ tradicional ou o resultado da imensa pressão que
quisados novamente, as coleções reanalisadas e os obrigava a não ter um território fixo e a ficar se
comparadas e as datações devem ser refeitas. deslocando constantemente como estratégia de dis­
Isto significa realizar uma pesquisa que procure tanciamento? Os Kaingang, por sua vez, até al­
unificar e analisar criticamente as informações his­ gumas décadas atrás, construíam mounds de terra
tóricas, etnográficas, lingüísticas e arqueológicas onde enterravam seus mortos, por estarem em áre­
relativas aos últimos 460 anos. Com estes resulta­ as que só recentemente foram colonizadas no Para­
dos, deve-se iniciar análises comparativas com o ná, São Paulo e oeste de Santa Catarina. Diversos
objetivo de identificar as relações de continuidade sítios arqueológicos com estes mounds foram lo­
e mudança cultural/biológica em direção ao pas­ calizados (Drumond & Philipson 1947, Schaden
sado e, simultaneamente, procurando definir as su­ 1958, Métraux 1963). Esta diferença poderá vir a
cessivas fronteiras dos espaços geográficos ocupa­ ser considerada como um dos indicadores de dis­
dos ao longo do tempo. tinção material a ser considerada.
Isto também significa que se deve estudar os Como superar estas limitações, a não ser pela
Kaingang e Xokleng ora isoladamente, ora com­ pesquisa arqueológica? É necessário observar a ad­
parativamente, considerando que as evidências vertência de Roosevelt (1991a: 105-106) sobre o caso
culturais, lingüísticas e biológicas revelaram di­ das interpretações erradas sobre populações amazô­
ferenças, acentuadas, enquanto que seus vestígi­ nicas, para não analisar ingenuamente as fontes do
os arqueológicos apresentam alto grau de seme­ século XIX e começo do XX e imaginar que no pas­
lhança. Deve-se, pensando em áreas de origem e sado os Xokleng seriam como os seus descendentes
na matriz cultural Jê e Macro-Jê, fazer compara­ ao tempo do contato. Também há que se pensar da
ções entre os Kaingang e os povos lingüistica- mesma forma para os contatos com os Guarani, mil
mente próximos, como os do grupo Akwén (Xa- ou mais anos antes da chegada dos brancos. O exem­
kriabá, Xavante e Xerente) e os Apinayé. Da mes­ plo da gênese dos Bororo, um povo incluído entre os
ma forma, também deve-se fazer comparações Macro-Jê, é uma advertência para o desenvolvimen­
entre os Xokleng e os Kayapó, Timbira, Kren-aka- to desta pesquisa. Irmhild Wüst (1990,1992,1998),
rôre e Suyá. Deve haver uma série de compara­ através de um estudo interdisciplinar, revelou que os
ções cuidadosas do ponto de vista lingüístico, Bororos atuais “seriam o resultado de um processo
genético e cultural, para definir quais as seme­ de incorporação de grupos étnicos e culturais dis­
lhanças e diferenças e os níveis de retenção e per­ tintos1' servindo como uma problemática a ser con­
da em relação a elementos da matriz cultural Ma­ siderada, confirmada ou refutada entre os Jê do sul.
cro-Jê. Também se deve seguir ampliando os estu­ Portanto, para iniciar uma nova abordagem so­
dos genéticos entre os Jê como um todo, para veri­ bre a história, a cultura, a política e o processo de
ficar quais as afinidades entre as populações atuais expansão territorial dos Jê no sul do Brasil, de modo
e do passado. a perceber as multivariações possíveis nos proces­
O grande problema a ser resolvido gira em tor­ sos históricos particulares de cada grupo compo­
no da definição das semelhanças materiais entre nente dos Kaingang e Xokleng, é preciso conside­
os registros arqueológicos dos Xokleng e Kain­ rar todas as informações existentes. Provavelmen­
gang, uma vez que ainda não foram verificadas di­ te, a maioria dos problemas de pesquisa ainda está
ferenças sensíveis. Como se pode constatar nas com­ para ser pensada e definida, como eu já disse antes
parações etnológicas realizadas por Hicks (1966, (Noelli 1996b). A arqueologia dos Jê do sul deve
1971) e Schaden (1958), a maioria dos itens anali­ procurar encontrar e seguir o conjunto de caminhos
sados não é relativa à cultura material, enquanto e desafios colocados pela arqueologia internacio­
que os indicadores arqueológicos usuais no sul do nal, substituindo e superando os burocráticos “pro­
Brasil não são mencionados. Por exemplo, como cedimentos pseudo-científicos do PRONAPA”
confiar nas informações de que os Xokleng cre­ (Brochado 1984: 29).

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Agradecimentos que contribuíram decisivamente nestas discussões


e que colaboraram decisivamente na consolidação
Junto com Fabíola Andréa Silva comecei esta da minha carreira universitária. A Eduardo Góes
pesquisa em 1993, que resultou em publicações con­ Neves e Pedro Paulo Abreu Funari, pelo apoio, de­
juntas e isoladas (veja bibliografia). A ela devo boa safios, divergências e os debates que temos e que
parte do que está escrito acima e quase a co-autoria certamente continuarão. Evidentemente, a respon­
deste trabalho. Agradeço também a José Brochado, sabilidade pelo que foi escrito é inteiramente mi­
Kimiye Tommasino e Lúcio Tadeu Mota, amigos nha.

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