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INTRODUÇÃO
“Uma escola justa não pode se limitar a selecionar os que têm mais mérito, ela deve também
se preocupar com a sorte dos vencidos”. (p. 10)
Igualdade social das oportunidades – “[...] pela criação de um bem escolar partilhado com
todos, independentemente do êxito de cada um. Antes que comece a seleção meritocrática,
uma escola justa deve oferecer um bem comum, uma cultura comum independentemente das
lógicas seletivas. Isso convida a se engajar fortemente em favor de um verdadeiro colégio
único, de um colégio cuja função seja garantir a cada um, isto é, ao mais fraco dos alunos, os
conhecimentos e as competências a que ele tem direito”. (p. 13)
“Em todos os países, mas em graus diversos, os alunos originários das categorias sociais mais
privilegiadas, os mais bem munidos em capital cultural e social, apresentam um rendimento
melhor, cursam estudos mais longos, mais prestigiosos e mais rentáveis que os outros [...] a
estrutura das carreiras e das performances escolares continua refletindo mais ou menos a das
desigualdades sociais”. (p. 27)
“Quanto mais um aluno é de origem favorecida, mais tem chance e ser um bom aluno, e
quanto melhor aluno ele for, mais chance tem de ter acesso a um ensino de qualidade”. (p. 35)
A ficção da igualdade e liberdade como responsáveis pelas desiguais performances dos alunos.
Responsabiliza-se o aluno, mantendo a ideia fundamental de igualdade, o que é necessário à
competição escolar e meritocracia. “Esse sistema se torna extremamente cruel quando a
ficção não funciona mais, quando o aluno trabalha e fracassa, quando trabalha muito e tem
pouco êxito, e quando ele só consegue explicar sua situação admitindo ser, na realidade,
desigual, menos dotado, menos corajoso, menos eficaz...” (p. 41)
Uma política de distribuição controlada e razoável dos recursos atribuídos à educação pública
e privada, a fim de construir uma maior igualdade na competição escolar.
“Sempre se pode dizer que é dever do Estado melhorar a qualidade dos estabelecimentos
escolares das zonas menos favorecidas a fim de que ninguém tenha boas razões para deles
fugir. Isso é incontestável. Mas é igualmente incontestável que, enquanto esperam, os alunos
dos bairros desfavorecidos sofrem, notadamente os melhores dentre eles que poderiam se
beneficiar amplamente de um bom ambiente escolar no colégio, o que lhes pe vedado em
nome de um mapa que defende a mistura social. É preciso, portanto, rever o mapa escolar a
fim de que ele não se torne o decalque da segregação urbana...” (p. 59)
“[...] essa política pode influenciar uma cristalização dos pertencimentos sociais atribuídos ou
‘inatos’, obrigando os indivíduos a se definirem por sua herança social, étnica ou sexual: a fim
de se beneficiar de um direito específico, ter-se-ia que se identificar um grupo. Sobretudo,
essa maneira de agir pode por sua vez produzir as maiores injustiças e as maiores frustrações
quando se continua acreditando na necessidade da ficção da igualdade das oportunidades”. (p.
61)
Políticas de discriminação positiva que tenha como alvo tanto indivíduos como
estabelecimentos frágeis.
“Sem atacar o princípio do mérito, convém garantir a todos os alunos a aquisição da cultura
comum a que têm direito. Ao lado de uma igualdade das oportunidades que deve possibilitar
aos melhores alcançarem a excelência, é preciso definir o que a escola obrigatória deve
obrigatoriamente garantir a todos os alunos”. (p. 75)
“A definição de uma cultura comum permanece conflituosa e política, porque implica uma
concepção do que os filósofos chamam ‘a vida boa’, e porque essa vida desejável a todos deve
ser uma vida possível e não uma vida perfeita”. (p. 82)
“A afirmação de uma cultura comum leva a suspender toda seleção, multiplicando as ofertas
de formação desde que os alunos adquiram o bem comum a que eles têm direito. Em outras
palavras, nada impede de dar mais, a mesmo muito mais que a cultura comum, pois a
igualdade meritocrática das oportunidades não desaparece e nada obriga a pensar
angelicamente que os alunos não são mais ou menos rápidos, mais ou menos interessados,
ativos e mobilizados. É, portanto, bom e justo que os que podem e querem façam mais latim,
matemática ou esporte... Mas só se pode lhes oferecer mais quando se está seguro
primeiramente de que cada um adquiriu o que lhe é devido em termos de conhecimentos e
competências consideradas indispensáveis a todos”. (p. 89)
Educar junto os alunos diferentes sem baixar o nível nem limitar o talento das elites,
favorecendo mobilidades e não lhes encerrando precocemente em certas habilitações,
fechando mais portas do que abrindo (p. 91)
“O imperativo da cultura comum é uma escolha de justiça fundamental, pois preserva os mais
fracos de uma degradação de sua situação. Mais ainda, ele faz do aumento de seu nível de
formação geral uma prioridade de justiça, uma exigência de cidadania e, provavelmente, uma
condição de eficiência coletiva [...]Na escola, a prioridade atribuída à igualdade social das
oportunidades introduzirá certamente uma mutação tão radical quanto o fora a extensão dos
direitos sociais, dando, ao preço de muitas lutas, alguma ‘realidade’ aos direitos políticos”. (p.
92-93)