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Abstract The scope of this study was to discuss Resumo Estudo sobre a organização da Assistên-
the organization of the pharmaceutical assistance cia Farmacêutica no Programa Saúde da Família
service in the family healthcare program. Quali- (PSF). Tem-se como objetivo discutir a organiza-
tative research from a critical/analytical perspec- ção da Assistência Farmacêutica no PSF. Pesqui-
tive was conducted in family healthcare units in sa qualitativa, numa perspectiva crítico-analíti-
a municipality of the state of Bahia, Brazil. Data ca, tendo como campo de investigação as Unida-
was collected on the basis of systematic observa- des de Saúde da Família de um município da
tion, semi-structured interviews and documents Bahia. As técnicas de produção dos dados foram
analysis from a dialectic standpoint. The organi- observação sistemática, entrevista semi-estrutu-
zation of Pharmaceutical Assistance consisted of rada e análise de documentos. O método de análi-
selection, planning, acquisition, storage and dis- se foi o hermenêutico-dialético. A organização da
pensing activities. The process was studied in the Assistência Farmacêutica, demarcada pelas ações
implementation phase, which was occurring in a de seleção, programação, aquisição, armazena-
centralized and uncoordinated fashion, without gem, distribuição e dispensação, apresentou-se
the proposed team work. An excess of activity was como uma realidade ainda em construção, que se
observed among the healthcare workers and there dá de modo centralizado e desarticulado das de-
was an absence of a continued education policy mais ações de saúde, divergindo da proposta de
for the workers. For the transformation of this trabalho em equipe; excesso de atividades realiza-
situation and to ensure the organization of phar- das pelos trabalhadores de saúde; e a ausência de
maceutical assistance with quality and in an in- uma política de educação permanente para os tra-
tegrated manner, a reworking of the manner of balhadores. Para a transformação dessa realida-
thinking and action of the players concerned de, de modo a assegurar a organização da Assis-
(managers, health workers and users), who par- tência Farmacêutica com qualidade e integrali-
ticipate directly in the organization, is necessary. dade, faz-se necessário uma reconstrução do modo
Furthermore, mechanical, bureaucratic and im- de pensar e fazer dos sujeitos (gestores, trabalha-
personal work practices need to be abandoned. dores e usuários) que participam diretamente da
1
Universidade Estadual de
Feira de Santana. Av. Key words Pharmaceutical assistance, Organi- organização, rompendo as práticas impessoais, bu-
Transnordestina, s/n CP zation, Family Health Program rocráticas e pouco comunicativas que as caracte-
252-294, Novo Horizonte.
rizam.
44036-900 Feira de Santana
BA. tatifarmauefs@ Palavras-Chave Assistência farmacêutica,
yahoo.com.br Organização, Programa Saúde da Família
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Maia TOS, Nascimento AA
atividades. Compreensão esta, que pode ser com- Diante desta realidade, vê-se claramente a com-
plementada com a análise da Ata da Comissão plexidade e a diversidade de serviços desenvolvidos
de Farmácia e Terapêutica11, onde é registrada pelo PSF, uma vez que, além de envolverem fontes
apenas uma única reunião, o que reforça a fala de financiamento ainda em constantes discussões,
do entrevistado 1, grupo I. há ausência de uma política de recursos humanos
A seleção de medicamentos propriamente dita para o SUS. Contudo, é preciso que esses trabalha-
deve ocorrer através de um trabalho coletivo de dores desconstruam tais discursos dos usuários e
profissionais, dinâmico e resolutivo, capaz de da sociedade em geral, sobre o Sistema Único de
satisfazer as demandas de maneira racional. Os Saúde, oportunizando ao usuário sua participa-
depoimentos a seguir expressam uma prática que ção no processo enquanto sujeito coletivo para re-
divergem desta ideia: verter a realidade de saúde em defesa da vida.
Eu tomo mais remédio, mas eu só pego esse Uma outra etapa imprescindível do ciclo de
[captopril] e o remédio da diabetes eu pego aqui Assistência Farmacêutica é a programação, con-
também, mas o remédio caro da artrose eu nunca siderada como um conjunto de atividades desti-
peguei (E.11, Grupo III). nadas a garantir a disponibilidade de medica-
Tem vezes que passa pra comprar, tem que mentos previamente selecionados e compatibili-
comprar mesmo. É devido ao sofrimento da colu- zar com os recursos disponíveis, a fim de garan-
na. Aí eu tenho que comprar (E.17, Grupo III). tir o acesso da população à terapêutica medica-
Os depoimentos dos usuários 11 e 17 expres- mentosa em qualidade e quantidade adequada,
sam um entendimento limitado quanto às po- em um período definido de tempo9,12,13. A pro-
tencialidades do SUS, na medida em que sugerem gramação é, portanto, uma atividade associada
que os medicamentos distribuídos são baratos e ao planejamento e por isso precisa haver meca-
para situações de menor complexidade, sendo nismos de controle e de acompanhamento.
necessário arcar com despesas para a aquisição A partir destes critérios, nota-se que a pro-
daqueles que venham atender à totalidade de suas gramação é uma atividade que necessita da con-
necessidades. No entanto, faz-se necessário ex- tribuição dos diferentes sujeitos, por meio dos
trapolar esses pré-conceitos estabelecidos na soci- diferentes saberes, práticas e conhecimentos que,
edade de que o SUS é para pobres ou que não integrados numa perspectiva coletiva, possibili-
possui o mesmo valor que o serviço privado. tem a efetivação de ações que assegurem o direi-
Além dessas reflexões, tais falas e outras situ- to à saúde. Ou seja, é um processo que precisa
ações observadas contribuíram para alguns ques- ser descentralizado e ascendente para que possi-
tionamentos: a lista de medicamentos do Muni- bilite a transmissão de informações fidedignas,
cípio realmente tem atendido às necessidades lo- capazes de expressar a realidade local.
cais? Por que o usuário atendido na rede pública Os depoimentos a seguir convergem com a
municipal faz uso de medicamentos não dispo- realidade observada.
níveis no serviço do Município? Qual a garantia Eu tenho planilhas [...]. Toda medicação, por
de que este usuário terá acesso ao medicamento exemplo, no mês eu despachei 200 amoxicilina. Aí
caro da artrose, ao qual se referiu? Qual a garan- então, no final do mês eu só faço corrigir e passo
tia de adesão ao tratamento? E, por fim, como para a próxima planilha, a que vai o pedido. O
será possível discutir tais questões e transformar paciente é diabético ou hipertenso ele vem todo
essa realidade se elas não são percebidas ou, se mês pra cá. Então, ele tá cadastrado aqui: hidro-
percebidas, não são dialogadas entre os traba- clorotiazida, captopril e furosemida. Então aqui
lhadores de saúde, inclusive aqueles que, ao me- tem nome, data e quantidade da medicação. As-
nos formalmente, compõem a CFT? sim, no final do mês você tem uma ideia de quanto
Estas questões não podem ser desvinculadas já gastou (E.6, Grupo II).
do processo de construção das políticas de saúde [...] Por exemplo, esse mês teve 5280 captopril,
e, mais especificamente, da Assistência Farma- mas em compensação, esse mês não teve atendi-
cêutica já que expõem a realidade encontrada no mento da enfermeira porque ela tá de férias e
Município em estudo, diante do seu processo de não teve tanto como no mês anterior. Eu só pedi
organização caracterizado por uma assistência pra completar. Eu já tenho toda essa base da hidro-
marcadamente centrada no medicamento, sem clorotiazida, do captopril, do que sai mais, do que
considerar as particularidades dos usuários, suas sai menos. [...] eu não peço a mais. É só o que
dificuldades e contexto, no qual estão inseridos; precisa mesmo (E.6, Grupo II).
além de pouco dialogada entre os sujeitos cons- Diante de tal realidade, torna-se imprescin-
trutores dessa prática, como pudemos observar. dível que a atividade de programação esteja as-
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Após selecionados e adquiridos pelas unida- mento Farmacêutico (CAF), assim como a in-
des gestoras em todos os níveis, os medicamen- serção do farmacêutico no serviço.
tos devem ser distribuídos de maneira coerente Já consegui separar dentro de algumas normas,
às demandas locais previamente conhecidas, nos algumas coisas da VISA, já fazendo a Central de
prazos determinados, em quantidade e qualida- Armazenamento Farmacêutico. [...] Nós fizemos
de adequadas. Este processo é definido como dis- uma consulta à SESAB e aí nos foi esclarecido que
tribuição e alguns critérios são estabelecidos pelo para os municípios menores, não necessariamente
Ministério da Saúde14 tais como rapidez, segu- deveria ser dois lugares, mas que tinha que existir
rança, controle das informações relacionadas ao ambientes separados e adequar todas as normas da
estoque e adequadas condições de transporte. VISA. A outra questão foi a presença do farmacêu-
Dando continuidade às atividades que confi- tico (E.2, Grupo I).
guram a Assistência Farmacêutica tem-se a ar- O depoimento converge com as observações
mazenagem dos medicamentos adquiridos, cujo realizadas às quais nos possibilitaram perceber
objetivo é assegurar a qualidade dos medicamen- avanços significativos referentes à armazenagem
tos através de condições ambientais adequadas e dos produtos. Tanto no que diz respeito aos as-
do controle de estoque, de forma a garantir a pectos estruturais do CAF, como piso, parede,
disponibilidade dos medicamentos em todos os portas, teto, instalações elétricas e sanitárias, as-
locais de distribuição para os usuários, as far- sim como também, no que se refere aos equipa-
mácias das Unidades de Saúde da Família. mentos que facilitam a movimentação e estoca-
A armazenagem dos medicamentos ocorre gem, com finalidade de otimizar as atividades e
na Central de Abastecimento Farmacêutico aproveitar o espaço para empilhadeira, carros
(CAF), local destinado à guarda exclusiva de para transporte de medicamentos, termômetros,
medicamentos, é mediada pelas atividades de re- higrômetros, exaustores e outros.
cepção, estocagem, segurança e conservação. Um outro avanço diz respeito aos aspectos
Consiste em acondicionar os medicamentos ad- estruturais do CAF, como piso, parede, portas,
quiridos de acordo com a programação feita pe- teto, instalações elétricas e sanitárias, reportadas
las USF à coordenação da Assistência Farmacêu- no depoimento do entrevistado 2 a seguir, assim
tica de maneira que atenda aos critérios de boas como também, no que se refere aos equipamen-
práticas de armazenamento para que seja dis- tos que facilitam a movimentação e estocagem,
pensado com qualidade ao usuário13,17. Na ar- com a finalidade de otimizar as atividades e apro-
mazenagem, destacamos ainda o controle de es- veitar o espaço para empilhadeira, carros para
toque para que haja um acompanhamento das transporte de medicamentos, termômetros, hi-
movimentações de entradas, saídas e perdas de grômetros, exaustores e outros.
produtos de modo a minimizar obstáculos para Logo que começou foi a questão estrutural. Não
o acesso do usuário à Assistência Farmacêutica. existia a Central de Abastecimento Farmacêutico
A área destinada à guarda de medicamentos separado. Era tudo numa casa em péssimas condi-
deverá garantir as condições adequadas já referi- ções. Então logo no primeiro semestre de 2005 foi a
das, de modo a atender os critérios de Boas Prá- primeira providência. Era mais fácil e também mais
ticas de Armazenamento, que podem ser elabo- gritante. Foi mais fácil tirar de uma estrutura que
rados pelas diferentes instituições de acordo com tava ruim e passar para outra um pouco melhor
a realidade apresentada. Assim, também os mu- (E.2, Grupo I).
nicípios e estados devem desenvolver os seus Conforme esse depoimento, é visível uma
manuais para orientação das ações de armaze- preocupação e iniciativa por parte do gestor para
nagem. Além de explicitar as atividades em todas com a reestruturação do CAF, no sentido de
as suas etapas, o manual serve como orientação melhorar as condições de armazenagem. Assim,
escrita para os trabalhadores no setor. No en- ao utilizar-se dos critérios definidos pela Coor-
tanto, não exime a equipe de desenvolver traba- denação da Assistência Farmacêutica Estadual da
lhos de educação em saúde a partir de uma rela- Bahia, CEAF-BA17, são observados avanços em
ção dialógica entre os trabalhadores que poderá aspectos como localização, dimensionamento,
favorecer o estabelecimento de estratégias diante condições ambientais e comunicação com os de-
de possíveis dificuldades no setor, sejam estrutu- mais setores.
rais e financeiras ou da própria equipe. Quanto à localização, é visível que se tornou
O depoimento do entrevistado 2 mostra o mais acessível ao facilitar a entrada e a saída de
interesse desse gestor em atender às recomenda- mercadorias, o que contribui para minimizar di-
ções da Vigilância Sanitária no que se refere à ficuldades antes existentes já que o CAF ocupava
estrutura organizacional da Central de Abasteci-
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em saúde. Assim, faz-se necessário a integração obstáculos para o acesso do usuário à Assistên-
dos trabalhadores mediante adoção de estraté- cia Farmacêutica.
gias de inclusão no serviço sobre o novo modo Contudo, o fluxo da distribuição depende das
de realizar o trabalho de forma que não haja pre- características da rede, da capacitação dos traba-
juízos que impliquem na efetivação dos resulta- lhadores envolvidos no processo, dos recursos
dos planejados. A inserção deve ocorrer a partir estruturais disponíveis e da comunicação entre
da perspectiva da educação em saúde de maneira os setores.
processual, reflexiva e crítica, pois no trabalho Todas as atividades já comentadas têm como
em saúde não deve existir o fazer por fazer, mas propósito final a dispensação de medicamentos,
sim o fazer para transformar, para resolver as entendida por nós como atividade chave, na qual
necessidades demandadas. consiste um conjunto de ações que implicam, de
Em relação à armazenagem, o controle de forma muito direta, na qualidade do acesso do
estoque é uma atividade inerente, que pode ser usuário à Assistência Farmacêutica. Isso porque
entendido como atividade técnico-administrati- esta atividade encerra a relação do usuário com a
va cujo objetivo é garantir um adequado supri- unidade de saúde após o atendimento médico, de
mento dos produtos para o atendimento das de- enfermagem ou odontológico, constituindo-se
mandas, no sentido de evitar excessos ou desa- numa oportunidade de acentuar ou efetivar a ade-
bastecimentos nos estoques, bem como perdas. quada orientação ao usuário em relação à prescri-
Historicamente, a administração de materiais ção, o que poderia evitar ou reduzir riscos ou fa-
tem se desenvolvido arraigada aos ideais de uma lhas relacionadas à terapêutica medicamentosa.
prática funcionalista, mantendo-se adequada às Em relação aos possíveis riscos, são destaca-
normas ou fórmulas que tentam expressar con- das como causas o curto tempo da consulta mé-
dições da realidade através de indicadores como dica e também o da dispensação, a falta de práti-
o consumo médio mensal, estoque máximo e cas farmacêuticas no local, inclusive a ausência
mínimo, estoque de reserva ou de segurança, en- do profissional farmacêutico, a alta frequência
tre outros19 e que possibilitam fornecer informa- de prescrições ilegíveis, a não capacitação dos tra-
ções que orientam, por exemplo, o processo de balhadores que dispensam medicamentos e a ine-
aquisição e programação de maneira racional. xistência de quaisquer instruções e esclarecimen-
No entanto, considerando o contexto da saú- to aos usuários, o que implica em baixo nível de
de, o controle não pode ser pautado apenas na entendimento e conhecimento dos mesmos.
conduta funcionalista, pois o trabalho em saúde Estudos realizados em Brasília20 e Fortaleza21 cor-
está sempre sujeito a imprevistos, exigindo para roboram com tais dados ao destacarem uma
o enfrentamento do inesperado, criatividade e ini- prática sem comunicação entre os sujeitos na re-
ciativa. Características que ultrapassam a meto- lação entre o trabalhador de saúde e o usuário.
dologia pertinente aos indicadores referidos. Nesse sentido, Mendes22 destaca que o con-
Entretanto, com esta afirmação não se quer ceito de dispensação tem sido modificado em fun-
minimizar a utilidade desses indicadores na ativi- ção do processo de resgate da função assistencial
dade de programação, por exemplo. Mas apenas do farmacêutico, havendo inclusive, algumas
reforçar a necessidade de que nas novas propos- contradições nas diferentes legislações que abor-
tas sejam consideradas as particularidades encon- dam tal prática.
tradas nos sujeitos e nos limites das relações entre A definição de dispensação expõe em suas
eles, para que possam ser resgatadas no processo entrelinhas a necessidade da relação entre o far-
de organização; e, além disso, que exista educação macêutico e o usuário, ao citar saberes particula-
dos trabalhadores no sentido de melhor utilizar res da profissão. Uma outra definição mais abran-
os indicadores já existentes na prática da Coorde- gente entende a dispensação como
nação da Assistência Farmacêutica. [...] o momento da recepção do medicamento,
Os aspectos como validade, controle de esto- insumo farmacêutico ou correlato, pelo usuário,
que, entre os outros, discutidos até aqui têm re- fornecido por profissional habilitado a analisar
flexos no processo de distribuição, que visa a condições anteriores de erro, fornecer informações
garantia do fornecimento de medicamentos e para o uso correto e estabelecer condições para o
demais produtos às Unidades de Saúde da Famí- acompanhamento dos resultados da terapêutica
lia, de maneira rápida e segura. Entretanto, para adotada. Seu produto é o aviamento de prescrição
que essa distribuição seja efetiva, todas as ativi- devidamente analisada e o fornecimento de todas
dades discutidas precisam ocorrer processual- as informações necessárias ao fiel cumprimento do
mente sem interrupções para que não existam tratamento estabelecido8.
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Considerações finais
Colaboradores
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