Edição Lisboa • Ano XXX • n.º 10.

881 • 1,70€ • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

Clássico
FC Porto vence
nas bolas
paradas. Alto Tâmega
É taberna
Benfica nas transmontana
com certeza:
reviravoltas há fumeiro e horta
DDestaque, 2 a 5 sobre a mesa

Excedente orçamental já em 2019

ameaçado por PPP polémica
A concessão rodoviária do Douro Litoral venceu no Supremo Tribunal Administrativo um contencioso
com o Estado que obriga o Governo a ter de pagar 219 milhões de euros Economia, 26/27
DANIEL ROCHA

Ensino
Escolas que mais
reduziram
chumbos criaram
turmas por nível
de aprendizagem
p16/17

Procuradora Aeroporto de Epidemia Artistas falam

ignora órgão do Lisboa com As duas pestes de de outros casos
MP em directiva recorde de 709 2020: coronavírus de “censura” no
sobre hierarquia voos num dia e racismo Teatro Rivoli
Lucília Gago não informou A média de 2019 foi de 616 A análise de Jorge Almeida Há acusações de “censura”,
Conselho Superior do voos, mas a 9 de Agosto Fernandes. p34/35 de “abuso de poder” e de
Ministério Público p18 e Editorial bateu-se um máximo p29 “higienização” p38/39 ISNN-0872-1548

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2 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

DESTAQUE
DIA DE CLÁSSICO

FC Porto poderoso
nas bolas paradas,
Benfica forte
na adversidade
Há sete pontos a separar os dois grandes candidatos ao título
antes de um jogo da máxima importância no Estádio
do Dragão. O PÚBLICO fez uma prova dos factos para ajudar
a esclarecer algumas das ideias feitas sobre os dois rivais Rafa e Pepe durante o jogo da primeira volta, no Estádio da Luz

Diogo Cardoso Oliveira
se que o plantel do BenÆca tem mais
soluções, mas esta ideia não se Æca
pelo senso comum. Os números aju-
após desvantagem (75%). O FC Porto, O BenÆca, por outro lado, surge na
por outro lado, venceu apenas dois
Estádio do Dragão 20h30
cauda deste ranking, como a terceira
dos seis encontros em que esteve em Porto SP-TV1 equipa menos capaz pelo ar.

A
poucas horas do clássico
entre FC Porto e BenÆca
(20h30, SportTV), que
poderá relançar de imediato
a luta pelo título ou manter
os dois rivais separados por
uma margem signiÆcativa (que é
actualmente de sete pontos), o PÚBLI-
CO ajuda-o a desconstruir algumas
ideias feitas em torno do líder e vice-
-líder da I Liga. Da profundidade do
plantel “encarnado” à força portista
nas bolas paradas, passando pela
supremacia dos “dragões” em casa,
o jogo grande da 20.ª jornada é ana-
lisado pela via dos números: seis
ideias sobre os candidatos que as esta-
tísticas comprovam ou rebatem.
O FC Porto tem um plantel menos
profundo e Bruno Lage tira mais
“coelhos” do banco?
Sim, é verdade. É habitual inferir-
dam a perceber que, na I Liga, Bruno
Lage tem feito um uso tremendo do
banco de suplentes e o BenÆca é a
equipa cujos suplentes utilizados
mais vezes têm participação directa
em golos da equipa: 12. A diferença
para o FC Porto é… o dobro. Um
handicap tremendo dos “dragões” e
algo que atesta a menor inÇuência
dos suplentes de Sérgio Conceição.
E isto, em abstracto, permite con-
cluir que o plantel do BenÆca tem
mais e melhores soluções. Ou, no
mínimo, soluções mais inÇuentes
nos jogos.
O Benfica tem feito a diferença para
o FC Porto pela capacidade de mudar
resultados adversos?
Sim, é verdade. É um facto que os
“encarnados” sabem virar resultados
desfavoráveis, já que são a equipa
com maior percentagem de vitórias
desvantagem, somando uns bastante
mais baixos 33%. Apesar de estes FC Porto 4-4-2
dados nos levarem a concluir que, de
facto, o Benfica tem sido bastante
mais capaz do que o FC Porto a dar a
volta ao marcador, os pontos totais
Manafá
conquistados nestas circunstâncias
acabam por equivaler-se: o Benfica
somou nove pontos após desvanta- Corona
gem, enquanto o FC Porto somou
oito. Em termos absolutos, há equilí-
brio, mas o dado mais rigoroso — o da
percentagem de vitórias após adver-
sidade — pende para o Benfica.
Cervi
O FC Porto faz a diferença no jogo
aéreo e nas bolas paradas?
Sim, faz. A força portista nestes Grimaldo
capítulos do jogo tem base factual. Na
Liga, apenas Boavista e Paços de Fer-
reira ganham mais duelos aéreos por
encontro do que o FC Porto, que ven-
ce 18,8 lances deste tipo por partida.
Benfica 4-4-2
“Ganhar lances aéreos não dá, por
si só, vantagem no jogo”, dirão os
mais cépticos. Mas a verdade é que o
Marchesín FC Porto é, com 13 golos, a equipa
mais concretizadora em lances de
Pepe Marcano bola parada no campeonato e a que
A. Telles
Danilo tem mais golos de cabeça. A nível
Uribe individual, Marcano já leva cinco
Otávio golos na Liga e Soares já somou qua-
Marega tro de cabeça. Colectiva e individual-
Soares
mente, o FC Porto faz a diferença pelo
ar e nas bolas paradas.
Vinícius Com Marega em quebra e Corona
Rafa e Luis Díaz em alta, os “dragões”
Pizzi
apostam mais na construção apoiada
Taarabt
Weigl e menos na profundidade?
A. Almeida Não é verdade. Apesar de poder ser
Ferro R. Dias uma conclusão evidente, o FC Porto
Odysseas
não se tornou, em 2019-20, uma equi-
pa menos adepta da exploração do
espaço nas costas das defesas, algo
corroborado pelas estatísticas: de
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 3

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Temos sofrido mais golos do que

o habitual e estamos atentos a
isso. É preciso olhar para o todo
e para a dinâmica da equipa
Sérgio Conceição
Treinador do FC Porto

CLASSIFICAÇÕES Diferença pontual deixa

I LIGA
Jornada 20
Paços Ferreira-Boavista 0-1
Conceição e Lage na defensiva
Famalicão-V. Guimarães 15h30, SPTV
Belenenses SAD-Sta. Clara 15h30, SPTV
Sp. Braga-Gil Vicente 18h, SPTV
FC Porto-Benfica 20h30, SPTV
tral “melhorou um bocadinho”,
Tondela-Marítimo amanhã, 15h, SPTV
Moreirense-V. Setúbal amanhã, 15h, SPTV
Sporting-Portimonense amanhã, 17h30, SPTV
Augusto Bernardino enquanto o médio ficou pelo ginásio.
De táctica, apenas uma especulação:
Desp. Aves-Rio Ave amanhã, 20h, SPTV

A
ntes mesmo da habitual “Provavelmente, o Rafa vai jogar. Se
J V E D M-S P escolha de campo ou bola, ‘pisa’ mais o corredor esquerdo, com
1. Benfica 19 18 0 1 47-8 54
Sérgio Conceição anteci- movimentos interiores, ou se joga
2. FC Porto 19 15 2 2 41-12 47
3. Sp. Braga 19 10 3 6 30-21 33
pou-se a Bruno Lage ao dar atrás do avançado, já não sei”, frisou,
4. Sporting 19 10 2 7 29-21 32 o pontapé de saída no jogo garantindo que a equipa está prepa-
5. Famalicão 19 9 5 5 33-29 32 das conferênc ias de rada “para os diferentes comporta-
6. Rio Ave 19 8 5 6 24-20 29 imprensa. Mas a boa disposição do mentos” do rival.
7. Boavista 20 7 7 6 17-17 28
8. V. Guimarães 19 6 7 6 26-22 25
treinador do FC Porto, justificada Igualmente à defesa, ainda que
9. V. Setúbal 19 6 7 6 13-20 25 pela antecipação de mais um clássi- recuse a ideia de pugnar pelo empa-
10. Tondela 19 6 5 8 18-24 23 co, transformou-se em “irritação” te, Bruno Lage enfatizou que a moti-
11. Santa Clara 19 6 5 8 14-21 23 quando surgiu a pergunta sobre o vação do líder da Liga “é fazer um
12. Gil Vicente 19 5 7 7 19-24 22
13. Moreirense 19 5 6 8 27-28 21
impacto, directamente no balneário, bom jogo”, elogiando o único adver-
14. Marítimo 19 4 8 7 18-27 20 das suspeitas de branqueamento de sário que derrotou o BenÆca na pre-
15. Belenenses SAD 19 5 3 11 16-35 18 capitais que pendem, entre outros, sente campanha.
16. Paços de Ferreira 20 4 4 12 12-27 16 sobre FC Porto e Benfica. “É uma excelente equipa, bem
17. Portimonense 19 2 8 9 13-27 14
Já depois de ter contornado a orientada, com excelentes valores e
18. Desp. Aves 19 4 0 15 21-35 12
questão sobre o carácter determi- difícil de bater. Mas preparámo-nos
Próxima jornada V. Setúbal-Gil Vicente,
Santa Clara-Tondela, Portimonense-Moreirense, nante do clássico, defendendo que para fazer o nosso jogo, sem pensar
Benfica-Sp. Braga, Rio Ave- Sporting, “decisivos são os 15 jogos” que faltam na classificação. Essa é a nossa inten-
Marítimo-Paços Ferreira, V. Guimarães-FC Porto,
Boavista-Belenenses SAD, Famalicão-Desp. Aves disputar, Sérgio Conceição voltou a ção: encarar o jogo como fizemos na
sensibilizar os jornalistas para o inte- época passada, sem medos nem
II LIGA
resse de discutir apenas futebol e receios”, vincou.
Jornada 20
Mafra-Nacional 11h, SPTV “dissecar” os dispositivos tácticos Igualmente limitado pelas ausên-
Ac. Viseu-Feirense 15h das equipas para se perceber por que cias de Gabriel e de Jardel, e pela
Cova Piedade-Penafiel 15h
Leixões-Varzim 15h
marcam os portistas mais golos de dúvida sobre Weigl (constipado ape-
Oliveirense-Benfica B amanhã, 11h15, SPTV bola parada e as “águias” de bola sar de “vir de terras mais frias”),
Vilafranquense-Sp. Covilhã amanhã, 15h corrida — ou o que tem originado o Lage pode, sem que o admita, ver
Desp. Chaves-Académica amanhã, 15h
FC Porto B-Farense amanhã, 15h, PortoC. maior volume de golos sofridos pelos um empate com bons olhos. “Sabe-
2018-19 para 2019-20 não houve uma apontados nos últimos 15 minutos dos Estoril-Casa Pia amanhã 17h15 “encarnados” na Luz. mos que é um jogo importante e
mudança signiÆcativa no número de jogos, sete signiÆcaram mudança de O treinador dos “dragões” ficar-se- vamos transportar isso para dentro
J V E D M-S P
passes longos dos “dragões” (64 para resultado — destaque para os triunfos 1. Nacional 19 11 6 2 25-12 39
-ia pela intenção, tendo deixado de campo”, assinalou, acreditando
63 passes longos por jogo). E mesmo oferecidos por Chiquinho frente ao 2. Farense 19 12 1 6 24-18 37 igualmente em aberto a possibilida- numa “boa promoção do futebol”.
a percentagem de acerto e dos passes Belenenses SAD (78’), Pizzi diante do 3. Mafra 19 9 7 3 30-20 34 de de voltar a contar com Pepe e
longos mantêm-se estáveis. Santa Clara (78’), Pizzi e Almeida fren- 4. Sp. Covilhã 19 9 4 6 28-21 31 Danilo, embora assumisse que o cen- augusto.bernardino@publico.pt
5. Estoril 19 10 1 8 27-20 31
A sensação de que o FC Porto tira te ao Desp. Aves (76’ e 89’), Rafa e 6. Académica 19 8 4 7 29-23 28 HUGO DELGADO/LUSA
menos partido da profundidade do Seferovic sobre o Moreirense (85’ e 7. Feirense 19 6 9 4 21-17 27
que na temporada anterior pode 90+1’) e Rafa ante o Sporting (80’). 8. Desp. Chaves 19 8 3 8 21-21 27
advir, talvez, do menor aproveita- Jogar no Estádio do Dragão conti- 9. Ac. Viseu 19 7 6 6 17-19 27
10. Varzim 19 7 6 6 24-27 27
mento que tem sido feito: aí, o mau nua a ser um suplício para o Benfica? 11. Penafiel 19 6 7 6 20-17 25
momento de Moussa Marega pode Não necessariamente. Pelo menos, 12. Leixões 19 6 7 6 20-20 25
inÇuir bastante, com o maliano nos últimos anos. É certo que o regis- 13. Benfica B 19 6 6 7 27-25 24
menos assertivo na deÆnição. to histórico do BenÆca nas Antas/Dra- 14. FC Porto B 19 6 6 7 27-28 24
14. Oliveirense 19 6 4 9 25-25 22
O Benfica tem vencido muitos jogos gão não impressiona — 14 vitórias em
16. Vilafranquense 19 4 6 9 22-33 18
“ao cair do pano”? 85 jogos para a Liga —, mas os “encar- 17. Cova da Piedade 19 3 3 13 14-34 12
Sim, é verdade. Seja “estrelinha de nados” atravessam, neste momento, 18. Casa Pia 19 2 4 13 15-36 10
campeão” ou resiliência, o facto é que o melhor período de sempre. O Ben- Próxima jornada Académica-Mafra,
os “encarnados” são a equipa da I Æca, que chega a este jogo numa série Varzim-Estoril, Nacional-Vilafranquense,
Feirense-Leixões, Casa Pia-FC Porto B,
Liga com mais golos marcados na últi- de 16 vitórias na Liga, não perde no Benfica B-Cova Piedade, Sp. Covilhã-Ac. Viseu,
ma meia hora dos jogos (20) e nos campo do FC Porto desde Novembro Farense-Oliveirense, Penafiel-Desp. Chaves
últimos 15 minutos (12). São também, de 2016 — são três anos e três meses
tal como o FC Porto e o V. Guimarães, aproximadamente, um recorde. MELHORES MARCADORES
a equipa que mais marca nos descon- I Liga 12 golos Pizzi e Vinícius (Benfica)
tos (3). Se olharmos para os 12 golos diogo.oliveira@publico.pt Sérgio Conceição descarta a ideia de um jogo decisivo
4 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
DESTAQUE
DIA DE CLÁSSICO
O Cerco do Porto
Opinião
Fernando Ribeiro
N D
em todos os lisboetas são
benÆquistas. Nem todos os
portuenses são portistas.
Costuma-se até dizer que os
“piores” adeptos do
“Glorioso”, isto é, os mais
ferrenhos, estão a 300 quilómetros
a norte do “ninho das águias”. Há
bastante verdade nisto: a
proximidade do rival acicata
antipatias. Perto da vista, perto da
desconsideração. Há 200 anos,
permitam-me o atrevimento, nem
todos os que habitavam no Porto
seriam liberais, mas a revolução,
essa, fez-se à mesma, a partir da
Invicta, aceite depois pelo país
inteiro e consolidada com a
conversão de Lisboa. Há 212 anos,
mais coisa, menos coisa, os
absolutistas cercaram o Porto
durante um ano, com bombas a cair
pela cidade, com a cólera, tifo e a
perspectiva da fome a pairarem nas
ruas, preparando o caminho da
morte aos adversários, com as
apostas na derrota dos ideais de
1820 em alta. Com a convicção do
regresso do absolutismo. Pois bem,
isso não viria a acontecer. Decerto
que nem todos os que habitavam
em Lisboa eram absolutistas, mas
era no Porto que se sofria e foi o
Porto que, depois de um ano de
inferno, viria a liderar o país num
dos momentos mais dramáticos e
importantes da sua História.
É para mim bastante claro que o
dramatismo ou a importância do
futebol não pode, nem deve ser
comparado ao da História de
Portugal. Feito o aviso, posso então
afirmar que o cerco ao Porto no que
toca à “bola jogada” durou muito
mais que um “simples” ano de
inferno. Só foi levantado porque
Pinto da Costa, em tom de desafio,
se pôs a imitar a História, auxiliado
pelos seus marechais de campo,
como Pedroto, Artur Jorge ou
Mourinho. Findo o cerco,
escreveu-se assim uma nova Magna
Carta, uma nova Constituição, uma
nova maneira de se viver o futebol
em Portugal (e lá fora, porque o FC
Porto é um clube, acima de tudo,
internacional). Retirava-se assim o
poder ao senhor absoluto do futebol
português: o BenÆca. Ora, este
atrevimento, esta revolução não
agradou, nem agradará nunca, a
quem queria para sempre manter o
statu quo “absolutista” do rei
BenÆca, que, tal como D. Miguel,
esperava vitória rápida, fácil e que a
“festa” durasse por essa eternidade
desportiva afora.
Facto: o FC Porto não tem estado
bem esta época. As razões são
muitas, nem sempre gerando o
consenso dos portistas que estão,
outro facto e de facto, desunidos.
Mas ganhar, esmagar o absolutismo
benÆquista que teima em diminuir
os feitos do seu maior rival — sim, é o
FC Porto, há dúvidas? —, a vitória
neste clássico pode muito bem ser o
tónico de que se necessita para a
carga vitoriosa que relance a
liberdade da verdade no futebol
português, que não se pode, nem
deve jogar a solo. Pode muito bem
ser esta a inspiração de que Sérgio
Conceição necessita para se encher
de brio, desde que esse brio seja
inteligente, com fair-play e digno do
clube e do conceito que representa
Que esse exemplo tenha o condão
FERNANDO VELUDO/LUSA
de instilar a coragem, inspirar os
seus lanceiros para derrotar o
exército lisboeta que, neste
momento, se apresenta mais
motivado, mais forte, mais
alimentado que o nosso. E assim
queira a sorte, a táctica, as pernas e
o talento que se repita a história de
há 200 e tal anos, quando D. Miguel
partiu o óculo com que observava a
batalha, que achava já ganha, a
partir da Senhora da Hora. Mas que
este D. Miguel tenha bigode, o
sobrenome Vieira e que o seu
regresso a Lisboa, se for derrotado,
pois que o FC Porto não tem outra
hipótese senão a vitória, seja tão
triste, desanimador e responsável
activo por uma “revira-revolta” no
campeonato que anda tão triste, tão
cinzento, tão sensaborão, tão
enganador sem o azul e branco
vibrante.
Sem a nossa coragem para vencer,
dar novos mundo ao mundo do
futebol português, sem o medo mas
com o proÆssionalismo vitorioso
que deve sempre caracterizar o meu
FC Porto. A sua história é evidente, a
nossa psique ganhadora também e,
mesmo que andando nebulosa por
estes dias, tem aqui oportunidade
de ouro para renascer e se
multiplicar em golos neste clássico
que vai ser nosso, num desporto que
é de todos os portugueses e não só
de alguns. Às armas!
Músico
Se é do Benfica, é dos meus
Opinião
António Zambujo
esde criança que adoro
futebol. Gosto de jogar e de
ver.
A jogar nunca tive muito
jeito... era sempre o último
miúdo a ser escolhido
antes do gordinho que ia à baliza.
Mas nem isso me desmotivou, ou
fez perder o gosto pelo jogo.
Por influência do meu pai e de
outros familiares, comecei a gostar
do Benfica. Era a história, era o
estádio, era a energia que se sentia,
eram os saltos que o meu pai dava
ao lado do rádio enquanto ouvia o
relato (continuo a adorar ouvir o
relato), eram as vitórias históricas,
tudo!
Comecei a ficar muito
apaixonado e a coleccionar todos
os cromos, a conhecer todos os
jogadores, a vibrar à minha
maneira com todas as vitórias,
todos os craques que passaram e
que continuam a passar pela nossa
equipa. Nunca disse mal de
nenhum jogador, nem assobiei
nenhum jogador que tenha vestido
a camisola do Benfica. Sou incapaz.
Se é do Benfica, é dos meus. Está do
meu lado. Mesmo agora, lendo
estes directores de comunicação
que adoram criar polémica atrás de
polémica, caso atrás de caso, não
deixo de gostar de me focar no que,
para mim, é verdadeiramente o
mais importante: o jogo!
No jogo jogado, nos últimos anos
o Benfica tem-se destacado dos
outros clubes, fruto de uma boa
gestão, da constituição de boas
equipas e da escolha de belíssimos
treinadores. Tendo sempre outros
adversários por perto, o que
valoriza ainda mais as nossas
vitórias e torna os jogos muito mais
disputados.
Nunca disse mal nem
assobiei nenhum
jogador que tenha
vestido a camisola do
Benfica. Sou incapaz
O FC Porto, a par do Benfica, é
um clube com muitas vitórias no
campeonato e com brilhantes
campanhas internacionais que lhe
conferiram o estatuto da equipa
portuguesa com mais títulos fora de
portas, dirigida por um presidente
que é o homem com mais triunfos
na história do futebol. É obra!
Por ser a equipa que é,
proporciona os jogos mais
emocionantes, aqueles que eu
aguardo sempre com o tipo de
nervoso miudinho que nos deixa
inquietos. Por norma, gosto de ver
os jogos sozinho. Durante aqueles
90 minutos, não gosto de falar nem
de ouvir ninguém. Fico apenas
centrado no que está a acontecer
dentro do campo.
Espero que este jogo de hoje, no
Estádio do Dragão, seja mais um
jogo memorável, bem disputado e
que, no final, os três pontos
venham para o nosso lado. Força
Benfica!
Músico

Jardel, um recordista
fora de combate
Nuno Sousa
C
ostuma dizer-se que os
grandes jogos são para os
grandes jogadores. E para
aqueles que têm nervos de
aço e não acusam a pres-
são. Nestes palcos, a expe-
riência é um atributo muito valori-
zado e, nesse particular, há um
jogador dos actuais plantéis de Ben-
fica e FC Porto que se destaca: Jar-
del. O central brasileiro é o recordis-
ta de presenças em jogos com o rival
directo (17, no total), mas, a contas
com uma lesão, hoje não vai engros-
sar a “colecção”. Na verdade, pode
até ser alcançado por um colega de
sector.
Fruto da maior estabilidade do
plantel do Benfica nos últimos anos
e da perda de activos de peso por
parte do FC Porto no último merca-
do de Verão, é entre os “encarna-
dos” que se encontram os elemen-
tos com mais experiência em emba-
tes com o rival desta noite. Com dois
jogos apenas na Liga 2019-20 e indis-
ponível por razões físicas, Jardel
está fora de combate, mas os 17 clás-
sicos que o brasileiro já disputou
frente aos “dragões” (com as cami-
solas do Estoril, do Olhanense e do
Benfica) são os mesmos que conta-
bilizará André Almeida se for cha-
mado por Bruno Lage.
O lateral-direito do Benfica soma
já 16 braços-de-ferro com o FC Porto
(12 no campeonato, dois na Taça da
FUTEBOLISTAS COM MAIS JOGOS DIANTE DO RIVAL
Jogos com
o FC Porto
Jardel 17
André Almeida 16
Pizzi 15
Rafa 14
Grimaldo 6 5
Jogos com
o Benfica
Danilo 13
Marega 12
Pepe 11
Otávio 10
Corona 9 8
Liga e outros dois na Taça de Portu-
gal), menos um do que Jardel e mais
um do que Pizzi. O quarto jogador
das “águias” nesta hierarquia é Rafa,
com 14 jogos entre Benfica e Sp. Bra-
ga (11 na Liga, dois na Taça da Liga e
um na Taça de Portugal), ainda
assim, o suficiente para suplantar o
“recordista” do FC Porto nestas con-
tas especiais.
Apesar do tremendo currículo de
Pepe, que cumpre a segunda passa-
gem pelo FC Porto depois de uma
primeira campanha entre 2004 e
2007, é Danilo quem encabeça a
lista, com 13 duelos diante do Ben-
fica: 12 na Liga e um na Taça da Liga,
cinco dos quais pelo Marítimo.
Somente com menos um clássico
para contar surge Marega, enquan-
to o central internacional português
apresenta 11 na folha de serviço.
Entre os activos actualmente geri-
dos por Sérgio Conceição e Bruno
Lage, os goleadores de serviço neste
contexto são Marega, Pizzi e Rafa,
todos com três golos cada um apon-
tados ao rival. Se o maliano divide o
pecúlio entre Marítimo (um) e FC
Porto (dois), à imagem do que acon-
tece com Rafa (dois golos pelo Ben-
fica e um pelo Sp. Braga), no caso do
actual melhor marcador do campeo-
nato os três golos marcados aos “dra-
gões” foram todos apontados com a
camisola do Paços de Ferreira, num
hat-trick consumado a 8 de Maio de
2011.
nsousa@publico.pt
Liga Taça da Liga Taça Portugal
11 4 2
12 2 2
14 1 0
11 2 1
1 0
Liga Taça da Liga Taça Portugal
12 1 0
9 2 1 já jogados nesta temporada foram
10 1 0
10 0 0
1 0
242 728
Número de embates entre
FC Porto e Benfica nas
diferentes competições da
história do futebol português
Soares Dias apitará pela sétima vez um jogo entre FC Porto e Benfica
Soares Dias, o meio caminho
entre o estatuto e a classificação
Diogo Cardoso Oliveira
A
rtur Soares Dias é o árbitro
escolhido pelo Conselho
de Arbitragem da Federa-
ção Portuguesa de Futebol
para dirigir o clássico
entre FC Porto e Benfica.
A escolha dificilmente apanhou
alguém desprevenido e só surpreen-
de os mais distraídos: o juiz portuen-
se é o árbitro português mais cate-
gorizado — o único na categoria de
elite da UEFA — e, por isso, poucos
argumentarão contra esta escolha.
Sérgio Conceição e Bruno Lage,
treinadores das duas equipas, não se
inibiram, de resto, de elogiar o árbi-
tro nortenho. A escolha do Conselho
de Arbitragem acaba por ser espera-
da, do ponto de vista do estatuto
nacional, europeu e mundial de Soa-
res Dias, ainda que fique a “meio
caminho” na procura dos juízes mais
bem classificados na temporada
anterior.
Soares Dias ficou apenas em sexto
lugar na temporada 2018-19, um
ranking que tem sido essencial para
orientar as escolhas do Conselho de
Arbitragem: dois dos três clássicos
arbitrados por Jorge Sousa, o primei-
ro classificado da última época. João
Pinheiro, Rui Costa, Nuno Almeida
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 5
Golos marcados nos clássicos
entre “dragões” e “águias”:
349 marcados pelo FC Porto
e 379 pelo Benfica
OCTAVIO PASSOS / LUSA
(esteve no Sp.Braga-Benfica) e Tiago
Martins, classificados entre o segun-
do e o quinto lugares, foram desta
vez preteridos relativamente a Soa-
res Dias, ainda que o lisboeta Tiago
Martins, também ele árbitro FIFA,
tenha sido escolhido para desempe-
nhar as funções de videoárbitro.
Relativamente ao juiz nascido há
40 anos, em Vila Nova de Gaia, o his-
torial em jogos desta índole é vasto:
já apitou seis clássicos entre FC Porto
e Benfica, com três vitórias portistas,
um empate e duas vitórias “encarna-
das”. Nenhuma das equipas pode
queixar-se de um registo passado
muito negativo com Artur Soares
Dias, já que os “dragões” somam 68%
de triunfos (em 38 jogos) e o Benfica
tem 70% de sucesso (em 44 jogos).
“A preferência é o Artur Soares
Dias, porque já saiu e espero que lhe
corra bem. Tem todo o potencial para
que lhe corra bem”, atalhou Sérgio
Conceição durante a conferência de
imprensa de ontem. Bruno Lage tam-
bém acabou por fazer um comentário
sucinto sobre a escolha do Conselho
de Arbitragem para o jogo grande da
20.ª ronda: “O Artur Soares Dias já
nos apitou várias vezes, tem larga
experiência neste tipo de jogos, a
melhor maneira é não falarmos do
árbitro. É experiente, apenas isso”.
diogo.oliveira@publico.pt
PSP “implacável”
com pirotecnia
A
s forças de segurança
destacadas para o FC
Porto-Benfica mostrarão
“tolerância zero” e serão
“implacáveis para com
situações de conduta violenta
e engenhos pirotécnicos”. A
garantia foi deixada ontem
pelo subintendente da PSP
Cardoso da Silva.
Para o “clássico” referente à
20.ª jornada do campeonato,
em que se espera a presença
de cerca de 50 mil
espectadores, entre os quais
2600 adeptos do Benfica, a
PSP montou um sistema de
segurança “complexo” e
“adequado” a um jogo de
“risco elevado”.
A operação de segurança
envolve vários pontos da
cidade do Porto, para além da
zona envolvente do estádio,
com destaque para a área
junto ao Parque de Bonjóia
(recolha da STCP), onde se
concentrarão os adeptos do
Benfica, que chegarão em 25
autocarros.
As portas do Estádio do
Dragão abrem às 18h30, duas
horas antes do início do jogo, e
a PSP recomenda aos adeptos
que se desloquem
atempadamente para que a
sua entrada no recinto não seja
atrasada pelas filas habituais
nos pontos de revista.
Por volta das 18h, a polícia
prevê dar início ao
acompanhamento dos adeptos
do Benfica em caixa de
segurança até ao estádio,
situação que irá provocar
condicionamentos de trânsito.
A operação montada pela
PSP para o “clássico” irá ser
observada, uma vez mais, por
uma equipa da organização do
Mundial Qatar 2022, que estará
no Porto a assimilar o modelo
criado para o Euro2004. Um
modelo que, após sucessivos
aperfeiçoamentos, continua a
ser encarado como uma
referência na segurança de
eventos desportivos. Lusa
6 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
As contas públicas são uma dor de cabeça e
o ministro das Finanças vive diariamente esse
problema, ele que está apostado em alcançar
o primeiro excedente orçamental em democracia, o
que parecia ser possível antecipar para 2019, mas eis
que uma decisão do Supremo Tribunal
Administrativo, que obriga o Estado a pagar uma
indemnização de mais de 200 milhões a uma
parceria público-privada, pode colocar esse
Mário Centeno objectivo em causa. (Págs. 26/27) J.J.M.
Miguel Albuquerque
Há tensão na Madeira por causa da escolha
de um centrista (também ele médico) para
director clínico do Serviço Regional de Saúde
da Madeira (Sesaram) e as consequências foram
imediatas, com 33 dos 50 directores de serviço e
coordenadores de unidades do Sesaram a
demitirem-se porque não concordam que o nome
tenha sido determinado pelo acordo de Governo
estabelecido entre PSD e CDS. É já o segundo nome
vetado pelos médicos. (Pág. 14) J.J.M.

A revolta e o caos segundo o sindicato do MP

sindicato se habituou a usar para
contestar qualquer mudança no seu
estatuto ou na autonomia funcional dos
seus agentes. Em causa ou está sempre,
na opinião do sindicato, a ameaça de
Manuel Carvalho “um regresso aos tempos do Estado
Editorial
é muito mais difícil recorrer a esta
argumentação porque a proliferação de
casos suspeitos de corrupção
transformou o Ministério Público no
último reduto da defesa da decência
pública. Tudo bem, mas daí a achar que
(esta sim, legítima e pertinente) à
possibilidade absurda de os chefes dos
procuradores interferirem nos
processos sem que essa interferência
seja registada é uma coisa; outra é fazer
a apologia da desobediência às

O
Sindicato dos Magistrados do
Ministério Público é exactamente
o que parece ser: um sindicato.
Não se pode estranhar, por isso,
que esteja na vanguarda da luta
corporativa dos procuradores em favor
de melhorias salariais, contra a
alteração da composição do Conselho
Superior do Ministério Público ou,
como agora acontece, contra o reforço
do poder de intervenção das
hierarquias nas decisões dos
procuradores. O que se pode estranhar,
sim, é o padrão de argumentos que o
Novo” ou, em termos mais banais, uma
“interferência” directa ou indirecta dos
agentes do poder político na sua
autonomia.
Em tempos normais na Justiça, a
parte mais extremada deste discurso
seria dispensável. AÆnal, a Constituição
esclarece que quem deÆne a política
criminal na qual o MP participa são os
órgãos de soberania. Depois, os seus
magistrados são “hierarquicamente
subordinados”. Ou seja, todas as
medidas propostas, sendo contestáveis,
não suscitam automaticamente a
imagem de horror e de Æm de regime
que o sindicato costuma invocar. Hoje,
um procurador normal pode pelo seu
livre arbítrio chamar um Presidente ou
um primeiro-ministro a depor sem
atender à solenidade do seu estatuto,
vai uma grande distância.
O sindicato, porém, vê-se acima de
qualquer escrutínio e dá-se ao luxo de
fazer declarações inaceitáveis. “Com o
caminho como até aqui, com este tipo
de directivas” será “muito difícil gerir
uma organização em plena revolta”,
diz, por exemplo, o sindicato. A pressão
sobre Lucília Gago sugere um clima de
insubordinação que é tão preocupante
como perigoso. Porque a denúncia de
perigos para a autonomia ou a crítica
hierarquias.
Hoje, mais do que nunca, o país
precisa de procuradores empenhados,
corajosos e autónomos. Mas essa
necessidade diÆcilmente será cumprida
se o MP se converter numa corporação
estática e capaz de intimidar todos os
que se disponham a discutir ou querer
mudar as suas regras. Esperemos, pois,
que a Justiça diga se a directiva da PGR
é aplicável ou não, antes de nos
preocuparmos com o cenário de
revolta e caos com que o sindicato tenta
assustar as hierarquias e o país.
manuel.carvalho@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
O lápis agudo
da Cristina
No Espaço Público de 6 de
Fevereiro foi publicado um texto
de João Maria Condeixa,
ex-dirigente nacional do CDS-PP,
com o título “No PÚBLICO para
desmontar o PÚBLICO”. Esse
texto, que anuncia ser um
exercício de democracia, é uma
reacção crítica ao cartoon da
Cristina Sampaio publicado no
domingo, o qual, em 16 imagens,
desmonta progressivamente o
símbolo do CDS para o reconstruir
na forma de uma cruz suástica.
Esta minha carta é também um
exercício de democracia, mas
contém um aplauso geral. Ao
PÚBLICO: por não nos desiludir e
publicar este texto crítico de
Condeixa, relevante e decente a
todos os títulos (embora nem me
passe pela cabeça que não se
publicasse esse texto); à
cartoonista, que disse o que toda
a gente andava a pensar: “O que
anda a passar-se com o CDS? Que
coisa é este quase tribalismo,
onde antes havia
democratas-cristãos como Maria
José Nogueira Pinto (outros, de
Amaro da Costa a Adolfo Mesquita
Nunes)? Que partido é este que
inclui agora como dirigente
alguém que um dia disse, nunca
nos tendo esclarecido sobre o que
pensa hoje disso tudo, que
Aristides de Sousa Mendes era
mau e Salazar era bom (versão
curta), sendo isto o revés do
consenso? Terá o CDS sido
capturado pela extrema-direita?”.
Agora sabemos que não é, ou que
não será assim sem oposição.
A João Maria Condeixa, também
um reconhecimento, como
concidadã, pelo seu exercício de
democracia, reaÆrmando a nossa
democracia pelo mero uso do
direito de veementemente se opor
a uma leitura da realidade. Não
custa ver que o cartoon se lhe
apresente diÆcilmente tolerável. O
dedo aguçado do humor, da
caricatura, do cartoon está
destinado a ser ocasionalmente
insuportável, se nos calha a vez.
Assistimos a um exercício de
democracia que proporcionou
importantes declarações sobre um
partido ainda muito importante.
Susana Brasil de Brito
Ricardo Sá Fernandes
Num texto de opinião publicado
na edição de quarta-feira do
PÚBLICO, Ricardo Sá Fernandes,
em defesa de Joacine Katar
Moreira, inclui-me nos cronistas
que reagiram com
“agressividade” à sua proposta de
devolução às ex-colónias de bens
culturais. Diz o advogado que
considerei a proposta sem pés
nem cabeça. É certo que a
considerei e considero. E do
mesmo modo tenho considerado
muitas coisas de outros
deputados (o fim da linha circular
do metro, por exemplo),
aprovadas ou não, sem nunca
receber qualquer reparo. Nunca
pensei ver um defensor da
liberdade, como Ricardo Sá
Fernandes, considerar agressivo
dizer que uma proposta não tem
pés nem cabeça, sobretudo
quando no mesmo texto afirmo
que há peças que devem e podem
ser devolvidas, devendo o assunto
ser objecto de estudo por
especialistas antes de ser arma de
arremesso político. Mas estamos
sempre a aprender. Caro Ricardo
Sá Fernandes, a sua amiga não
pode nem deve ter um tratamento
diferenciado, a menos que, por
razões que não vou referir, a
tenhamos de considerar “flor de
estufa”.
Henrique Monteiro
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 7

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Umaro Sissoco Embaló
O impasse político continua na Guiné-Bissau,
após as eleições presidenciais, ganhas por
Embaló, que, mais de um mês depois, ainda
não conseguiu tomar posse devido à demora na
confirmação dos resultados. Embaló não está
disposto a esperar mais e ameaçou até com a
possibilidade de guerra. Palavras perigosas num país
de grande instabilidade e o tom belicoso não ajuda
em nada a encontrar uma solução para o problema.
(Pág. 32) J.J.M.
O cerco a Isabel dos Santos, por parte do
Estado angolano, intensifica-se e já se
estendeu aos Estados Unidos, embora os
pedidos de Luanda para arrestar os bens da
empresária não tenham tido eco junto das
autoridades judiciais e fiscais. Isabel dos Santos
recorreu a uma empresa de lobby que tem muitos
contactos em Washington e para já nada aconteceu,
mesmo após ter sido constituída arguida. Até
Isabel dos Santos quando? (Pág. 33) J.J.M.

ESCRITO NA PEDRA
A próxima
Ingenuidade é um modo de se ser inocente.
Infantilismo é um modo de se ser idiota. Faz a sua diferença pasta
Vergílio Ferreira (1916-1996), escritor

SEM COMENTÁRIOS FEDERER E NADAL ANTES DE JOGO DE BENEFICIÊNCIA NA ÁFRICA DO SUL

NIC BOTHMA/EPA

Miguel Esteves Cardoso

EM PUBLICO.PT
Num ano, União Europeia usou
mais de nove milhões de
animais em laboratório
Laboratórios portugueses usaram 41 mil
animais, sobretudo ratinhos, ratos e peixes,
para investigação em 2017 publico.pt/p3
Dark Sky Alqueva recebe
prémio de melhor destino
turístico da Europa
Já o Pestana Porto Santo está entre os
melhores resorts tudo-incluído
publico.pt/fugas
Q
Espelho meu, há actriz mais
bem vestida do que eu?
Como têm Charlize Theron, Cynthia Erivo,
Renée Zellweger, Scarlett Johansson e
Saoirse Ronan desfilado nos últimos anos?
publico.pt/impar
Ainda ontem
uinta, dia 13, a Web Summit
oferece um desconto incrível a
quem está a pensar lá ir este
ano. Inspirado pelo espírito de
São Valentim, esse
summiteiro-mor, poderemos
comprar dois ingressos pelo
preço de um.
Se, tal como eu, tinha posto de
parte 1900 euros para si e para a
sua cara-metade, Æque sabendo que lhe vão
sobrar 950 brasas para estourar em rosas e
copos.
Sim, porque no dia 13 (mas só no dia 13,
por causa dos eventuais abusos) duas
pessoas poderão comprar bilhetes pelo
preço de um apenas: 950 eurinhos. Assim
Æca a uns irrisórios 475 por cabeça.
Li na Wired deste mês que está aí a
rebentar uma novidade que vai mudar a
maneira como fazemos transacções. Em vez
de estarmos à procura do cartão de débito,
a esfregar-lhe a banda magnética a ver se
ressuscita e a perder tempo à espera que o
terminal desentorpeça, a companhia
Obvious vai lançar um aplicativo chamado
Pastel que oferece uma nova maneira de
pagar.
Imagine que almoçou e que a conta são 25
euros. Em vez de submeter o cartão, apenas
terá de apresentar duas Æchas que
resolverão o assunto. As Æchas vêm com
valores diferentes: há de 5, 10, 20, 50 e até
de 100. Querendo pagar 25 euros apenas
terá de puxar por uma de 20 e uma de 5.
Mais nada. Não tem de esperar e dispensa a
presença do empregado: pode deixar as
Æchas em cima da mesa e ir-se embora que
ninguém vai persegui-lo por causa disso.
Poderá também acumulá-las sem
ninguém saber disso, até à quantia que
quiser. Há, aliás, todo um universo de usos
potenciais. O nome provisório é notas.
8 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
Os EUA a caminho da ditadura
José Pacheco Pereira
Pensem duas vezes, porque
o que se passou à volta do
processo do impeachment é
perigoso para as instituições
P
democráticas dos EUA
ensam que este título é alarmista
e exagerado? Pensem duas vezes,
porque o que se passou à volta do
processo do impeachment é
particularmente perigoso para as
instituições democráticas dos
EUA. Acresce, e não vou repetir o
que escrevi recentemente no
PÚBLICO, que Trump não sairá
do poder a bem, mesmo que
perca eleições.
Considerei durante algum tempo que o
sistema de “checks and balances” e que a
resistência proÆssional de muitos
funcionários responsáveis, aquilo a que
Trump chama o “pântano”, fossem
suÆcientes para travar Trump. Não foi, e é
cada vez menos. Essa resistência
institucional existe com enormes riscos
pessoais na carreira e no arrastar pela lama
que Trump e os seus serviçais fazem de
imediato para intimidar as pessoas. Mas não
é suÆciente, e tem cada vez menos meios,
pela perversão crescente da autonomia da
administração por Trump, através de
nomeações políticas, demissões, e enormes
pressões, inaceitáveis numa democracia.
Sobra parte da comunicação social e é por
isso que Trump a apresenta como “inimigo
do povo”.
O grave não foi tanto o facto previsível da
maioria republicana no Senado absolver
Trump, é tudo o que se passou à volta do
processo. Aqui Æcam alguns exemplos:
1) Nem vale a pena falar do tema central
do impeachment, nos seus dois artigos, que
Æcou mais que demonstrado, e toda a
documentação e testemunhos que vieram a
público revelam estar provado sem margem
para dúvidas: Trump usou de chantagem
com o apoio militar votado no Congresso a
uma Ucrânia em guerra, para obter o
“anúncio” de investigações sobre o rival
Biden.
2) A recusa de ouvir as testemunhas mais
directamente associadas ao processo
ucraniano depois de os republicanos se
estarem sistematicamente a queixar que
O RUÍDO DO MUNDO
“Sabonete para mãos pequenas e para políticas sujas”. (Arquivo Ephemera)
não havia testemunhos em primeira mão
(havia), tornou o processo do Senado numa
farsa, e o voto dos Senadores uma violação
do seu juramento.
3) A retirada ao Congresso, um “braço
igual de governo”, de todos os seus poderes
de facto. O Senado trava toda a legislação e
em particular todas as medidas a favor dos
americanos com menos recursos, para dar a
ideia de que o Congresso não funciona, o
bloqueio do poder do Congresso de intimar
testemunhas e conduzir investigações, a
recusa de enviar documentos da
administração Trump para conhecimento
dos congressistas, a tomada de posições em
segredo sem a consulta ao Congresso que a
lei exige, em particular em matérias de paz
e guerra (o Presidente entende que basta
informá-los pelo Twitter),
4) Alargamento do “poder executivo” sem
restrições, apenas baseado na vontade
discricionária do Presidente,
considerando-se imune a qualquer processo
por violação da lei (a tese do procurador
escolhido por Trump é que o Presidente não
pode ser acusado por nada enquanto estiver
em funções). Conhecendo-se Trump, depois
da absolvição no Senado, vai fazer tudo o
que quiser sem restrições, quer no plano
interno, quer internacional.
5) A transformação do Partido
ilegais. Trump matou Biden como
candidato, porque Biden pai e,
particularmente, Biden Ælho estavam
comprometidos num sistema de
favorecimento inaceitável na Ucrânia. Nada
que os Ælhos de Trump que gerem as suas
empresas não saibam bem o que é, mas o
extremo-tribalismo e a moleza dos
democratas deixaram-nos de fora. Mas
agora irá “sujar” com aquelas mãos
pequeninas e aquela poça sem fundo de
narcisismo, autoritarismo, violência, todos
os outros candidatos, a começar pelo
“comunista” Sanders.
8) Mentiras, mentiras, mentiras — nunca
um político em democracia usou com maior
desplante e mentira como instrumento de
poder.
9) Trump inovou todos os métodos de
manipulação, aproveitando-se como
ninguém da combinação da ajuda russa, dos
mecanismos das redes sociais, a utilização
indevida dos Big Data por empresas como a
Cambridge Analitics, do Twitter para saltar
a mediação da comunicação social (deixou
de haver os tradicionais briefings da Casa
Branca à imprensa), para criar uma ecologia
mortífera feita de agressividade tribal. A
transformação da política num reality show
em que a televisão é utilizada como eÆcaz
máquina de propaganda, em particular a
“televisão do Governo”, a Fox News, e a
sistemática utilização de comícios e insultos
para inÇamar a sua “base”
Republicano num partido de gnomos de 10) Pelos vistos, os negócios e a bolsa
jardim, muito contentes por estarem dão-se bem com Trump como já se tinham
especados, Ærmes e hirtos, diante da porta dado com Pinochet, em particular com a
do seu senhor. desregulação, mas não é verdade, ao
6) A moldagem das instituições do Estado, contrário do que Trump aÆrma, que
a começar pelos tribunais através da “nunca” houve Presidentes com melhores
escolha de juízes partidários, muitos sem resultados na economia. Houve e foram
currículo e experiência, mas apenas vários.
Ædelidade absoluta ao Presidente. Outro Os democratas não têm sido
exemplo muito preocupante do modus particularmente eÆcazes em responder a
operandi da Administração Trump é que, Trump. Em parte por pecados antigos, e por
enquanto bloqueia muitas fragilidades, em parte porque estão
todos os divididos e sem candidato presidencial
documentos ao conhecido, têm diÆculdade em se aÆrmar
Congresso, em na luta unipessoal contra Trump. Mas, quer
particular os eles, quer muita gente nos EUA estão a
Conhecendo-se respeitantes às
declarações de
começar a perceber que o autoritarismo de
Trump é um caminho para a ditadura.
Trump, depois impostos de Trump, Um dos responsáveis pelo impeachment
da absolvição o Departamento do
Tesouro enviou
disse-o claramente, e o gesto de Nancy
Pelosi, rasgando o discurso de Trump, é
no Senado, vai imediatamente ao mais difícil de engolir por este do que horas
fazer tudo o que Senado os de argumentos racionais que ele não ouve, e
quiser sem documentos
relativos a Hunter
muito menos lê. Por isso, um magníÆco
cartoon de Mike Luckovich representando
restrições, quer Biden. os pais fundadores da nação americana,
no plano 7) A destruição da
imagem dos seus
Washington, Adams, Madison, a brindar “to
Nancy” com uma caneca de cerveja diz
interno, quer adversários por muito. Também brindo.
internacional todos os meios
possíveis, alguns Historiador. Escreve ao sábado
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 9

ESPAÇO PÚBLICO

Os afectos contra a política

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Francisco Assis
O BE foi quem esteve melhor
no IVA da electricidade.
Projectou um ar de seriedade,
o que hoje não é pouco
“No reino do kitsch, exerce-se a ditadura
do coração. ( … ) O kitsch faz-nos vir duas
lágrimas de emoção aos olhos, uma logo a
seguir à outra. A primeira diz: ‘Que coisa
bonita, crianças a correr num relvado!’ A
segunda diz: ‘Que coisa bonita,
comovermo-nos como toda a humanidade se
comove quando há crianças a correr num
relvado!
Só esta segunda lágrima é que faz com que
o kitsch seja o kitsch. ( … )
O kitsch é o ideal estético de todos os
políticos, de todos os partidos e de todos os

M
movimentos políticos.”
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser

ilan Kundera é um dos

espíritos mais lúcidos que a
Europa produziu nos últimos
50 anos. Romancista de
génio, permite-nos, através
da sua obra, aceder à
compreensão dos aspectos
mais recônditos e complexos
do tempo que vivemos. A
Insustentável Leveza do Ser
projectar-se-á decerto no futuro como um
dos livros de referência da segunda metade
do século XX europeu.
Na citação em epígrafe, Kundera elabora
uma magistral reÇexão sobre a natureza do
discurso político prevalecente na época
contemporânea. Esse discurso adquiriu
características absolutamente patológicas
nos regimes totalitários comunistas.
Kundera aborda a questão de modo soberbo
neste livro. Não é esse, porém, o tema que
nos interessa agora. Tão-pouco nos importa
abordar o conceito designado pela palavra
kitsch, palavra de origem alemã que se foi
progressivamente disseminando como
sinónimo de uma vulgaridade pretensiosa
destinada a apelar a emoções fáceis e
superÆcialmente compartilháveis.
Kundera confronta-nos com um dos
principais problemas que se colocam ao
discurso político numa democracia de
massas: a propensão para o culto de um
registo emotivo que tem o condão de se
reproduzir inÆnitamente anulando, quase
inadvertidamente, a dimensão crítica que só
a inteligência garante. No mundo da
pan-afectividade, nessa dimensão peculiar
onde nos estamos sempre a emocionar com
as nossas próprias emoções e com as dos
outros, deixa de haver lugar para os dois contributo de correntes mais radicalmente característica de quem acredita cegamente
pilares essenciais que são, por um lado, o democráticas, temos agora um espaço em tudo aquilo em que acredita. Não parece
pensamento e, por outro lado, a realidade. semipúblico e semiprivado onde prevalecem haver nenhuma frincha por onde entre o ar
Ambos são demasiado rugosos, contêm narcisismos de toda a espécie e particularismos puro da ambiguidade, da abertura ao
demasiados abismos tribais fechados a qualquer tipo de disputa contraditório, da aceitação de um mínimo de
e remetem para argumentativa. Em 1983, Milan Kundera incerteza. É certo que o debate político, por
demasiadas desconhecia o glorioso mundo das selÆes. Hoje deÆnição agonístico, tende sempre a uma
indeterminações em dia é quase só nesse mundo que nos polarização nos limites do excessivo.
para poderem caber movemos. Contudo, o que surpreende agora é a forma
O debate nesse magma de Num texto publicado recentemente, Paulo tão linear como tudo isto acontece. Tudo
emoções básicas. Tunhas faz uma consideração deveras parece resumir-se a um confronto, ora entre
político tende Tudo isto se interessante acerca da relação entre duas bandos de fanáticos, ora entre viciados no
sempre a uma acentuou atitudes de espírito, a ironia e a gravidade, puro jogo da política, entendida esta como
polarização nos radicalmente com o
advento das redes
que habitualmente são percebidas como
quase antitéticas. Na sua perspectiva, elas
uma esfera destituída de qualquer referência
exterior a ela própria.
limites do sociais. No grande devem ser entendidas, e sobretudo Isso Æcou particularmente visível no
excessivo. O mar das paixões e dos
afectos coabitam o
praticadas, como complementares. JustiÆca-o
de forma muito incisiva: a ironia sem a
debate sobre a questão do IVA da
electricidade. Do Governo e dos seus
que surpreende angelical apelo a uma gravidade origina o cinismo; a gravidade sem partidários ouviram-se declarações de uma
agora é a forma certa unicidade a ironia gera a pomposidade. Nos últimos ridícula pomposidade; de quase todos os
sentimentalista e dias, ao assistir ao debate parlamentar sobre o demais partidos políticos surgiram sinais de
tão linear como ferozes disputas de Orçamento do Estado, dei comigo a projectar um cinismo desenfreado. O PCP levou esse
tudo isto carácter quase esta consideração de Paulo Tunhas nos cinismo tão longe que acabou por se enredar
acontece puramente passional.
Em lugar do espaço
discursos e nos comportamentos dos
deputados de vários quadrantes políticos. Ao
em atitudes e em declarações patéticas.
Curiosamente, ou até talvez não, o partido
público imaginado e Æm de uma escassa hora, tornara-se-me que esteve melhor sob todos os pontos de
concretizado pelas evidente a pertinência do seu raciocínio. Com vista foi o Bloco de Esquerda. Projectou um
sociedades raríssimas excepções, os discursos dos nossos ar de seriedade, o que já não é pouco nos
demo-liberais, e representantes oscilam entre o cinismo tempos que correm.
amplamente próprio de quem verdadeiramente já não
aprofundado pelo acredita em nada e a pomposidade Militante do PS. Escreve ao sábado
10 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
POLÍTICA
Rui Rio promete oposição
“credível e realista”
No seu discurso inicial do conclave, o
líder do PSD virou-se para o segundo
acto eleitoral que o país terá pela frente
em 2021: as autárquicas. E disse que o
partido que lidera é moderado
Congresso
Sofia Rodrigues
Um dia depois de o PSD ter protago-
nizado (ao lado do BE) uma tentativa
(falhada) de uma coligação negativa
no Parlamento sobre o IVA da elec-
tricidade, o líder eleito dos sociais-
democratas prometeu fazer uma
oposição “credível e realista” mas
com “vigor e frontalidade”. No seu
discurso de abertura do 38.º con-
gresso do PSD, Rui Rio alertou con-
tra a “permanente guerrilha”
e defendeu que o partido deve abar-
car “todo o centro político”.
Só por duas vezes, o líder do PSD
se referiu aos críticos internos. Foi
quando deÆniu o tom da oposição
ao Governo, recusando uma política
da crítica permanente, na linha do
que tem defendido nos últimos dois
anos da sua liderança. “É uma opo-
sição credível e realista. Fazer o con-
trário, como alguns dos críticos
internos defenderam, como tantos
comentadores nos pretendiam ensi-
nar, teria tido o mesmo resultado
eleitoral que outros partidos tiveram,
quando deram ouvidos a tais críticas
e optaram por seguir as teses do poli-
ticamente correcto”, disse.
Rio não nomeou o CDS mas era a
este partido que se referia quando
criticou o tom da oposição ao Gover-
no. Se o PSD tivesse seguido esse
caminho, Rio considera que os
sociais-democratas poderiam estar
“onde outros estão agora e o PS esta-
ria provavelmente sentado em cima
de uma maioria absoluta”, assegu-
rou. Nesse sentido, defendeu que
“não adianta insistir na política do
‘bota-abaixo’ e da crítica sem crité-
rio nem coerência”. “Deixemos isso
para os outros e portemo-nos nós
com elevação e a nobreza que a acti-
vidade política nunca devia ter per-
dido”, disse, embora comprometen-
do-se em “denunciar com Ærmeza as
suas falhas e apresentar, com com-
petência políticas alternativas”.
A outra referência à turbulência
interna aconteceu quando Rio apon-
tou o rumo para o comportamento
do partido, exigindo “elevação inte-
lectual da actividade partidária” em
vez de outras discussões menos
nobres: “Não é com a discussão de
lugares nem com permanentes ati-
tudes de guerrilha na comunicação
social. Essas apenas nos diminuem.
Nunca nos engrandecem”.
Nem direita nem esquerda
Sobre o posicionamento do PSD, Rui
Rio manteve também a sua linha
estratégica. “É um partido de ideo-
logia social-democrata. Não somos,
pois, a direita, nem somos a esquer-
da. Não somos liberais nem conser-
vadores assim como não somos
socialistas nem estatizantes”. Como
tem aÆrmado no seu primeiro man-
dato — o slogan de campanha é “Por-
tugal ao centro” —, o líder do PSD
coloca o partido ao centro do espec-
tro político. “Abarcamos todo o cen-
tro político, ou seja, o espaço onde
se encontra a esmagadora maioria
das pessoas”, disse, defendendo que
o “crescimento do PSD depende da
sua capacidade de conquista de
votos ao centro” e da “capacidade de Líder do PSD falou sobretudo para dentro e não esqueceu as próximas eleições autárquicas e regionais dos Aç
conseguir atrair votantes do PS que
não se revêem na denominada do PSD no poder local, mas nunca todo o território para permitir que o
‘geringonça’ e, acima de tudo, atrair colocou a vitória como objectivo. PSD se abra à sociedade civil.
potenciais votantes, que se têm abs- Na intervenção em que foi várias
tido por manifesto descontentamen- vezes aplaudido, Rui Rio voltou a um As traquinices Äcam lá fora
to com a política”. dos seus temas de eleição: a serieda- Quando Rui Rio entrou no Centro
Num discurso muito virado para Um partido não de na política. “Sempre que houver Cultural de Viana do Castelo, bem
dentro do PSD, Rui Rio rejeitou “des- aproveitamento abusivo de meios depois da hora marcada, já lá esta-
pir” o partido de “qualquer ideolo- pode ser uma públicos autárquicos para Æns de vam os seus adversários e também
gia” por considerar que é “assumir, agência de natureza pessoal ou partidária ou de muitos dos seus apoiantes. À chega-
indirectamente, o populismo e a utilização de autarquia como empre- da, Hugo Soares, Paulo Rangel, Sal-
demagogia como bandeiras estrutu- empregos políticos gador de clientelas partidárias, esses vador Malheiro, Luís Montenegro,
rantes da sua acção”. Colocando a em que as suas casos, têm de merecer o nosso intei- Miguel Pinto Luz, Pedro Duarte e até
social-democracia como as “mar- ro repúdio e uma atenção especial Alberto João Jardim deixaram pala-
gens” de actuação do PSD, o líder estruturas se do próprio Ministério Público, inde- vras de circunstância, e não só.
classiÆcou o partido como “modera- movimentam em pendentemente do partido”, disse, Hugo Soares, ex-líder parlamentar
do, reformista e personalista”. numa altura em que há vários autar- do PSD, referiu-se à escolha do novo
Visando já para o próximo desaÆo função dos lugares cas sociais-democratas investigados presidente da bancada, que será elei-
eleitoral, Rui Rio propôs-se “recupe- Rui Rio por irregularidades. to no pós-congresso pelos deputados
rar” nas eleições autárquicas de 2021 Líder do PSD Defendendo que “um partido não do partido. E elogiou Adão Silva, o
“presidentes de câmara, mas tam- pode ser uma agência de empregos provável sucessor de Rui Rio nesse
bém vereadores e eleitos de fregue- políticos”, Rui Rio quer dinamizar o posto. “Adão Silva terá certamente
sia”. Apontou o reforço da presença conselho estratégico nacional em grandes condições para fazer um
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 11

Luís Montenegro ouviu

Rui Rio pedir, no discurso
inicial, a “elevação e
nobreza” que a actividade
política nunca devia ter
perdido
PAULO PIMENTA

Montenegro Líder mostra que também é capaz de controlar

çores
grande lugar”, salientou, deixando
claro que não vai integrar qualquer
lista neste congresso e que está dis-
ponível para “continuar a ajudar”.
Foi nesse sentido também a primeira
declaração de Miguel Pinto Luz.
No caso de Paulo Rangel, o euro-
deputado preferiu referir-se a um
tema que divide opiniões: o Æm dos
congressos electivos.
Já Luís Montenegro falou à chega-
da para responder a Alberto João
Jardim. Disse o madeirense: “Quem
dirige o partido não pode estar preo-
cupado com os meninos traquinas
cá de dentro. A traquinice acabou”,
declarou. Respondeu Montenegro:
“O dr. Alberto João Jardim é que tem
alguns momentos de traquinices”.
com Sónia Sapage
srodrigues@publico.pt
promove almoço
L
uís Montenegro vai reunir
hoje num almoço em Viana
do Castelo, no primeiro dia
do congresso do PSD, a
equipa de campanha,
apoiantes e delegados eleitos
nas listas do candidato
derrotado na segunda volta
das directas de 18 de Janeiro.
O almoço acontece numa
altura de movimentações por
causa das listas ao conselho
nacional alternativas a Rui Rio.
As candidaturas têm de ser
entregues hoje, até às 19h.
Depois da derrota à segunda
volta por mais de dois mil
votos, o núcleo duro de Luís
Montenegro ponderou como
gerir o posicionamento do
antigo líder parlamentar no
congresso, que vai eleger os
órgãos nacionais. É habitual
haver várias listas ao conselho
nacional – que acolhe as várias
sensibilidades internas –, o que
deverá repetir-se neste 38.º
congresso. Já é certo que
Hugo Soares, número dois de
Luís Montenegro, não integrará
nenhuma lista ao conselho
nacional. O mesmo acontece
com Miguel Pinto Luz, outro
candidato às directas (que não
passou à segunda volta).
Além de Carlos Reis,
também Bruno Vitorino,
Joaquim Biancard da Cruz,
André Neves, Paulo Cunha e
Luís Rodrigues estão entre os
sociais-democratas que vão
encabeçar listas ao conselho
nacional. As movimentações
dos apoiantes de Luís
Montenegro e de Miguel Pinto
Luz vão ser um dos
“fantasmas” deste congresso.
O outro é Pedro Passos Coelho,
que, ao que o PÚBLICO apurou,
não deverá estar presente, mas
pode, ainda assim, ser referido
nos discursos. O antigo
primeiro-ministro apelou
recentemente a uma união
entre o PSD e o CDS. Dentro de
dias, estará na apresentação
do novo livro de Carlos
Moedas. Sofia Rodrigues
o défice e chegar ao superavit... no PSD
Margarida Gomes
O PSD apresenta-se ao 38.º congres-
so do partido, a decorrer até domin-
go em Viana do Castelo, com as con-
tas controladas e com uma redução
signiÆcativa do passivo, nas palavras
do secretário-geral adjunto, Hugo
Carneiro. Apesar das contas relati-
vas ao ano de 2019 não terem sido
ainda formalmente aprovadas — o
que só acontecerá em Março/Abril
—, tudo aponta para que o PSD vai
conseguir uma “redução efectiva”
do passivo no novo mandato de Rui
Rio que agora começa.
Quando chegou à liderança do
partido, em Janeiro de 2018, Rui Rio,
que é conhecido por ser um político
de “contas certas” — uma imagem
que consolidou com a sua passagem
pela Câmara do Porto ao longo de
três mandatos —, introduziu mudan-
ças no funcionamento do PSD e
impôs uma cega gestão controlada
das contas que lhe permitiu devol-
ver, de forma voluntária, em Novem-
bro do ano passado, meio milhão de
euros à Assembleia da República: a
verba era relativa a uma subvenção
que o partido recebeu em valor supe-
rior ao que tinha direito no âmbito
das eleições autárquicas de 2013.
O secretário-geral adjunto do PSD
destaca, em declarações ao PÚBLI-
CO, o “esforço” que o partido tem
vindo a fazer no controlo das con-
tas, apesar dos três actos eleitorais
em que participou: europeias, legis-
lativas e regionais na Madeira. Hugo
Carneiro garante que em relação às
europeias e às regionais da Madeira
está tudo liquidado e no que diz res-
peito às legislativas, falta apenas
pagar 5000 euros.
O dirigente nacional explica como
é que desta vez o PSD conseguiu
pagar a factura das eleições regio-
nais da Madeira tão cedo. A estraté-
gia passou por um orçamento feito
com bases em dois pressupostos:
uma parte do Ænanciamento (100
mil euros a fundo perdido) seria
assumida pela sede nacional; a outra
parte seria assegurada pela subven-
ção da Assembleia da República,
que foi de 260 mil euros, precisa-
mente o valor do orçamento que o
partido estimou para as eleições.
“Ao contrário das regionais da
Madeira de 2015, que implicaram
um investimento de 885 mil euros,
as despesas com as eleições regio-
nais de Setembro do ano passado
Æcaram por menos de metade: 360
mil euros”, compara Hugo Carneiro,
assinalando que o partido está
numa “trajectória de consolidação
das suas contas e na redução do pas-
sivo”.
Novas regras
Hugo Carneiro observa que o con-
trolo nas contas coincide com um
conjunto de reformas que foram
introduzidas quer a nível dos regu-
lamentos internos para reorganiza-
ção do partido, quer do ponto de
vista do sistema informático e das
regras de funcionamento interno a
nível da transparência do PSD. De
acordo com o secretário-geral
adjunto, quando Rui Rio chegou à
presidência do PSD ( Janeiro de
2018), o passivo era de 14.9 milhões
de euros, um valor que em pouco
mais de 10 meses baixou para os 9.7
milhões. Embalada por uma estra-
Eleições da Madeira de 2019 custaram menos de metade das de 2015
tégia de contas certas, a direcção
nacional acredita que o passivo do
partido Æque abaixo dos 9 milhões
de euros quando as contas relativa-
mente a 2019 forem aprovadas em
conselho nacional.
O partido também regista melho-
rias signiÆcativas em relação à situa-
ção líquida (passivo menos activo)
desde que Rui Rio assumiu as rédeas
do PSD. Segundo a direcção nacio-
nal, quando o ex-presidente da
Câmara do Porto chegou à sede da
São Caetano, à Lapa, em Lisboa, a
situação líquida era negativa em 1,3
milhões de euros. Em Ænais de 2018,
o PSD passou para uma situação
líquida positiva em 20 milhões.
A par de um controlo rigoroso das
contas, a direcção e Rui Rio têm lan-
çado um conjunto de reformas,
quer a nível dos regulamentos inter-
nos de reorganização do partido,
quer do ponto de vista do sistema
informático, que está associado, por
exemplo, a alterações nos meios de
pagamento de quotas dos militan-
tes, um passo que a actual direcção
social-democrata considera funda-
mental no sentido da transparên-
cia.
mgomes@publico.pt
HOMEM DE GOUVEIA/LUSA
12 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
POLÍTICA
PCP é o partido com mais propostas
de alteração ao OE2020 aprovadas
Das 173 propostas de alteração aprovadas
da esquerda à direita, aproximadamente
100 tiveram o apoio da bancada
socialista. Maioria das propostas tinham
sido já negociadas com o Governo
OE 2020
Liliana Borges
Reuniões discretas, debates, telefo-
nemas e pausas para negociações até
ao último minuto. Para que fosse
viabilizado o “melhor Orçamento do
Estado dos últimos quatro anos”,
como o primeiro-ministro, António
Costa, por diversas vezes o adjecti-
vou, foram inscritas mais de 173 alte-
rações pelos partidos da oposição.
Com mais ou menos sucesso, da
esquerda à direita, todos consegui-
ram incluir no documento algumas
das medidas que entregaram na
Assembleia da República (AR).
Excluindo as propostas feitas pela
bancada socialista, o partido que
mais ideias suas conseguiu ver trans-
critas para o OE2020 foi o PCP, anti-
go parceiro do PS na solução gover-
nativa que conduziu o país durante
a última legislatura. No lado oposto,
o partido com menos medidas apro-
vadas foi o Chega.
Contas feitas, das 1174 propostas
entregues na AR, apenas 173 foram
aprovadas. Ou seja, a versão Ænal do
documento aprovada anteontem — e
que deverá entrar em vigor a 1 de
Março — inclui 11% das propostas
apresentadas pelos restantes parti-
dos.
Dessas 173 alterações aprovadas,
pelo menos uma centena teve o voto
favorável do PS. Os números são do
Governo, que numa análise provisó-
ria elaborou uma lista de medidas
negociadas com o Bloco de Esquer-
da, com o PCP, com o PAN, com o
PEV e com o Livre/Joacine Katar
Moreira. A lista, a que o PÚBLICO
teve acesso, destaca as medidas
negociadas com os antigos parceiros
da solução governativa (PCP, BE e
PEV) e com o PAN e com o Livre (que
até à data de entrega das propostas
estava ainda representado na Assem-
bleia da República pela agora depu-
tada não-inscrita, Joacine Katar
Moreira).
Na lista de medidas destacadas, o
Governo conÆrmou algumas das
negociações que foram sendo conhe-
cidas nas últimas semanas, nomea-
damente o aumento das pensões
(negociado com o PCP e BE), o Æm
das taxas moderadoras nos centros
de saúde (BE), o apoio à redução tari-
fária nos transportes públicos (PCP
e BE), a criação de uma taxa para as
celuloses (BE), a criação do Labora-
tório Nacional do Medicamento
(PCP), o alargamento da tarifa social
na energia (PAN), a gratuitidade da
medicação de emergência para
doentes com alergias graves (PEV) e
a garantia de apoio jurídico e isenção
de taxas jurídicas para vítimas de
violência doméstica e o reforço da
acção social no ensino superior em
função do custo de vida local (Livre/
Katar Moreira).
A contabilidade do Governo con-
Ærma que o OE2020 foi essencial-
mente negociado à esquerda, uma
vez que apenas 26 propostas aprova-
das chegaram da direita no Parla-
mento (PSD, CDS, IL e Chega).
Para já, ainda não é possível deter-
minar qual o partido cujas medidas
terão maior impacto orçamental,
uma vez que nem todos os partidos
apresentaram essas estimativas. No OE 2020 foi aprovado em votação final global anteontem. Só PS votou a favor
entanto, nas contas do ministro das
Finanças, as propostas de alteração o Serviço Nacional de Saúde; intro- postas, com destaque para as medi-
introduzidas pelos outros partidos
O Governo fez uma dução de limites à aplicação ou uti- das com carácter ambiental, como é
rondam os 40 milhões de euros. análise provisória, lização de fundos públicos em insti- o caso da recuperação do Pinhal de
tuições de crédito; o reforço de nutri- Leiria, afectado pelos incêndios de
Sucesso comunista a que o PÚBLICO cionistas nas escolas públicas; e o Outubro de 2017. O partido viu ainda
O PCP foi o partido que mais medi- teve acesso, das aumento da taxa de gestão de resí- aprovada a criação de um programa
das próprias viu serem aprovadas duos (de 11 euros por cada tonelada da eÆciência energética na Adminis-
(sendo também o que mais propos-
medidas em aterro, as empresas passarão a tração Pública. Também por propos-
tas entregou). Entre elas, estão a negociadas com os pagar 22 euros). ta do PEV, a Segurança Social terá
gratuitidade da creche às famílias do Do lado do BE, as principais medi- agora autorização para comunicar
primeiro escalão de rendimentos e
antigos parceiros das dizem sobretudo respeito à área decisões através de notiÆcações elec-
às famílias do segundo escalão de de solução da Saúde e Educação, como o Æm das trónicas.
rendimentos, a partir do segundo taxas moderadoras destacado pelos O PSD também aprovou 16 propos-
Ælho, a contratação de trabalhadores
governativa (BE, socialistas como uma das medidas tas, entre elas as descativações dos
para o SNS e criação e instalação do PCP e PEV) e ainda negociadas, a implementação do montantes disponíveis para a Enti-
Museu Nacional da Resistência e plano nacional de saúde mental e a dade Reguladora da Saúde, ADSE e
Liberdade na Fortaleza de Peniche.
com o PAN e o redução do valor máximo estipulado Infarmed e o reforço para o orça-
Depois do PCP, o partido com mais Livre/Joacine das propinas cobradas no primeiro mento da Polícia Judiciária e Procu-
propostas aprovadas foi o PAN: 43. ciclo do ensino superior público de radoria-Geral da República.
Exemplos: contratação de intérpre-
Katar Moreira 871 euros para 697 euros. O CDS e Livre/Joacine Katar Morei-
tes de língua gestual portuguesa para O PEV conseguiu aprovar 16 pro- ra viram aprovadas seis propostas de

MIGUEL A. LOPES/LUSA
alteração cada um. No caso dos cen-
tristas, das seis medidas aprovadas,
três dizem respeito a alteração ao
Imposto Municipal sobre Imóveis
(IMI) — uma delas agrava a taxa nos
terrenos para construção (uso habi-
tacional) localizados em zona de
pressão urbanística e devolutos há
mais de dois anos. A bancada do CDS
conseguiu também ver aprovado o
aumento da remuneração durante a
instrução dos recrutas das Forças
Armadas para o salário mínimo
nacional (635 euros).
Já o Livre (que deixou no início
desta semana de ter representação
parlamentar) aprovou, em conjunto
com a agora deputada não-inscrita
Joacine Katar Moreira, seis medidas
(das 11 que Joacine teria já negociadas
com o Governo): a criação de uma
agência ou unidade de missão para
o Novo Pacto Verde (New Green Deal);
a requaliÆcação e musealização da
casa do Passal, de Aristides de Sousa
Mendes; e a revisão dos critérios e
fórmula de cálculo para a dotação
máxima de referência do pessoal não
docente.
A Iniciativa Liberal (IL) conseguiu
que os restantes partidos aprovas-
sem três das suas propostas. Uma
delas reduz o IVA da alimentação
infantil para 6%. Inicialmente, o PS
tinha votado contra, alterando pos-
teriormente o sentido de voto. A
proposta foi assim aprovada com os
votos a favor da IL, do Chega, CDS,
PS e PCP e a abstenção do PSD, BE
e PAN. As outras duas propostas são
na área da Saúde: a primeira retira
da alçada do Ministério das Finan-
ças a autorização para celebrar con-
tratos de trabalho e a segunda faz o
mesmo à consolidação da mobilida-
de e cedência no SNS (uma propos-
ta aprovada com coligação negativa,
com todos os deputados a votarem
a favor, à excepção dos socialis-
tas).
O Chega foi o partido com menos
propostas aprovadas: das 99 propos-
tas de alteração apresentadas, André
Ventura só conseguiu reunir apoio
parlamentar suÆciente para uma: a
“divulgação pública trimestral do
Ænanciamento a fundações, associa-
ções e demais entidades de direito
privado”. A proposta foi aprovada
com os votos a favor do PSD, Bloco
de Esquerda, CDS, PAN, Iniciativa
Liberal e, claro, do Chega.
PEV foi partido mais eÄcaz
Mas se o PCP lidera o número abso-
luto de propostas aprovadas, é o PEV
que lidera em termos de taxa de
sucesso. É que apesar de ter tido
menos propostas aprovadas (16), o
PEV viu aproximadamente 25% das
65 propostas que apresentou serem
inscritas no Orçamento do Estado.
No extremo oposto, Æca novamente
o Chega, que só conseguiu aprovar
1% das propostas que entregou na
Assembleia da República. Depois do
PEV, foi o PAN que conseguiu apro-
var mais medidas face às propostas
entregues: em 227, o PAN aprovou
43. Segue-se o Livre, com 6 em 32, o
BE com 35 em 205, o PCP com 47 em
306, o CDS com 6 em 37 e o PSD com
16 em 131.
liliana.borges@publico.pt
IVA - encenação do PSD com aval do BE
Opinião
João Oliveira
A “crise” do IVA da electricidade
repete de forma quase mimética a
“crise” da contagem do tempo de
serviço dos professores na
encenação montada pelo PSD. A
grande diferença foi o facto de o BE
desta vez ter decidido sustentar e
credibilizar essa encenação,
assumindo o papel de avalista do
PSD.
Tal como na “crise” do tempo de
serviço, o PSD nunca teve intenção
de fazer descer o IVA da
electricidade. Queria apenas
livrar-se do estigma que se lhe
agarra à pele desde que o Governo
PSD/CDS impôs a subida para os
23%.
O PS, que se recusa desde 2015 a
repor o IVA nos 6% - ao contrário do
que aÆrmava entre 2011 e 2015 –,
deu ao PSD o espaço para encenar
uma intenção de resolver o
problema.
Depois do que aconteceu com o
tempo de serviço, o PSD não queria
desta vez sujeitar-se à Ægura triste
de ter de enrolar a corda depois de o
Governo lhe abrir os olhos com a
ameaça de uma hecatombe
orçamental.
Por isso, o PSD começou o debate
com a corda já enrolada e na base
da chantagem: ou eram aprovadas
as suas contrapartidas de receita ou
não havia redução do IVA. E as
contrapartidas eram Æxadas em
condições que os outros partidos
não aceitassem para que a
responsabilidade do desaire da
votação viesse a recair sobre eles e
não sobre o PSD.
O PSD acabou por retirar a sua
proposta de redução do IVA
precisamente no momento em que
poderia ser aprovada. E ainda por
cima acabou por se abster na
proposta do PCP depois de ter
garantido que a votaria a favor.
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 13
173
Total de propostas de alteração
que os partidos conseguiram
incluir no Orçamento do Estado
para 2020. Dessas, 100 tiveram
o voto favorável do PS
Tudo na actuação do PSD, desde
o início, era encenação e o BE
sabia-o perfeitamente.
E sabia também que essa
encenação do PSD haveria de
acabar como acabou na “crise” do
tempo de serviço, quando o próprio
BE denunciou “o recuo”, “as
manobras eleitorais” e as
“incongruências” do PSD que deu o
dito por não dito na votação que
teria resolvido o problema da
contagem do tempo de serviço.
Sabendo tudo isso, porque
decidiu o BE colocar-se no papel de
avalista do PSD, credibilizando as
suas falsas intenções?
A recusa do BE em cumprir esse
papel teria posto Æm à encenação
O BE acabou por
ser novamente
vítima do seu
próprio
oportunismo e das
suas tácticas de
circunstância. E
não perdoa ao PCP
o facto de ter sido
o único partido a
defender
coerentemente
posições que até
há pouco tempo o
BE também dizia
defender
POLÍTICA
do PSD.
O BE acreditou mesmo que o PSD
que aumentou o IVA na
electricidade, condenando pessoas
a não poderem aquecer as suas
casas, ter-se-ia visto de repente
impelido por uma preocupação
social a resolver o problema que o
BE classiÆcou de “questão
humanitária”?
O BE acreditou mesmo que o PSD
dos recuos, das manobras eleitorais
e das incongruências na contagem
do tempo de serviço era agora um
PSD de Æar, em quem se podia
depositar a esperança da reposição
da taxa do IVA?
A resposta a essas perguntas
revela-se na intervenção do BE no
encerramento do debate do OE.
Revela-se na forma como o BE
absolveu o PSD e suas derivações
mais reaccionárias da fraude em
que conjuntamente participaram.
Revela-se nos ataques desbragados
lançados em todas as outras
direcções. Revela-se com ainda
maior evidência no ataque violento
dirigido contra o PCP.
Na verdade, o BE acabou por ser
novamente vítima do seu próprio
oportunismo e das suas tácticas de
circunstância. E não perdoa ao PCP
o facto de ter sido o único partido a
defender coerentemente posições
que até há pouco tempo o BE
também dizia defender, por ter sido
o PCP o único a ter a coragem para
expor as contradições do PSD e não
ter embarcado na encenação.
O BE faz mal em atirar-se ao PCP.
O povo continuará a perder
enquanto não se juntarem forças
suÆcientes para derrotar PS e PSD
nas opções da política de direita que
os unem no IVA e em muitas outras
questões bem mais relevantes.
O caminho a fazer não é o das
tácticas oportunistas que
transformam as forças à esquerda
em joguetes daqueles que
pretendem perpetuar as opções da
política de direita. É o da coragem e
da coerência de defender uma
política alternativa que rompa com
aquelas opções.
Líder parlamentar do PCP
14 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
POLÍTICA
Orçamento do Estado:
o rancor e o despeito
são má política
A Semana Política
São José Almeida
As votações do Orçamento do
Estado para 2020 (OE2020) foram
a demonstração de como alguns
dos principais partidos
parlamentares estão em desespero
estratégico e dispostos a tudo,
mesmo à incoerência e ao recurso
a jogadas de puro tacticismo
inconsequente, para tentarem
sobressair no desgaste ao Governo.
Os exemplos máximos desse
tacticismo foram o PSD e o BE.
Como principal partido da
oposição, o PSD apresentou-se a
debate com a atitude de quem
pretendia cumprir o seu papel de
propor alternativas credíveis ao
OE2020 apresentado pelo
Governo. Até aí, tudo bem. O que
não se percebe é que o líder do
PSD, Rui Rio, se tenha posto ao lado
do BE e do PCP para aprovar a
proposta do PAN de suspensão do
projecto da linha circular de metro
de Lisboa, uma medida que irá
trazer consequências e atrasos
graves ao desenvolvimento da
mobilidade na Área Metropolitana
de Lisboa.
Totalmente incompreensível
para um partido de centro-direita e
que já exerceu e pretende voltar a
exercer a governação do país é o
ziguezague de Rui Rio em relação à
descida do IVA para 6% na factura
de electricidade dos consumidores
privados. É evidente que o PSD tem
toda a legitimidade para defender
tal proposta, se a considera
socialmente justa. O que já é de
estranhar é que um partido
responsável tenha começado por
aÆrmar que defendia
contrapartidas Ænanceiras para
compensar orçamentalmente a
quebra de receitas do Estado,
defendendo cortes nos gabinetes
ministeriais, e, quando viu esta
compensação chumbada na
especialidade, entrou numa
escalada de jogo táctico.
Para aliciar a esquerda,
abandonou a exigência de
contrapartidas e passou a defender
apenas que fosse adiada a entrada
em vigor da medida, de Agosto para
Outubro. Depois admitiu votar as
propostas do PCP, que propunha a
redução para 13%, e a do BE, que
apontava para 6%. Na sexta-feira,
teve Ænalmente o bom senso de não
precipitar uma crise política.
Terminou a estender a mão ao
Governo e a fazer a vontade de
António Costa, que tinha apelado
ao “bom senso”. O PSD absteve-se
na proposta de redução do IVA na
electricidade apresentada pelo BE e
votou contra a do PCP,
inviabilizando, assim, a aprovação
de ambas.
Apesar de a crise ter Æcado
esvaziada, este tacticismo de Rui
Rio levanta dúvidas. O PSD terá
A estratégia de
oposição-catavento
apenas serviu para
descredibilizar
o PSD e o BE
e fortalecer
o Governo de
António Costa
feito os seus estudos de impacto da
medida não só no OE2020, mas em
futuros orçamentos. AÆnal, Rui Rio
é economista e tem fama e
proveito, enquanto presidente da
Câmara do Porto, de ser rigoroso
nas contas. Mas será que, aÆnal, as
contrapartidas que de início exigia
são indiferentes? Será que, para Rui
Rio, o objectivo do Æm do déÆce e
da existência de superavit no
OE2020 não é importante? A
exigência de “contas certas” deixou
de ser um património do PSD? À
revelia dos usos e costumes de
Cavaco Silva e de Passos Coelho?
Mas as dúvidas sobre o tacticismo
do PSD vão mais longe. Ir atrás de
fogos-fátuos de desgaste do
Governo é a forma como Rui Rio
quer fazer oposição? É com o BE e o
PCP que o PSD de Rui Rio quer
negociar? É este o projecto que Rui
Rio tem para chegar ao Governo? Já
agora, estará Rui Rio seguro de que
ganharia legislativas antecipadas
agora, se o Governo se demitisse? O
PSD esqueceu-se da crise dos
professores?
A crise foi também travada pelo
bom senso demonstrado desde o
primeiro momento pelo CDS e pelo
PCP, que desde o início se
recusaram a entrar nos jogos de
ziguezague parlamentar. O PCP
demonstrou, mais uma vez,
coerência. Percebeu o que estava
em causa neste Orçamento e o que
conquistou graças ao protagonismo
negocial que o primeiro-ministro
reservou aos comunistas. Não se
deixou, assim, contaminar por
mediatismos da espuma dos dias e
percebeu que esta crise poderia
provocar a queda do Governo,
anunciada ao PÚBLICO pelo
presidente do PS, Carlos César. O
PCP não se esqueceu de como o
chumbo do PEC IV, em Março de
2011, levou à queda do segundo
Governo de José Sócrates e
entregou a governação a Passos
Coelho e a Paulo Portas.
Quem parece ter-se esquecido é o
BE. É certo que o BE defende a
descida do IVA na factura da
electricidade há muito. Mas é
também verdade que, durante
quatro anos, o BE apoiou
parlamentarmente o Governo
minoritário de António Costa,
assinando um acordo com o PS.
Durante a campanha das
legislativas e mesmo antes, assumiu
que queria ir para o Governo com
os socialistas.
Agora, parece estar disponível
para se atirar para uma piscina sem
água. Aceita jogos tácticos e
disponibiliza-se para votar ao lado
do PSD, o partido que há anos
diaboliza. Qual a coerência do BE
em relação ao seu passado? Está em
crise de abstinência mediática e
agarra qualquer oportunidade para
ser manchete? E se António Costa
se demitisse, estará o BE tão certo
de que cresceria nas urnas?
É bom para o país que o PSD e o
BE ganhem responsabilidade. A
estratégia de oposição-catavento
apenas serviu para descredibilizar
o PSD e o BE e fortalecer o Governo
de António Costa. E cheira a
despeito e rancor, sentimentos que,
em política, não trazem nem
credibilidade nem votos.
Jornalista. Escreve ao sábado
sao.jose.almeida@publico.pt
Saúde coloca à prova
coligação PSD/CDS
na Madeira
Demissões
Márcio Berenguer
Nomeação do director
clínico do Serviço Regional
de Saúde levou à demissão
de 33 dos 50 directores de
serviço e coordenadores
Na primeira intervenção como direc-
tor clínico do Serviço Regional de
Saúde da Madeira (Sesaram), Mário
Pereira procurou ontem desdramati-
zar a polémica em torno da sua
nomeação. Antes, no Ænal de uma
reunião que já acabou às primeiras
horas do dia, 33 dos cerca de 50 direc-
tores de serviço e coordenadores de
unidades do Sesaram, tinham amea-
çado, num comunicado conjunto,
demitir-se em bloco, caso o executivo
madeirense não recuasse na nomea-
ção de Mário Pereira para liderar a
direcção clínica. Em causa, argumen-
taram os médicos demissionários,
está a “partidarização” de uma aérea
que é clínica e que, defendem, deve-
ria ser entregue a um dos coordena-
dores de unidades.
Os médicos não aceitam que a esco-
lha do nome do novo director clínico
tenha sido determinada pelo acordo
de Governo estabelecido entre o PSD
e o CDS, que designou a direcção clí-
nica como um cargo a ser entregue a
um representante dos centristas.
Foi para eles, ausentes da sala onde
decorreu a tomada de posse, a que
não faltaram os presidentes do Gover-
no regional, Miguel Albuquerque
“Quem quiser que se demita”,
disse Miguel Albuquerque
(PSD), e do Parlamento madeirense,
José Manuel Rodrigues (CDS), que
Mário Pereira falou. O médico orto-
pedista, que durante os últimos anos
foi, a partir da bancada centrista na
Assembleia Legislativa da Madeira,
uma das vozes mais críticas das polí-
ticas de saúde regionais, prometeu
continuar a “paciÆcação” do sector,
garantindo respeito a todos os proÆs-
sionais e mantendo as “portas da
direcção clínica abertas” para o diá-
logo. Na próxima semana, disse, vai
iniciar contactos com todos os médi-
cos para ouvir as preocupações.
“Sei que há diÆculdades, que há
resistências quando se muda alguma
coisa”, reconheceu, depois de agra-
decer a conÆança de Pedro Ramos, o
secretário regional da Saúde que tan-
to criticou durante a última legislatu-
ra e a quem prometeu, agora, total
lealdade.
Também Pedro Ramos, que recu-
sou aceitar a demissão dos médicos,
tentou esvaziar a tensão. Prometeu
diálogo e lembrou que todos eles têm
um percurso e uma história de dedi-
cação. “Conto com eles todos, porque
o serviço de saúde faz-se com as pes-
soas, faz-se com os proÆssionais que
têm responsabilidades acrescidas,
que são os directores de serviço. Não
acredito que em 24 horas tudo o que
é o histórico do Sesaram e o sucesso
da Saúde na região possa ser anula-
do”, aÆrmou o secretário regional,
depois de Albuquerque, à entrada, se
ter mostrado conÆante. “Vai tudo se
resolver”, disse aos jornalistas.
Mário Pereira é a segunda escolha
para a direcção clínica, depois de a
médica Filomena Gonçalves ter sido
vetada pelos directores de serviço e
coordenadores, numa votação infor-
mal. A médica sentiu-se “humilhada”,
recusou tomar posse, acabou mesmo
por desÆlar-se do CDS em protesto
com o que considerou ser uma falta
de solidariedade do partido.
O caso teve eco na coligação de
Governo. Rui Barreto, líder do CDS-
-Madeira, disse estar “profundamente
agastado”, lembrando o “acordo” de
Governo. Albuquerque acabou por
endurecer o discurso com os médicos
contestatários. “Quem manda na Saú-
de é o Governo”, disse na altura e, mais
recentemente, quando o nome de
Mário Pereira começou a ser criticado,
respondeu: “Quem quiser que se demi-
ta”. E os médicos demitiram-se.
marcio.berenguer@publico.pt
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 15

POLÍTICA

PÚBLICO & NOTÓRIO 3261

é o número de pedidos para uso
de drones registados durante o
ano de 2019 pela Autoridade
Nacional de Aviação Civil.
Houve ainda 46 incidentes com
veículos aéreos não-tripulados
nas proximidades de
aeroportos portugueses

FOTO DA SEMANA AS FRASES

DR

“Marcelo é muito
inteligente, mas é
medroso”
Bastidores Henrique Neto
Empresário e ex-candidato
presidencial

Joacine à procura
de lugar
Relegada para a condição de
deputada não-inscrita na
segunda-feira depois de uma
“rápida reunião” com Ferro
Rodrigues, Joacine Katar
Moreira ainda se sentou no lugar
habitual nesse dia e no seguinte.
Mas na quarta-feira, horas antes
de a conferência de líderes
decidir a mudança para a última
fila (como Trigo Pereira, em
2018), Joacine andou à procura
de novo lugar. Primeiro foi para o
meio da bancada do PS — e
disseram-lhe que não seria ali.
Depois para a última fila, no
meio do BE — teve a mesma
resposta. Decidida, foi para a
cadeira habitual, na segunda
fila, atrás do ecologista José Luís
Ferreira. Para fazer a despedida,
podia ter escrito na madeira:
“Aqui sentou-se JKM 2020”.
Ferro e as cirurgias
ao corpo... do OE
As maratonas de votações do
Orçamento (OE) são uma tarefa
Mário Centeno, no discurso final
na votação do Orçamento, citou
poetas e escritores e com
momento quase teatrais. Já Costa,
após a aprovação do OE, puxou
pela veia mais revolucionária.
Despejou textos no Twitter a
tecer loas ao documento, mas
num deles usou mesmo uma
A VER OS AVIÕES O “PRIMEIRO MUNDO” DE LACASTA
velha máxima comunista — quem
sabe, como agradecimento ao
PCP por se ter abstido na votação
final. “O Orçamento do Estado
2020 não tem retrocessos, nem
fica a marcar passo. Avança com
confiança (…)”, escreveu. O texto
é acompanhado de uma foto que
mostra Costa a avançar “com
confiança” nos Passos Perdidos
da Assembleia da República com
quase todo o Governo a marchar
atrás de si . Quase todo, porque
Pedro Nuno Santos prefere sair
da fila e desviar-se claramente
para a esquerda do
primeiro-ministro. Opções
estratégicas!
CENTENO DEPOIS DO ADEUS
“Em Portugal, morre-se
de pobreza energética”
Joana Mortágua
Deputada do BE
“Há poucas coisas mais
populares do que baixar
impostos”
Marcos Perestello
Ex-secretário de Estado da
Defesa Nacional
“De cada vez que há
eleições em Outubro,
fica-se seis meses, pelo
menos, sem Orçamento”
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República
“Como não há carros
sem travões, também
não há orçamentos sem
cativações”
Mário Centeno
Ministro das Finanças

hercúlea, mas sem apartes

seriam bem piores. Na
terça-feira, os trabalhos na
comissão de orçamento foram
até às 4h. Seis horas depois,
Ferro Rodrigues, que não fizera
noitada, atirava piadas amiúde.
“Vamos votar uma alteração ao
n .º 1 do PSD”, disse, a dada
altura. E depois da votação de
uma “emenda ao corpo” do
texto, a secretária da mesa
diz-lhe que há outra para votar,
o que acontece de seguida.
“Foi mesmo emendado o corpo
pela segunda vez! Foi uma
operação plástica completa…”,
riram-se Ferro e a sala.
O presidente da Agência
Portuguesa do Ambiente (APA),
Nuno Lacasta – acossado pelos
ambientalistas por causa do
aeroporto do Montijo –,
encontrou no Algarve um porto
de abrigo que o protege das aves
agoirentas. “Lembro-me da cor
vermelha da terra, do pó e muita
lama”, afirmou o dirigente da APA,
a recordar os tempos de uma
região típica do Terceiro Mundo,
quando se “levava cinco horas”
para chegar de Lisboa até às
praias de Vilamoura, Vale do Lobo
ou Quinta do Lago. “E hoje o
Algarve é Primeiro Mundo”,
afirmou, confidenciando: “Sou
munícipe de
Loulé”, um dos
concelhos mais
ricos do país. O
ministro do
Ambiente e
Acção Climática,
João Pedro Matos Fernandes, não
chegou a ouvir a intervenção de
Lacasta (durante a apresentação
do Plano Municipal de Adaptação
às Alterações Climáticas), na qual
foram ambos oradores esta
semana. Mas, por certo, ficaria
satisfeito. O aeroporto de Faro
localiza-se em plena ria Formosa –
e não há pássaros que se
aproximem...
A saída de Mário Centeno do “Não sou candidata
Governo já foi dada como certa
por várias vezes e sob vários
a nada. Sou uma
pretextos. No discurso de reformada irreformável”
encerramento do Orçamento, o Ana Gomes
ministro das Finanças fez uma Ex-eurodeputada do PS
espécie de retrospectiva e insistiu
que Portugal “não se cansará de
cumprir”. Voltou aos trocadilhos,
a Pessoa e às tiradas poéticas. E a
citação “Vivo a vida como dantes/
não tenho menos nem mais/ os
dias passam iguais/ aos dias que
vão distantes”, de Por morrer uma
andorinha, de Carlos do Carmo,
soou a aviso de despedida: “Por
sair um ministro, não se acaba o
rigor orçamental”.
16 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

SOCIEDADE
Separar alunos por nível de
aprendizagem reduziu chumbos
Maioria das escolas que mais reduziram os chumbos optou
por criar turmas de nível, temporárias, onde os alunos são
colocados em função das suas diÄculdades. Ter mais do que
um professor na sala de aula foi outra das medidas
Medidas para combater insucesso escolar
Educação
Clara Viana Algumas das fragilidades Como se organizaram as escolas
detectadas nas escolas e número para promover o sucesso escolar
As escolas que mais reduziram as de medidas adoptadas para as Número de estabelecimentos
suas taxas de retenção nos últimos ultrapassar
anos apostaram, na maioria dos 1.º e 2.º ano Português/Matemática
casos, na criação temporária das 2.º ano 5.º ano 7.º ano 5.º ano Línguas, Mat. e Ciências
chamadas “turmas de nível”, onde 7.º ano Línguas, Mat. e Ciências
Lacunas nas práticas
os alunos são agrupados em função
de ciências experimentais Turmas de nível*
do seu grau de diÆculdade. Esta é
uma das conclusões que emerge do 8 8 6
Coadjuvação**
relatório Acção Estratégica das 50 Supervisão pedagógica pouco
escolas que mais diminuíram o insu- frequente Só um professor
cesso escolar no ensino básico, que com a turma
11 17 10
foi agora divulgado pelo Ministério Desdobramento
Problemas de comportamento
da Educação. da turma em
dos alunos
O relatório é da responsabilidade turnos
0 5 10 15 20 25
da equipa do chamado Programa 12 27 28
Nacional de Promoção do Sucesso Variação das taxas de retenção
Problemas na articulação
Escolar (PNPSE), lançado em 2016 entre docentes
por ano de escolaridade em %
e no âmbito do qual 663 agrupa- 2014 a 2016 2016 a 2018
mentos têm vindo a aplicar planos 17 26 11
de acção estratégica para reduzir o 11
Elevadas taxas de insucesso 8
insucesso. 5,2
No caso do estudo agora apresen- 2
51 62 54 1 0,3
tado, foram tidos em conta os resul-
tados obtidos pelas escolas do 2.º ano 5.º ano 7.º ano
PNPSE no 2.º, 5.º e 7.º anos de esco- *Separar tenporariamente alunos por nível de dificuldade de conhecimento para reduzir
laridade, de que resultou uma espé- a heterogeneidade; ** Dois ou mais professores presentes em simultâneo em sala de aula
ou nas actividades
cie de Top50 para cada um destes
níveis, medido com base na redução Fonte: Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar PÚBLICO

dos chumbos, que neste universo

passou, no 2.º ano, de 8% no biénio
de 2014-2016 para 1%, no de 2016-
2018; no 5.º ano, desceu de 5,2%
para 0,3% e, no 7.º, de 11% para 2%.
No conjunto dos mais de 600 agru-
pamentos que aderiram ao PNPSE,
ter-se-ão registado menos 30 mil
chumbos, apontou um balanço
divulgado no ano passado.
Pela análise agora apresentada,
Æca a saber-se que em 50% das esco-
las no novo Top50 foram criadas,
que parece ter sido retida é esta:
temporária. Será a condição de base
para que esta medida possa contri-
buir para a redução do insucesso
escolar, em vez de “reduzir as opor-
tunidades de aprendizagem dos
alunos mais desfavorecidos” e de os
estigmatizar, como alertou a Orga-
nização para a Cooperação e Desen-
volvimento Económico (OCDE).
Em Portugal, esta organização
temporária de turmas onde se junta
com respeito pelos diferentes rit-
mos de aprendizagem”. Quando
recuperam, em princípio, voltam à
sua turma de origem.
Dois professores na sala
Os planos apresentados pela escolas
para aprovação do ministério foram
acompanhados por um diagnóstico
feito por cada uma delas sobre o que
detectaram como sendo as suas
“fragilidades”. A “heterogeneidade
dois professores em sala de aula ou
em outras actividades pedagógicas
(coadjuvação). A que se juntou no
5.º e 7.º anos o desdobramento de
turmas em algumas disciplinas, per-
mitindo o trabalho com grupos mais
pequenos de alunos.
“O conjunto de medidas tomadas
e os resultados obtidos demonstram
que estas escolas ultrapassaram um
modo de organização baseado na
burocracia mecanicista, caracteri-
zada por tornar o ensino e a apren-
dizagem reféns de práticas automa-
tizadas baseadas no fomento da
comunicação formal”, congratula-
se a equipa do PNPSE.
Já o relato apresentado por uma
das escolas avaliadas é bem mais
claro sobre esta matéria: “Em todos
os Ænais de período, é apontada
como justiÆcação para o insucesso
por parte de alguns alunos a desmo-

no 2.º ano, “turmas de nível” para
alcançar melhorias a Português e
Matemática. E que no 5.º e 7.º anos
esta proporção foi respectivamente
de 65% e 50%, abrangendo sobretu-
do as áreas de Português, Matemá-
tica, Línguas Estrangeiras, Ciências
Físicas e Naturais.
Uma ressalva. Quando se fala de
“turmas de nível”, a palavra-chave
os alunos com mais diÆculdades
tem sido desenvolvida desde há
quase duas décadas através de pro-
jectos como o Turma Mais ou Fénix,
que foram recuperados pelo
PNPSE.
Apresentam-se como uma opor-
tunidade para os estudantes que
“necessitam de maior apoio” terem
“um ensino mais individualizado
na constituição de turmas” foi pre-
cisamente um dos problemas apre-
sentados por diÆcultar “o apoio
individualizado” aos alunos.
Mas antes de se avançar no domí-
nio das “fragilidades”, destaque
ainda para duas outras “medidas
organizacionais” que tiveram
impacto na redução dos chumbos.
A primeira passou pela presença de
30
mil chumbos a menos foi o
número registado no conjunto
dos mais de 600 agrupamentos
que aderiram ao plano para a
redução do insucesso
tivação, a falta de atenção e a pouca
participação nas aulas. Esta consta-
tação deixa em aberto a questão
sobre as metodologias utilizadas
para atingir os objectivos de apren-
dizagem propostos.”
Mas como geralmente não se
fazem omeletas sem ovos, para lan-
çar o seu programa de sucesso esco-
lar, o Ministério da Educação auto-

rizou a contratação de mais profes-
sores pelas escolas para alocarem
aos planos de acção apresentados.
Não foram ainda divulgados núme-
ros Ænais sobre esta contratação,
mas a conclusão da equipa do
PNPSE é peremptória: “A atribuição
de docentes adicionais gerou uma
redução da retenção, estimando-se
no conjunto destas 50 escolas que
o aumento de 1% em recursos
docentes provocou uma redução de
13% na retenção”.
O PÚBLICO tentou apurar quan-
tos professores a mais representa o
aumento de 1%, mas não obteve res-
postas.
Quanto aos problemas identiÆca-
dos pelas escolas, constata-se que os
relacionados com o comportamento
dos alunos aparecem em terceiro
lugar (com relatos de 66 agrupamen-
O relatório
focou-se nas
50 escolas
que mais
conseguiram
reduzir
as retenções
de alunos
no 2.º, 5.º
e 7.º anos
NUNO FERREIRA SANTOS
tos) e que, como é sabido, se tendem
a agravar consoante os estudantes
vão Æcando mais velhos, por isso,
neste diagnóstico, a incidência da
indisciplina e absentismo é maior no
5.º e 7.º anos de escolaridade. Embo-
ra existam alertas desde bem mais
cedo, dando conta por exemplo de
um “número crescente de compor-
tamentos disruptivos no pré-escolar
e 1.º ano”.
Nos diagnósticos apresentados, o
que acolheu maior número (130
escolas) dizia respeito às elevadas
taxas de retenção. A seguir, com 88
escolas a apontar no mesmo senti-
do, surgiam “problemas na acção
docente” que passavam, nomeada-
mente, pela “diÆculdade de aceita-
ção de medidas inovadoras.
cviana@publico.pt
Em seis anos, duplicou o fosso entre alunos
portugueses e imigrantes no 3.º ciclo
Joana Gorjão Henriques
Quanto mais elevado o nível de ensi-
no, pior é o desempenho escolar,
sendo que a clivagem entre alunos
portugueses e imigrantes também é
maior. Em seis anos lectivos — entre
2011/12 e 2016/2017 —, a desigualdade
de oportunidades entre alunos imi-
grantes e nacionais que passaram de
ano duplicou no 3.º ciclo. Esta é uma
das conclusões da análise das taxas
de aprovação dos alunos de naciona-
lidades estrangeiras e portuguesa nos
ensinos básico e secundário, em Por-
tugal continental, dos estudos das
sociólogas Ana Filipa Cândido e Tere-
sa Seabra sobre Os alunos de naciona-
lidade estrangeira nos ensino básico e
secundário em Portugal Continental,
onde analisam modalidades de ensi-
no e taxas de aprovação durante seis
períodos lectivos.
Segundo a análise, a diferença das
taxas de aprovação entre os dois gru-
pos de alunos, imigrantes e portugue-
ses, duplicou no 3.º ciclo — passou de
5 pontos percentuais para 10,3 — e
aumentou signiÆcativamente no
secundário — de 8,1 para 13,5 pontos
percentuais. Ou seja, no Ænal do ano
lectivo 2011/2012, 75,4% dos alunos
imigrantes passaram de ano, compa-
rando com 80,4% dos portugueses;
em 2017, os imigrantes que passaram
de ano foram 80,9%, quando os por-
tugueses chegaram aos 91,2%.
As diferenças em relação aos por-
tugueses — entre quem passou e
quem chumbou no 3.º ciclo em 2017
— acentuaram-se no caso dos cida-
dãos dos Países Africanos de Língua
OÆcial Portuguesa (PALOP), com os
cabo-verdianos a terem a maior dife-
rença (menos 18,3 pontos percen-
tuais), seguidos dos guineenses (18,1
pontos percentuais), são-tomenses
(13,7 pontos percentuais), angolanos
(13 pontos percentuais) ou moçambi-
canos (11,2 pontos percentuais).
Colocando de outra maneira, e
fazendo o PÚBLICO os cálculos a partir
dos dados do relatório, a percentagem
de alunos dos PALOP que chumbou no
3.º ciclo no Ænal do ano lectivo de 2017
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 17
A atribuição
de docentes
adicionais gerou
uma redução
da retenção
Relatório do PNPSE
foi de quase 24%, mas entre os portu-
gueses foi de 8,8% — quase o triplo. Em
2014, a diferença entre os dois grupos
era o dobro (15% de portugueses versus
30% entre PALOP), como mostrou o
estudo Os afro-descendentes no sistema
educativo português, dos sociólogos
Cristina Roldão e Pedro Abrantes.
No ensino secundário, a tendência
manteve-se em 2017, mas as diferen-
ças entre portugueses e imigrantes
dos PALOP que passaram de ano
assumiram outra conÆguração: os
guineenses tiveram os resultados
mais distantes em relação aos portu-
gueses (menos 23,3 percentuais),
seguidos dos angolanos (21,7), cabo-
-verdianos (16,7 pontos), são-tomen-
ses (10,7) e moçambicanos (com 9).
Outro dado que permite aferir a
desigualdade de oportunidades é a
comparação entre as taxas de aprova-
ção dos alunos nacionais e dos estran-
geiros nos dois tipos de ensino, o
regular e não regular. As vias regulares
incluem o Ensino Regular e o Ensino
Artístico Especializado e as vias não-
-regulares os Percursos Curriculares
Alternativos, os Cursos Vocacionais,
os Cursos ProÆssionais e os Cursos de
Educação e Formação.
Segundo os dados agora divulga-
dos, os resultados são tendencialmen-
te melhores no ensino regular no caso
dos alunos portugueses, e a diferença
O fim dos exames no 4.º e 6.º anos fez diminuir esta clivagem
entre os grupos é menor no ensino
não-regular. Isto mostra que “o ensi-
no regular é socialmente mais selec-
tivo” e reduz “a igualdade de oportu-
nidades entre os dois grupos”, aÆr-
mam os investigadores.
Por outro lado, a proporção de alu-
nos no ensino não-regular de nacio-
nalidade cabo-verdiana e são-tomen-
se continuou a atingir no ensino
secundário valores acima dos 50%
— nos alunos portugueses, essa taxa
é de 35,3%. Por exemplo, 78,2% dos
alunos são-tomenses estão nas vias
não-regulares, percentagem que é de
67,1% para os cabo-verdianos e de
63% para os da Guiné-Bissau.
No entanto, comparando o ano
lectivo de 2011 com o de 2016/17, nota-
-se que, para algumas nacionalidades,
se reduziu “o sobre-encaminhamen-
to” para as vias não-regulares: é o
caso dos cidadãos de Cabo Verde
(menos 15,8 pontos percentuais), de
Angola (menos 14,7) e de São Tomé e
Príncipe (menos 8,4).
As autoras do estudo referem ainda
que no 1.º e 2.º ciclos a clivagem
“sofreu um agravamento” nos anos
lectivos em que foram implementa-
dos os exames nacionais de 4.º e 6.º
anos, e “foi progressivamente diluí-
da” nos anos lectivos mais recentes.
jgh@publico.pt
DANIEL ROCHA
18 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

SOCIEDADE

Dias Loureiro também fez transacções

com empresa que pagou a Vitorino
Em causa estão três operações ocorridas em 2014. O ex-ministro transferiu 49 mil euros e recebeu 70 mil.
Dias Loureiro explica os movimentos com o facto de ter contratado os serviços jurídicos do genro
NUNO FERREIRA SANTOS

Justiça
Mariana Oliveira
O ex-ministro da Administração Inter-
na Manuel Dias Loureiro também fez
transacções com uma das duas
empresas espanholas que são suspei-
tas de terem participado num esque-
ma de corrupção que envolve a petro-
lífera estatal venezuelana, a PVDSA.
Trata-se da Morodo Abogados, uma
sociedade detida pelo ex-embaixador
espanhol na Venezuela, Raúl Morodo,
e pelo seu Ælho Alejo, casado com
uma Ælha do antigo político portu-
guês. Ao PÚBLICO, Dias Loureiro
admite ter contratado, através da sua
empresa DL-Gestão e Consultoria, a
Morodo Abogados para lhe prestar
alguns serviços jurídicos em Espanha.
A Morodo Abogados recebeu mais de
310 mil euros da Galp e pagou pelo
menos 255 mil euros a uma empresa
de António Vitorino, actual director-
-geral da Organização Internacional
para as Migrações.
Em causa estão, segundo docu-
mentos do processo espanhol a que
o PÚBLICO teve acesso, três movi-
mentos entre a empresa de advocacia
e a DL-Gestão e Consultoria, uma
sociedade anónima constituída há
mais de 20 anos e da qual Dias Lou-
reiro é administrador único. A pri-
meira transferência foi feita pela DL
a 14 de Janeiro de 2014 e tinha o valor A Morodo Abogados é detida por Raul Morodo e pelo seu filho Alejo, casado com a filha de Dias Loureiro
de 42 mil euros, a segunda, de sete
mil euros, foi realizada em 11 de Abril quota de 80% e o pai deste de 20% —, presidida por Tito Mendonça, entea- através de uma empresa de consulta-
do mesmo ano. Entre as duas tran- diz que a transferência está relacio- do do ex-Presidente de Angola, José doria que Vitorino constituiu em 2011
sacções, foi realizada uma terceira, nada com a liquidação de uma ou Eduardo dos Santos, e meio-irmão de com a mulher, a EMAB Consultores,
de 70 mil euros, desta vez, com ori- duas Ærmas em Espanha. “Houve Tchizé dos Santos e de Paulino dos cuja existência terá sido omitida pelo
gem numa conta da Morodo Aboga- uma ou duas sociedades que consti- Santos, com quem o angolano tem ex-ministro à sociedade de advogados
dos e destino para uma outra da DL, Eles trabalhavam tuí, mas que acabei por liquidar. Essas vários negócios. O ex-ministro portu- em que trabalhava, a Cuatrecasas, da
uma sociedade que actualmente é empresas tinham dinheiro no banco guês garante ao PÚBLICO que a qual era sócio. Vitorino terá recebido
100% de Dias Loureiro, segundo o para mim. Faziam e quando foram fechadas o dinheiro Lagoon SGPS e a Lagoon Construções, outros 70 mil euros, ao que tudo indi-
próprio. coisas pequenas. foi-me devolvido”, justiÆca. uma subsidiária, não têm actividade ca, directamente nas suas contas. Os
O ex-ministro do PSD justiÆca as A DL, que tem um activo de oito há algum tempo e que foram consti- pagamentos terão sido realizados por
duas transferências que fez para a Quando tinha milhões de euros, é a única sociedade tuídas para levar avante um projecto uma outra empresa de Alejo, a Aequi-
Morodo Abogados com o facto de esta algum trabalho referida nos documentos da Justiça imobiliário na baía de Luanda que não tas Abogados, que não declarou as
lhe ter prestado serviços jurídicos, espanhola a que o PÚBLICO teve aces- chegou a concretizar-se. “A ideia era operações ao Æsco espanhol. Vitorino
nomeadamente na constituição de jurídico em so. Não é, no entanto, a única que Dias fazer um centro comercial e um hotel. reconheceu ao PÚBLICO ter prestado
sociedades em Espanha. “Eles traba- Espanha, Loureiro possui. Activa está uma Mas nunca chegámos a fazer o imó- serviços a uma empresa dos Morodo
lhavam para mim. Faziam coisas pequena empresa de turismo — a vel”, explica Dias Loureiro. “em assuntos referentes à União
pequenas. Quando tinha algum tra- entregava 4U2Enjoy, Lda — que organiza viagens A notícia de que a Morodo Aboga- Europeia e às relações entre Portugal
balho jurídico em Espanha, entregava ao meu genro de luxo personalizadas, de que a DL dos pagou a António Vitorino pelo e Espanha”, mas omite as relações
ao meu genro”, aÆrma. Quanto aos detém 51%. Dias Loureiro surge tam- menos 255 mil euros entre 2011 e 2016 com a outra.
70 mil euros que recebeu daquela Dias Loureiro bém como vogal da administração de foi revelada pelo jornal espanhol
empresa — na qual o genro tem uma Ex-ministro uma outra empresa, a Lagoon, SGPS, OkDiario. O dinheiro foi recebido mariana.oliveira@publico.pt
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Porto, cidade livre e independente

Em artigo publicado no JN de 7 de fevereiro, o Senhor Dr. Ricardo Valente, Vereador da Câmara do Porto, vem tentar iniciar
comigo, sem sucesso, uma polémica a propósito da eventual concessão do Coliseu do Porto. Sucede que o faz com base em
falsidades, incorrecções, interpretações erradas e abusivas. Vejamos:

1. Afirma o Dr. Ricardo Valente que eu exigi que a Câmara do Porto pague a reabilitação do Coliseu e que o municipalize.
Falso. Basta ler o que escrevi no JN de 5 de Fevereiro para se concluir que concordo com o modelo de concessão. Desde que,
como disse, ele seja claro e rigoroso, protegendo a concorrência, os direitos dos trabalhadores e os interesses dos proprietários
do edifício, que, como se sabe, constituem a Associação Amigos do Coliseu. Defendo ainda que a identidade, o ecletismo e
o carácter do Coliseu, ícone da nossa cidade, devem ser preservados e promovidos. A concessão é um modelo que defendo.
Desde que com condições e com transparência. Não admito, a prazo, ver o Coliseu transformado num templo religioso, num
supermercado ou num ginásio low-cost.

2. Escreve o Dr. Ricardo Valente que eu fiz parte do Conselho Municipal de Economia e que me auto-exclui do mesmo.
Falso. Estranho até que o Vereador com o Pelouro da Economia desconheça que quem tem assento no referido conselho é
a Associação Comercial do Porto, a título institucional, sendo representada por um membro da sua direcção. Mais estranho
ainda é o facto de a Associação Comercial do Porto e o seu representante não terem sido convocadas para a reunião do
Conselho Municipal onde se debateu a questão do Coliseu. Terá sido lapso? Terá sido conveniência? O facto é que a voz da
Associação Comercial não pôde fazer-se ouvir naquele órgão municipal.

3. Acresce que, na minha opinião, de resto partilhada por inúmeras instituições e personalidades da cidade, não cabe
ao Conselho Municipal de Economia o debate e a decisão do futuro do Coliseu. A decisão cabe, isso sim, à Assembleia-geral
dos Amigos do Coliseu, associação precisamente criada para evitar que o edifício e tudo o que ele representa viesse a cair em
mãos erradas. Hoje, como então, a sociedade civil do Porto não abdica do seu património e dos seus valores imateriais.

4. Nesse sentido admiti, e continuo a admitir, que a cidade se volte a unir em torno do seu Coliseu e que consiga
reunir o financiamento necessário para suportar as inadiáveis obras naquela sala. Disse, e escrevi, que a Associação Comercial
do Porto estaria na primeira linha desse movimento e prestaria o seu contributo financeiro, se necessário. Não quero acreditar
que a Câmara Municipal do Porto não incorpore e não se junte a esse movimento das forças vivas da cidade, contribuindo
para as obras na parte que, como membro dos Amigos do Coliseu, lhe competiria.

5. O Dr. Ricardo Valente tem a infelicidade de tocar o tema da concessão do Pavilhão Rosa Mota. Ora esse é assunto
sobre o qual, por uma questão de respeito institucional e de decência, assumi não voltar a falar. Tenciono manter essa decisão.

6. Por fim, vem o Dr. Ricardo Valente insinuar quanto a uma hipotética municipalização do Palácio da Bolsa. O Dr.
Ricardo Valente, apesar de ser economista e vereador, parece conhecer pouco e mal a história da cidade e talvez ainda pior a
sua realidade actual. A Associação Comercial do Porto tem quase duzentos anos de vida e de defesa dos interesses do Porto.
É dona de voz própria, livre e independente. Detém total autonomia económica e financeira. Não depende do Estado nem da
Câmara. Depende apenas e só da vontade dos seus associados. Muitos tentaram calar a Associação Comercial do Porto. Em
duzentos anos, ninguém conseguiu.

Porto e Palácio da Bolsa

8 de Fevereiro de 2020

Nuno Botelho
Presidente da Associação Comercial do Porto

ACP Publico.indd 1 07/02/2020 15:07

20 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
SOCIEDADE
Lucília Gago ignora órgão superior
na directiva sobre poderes das cheƊas
Há membros do Conselho Superior do Ministério Público que entendem que o novo estatuto
da classe reduz as possibilidades de ingerência e de direcção dos superiores hierárquicos
Ministério Público
Mariana Oliveira
e Ana Henriques
A procuradora-geral da República,
Lucília Gago, não discutiu antecipa-
damente no Conselho Superior do
Ministério Público (CSMP), o órgão
máximo desta magistratura, o pare-
cer do Conselho Consultivo sobre os
limites dos poderes da hierarquia. E
sem discutir internamente a questão,
tornou vinculativa para todos os pro-
curadores a posição daquele órgão de
consulta, ao transformar o parecer
numa directiva interna.
Isto apesar de ter sido na sequência
de um pedido aprovado pela maioria
dos membros do CSMP, um órgão
colegial composto por 19 membros —
12 procuradores e sete de outras pro-
Æssões da Justiça — que, no Ænal de
Outubro, Lucília Gago concordou em
pedir um parecer ao Conselho Consul-
tivo. Em causa está, entre outras coi-
sas, saber se o novo estatuto do Minis-
tério Público retira poderes às cheÆas,
impedindo-as de contrariar decisões
dos subordinados nos processos-cri-
me de que estes sejam titulares, por
exemplo.
A discussão tinha sido levada ao
CSMP por vários conselheiros no res-
caldo da polémica ordem do director
do Departamento Central de Investi-
gação e Acção Penal no caso de Tan-
cos. Albano Pinto, escolhido por
Lucília Gago para liderar o departa-
mento do MP que concentra as inves-
tigações mais complexas, travou a
inquirição do primeiro-ministro Antó-
nio Costa e de Marcelo Rebelo de
Sousa, como testemunhas, além de
ter ordenado aos três procuradores
titulares do inquérito que suprimis-
sem perguntas escritas enviadas a
algumas testemunhas.
O despacho não foi colocado no
processo e a sua existência só foi do
conhecimento público na sequência
de perguntas feitas por alguns órgãos
de comunicação social, onde o PÚBLI-
CO se inclui. A revista Sábado publicou
excertos do seu teor.
Os membros do conselho consultivo
decidiram por unanimidade que os
poderes dos superiores hierárquicos
se mantêm os mesmos de sempre,
Perante a contestação, Lucília Gago veio ontem esclarecer a sua posição face à directiva que aprovou
Partidos preocupados, Marcelo à espera
Maioria quer Lucília Gago a explicar-se na AR
A
maioria dos partidos com
assento parlamentar quer
que a ministra da Justiça,
Francisca Van Dunem, e a
procuradora-geral da República
vão ao Parlamento prestar
esclarecimentos sobre a
polémica directiva acerca dos
poderes das chefias do
Ministério Público. Os
deputados da Iniciativa Liberal e
do Chega apresentaram esses
pedidos e, ouvidos pelo
PÚBLICO, PSD e CDS
mostraram-se favoráveis à
chamada da titular da pasta da
Justiça e de Lucília Gago ao
Parlamento. O Bloco de
Esquerda pediu “transparência”
na acção do MP, mas considera
que nesta fase o debate ainda
deve ser feito no interior do
Ministério Público, sem
interferência do Parlamento. O
PCP, por sua vez, defendeu que
nunca se foi “tão longe” na
limitação da autonomia do MP,
sustentando que a directiva
carece de “cobertura legal”,
sendo de “duvidosa
constitucionalidade”. O PS não
respondeu.
Marcelo Rebelo de Sousa,
disse que já que o caso vai para
tribunal (o Sindicato vai tentar
impugnar a directiva), será o
tribunal a decidir. “O que o
Presidente da República diz é
que o Ministério Público é
autónomo e os tribunais são
independentes”, para
acrescentar que sempre
defendeu o apuramento de toda
a verdade sobre Tancos. L.A.
DANIEL ROCHA
permitindo-lhes ingerirem-se nos pro-
cessos dos subordinados sem que isso
conste por escrito dos próprios pro-
cessos. O facto de a procuradora--geral
ter decidido tornar este parecer vin-
culativo sem sequer o discutir no
CSMP foi mal recebido por vários
membros daquele órgão, principal-
mente pelos procuradores eleitos
pelos pares. Parte destes já demons-
traram o interesse na discussão desta
questão na próxima reunião plenária,
que vai decorrer na terça-feira.
Entretanto, na sequência do anún-
cio, pelo Sindicato de Magistrados do
Ministério Público (SMMP), de que
iria impugnar judicialmente a nova
directiva e adoptar “formas de luta
adequadas à gravidade da situação”,
Lucília Gago divulgou ontem um
esclarecimento a recordar que os pro-
curadores continuam a poder recu-
sar-se a obedecer a ordens ilegais ou
que violem a sua consciência jurídica.
“O magistrado do Ministério Público
pode, no âmbito de um processo con-
creto, justiÆcar a posição que assume,
eventualmente diversa ou contradi-
tória com as que antes assumiu, com
uma referência sumária ao dever de
obediência hierárquica”, acrescen-
tando que a directiva “não atribui ao
procurador-geral da República pode-
res acrescidos”.
Mas não é só o SMMP que contesta
a directiva de Lucília Gago. Na última
reunião, vários dos membros do CSMP
já deixaram expressa a sua discordân-
cia perante entendimentos jurídicos
como aquele que viriam a expressar
os seus colegas do conselho consulti-
vo. Barradas Leitão — cujo mandato
terminou entretanto — critica a falta
de transparência criada pelo facto de
as ordens das cheÆas não serem dadas
por escrito no processo, Æcando regis-
tadas apenas em documentos internos
do MP, de carácter conÆdencial. “O
superior hierárquico funcionaria (…)
como uma espécie de ghost writer”,
compara, acrescentando que está
perante um sistema de funcionamen-
to “completamente opaco e inaceitá-
vel relativamente aos arguidos que
nunca chegarão a saber quem, na ver-
dade, proferiu certa decisão”.
Do lado oposto, a ex-juíza do Tribu-
nal Constitucional Maria João Antunes
alinha pelo diapasão segundo o qual
o novo estatuto da classe mantém
intactos os poderes das cheÆas, não os
tendo reduzido nem impedido a sua
intervenção em casos concretos.
Determinar o contrário é cair na
inconstitucionalidade, avisou numa
declaração de voto.
E existe também quem apenas dis-
corde do secretismo das ordens das
cheÆas. É o caso de Alberto Pinto
Nogueira, antigo procurador-distrital
do Porto. “Estou, de todo, em desa-
cordo em que as ordens ou instruções
transmitidas para um processo
Æquem escondidas em qualquer pas-
ta de arquivo. Os superiores devem
assumir as orientações obrigatórias
que transmitem e não ocultar-se atrás
da cortina.” O magistrado jubilado
apenas se recorda de ter recorrido a
este mecanismo uma única vez,
fazendo substituir o seu entendimen-
to pelo seu subordinado hierárquico.
“E sei que tal metodologia pratica-
mente não era usada no Ministério
Público”, acrescenta.
mariana.oliveira@publico.pt
ana.henriques@publico.pt

Rui Pinto continua preso, por
“elevadíssimo perigo de fuga”
e por ser “ameaça para provas”
Justiça
Miguel Dantas
Ministério Público defende
que o mais pequeno
acesso ao telefone e à Net
seriam suficientes para
pôr em risco investigação
O Ministério Público (MP) considera
que existe “um elevadíssimo perigo
de fuga” caso Rui Pinto seja coloca-
do em prisão domiciliária. Foi esta
uma das razões invocadas no acór-
dão do Tribunal da Relação de Lis-
boa (TRL), proferido na terça-feira,
que rejeitou o recurso aplicado pela
defesa do “hacker”. A Justiça teme
ainda que, em liberdade, Rui Pinto
seja uma ameaça para as provas e,
consequentemente, para todo o
processo, por causa das capacida-
des informáticas do mentor do
Football Leaks.
Os advogados de Rui Pinto que-
riam que o denunciante pudesse,
pelo menos, ser colocado em prisão
domiciliária, acreditando que alguns
riscos que motivaram a aplicação da
medida de coacção decretada em
Março de 2019 — perigo de perturba-
ção de inquérito, risco de fuga e peri-
go de continuação de actividade
criminosa — já não se veriÆcavam.
Por sua vez, os juízes Luís Gominho
e José Adriano consideraram “impro-
cedente” o recurso apresentado pela
defesa, classiÆcando como “impres-
siva” a bateria de argumentos utili-
zados pelo MP a favor da permanên-
cia do “hacker” em prisão preventi-
va. O PÚBLICO contactou o advogado
de Rui Pinto, Francisco Teixeira da
Mota, que preferiu não comentar
esta decisão.
Para justiÆcar este receio de risco
de fuga, o Ministério Público relem-
brou a diÆculdade das autoridades
portuguesas e húngaras em locali-
zar Rui Pinto, num período em que
o denunciante vivia em Budapeste.
A actual morada do português ape-
nas foi conseguida “através de inter-
cepções telefónicas realizadas ao
seu pai”, detalha a magistrada. O
“hacker” foi detido na capital hún-
gara no âmbito de um mandado de
detenção europeu.
Os magistrados do TRL concor-
dam com a existência deste risco,
destacando o facto de Rui Pinto ter
adoptado procedimentos para evitar
ser localizado pelas autoridades e
recorrido a programas que permi-
tiam disfarçar a sua localização. O
facto de não ter actividade proÆssio-
nal em Portugal também contribuiu
para esta decisão, com o TRL a des-
tacar o facto de a proÆssão do
“hacker” (comerciante de antiguida-
des) estar centrada em produtos
encontrados na capital húngara.
No acórdão, Æca ainda espelhado
o receio do Ministério Público de que
o rosto do Football Leaks, fazendo
uso dos seus conhecimentos infor-
máticos, consiga “com relativa faci-
lidade” interferir no processo.
“Poderá, caso Æque em liberdade, de
forma activa e com relativa facilida-
de, tentar iludir a prova, criando
artiÆciosamente novos elementos
que ponham em causa a prova soli-
damente recolhida”, escreve o MP,
que considera que o mais pequeno
acesso ao telefone e à Internet
seriam suÆcientes para colocar em
risco os objectivos da investigação.
Na decisão, os juízes concordam par-
cialmente com o Ministério Público:
apesar de considerarem que o risco
dessa eventual interferência “se vai
desvanecendo” com o avançar do
tempo, permanecem várias alterna-
tivas de condicionamento possíveis,
atendendo às capacidades informá-
ticas do denunciante.
O papel de Budapeste
No ponto que diz respeito ao risco
de continuação de actividade crimi-
nosa, os magistrados do TRL subs-
crevem integralmente as considera-
A defesa queria que Rui Pinto passasse para prisão domiciliária
ções do MP. Rui Pinto é acusado de
um crime de extorsão na forma ten-
tada ao fundo de investimento
Doyen, mas o Ministério Público
acredita que, “em função dos conhe-
cimentos de que dispõe na área da
informática e da sua personalida-
de”, o denunciante do Luanda Leaks
poderá continuar a aceder a infor-
mação conÆdencial e “exigir dinhei-
ro pela sua não-divulgação”.
Fazendo referência ao episódio
com a Doyen e aos acessos informá-
ticos sem autorização alegadamen-
te cometidos pelo português, o
Ministério Público aÆrma que Rui
Pinto não reconhece o “desvalor”
das suas acções, enaltecendo “um
interesse superior público” ineren-
te a estes comportamentos. Posto
isto, o Ministério Público identiÆca
um “inegável perigo” de continua-
ção de actividade criminosa.
Quanto ao crime de extorsão na
forma tentada, é feita referência a
um papel encontrado na residência
de Rui Pinto em Budapeste com
algumas exigências e frases soltas.
Na opinião do MP, este manuscri-
to poderia signiÆcar a negociação
de algum tipo de situação proÆssio-
nal ou colaboração com terceiros e
que, nestas alegadas negociações,
poderiam estar envolvidas empre-
sas com “relevante poder económi-
co” que o poderiam auxiliar a “man-
ter-se em local oculto”, tal como
avançou ontem de manhã o Diário
de Notícias.
miguel.dantas@publico.pt
MÁRIO CRUZ/LUSA
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 21
Subida da Taxa de Gestão
de Resíduos para o dobro
“é um passo importante
mas não chega”
Ambiente
Patrícia Carvalho
Especialista da Zero diz
que há outras medidas que
precisam de avançar para
que aumento da reciclagem
se torne uma realidade
A Taxa de Gestão de Resíduos (TGR)
vai subir para o dobro do valor inicial
da proposta de Orçamento do Estado
(OE) para 2020. A mudança resulta
da aprovação de uma proposta do
PAN para que a TGR passe, já este
ano, para os 22 euros por tonelada de
resíduos depositada em aterro, em
vez dos 11 euros previstos. O aumento,
há muito reivindicado por ambienta-
listas, pretende ser uma forma de
desincentivar o uso desta forma de
deposição de resíduos e incentivar a
reciclagem.
Segundo a proposta do PAN, o cus-
to de cada tonelada de resíduos envia-
da para “incineração em terra” equi-
valerá a 85% do valor da TGR, o que
situará esse valor em 18,7 euros por
tonelada. A proposta não prevê uma
alteração da incineração com apro-
veitamento energético, a mais usada
em Portugal e que equivale a 25% da
TGR, o que, para Rui Berkemeier,
especialista na área dos resíduos da
Zero, é uma pena. “O preço vai subir,
por força do aumento da TGR, mas
vai subir dois euros e pouco, quando
devia aumentar muito mais. As gran-
des cidades estão a queimar muito
lixo e com este valor continuam a ter
poucos incentivos para separar os
resíduos.”
O especialista da associação
ambientalista diz que o aumento con-
seguido para a TGR “é, à partida, um
passo importante, mas não chega
para fazer a diferença” e que se espe-
ra que ajude a que se comece “a pen-
sar mais na questão da reciclagem”.
Mas ainda há factores por esclarecer,
diz, como se se vão manter os “des-
contos” que são aplicados pelo Esta-
do. “Os aterros de resíduos urbanos
têm uns descontos pelo Estado, se
cumprirem determinados parâme-
tros. Na prática, a taxa nunca é paga
na totalidade, fruto desses descontos
e essa é uma questão que ainda temos
de avaliar”, diz.
Já o PAN salienta, através da sua
assessoria de imprensa, que o objec-
tivo principal da proposta agora
SOCIEDADE
incluída no OE 2020 é “que os muni-
cípios se sintam incentivados, através
do acréscimo do custo de tratamento
por via da deposição em aterro e por
via da incineração de resíduos, a alte-
rar a forma como os resíduos são tra-
tados, nomeadamente, através do
aumento da eÆciência na recolha
selectiva e na triagem com vista à reci-
clagem e da valorização orgânica dos
mesmos”.
E esta também será uma forma de
“contribuir para o cumprimento das
metas europeias, que Portugal está
neste momento em linha de não cum-
prir em 2020”. O partido de André
Silva espera também que os novos
valores da TGR sejam um desincenti-
vo à importação de resíduos, que tem
estado nas notícias nas últimas sema-
nas, sobretudo pelos protestos das
populações de localidades como
Este aumento
agora aprovado
pode vir a
reflectir-se na
factura da água
que chega aos
consumidores
Sobrado, em Valongo, e a Azambuja,
a braços com os cheiros e transtornos
causados por aterros que recebem
estes resíduos.
Sobre esta questão, Rui Berkemeier
salienta que, apesar da visibilidade
dada à questão dos resíduos impor-
tados por Portugal, não serão eles a
causar os maus odores que provocam
mal-estar nas povoações próximas.
“A informação que temos, mas que
ainda estamos a avaliar e a tentar con-
Ærmar, é que os resíduos que vêm de
fora já vêm tratados, por isso, não faz
muito sentido, a ser assim, atribuir-
-lhes a responsabilidade pelos maus
cheiros. O que é importante é que
esses aterros deixem de receber resí-
duos orgânicos que não estejam tra-
tados e que, esses, sim, os vão produ-
zir. E aqui estamos a falar de resíduos
produzidos em Portugal, por empre-
sas, hipermercados ou centros comer-
ciais”, diz.
O PAN garante ainda que mesmo
que os municípios façam repercutir
o aumento de custos na factura da
água dos consumidores, a subida
nunca irá além dos “3%”, já que essa
é apenas uma parte do total dos ser-
viços cobrados na factura da água.
patricia.carvalho@publico.pt
22 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
SOCIEDADE
SNS vai ter mais 40 serviços
com incentivos para reduzir
esperas e melhorar eficiência
Saúde
Ana Maia
Os Centros de
Responsabilidade
Integrada têm como
objectivo rentabilizar a
capacidade instalada
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai
passar a ter 57 Centros de Responsa-
bilidade Integrada (CRI). São serviços
e equipas que funcionam dentro dos
hospitais e que se dedicam ao trata-
mento de doenças ou áreas especíÆ#
cas, com maior liberdade de actuação
e possibilidade de pagamento de
incentivos de acordo com os resulta-
dos e com a actividade que façam
para lá do horário normal. Em 2019,
já existiam 17 e este ano e seguintes
aguarda-se pela criação de mais 40.
O objectivo é melhorar as listas de
espera, a eÆciência e rentabilizar a
capacidade instalada no SNS.
De acordo com dados do Ministério
da Saúde enviados ao PÚBLICO, até ao
Ænal do ano passado, tinham sido cria-
dos 17 CRIS, em vários hospitais e áreas
de actuação. Por exemplo, o Centro
Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espi-
nho tinha seis (cirurgia plástica, neu-
rocirurgia, urologia, otorrinolaringo-
logia, radiologia de intervenção); o
Centro de Reabilitação do Norte e o
Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra três (cirurgia cardíaca, oftal-
mologia e psiquiatria) e o Hospital de
Évora o mesmo número (oncocirur-
gia, obesidade e cardiovascular).
Dentro deste grupo, está também
o CRI na área obesidade, criado há
um ano, no Centro Hospitalar de S.
João. No balanço feito ontem, o direc-
tor do CRI, John Preto, disse à Lusa
que com este modelo foi possível
melhorar “a gestão, o acesso e os tem-
pos de resposta”. As primeiras con-
sultas passaram de 400 por ano para
1600 e as cirurgias de 273 para 580
em 2019. E deixaram ter doentes há
mais de um ano à espera da opera-
ção.
O Ministério da Saúde, em resposta
por escrito, disse que os hospitais já
com CRI a funcionar apontam como
principais ganhos “a melhoria do
cumprimento dos tempos máximos
de resposta garantidos, a motivação
dos proÆssionais, a maior eÆciência
na gestão e rentabilização dos recur-
sos e a redução dos gastos por doen-
Por agora, são apenas 17 os Centros de Responsabilidade Integrada
O número de
consultas de
obesidade no CRI
do Hospital de S.
João quadruplicou
e as cirurgias
passaram para
o dobro
te- padrão”. Espera-se que este ano e
seguintes — admitindo “a possibilida-
de de as instituições não conseguirem
concluir todo o processo de constitui-
ção dos CRI em 2020”, explica o
ministério — “se constituam cerca de
mais 40 novos CRI”. Os centros hos-
pitalares de Trás-os-Montes e Alto
Douro, Setúbal, Oeste e Barreiro/
Montijo são apenas alguns dos exem-
plos, a que se juntam também as
Unidades Locais de Saúde da Guarda,
Castelo Branco e Alto Minho. Quanto
a áreas de intervenção, são também
variadas. Entre outras, estão a urgên-
cia, diálise, radiologia, ortopedia e
senologia.
100 milhões para 2020
Como é que este modelo funciona? As
equipas dos CRI fazem um contrato
com o conselho de administração do
hospital. DeÆnem o horário de traba-
lho, as consultas e cirurgias, assim
como a restante actividade a fazer
dentro horário normal de trabalho e
o acréscimo de actividade que se pro-
põem fazer além desse horário. Têm
ainda de deÆnir a organização inter-
MIGUEL MANSO
na, de modo a responder aos períodos
de férias ou de ausência dos colegas.
Os contratos dos CRI têm um plano
de acção que é revisto de três em três
anos e são estabelecidos contratos
anuais com a administração para os
cumprir. O pagamento será feito de
acordo com o desempenho, resulta-
dos e cumprimento do que está acor-
dado. O que for feito fora do horário
normal tem um pagamento adicional.
Esses pagamentos são feitos pelo hos-
pital ao serviço. Por sua vez, o hospi-
tal recebe através do contrato-progra-
ma anual que negoceia com o Minis-
tério da Saúde.
Esta tem sido uma das bandeiras
do Governo que vem já da anterior
legislatura. Em Outubro de 2018, che-
gou a estar prevista a assinatura de
protocolos para a criação de 87 novos
CRI que não se concretizou. A data da
cerimónia coincidiu com a saída de
Adalberto Campos Fernandes e a
entrada de Marta Temido. Ao PÚBLI-
CO, o ministério garante que “não
houve um desinvestimento” nesta
área. “E a prova disso é que o Minis-
tério orçamentou 100 milhões de
euros em 2020 para a operacionali-
zação de modelos de pagamento pelo
desempenho para o trabalho hospi-
talar em Centros de Responsabilidade
Integrados, no âmbito dos contratos-
programa de cada entidade hospita-
lar” para este ano. Acrescenta que
este “modelo é de adesão voluntária
e dependente das necessidades de
cada instituição, pelo que o estímulo
que é dado é através do incentivo via
contratualização e Ænanciamento”.
amaia@publico.pt
Autoridades
chinesas “têm sido
exemplares”, diz
Graça Freitas
Coronavírus
Cidadãos com passaporte
português retidos
em cruzeiro estão
bem de saúde
A diretora-geral da Saúde elogiou as
autoridades chinesas, considerando
que “têm sido exemplares no contro-
lo do surto” de infecção pelo novo
coronavírus (2019-nCov), que já cau-
sou 637 mortos e mais de 31 mil infec-
tados. Graça Freitas falava ontem na
sede da Direcção-Geral da Saúde, em
Lisboa, onde foi dada uma conferên-
cia de imprensa para fazer um balan-
ço sobre o surto de doença respirató-
ria aguda pelo novo coronavírus na
China.
Segundo a directora-geral da Saú-
de, “as autoridades chinesas têm sido
exemplares no controlo do surto”,
mas também na disponibilização de
informação. “Não há motivo nenhum
para não conÆar nas autoridades chi-
nesas (...) Temos de estar gratos pelas
medidas de contenção adoptadas
pela China”, aÆrmou, dando como
exemplo a quarentena imposta em
cidades da província de Hubei, no
centro da China e onde vivem 56
milhões de pessoas.
Uma dessas cidades é Wuhan, epi-
centro do surto que começou em
Dezembro e que tem 11 milhões de
habitantes. Graça Freitas sublinhou
que a epidemia continua conÆnada
na China, uma vez que a percentagem
Directora-geral da Saúde
elogiou a China
de casos de infecção importados por
outros países é baixa.
Entretanto, o cônsul geral de Por-
tugal em Macau e Hong Kong anun-
ciou ontem que as sete pessoas com
passaporte português retidas num
cruzeiro em Hong Kong, devido ao
novo coronavírus, estão bem de saú-
de. “Foi-nos dito que todos foram
submetidos a testes médicos e, até
ontem [quinta-feira], não haviam sido
detectados problemas de saúde, man-
tendo-se em quarentena”, escreveu
Paulo Cunha-Alves, num e-mail envia-
do à Lusa. “O Consulado Geral entrou
ontem [quinta-feira] em contacto
com a empresa proprietária do navio
de cruzeiros a quem pediu mais infor-
mações sobre a identidade das sete
pessoas, aguardando-se uma respos-
ta”, explicou o diplomata.
Paulo Cunha-Alves frisou ainda que
o consulado já solicitou à empresa
que facultasse às sete pessoas com
passaporte português os contactos
do Consulado Geral de Portugal em
Macau e Hong Kong.
Em conferência de imprensa,
anteontem, o chefe do Centro de Pre-
venção e Controlo de Doença de
Macau, Lam Chong, aÆrmou que, se
os portadores de passaporte portu-
guês forem residentes de Macau, as
autoridades de Hong Kong vão comu-
nicar com as autoridades do territó-
rio, caso contrário, “vão comunicar
com os serviços consulares” de Por-
tugal.
Há ainda 15 residentes de Macau a
bordo do navio. O Consulado Geral
de Portugal estima que existam 170
mil portadores de passaporte portu-
guês entre os residentes em Macau e
em Hong Kong. Destes, apenas cerca
de seis ou sete mil serão expatria-
dos.
Mais de 3000 pessoas, entre tripu-
lantes e passageiros, foram mantidas
no navio de cruzeiro no porto de
Hong Kong para serem submetidas a
exames médicos, depois da conÆrma-
ção de que três passageiros chineses,
que haviam viajado anteriormente na
embarcação, estavam infectados com
o novo coronavírus.
Na manhã de quarta-feira, uma
equipa das autoridades de saúde de
Hong Kong embarcou no World
Dream para realizar inspecções médi-
cas a 1.800 passageiros e 1.800 tripu-
lantes após o navio atracar no termi-
nal Kai Tak, em Kowloon, ao qual
chegou depois de ter sido recusado
pelas autoridades de Taiwan. Lusa

As tribos da comunicação
Opinião
Jorge Barreto Xavier
Assistimos a um fenómeno de
fragmentação crescente do espaço
público. A era que nos traz maiores
possibilidades de partilhar ideias,
expectativas, experiências, é
também aquela em que a
legitimidade das fontes, a
transparência nos processos
comunicacionais, o preconceito,
minam de forma grave o exercício
do encontro pessoal e social.
Esta situação não signiÆca a
inexistência de comunidades de
pertença, onde se trocam
mensagens e há entendimentos.
Mas corresponde ao crescente
protagonismo ou mesmo
supremacia de comunidades de
interesses particulares sobre
comunidades mais alargadas e
assentes no interesse geral.
Tomando como exemplo o debate
sobre a crise climática, a própria
deÆnição de “crise climática” não é
consensual. Por um lado, existe a
verdade de painéis de cientistas;
por outro, a dos negacionistas. Não
há uma mesma linguagem, uma
plataforma de negociação a partir
de regras prévias aceites entre as
partes. E sem negociação, não pode
haver compromisso.
Estas atitudes não remetem para
um retrocesso nas conquistas do
século XX por uma “aldeia global” —
tecnologia mediática + interconexão
+ estabilidade institucional.
Remetem antes para uma visão do
século XXI em que os interesses
particulares se sobrepõem ao
interesse geral, alterando,
signiÆcativamente, os pressupostos
de base das sociedades
democráticas.
Não existe aqui uma regressão,
mas uma situação nova, complexa e
diÆcilmente apreensível, sobre a
qual se coloca a nossa condição de
pensamento e ação — tecnologia
mediática + globalização + crise das
instituições.
A fragmentação do espaço
público — que resulta da tribalização
da comunicação — implica a
identiÆcação das “tribos” da
comunicação — espaços conÆnados
que substituem o espaço público.
Espaços singulares, que se
sobrepõem a uma ideia de
pluralidade. É o caso de três tribos
de conteúdos: a dos que os
produzem, a dos que os detêm e a
dos que os fruem (claro que esta
forma de classiÆcar é simplista a
diversos títulos, mas útil, para
aÇorar a complexidade do tema — é
assim que, apesar de vivermos a
globalização, se remete para o
contexto nacional sem aÇorar,
nomeadamente, o papel do Estado
e a promiscuidade entre política,
comentário político e economia).
Na tribo dos produtores de
conteúdos, há os seguintes clãs:
comentadores políticos e
desportivos; agências de
comunicação; proprietários dos
meios de comunicação; colunistas;
jornalistas.
Na tribo dos detentores e
agregadores de conteúdos, os
partidos políticos, organizações
confessionais, clubes desportivos,
empresas, grupos de interesse.
Finalmente, na tribo dos
fruidores de conteúdos, há os
ambientalistas, os ideólogos de
género, os consumistas, os
seguidistas, os radicais.
Evidentemente, podem obter-se
classiÆcações que combinem
membros das diferentes tribos e
clãs. Assim, alguém pode ser, ao
mesmo tempo, produtor, detentor e
fruidor de conteúdos; comentador
desportivo, político, radical.
DADO RUVIC/REUTERS
Se vivermos num
condomínio
fechado de
convicções, a
democracia correrá
riscos tremendos
Quando falamos da tribo dos
produtores de conteúdos, falamos
de uma tribo com uma inÇuência
direta sobre o espaço público. Há
tendência, por parte dos receptores
de conteúdos, para considerar
como verdade o que lhes é
transmitido por agentes de
comunicação que reconhecem.
Assim, comentadores, colunistas,
jornalistas têm uma inÇuência
signiÆcativa sobre o espaço
mediático. Por vezes, o seu trabalho
pode estar determinado por
agendas escondidas — através do
que se diz ou omite, para valorizar
determinado partido, governo,
grupo ou pessoa. Mas se o que for
dito parecer transparente,
diÆcilmente se perceberá ou poderá
provar a diferença entre verdadeira
notícia ou opinião e notícia ou
opinião manipuladas. Esta situação
remete para o problema estrutural
de uma ética na comunicação, a
precisar de reforço signiÆcativo.
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 23
Agências de comunicação e
proprietários dos meios de
comunicação têm uma inÇuência
indireta sobre o espaço público. Ou
antes, têm, de forma indireta, uma
inÇuência direta sobre o espaço
público. As agências de
comunicação representam
interesses de grandes empresas ou
grupos. Ao contratar publicidade ou
outros recursos, essenciais para a
sobrevivência dos meios de
comunicação social, têm um poder
de inÇuência editorial que não se
pode ignorar. Como ele é utilizado e
qual a sua dimensão é matéria
diÆcilmente apurável. Os
proprietários dos meios de
comunicação têm posições
dominantes no contexto de dada
sociedade. E representam
interesses. Até que ponto jornalistas
e comentadores se sentem
condicionados na produção de
conteúdos em função da posição
dos proprietários?
A tribo dos detentores e
agregadores de conteúdos
corresponde a entidades que, pela
sua natureza política, económica ou
social, polarizam um conjunto de
perspetivas, convicções e
documentos que têm inÇuência
determinante no espaço público. É
assim com os grandes partidos
políticos, clubes desportivos, Igreja,
maçonarias, grupos ambientalistas
e grandes agregadores de
conteúdos. Os detentores e
produtores de conteúdos não são
agentes da verdade, mas da “sua”
verdade. Todavia, se esse
particularismo se torna dominante
no espaço mediático, existe
distorção do mesmo — um interesse
particular determina o espaço geral.
A tribo dos fruidores de
conteúdos — a maioria numérica
dos elementos no processo de
comunicação — está hoje
“sequestrada” pelos
particularismos das perspetivas.
Seja em assuntos políticos,
desportivos, religiosos ou outros,
partem de uma posição de não
questionamento, associando-se ao
que consideram ser os grupos mais
fortes, onde se sentem protegidos.
Muitos ambientalistas, ideólogos de
género, consumistas, seguidistas,
veem o mundo de forma
maniqueísta — os nossos e os outros.
E os radicais levam ao extremo as
suas posições, ao alimentar-se no
SOCIEDADE
processo mediático das ideias e
propostas agressivas, aÆrmando
comportamentos unilaterais e
rejeitando qualquer forma de
consenso.
A pulverização de posições e
atitudes, seja dos que produzem,
detêm ou agregam conteúdos, seja
dos que, predominantemente, os
consomem ou reproduzem, é a
negação do espaço público, desse
lugar onde, independentemente da
diferença de posições, é possível
trocar pontos de vista, mudar de
opinião, aprender, consensualizar
objetivos, defender o sentido do
interesse geral da comunidade.
A fragmentação do espaço
público, a tribalização da
comunicação, é também a erosão
de um sentido de bem comum e da
construção social.
Não basta habitar dentro de uma
mesma fronteira física, partilhar os
mesmos recursos básicos — água,
eletricidade, transportes, saúde,
defesa — para se ser comunidade.
São precisos valores comuns.
Valores dinâmicos, em tensão, em
circulação, em renovação, em
consolidação, mas gerados,
discutidos, antagonizados,
partilhados, num mesmo chão.
Se vivermos numa espécie de
condomínio fechado de convicções,
em que a recusa do outro, da
diferença, da liberdade de
pensamento e opinião, são
consumidos pelos interesses e
valores de grupo, vantagens
abusivas, radicalismos e
agressividade, a democracia, no
contexto contemporâneo, correrá
riscos tremendos.
Na Europa, desde as
transformações e alargamento do
espaço público que encontram
referência na Revolução Francesa,
apesar de muitos momentos de
guerra e catástrofes, nunca se viu
uma ameaça que se impõe de forma
tão pacíÆca, insidiosa e inteligente:
poderes que vencem sem os sinais
convencionais das guerras,
destruição das instituições liberais a
favor de novas formas de
totalitarismo.
Precisamos de ser, juntos, outra
vez, povo, acolhendo as tribos e os
clãs, mas sendo mais do que a sua
soma.
Ex-secretário de Estado da
Cultura; professor universitário
24 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
LOCAL
As várias vidas do Teatro Romano
de Lisboa estão em Scaena
As muitas vidas do Teatro Romano — e
todo o caminho para as descobrir — estão
agora reunidas numa revista. Scaena põe
“em cena” estudos feitos ao longo de mais
de uma década de escavações
Arqueologia
Cristiana Faria
Moreira (texto) Nuno
Ferreira Santos (fotos)
Imaginemo-nos no Tagus há dois mil
anos, prestes a chegar a Felicitas Iulia
Olisipo, e rapidamente percebería-
mos que nos preparávamos para
entrar em domínio do Imperador
Augusto. Num salto até 2020, da soa-
lheira varanda do Teatro Romano que
nos enche a vista de Tejo, entende-se
bem a razão pela qual este teatro foi
construído aqui: era “uma marca de
propaganda” do próprio império.
A imponência da construção aca-
bava por falar por si. É imaginar um
teatro romano, de forma semicircu-
lar, com três níveis de bancada encas-
trados na colina — que é hoje a do
Castelo — separado pela Rua de São
Mamede. “Daqui, o teatro era visto
por toda a gente que chegava à cidade
pelo rio e isso foi a razão suÆciente
para o construir neste sítio”, repara a
arqueóloga Lídia Fernandes, que
coordena o Teatro Romano — Museu
de Lisboa.
Dois mil anos após a sua constru-
ção e 222 após terem sido, pela pri-
meira vez, descobertas as suas ruínas,
o Museu de Lisboa lançou ontem uma
revista, Scaena, que põe “em cena”
as várias vidas deste teatro imperial.
“Achámos que era um nome marcan-
te pelo facto de ser um teatro, de estar
em cena, de abrir as portas a contri-
butos, disponibilizar novos conheci-
mentos, pôr em palco novos discur-
sos sobre a cidade de Lisboa”, diz
Lídia Fernandes.
Um museu de sítio
Foram “muitos, muitos anos” de cam-
panhas arqueológicas e muitos anos
de publicações dispersas sobre o tea-
tro, construído em tempos de Augus-
to, primeiro imperador de Roma, nos
inícios do século I, e sobre a ocupação
romana na cidade de Lisboa, que
Lídia Fernandes achou por bem reu-
nir numa revista que congregasse
todo este conhecimento. Por isso,
este primeiro volume é dedicado,
sobretudo, a estudos sobre o teatro
romano. Mas não exclusivamente
sobre essa época. “Este é um museu
de sítio e não um museu monográÆ#
co. Ou seja, quando Æzemos a escava-
ção, encontramos vestígios da ocupa-
ção humana do século XIX, XVIII,
XVII, XVI, XV, XIV, até atingir o teatro,
mas temos também vestígios de ocu-
pação do século VIII a.C.”, conta a
arqueóloga.
Ali está, por isso, concentrada “a
história integral” da cidade. Colabo-
raram nesta edição 16 investigadores
que ajudam a perceber o que havia
antes do teatro e o que lhe aconteceu
depois da ocupação romana. Há arti-
gos sobre a cidade neste tempo, estu-
dos sobre as cerâmicas de mesa, de
cozinha, as ânforas, “que aqui foram
encontradas às centenas”, e sobre as
argamassas como parte da engenha-
ria romana.
Toda a escavação do interior do
museu foi feita ao longo de cerca de
12 anos, em várias campanhas arqueo-
lógicas. Se somarmos esse tempo, as
escavações decorreram em apenas
dez meses, nota a arqueóloga. E foi altura em que foi notória a necessida-
tudo escavado à mão, garante. “Não de de se fazerem obras para readap-
entrou aqui nenhuma máquina.” tar o museu e incluir o novo sítio
As escavações perfuraram até cerca arqueológico, do outro lado da Rua
de dez metros de profundidade e o de São Mamede, que corresponde à
que os arqueólogos encontraram per- bancada e parte do palco. Acabou por
mitiu-lhes perceber os sistemas de encerrar em 2013 e reabrir em Setem-
construção do teatro, como é que se bro de 2015, já com a adaptação feita
alicerçou no próprio terreno da e com a designação de Museu de Lis-
encosta. “Daí o facto de eu ter dito boa — Teatro Romano.
que isto funcionou como uma marca
de propaganda, que permite perce- As contas de Vitrúvio
ber o esforço envolvido para se ter O teatro deve ter sido construído ao
esta construção a meia encosta”, nota longo de dez, 20 anos, o que, segundo
a coordenadora do teatro. nota a arqueóloga, “é um período
Não foi uma construção fácil. muito curto para a construção de um
“Como é que vamos construir um edifício tão grande”. E isso percebe-
edifício tão grande que dava para cer- -se, por exemplo, analisando a arga-
ca de quatro mil espectadores? Se massa utilizada na construção. “A cal
pensarmos que o Teatro D. Maria ou A revista, que será anual, custa As escavações começaram em aumenta três vezes de volume quan-
o São Carlos não chegam a mil espec- 15 euros e pode ser comprada 2001, quando foi inaugurado o Museu do é aplicada água, o que signiÆca que
tadores cada um, isso dá-nos uma nos vários pólos do Museu de do Teatro Romano, e havia apenas é uma obra muito coesa e tem uma
escala de grandiosidade deste edifí- Lisboa, com excepção do da uma pequena parte escavada. As secagem muito mais rápida. Daí nós
cio”, nota. Casa dos Bicos campanhas continuaram até 2011, concluirmos que o objectivo era fazer

a obra rapidamente. Não há nenhum
documento que nos diga isso, mas
podemos fazer essa dedução”, conta
Lídia Fernandes.
Terão ali trabalhado milhares de
homens. E morrido muitos também.
“Nós temos esta ideia romântica das
pessoas a andarem com as suas togas,
de irem ao teatro e os luxos todos ine-
rentes à cultura romana, mas era uma
sociedade esclavagista”, lembra.
A construção é basicamente da
época de Augusto, mas os arqueó-
logos colocam a hipótese de que
diferentes partes do teatro possam
ter sido ediÆcadas em momentos
diversos.
No local onde estamos, na parte sul
do teatro, voltada ao Tejo, Æcaria uma
espécie de patamares, de terraços
com zona de jardim, com colunatas
abertas ao rio, precisamente para
aproveitar o desnível da encosta,
onde as pessoas se reuniam antes e
depois dos espectáculos.
Neste momento conhece-se cerca
de um terço do que teria sido o teatro
romano, um complexo com cerca de
240 metros quadrados, que corres-
pondem a dois actus romanos, mas
os arqueólogos conseguiram fazer a
reconstituição inteira. “Tivemos o
auxílio muito precioso do arquitecto
Vitrúvio, um arquitecto da época de
Augusto que fala dos teatros gregos e
romanos e indica as dimensões
modulares para cada parte do teatro.
Nós aplicámos esse modelo aqui e
encaixa perfeitamente, excepto na
parte sul, porque já é uma adaptação
à colina e é uma especiÆcidade do
teatro romano de Lisboa e não surge
em qualquer outro teatro romano”,
explica Lídia Fernandes.
Um teatro-pedreira
Como é que o teatro chegou a este
estado de ruína? “Ele não explodiu”,
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 25
240
Neste momento, conhece-se
cerca de um terço do que teria
sido o teatro romano, um
complexo com cerca de 240
metros quadrados
brinca a arqueóloga. Com as inva-
sões bárbaras e depois com o cristia-
nismo, as representações clássicas
desapareceram. “O teatro não era
um local para ser usado, mas conti-
nuou a ser um sítio importante para
a cidade”, diz.
Ao longo dos séculos, sobretudo a
partir dos séculos V e VI, foi sendo
desmontado. Várias casas foram cons-
truídas em cima da bancadas e das
várias entradas do teatro, que passou
a ter “função de pedreira e de local
habitacional”. “Por isso é que o teatro
está hoje tão destruído.”
O que subsiste do teatro são sobre-
tudo os alicerces que foram utilizados
nas construções que se seguiram ao
longo dos séculos (e no próprio
museu).
As ruínas do teatro foram pela pri-
meira vez descobertas em 1798, quan-
do se andava a reconstruir a cidade
depois do terramoto. Um arquitecto
italiano, Francisco Fabri, esteve
envolvido nessa descoberta. No
entanto, a conservação dos achados
não se chegou a concretizar, ainda
que a ideia de que havia na Rua de
São Mamede um teatro romano tenha
perdurado no tempo. Isto porque, em
1807, quando se dá a primeira invasão
napoleónica, a família real embarcou
para o Brasil. Num reino sem rei, os
proprietários dos terrenos onde
tinham aparecido as ruínas acabaram
por construir um edifício de cinco
andares.
Na década de 60 do século XX, um
professor da Faculdade de Letras,
Fernando de Almeida, espreitou para
“Quando Äzemos a uma obra na rua e viu duas colunas
escavação, romanas a suportar a abóbada do rés-
do-chão. Só poderia ser aquela a loca-
encontrámos lização do teatro romano. A primeira
vestígios da sondagem arqueológica foi feita em
1964 e coincidiu precisamente com a
ocupação humana parte central do teatro. Desde o ano
do século XIX, seguinte e até 1971, os trabalhos foram
conduzidos pela arqueóloga Irisalva
XVIII, XVII, XVI, Moita, uma “personagem muito
XV, XIV, até atingir importante na olisipograÆa portugue-
sa”, como lembra Lídia Fernandes.
o teatro, mas “Deve-se a ela o facto de ter con-
temos também vencido o então presidente da Câma-
ra de Lisboa, o general França Borges,
vestígios de a comprar sete edifícios que se sobre-
ocupação do punham ao próprio teatro”, conta. A
decisão, que obrigou a expropria-
século VIII a.C.”, ções, motivou muita discórdia e fez
conta a arqueóloga correr muita tinta nos jornais.
Com o 25 de Abril, os trabalhos
Lídia Fernandes pararam durante muito tempo, tendo
só ganhado novo fôlego na década de
90 mas só a partir de 2001 é que se
escavou a maior parte do teatro que
hoje se conhece.
O Celeiro da Mitra
“Este espaço é o maior exemplo de
como se pode ler nas pedras das pare-
des como as várias estruturas se vão
amontoando e construindo a própria
cidade”, repara a arqueóloga, apon-
tado para a diversidade de materiais
que ali foram encontrados e que nos
localizam em diferentes épocas. “A
quantidade de estruturas que apare-
ceram eram muitas e era uma fatia da
história da cidade que tínhamos de
entender.” Como, por exemplo, o
facto de terem encontrado uma parte
de uma parede do século XVIII abaixo
da parede romana. “Parece impossí-
vel, mas não é”, diz Lídia Fernandes,
e justiÆca-se pelo facto de, após o ter-
ramoto ter sido criada mais uma divi-
são de uma casa a fazer de cave.
“Até 2001 não conseguíamos expli-
car o porquê de o teatro ter sido aqui
construído e como é que foi construí-
do. A partir de 2011, 2012, consegui-
mos alinhar ideias e criar um discurso
para passar para a população”, diz a
sua coordenadora. Acedendo aos
escritos, perceberam, por exemplo,
que por altura do “tombo de 1755
aquele beco se chamava Beco do Alju-
be, por detrás do Celeiro da Mitra, o
que quer dizer que o edifício actual
do museu era um Celeiro da Mitra
ligado ao Cabido da Sé”.
A revista — que tem um “ar de
sebenta como os cadernos de campo
que os arqueólogos gostam tanto” —
poderá ajudar a dar mais algumas
respostas, mas serve sobretudo para
compilar e para tornar acessível anos
e anos de investigação. A partir do
próximo ano estará aberta a todos os
que quiserem participar com estudos
sobre a cidade de Lisboa, diz Lídia
Fernandes.
O passo seguinte para o Teatro
Romano é musealizar um dos lotes
que têm estruturas, já do lado da Rua
da Saudade. “A nossa ideia não é
demolir mais edifícios. Quando hou-
ver possibilidade, escava-se no rés-
do-chão, mas não queremos afastar
a população daqui, que já é muito
pouca. Queremos conseguir um equi-
líbrio entre a investigação arqueoló-
gica e a vivência numa cidade”. Ainda
que por ali haja sempre a hipótese de
“aparecer mais qualquer coisa”.
cristiana.moreira@publico.pt
26 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
ECONOMIA
PPP do Douro Litoral ameaça
excedente orçamental já em 2019
Supremo Tribunal Administrativo
conÄrmou, em Setembro, que o Estado
tem de pagar uma indemnização de
219 milhões à concessão rodoviária, com
possível impacto nas contas públicas
Contas públicas
Sérgio Aníbal e Luísa Pinto
Apesar de os resultados da execução
do Orçamento do Estado, especial-
mente ao nível da receita, terem saído
melhor do que o previsto, a possibili-
dade de o Governo conseguir anteci-
par já para 2019 a obtenção do pri-
meiro excedente orçamental em
democracia Æcou mais reduzida com
a decisão tomada em Setembro pelo
Supremo Tribunal Administrativo de
forçar o Estado a pagar uma indem-
nização de mais de 200 milhões de
euros aos donos da concessão rodo-
viária do Douro Litoral, uma parceria
público-privada envolvida num longo
e polémico litígio. Essa despesa deve-
rá, de acordo com as regras contabi-
lísticas europeias, ter de ser registada
pelo menos parcialmente nas contas
de 2019, com um efeito negativo no
saldo orçamental.
A expectativa de um novo brilhare-
te nas contas públicas durante o ano
de 2019 tinha crescido quando, no
Ænal de Janeiro, o Ministério das
Finanças anunciou, no boletim de
execução orçamental referente ao
passado mês de Dezembro, que o
déÆce público numa óptica de caixa
(contabilidade pública) tinha Æcado
em 2019 mais de 500 milhões de
euros abaixo daquilo que era a esti-
mativa do Governo. Deste modo,
parecia aberta a possibilidade de o
déÆce projectado de 0,2% do PIB —
calculado na óptica do compromisso
(contabilidade nacional) — poder ele
também ser mais baixo do que o espe-
rado e, talvez, transformar-se mesmo
em excedente.
No entanto, logo nesse momento,
Mário Centeno baixou as expectativas.
Em declarações ao PÚBLICO, fonte
oÆcial do Ministério das Finanças aÆr-
mou na altura que “ocorreu uma
melhor execução de receita de fundos
europeus do que o esperado, que
melhorou o saldo em contabilidade
pública mas sem reÇexos em contabi-
lidade nacional”. Para além disso,
RAFAEL MARCHANTE/REUTERS
referiu-se a “um conjunto de opera-
ções, ainda em análise, com impacto
mais negativo em contas nacionais do
que esperado, que não teve reÇexos
em contabilidade pública”.
O risco que mais preocupa as
Finanças é a forte possibilidade de,
na consequência de uma decisão judi-
cial tomada em Setembro, se ter de
registar nas contas de 2019, em con-
tabilidade nacional, uma parte subs-
tancial da indemnização de 219
milhões de euros que o Estado foi
condenado a pagar à concessão do
Douro Litoral. Este valor não coloca
em causa a meta de 0,2% do Governo,
mas pode impedir a antecipação de
um excedente, que continua a estar
prometido para 2020.
A história do pagamento desta
indemnização tem já sete anos. Tudo
começou em Janeiro de 2013 quando
a concessionária do Douro Lito-
ral pediu uma indemnização no valor
de 1350 milhões de euros, decorrente
da anulação do concurso para a cons-
trução da auto-estrada do centro e
consequente alegada perda de tráfe-
go. O caso acabou por ser levado pelas
duas partes para tribunal arbitral, que
acabou por deÆnir em 2017 o paga-
mento de uma indemnização de 219
milhões de euros, com 42 milhões
inicialmente e cerca de cinco milhões
todos os semestres até 2034.
O Estado, ao mesmo tempo que
cumpriu aquilo que tinha sido deÆni-
do pelo tribunal arbitral — pagou de
acordo com a Unidade Técnica de
Acompanhamento de Projectos
(UTAP) 65,9 milhões de euros duran-
te o ano de 2018 —, decidiu também
recorrer aos tribunais, pedindo a anu-
lação da decisão.
Em Março de 2018, os juízes do Tri-
bunal Central Administrativo Sul não
aceitaram essa pretensão. O Estado
recorreu para o Supremo Tribunal
Administrativo, mas também este, no
passado dia 11 de Setembro, conÆr-
mou o acórdão arbitral que condenou
o Estado português ao pagamento de
cerca de 219 milhões de euros, como
é aliás assinalado pelo Governo no Centeno projectou excedente histórico só para 2020, mas esse cenário pode acontecer já este ano

Orçamento do Estado para 2020.
É ao Instituto Nacional de Estatísti-
ca (INE) que cabe agora a tarefa de
decidir de que forma, e em que data,
é que se contabiliza esta despesa no
cálculo do saldo orçamental. Parte
deste valor já foi pago em 2018 e uma
parte signiÆcativa, cumprindo o que
foi decidido em tribunal arbitral, será
pago no futuro. No entanto, de acor-
do com as regras do Sistema Europeu
de Contas, nos casos em que uma
despesa é o resultado de uma decisão
judicial, o momento da inscrição da
despesa é a data da sentença.
Sendo assim, o mais provável neste
momento é que a indemnização
venha a ter um impacto negativo nas
contas do ano passado. Será no Ænal
de Março que o INE irá publicar os
dados do saldo orçamental e da dívi-
da no ano de 2019.
Concessão polémica
O contrato de concessão da Auto-es-
trada Douro Litoral foi assinado em
2007 e tinha como objectivo melho-
rar a Çuidez de trânsito da área metro-
politana do Porto, fazendo na mar-
gem sul do rio Douro o fecho de uma
circular externa na região do Porto.
As obras decorreram durante três
anos e, no Ænal do ano de 2011, abriu
ao público. A verdade é que desde
que foi inaugurada teve sempre níveis
de tráfego muito abaixo do previsto
— e insuÆcientes para remunerar a
concessionária pelo investimento ali
realizado. Alguns meses após a inau-
guração, surgiram notícias que
O INE terá de
decidir de que
forma e quando
é que se regista
o impacto da PPP
nas contas
demonstravam que a auto-estrada
que havia custado 11 milhões de euros
por quilómetro (386 milhões, no
total) estava, aÆnal, deserta.
Os baixos níveis de tráfego foram
justificados pela concessionária com
a alteração de pressupostos por parte
do concedente — nomeadamente pela
decisão de não construir uma auto-
-estrada que iria alimentar o tráfego
daquela via (a Auto-estrada do Centro
não saiu do papel), ou a decisão de
cobrar portagens em vias que não
eram portajadas, o que também dimi-
nuiu o tráfego. Em Janeiro de 2013, a
concessionária (maioritariamente
detida pela Brisa) interpõe um pedido
de reequilíbrio Ænanceiro onde exige
uma indemnização de cerca de 1350
milhões. Quatro anos depois, o Esta-
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 27
do acabou condenado, em Fevereiro
de 2017, a pagar 219 milhões.
A Douro Litoral enfrentou, poste-
riormente, uma nova vaga de conÇi-
tos jurídicos, com os bancos credores
a executarem a concessão devido à
falta de pagamento das dívidas pela
concessionária. No último Verão, os
credores e as empresas concessioná-
rias (lideradas pela Brisa) chegaram
a acordo para ultrapassar esta situa-
ção, estando o desfecho ainda depen-
dente da luz verde do Estado.
O pedido de indemnização na Dou-
ro Litoral correspondia a cerca de
39% dos pedidos de reequilíbrio
Ænanceiro que o Estado enfrentava
no Ænal do ano de 2018, de acordo
com a Unidade Técnica de Acompa-
nhamento dos Projectos (UTAP).
Os outros pedidos de indemniza-
ção, em que ainda não há decisões
em tribunal, referem-se à Subconces-
são do Baixo Tejo (AEBT), cuja empre-
sa pede 155 milhões de euros pelas
“alterações legislativas de carácter
especíÆco” a que foi submetida a sub-
concessão, e outros 110 milhões de
euros por ter sido impossibilitada a
construção da ER377, uma via em
perÆl de auto-estradas que visava ligar
a Costa de Caparica à Fonte da Telha,
e que o Governo deixou cair para pre-
servar a Reserva Botânica da Mata
Nacional dos Medos, em plena Área
de Paisagem Protegida da Arriba Fós-
sil da Costa de Caparica.
sergio.anibal@publico.pt
luisa.pinto@publico.pt
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28 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
ECONOMIA
Governo quer uma cidade do interior
com 5G até Dezembro
Governo quer nova tecnologia em duas cidades em 2020 e todos os concelhos com mais de 75 mil
habitantes cobertos até Änal de 2023. Mas serviço só chega a 90% dos portugueses em 2025
Telecomunicações
Ana Brito e Victor Ferreira
O Governo aprovou ontem a estraté-
gia nacional para o 5G e deÆniu várias
etapas para o desenvolvimento da
tecnologia em Portugal, entre 2020
(com a atribuição das licenças) e 2025,
que é quando se espera que, “tenden-
cialmente”, 90% dos portugueses
tenham acesso a estes serviços.
Em matéria de segurança, a reso-
lução do Conselho de Ministros
ontem aprovada diz que será consti-
tuído um grupo de trabalho para ava-
liar em permanência os riscos ineren-
tes à quinta geração de redes móveis,
devendo decidir quais as medidas a
aplicar para salvaguardar a integrida-
de e segurança das redes.
É uma decisão que já se esperava:
nesta matéria, Portugal alinhará com
os parceiros europeus, que, na sema-
na passada, se comprometeram a
seguir um guião comum para garantir
a cibersegurança das redes. Com os
EUA e outros aliados a proibirem a
presença chinesa, nomeadamente da
Huawei, na nova geração de redes
móveis, a UE prefere não excluir
nenhum fornecedor à partida, e sujei-
tar todas as empresas a uma avaliação
de risco que será feita a nível nacio-
nal, caso a caso. “Há uma acção con-
certada a nível europeu e não faz
sentido ter uma estratégia divergen-
te”, diz o Governo.
Segundo o calendário identiÆcativo
a que o PÚBLICO teve acesso, o pri-
meiro objectivo de “natureza estraté-
gica” deverá estar cumprido até ao
Ænal do ano e passa por garantir a
existência de redes 5G em pelo menos
duas cidades portuguesas, uma no
interior e outra no litoral. “Houve
uma preocupação muito forte de coe-
são territorial, para garantir que não
se agravem assimetrias regionais
entre litoral e interior”, sublinhou o
secretário de Estado da Transição
Digital, André de Aragão Azevedo, no
Ænal da reunião do Governo.
Até Dezembro, “pelo menos, uma
cidade situada em territórios de baixa
densidade” (existem no país 165
municípios que cabem nesta deÆni-
ção) e “uma cidade do litoral, com
mais de 50 mil habitantes” deverão
PATRICIA MARTINS
estar cobertas com rede 5G.
Esta cobertura pode ser assegurada
através de redes individuais de cada
um dos operadores, através de redes
partilhadas pelos operadores (através
de acordos de partilha como o anun-
ciado ainda esta semana pela Nos e
Vodafone) ou por redes grossistas, às
quais os operadores poderão contra-
tar o serviço.
A escolha das cidades e do modelo
em que a rede será desenvolvida
caberá aos operadores. O leilão deve
arrancar em Abril e as receitas serão
integralmente encaminhadas para o
Fundo para a Transição Digital. O
Governo diz não ter quantiÆcado o
valor da receita. “Sabemos o destino,
não sabemos o montante”, resumiu
o ministro Pedro Nuno Santos, que
tutela a pasta das Infra-estruturas.
Na próxima segunda-feira, a Ana-
com irá apresentar o Projecto de
Regulamento do Leilão para a Atribui-
2023
Até final desse ano, o Governo
quer que estejam dotados com
redes 5G os concelhos com mais
de 75 mil habitantes e todos os
hospitais públicos
ção de Direitos de Utilização de Fre-
quências nas faixas dos 700 MHz, 900
MHz, 1800 MHz, 2,1 GHz, 2,6 GHz e
3,6 GHz, esperando-se que seja pos-
sível ter uma ideia de quanto é que o
processo poderá render ao Estado.
Os planos iniciais da Anacom pre-
viam que este projecto fosse colocado
em consulta pública ainda em Janei-
ro, mas o prazo já foi ultrapassado.
Para 2023, que é quando os opera-
dores consideram que poderá haver
as primeiras aplicações comerciais
desta tecnologia, as metas são mais
exigentes. Até Ænal desse ano, o
Governo quer que estejam dotados
com redes 5G os concelhos com mais
de 75 mil habitantes, todos os hospi-
tais públicos, 50% dos centros de
saúde públicos situados em territó-
rios de baixa densidade e 50% dos
centros de saúde públicos do litoral,
que não se encontrem já cobertos por
É estimado que, em 2025, 90% dos portugueses tenham acesso rede Æxa de elevado débito.
Actualmente, são 33 os concelhos
com mais de 75 mil habitantes e 275
municípios que Æcam aquém dessa
fasquia. E Viseu é a única cidade que
se pode considerar neste universo
como não estando na faixa litoral. A
meta do Governo signiÆcaria que, à
luz dos números actuais, nenhuma
cidade do interior terá de ter cober-
tura integral de 5G até 2023.
A cobertura 5G deverá ainda esten-
der-se a todas as universidades e ins-
titutos politécnicos, a 50% das áreas
de localização empresarial ou par-
ques industriais dos concelhos do
litoral e 50 % das áreas de localização
empresarial ou parques situados em
territórios de baixa densidade. A tec-
nologia deverá ainda estar disponível
nos aeroportos internacionais e nas
instalações militares prioritárias.
Até Dezembro de 2024, deverão
estar dotadas com redes 5G os conce-
lhos com mais de 50 mil habitantes,
95% do traçado das rodovias nacio-
nais com tráfego superior a 7,3
milhões de veículos por ano e as auto-
-estradas A22, A23, A24 e A25 e Estra-
das Nacionais n.º 1 e n.º 2.
Também se prevê que nessa data
haja cobertura em 95% da linha fer-
roviária de Braga a Lisboa e do corre-
dor ferroviário do Atlântico, em 98%
das linhas de comboio suburbanas
das áreas metropolitanas de Lisboa e
Porto e em 98% das redes de metro-
politano de Lisboa, Porto e da Mar-
gem Sul do Tejo. A cobertura terá de
estar também assegurada nos portos
de Sines, Setúbal, Lisboa, Leixões e
Aveiro.
Segundo o calendário do Governo,
no Ænal do ano de 2025, “tendencial-
mente, 90% da população” deverá ter
“acesso a serviços de banda larga
móvel com uma experiência de utili-
zação típica de um débito não inferior
a 100 Mbps [megabits por segundo]”.
Com base nos dados da população
residente em Portugal (continente e
ilhas) em 2018, isso signiÆca que a
meta é dar cobertura 5G a 9,2 milhões
de residentes, deixando de fora cerca
de um milhão de pessoas.
A resolução do Governo prevê a
realização de estudos sobre eventuais
impactos do 5G na saúde humana.
ana.brito@publico.pt

Aeroporto de Lisboa
tem mais um recorde:
709 voos num só dia
Transportes
Luís Villalobos
Plano de redução do ruído
ainda não foi aprovado
pela APA e regulador
está a analisar fecho
da pista secundária
O Aeroporto Humberto Delgado tem
batido vários recordes, a que se junta
agora mais um: o dia mais movimen-
tado de sempre foi o de 9 de Agosto
de 2019, com 709 voos geridos pela
NAV Portugal. Os dados, enviados ao
PÚBLICO pela empresa pública que
gere o espaço aéreo, representam
uma subida de 3,5% face ao recorde
anterior — a 13 de Agosto de 2018, a
fasquia tinha sido colocada nos 685
voos (ou movimentos, englobando
aterragens e descolagens).
Segundo as respostas enviadas ao
PÚBLICO pela NAV, a média diária
naquele que é o maior aeroporto
nacional (e maior fonte de receitas
da concessionária, a ANA, do grupo
francês Vinci) foi de 611 voos. E se o
recorde diário Æcou marcado no
calendário de Agosto, já o recorde
mensal Æxou-se em Julho, com
20.063 movimentos.
Em termos anuais, a torre de con-
trolo do Aeroporto Humberto Delga-
do registou um total de 222.984
movimentos no ano passado (mais
2,3% face a 2018).
Com 31.173 mil passageiros a pas-
sarem em 2019 pela infra-estrutura
aeroportuária da capital, a ANA tem
procurado expandir a sua capacida-
de, mas falta também um outro vec-
tor, o da gestão do ruído provocado
nas zonas envolventes pelas aterra-
gens e descolagens dos aviões como
os da TAP, da Ryanair e da Easyjet,
para citar apenas as três principais
companhias.
De acordo com a Agência Portu-
guesa do Ambiente (APA), “no âmbi-
to da apreciação da revisão em curso
do plano de acção [para a gestão e
redução do ruído] para o período
2019-23”, este organismo “constatou
a existência de lacunas e omissões
relevantes relativamente aos requi-
sitos mínimos” exigidos para a sua
aprovação.
Assim, no passado dia 20 de Dezem-
bro, a ANA foi informada de que o
plano tinha de ser “aperfeiçoado e
enviado à APA, no prazo de 60 dias
Plano de gestão e redução do ruído tinha “lacunas e omissões”
úteis”. “Foi solicitado à ANA o envio
de elementos adicionais e a adopção
de medidas operacionais e de reforço
do condicionamento acústico de
fachadas de edifícios de uso sensível”,
referiu fonte oÆcial da APA.
Este organismo ressalva, no entan-
to, que “o plano de acção do aeropor-
to para o período 2013-2018 continua
em vigor e as medidas nele preconi-
zadas não se extinguem por se encon-
trar em processo de revisão”.
Investir 650 milhões
Numa fase em que se aguardam os
últimos passos que ditarão a constru-
ção do aeroporto complementar do
Montijo (falta a ANA entregar o pro-
jecto de execução e o relatório de
conformidade ambiental do projecto
de execução, que terá de ser aprova-
do pela APA, e a ANAC tem de certi-
Æcar o aeroporto, o que requer uma
análise à hipótese de colisão com
aves), a infra-estrutura localizada na
Portela continua a apostar no seu
crescimento.
Uma das estratégias para gerar
mais movimentos é a da melhoria da
gestão do espaço aéreo, aposta que,
se abrange o Montijo, dá também
mais espaço no chão ao Aeroporto
Humberto Delgado. Após o entendi-
mento entre a Força Aérea (implican-
do as bases de Sintra e de Monte Real)
e a NAV, vai ser possível haver 46
movimentos por hora na Portela,
mais dois do que o máximo actual.
Em paralelo, há também investi-
mentos em curso, que têm sido refe-
ridos como independentes do Mon-
tijo. Quando foi assinado o acordo
para a construção do aeroporto do
DANIEL ROCHA
Montijo (então alvo de muitas críticas
por ainda não ser conhecida a posi-
ção da APA) e a expansão do aeropor-
to Humberto Delgado, entre a ANA e
o Governo, em Janeiro do ano passa-
do, este previa o investimento de 650
milhões de euros na Portela.
Fecho de pista em análise
A verba implica apostas como o
aumento de posições de estaciona-
mentos de aviões, ampliação do Ter-
minal 1 e novas saídas rápidas de
pista. Ao mesmo tempo, pressupõe
“o encerramento da pista secundá-
ria”, a 17/35, e “alteração contratual”.
Neste momento, de acordo com as
informações da ANA, estão já em
curso as obras para a criação de duas
saídas rápidas. Com conclusão pre-
vista para o Ænal de Junho, estas
implicam o fecho da pista principal
entre as 23h30 e as 5h30.
Já a transformação da actual pista
17/35 (proporcionando mais estacio-
namentos) apresenta-se como um
pouco mais complicada. De acordo
com o regulador da aviação civil, a
ANAC, o processo para o encerra-
mento da pista foi entregue pela ANA
no Ænal de Novembro.
Segundo fonte oÆcial do regula-
dor, a ANAC está a veriÆcar se está
tudo “completo e instruído de acor-
do com a legislação e requisitos em
vigor”. “Este processo conÆgura
uma alteração das bases de certiÆ#
cação do aeroporto, constitui uma
obra de relevo, pelo que a ANAC
terá de analisar com profundidade”,
acrescenta a mesma fonte.
luis.villalobos@publico.pt
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 29
Desvio espanhol
e anemia alemã
interrompem década
de crescimento do têxtil
Exportações
Victor Ferreira
Portugal exportou 5259
milhões em 2019, menos 1%.
É a primeira quebra em dez
anos por perda de produção
para Marrocos e Turquia
As vendas da indústria têxtil e vestuá-
rio (ITV) a Espanha caíram 73 milhões
de euros em 2019. O vizinho ibérico
não é o único mercado de destino em
quebra, mas foi o principal culpado
da descida nas exportações da ITV,
que perdeu 1% da facturação no ano
passado face a 2018, para 5259
milhões de euros.
É a primeira vez, desde 2009, que
as vendas ao exterior da ITV num ano
não ultrapassam a facturação do ano
precedente. Foram nove anos sempre
a crescer, uma tendência agora inter-
rompida porque o principal cliente
de Portugal, a Espanha, e o terceiro
maior comprador, a Alemanha, regis-
taram quebras de 4,3% e 3%, respec-
tivamente.
No primeiro caso, a razão parece
ser a transferência de encomendas de
Portugal para Marrocos e Turquia por
parte de grandes clientes da confec-
ção portuguesa, como a Inditex (dona
das marcas Zara, Pull & Bear e Ber-
shka, entre outras). Porquê? Segundo
a Associação Têxtil e Vestuário de
Portugal (ATP), “alguns players impor-
tantes alteraram a lógica de forneci-
mento” nos segmentos de “moda e
fast fashion” porque “do ponto de
Foi a primeira vez, desde 2009,
que não houve crescimento
ECONOMIA
vista dos preços, Portugal tem perdi-
do alguma competitividade”.
“Ainda que Portugal continue a
apresentar vantagens em factores
diferenciadores como a conÆança, a
resposta rápida e o valor acrescenta-
do, os custos de contexto não são
fáceis e os custos salariais têm tido
algum impacto”, explica Ana Paula
Dinis, da ATP. E para empresas de fast
fashion, como a Inditex, a questão dos
custos é das mais relevantes, aponta.
Porque “as decisões acabam por ser
tomadas com base no preço”. Marro-
cos e Turquia conquistaram enco-
mendas que antes eram satisfeitas em
Portugal, porque em termos de pro-
ximidade acabam por ser colocados
no mesmo patamar que a confecção
portuguesa, que foi o sector que mais
comércio perdeu e aquele que, como
diz a ATP, “mais sente o peso” dos
custos salariais.
Já no caso da Alemanha, para onde
se venderam menos 14 milhões de
euros, a explicação fundamental será
o clima de estagnação que pautou a
economia e que terá inÇuenciado o
comportamento dos consumidores
naquele país, refere.
Em termos totais, as vendas ao
estrangeiro da ITV ascenderam em
2019 a 5259 milhões de euros, menos
53 milhões do que no ano anterior. Os
artigos de vestuário representaram
cerca de 60% das exportações, as
matérias-primas têxteis, incluindo
Æos, tecidos e têxteis técnicos, justiÆ#
cam 25% da facturação no exterior e
os restantes 14% da receita dizem res-
peito aos têxteis-lar e outros artigos
têxteis confeccionados. O negócio do
vestuário em malha perdeu 2,3%,
sendo a categoria mais penalizada,
com uma perda de 50 milhões na
receita. Pelo contrário, as vendas de
vestuário em tecido subiram 2,5%,
um acréscimo de 24 milhões.
Por regiões, o comércio intracomu-
nitário (que representa 82% das
exportações) caiu 1,9%, mas houve
mercados como a França (mais 2,6%)
e os Países Baixos (mais 4,2%) a con-
trariar essa tendência. As exportações
das vendas extracomunitárias aumen-
taram 3,3%, para 970 milhões de
euros, com destaque para os EUA, o
cliente mais importante fora da UE, e
para onde as vendas cresceram 5,4%,
para 340 milhões.
A balança comercial da ITV conti-
nua positiva, em 784 milhões.
voferreira@publico.pt
30 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
MUNDO
A Irlanda vai a votos e o Sinn Féin
faz contas para ser mainstream
Nacionalistas ameaçam o duelo eterno
entre Fianna Fáil e Fine Gael. Dispersão
de voto aponta para um Parlamento
bloqueado, numa eleição em que
o “Brexit” não conta assim tanto
Eleições
António Saraiva Lima
A República da Irlanda vai hoje a
votos com muitas suspeitas de que a
espera uma brutal dispersão do elei-
torado, um cenário parlamentar
inédito e semanas de negociações
intensas para a formação de um
Governo. O braço-de-ferro de quase
um século entre os partidos de cen-
tro-direita, Fianna Fáil e Fine Gael,
recebe este ano a companhia dos
nacionalistas de esquerda do Sinn
Féin, que actuam dos dois lados da
fronteira irlandesa, que têm no topo
das suas prioridades o agendamento
de um referendo de uniÆcação com
a Irlanda do Norte e que, depois de
várias décadas como outsiders,
anseiam agora por um lugar no
mainstream político.
Numa sondagem da Ipsos MRBI
para o Irish Times, publicada na pas-
sada segunda-feira, o antigo braço
político do grupo armado Exército
Republicano Irlandês (IRA) agregava
25% das intenções de voto para as
legislativas, seguido de Fianna Fáil
(23%), do ex-ministro Micheál Martin,
e do Fine Gael (20%), do actual taoi-
seach (primeiro-ministro) e líder do
Governo, Leo Varadkar.
No entanto, as especiÆcidades do
sistema de voto único transferível —
que permite aos eleitores ordenarem
os candidatos por ordem de prefe-
rência e mudarem o sentido de voto
se as suas primeiras hipóteses não
conseguirem a percentagem mínima
para eleição — e o número reduzido
de candidatos apresentado pelo Sinn
Féin — apenas 42 para 160 lugares —,
diÆcilmente lhe permitirá formar ou
integrar um Governo, mesmo cum-
prindo o melhor cenário eleitoral.
Até porque Fianna Fáil e Fine Gael,
que em 2016 foram forçados a enten-
der-se para permitir um Governo
minoritário, liderado por Varadkar,
se recusam a sentar-se à mesma mesa
que os nacionalistas.
“Se há algo que não farei, é nego-
ciar uma coligação com o Sinn Féin.
Preocupa-me o seu passado, claro,
mas preocupa-me mais o seu presen-
te e futuro”, atirou o primeiro-minis-
tro no debate entre os três líderes na
terça-feira, na RTÉ, a televisão públi-
ca irlandesa.
Mas uma percentagem superior ou
próxima dos 20%, como sugerem os
vários estudos que têm saído ao longo
da semana, garante ao partido de
Mary Lou McDonald — sucessora do
histórico Gerry Adams — um lugar de
destaque na arena política e parla-
mentar da Irlanda, seja num executi-
vo, seja na oposição.
Um feito notável, se tivermos em
conta os 13,8% de votos em 2016, bem
como o rótulo de pária que lhe foi
atribuído pelo poder político e pela
comunicação social, durante anos a
Æo — e que o próprio Sinn Féin tam-
bém assumiu com orgulho —, devido
às relações com o IRA e ao papel que
alguns dos seus dirigentes desempe-
nharam durante a guerra civil, ao lado
dos republicanos e contra os unionis-
tas, a Norte da fronteira.
Habitação e saúde Mary Lou McDonald, do Sinn Féin, espera aproveitar o desagrado popular com os muitos anos de governo do F
Curiosamente, o crescimento do Sinn
Féin na República da Irlanda não gação, na sequência do resultado orçamentais, em moções de censura mos que, para ser bem-sucedida, se
parece resultar propriamente de um impreciso das eleições de 2016 — e eventos similares. deve redistribuir a riqueza através de
maior ou mais acentuado apetite do 25,5% para o Fine Gael e 24,3% para “O pior resultado [das eleições] é impostos e do Estado social, olhando
eleitorado por uma reuniÆcação irlan- o Fianna Fáil. Para governar, os ven- que Fine Gael e Fianna Fáil se juntem, para o emprego, a educação e a for-
desa, questão que os nacionalistas cedores, então liderados por Enda de novo, para os próximos quatro ou mação proÆssional como direitos”,
querem levar a referendo no prazo de Kenny, foram obrigados a receber cinco anos”, defendeu McDonald no lê-se no manifesto eleitoral do Sinn
cinco anos e que colocam como ministros independentes no execu- debate. “O meu objectivo é resolver o Féin.
requisito para qualquer entendimen- tivo, e os derrotados, já com Martin problema da habitação e garantir que
to parlamentar. ao leme, acordaram abster-se na os trabalhadores e as famílias possam O “Brexit” e o referendo
Resulta, apontam os analistas, de investidura do Governo, em votações ter descanso [destes partidos]”. Mais curioso ainda, nestas eleições
um descontentamento generalizado A solução, acredita o Sinn Féin, para o Dáil Éireann, a câmara baixa
com os partidos do arco do poder, em será aplicar um “programa republi- do Parlamento irlandês, é que o tema
relação a temas tão comuns como a
Sinn Féin quer cano de governo”, que inclui o quente do momento na Irlanda do
habitação, os impostos ou a saúde, um referendo à aumento do investimento público, a Norte, do outro lado do Mar da Irlan-
que ainda sofrem os efeitos dos cortes nacionalização de sectores-chave da da — no Reino Unido — e um pouco
e da austeridade decretada pelo
reuniÄcação economia e da indústria agro-pecuá- por toda a Europa, está longe de
Governo anterior, do Fianna Fáil, da ilha em cinco ria, uma reforma mais redistributiva constar no topo das prioridades dos
durante a grave crise Ænanceira euro- da Segurança Social e do sistema de cerca de 4,8 milhões de eleitores.
peia, que afectou especialmente a
anos, mas o foco impostos, uma maior protecção dos Uma outra sondagem do Irish Times
Irlanda, a partir de 2008. da campanha trabalhadores e reforço da universa- concluía que apenas 3% dos inquiri-
Inimigos crónicos, os dois partidos lidade da educação. dos aÆrma que o “Brexit” é o assunto
de centro-direita alcançaram um
foi a habitação “Uma economia deve servir a socie- que mais os preocupa nas legislativas
complexo e histórico acordo de coli- e a saúde dade e não o seu contrário. Acredita- de hoje.

PHIL NOBLE/REUTERS
Fianna Fáil e do Fine Gael
Este aparente desinteresse do elei-
torado em relação ao divórcio entre
o Reino Unido e a União Europeia
parece ser contraditório com a men-
sagem que o Sinn Féin tem para se
intrometer no jogo dos partidos cres-
cidos da Irlanda. Facto que torna
mais explícito o desagrado popular
com os últimos anos dos Governos
de Fine Gael e Fianna Fáil, que, sozi-
nhos ou em alianças com forças mais
pequenas — como o Partido Traba-
lhista, o Partido Verde ou os Demo-
cratas Progressistas (partido hoje
extinto) —, têm governado o país des-
de os anos 30 do século XX.
Apesar de terem sempre tido a reu-
niÆcação da política da ilha como
propósito político e objectivo último,
os nacionalistas têm vindo a intensiÆ#
car a sua campanha à boleia do “Bre-
xit”. Num primeiro momento, logo
após o referendo de 2016, que deu
56% de votos ao Remain na Irlanda do
Norte e que, por causa de todo o deba-
te em redor da questão fronteiriça na
ilha, recolocou os dois lados a reÇectir
sobre o seu passado violento.
E, mais recentemente, devido aos
termos do acordo de saída dos britâ-
nicos da UE, que colocam a Irlanda
do Norte e a República da Irlanda
dentro do mesmo regime regulatório,
alfandegário e económico, e deixam
Belfast mais perto de Dublin e mais
longe de Londres. Cenário que o Sinn
Féin — que é peça-chave no sistema
norte-irlandês de partilha do poder,
a par do Partido Democrático Unio-
nista — vê como ideal para acelerar a
sua agenda política também a sul e
agendar um referendo.
Mas Varadkar e Martin recusam
avançar já para qualquer estratégia
que possa por pôr em causa a estabi-
lidade da ilha e das relações com a
Irlanda do Norte, e não querem
sequer ouvir falar de um referendo
ou dar a mão ao Sinn Féin nessa maté-
ria. No que ao “Brexit” diz respeito,
preferem focar-se nas duras negocia-
ções entre Boris Johnson e Bruxelas,
tendo em vista uma nova parceria
comercial entre Reino Unido e UE.
Pelos cargos que ocupam, Leo
Varadkar e o vice-primeiro-ministro
e ministro dos Negócios Estrangei-
ros, Simon Coveney, desempenha-
ram papéis de destaque na caminha-
da que antecedeu o “Brexit”, e que-
rem continuar a fazê-lo, uma vez
que, nas palavras do taoiseach, “o
jogo ainda vai no intervalo”.
O tema não gera, no entanto, gran-
de discussão pública, uma vez que
não há, na verdade, grandes diver-
gências de fundo entre os principais
partidos em relação à estratégia a
adoptar. É necessário um acordo
comercial com os britânicos e a manu-
tenção da fronteira aberta com a
Irlanda do Norte.
Mas a prioridade é, e será sempre,
que o país possa usufruir de todos os
benefícios do mercado único euro-
peu. “Nós pertencemos a um merca-
do com uma população de 450
milhões de pessoas. O Reino Unido
tem cerca de 60 milhões”, recordou
Varadkar, numa entrevista recente à
BBC, recorrendo a nova referência
futebolística: “Se estas duas equipas
se defrontassem num jogo de fute-
bol, quem é que acha que tem a equi-
pa mais forte?”.
antonio.lima@publico.pt
Gail McElroy: “A esquerda
está a emergir na Irlanda”
Entrevista
António Saraiva Lima
A reitora da Faculdade de Artes,
Humanidades e Ciências Sociais da
Universidade de Dublin e
professora de Ciência Política no
Trinity College, Gail McElroy (na
foto), identiÆca um cansaço dos
eleitores em relação aos dois
principais partidos, lembra o
legado da austeridade e vê o
crescimento do Sinn Féin como
resultado de uma atracção cada vez
maior pela sua mensagem
“igualitária” e “socialista”.
As sondagens apontam um
cenário de três partidos com
resultados próximos. Prevê-se
um Parlamento bloqueado?
É quase certo. Nenhum dos
partidos deverá conseguir maioria.
Nem sequer é claro que dois desses
três partidos consigam, em
conjunto, uma maioria. Não parece
haver dúvidas de que serão
necessárias negociações e de que o
Governo será minoritário.
O “Brexit” não teve grande
destaque na campanha. Porquê?
O Fine Gael bem tentou contrariar
essa tendência, já que conseguiu
um excelente acordo para a Irlanda
e manteve os restantes 26
Estados-membros da UE ao seu
lado na questão da fronteira. É
possível que não lhe estejam a dar
crédito suÆciente. Mas os irlandeses
estão mais preocupadas com
problemas locais, estão centrados
dos
nos seus círculos eleitorais. O
“Brexit” é visto como uma questão
stão
internacional. E as pessoas já estão
stão
fartas dessa discussão. Sabem que
há um período de transição e queue
vêm aí negociações técnicas. É
difícil entusiasmar o eleitor comum
mum
com as minúcias das negociações es
comerciais.
Como explica a subida do Sinn nn
Féin? É uma questão de
renovação da mensagem ou de
desencanto com os partidos
tradicionais?
Há um desejo de mudança e esse se
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 31
Se há algo que não
farei, é negociar
uma coligação com m
o Sinn Féin
Leo Varadkar
Primeiro-ministro irlandês
desencanto com os partidos
tradicionais. O Fianna Fáil e o Fine
Gael dominam o espaço político
desde a independência [1922]. O
Fine Gael está no poder desde 2011
e tem sofrido com o cansaço dos
eleitores. E o Fianna Fáil, que foi o
principal partido durante 70 ou 80
anos, continua a ser associado aos
anos de austeridade. Uma semana
em política é muito tempo, mas
aqui trata-se de um legado. O seu
líder, [Micheál] Martin, fez parte
desses Governos, entre 2000 e
2011, e tem tido diÆculdades para
limpar essa mancha. As pessoas
têm memória.
Podemos comparar o caso
irlandês com outros países
europeus onde o establishment
político está a perder apoios?
Como podemos deÆnir o Sinn Féin?
Será populista? Será socialista? É
seguramente de esquerda. Há aqui
um elemento que advém desta era
pós-política que vivemos,
particularmente junto dos jovens e
dos que sentem que não
beneÆciaram do crescimento
económico dos últimos anos.
Ironicamente, a economia tem tido
um excelente desempenho aqui na
Irlanda. Ninguém esperava que o
Fine Gael conseguisse dar a volta à
situação em tão pouco tempo.
Temos até assistido a alguma
campanha de medo, por parte do
Fine Gael, sobre os riscos de se pôr
em causa a estabilidade económica.
Os dois principais partidos são
de centro-direita. O que difere o
Fianna Fáil do Fine Gael?
Até um irlandês tem diÆculdades
em responder a essa pergunta
[risos]. São partidos muito
semelhantes. A sua grande
diferença é histórica. O Fianna Fáil
é mais nacionalista e o Fine Gael é
mais conservador em matéria
económica, mais liberal em
questões sociais e mais
pró-europeu. Mas conseguem
formar uma coligação com relativa
facilidade.
Há pouco, falou dos jovens. O
que é que os atrai no Sinn Féin?
As gerações mais novas cresceram
numa era de pós-crise, pelo que as
ligações entre o Sinn Féin, o IRA e o
terrorismo não são tão reais. Olham
para o Sinn Féin como um partido
mais redistributivo, que tem uma
visão igualitária da sociedade e que
pode ter soluções para o problema
da habitação, do desemprego, etc..
Interessa-lhes o elemento socialista
do partido.
Mas a reunificação ainda é o
elemento-chave da sua acção...
Nestas eleições, focou-se nas
questões sociais. Sabe que não é
óbvio que haja uma maioria para a
reuniÆcação. E tem noção de que
um enfoque da discussão em temas
relacionados com o seu passado
problemático não lhe é favorável.
Tem tentado fugir dele.
Fine Gael ou Fianna Fáil nunca
irã negociar com o Sinn Féin?
irão
m
É muito difícil. Prometeram que
não o farão e não o querem
leg
legitimar. Uma coligação seria
sem
sempre ideologicamente
com
complicada. O nosso sistema
pol
político não encontra paralelo com
ammaioria dos países ocidentais,
ma é interessante veriÆcar que a
mas
esq
esquerda está a emergir na Irlanda.
Não falo só no Sinn Féin. Há o
Sol
Solidariedade, o Partido
Tra
Trabalhista, o Partido Verde. É
pro
provável que, nos próximos anos,
po
possamos ter também uma
c
competição entre
c
centro-esquerda e centro-direita.
32 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
MUNDO
Sissoco Embaló ameaça Parlamento
e Supremo Tribunal da Guiné-Bissau
Candidato declarado vencedor das presidenciais marcou a posse para o dia 27 e ameaçou: “Se for necessário,
vamos à guerra para que haja a paz”. Governo pediu ao MP investigação sobre “gravidade das declarações”
África
António Rodrigues
Umaro Sissoco Embaló, considerado
pela Comissão Nacional de Eleições
(CNE) guineense o vencedor da
segunda volta das eleições presiden-
ciais, realizadas a 29 de Dezembro,
quer tomar posse no dia 27 de Feve-
reiro e lançou o aviso à Assembleia
Nacional e ao Supremo Tribunal de
que não admite a interferência destes
nessa decisão e ameaçou até com a
possibilidade de guerra.
“Se for necessário, vamos à guerra
para que haja a paz e a Guiné-Bissau
vai libertar-se de vez”, aÆrmou Sis-
soco Embaló aos jornalistas à chega-
da a Bissau, anteontem à noite,
depois de uma viagem de contactos
político-diplomáticos do mais alto
nível, que incluiu uma passagem por
Lisboa, onde almoçou com António
Costa e se encontrou com Marcelo
Rebelo de Sousa.
Ontem, numa conferência de
imprensa, em Bissau, Domingos
Simões Pereira, líder do PAIGC, par-
tido actualmente no Governo, e can-
didato na segunda volta das presi-
denciais, reiterou a recusa do seu
partido em reconhecer a derrota nas
eleições e deixou uma resposta des-
tinada ao seu adversário sem o
nomear: “Se alguém puser em causa
a paz e a segurança na Guiné-Bissau,
será responsabilizado pelo povo gui-
neense”.
Durante a tarde de ontem, o Gover-
no de Aristides Gomes, assente na
maioria do PAIGC, pediu ao Ministé-
rio Público que tome “medidas inves-
tigativas urgentes e vigorosas” face à
“gravidade das declarações” de Sis-
soco Embaló.
Dizendo que as palavras do candi-
dato “ameaçam a paz e a tranquilida-
de” social, o executivo guineense
“condena com veemência” aÆrma-
ções que se conÆguram como “inci-
tamento à violência, à guerra, às
ameaças de morte, ameaças de
sequestro e um desrespeito inadmis-
sível para com as instituições e auto-
ridades legalmente instituídas”.
O Governo pede calma às popula-
ções e “exorta as Forças de Defesa e
Segurança” a “continuarem a dar
provas da sua equidistância face às
lutas políticas”, ao mesmo tempo que
pede à comunidade internacional
para “continuar a acompanhar e ava-
liar a actuação dos candidatos”.
O Supremo, que na Guiné-Bissau
funciona também como Tribunal
Constitucional, ainda não conÆrmou
a eleição de Sissoco Embaló, nem se
pronunciou sobre se a CNE cumpriu
a exigência de um novo apuramento
nacional dos resultados. E a marcação
da tomada de posse cabe ao Parla-
mento e não ao Presidente eleito,
porque este, naturalmente, só tem
poderes depois de assumir o cargo.
Isso não impediu Embaló de ser
taxativo e ainda dar a entender que
os juízes da mais alta instância judicial
receberam dinheiro para perturbar
o andamento do processo político.
“Toda a gente sabe que Umaro Sis-
soco Embaló é o novo Presidente da
Guiné-Bissau. O Supremo pode deci-
dir o que quiser, mas penso que há
uns quantos que não vão estar aqui
na hora de dividir o dinheiro que
receberam”, disse.
Sissoco Embaló diz que vai representar a Guiné-Bissau na próxima cimeira da União Africana
Aquele que tudo indica será o pró-
ximo Presidente guineense adiantou
que tem provas, em forma de grava-
ções áudio, da corrupção dos juízes,
sem se pronunciar sobre se as irá ou
não apresentar. “Ninguém com-
preende o teatro que se está a passar
neste país, porque toda gente sabe
que o órgão competente para a ges-
tão de eleições é a CNE. Portanto, não
podemos permitir que a Guiné-Bissau
seja penhorada a uma pessoa. Garan-
to-vos que vou tomar posse no dia 27
de Fevereiro e que, a partir daquele
dia, haverá apenas um chefe na Gui-
né-Bissau”, garantiu.
No mês passado, Embaló já mar-
cara uma data para a tomada de
posse, o dia 15 de Fevereiro, o que
merecera uma resposta da Assem-
bleia Nacional (AN) a relembrar-lhe
que essa tarefa cabia ao Parlamento.
Desta vez, o candidato do Madem-
G15 deixou o aviso ao presidente da
AN de que não tolerará que a sua
vontade na matéria seja desaÆada:
“Se o presidente da Assembleia
Nacional Popular, Cipriano Cassa-
má, com todo o respeito que me conclusão que se tira é simples:
merece, não quiser presidir à minha “DesaÆar a AN de que vamos tomar
posse, vou organizar com Nuno posse de qualquer maneira, signiÆca
Nabian, Satu Camará e deputados, que a máscara caiu, a máscara de um
para me darem posse em qualquer pequeno ditador. Mas também é a
parte da Guiné-Bissau”. prova de que não conhecemos a
Para Domingos Simões Pereira, a Constituição e as leis da República”.
“Até ontem, levantámos várias
dúvidas pela forma pouco transpa-
rente como as eleições presidenciais
foram organizadas, hoje já não temos
mais dúvidas, temos toda a certeza
de que vencemos as eleições presi-
O Supremo pode denciais nas urnas”, acrescentou o
líder do PAIGC. Daí que Sissoco
decidir o que Embaló tenha optado “pela sua única
quiser, mas há uns saída”, que “é meter medo a todos e
tentar passar em força”, disse.
quantos que não
vão estar aqui na CEDEAO e União Africana
O declarado vencedor das eleições
hora de dividir o pela CNE, que regressou de um péri-
dinheiro que plo político-diplomático por 15 países
com encontros ao mais alto nível,
receberam acrescentou que recebeu um telefo-
Umaro Sissoco Embaló nema do presidente em exercício da
Declarado Presidente Comunidade Económica dos Estados
da Guiné-Bissau da África Ocidental (CEDEAO), o nige-
rino Mahamadou Issafou, a solicitar-
RODRIGO ANTUNES/LUSA
lhe um encontro à margem da cimei-
ra dos chefes de Estado e do Governo
da União Africana (UA), que se realiza
em Adis Abeba, na Etiópia, de 9 e 10
de Fevereiro.
A UA convidou Sissoco Embaló e o
Presidente que está em Æm de man-
dato, José Mário Vaz, para assistirem
à cimeira de chefes de Estado e de
Governo, convite que suscitou um
protesto do PAIGC. Mas o vencedor
das eleições, segundo a CNE, garantiu
aos jornalistas que vai mesmo repre-
sentar a Guiné-Bissau na cimeira.
Domingos Simões Pereira aÆrmou,
de acordo com a Lusa, que o seu par-
tido já enviou os esclarecimentos
necessários à CEDEAO e à UA para
“corrigirem o erro em que foram
induzidos”, ao reconhecerem a vitó-
ria do seu adversário e deixou o aler-
ta: “Somos partes de pleno direito
destas duas organizações, mas que-
remos lhes lembrar que também
somos parte de outras organizações,
nomeadamente das Nações Unidas”
a quem “poderemos recorrer para
que a nossa voz seja ouvida”.
antonio.rodrigues@publico.pt

Isabel dos Santos terá pago dois milhões de dólares pelos serviços do Sonoran Policy Group
Guerra entre João Lourenço
e Isabel dos Santos
estende-se aos EUA
Angola
António Rodrigues
Luanda tenta convencer
Washington a arrestar os
bens da empresária, que
contratou uma empresa de
lobby próxima de Trump
Há vários meses que uma guerra sur-
da de bastidores se desenrola em
Washington entre o Governo ango-
lano e Isabel dos Santos. De acordo
com a Lettre du Continent do Africa
Intelligence, Luanda tem procurado
convencer os departamentos da Jus-
tiça e do Tesouro norte-americanos
a congelar os activos de Isabel dos
Santos nos Estados Unidos.
Através do escritório de advogados
Squire Patton Boggs, que defende os
interesses de Angola desde Junho do
ano passado, João Lourenço e o seu
gabinete têm feito chegar várias
mensagens às autoridades norte-
americanas para que procedam ao
arresto dos bens, com base em que
a empresária teria desviado dinheiro
do erário angolano durante o perío-
do em que o pai, José Eduardo dos
Santos, era Presidente da República.
Até hoje, não só o Governo angolano
continua sem convencer a Adminis-
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 33
tração dos EUA da razão do seu pedi-
do, continuando a empresária a ter
acesso aos seus bens, como João
Lourenço continua, ao Æm de mais
de dois anos no cargo, sem se encon-
trar com o seu homólogo Donald
Trump.
Apesar do peso do Squire Patton
Boggs, que, com os seus 44 escritó-
rios em 19 países, é uma das 30
maiores empresas de advogados do
mundo, Angola tem perdido a bata-
lha com a empresa de lobby contra-
tada por Isabel dos Santos que tem
muitos contactos em Washington,
o Sonoran Policy Group, criado por
Robert Stryk, e que tem prosperado
durante a Administração Trump,
pelas ligações anteriores à sua cam-
panha.
Curiosamente, Stryk foi contrata-
do em Janeiro por um aliado do Pre-
sidente venezuelano, Nicolás Madu-
ro, no âmbito de um investimento de
12,5 milhões de dólares do Governo
de Caracas para melhorar as relações
bilaterais entre Venezuela e EUA.
Desde 2017, a empresa facturou 10,5
milhões de dólares em contratos
com Governos estrangeiros que que-
rem ter acesso à Casa Branca, segun-
do o Centre for Responsive Politics.
No mês passado, o site Quartz Afri-
ca avançava que Isabel dos Santos
tinha contratado a empresa com
MUNDO
TOBY MELVILLE/REUTERS
O NOVO ESPAÇO
PARA DEBATER IDEIAS
E DAR OPINIÕES
grandes ligações a Trump assim que Domingo, 9 de Fevereiro
soube que o Consórcio Internacional
de Jornalismo de Investigação estava Luís Miguel Oliveira, crítico
a analisar os seus negócios e ia
denunciar que havia desviado do Ípsilon, vai estar a conversar
milhões de dólares do erário. Pagou com os leitores sobre
dois milhões de dólares por dois con-
tratos, um para encontros e reuniões os Óscares 2020
com Æguras de topo da Administra-
ção americana, e outro para inserção
de notícias favoráveis nos jornais.
7 de Fevereiro 2019, 08:15
Apesar do Luanda Leaks ter ajuda-
do a justiça a decretar o arresto de
bens da empresária em Angola, os
pedidos de Angola continuam a cair
em saco roto em Washington, muito
por causa do Sonoran Policy Group. Participe em
A empresa tem entre os seus execu-
tivos Stuart Jolly, que Stryk aÆrma ser publico.pt/forum/oscares2020
“um dos génios e cérebros por trás
desta grande experiência humana
que Trump conseguiu”. 7 de Fevereiro 2019, 08:20
Nem a constituição como arguida
da Ælha primogénita de José Eduardo
dos Santos levou até agora a justiça
norte-americana a colaborar com as
autoridades angolanas. Uma situa-
ção que poderá alterar-se na visita
do secretário de Estado norte-ame-
ricano, Mike Pompeo, a Luanda,
agendada para 17 de Fevereiro, em
que se encontrará com o Presidente 7 de Fevereiro 2019, 08:22
João Lourenço, segundo informação
do ministro das Relações Exteriores
angolano, Manuel Augusto.
34 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
MUNDO
As duas pestes de 2020:
coronavírus e racismo
Ponto de Vista
Jorge Almeida Fernandes
Duas “pestes” percorrem o
mundo: a epidemia do coronavírus
e o racismo antichinês. Das duas,
esta é que mais contagia. É um
efeito comum das “pestes”. Há um
fantasma adormecido na nossa
memória histórica e que, de vez
em quando, desperta. A grande
dúvida é saber se a epidemia se
mantém como crise sanitária
internacional (ainda não foi
declarada pandemia pela OMS) ou
se vai transformar-se num
fenómeno geopolítico, susceptível
de alterar os equilíbrios do sistema
internacional. O coronavírus surge
com um “cisne negro”,
acontecimento imprevisível e raro
que, combinando-se com outros
factores, pode dar lugar a
inconcebíveis mudanças.
Tudo depende da expansão ou
contenção da epidemia e dos seus
efeitos na nossa vida quotidiana ou
no comércio internacional. A
epidemia revela, uma vez mais,
quanto a China depende do
comércio internacional e a
economia mundial depende da
saúde da China. A Administração
Trump parece regozijar-se. O
secretário do Comércio, Wilbur
Ross, anunciou “o regresso dos
empregos” à América. Mas, se a
China apanhar uma pneumonia, o
resto do mundo poderá ter de
entrar nos cuidados intensivos.
Comecemos por uma história.
Morreu na quarta-feira o dr. Li
Wenliang (foto à direita), o médico
que alertou os colegas e o Governo
para a gravidade da epidemia e foi
punido por “espalhar rumores”. Foi
há dias “reabilitado” e promovido a
herói. Foi infectado ao tratar
doentes. A epidemia passa a ter um
rosto. Um rosto incómodo, e talvez
perigoso, para Pequim.
Observa Stephen McDonnel,
correspondente da BBC em Pequim:
“A morte do dr. Li foi um momento
de comoção para este país. Para a
liderança chinesa, é um épico
desastre político. Ele expõe os
piores aspectos da direcção chinesa
e do sistema de controlo da
governação sob Xi Jinping — e do
Partido Comunista, que foram
cegos ao nada ver. (…) Agora, os spin
doctors e os censores tentarão uma
maneira de convencer 1,4 mil
milhões de pessoas, para quem a
morte do dr. Li é um claro exemplo
da inaptidão do partido para lidar
com uma emergência — quando a
transparência pode salvar vidas e o
silêncio pode matar.” A
transparência chegou com um mês
de atraso.
As autoridades estão a perder as
batalhas da comunicação, a interior
e a exterior. A soberba imagem que
a China dava de si mesma está a ser
corroída por uma desconÆança
absoluta, que põe em causa o seu
famoso “modelo político-social”,
que Xi Jinping tanto se esforçou em
vender ao mundo. E, como reÇexo
do nosso inconsciente imaginário
da peste, eclodiu uma vaga de
racismo antichinês.
Alibaba
Os primeiros efeitos económicos
são preocupantes. Uma vez mais,
tudo dependerá da duração da
epidemia. Alguns falam no risco de
recessão global. Mas ninguém é
capaz de prever, honestamente, as
consequências económicas da
epidemia.
O tráfego aéreo foi altamente
afectado. No estrangeiro há fábricas
que param por falta de
sobressalentes vindos da China.
Parte das fábricas chinesas tiveram
de parar. Gigantes estrangeiros Ridvan Bari Urcosta, da agência da China em atrair talentos
como a Foxconn, principal Geopolitical Futures, resume o estrangeiros na última década
fornecedor de componentes drama com o caso da Alibaba, a poderá ser arruinado pela expansão
electrónicas do mundo, a Nissan, a maior empresa e o maior do vírus mortal.” Também a queda
Peugeot, a Renault ou a Tesla “vendedor” do mundo. “Enquanto do turismo é vertical.
suspenderam a laboração. É uma Se a China case study, o Alibaba Group Holding Ao contrário do terramoto do
faca de dois gumes. “Os que
apostavam tudo na China vão ter de
ultrapassar Ltd é um claro exemplo de como o
vírus já está a ferir a economia
Sichuan em 2008, a China não
recebe mostras de solidariedade.
rever os seus cálculos, se a crise da chinesa. Alibaba é o símbolo da Recebe acusações. Os seus
suspeitarem de que a potência
chinesa não é tão sólida como
epidemia, não China contemporânea enquanto
superpotência; o seu nome é
diplomatas protestam contra o
isolamento do país, mas pouco
Pequim gosta de mostrar”, declara a é de estranhar sinónimo do poderio económico da conseguem fazer. Mesmo “amigos”
sinóloga francesa Valérie Niquet.
A economia chinesa é hoje mais
que a resposta China. Desgraçadamente para o
Alibaba, o coronavírus atinge agora
asiáticos, como o Cazaquistão e as
Filipinas, que participam na Nova
vulnerável do que durante a crise seja um surto o coração da sua identidade. Em Rota da Seda, fecham as fronteiras
do SARS, em 2002, dizem os
analistas. “Tínhamos a expectativa
de nacionalismo quase todos os países há história de
cidadãos com medo de produtos
aos chineses. O mesmo faz a Rússia
de Vladimir Putin, que, além de
de uma rápida desaceleração do virulento vindos da China — incluindo os da fechar as portas, se recusará a tratar
crescimento no primeiro trimestre mais famosa companhia chinesa, o os infectados cuja deportação,
de 2020, e de uma gradual Grupo Alibaba. Como resultado, consta, será automática. Ao
estabilização no resto do ano”, diz entre 13 e 28 de Janeiro, as acções contrário, o Paquistão e o Camboja
uma analista do banco Natixis. caíram de 231 para 203 dólares.” reforçaram as ligações aéreas com a
Hoje, tudo é incógnito. Outro indicador: “Todo o sucesso China.

CHINA DAILY/REUTERS
J. Stephen Morrison,
vice-presidente do Center for
Strategic and International Studies
(CSIS), relativiza o risco de
pandemia. “Uma pandemia global
ocorreria se houvesse surtos
explosivos e incontroláveis — como
se viu na província de Hubei —
noutras partes da China que
ateariam surtos no exterior da
China. (…) O risco é muito baixo
para os Estados Unidos e outras
economias avançadas e para países
como a Tailândia, que têm uma
capacidade relativamente forte
para lidar com surtos de doenças
infecciosas. Porém, se os surtos
atingissem centros como Pequim
ou Xangai, ou se fossem
exportados para países de África,
haveria o risco de pandemia global.
Não estamos hoje perante tal
cenário, mas não é inconcebível.”
Num cenário extremo — escreve
Urcosta — a China seria forçada a
entrar em “hibernação” económica
e proceder a uma retirada
temporária da política mundial.
Nada autoriza a evocar este cenário.
Um retraimento geopolítico da
China teria consequências
inimagináveis no equilíbrio das
potências. Mas é ocioso especular
sobre factos que “não
aconteceram”. Outra coisa é prever
um relativo enfraquecimento de
Pequim a médio prazo.
Xi Jinping
E Xi Jinping? Bill Emmott, antigo
director da Economist, não é
optimista quanto ao futuro do líder
chinês. “Durante os oito anos no
poder, o Presidente Xi fez muitos
inimigos, que provavelmente vão
tirar partido da sua actual
fraqueza. Quanto pior for a crise
do coronavírus, mais rápido será o
enfraquecimento e até, talvez, a
sua destituição.” O sinólogo
americano Minxin Pei pensa o
contrário: “Quando os líderes
chineses proclamarem a vitória
sobre o vírus, eles agradecerão ao
Partido Comunista e ao seu líder,
Xi Jinping. A verdade é o inverso: o
partido comunista é o primeiro
responsável por esta calamidade.”
O fantasma da peste é o
fenómeno que melhor representa o
medo de ser tocado pelo outro. O
desconhecido é a ameaça de
contágio. O medo é um poderoso
factor de “pandemia racista”.
Produz uma reacção paranóica, que
facilmente se torna irracional: o
medo não é apenas o de ser
infectado “por um chinês”, mas
alarga-se ao medo dos próprios
produtos chineses.
As pestes são um “Çagelo do
passado”. A peste bubónica Çagelou
a Europa, a Ásia e o Norte de África
durante séculos. No seu maior
surto, em cinco anos (1347-1352), a
“peste negra” dizimou entre 30 e
50% da população europeia — mais
de 25 milhões de vítimas — e terá
matado mais de cem milhões no
conjunto da Eurásia. Foi uma
ameaça até ao século XVIII. Hoje, a
peste já não se manifesta nas
epidemias devastadores que
marcaram a História e a memória
colectiva dos homens, com
drásticos efeitos demográÆcos,
sociais, económicos. E também
mentais. O bacilo nunca foi
erradicado e a doença continua a
afectar alguns milhões de pessoas —
por exemplo, em Madagáscar.
A palavra peste e seus derivados
permanecem vivos no nosso
vocabulário: “Os turistas chineses
são tratados na Itália como
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 35
A morte do dr. Li foi
um momento de
comoção para este
país. Para a liderança
chinesa, é um épico
desastre político
TYRONE SIU/REUTERS
pestíferos”, escreve um jornal. Mas
a palavra tem outros sentidos.
Chamou-se ao nazismo “a peste
castanha”. E falamos também, com
propriedade, de “peste racista”. O
medo do coronavírus leva alguns
académicos chineses a falar em
“epidemia racista” e outros falam já
em “pandemia racista”, informa o
South China Morning Post.
O racismo antichinês começa na
Ásia e, em particular, no Sueste
Asiático. Ressurgem velhos
ressentimentos antichineses. Na
Coreia do Sul, há manifestações de
rua a exigir a proibição de entrada
de chineses. Em Manila, o
crematório recusou incinerar o
cadáver de um chinês morto com o
vírus. No Vietname, cabeleireiros e
manicures aÆxam avisos: “Chinesas
não podem entrar por causa do
coronavírus. Obrigada pela
compreensão.”
A Itália, o único país do G-7 a
aderir à Rota da Seda, está na
primeira linha do racismo europeu.
Chineses ou simples asiáticos são
insultados na rua. Uma italiana de
origem vietnamita tem medo de
andar no metro por receio de tossir.
Na Hungria, comerciantes
vietnamitas aÆxam cartazes a
explicar que não são chineses. A
deliciosa Dinamarca volta à carga
com mais cartoons, desenhando
MUNDO
uma bandeira chinesa em que as
estrelas são substituídas pela
imagem do vírus. Alguns jornais
europeus usam deliberadamente o
termo “vírus chinês”. Um jornal
regional francês, Le Courrier Picard,
prefere “vírus amarelo”. Em
resposta, os asiáticos de França
lançaram o hashtag
#Jenesuispasunvirus (Eu não sou
um vírus).
O Los Angeles Times seriava há dias
uma lista de provocações racistas
nos Estados Unidos e Canadá: desde
falsos anúncios de contaminações,
para criar pânico, a lojas e
restaurantes que se recusam a servir
asiáticos, não necessariamente
chineses. Lembre-se que algo de
semelhante aconteceu a mexicanos
e latinos aquando do surto de febre
suína em 2009.
Deixo para o Æm o inefável Matteo
Salvini. Criticou a xenofobia
antichinesa: para a Itália, o risco de
contágio vem dos negros. O perigo
está nos imigrantes de África, “onde
trabalham milhares de chineses.”
Uma coisa é certa: se a China
ultrapassar a crise da epidemia, não
é de estranhar que a resposta seja
um surto de nacionalismo
virulento.
Camus
Albert Camus publicou em 1947 um
notável romance, La Peste (A Peste,
Livros do Brasil). Narra uma
epidemia de peste bubónica na
cidade de Orão, Argélia, nos anos
1930. É uma alegoria sobre uma
outra peste: a nazi.
O romance termina com o Æm da
tragédia. “Com efeito, ao ouvir os
gritos de alegria que subiam da
cidade, Rieux lembrava-se de que
esta alegria estava sempre
ameaçada. Porque ele sabia o que
esta multidão eufórica ignorava e
que se pode ler nos livros: o bacilo
da peste não morre nem desaparece
nunca, pode Æcar dezenas de anos
adormecido nos móveis e na roupa,
espera pacientemente nos quartos,
nas caves, nas malas, nos lenços e
na papelada. E sabia também que
viria talvez o dia em que, para
desgraça e ensinamento dos
homens, a peste acordaria os seus
ratos e os mandaria morrer numa
cidade feliz.”
Jornalista. Escreve ao sábado
jafernandes@publico.pt
36 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
CIÊNCIA
Como teve origem a epidemia
da doença das vacas loucas?
Cientistas de cinco países da Europa, incluindo Portugal, sugerem que a estirpe que originou a epidemia
da doença das vacas loucas veio da scrapie atípica, uma doença que afecta ovinos e caprinos
Genética
Teresa Sofia Serafim
Pode uma doença que afecta peque-
nos ruminantes como a scrapie atípi-
ca causar encefalopatia espongiforme
bovina, mais conhecida como doença
das vacas loucas? Uma equipa de
cientistas da Europa — incluindo de
Portugal — analisou a scrapie atípica
em ratinhos transgénicos e observou
que a estirpe de priões causadora
desta doença consegue converter-se
na estirpe da encefalopatia espongi-
forme bovina que originou a epide-
mia da doença das vacas loucas. Os
investigadores realçam ainda a neces-
sidade de se manterem medidas que
evitem um potencial ressurgimento
da epidemia.
Tanto a scrapie nos ovinos e capri-
nos como a doença das vacas loucas
são encefalopatias espongiformes
transmissíveis e doenças neurodege-
nerativas fatais. A doença das vacas
loucas Æcou conhecida devido à epi-
demia que surgiu na década de 1980
no Reino Unido. Apesar de se saber
que essa epidemia se espalhou muito
devido à reciclagem de carcaças de
animais infectados (como de ovinos)
para alimento de gado bovino, desco-
nhece-se o mecanismo exacto que
iniciou a doença.
Em Portugal, o primeiro caso de
encefalopatia espongiforme bovina
(BSE, na sigla em inglês) foi detectado
em 1990 num animal importado do
Reino Unido. Em 2003, foram identi-
Æcados no país os primeiros casos de
scrapie atípica.
“Não se conhece o potencial de
transmissão desta doença [a scrapie
atípica] a outras espécies pecuárias
nem a humanos”, começa por referir-
se num comunicado sobre o trabalho
publicado na revista cientíÆca Procee-
dings of the National Academy of Scien-
ces (PNAS).
Tal como outras encefalopatias
espongiformes transmissíveis, sabe-
se que a scrapie atípica é causada pela
conversão da proteína priónica nor-
mal Æsiológica numa isoforma pato-
lógica. A interacção entre a isoforma
patológica e a Æsiológica é assim con-
siderada o momento-chave na trans-
missão de priões, proteínas anormais
A proteína prião torna-se infecciosa quando assume uma forma anormal
que esburacam o cérebro e o deixam
Como os priões parecido com uma esponja.
que existiam nas Agora, um grupo de cientista de
Espanha, França, Noruega, Reino
vacas também Unido e Portugal — nomeadamente
infectaram Leonor Orge, investigadora do Insti-
tuto Nacional de Investigação Agrária
pessoas que e Veterinária, em Oeiras — quis saber
ingeriam carne mais sobre os mecanismos da scrapie
atípica. Para isso, transmitiu--se scra-
e outros produtos pie atípica a ratinhos transgénicos,
contaminados, isto é, modelos animais que expres-
sam a proteína priónica bovina em
a epidemia foi vez da dos ratinhos.
uma grande VeriÆcou-se então que a transmis-
são da scrapie atípica nos ratinhos
preocupação transgénicos originava a estirpe da
DR
encefalopatia espongiforme bovina
que levou à epidemia da doença das
vacas loucas. Viu-se ainda que o agen-
te patogénico da encefalopatia espon-
giforme estava na maioria das amos-
tras analisada. “Estes priões da ence-
falopatia espongiforme bovina
originar-se-ão devido à infecção do
prião da scrapie atípica”, indica-se no
comunicado.
Carcaças infectadas
Mas como pode a scrapie atípica ter
dado origem à epidemia da encefalo-
patia espongiforme bovina? Os inves-
tigadores juntaram três informações:
a epidemia da doença das vacas lou-
cas foi maior devido à reciclagem de
carcaças de animais infectados para
alimento de gado bovino; a scrapie
atípica em pequenos ruminantes no
Reino Unido foi detectada antes do
surgimento da epidemia; e agora
observou-se a presença de priões da
encefalopatia espongiforme bovina
na scrapie atípica. Resultado: as car-
caças de ovinos infectados com scra-
pie atípica usadas no fabrico de rações
para bovinos terá originado a estirpe
que veio a causar a epidemia.
Implicações na saúde
“O nosso estudo traz um conheci-
mento sem precedentes sobre a evo-
lução das propriedades biológicas
dos priões que veio a ser desenca-
deada pela transmissão entre espé-
cies [de ovinos para bovinos]”, subli-
nha ao PÚBLICO Juan Carlos Espino-
sa, investigador do Instituto Nacional
de Investigação e Tecnologia Agrária
e Alimentar, em Espanha, e um dos
autores do trabalho. O cientista des-
taca também as “grandes implica-
ções na saúde pública” deste traba-
lho devido ao risco de ressurgimento
desta epidemia. Em 2014, Portugal
obteve o estatuto de segurança mais
elevado (“país de risco negligenciá-
vel de BSE”) em relação à encefalo-
patia espongiforme bovina.
Como forma de evitar um ressur-
gimento da doença das vacas loucas,
Juan Carlos Espinosa refere que os
tecidos de pequenos ruminantes
não devem ser usados para alimen-
tação de gado bovino. “A exposição
do gado bovino aos tecidos de
pequenos ruminantes deve ser limi-
tada, para que se evite novas ocor-
rências da encefalopatia espongifor-
me bovina”, avisa.
Como os priões que existiam nas
vacas também infectaram pessoas
que ingeriam carne e outros produ-
tos contaminados, esta epidemia
tornou-se uma grande preocupação
de saúde pública. Saltou a barreira
das espécies e causou uma variante
nos humanos da doença de Creut-
zfeldt–Jakob, doença que tinha sido
descrita em 1920 pelos neurologis-
tas alemães Hans Gerhard Creut-
zfeldt e Alfons Maria Jakob.
teresa.serafim@publico.pt
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Dizer que Watchmen foi a obra responsável por atrair para a banda desenhada um público Nesta edição de coleccionador, o Público e a Levoir reúnem a série de BD original de
WATCHMEN:

mais adulto é pouco. Watchmen é a mais aclamada novela gráfica de todos os tempos,
a única presente na lista dos 100 melhores romances em língua inglesa desde 1923
eleitos pela revista Time. Galardoado com vários Prémios Kirby e Eisner e uma menção
honrosa no Prémio Hugo, mais voltado para literatura, Watchmen já mereceu uma
adaptação para cinema e, mais recentemente, uma série de TV da HBO.
1986/87, de Alan Moore e Dave Gibbons, e a sequela de 2017 Doomsday Clock, de Geoff
Johns e Gary Frank, que junta as personagens de Watchmen às do Universo DC – incluindo
um evento especial do DC Rebirth e a história Batman/Flash: The Button. Uma obra de um
realismo psicológico implacável e a mais definitiva desconstrução das histórias de
super-heróis, com o clima político sombrio da Guerra Fria como pano de fundo.

Colecção de 10 volumes, 6 dos quais inéditos em português. PVP unitário: 9,90 €. Preço total da colecção: 99 €. Periodicidade semanal ao sábado, entre 15 de Fevereiro e 18 de Abril de 2020. Stock limitado.
38 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
CULTURA
Polémica com folha de sala traz
à luz historial de censura no TMP
Sara Barros Leitão e Teatro Art’Imagem
relatam casos de “ingerência. E também
Miguel Januário viu alguns dos seus
stencils apagados por não encaixarem na
“narrativa” oÄcial da Câmara Municipal
Política cultural
André Borges Vieira
Em Junho de 2019, abria-se uma via
de entrada no Teatro Municipal do
Porto (TMP) para os artistas que ain-
da não tinham pisado os palcos das
suas duas casas, o Rivoli e o Campo
Alegre. O desaÆo, lançado num site
criado por uma equipa liderada pela
actriz Sara Barros Leitão, estendeu-
-se à cidade em cartazes espalhados
pelas ruas. Naquele mês, arrancaria
um projecto artístico que pretendia
questionar e repensar o TMP fora das
suas lógicas habituais. (Des)ocupação
convidava os artistas a inscreverem-
-se num Salão dos Recusados, uma
alusão ao histórico Salon des Refusés
nascido em 1863 como alternativa ao
Salon de Paris, reservado aos pinto-
res alinhados com os cânones da arte
académica .
Neste Salão dos Recusados versão
2019, teriam direito a entrar no Rivoli
todas as propostas artísticas de com-
panhias, programadores e artistas que
já tivessem tentado anteriormente,
sem sucesso, furar até ao teatro muni-
cipal, e também aqueles que o quises-
sem experimentar fazer pela primeira
vez. Ninguém Æcaria de fora. Sem Æl-
tragem, a porta abrir-se-ia a todos os
que respondessem à chamada —
foram cerca de três dezenas.
Pouco tempo depois de ser lança-
do o desaÆo, porém, o site já não
estava online e os cartazes esqueci-
dos na rua remetiam para um salão
com a porta trancada. Sem aviso pré-
vio ou explicação do TMP, passou o
mês de Junho e a intervenção não se
concretizou. Explica agora Sara Bar-
ros Leitão ao PÚBLICO que o projec-
to terminou abruptamente na
sequência das sucessivas ingerências
da direcção do teatro que na semana
passada foi acusada de censura e
abuso de poder. A escritora Regina
Guimarães e o encenador Tiago Cor-
reia dizem que Tiago Guedes, o
director artístico do TMP, recusou a
distribuição da folha de sala da peça
Turismo, que a 31 de Janeiro teve a
sua estreia no Teatro do Campo Ale-
gre, e impediu também a venda do
livro com o texto do espectáculo que
tinha sido previamente acordada.
Em causa, uma nota de rodapé que
criticava o modo como Paulo Cunha
e Silva, o ex-vereador da Cultura da
autarquia portuense, que morreu
em 2015, usou o conceito de “cidade
líquida” do sociólogo Zygmunt Bau-
man. O director da companhia de
teatro Art’Imagem, José Leitão,
recorda também que o mesmo já lhe
tinha acontecido em 2015 e acusa o
TMP de ter afastado as companhias
mais antigas da cidade.
Sara Barros Leitão decidiu tomar
uma posição pública relativamente
ao desfecho do seu projecto para
sublinhar que “estes artistas não
estão sozinhos”. “O que foi tornado
público não pode parecer um fait-
-divers”, aÆrma, referindo-se a mui-
tos outros artistas que, apesar de
terem passado por situações seme-
lhantes de “censura” e “abuso de
poder”, não estão em condições de
dar a cara, com “medo de represá-
lias”. Não o denunciou antes, diz ao
PÚBLICO, porque só no Ænal do ano
rescindiu formalmente o seu contra-
to com o TMP. A actriz, que foi tam-
bém buscar inspiração para o seu
projecto à ocupação do Rivoli, em
2006 — um protesto protagonizado,
entre outros, por Regina Guimarães,
para impedir a gestão privada a que qualquer material textual; a palavra programado pelo TMP? Contacte-
Rui Rio decidira entregar o teatro
Sara Barros Leitão “recusados”, por exemplo, terá sido nos” que o cartaz foi para a rua.
municipal —, aÆrma não querer reconhece o proibida de ser usada em qualquer A actriz foi cedendo até perceber
esmiuçar o seu caso pessoal para não outro contexto que não a designação que o projecto que tinha idealizado
desviar as atenções de um “foco
investimento da do projecto, por “poder pôr em cau- estava a ser reescrito. Por já não se
maior”: o facto de a instituição estar autarquia, sa a instituição”. rever nele, a ideia de lhe pôr termo
a ser gerida “não a pensar no interes- Outra de “muitos” intromissões foi ganhando terreno, até cair a
se público”, mas em “convicções
mas diz aconteceu na escolha da frase que “gota de água” que precipitou a sua
pessoais”. que a censura seria impressa no cartaz da convo- decisão. Numa conversa com Tiago
Após ter recebido “carta-branca” ccatória
catória para o Salão dos Recusados. Guedes, o director do TMP ter-lhe--
para pôr em marcha o seu projecto
não pode “Já foi recu
recusado pelo TMP? Con- á perguntado: “Como é que tu vais
sem qualquer interferência externa, ser o preço tacte-nos” era a frase que a
tacte-no garantir que nenhum dos artistas do
o TMP ter-se-á “intrometido” em actriz d
diz ter escolhido ini- Salão dos Recusados vem para cá
todas as decisões. “Aquela carta-
a pagar para cial
cialmente com a sua dizer mal da Câmara do Porto?”. A
-branca aÆnal tinha muitas linhas haver um teatro eq
equipa. O TMP quis actriz pediu a rescisão do contrato,
azuis”, aÆrma. As interferências, reformulá-la e foi com
re que foi aceite a 11 de Junho. Desde
detalha, passaram pela revisão de
municipal a frase “Ainda não foi então, o processo seguiu a via jurí-

dica até ao Ænal do ano, quando a
actriz assinou um documento
cedendo à autarquia os direitos
autorais das ideias que tinha desen-
volvido. O que considera ilegal do
ponto de vista do Código do Direito
de Autor. Fê-lo, contudo, por enten-
der ser a única forma de se desvin-
cular deste processo.
Falta de independência
Sara Barros Leitão reconhece o esfor-
ço e o investimento feitos pela autar-
quia e pela direcção artística do TMP,
depois dos “anos complicados” do
mandato de Rui Rio. Mas considera
que a censura não pode ser o preço
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 39
O Teatro
Municipal
Rivoli voltou a
ter gestão
pública com a
chegada de
Rui Moreira à
Câmara do
Porto
ADRIANO MIRANDA
a pagar para a cidade ter um teatro
municipal. Sublinha ainda a falta de
independência da direcção do TMP,
que muitas vezes “se confunde com
o executivo camarário”.
O director do Teatro Art’Imagem,
que diz ter Æcado muito pouco sur-
preendido com as notícias que leu
nos últimos dias, subscreve estas
posições. José Leitão recorda que
entre 2014 e 2015 passou por um
episódio semelhante. Pouco depois
de Tiago Guedes assumir funções no
TMP, a sua companhia abordou o
director para levar uma peça ao pal-
co do Campo Alegre. O pedido foi
aceite, mas diz o encenador que de
uma forma “clandestina”. “Não apa-
recemos na agenda do teatro, não
foi feita divulgação e foi-nos dito
que tínhamos de pagar os serviços
dos funcionários de apoio à sala”,
aÆrma. O TMP também não impri-
miu folha de sala, mas a companhia
que dirige imprimiu-a do seu pró-
prio bolso.
No ano seguinte, acusa, repetiu-se
o episódio. A companhia decidiu
então relatar o sucedido num comu-
nicado que seria distribuído no
ensaio de imprensa. Mas José Leitão
diz que o acesso dos jornalistas foi
vedado pelo TMP. Depois dessa peça,
estava combinado levar a cena outra
obra — O Fascismo (Aqui) Nunca Exis-
Programação
tiu, parte de uma trilogia — que nun-
Coliseu Porto Ageas
ca chegou a apresentar-se porque a www.coliseu.pt
partir daí a equipa do teatro nunca
mais respondeu aos seus e-mails.
A “cidade liquida”
O artista Miguel Januário, responsá-
vel pelo projecto maismenos, e
comentador no programa Porto por
Ponto, da Rádio Manobras, conside-
ra existir um clima de controlo gene-
ralizado da comunidade artística do
Porto que ultrapassa as artes de pal-
co e a questão do TMP. Um controlo
que entende ser preconizado por
uma autarquia que criou uma “nar-
rativa” da cidade que exclui todos os
que não estão alinhados com ela.
Na área em que se move, a da street
art, veriÆca o mesmo tipo de “higie-
nização”. Recorda os tempos de Rui
Rio, em que a arte urbana era gene-
ralizadamente apagada das paredes
da cidade. “Agora já não é, mas só
sobrevive a que faz parte da narrati-
va oÆcial”, aÆrma, denunciando uma
triagem do que é considerado “incó-
modo”. Já viu alguns dos seus stencils
serem apagados. O último até há
bem pouco tempo estava espalhado
pelas ruas com a inscrição “cidade
liquida” — não durou muito nas pare-
des. “Ou estás connosco ou estás
contra nós”, é assim que o artista
resume os critérios da política cultu-
ral da cidade.
Contactado pelo PÚBLICO, Tiago
Guedes preferiu não responder a
qualquer questão, remetendo para
a reunião do executivo camarário da
próxima segunda-feira em que esta-
rá presente a pedido do PS, do PSD,
da CDU e do Bloco de Esquerda, que
exigem ver esclarecido o alegado
acto de censura praticado pela direc-
ção do TMP.
40 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
CULTURA
CPF levou 19 anos a participar à PJ o
extravio de obra de Dorothea Lange
Já chegou à Procuradoria-Geral da República o relatório enviado pelo Ministério da Cultura sobre o
desaparecimento de uma centena de peças da colecção de arte contemporânea do Estado
Política cultural
Isabel Salema
Foram precisos 19 anos para que um
relatório sobre o desaparecimento de
um exemplar da fotograÆa de
Dorothea Lange intitulada Migrant
Mother fosse enviado à Polícia Judi-
ciária (PJ). A fotograÆa desta norte-
-americana é uma das 112 obras da
Colecção de Arte Contemporânea do
Estado, conhecida como Colecção da
Secretaria de Estado da Cultura (SEC),
cujo paradeiro não foi possível loca-
lizar na actualização do inventário
deste acervo com mais de mil peças
realizado pela Direcção-Geral do
Património Cultural (DGPC), um orga-
nismo do Ministério da Cultura.
A obra comprada no Ænal dos anos
80 pelo especialista em fotograÆa Jor-
ge Calado — assim como outras cerca
de 330 fotograÆas — foi deixada em
depósito no Centro Português de
FotograÆa (CPF) em 1997, ano em que
esta instituição foi criada no Porto.
Migrant Mother (1936), que não é
uma prova vintage, foi impressa em
1981 por Arthur Rothstein, um fotó-
grafo que, tal como Dorothea Lange,
trabalhou para a Farm Security Admi-
nistration. Em Janeiro de 1998, foi
avaliada em 4500 dólares, informa o
CPF ao PÚBLICO: um valor muito infe-
rior ao atribuído às provas de época.
O exemplar do CPF desta que é
considerada, muito provavelmente,
a fotograÆa mais famosa do mundo
— o Museum of Modern Art (MoMA)
de Nova Iorque inaugura amanhã
uma retrospectiva dedicada à fotógra-
fa — foi emprestado em 1998 para uma
exposição realizada no Centro Cultu-
ral de Belém (CCB) no âmbito do Fes-
tival dos 100 Dias, organizado pela
Exposição Mundial de 1998 (Expo-
98). Com comissariado de António
Mega Ferreira e tendo Jorge Calado
como consultor, Viagem ao Século XX
propunha um olhar sobre a cultura
visual do século passado.
Segundo o actual director do CPF,
Bernardino Castro, a fotograÆa não
regressou ao Porto, mas o relatório
interno que dá conta do seu desapa-
recimento, realizado em 2000 por
um técnico daquele centro — Silvestre
Lacerda, hoje responsável pela
A fotografia de Dorothea Lange
perdeu-se algures entre o
Centro Português de Fotografia
e o Centro Cultural de Belém
Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos
e das Bibliotecas, que tem a tutela do
CPF no organograma do Ministério
da Cultura —, só foi entregue à Polícia
Judiciária a 24 de Junho de 2019.
O relatório do CPF diz que a obra
não circulou com as cautelas necessá-
rias: “[Houve] vários procedimentos
com alguns erros, uns cometidos pela
entidade organizadora da exposição
Viagem ao Século XX, sendo de salien-
tar a inexistência de qualquer contro-
lo/registo de entrada e saída das peças
das reservas do CCB; outros pela enti-
dade transportadora R-Trans, como
seja [a falta de] uma guia de remessa
devidamente pormenorizada no caso
da entrega efectuada a 2 de Junho de
1998; outros imputáveis ao CPF,
nomeadamente pela inexistência de
comunicação oÆcial de falta da entre-
ga da imagem de Dorothea Lange,
Migrant Mother, sem moldura, após
terem sido recepcionadas todas as
obras que foram objecto de emprés-
timo à Sociedade Parque Expo 98
SA.”
Este relatório, terminado a 3 de
Agosto de 2000, conclui ainda que se
“torna necessário participar o seu
desaparecimento ao núcleo de inves-
tigação de obras de arte da PJ, a Æm
de se intensiÆcarem as investigações
tendentes à eventual recuperação da
referida obra”.
Dirigido na altura por Teresa Siza,
PAULO PIMENTA
que esteve até 2007 à frente do CPF,
o relatório acabou por não chegar à
PJ. Contactada pelo PÚBLICO, a anti-
ga directora escusou-se a explicar por
que razão a queixa não foi apresenta-
da. Igualmente contactado pelo
PÚBLICO, Mega Ferreira disse não se
lembrar de ver Migrant Mother na
exposição, nem de ter sido informado
do seu desaparecimento.
O caso da fotograÆa de Dorothea
Lange — sem os pormenores agora
relatados pelo PÚBLICO — é apenas
um dos que vêm descritos no relató-
rio da DGPC que o PÚBLICO pôde
consultar anteontem durante três
horas nas instalações do MC, em Lis-
boa. E se a queixa acabou por seguir
para a PJ no Verão do ano passado é
porque o CPF começou a rever o seu
inventário há dois anos, com o objec-
tivo de actualizar informação sobre
doações e novas aquisições e de iden-
tiÆcar imagens mal catalogadas. Foi
neste contexto que reapareceu o rela-
tório da fotograÆa de Lange, uma das
três da colecção SEC que não é possí-
vel localizar no CPF e que para ali
foram transferidas em 1997.
No relatório da DGPC, como o
PÚBLICO noticiou anteontem, há
outras 15 fotograÆas desaparecidas,
“possivelmente objecto de furto em
1993”. Ter-se-á igualmente perdido o
rasto a cerca de metade das restantes
94 obras, entre pintura, escultura,
desenho e muita gravura, logo em
1992, quando esta colecção criada em
1976 deixou de ser gerida pela
Direcção-Geral da Acção Cultural. “O
constante movimento de circulação
de obras ao longo de mais de quatro
décadas de existência da colecção
nem sempre [foi] acompanhado do
indispensável registo documental e
em sede de inventário”, lê-se no docu-
mento, citado pela Lusa, que também
consultou os dois dossiers com vários
anexos no Palácio da Ajuda.
“Diligências em curso”
Já ontem, a Procuradoria-Geral da
República, através do seu gabinete de
imprensa, conÆrmou ao PÚBLICO a
chegada do relatório da DGPC, que
“será, agora, objecto de análise”. A
direcção-geral referia no relatório que
já existiam “diligências em curso”
relativamente a 25 das obras desapa-
recidas.
Várias páginas deste extenso rela-
tório da DGPC servem, como o PÚBLI-
CO constatou, para descrever que
depois de 1992 se inicia um ciclo de
restruturações orgânicas no sector da
Cultura “que, progressivamente, con-
tribuiu para a diluição de competên-
cias relativas à gestão da colecção”.
Logo em 2003 tenta-se chegar a “um
inventário único” desta colecção que
actualmente está distribuída por
várias instituições, dentro e fora do
país, a maior parte em regime de
depósito de longa duração, destacan-
do-se a Fundação de Serralves, no
Porto, e a Câmara Municipal de Avei-
ro.
Nas primeiras páginas do relatório,
a directora-geral, Paula Silva, escreve
que é preciso “encontrar um local
que possa funcionar como reservas
da Colecção de Arte Contemporânea
do Estado”, capaz de integrar as
novas aquisições realizadas em 2019,
no Museu do Chiado, no Museu de
Serralves ou num pólo descentraliza-
dor.
isabel.salema@publico.pt

Ricardo Neves-Neves explora os lugares-comuns nacionais, Nossa Senhora de Fátima incluída
A caminho
do Quinto Império
Crítica de teatro
A Reconquista de Olivenza
mmmmm
De Ricardo Neves-Neves e Filipe
Barroso. Enc. Ricardo Neves-Neves.
Lisboa, São Luiz Teatro Municipal.
6/02. Lotação esgotada. Até 16/02.
Está tudo explicado: Espanha só deci-
diu anexar Olivença em 1801 porque
lá, escondida numa igreja, estava a
sétima bola de cristal, artefacto sem
o qual Portugal não poderia recons-
truir o corpo do dragão surgido numa
aparição ao rei Afonso I durante a
Batalha de Ourique, assim juntando
os objectos mágicos capazes de impe-
dir o Juízo Final e realizar o Quinto
Império e deixar o país a mandar nis-
to tudo. Confuso? Ora, ainda nem
apareceu Nossa Senhora, nem o Ban-
darra, quanto mais a campeã de
videojogos macaense e Mary
Poppins.
O que move a acção da comédia
musical A Reconquista de Olivenza,
engendrada por Ricardo Neves-Neves
(n. 1985) e pelo compositor Filipe
Raposo (n. 1979) — repetindo a frutuo-
sa colaboração em Banda Sonora
(2018) —, espectáculo pejado de
inÇuências e referências à cultura pop
a que não faltam uma espécie de
momento Marvel nem Bip Bip e o
Coiote; o que move a acção, escrevia,
para além de uma reÆnada e desabri-
da invenção da História, acontece uns
séculos depois. Estava a actual Rainha
de Portugal (Sílvia Filipe) a dormir,
quando, sem aviso, uma Nossa Senho-
ra e o poeta-profeta Bandarra lhe
invadem o sonho para informar que
o Apocalipse está marcado para o seu
reinado. Para o impedir, como no
Dragon Ball inspirador desta rábula,
é preciso conservar a posse das sete
bolas de cristal. O que tem de ser feito
depressinha, pois os espanhóis já
estão a caminho.
Dirigindo o espectáculo como um
circo de três pistas, sempre em
movimento, rodopiando como um
caleidoscópio, as canções a surgi-
rem no sítio certo, a música acen-
tuando as trapalhadas mas também
os momentos de ternura — como
quando as infantas de Portugal e
Espanha se embeiçam e os infantes
das duas nações caem nos braços
um do outro —, Neves-Neves usa o
absurdo, até o bizarro, para explo-
rar os lugares-comuns característi-
cos dos nacionais, seus mitos histó-
ricos e ódios de estimação — sejam
eles D. Sebastião ou Beatriz Costa
ou, genericamente, os espanhóis —,
com grande contribuição do imagi-
nativo cenário de Catarina Barros e
da Ærme direcção de orquestra pelo
maestro Cesário Costa.
Voltando ao assunto. Para vencer
Espanha nesta demanda, a Rainha
ESTELLE VALENTE
precisa de aliados. Que encontra, logo
que cruza o Tejo e negoceia com os
representantes da Margem Soviética,
entretanto inspirados por uma apari-
ção de Álvaro Cunhal. Convence o
Califa de Alcácer do Sal (David Perei-
ra Bastos), as Nossas Senhoras de
Fátima, de Guadalupe e de Lourdes
(Sandra Faleiro, Tânia Alves, Teresa
Coutinho), saca o apoio do Imperador
da China e, por conta do Tratado de
Windsor, de Inglaterra. E lá vai esta
tropa muito fandanga a caminho do
Alentejo, em carro eléctrico e séquito
de trotinetas, até chegar a Vila Viçosa,
onde, depois de um piquenique, pre-
para o ataque Ænal. E, quando, depois
de muitas peripécias, raptos e incur-
sões africanas, estava tudo a correr
tão bem, eis que o inimigo abre o ralo
do Mediterrâneo. Não fora o sacrifício
de Bubu (Márcia Cardoso), coman-
dante do exército real…
Com 22 actores em palco, 16 músi-
cos no fosso da orquestra, um cenário
elaborado e o habilidoso desenho de
luz de José Álvaro Correia, o encena-
dor joga os elementos cénicos como
um virtuoso malabarista, usando o
seu texto como suporte de um espec-
táculo voluptuoso, onde não cabe
uma ponta de nacionalismo, mas
onde se encontra um visão distancia-
damente livre e libertária dos tiques
e das manias dos portugueses e dos
seus deslumbramentos.
Rui Monteiro
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 41
Tratado de Pequim
entra em vigor em
Abril mas Portugal
continua de fora
Política cultural
Sérgio C. Andrade
GDA lamenta que Governo
não tenha ainda ratificado
o documento que reforça
os direitos de músicos,
actores e bailarinos
O Tratado de Pequim, redigido em
2012 pela Organização Mundial da
Propriedade Intelectual (OMPI) com
o objectivo de reforçar a protecção
dos direitos de propriedade intelec-
tual de músicos, actores e bailarinos,
vai entrar em vigor no dia 28 de
Abril, mas ainda não foi ratiÆcado
por Portugal.
Empenhada na ratiÆcação do tra-
tado pelo Governo português desde
2012, a cooperativa GDA (Gestão dos
Direitos dos Artistas) explica, num
comunicado publicado no seu site,
que a recente adopção do tratado
pela Indonésia faz chegar a 30 o
número de países aderentes, que
tinha sido considerado a base míni-
ma para a sua entrada em vigor por
aquela agência das Nações Unidas.
Ao PÚBLICO, o presidente da coo-
perativa, Pedro Wallenstein, lamen-
ta que Portugal continue à espera de
uma decisão conjunta da União
Europeia (UE) para o efeito. “Nós
não temos de estar dependentes da
UE para isto”, diz o músico, lem-
brando que países como Espanha,
França e Alemanha já ratiÆcaram o
acordo. Além disso, “temos respon-
sabilidade inclusivamente com os
países lusófonos”, acrescenta
Wallenstein, considerando que Por-
tugal os deixou “órfãos” ao não com-
parecer na reunião na capital chine-
sa em Junho de 2012, quando o tra-
tado foi assinado.
“O Tratado de Pequim vem reco-
nhecer a todos os artistas do audiovi-
sual novos direitos, semelhantes aos
que já vigoram na música. Os artistas
passam a partilhar com os produto-
res as receitas geradas por produções
audiovisuais a nível internacional,
adquirindo direitos morais que pre-
vinem a modiÆcação ou a mutilação
das suas prestações nos meios audio-
visuais, como o vídeo, o cinema e a
televisão. Pela primeira vez, o quadro
jurídico internacional passa a con-
templar os direitos dos artistas do
audiovisual no ambiente digital”,
esclarece a GDA. Esses direitos dizem
CULTURA
respeito à reprodução, à distribuição,
ao aluguer e à difusão pela Internet
dos seus trabalhos enquanto execu-
tantes e intérpretes.
O acordo que em Abril entrará em
vigor foi redigido para actualizar e
adequar à era digital as disposições
da Convenção de Roma, que em 1961
deÆniu as regras para a protecção
dos artistas, intérpretes ou executan-
tes, dos produtores de fonogramas
e dos organismos de radiodifusão.
Na altura, a indústria audiovisual,
ainda muito condicionada por
Hollywood, nota o presidente da
GDA, Æcou de fora. “Até 2012, havia
a presunção de que o artista, ao assi-
nar o contrato com o produtor, lhe
transmitia automaticamente todos
os direitos”, diz Wallenstein. Foi em
Pequim que esse quadro foi actuali-
zado, com a aceitação, nomeada-
mente por parte dos produtores
cinematográÆcos e das televisões, da
extensão desses direitos aos artistas
e intérpretes.
Este princípio está já também con-
Pedro
Wallenstein
defende que
Portugal não tem
de estar à espera
da União
Europeia
sagrado na legislação portuguesa,
mas a GDA defende que ele ganhará
maior consistência com a ratiÆcação
do Tratado de Pequim. Daí o desaÆo
ao Ministério da Cultura (MC) para
que avance sem Æcar à espera de
uma posição conjunta da UE, que já
tarda oito anos, mesmo depois de o
comissário europeu da pasta à época
se ter “comprometido com uma rati-
Æcação conjunta”, recorda o presi-
dente da cooperativa.
Pedro Wallenstein diz não ter ain-
da conseguido nenhuma reunião
formal com o MC. “Desde 2012,
temos chamado a atenção dos suces-
sivos ministros da Cultura para este
tema, e a conversa foi sempre mais
ou menos a mesma: ‘Somos um país
pequeno, não vamos adiantar-nos’”,
conta, lamentando “a inércia do
Governo português”.
Até ao fecho desta notícia, não foi
possível ter uma resposta do gabine-
te do MC sobre a sua posição peran-
te o Tratado de Pequim.
sandrade@publico.pt
42 • Público ClassiÄcados • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

Desperte
os sentidos do Amor
SUGESTÕES DIA DOS NAMORADOS

1 2

4 1 CABAZ JUNO
PVP 28,90€

2 CABAZ CUPIDO
PVP 54,90€
Disponível apenas em loja.publico.pt
3 (acresce portes de envio)

3 CABAZ EROS
PVP 28,90€

4 CABAZ AFRODITE
PVP 35,90€

5 ANDORINHA BORDALO PINHEIRO

Média
6
PVP 12,50€

6 MINI PACK DESEJO

Mel com menta, chocolate, salgado
PVP 8,95€

7 BOMBONS RECHEADOS COM MEL

7
N.5 Winter (menta)
9 N.25 Christmas (canela)
N.88 Fire (picante)
8 PVP 11,90€

8 N. 66 BEELOVE
Mel com chocolate
PVP 6,00€
DESCUBRA OUTRAS SUGESTÕES EM:
Loja Redacção do Público:
Edifício Diogo Cão - Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa | Tel.: 210 111 020 9 LIKORIS®
Dias úteis das 9h às 19h e sábado das 11h às 17h Licor ouro e prata
PVP 11,50€
E em loja.publico.pt

Limitado ao stock existente. É proibida a venda de álcool a menores de 16 anos. Seja responsável, beba com moderação.
 Público ClassiÄcados • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 43

EXPLICADOR(A) PRECISA-SE º ANIVERSÁRIO

1970 - 2020
ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO(A) QUE DÊ APOIO
A ALUNO DO 10.º ANO DE HUMANIDADES.
MORO PERTO DE S. JOÃO DO ESTORIL.
DÊ REFERÊNCIAS.
AdRA - Águas da Região de Aveiro, S.A.
CONTACTO: 914310031

TRIBUNAL JUDICIAL AVISO

ALUGO DA COMARCA
DE LISBOA OESTE
INTERRUPÇÃO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Juízo Local Cível de Cascais
- Juiz 1
Processo: 171/20.0T8CSC 10/02/2020 – DAS 09:00H ÀS 18:00H
T2 ANÚNCIO
Acompanhamento de Maior
Requerente: Ministério Público Rua da Trapa, Rua das Oliveiras, Rua Fonte da Presa, Viela do Covão,
Acompanhada: Maria Margarida Viela da Devesa e Rua das Arrôtas ² 8QLmRGH)UHJXHVLDVGH6-RmRGH/RXUH
LISBOA Pinto Vasconcelos
Faz-se saber que foi distribuído
neste tribunal, o processo de
H)URVVRV² Município de Albergaria-a-Velha
&)-Ò$/Ò,%),/ÒÒ&%6%2%)2/ÒÒ&%)2!ҍ3Ò(
Insolvência de Costa & Frias Lda.
Acompanhamento de Maior, em
que é requerida Maria Margari- Tribunal Judicial da Comarca dos Açores - Juízo Central Cível e Criminal de Ponta Delgada
da Pinto Vasconcelos, nascida Juiz 1 - Processo nº 600/19.5T8PDL

933 427 299 em 05-11-1941, filha de Celeste

dos Santos Pinto, nacional de
Portugal, com domicílio: Av.
Adelino Amaro da Costa, Lote
297 - 1.º A, 2775-149 Parede,
3 VIATURAS, 1 LOJA
EMPREGO
INSCREVA-SE EM
com vista à determinação de
medidas adequadas.
N/ Referência: 123577523
Cascais, 29-01-2020.
E 1 ARMAZÉM
AÇORES
A Juíza de Direito
EMPREGO.PUBLICO.PT Dr.ª Cátia Costa Santos
EM PARCERIA COM A Oficial de Justiça O Presidente do Conselho de Administração
Cristina Matos
Fernando Vasconcelos, Eng.
Público, 08/02/2020

✝
Ministério da Educação e Ciência
Agrupamento de Escolas de Francisco de Holanda, Guimarães
Código 151014
AVISO
O Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda torna público que se encontra
aberto o Procedimento Concursal Comum para recrutamento de 2 (dois) assistentes
operacionais em regime de contrato de trabalho em funções públicas a termo reso-
lutivo certo a tempo parcial. *7&$0
t
û (matrícula 48-GP-99) de 2008
ARMANDO DA CUNHA O Procedimento Concursal encontra-se aberto pelo período de 10 dias úteis, a contar
da data da publicação do presente aviso no Diário da República n.º 26, 2.ª Série de
06/02/2020 e onde se encontram enunciadas as regras referentes ao mesmo. /*44"/
t
û
(matrícula 47-IV-08) de 2010
Este concurso é válido para eventuais contratações que ocorram durante o ano es-
BAETAS colar 2019/2020.
Guimarães, 07 de fevereiro de 2020
*7&$0
t
û (matrícula 96-HM-05) de 2009
A Diretora, Rosalina de Jesus Rodrigues Pinheiro

FALECEU º ANIVERSÁRIO
1970 - 2020
*ARMAZÉM (439m2) & CASA
2
de R/C e 1º andar com quintal (189m )
Sua esposa, filhas, genros, netos e restante família & logradouro (3305m2)
participam o seu falecimento e que o funeral se realiza
hoje dia 8 pelas 16:30 horas, das Capelas Exequiais de
São João de Deus (Praça de Londres), para o Cemitério
dos Olivais. Às 16:00 horas será celebrada Missa de
Corpo Presente.
Agência Funerária Magno - Alvalade -"(0"
t
$"#06$0
Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222
Serviço Funerário Permanente 24 Horas
Canada do Silvestre, nº 7
FIM DO LEILÃO: 26 FEVEREIRO, 4ª FEIRA ÀS 11H30
û
*Arrendado pelo valor mensal de 800€
*OÓDJP
/PWFNCSP
EF

t
%VSBÎÍP

BOPT
Insolvência de Délio Alves & Alves – Construção, Lda
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste - Juízo de Comércio de Sintra – Juiz 6
Processo nº 17467/19.6T8SNT

-05&
%&
5&33&/0
t
78.500€
-0+"
t
û
D

MVHBSFT
EF
FTUBDJPOBNFOUP
(nº 42 e 43)
PARA CONSTRUÇÃO e uma arrecadação (letra E)
(Área total de 2280m2)
Maria Teresa Vasconcelos
Moreira Paes de
Magalhães Villas-Boas PONTA DELGADA (SÃO PEDRO)
3VB
+PÍP
4PBSFT
+ÞOJPS
O

3$
(Confortada com os Sacramentos
da Santa Madre Igreja) CASCAIS VISITAS a combinar: 



)ÏMEFS
1BDIFDP
A sua Família participa que na segunda-
SÃO DOMINGOS DE RANA
Estrada 5 de junho, 1091 Trajouce
feira, dia 10 de Fevereiro, pelas 19.15 #! 4Ž , / ' / Ò / . , ) . %
horas será rezada Missa de 7.º Dia C A T ÁLOGO ONLIN E Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
pelo seu eterno descanso na Igreja
Paroquial de Cascais. ,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò
4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT
,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò
4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT
44 • Público ClassiÄcados • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

Leilões Eletrónicos
Vila Franca de Xira / Lisboa Termina a 28 de Fevereiro de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h05. Vila Franca de Xira
Transmissão da Sociedade - “Sociedade Agrícola da Quinta de Santo André, Lda.” Termina a 03 de Mar. de 2020ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h05.
1. Totalidade das quotas da “Sociedade Agrícola da Quinta de Santo André, Lda.”
1.1. Quota de Humberto Pardal Ribeiro, no valor 7.481,97€
1.2. Quota de Maria Manuela Fernandes Ferreira Ribeiro, no valor 2.493,99€
“Sociedade Agrícola da Quinta de Santo André, Lda.” V4
Nº de Matrícula/NIPC: 501576711 c/ 25.936,22m²
Natureza Jurídica: Sociedade por Quotas
Sede: Quinta de Santo André, 2600-089 Vila Franca de Xira
Distrito: Lisboa Concelho e Freguesia: Vila Franca de Xira

Património:
 ^ŽĐŝĞĚĂĚĞ ŐƌşĐŽůĂ ĚĂ YƵŝŶƚĂ ĚĞ ^ĂŶƚŽ ŶĚƌĠ͕ >ĚĂ͘ Ġ ƉƌŽƉƌŝĞƚĄƌŝĂ ĚĞ Ƶŵ ŝŵſǀĞů ĐŽŶƐƟƚƵşĚŽ ƉĞůŽƐ
prédios:
1. Prédio misto com área total de 25.936,22m2, composto de parte urbana: Casa de rés-do-chão e 1º
andar, adega, casa do caseiro, casa para gado e pocilgas, área coberta: 408,07m2, logradouro: 488,15m2 e
ƉĂƌƚĞƌƷƐƟĐĂĐŽŵƉŽƐƚĂƉŽƌWŽŵĂƌĚĞůĂƌĂŶũĞŝƌĂƐ͕ǀŝŶŚĂ͕ŽůŝǀĞŝƌĂƐ͕ĄƌǀŽƌĞƐĚĞĨƌƵƚŽ͕ĚĞƉĞŶĚġŶĐŝĂĂŐƌşĐŽůĂ͕
cultura arvense, pastagem e mato, área total: 25.040m2͕ ƐŝƚŽ Ğŵ ĂƐĂů ĚĞ ^ĂŶƚŽ ŶĚƌĠ ʹ ĨƌĞŐƵĞƐŝĂ Ğ
concelho de Vila Franca de Xira, C.R.P. de Vila Franca de Xira: 1917, matriz u: 2929, matriz r: 2, secção N.
  Ϯ͘ WĂƌƚĞ ĚŽ ƉƌĠĚŝŽ ƌƷƐƟĐŽ ĐŽŵ ĄƌĞĂ ƚŽƚĂů ĚĞ ϭϳϬ͕ϱϬŵ2, terreno para arredondamento de extremas, ZƷƐƟĐŽ
ĚĞŶŽŵŝŶĂĚŽĐŽŵŽĂƐĂůĚĂ&ůĂŵĞŶŐĂŽƵ&ŽƌŵĞŶŐĂ͕ƐŝƚŽĞŵDŽŶƚĞ'ŽƌĚŽ͕ĨƌĞŐƵĞƐŝĂĞĐŽŶĐĞůŚŽĚĞsŝůĂ c/29.982,00m2
Franca de Xira, C.R.P. de Vila Franca de Xira: 1919, matriz r: 41, secção K.
ϯ͘WĂƌƚĞĚŽƉƌĠĚŝŽƌƷƐƟĐŽĐŽŵĄƌĞĂƚŽƚĂůĚĞϭϴ͘ϲϯϰŵ2͕ƚĞƌƌĞŶŽĚĞĐƵůƚƵƌĂĂƌǀĞŶƐĞʹĚĞƐƟŶĂĚŽĂĂƌƌĞĚŽŶ- • “Casal das Bragadas” e “Casal dos Galegos”,
damento de Calhandriz
ĞdžƚƌĞŵĂƐ͕ ĚĞŶŽŵŝŶĂĚŽ ĐŽŵŽ ĂƐĂů ĚĂ &ůĂŵĞŶŐĂ ŽƵ &ŽƌŵĞŶŐĂ͕ ƐŝƚŽ Ğŵ DŽŶƚĞ 'ŽƌĚŽ͕ ĨƌĞŐƵĞƐŝĂ Ğ • Vila Franca de Xira (Calhandriz): 707
concelho de Vila Franca de Xira, C.R.P. de Vila Franca de Xira: 1918, matriz r: 41, secção K. 2077, matriz u: ͻDĂƚƌŝnjƌƷƐƟĐĂ͗ϴƐĞĐĕĆŽϭ';ƉĂƌƚĞͿ͘
3967.
Imóvel avaliado em 580.000,00€.
Valor de venda: 89.946,00€
Redução de Valor Valor de venda: 493.000,00€ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂŽŶƐƚƌƵĕƁĞƐĐŽƌĮů͕^͘͘
Falência de Humberto Pardal Ribeiro e Maria Manuela Fernandes Ferreira Ribeiro - Processo nº 3323/11.0TVLSB Processo nº 28444/11.5T2SNT

Vila Franca de Xira Santarém Santarém Amadora Vila Nova de Gaia

Termina a 03 de Mar. de 2020ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h10. Termina a 05 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 05 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h05. Termina a 05 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h10. Termina a 12 de Mar. de 2020ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h30.
V5 V84A V85 V86 V1

Prédio misto Terreno p/ construção ZƷƐƟĐŽ Escritório Apartamento T2

c/136.387,00m2 c/3.349,70m2 c/45.280,00m2 c/92,44m2 c/108,00m2
• “Casal das Bragadas” e “Casal dos Galegos”, • Malhadas e Covões, Benavente. • Covões, Benavente. • Av. Eduardo Jorge nº55. • Travessa de Campos,nº27
Calhandriz • C.R.P. Benavente (Benavente): 4794. • C.R.P. Benavente (Benavente): 769. • 4º Esquerdo. • Rés-Chão esq.
• Vila Franca de Xira (Calhandriz): 708 • Matriz u: 6706. • Matriz r: 39BQ. • Fracção “I”. • Fracção “D”
ͻDĂƚƌŝnjƌƷƐƟĐĂ͗ϲϱƐĞĐĕĆŽϭ&͘ • C.R.P. Amadora(Falagueira-Venda Nova): 758 • C.R.P. Vila N. de Gaia (Santa Marinha): 1950
• Matriz urbana: 746. • Matriz u: 2107. • Matriz u: 6394

Valor de venda: 340.967,50€ Valor de venda: 32.580,11€ Redução de Valor Valor de venda: 134.708,00€ Redução de Valor Valor de venda: 130.900,00€ Valor de venda: 90.000,00€
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂŽŶƐƚƌƵĕƁĞƐĐŽƌĮů͕^͘͘ Insolvência Fernando Caneças - Empreendimentos Imobiliários, Lda. Insolvência Fernando Caneças - Empreendimentos Imobiliários, Lda. Insolvência Fernando Caneças - Empreendimentos Imobiliários, Lda. Insolvência Sérgio Manuel Pereira Magalhães e Outra
Processo nº 28444/11.5T2SNT Processo nº 182/09.6TYLSB Processo nº 182/09.6TYLSB Processo nº 182/09.6TYLSB Processo nº 2279/19.5T8VNG

Amadora Amadora Almada Almada Coimbra

Termina a 05 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h10. Termina a 05 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h20. Termina a 10 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 10 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h05. Termina a 10 de Mar. de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h15.
V90 L2 V1 V3 L1

Loja 5x Garagens Apartamento T4 Apartamento T3 WƌĠĚŝŽƵƌďĂŶŽнZƷƐƟĐŽƐ

c/49,03m2 c/ área total 135,13m2 c/152,20m2 c/93,30m2 c/ área total 13.380,00m2
• Av. Dom José I 3C, Reboleira • Av. Dom José I 1, Reboleira. • Rua António Nobre, nº1, Cacilhas • Av. 25 de Abril, nº55, Cova da Piedade • Estrada Nacional nº 1, Várzea, Ega
ͻ>ŽũĂ • 5 Garagens na 4ª Cave C. • 7ºEsq. • 2ºDto. • Condeixa-a-Nova (Ega): 656, 653, 654, 652,
• Fracção “L” • Fracções “G”, “H”, “I”, “J” e “I”. • Fracção “GR”. • Fracção “D”. 649 e 647
• C.R.P. Amadora (Reboleira): 60 • C.R.P. Amadora (Reboleira): 63. • C.R.P. Almada (Cacilhas): 263 • C.R.P. Almada (Cova da Piedade): 304 • Matriz u: 2905 e 1794
• Matriz u: 2299. • Matriz u: 2392. • Matriz u: 25 • Matriz u: 2681 • Matriz r: 12855, 12856, 12858, 12861 e
• (Imóvel encontra-se arrendado) 12862
Redução de Valor Valor de venda: 71.060,00€ Redução de Valor Valor de venda: 57.430,25€ Valor de venda: 180.000,00€ Valor de venda: 141.412,50€ Valor de venda: 270.000,00€
Insolvência Fernando Caneças - Empreendimentos Imobiliários, Lda. Insolvência Fernando Caneças - Empreendimentos Imobiliários, Lda. Insolvência Célia Nakai Ferraz e Leonardo Ferraz Insolvência Célia Nakai Ferraz e Leonardo Ferraz Insolvência Manuel António Soares
Processo nº 182/09.6TYLSB Processo nº 182/09.6TYLSB Processos nº 2435/12.7TBALM e 2650/14.9TBALM Processos nº 2435/12.7TBALM e 2650/14.9TBALM Processo nº 6841/17.2T8CBR

ZĞŐŝƐƚŽŽďƌŝŐĂƚſƌŝŽƉĂƌĂƉĂƌƟĐŝƉĂĕĆŽŶŽ>ĞŝůĆŽůĞƚƌſŶŝĐŽʹZĞŐŝƐƚŽŐƌĂƚƵŝƚŽ͘ -Não dispensa a consulta das Condições Gerais de Venda (Disponíveis no site e na brochura). ŝĂƐĞŚŽƌĄƌŝŽƐĚĞǀŝƐŝƚĂƐĚŝƐƉŽŶşǀĞŝƐŶĂƐƌĞƐƉĞĐƟǀĂƐďƌŽĐŚƵƌĂƐĚĞǀĞŶĚĂ͘

Sede: ZƵĂĚĂZĞƉƷďůŝĐĂ͕ϰϬʹϯǑ͕ϮϲϳϬͲϰϲϵ>ŽƵƌĞƐ
WWW.ONEFIX-LEILOEIROS.PT Informações para:
ĐŽŵĞƌĐŝĂůΛŽŶĞĮdžͲůĞŝůŽĞŝƌŽƐ͘Ɖƚ Telefone: ϮϭϵϴϮϯϭϲϯ Siga-nos Siga-nos
 Público ClassiÄcados • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 45

Leilões Eletrónicos
Trofa Vila do Conde Valongo Valongo Valongo
Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00.
V1 V2 V3 V4 V6

Escritório Armazém Terreno p/ construção Terreno p/ construção Terreno p/ construção

c/ 49,00m2 c/ 750,00m2 c/ 1.003,91m2 c/ 773,44m2 c/ 1.250,00m2
• Rua Infante D. Henrique Edf. Ferreirinha. • Rua do Batel, nº900, Parada. • Rua Raul Lino, Lt 7, Lugar de Carquejeiro. • Rua António da Costa, Lt 13, Urbanização • Rua das Pereiras, Lote 7.
• 2º Andar (bloco E). • Armazém nº1. • C.R.P. Valongo (Valongo): 4194. Quinta da Lousa. • C.R.P. Valongo (Valongo): 6313.
• Fracção “CI”. • Fracção “A”. • Matriz u: 6098. • C.R.P. Valongo (Valongo): 4200. • Matriz u: 7419.
ͻ͘Z͘W͘dƌŽĨĂ;^͘DĂƌƟŶŚŽĚŽŽƵŐĂĚŽͿ͗ϭϳϬϲ͘ • C.R.P. Vila do Conde (Guilhabreu): 296. • Matriz u: 6104.
• Matriz u: 25. • Matriz u: 1012.

Redução de Valor Valor de venda: 23.409,00€ Redução de Valor Valor de venda: 228.454,42€ Redução de Valor Valor de venda: 449.077,01€ Redução de Valor Valor de venda: 44.362,47€ Redução de Valor Valor de venda: 854.217,00€
Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP)
Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis

Gondomar Gondomar Gondomar Picoas / Lisboa

Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 16 de Mar. de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. Termina a 10 de Março de 2020 ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h10.
V8 V9 V10 V5

Loja Loja Loja Loja + 7 Estacionamentos

c/ 116,00m2 c/ 102,00m2 c/ 58,00m2 c/350,00m2
• Avenida da Carvalha, nº821. • Rua 25 de Abril 326. • Rua 25 de Abril 88. • Rua Viriato, nº18
• Semi-cave. • Loja 203, piso -1. • Loja 5, 1º andar. • Rés-do-chão e 1º andar.
• Fracção “BF”. • Fracção “BN”. • Fracção “AE”. • Estacionamentos (pisos -1 e -2) p/ 7 viaturas
• C.R.P. Gondomar (Fânzeres): 3092. • C.R.P. Gondomar (S. Cosme): 4453. • C.R.P. Gondomar (S. Cosme): 1650. • Fracções “A”.
• Matriz u: 9503. • Matriz u: 15650. • Matriz u: 15671. ͻ͘Z͘W͘>ŝƐďŽĂ;^ĆŽ^ĞďĂƐƟĆŽĚĂWĞĚƌĞŝƌĂͿ͗ϳϭϬ
• Matriz u: 1542
Redução de Valor Valor de venda: 82.279,56€ Redução de Valor Valor de venda: 74.908,35€ Redução de Valor Valor de venda: 38.529,00€ Valor de venda: 691.000,00€
Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP) Banco Privado Português, S.A. (BPP) Insolvência Célia Nakai Ferraz e Leonardo Ferraz
Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis Processos nº 2435/12.7TBALM e 2650/14.9TBALM

ĞƐŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽƐ͗
Misericórdia / Lisboa Av. 5 Outubro / Lisboa Termina a 17 de Março de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00.
Termina a 04 de Março de 2020͕ĂƉĂƌƟƌĚĂƐ15h00. V1

V1

ublica
ia da Rép
Assemble

Prédio c/ 4 fracções
c/ área total 117,00m2 Penthouse + 3 estacionamentos e arrecadação
c/ 230,00m2
• Travessa da Arrochela, nº´s 44, 46 e 48, Lisboa • C.R.P. de Lisboa (Santa Catarina): 137 • Av. 5 de Outubro, nº 279, Avenidas Novas, Lisboa • Fracções “R”
• Rés-do-chão (LJ44 e LJ48) • Matriz Urbana: 1401 • Terraço c/ 22,69m2 ͻ͘Z͘W͘ĚĞ>ŝƐďŽĂ;EŽƐƐĂ^ĞŶŚŽƌĂĚĞ&ĄƟŵĂͿ͗ϮϬϲ
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46 • Público ClassiÄcados • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

CINEMA
Boy Erased: O Rapaz Que Sou
TVCine Top, 21h30
Um Ælme baseado nas memórias
de Garrard Conley, realizado por
Joel Edgerton, que não chegou às
salas nacionais. A história de um
rapaz homossexual, que vive com
a conservadora família numa
pequena cidade do estado
norte-americano do Arkansas. Os
pais (Nicole Kidman e Russell
Crowe) decidem colocar o Ælho
num programa de “cura” para
deixar de gostar de homens. E, no
processo, tentam apagar-lhe a
identidade. Nomeado para dois
Globos de Ouro (melhor actor e
canção original), esteve ainda
entre os candidatos a melhor Ælme
LGBTQ.
A-X-L: Uma Amizade
Extraordinária
TVCine Action, 22h30
Aventura de Æcção cientíÆca por
Oliver Daly. Miles, um jovem
californiano que pratica
motocrosse, encontra um cão
robótico no deserto. O robô,
desenvolvido em segredo por uma
empresa de equipamento militar, é
um valioso protótipo com
inteligência artiÆcial e escondeu-se
depois de um teste que não foi
bem-sucedido. E Miles cria uma
ligação a esta máquina, que se
chama A-X-L, tornando-se o seu
melhor amigo. Só que os criadores
do cão vão fazer de tudo para o ter
de volta.
A Falha
RTP2, 23h07
Baseado na obra homónima de
Luís Carmelo, João Mário Grilo
Ælma a história de um grupo de
antigos colegas de liceu que, após
25 anos, se reencontra. No
entanto, o tempo deixou as suas
marcas e acentuou ainda mais as
diferenças entre eles. O ambiente é
tenso, a conversa forçada e
adivinham-se nos olhares trocados
durante a refeição antigos
rancores, desamores e também
algumas cumplicidades. Depois do
almoço, um deles anuncia-lhes
uma surpresa que tem preparada:
a visita a uma impressionante
pedreira de mármore da região.
Nada os preparará para a tragédia
que se segue e que os levará a
confrontarem-se com os terríveis
fantasmas do passado...
DESPORTO
Basquetebol: Esgueira x Porto
RTP2, 14h58
Directo. Jogo da 19.ª jornada da
Liga Portuguesa de Basquetebol
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.30 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia
Portugal Fim de Semana 10.08 O Oásis
Esmeralda do Brasil 10.59 Aqui
Portugal: Monfortinho 13.00 Jornal da
Tarde 14.10 Voz do Cidadão 14.31 Aqui
Portugal: Monfortinho 19.59 Telejornal
21.00 Conta-me Como Foi 21.56 Saio
na Próxima, e Você? 0.48 Jack Taylor
2.25 As Testemunhas de Putin
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Euronews 8.00 Espaço Zig Zag 12.11
Nas Profundezas 12.35 Sangue de
Lobo 13.00 O Amanhecer dos Croods
13.48 Os Daltons 14.03 Scream Street
14.25 Danger Mouse 14.49 Folha de
Sala 14.58 Basquetebol: Esgueira x FC
Porto - Liga Portuguesa de
Basquetebol Placard 2019/2020 16.51
Europa Minha 17.07 Biosfera 17.35
Maravilhas de Itália 18.28 Agatha
Christie: Cabo da Víbora 19.17 À
Descoberta dos Sentidos 20.09
Eurodeputados 20.37 O Louvre de Abu
Dhabi - O Nascimento de um Museu
21.30 Jornal 2 21.50 Página 2 22.06
Folha de Sala 22.12 O Significado das
Canções 23.07 A Falha 0.34 Tributo a
Duke Ellington 2.07 Euronews
SIC
6.10 Etnias 6.50 Alvin e os Esquilos 7.10
O11ze 7.40 Uma Aventura... 9.10 Olhó
Baião - Especial 1.º Aniversário 13.00
Primeiro Jornal 14.05 Alta Definição
14.55 E Especial 15.25 Filadélfia 18.15
Vida Inteligente 19.57 Jornal da Noite
21.40 A Máscara 23.00 Amigos
Improváveis - A Semana 2.00 Amor
com Trela 3.35 Televendas
TVI
6.34 Campeões e Detectives 7.24 O
Bando dos Quatro 8.12 Detective
Maravilhas 8.55 Você na TV! 12.15
Conta-me como és 13.00 Jornal da
Uma 14.20 Somos Portugal 19.57
Jornal das 8 21.35 Mental Samurai
23.00 Na Corda Bamba 0.05 Hugo
Sousa - Stand Up 2.00 GTI 2.16 Mil
Palavras 3.55 Louco Amor 4.15 TV
Shop 5.45 Os Batanetes
TVCINE TOP
9.15 O Predador (2018) 11.00 Gabriel
12.40 O Filme Lego 2 (VP) 14.25 O
Os mais vistos da TV
Quinta-feira, 06
Nazaré
% Aud. Share
SIC 14,4 28,0
Jornal da Noite SIC 12,2 23,8
Alexandra Borges
Terra Brava
TVI
SIC
11,7
11,5
22,0
27,0
O Preço Certo RTP1 10,7 24,5
FONTE: CAEM
Regresso de Mary Poppins (VP) 16.40
Teen Spirit - Conquista o Sonho 18.15
Separados 19.55 LBJ 21.30 Boy Erased:
O Rapaz Que Sou 23.30 The Equalizer
2 - A Vingança 1.35 Nós 3.35 7 Minutos
no Céu 5.15 Centro de Dia Improvisado
FOX MOVIES
10.10 Núpcias Trágicas 11.47 O Homem
Que Matou Liberty Valance 13.45 Os
Quatro Filhos de Katie Elder 15.42
Julgava-te Morto, Mr. Jake 17.26 A Leste
do Paraíso 19.24 Fúria de Viver 21.15 O
Gigante 0.36 O Último Tango em Paris
2.40 Nascido Para Matar (1987) 4.28 O
Ladrão Profissional
CANAL HOLLYWOOD
10.05 Zootrópolis (VP) 11.50 O Rei Leão
(VP) 13.20 Happy Feet (VP) 15.15 O
Livro da Selva (2016) (VO) 17.05 A
Teoria de Tudo 19.10 Interstellar 22.00
A Origem 0.30 Sacanas Sem Lei 3.05
Moulin Rouge 5.10 Hollywood News
Feed 5.25 Interstellar
AXN
14.28 Resident Evil: Ressurreição
16.09 Resident Evil: Retaliação 17.46
The Mechanic - O Profissional 19.25 O
Código da Vinci 21.55 Anjos e
Demónios 0.15 Capitão Phillips 2.32
Duro de Matar 4.09 O Último Desafio
5.48 Resident Evil: Ressurreição
AXN BLACK
13.59 O Aviador 16.46 Fargo 18.26
Django Libertado 21.14 Juno 22.53
Melhor é Impossível 1.12 Um Fim de
Semana Misterioso 2.37 Exterminador
Implacável - A Salvação 4.29 L.A.
Confidencial
AXN WHITE
13.00 A Teoria do Big Bang 13.24 Click
15.09 Sobre Rodas 16.58 Loucos em
Alabama 18.50 Arthur Christmas (VP)
20.25 Arrow 21.15 Sobrenatural 22.00
Amigos Coloridos 23.54 Erin
Brockovich 2.03 A.I. Inteligência
Artificial 4.23 O Professor
FOX
9.07 Hawai Força Especial 9.53 O
Hobbit: Uma Viagem Inesperada 12.48
O Excêntrico Mortdecai 14.41 Hércules
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 47
RTP1 14,2
RTP2 1,3
SIC 22,0
TVI 14,7
Cabo 36,1
- A Lenda Começa 16.38 12 Desafios
18.47 Jack Reacher 21.20 Jack Ryan:
Agente Sombra 23.14 Colateral 1.22
Corrida Mortal (2008) 3.08 Sob
Suspeita
FOX LIFE
9.24 Ossos 11.46 9-1-1 15.08 One
Winter Proposal 16.52 A Wish Come
True 18.42 Autumn in the Vineyard
20.23 Adoro-te... à Distância 22.20 O
Que uma Rapariga Quer 0.13 Uma
Noite com Beth Cooper 1.58 No Limite
3.48 Doubt
DISNEY
15.20 K.C. Agente Secreta 16.10
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
16.35 Sadie Sparks 17.00 Gravity Falls
17.50 Star Contra as Forças do Mal
18.40 Os Green na Cidade Grande
19.25 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 19.47 Sadie Sparks 20.10
Gravity Falls 20.59 Acampamento
Kikiwaka 21.45 Coop & Cami 22.31 A
Irmã do Meio 23.18 Miraculous - As
Aventuras de Ladybug
DISCOVERY
17.20 Ed Stafford, Ao Limite 19.10
Como Fazem Isso? 21.00 Código da
Floresta 22.55 Curiosidades da Terra
0.40 Código da Floresta 2.15
Curiosidades da Terra 3.00 Já Estavas
Avisado! 4.30 Negócio Fechado 5.00
Guerra de Propriedades 5.25 A Febre
do Ouro
HISTÓRIA
17.23 O Preço da História 20.51 Os
Arquivos Perdidos do Dia D 22.15 Spy
Wars 23.43 Batalhas Pela Europa 1.30
Não Identificados 2.50 Alienígenas
4.14 Não Identificados 5.39 O Preço da
História
ODISSEIA
17.33 A Rainha Leoa 18.18 Imensa
África 19.09 Imensa África 20.00 Fora
de Controlo 20.55 Guerra Aérea 21.47
Operação Narco 22.30 Dark Net 23.26
Revolução Sexual 0.20 Beerland 0.41
Beerland 1.05 Operação Narco 1.48
Dark Net 2.16 Dark Net 2.45 Revolução
Sexual 3.39 Lugares Sagrados 4.32
Dark Net 5.01 Operação Narco 5.25 O
Veterinário de Yorkshire
FICAR
Placard 2019/2020. Depois de
regressar às vitórias na recepção
ao Lusitânia (85-64), o FC Porto
viaja até Esgueira, para enfrentar o
sétimo classiÆcado.
DOCUMENTÁRIOS
O Significado das Canções
RTP2, 22h12
Em 1963, jovens poetas, músicos,
bailarinos e escritores, juntaram-se
em Mendoza, na Argentina, para
traduzir a voz do povo em canções
de profundo conteúdo social. O
documentário de Gisela Levin e
Cecilia Aguero recorda a criação
do Movimento del Nuevo
Cancionero e conta a sua história a
partir dos testemunhos daqueles
que o conceberam, durante
tempos conturbados para a
Argentina e restante América
Latina, e daqueles que continuam
ainda hoje o seu legado.
The Cave
National Geographic, 22h30
Estreia. Em véspera de Óscares,
um dos documentários mais
falados dos últimos meses que está
nomeado à estatueta do género.
Do premiado realizador sírio Feras
Fayyad (Last Men in Aleppo), um
Ælme construído, entre 2016 e
2018, durante a guerra civil na Síria
onde, entre ataques aéreos e
bombardeamentos, Amani Ballour
gere um hospital subterrâneo
improvisado na cidade de Ghouta.
Esta pediatra e a sua equipa, na
maioria mulheres, enfrentam os
horrores da guerra, o sexismo e a
falta de recursos, enquanto fazem
o impossível para tratar os feridos.
TEATRO
Saio na Próxima, e Você?
RTP1, 21h56
Um homem e uma mulher
conhecem-se no Metro em Lisboa,
nos anos 1970. Começam a
conversar e decidem voltar a
encontrar-se. Depois de um mês
de contactos, casam-se. Mas o
matrimónio está condenado ao
fracasso. Uma comédia musical,
com João Baião e Marina Mota.
INFANTIL
Happy Feet (V. Port.)
Hollywood, 13h20
O jovem Mumble é um
pinguim-imperador que tem uma
terrível voz de cana rachada. E,
nestas terras geladas, quem não
sabe cantar uma bela canção de
amor não é pinguim, não é nada.
Porém, Mumble tem um outro
dom: sabe sapateado.
48 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
SAIR
CINEMA
Lisboa
Auditório Pessoa Vaz - Universidade
Lusófona
Cp. Grande, 380 B. T. 217515500
Parasitas M14. 21h; PJ Harvey: A Dog Called
Money M12. 16h
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Dor e Glória M16. 13h20; Parasitas M14.
21h30; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 11h20 (V.Port./2D)
Armados em Espiões M6. 11h (V.P./2D); Uma
Vida Escondida M14. 15h35; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 11h30 (V.P./2D);
1917 16h, 18h30, 21h; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h50; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 19h; Mulherzinhas M12.
13h10, 15h55, 18h40, 21h25; Birds of Prey (e
a Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h, 15h10, 17h20, 21h45
Corpus Christi - A Redenção M16. 19h30
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Parasitas M14. 16h30; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 11h30, 14h, 18h50, 21h15
CinemaCity Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 11h20 (V.
P./2D); A Ovelha Choné: A Quinta Contra-
Ataca M6. 11h30, 15h40 (V.P./2D); Armados
em Espiões M6. 11h15, 13h25, 15h35 (V.
Port./2D); The Grudge: Maldição M16.
00h30; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
11h15, 15h25, 17h35 (V.Port./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 13h35, 00h10; Tudo Pela
Justiça M12. 00h25; A Princesa e o Dragão
M6. 11h40, 13h40 (V.Port./2D); Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 11h15, 13h35,
15h30, 17h25 (V.Port./2D); 1917 19h15, 13h25,
15h55, 17h50, 18h40, 19h20, 21h10, 21h50,
23h50; Bombshell - O Escndalo M12. 20h,
22h10, 00h20; Mosley e a Cidade Secreta
M6. 11h15 (V.Port./2D); Jojo Rabbit M12.
13h30, 17h35, 19h45, 21h55, 00h15;
Mulherzinhas M12. 13h20, 16h10, 18h55,
21h40; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
11h25, 13h10, 15h20, 16h, 17h30, 18h30,
19h40, 21h30, 22h, 23h55, 00h20
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
O Herói da Quinta 11h20 (V.P./2D); Calafrio
M14. 16h25, 18h40, 21h, 23h40; Joker M14.
20h50, 23h35; Frozen II - O Reino do Gelo
M6. 10h40, 13h50 (V.P.2D); Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 13h55, 17h10;
Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h25; Armados em
Espiões M6. 11h, 13h45, 16h15, 18h35 (V.
P./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 13h10,
16h, 18h45, 21h30, 00h15; Tudo Pela
Justiça M12. 17h, 20h55, 23h55; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 10h50, 13h35,
15h45, 18h (V.P.2D); 1917 13h15, 15h55,
18h35, 21h15, 00h10; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h45, 16h15, 18h50, 21h25,
00h05; J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
19h; Jojo Rabbit M12. 13h30, 16h05, 18h50,
21h40, 00h20; Mulherzinhas M12. 14h10,
17h10, 21h05, 24h; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 10h45, 13h20, 15h50,
18h25, 21h10, 00h10; Ladrões Com Arte
M16. 14h05, 16h30, 18h55, 21h20, 23h45;
Thriller: Assassino na Noite M16. 21h35,
23h50
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Parasitas M14. 18h20; Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 13h30, 16h, 18h40 1917
12h50, 15h30, 18h10, 00h25; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h, 15h40, 00h20; J’accuse
- O Oficial e o Espião M12. 14h, 17h20,
00h15; Jojo Rabbit M12. 12h50, 15h20, 18h,
00h35; Mulherzinhas M12. 13h50, 17h10,
00h30; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h10, 15h50, 18h30, 00h20; Corpus Christi
- A Redenção M16. 00h25
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Calafrio M14. 13h40, 16h05, 22h, 00h25; Era
Uma Vez em... Hollywood M16. 18h20;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h25 (V.
P./2D); Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 18h; Bad Boys Para
Sempre M14. 13h, 15h40, 18h40, 21h30,
00h10; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
13h20, 16h10 (V.Port.2D); 1917 12h40, 15h45,
18h30, 21h20, 24h ; Bombshell - O Escndalo
M12. 18h25, 20h50, 22h40; Jojo Rabbit M12.
15h50, 18h35, 21h10, 00h05 Mulherzinhas
M12. 12h30, 15h20, 18h15, 21h35, 00h30;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
12h50, 15h30, 18h10, 21h, 23h50; Ladrões
Com Arte M16. 13h05, 15h35, 21h15,
23h55; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
Sala IMAX 13h30, 16h, 18h50, 21h40, 00h20
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Joker M14. 17h; Frozen II - O Reino do Gelo
M6. 10h45 (V.P./2D); Bad Boys Para Sempre
M14. 12h40, 15h30, 21h, 23h50; 1917 13h10,
16h, 18h50, 21h30, 00h10; Bombshell - O
Escndalo M12. 18h20; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 11h, 13h30, 16h10, 18h40 (V.
Port./2D); Jojo Rabbit M12. 21h10, 23h40;
Mulherzinhas M12. 13h40, 20h50, 24h;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h, 13h30, 15h50, 16h20, 18h30, 19h, 21h20,
21h50, 24h, 00h25
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
Laranja Mecnica M16. 21h45; Joker M14.
12h; J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
16h45; Mulherzinhas M12. 14h15; PJ Harvey:
A Dog Called Money M12. 19h30
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Calafrio M14. 14h, 24h; Era Uma Vez em...
Hollywood M16. 18h30; Joker M14. 13h15,
18h40; Parasitas M14. 13h35, 16h20, 21h45,
00h30; Judy M12. 19h05; Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 16h15, 21h35,
00h15; Mr. Jones - A Verdade da Mentira
16h, 21h15, 23h50; O Caso de Richard
Jewell M12. 13h35, 18h55; A Despedida M12.
13h40, 19h10; As Aventuras do Dr. Dolittle
M6. 13h15, 15h40 (V.Port./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 16h10, 21h30, 00h10;
Tudo Pela Justiça M12. 13h25, 18h50; Uma
Vida Escondida M14. 18h, 21h25; 1917 14h10,
16h45, 19h20, 21h55, 00h30; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h55, 16h30, 19h05, 21h30,
23h55; O Filme do Bruno Aleixo M14. 14h15,
16h20, 21h35, 23h40; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 13h20, 16h05, 18h50, 21h35,
00h20; A Ama Perfeita M14. 16h30, 19h,
21h30; Jojo Rabbit M12. 13h45, 16h15,
18h45, 21h20, 23h50; Mulherzinhas M12.
13h25, 16h10, 18h55, 21h40, 00h25; Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 14h05, 16h40,
19h15, 21h50, 00h15; Corpus Christi - A
Redenção M16. 16h25, 21h40, 00h05
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996
Calafrio M14. 13h50, 16h15, 22h, 00h25; Era
Uma Vez em... Hollywood M16. 17h; Joker
M14. 18h55; Parasitas M14. 19h05; Frozen II
- O Reino do Gelo M6. 13h45 (V.Port.2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 13h55,
20h40, 23h40; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 20h30,
23h50; Armados em Espiões M6. 13h35,
15h10, 17h50 ; Bad Boys Para Sempre M14.
12h45, 15h40, 18h40, 21h40, 00h30; Snow:
Os Domínios do Espelho M6. 13h20, 15h50,
18h05 (V.Port.2D); 1917 12h50, 15h45, 18h30,
21h20, 00h15; Bombshell - O Escndalo M12.
13h10, 16h, 21h35, 00h20; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 13h30, 16h20, 18h45 (V.
P.2D); O Filme do Bruno Aleixo M14. 21h55,
Em estreia
lazer@publico.pt
A Ama Perfeita
De Lucie Borleteau. Com Karin
Viard, Leïla Bekhti, Antoine
Reinartz. FRA. 2019. 100m.
Drama, Crime. M14.
Assoberbada com o nascimento
do segundo Ælho, Myriam
percebe que precisa de regressar
ao trabalho. Apesar da relutância
inicial do marido, dá início ao
processo de busca de uma ama.
É assim que conhecem Louise,
que parece perfeita, mas que se
vai revelar a pior escolha das
suas vidas.
Bigger: A História de Joe
Weider
De George Gallo. Com Julianne
Hough, Tyler Hoechlin, Kevin
Durand. EUA. 2018. 107m.
Drama, Biografia. M12.
Filhos de imigrantes polacos de
origem judia, Joe e Ben Weider
cresceram na pobreza em
Montreal (Canadá). Já adultos,
tornam-se grandes adeptos do
desporto de força e fundam, em
1946, a Federação Internacional
de Culturismo e Fitness (IFBB).
Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação
De Uma Harley Quinn)
De Cathy Yan. Com Margot
Robbie, Mary Elizabeth
Winstead, Ewan McGregor,
Rosie Perez, Jurnee
Smollett-Bell. EUA. 2020.
109m. Acção, Aventura. M12.
Depois de romper
deÆnitivamente com Joker, seu
amante, a instável Harley Quinn
sente-se uma mulher nova. Ao
tentar encontrar o seuu lugar no
mundo - e escapar de
todos os que a queremm
assassinar -, acaba porr
se ver envolvida numa a
parceria muito
improvável.
Corpus Christi - A
Redenção
De Jan Komasa. Com m
Bartosz Bielenia,
Aleksandra
Konieczna, Eliza
Rycembel, Lukasz
Simlat. POL. 2019.
Drama. M16.
Quando Daniel é
enviado para um
centro de detenção,
não imagina a transformação que
daí decorrerá. A relação próxima
com o padre da instituição faz
nascer nele um chamamento
divino. Após cumprir pena, vai
trabalhar numa povoação
distante, onde se vai deparar
com a oportunidade da sua vida.
Ladrões Com Arte
De Matt Aselton. Com Theo
James, Emily Ratajkowski, Fred
Melamed. EUA. 2019. 100m.
Drama, Crime. M16.
Ivan é um habilidoso ladrão de
arte. Contudo, mesmo que tudo
lhe corra de feição, o que mais
deseja é abandonar o mundo do
crime e viver de rendimentos.
Tudo se alinha na perfeição
quando conhece Elyse, uma
burlona que deseja usar os seus
enormes talentos de dissimulação
na proÆssão de actriz.
Snow: Os Domínios do Espelho
De Aleksei Tsitilin, Robert
Lence. RUS. 2018. 80m.
Animação, Comédia, Aventura.
M6.
O rei da Terra dos Espelhos quase
perdeu tudo o que tinha devido à
magia da Rainha da Neve. Por
causa disso, tomou uma decisão
que deixou descontentes muitos
dos seus súbditos: banir todas as
criaturas com poderes.
Inconformada, Kiara resolve
desaÆar as ordens do soberano e
salvar os prisioneiros.
Thriller: Assassino na Noite
De Dallas Jackson. Com Jessica
Allain, Luke Tennie, Mitchell
Edwards. EUA.
E 2018. 87m.
M16.
Terror. M
Vários adolescentes
a decidem
pregar uma partida a
Chauncey, um colega, e
Chaunc
levá-lo para uma casa
abandonada, onde
aban
pretendem assustá-lo. A
pre
brincadeira
b corre mal
e resulta na morte de
um
u deles. Chauncey
é acusado de
homicídio
h e enviado
para
p um centro de
detenção juvenil. Lá,
det
revive vezes sem conta a
reviv
injustiça de que foi vítima.
injus
Birds of Prey
B Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2. T. 215887311
00h15; J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
1h25, 15h25, 18h25, 21h, 24h; Jojo Rabbit
M12. 12h40, 15h25, 18h, 20h45, 23h45;
Mulherzinhas M12. 12h20, 15h20, 18h20,
21h15, 23h20; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 12h30, 13h30, 14h,
15h30, 16h10, 16h40, 18h10, 18h50, 19h10,
20h50, 21h30, 21h45, 23h30, 00h10, 00h20
Ladrões Com Arte M16. 16h30, 19h, 21h50,
00h25
Amadora
CinemaCity Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Parasitas M14. 21h10; Abominável M6.
11h15 (V.Port./2D); Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 11h15, 13h30, 15h35 (V.Port./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
21h25; Jumanji: O Nível Seguinte M12.
11h20, 15h50, 00h10; Star Wars: Episódio
IX - A Ascensão de Skywalker M12. 13h;
Armados em Espiões M6. 11h40, 13h50,
17h20 (V.P./2D); The Grudge: Maldição M16.
00h30; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
11h15, 15h25, 17h35 (V.Port./2D), 11h35,
13h25, 19h45 (V.Orig./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 13h35, 16h10, 19h, 21h35,
00h15; Tudo Pela Justiça M12. 00h05; A
Princesa e o Dragão M6. 11h25 (V.Port./2D);
1917 13h50, 16h20, 17h50, 18h50, 19h25,
21h20, 21h55, 23h50; Bombshell - O
Escndalo M12. 19h10, 21h45; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 11h15, 13h10, 15h15 (V.
Port./2D); Jojo Rabbit M12. 19h30, 21h40,
24h; Mulherzinhas M12. 13h20, 15h55,
18h40, 21h25, 00h10; Seberg - Contra
Todos os Inimigos 11h30, 13h30, 15h30,
17h30, 00h25 (V.Port./2D); Bigger: A
História de Joe Weider M12. 13h20, 15h30,
16h, 17h40, 18h30, 19h50, 21h30, 22h,
23h55, 00h20
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Calafrio M14. 19h20, 21h55, 00h20; Frozen
II - O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h30 (V.
Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
19h10, 21h45, 00h15; Armados em Espiões
M6. 13h50, 16h40 (V.Port./2D); As Aventuras
do Dr. Dolittle M6. 14h, 16h25 (V.Port./2D),
18h55, 21h15, 00h25 (V.Orig./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 13h40, 16h20, 19h05,
21h45, 00h25; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 14h30, 16h55 (V.Port./2D);
1917 13h30, 16h25, 18h55, 21h30, 00h20;
Bombshell - O Escndalo M12. 19h10, 21h40,
00h10; Mosley e a Cidade Secreta M6.
14h10, 16h35 (V.Port./2D); O Filme do Bruno
Aleixo M14. 19h10, 21h50, 00h05; Jojo
Rabbit M12. 13h50, 16h35, 19h05, 21h35,
00h05; Mulherzinhas M12. 13h15, 16h10,
18h55, 21h40, 23h50; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 14h05, 16h50, 19h20,
21h50, 00h20; Ladrões Com Arte M16.
13h50, 16h45, 19h20, 21h50, 00h15
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
CascaiShopping-EN 9. T. 16996
Calafrio M14. 20h30, 23h10; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 11h (V.Port./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 13h20, 16h10,
18h40, 21h10, 23h40; Snow: Os Domínios
do Espelho M6. 11h, 13h, 15h, 17h40 (V.
Port.2D); 1917 13h05, 15h50, 18h50, 21h30,
00h10 ; Bombshell - O Escndalo M12.
20h40, 23h; Mosley e a Cidade Secreta M6.
11h, 13h30, 16h10, 18h35 (V.Port.2D); Jojo
Rabbit M12. 12h45, 15h10, 17h50, 21h40,
00h20; Mulherzinhas M12. 12h30, 15h30,
18h25, 21h20, 00h15; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 12h50, 15h20, 18h, 21h,
00h20; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
Sala IMAX 13h, 16h, 18h20, 20h50, 23h20
O Cinema da Villa - Cascais
Parasitas M14. 18h40, 21h20; A Família

Addams M6. 11h (V.Port./2D); Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 11h (V.Port./2D); A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
11h (V.Port./2D); Armados em Espiões M6.
11h (V.Port./2D); 1917 14h15, 19h15, 21h30;
Mosley e a Cidade Secreta M6. 11h, 16h30
(V.Port./2D); J’accuse - O Oficial e o Espião
M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h20;
Mulherzinhas M12. 13h10, 15h50, 18h30,
21h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
14h30, 16h45, 19h, 21h20; Corpus Christi - A
Redenção M16. 14h; Gaugauin no Tahiti: O
Paraíso Perdido 16h30
Sintra
Cinema City Beloura
R. Matos Cruzadas, EN 9. T. 219247643
Parasitas M14. 21h40; A Ovelha Choné: A
Quinta Contra-Ataca M6. 11h40 (V.P./2D);
Armados em Espiões M6. 11h15, 15h25 (V.
Port./2D); As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
11h10, 13h10, 15h20, 17h30 (V.Port./2D),
13h25, 19h55 (V.Orig./2D) ; Bad Boys Para
Sempre M14. 21h55, 00h30; Tudo Pela
Justiça M12. 00h10; A Princesa e o Dragão
M6. 11h15 (V.Port./2D); Snow: Os Domínios
do Espelho M6. 11h30, 13h30, 15h30, 17h25
(V.Port./2D); 1917 13h40, 16h10, 17h35,
18h40, 19h20, 21h35, 00h15; Bombshell - O
Escndalo M12. 19h40, 21h50; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 11h20, 13h50, 15h35 (V.
Port./2D); Jojo Rabbit M12. 13h25, 15h35,
17h40, 19h45, 21h50, 00h25; Mulherzinhas
M12. 13h, 15h45, 18h30, 21h20, 00h05; Birds
of Prey (e a Fantabulástica Emancipação
De Uma Harley Quinn) M12. 11h30, 13h20,
15h30, 16h, 17h40, 18h50, 19h50, 21h30,
22h, 23h50, 00h20
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Calafrio M14. 13h, 15h10, 19h35, 21h45;
Joker M14. 24h; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 11h, 13h30, 16h (V.P./2D); A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 11h (V.
P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
18h30, 21h15; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 23h50;
Armados em Espiões M6. 11h, 17h20 (V.
P./2D); The Grudge: Maldição M16. 24h;
Bayala M6. 11h (V.P./2D); As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 11h, 13h50, 16h20, 18h45 (V.
P./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 13h10,
15h55, 18h40, 21h30, 00h10; Tudo Pela
Justiça M12. 21h, 23h55; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 11h, 13h, 15h, 17h,
19h (V.P./2D); 1917 13h20, 16h, 18h40, 21h20,
24h; Bombshell - O Escndalo M12. 21h20;
Mosley e a Cidade Secreta M6. 11h (V.
P./2D); Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h
Leiria
Cinema City Leiria
R. Dr. Virgílio Vieira da Cunha. T. 244845071
Parasitas M14. 21h40; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 11h25 (V.P./2D); Armados em
Espiões M6. 11h15, 15h35 (V.P./2D); As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 11h40, 13h20,
15h20, 17h30 (V.P./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 16h20, 21h35, 00h15; Snow:
Os Domínios do Espelho M6. 11h30, 13h30,
15h30, 17h25 (V.P./2D); 1917 13h40, 16h10,
18h40, 19h20, 21h40, 00h20; Bombshell -
O Escndalo M12. 13h25; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 11h40, 13h50 (V.P./2D); O Filme
do Bruno Aleixo M14. 11h20, 17h45, 19h45,
00h30; Jojo Rabbit M12. 19h40, 21h50,
00h10; Mulherzinhas M12. 13h35, 21h45;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h10, 15h30, 16h, 17h40, 18h30, 19h50,
21h30, 22h, 00h20; Corpus Christi - A
Redenção M16. 11h20, 19h10
Cineplace - Leiria Shopping
CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
Calafrio M14. 17h50, 19h50; Jumanji: O
Nível Seguinte M12. 14h (V.P./2D); Armados
em Espiões M6. 14h10 (V.P./2D); As
AS ESTRELAS
DO PÚBLICO
Alva
Bombshell
O Caso de Richard Jewell
Corpus Christi: A redenção
A Despedida
Diamante Bruto
J’Accuse: O Oficial e o Espião
Jojo Rabbit
Ladrões com Arte
1917
Mulherzinhas
Uma Vida Escondida
a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 14h10 (V.
P./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 16h30,
19h, 21h30, 00h05; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 14h, 16h, 17h50, 19h40 (V.P./2D)
1917 16h30, 19h, 21h30, 23h55; Bombshell -
O Escndalo M12. 21h40, 00h05 Jojo Rabbit
M12. 13h40, 16h (V.P./2D) Mulherzinhas M12.
18h20, 21h10, 23h55; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 14h40, 17h, 19h20,
21h40, 24h; Ladrões Com Arte M16. 15h40,
21h50, 24h; Corpus Christi - A Redenção
M16. 16h20, 21h20, 23h50; Thriller:
Assassino na Noite M16. 19h10
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Calafrio M14. 21h50, 23h50; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 14h30 (V.Port./2D); A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
14h (V.Port./2D); Armados em Espiões M6.
13h10, 15h20 (V.Port./2D); As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 14h10, 16h30 (V.Port./2D);
Bad Boys Para Sempre M14. 18h50, 21h20,
23h50; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
12h40, 14h30, 16h20, 19h10, 20h (V.P./2D);
1917 16h30, 19h, 21h30, 00h05; Bombshell -
O Escndalo M12. 19h10; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 14h20 (V.P./2D); Jojo Rabbit
M12. 18h50; Mulherzinhas M12. 16h, 21h10,
23h55; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
14h40, 17h, 19h20, 21h40, 24h; Ladrões
Com Arte M16. 17h30, 21h50, 00h10;
Corpus Christi - A Redenção M16. 16h40,
21h30, 24h; Thriller: Assassino na
Noite M16. 19h40
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis.
T. 243309340
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 11h, 13h25
(V.Port./2D); A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 11h (V.Port./2D); Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h05, 23h30; Armados
em Espiões M6. 11h (V.Port./2D); The
Grudge: Maldição M16. 00h20; As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 10h45, 13h10,
15h50, 18h15 (V.P./2D), 21h (V.Orig./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 16h05, 18h45,
21h20, 00h05; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 11h, 13h, 15h, 17h, 19h (V.P./2D);
1917 13h15, 16h, 18h40, 21h30, 00h10;
Bombshell - O Escndalo M12. 21h05, 23h40
Mosley e a Cidade Secreta M6. 11h (V.
Port./2D); Mulherzinhas M12. 15h30, 18h20,
21h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Jorge
Mourinha
Luís M.
Oliveira
Vasco
Câmara
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm – mmmmm
– mmmmm mmmmm
mmmmm – –
mmmmm mmmmm mmmmm
– mmmmm mmmmm
– mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
– mmmmm – Costa. Com Teresa Guilherme, Carla
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h40, 16h15, 18h50, 21h35, 00h15
Setúbal
Cinema City Alegro Setúbal
C. C. Alegro Setúbal. T. 265239853
Calafrio M14. 13h40, 21h55, 24h; Parasitas
M14. 21h30; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
11h25, 13h40 (V.Port./2D); A Ovelha Choné:
A Quinta Contra-Ataca M6. 11h45, 13h45 (V.
Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
13h40, 15h55; Armados em Espiões M6.
11h10, 15h25 (V.Port./2D); The Grudge:
Maldição M16. 00h30; Bayala M6. 11h30 (V.
Port./2D); As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
11h30, 15h35, 17h45 (V.Port./2D), 19h55; Bad
Boys Para Sempre M14. 13h15, 15h50, 19h10,
21h45, 00h25; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 11h30, 13h30, 15h30, 17h55 (V.
Port./2D); 1917 13h25, 16h10, 17h35, 18h50,
19h, 21h20, 21h50, 23h50 ; Bombshell - O
Escndalo M12. 23h55; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 11h20, 13h20 (V.Port./2D); O
Filme do Bruno Aleixo M14. 19h50, 00h25;
Jojo Rabbit M12. 20h, 22h10, 00h30;
Mulherzinhas M12. 15h45, 18h30, 21h25,
00h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
11h20, 13h25, 15h35, 16h, 17h30, 18h40,
19h40, 21h30, 22h, 00h20
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 10h40 (V.
Port./2D); A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 10h45 (V.Port./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 12h45, 15h35,
18h25, 21h05; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 11h, 13h15, 15h15, 17h25 (V.
Port.2D); 1917 12h55, 15h45, 18h45, 21h25,
24h ; Bombshell - O Escndalo M12. 19h30
J’accuse - O Oficial e o Espião M12. 21h55
Mulherzinhas M12. 12h35, 15h25, 18h15,
21h15, 23h45; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h05, 15h55, 18h35,
21h35, 00h05
TEATRO
Lisboa
A Barraca
Largo de Santos, 2. T. 213965360
A Torre de Babel Enc. Hélder Mateus da
Costa. A partir de 16/1. 5ª a Sáb às 21h30.
Dom às 17h. M/12.
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 49
Aula Magna
Alameda da Universidade. T. 217967624
Hipoteticamente (Bom) Com Gilmário
Vemba. Dia 8/2 às 22h.
Chapitô
R. Costa do Castelo, 1/7. T. 218855550
Napoleão ou o Complexo de Épico Enc.
Cláudia Nóvoa e José C. Garcia. De 30/1 a
15/3. 5ª a Dom às 22h.
Clube Estefânia
Rua Alexandre Braga, 24A. T. 217780987
O Fim do Teatro Com Mário Redondo, Mia
Tomé, Miguel Ponte, Rui Miguel e Sofia de
Portugal. De 6/2 a 16/2. 5ª a Dom às 21h30.
Teatro Aberto
Praça de Espanha. T. 213880089
Alma Enc. Cristina Carvalhal. Até 29/3. 4ª,
6ª e Sáb às 21h30. 5ª às 19h. Dom às 16h.
Teatro Armando Cortez
Estrada da Pontinha, 7. T. 217110890
Monólogos da Vagina Enc. Paulo Sousa
Andrino e Vera Kolodzig. De 29/1 a 29/2. 4ª a
Sáb às 21h30 (excepto 22 Fevereiro). M/12.
Teatro da Politécnica
Rua da Escola Politécnica, 56. T. 961960281
A Máquina Hamlet Comp.: Artistas Unidos.
Enc. Jorge Silva Melo. De 15/1 a 22/2. 3ª e 4ª
às 19h. 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h e 21h.
Teatro da Trindade
Largo da Trindade, 7A. T. 213420000
Chicago Enc. Diogo Infante. De 11/9 a 29/3.
4ª, 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h30 e 21h. Dom
às 16h30. Um Número Enc. André
Murraças. De 15/1 a 8/3. 4ª a Dom às 19h.
Teatro do Bairro
R. Luz Soriano, 63 (Bairro Alto). T. 213473358
Se Isto É Um Homem Companhia de Teatro
de Almada. Enc. Rogério de Carvalho. De 7/2
a 8/2. 6ª às 21h30. Sáb às 16h. M/12.
Teatro Municipal São Luiz
R. António Maria Cardoso, 38. T. 213257650
A Reconquista de Olivenza Enc. Ricardo
Neves-Neves. De 6/2 a 16/2. 5ª às 20h. 6ª e
Sáb às 21h. Dom às 17h30. M/12.
Teatro Nacional D. Maria II
Praça Dom Pedro IV. T. 800213250
Subitamente no Verão Passado Primeiros
Sintomas. Enc. Bruno Bravo. De 6/2 a 23/2.
4ª e Sáb às 19h30. 5ª e 6ª às 21h30. Dom às
16h30 (na Sala Estúdio). M/14.
Teatro Tivoli BBVA
Avenida da Liberdade, 182. T. 213572025
Conserto para Dois - Uma Comédia
Musical Com Cláudia Raia e Jarbas Homem
de Mello. De 22/1 a 23/2. 4ª a Sáb às 21h30.
Dom às 17h. Viagem pelo Corpo Humano
Enc. Carlos Arthur Thiré. De 25/1 a 22/2. Sáb
às 16h. M/3. Duração: 1h10.
Teatro Villaret
Av. Fontes Pereira Melo, 30A. T. 213538586
Casal da Treta Enc. Sónia Aragão. De 3/1 a
1/3. 5ª a Sáb às 21h30. Dom às 17h. M/12.
MÚSICA
Lisboa
Casa Independente
Largo Intendente, 45. T. 218875143
Alojamento Artístico Local: Ikoqwe Enc.
Batida (Pedro Coquenão). De 4/2 a 29/2. 6ª e
Sáb às 23h. Musical.
Fundação e Museu Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45A. T. 217823000
Mikhail Pletnev Dia 8/2 às 19h.
Praça de Touros do Campo Pequeno
Campo Pequeno. T. 210414078
Guarda Convida Dia 8/2 às 21h30.
DANÇA
Almada
Teatro Municipal Joaquim Benite
Avenida Professor Egas Moniz. T. 212739360
Autópsia Companhia Olga Roriz. Coreog.
Olga Roriz. Dia 8/2 às 21h. M/14.
SAIR
FARMÁCIAS
Lisboa-Serviço Permanente
Andrade (Camões) - Rua do Alecrim, 125 - 127 -
Tel. 213241670 Confiança (Igraja dos Anjos) -
Avenida Almirante Reis, 46 - A - Tel. 218121653
Padre Cruz (Carnide - Bº Pe. Cruz(Junto à
Igreja)) - Rua A - Lt. 138 R/C - Bº Padre Cruz - Tel.
217121520 Vasco da Gama (Santa Maria dos
Olivais) - Alameda dos Oceanos, Lote 1.07.01,
Loja G - Tel. 213478932
Outras Localidades-Serviço Permanente
Abrantes - Mota Ferraz Alandroal - Santiago
Maior , Alandroalense Albufeira - Santos Pinto
Alcácer do Sal - Misericórdia Alcanena -
Correia Pinto Alcobaça - Campeão Alcochete
- Cavaquinha , Póvoas (Samouco) Alenquer -
Nobre Rito , Varela Aljustrel - Dias Almada -
Brasil (Feijó) Almeirim - Mendonça
Almodôvar - Aurea Alpiarça - Gameiro Alter
do Chão - Alter , Portugal (Chança) Alvaiázere
- Ferreira da Gama , Castro Machado (Alvorge),
Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D.
Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - D.
João V , Dias e Brito Ansião - Medeiros (Avelar) ,
Rego (Chão de Couce), Pires (Santiago da
Guarda) Arraiolos - Misericórdia Arronches -
Batista , Esperança (Esperança/Arronches)
Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia Avis -
Nova de Aviz Azambuja - Miranda , Peralta
(Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do
Intendente) Barrancos - Barranquense
Batalha - Moreira Padrão , Silva Fernandes
(Golpilheira) Beja - Palma Belmonte - Costa ,
Central (Caria) Benavente - Miguens
Bombarral - Hipodermia Borba - Carvalho
Cortes Cadaval - Central Caldas da Rainha -
Branco Lisboa Campo Maior - Central
Cartaxo - Abílio Guerra Cascais - Cristiana
(Abóboda) , Misericórdia, Parque do Estoril
Lda. (Estoril) Castelo Branco - Morgado Duarte
Castelo de Vide - Freixedas Castro Verde -
Alentejana Chamusca - Joaquim Maria
Cabeça Constância - Vila Farma Constância ,
Carrasqueira (Montalvo) Coruche -
Misericórdia Covilhã - São Cosme Cuba - Da
Misericórdia Elvas - Calado Entroncamento -
Terra Estremoz - Carapeta Irmão Évora -
Branco de S. M. Machede Faro - Almeida , Da
Penha Ferreira do Alentejo - Fialho Ferreira do
Zêzere - Graciosa , Soeiro, Moderna (Frazoeira/
Ferreira do Zezere) Figueiró dos Vinhos -
Campos (Aguda) , Correia Suc. Fronteira -
Costa Coelho Fundão - Sena Padez (Fatela)
Gavião - Mendes (Belver) , Pimentel Golegã -
Lusitano Grândola - Moderna Idanha-a-Nova
- Andrade (Idanha A Nova) Lagoa - Lagoa
Loulé - Silveira Algarve , Pinto, Algarve
(Quarteira) Loures - Pedro (Portela) Lourinhã -
Marteleirense , Ribamar (Ribamar) Mação -
Catarino Mafra - Popular (Encarnação) , Costa
Maximiano (Sobreiro) Marinha Grande -
Roldão Marvão - Roque Pinto Mértola - Nova
de Mértola Monchique - Moderna Monforte -
Jardim Montemor-o-Novo - Misericórdia
Montijo - São Pedro Mora - Canelas Pais
(Cabeção) , Falcão, Central (Pavia) Moura -
Nova de Moura Mourão - Central Nazaré -
Ascenso , Maria Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa
- São Damião Óbidos - Vital (Amoreira/Óbidos)
, Senhora da Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odivelas
- Serra , Tanara Oeiras - da Outurela S N
Simões (Carnaxide) Oleiros - Martins
Gonçalves (Estreito - Oleiros) , Garcia Guerra,
Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão -
Olhanense Ourém - Verdasca Ourique - Nova
(Garvão) , Ouriquense Pedrógão Grande -
Baeta Rebelo Penamacor - Nova Peniche -
Proença Pombal - Paiva Ponte de Sor - Matos
Fernandes Portalegre - Nova Portel - Fialho
Portimão - Pedra Mourinha Porto de Mós -
Lopes Proença-a-Nova - Roda , Daniel de
Matos (Sobreira Formosa) Redondo - Holon
Redondo Reguengos de Monsaraz - Moderna
Rio Maior - Central Salvaterra de Magos -
Carvalho Santarém - Pereira Santiago do
Cacém - Barradas Sardoal - Passarinho Serpa
- Serpa Jardim Sertã - Patricio , Farinha
(Cernache do Bonjardim) Sesimbra - Leão
Setúbal - Farinha Pascoal , Higiene Silves - Dias
Neves , Central - Armação de Pêra (Armação
de Pêra) Sines - Atlântico , Monteiro Telhada
(Porto Covo) Sintra - Rico (Agualva) , Pinto Leal
(Queluz), Cargaleiro Lourenço (Rinchoa)
Sobral Monte Agraço - Moderna Sousel -
Mendes Dordio (Cano) , Andrade Tavira - Maria
Aboim Tomar - Nova Torres Novas - Higiene
Torres Vedras - Simões Vendas Novas - Nova
Viana do Alentejo - Viana Vidigueira - Costa
Vila de Rei - Silva Domingos Vila Franca de
Xira - Mercado (Alverca) , Higiene Vila Nova da
Barquinha - Tente (Atalaia) , Carvalho (Praia do
Ribatejo), Barquinha Vila Real de Santo
António - Carrilho Vila Velha de Rodão - Pinto
Vila Viçosa - Monte Alvito - Baronia Ansião -
Moniz Nogueira Loures - São Julião (São Julião
do Tojal) Redondo - Alentejo
50 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
20
CRIANÇAS
TEATRO
Lisboa
A Árvore Branca
LU.CA — Teatro Luís de Camões (Calçada
da Ajuda, 80). T. 215939100
Hoje e dia 15 de Fevereiro às 16h30.
Amanhã e dia 16 de Fevereiro às 11h30.
Preços: 3€ a 7€ (c/descontos). De 12 a 14
de Fevereiro às 10h30. Sessões para
escolas. Preços: 1€ a 3€
Criada e interpretada por Raimundo
Cosme (companhia Plataforma285), uma
peça infantil “sobre felicidades
desarrumadas e cores desalinhadas”,
inspirada no livro Troca-Tintas, de Gonçalo
Viana (Orfeu Negro). A divulgação é feita
assim: “Esta história, passada na Aldeia do
Muro Pintado, tem como protagonistas
uma copa de uma árvore e uma nuvem
que decidem trocar de posição,
tornando-se uma nuvem verde e uma
copa de uma árvore
completamente branca. Em
profundo alvoroço, os habitantes
da aldeia, cientistas e até o chefe
da banda tentam obrigar as duas a
voltar para os seus lugares originais.
(…) Um conto sobre a tolerância e a
convivência entre diferentes
noções de felicidade.”
Caldas da Rainha
Planeta Vinil
Caldas da Rainha (Teatro da Rainha — (2012).”
Rua Vitorino Fróis). T. 262823302
Hoje às 16h00 e às 21h30; dia 15 de
Fevereiro (às 21h30) e dia 16 (às 16h00).
Para crianças com mais de três anos.
Preços: 5€ (adultos) e 2€ (crianças)
O Teatro da Rainha leva à cena uma peça
infantil de tom ecológico, escrita por Cecília
Ferreira e encenada por Fernando Mora
Ramos. “Uma criança ruiva, um
peixe-napoleão, um escaravelho e uma
galinha poedeira fogem da Extinção. Não
sabem ao certo quem ela é, mas, pelo tom
grave com que todos pronunciam o seu
nome, e cada vez com mais aperto, estão
certos de que se trata de uma criatura
monstruosa e assustadora, que está a
aproximar-se deles com largas e
demolidoras passadas.”
Seguirão
juntos até ao Planeta Vinil,
“que lhes permitirá aceder,
acreditam, ao Avesso —
aquele que está limpo da
Extinção e de outros
monstros que tais”.
EXPOSIÇÕES
Lisboa
Tim Burton — As Marionetas de Animação
Museu da Marioneta — Convento das
Bernardas (R. da Esperança, n.° 146).
T. 213942810
Até 19 de Abril. Preço: 2€. Gratuito para
crianças até aos 3 anos (inclusive)
Na comemoração dos seus 20 anos, a
Monstra — Festival de Animação de Lisboa
em co-produção com o Museu da
Marioneta apresentam uma exposição de
homenagem aos filmes de
animação do realizador
norte-americano: “Tim Burton
iniciou a sua carreira nos
e
estúdios da Disney a trabalhar
como animador e é hoje um
dos realizadores mais
célebres de todo o mundo”,
escreve-se na divulgação. “Vão
ser apresentadas marionetas e desenhos
originais dos filmes stop motion de Tim
Burton, bem como armaduras, maquetes,
adereços, esboços e pesquisas gráficas
usados nos filmes Marte Ataca! (1996), A
Noiva Cadáver (2005) e Frankenweenie
Porto
Super-Heróis Subaquáticos
Sea Life Porto (Rua Particular do Castelo
de Queijo). T. 226190400
Até 29 de Fevereiro. Segunda a sexta das
10h às 18h; sábados, domingos e
feriados das 10h às 19h. Preços: 9,50€
(3-12 anos); 13,95€ (>12)
O Sea Life Porto abriu 2020 a chamar os
mais pequenos a uma aventura de
descoberta dos poderes das criaturas
marinhas. Poderes como “a a rapidez
rapidez dos
ra
tubarões, a tenacidade da estrela-do-mar,
a adaptabilidade do polvo, o metabolismo
do cavalo-marinho ou a força do
caranguejo”, lê-se no convite.
Livros
Poucas Letras, Tanto Mar
Texto João Pedro Mésseder
Ilustração Ana Biscaia
Edição Xerefé
84 págs., 10€
Numa altura em que não se pode
falar em mar sem pensar em
plástico e refugiados, João Pedro
Mésseder devolve-nos o prazer
de desfrutar dessa imensidão de
água salgada, inspiradora, rica,
misteriosa e retemperadora.
Com emoção e saber.
“Apesar de no livro haver um
pequeno poema que fala ‘da
tragédia dos refugiados e dos
migrantes, que tentam
ten
enta
tam
m atravessar
a ravessar
at
o Mediterrâneo e que morrem’, a
grande maioria dos poemas
apresenta, acima de tudo,
‘uma relação
lazer@publico.pt
solar com
o mar’”,
escreveu a
Lusa, depois de
e
uma conversa
com o autor em de outras empresas
Outubro de 2019, do concelho. Um bom exemplo
antes ainda da publicação do livro. de iniciativas que promovam a
leitura e apoiem editoras
O poema que dá título à obra
independentes com obras de
chama-se Quantas letras o mar tem?
“— Quantas letras o mar tem boa qualidade literária e gráfica.
quando escreves? — Em Português Também a Lua tem lugar num
conto três,/ três ou quatro em livro envolvente e com trechos a
pedir para serem cantados.
Alemão,/ em Inglês conto três/
como três em Espanhol/ e também Apetecia escutá-los numa
três em Francês…/ — Muito diz em melodia alegre. Lua de sal: “Lua
poucas letras. / — Tão poucas para de sal que vigias/ do céu o meu
caminhar,/ essa brancura que é
tanto mar.”
Ana Biscaia acompanha mais uma tua/ ao mar a foste buscar?”
vez o poeta, num “ensaio visual” À agência Lusa, o autor disse
guiado pelas suas palavras, mas que, nos poemas, “está a
memória dessas escritas
não condicionado ao que é dito.
Também a ilustradora, ondulantes [de Sophia de Mello
expressando-se com talento, leva Breyner e Afonso Lopes Vieira]
o leitor a sentir o sabor e o que fazem do mar um espaço de
viagem e de aventura, de
ondular da água fresca. E este só
pensa em brincar na água. partidas e de chegadas e de
“O mar, o meu mar/ todo o mar ligação entre os povos”.
do mundo ao meu encontro/ mar Um livro para leitores de
meu, centro./ Mergulho no mar. qualquer idade, desde que
consigam imaginar as conchas
Entro?/ Ou entra em mim o
mar?”, escreve-se no poema Mar. de vieira como “leques com que
O livro vai ser distribuído a todos as sereias/ se abanam/ nas
os alunos do 2.º ciclo da Figueira tardes de calor”.
Venha daí e mergulhe connosco
p
da Foz, com o apoio da Câmara
M
Municipal, d
daa Associação em Mar.
m Poucas Letras, Tanto Mar
C
Comercial e Industrial da Rita Pimenta
Fii
Figueira da F oz, da
Foz,
A
Administraçãoção do
Poo
Porto ueira,
da Figueira,
daa Operfoz
 Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 51

JOGOS

CRUZADAS 10.881 TEMPO PARA HOJE

HORIZONTAIS: 1. Espaço plano. VERTICAIS: 1. Origem. Ferida aberta. 2.
Albumina que envolve a gema do ovo. 2. Destrói. Verbal. 3. Milímetro (abrev.).
Marinha de guerra. Pequena argola com Corrida pedestre de 42,195 quilómetros.
que se enfeitam os dedos. 3. Pátria de 4. Preposição que indica destino, fim. Viana do Bragança
Abraão. Molho com gordura, cebola e Pedir socorro. 5. Poema lírico. Armadilha Castelo 7º 12º
outros temperos. 4. Peixe encontrado no (regional). 6. Dirigir palavras aos animais 8º 15º
Braga
Mediterrâneo e nas águas orientais do para os incitar no trabalho. Ente. 7. Não
7º 15º Vila Real
Atlântico. Chegar terra para o pé de uma mencionar. 8. Cidade algarvia. Reduz a
árvore. 5. Pega. Aplanar. 6. Monte locali- auto. 9. Cobrir de, ou tornar semelhante a 6º 14º
14º Porto
zado na Turquia onde, segundo o livro do nata. Internet Protocol (sigla). 10. Lançar 8º 16º
Génesis, encalhou a Arca de Noé. 7. a rede. Antes da guerra, era a maior cida-
Viseu
Figura de retórica em que se simula uma de da Síria. 11. Impulso. Passear ociosa-
7º 12º Guarda
hesitação, uma dúvida. Alojamento mente. 1,5-3m Aveiro
Local. 8. Hospedaria grande e luxuosa. 5º 10º
9º 16º Penhas
Rua pequena. 9. Troca-tintas (regional). Depois do problema resolvido encon-
Estrada Nacional. 10. Grande vontade. tre o título de um filme de Waad Douradas
Conjunto de pessoas escolhidas para Al-Kateab e Edward Watts (2 palavras). Coimbra 3º 8º
uma prova desportiva, trabalhos de in- 9º 16º
vestigação, etc. 11. Estender no lar ou Castelo
Branco
lareira. Aplicar.
Leiria 8º 14º
8º 17º

Santarém
Solução do problema anterior: Portalegre
10º 17º
HORIZONTAIS: 1. Barca. Vagar. 2. Ave. Chinela. 3. Rico. OUTRA. 4. Boa. Cm. Eira. 5. 9º 13º
Indez. 6. Pra. Mel. AD. 7. Dó. DE. Norte. 8. Pato. Juro. 9. CUIDA. Faial. 10. AM. Onda. Via. Lisboa
11. Labro. Zoar. 10º 16º
VERTICAIS: 1. BARBA. Ducal. 2. Avio. Pó. UMA. 3. Recair. Pi. 4. Nadador. 5. AC. CD.
Etano. 6. HOMEM. 7. Viu. Zen. FAZ. 8. Ante. Loja. 9. Gerir. RUIVA. 10. Alar. Atrair. 11. Ra. Setúbal
Aldeola. 9º 17º Évora
PROVÉRBIO: Homem de barba ruiva, uma faz outra cuida. 9º 17º
AMANHÃ

15º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 11º 17º
11º 17º

Dador: Este 1,5-2m

eliminação completa dos paus do mor- Problema
Vul: NS to e do nosso adversário da esquerda,
Rei, Dama e pau cortado (baldando dois 9536 Sagres
Faro
ouros de Sul). Nesta altura, não resta Dificuldade: 12º 18º
NORTE mais do que jogar copa para o Ás e copa 10º 18º
Ƅ AKQ53 para o 4 ou o 8 (golpe em branco).
Fácil
17º
Ɔ A2 Em mão, Oeste será colocado peran- 1m
Ƈ 63 te duas alternativas fatais: voltar um
ƅ AKQ7 ouro para os nossos AQ da mão ou apu-
Açores
rar a nossa Dama de copas, quer jogan- Corvo
do pequena que deixamos correr, quer Graciosa
Terceira
OESTE ESTE o Rei que é cortado no morto. Solução do Flores
S. Jorge 12º 18º
Ƅ 10 Ƅ J74 problema 9534 15º 19º
Ɔ KJ10765 Ɔ9 Considere o seguinte leilão:
17º
Ƈ K984 Ƈ J102 Oeste Norte Este Sul 17º Pico
ƅ J10 ƅ 985432 1Ƈ ? 2,5-3m
Faial

Como interviria com a seguinte mão? 14º 18º

3m S. Miguel
SUL ƄAQ9753 ƆAJ8 ƇQ ƅAJ6
13º 18º
Ƅ 9862 Ponta
Ɔ Q843 Resposta: Marque uma espada. Apesar 17º Delgada
Ƈ AQ75 dos 18 pontos, a sua mão está cheia de
2-2,5m
ƅ6 perdentes e não justifica uma marcação
retardada de quatro espadas, caso os
Madeira Sta Maria

seus adversários venham a colocar o lei-

Porto Santo
lão em quatro copas. Marque uma espa- Problema
da e não tenha receio de ficar a jogar 15º 20º
Oeste Norte Este Sul 9537 19º
passo passo esse contrato, pois se o seu parceiro
2Ɔ1 X passo 2Ƅ passar, é certo que não haverá partida. Dificuldade:
passo 3Ɔ passo 3ST Difícil Funchal
1,5-2m
passo 4ƅ2 passo 4Ƈ 2 1m
19º 16º 22º
passo 6Ƅ Todos passam

Leilão: Qualquer forma de Bridge. 1. Sol Lua Cheia

Fraco, seis cartas e cinco a dez pontos. Nascente 7h36
2. Controlos Poente 18h06 9 Fev. 07h33
Solução do
Carteio: Saída: Jƅ. Qual o seu plano de problema 9535
jogo? Marés
Solução: Em determinados casos, em Leixões Cascais Faro
que um dos adversários mostrou um
unicolor (ou um bicolor), neste caso,
Preia-mar 01h59 3,4 01h36 3,4 01h43 3,3
seis cartas de copas, é possível executar
14h27 3,3 14h02 3,3 14h06 3,3
um plano de eliminação e colocação de
mão, mesmo que uma das duas mãos fi- Baixa-mar 08h17 0,6 07h52 0,8 07h47 0,6
que desprovida de trunfo. Este jogo é
um bom exemplo. 20h28 0,6 20h03 0,8 19h59 0,6
A forma de jogar é simples: Ás de João Fanha/Pedro Morbey
Fonte: www.AccuWeather.com
paus, três voltas de trunfo (estão 3-1) e (bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
52 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
INICIATIVAS
AGENDA
Sexta-feira, 14
Livro História(s) do Presente
Uma colectânea de 12 ensaios e 12
entrevistas a reputados
especialistas internacionais sobre
eventos históricos marcantes e
sobre os legados vários que nos
deixaram. Versão actualizada e
desenvolvida da série com o
mesmo nome publicada no P2
que interroga o passado e
procura pistas para perceber o
presente.
Sábado, 15
Colecção Watchmen
Vol. 1 – Quem Guarda os
Guardiões?
O PÚBLICO e a Levoir reúnem a
mais aclamada novela gráfica
numa colecção de dez volumes,
seis dos quais inéditos em
português. Desde a série original
e a continuação de Doomsday
Clock, que junta as personagens
de Watchmen às do Universo DC
– incluindo um evento do DC
Rebirth e a história Batman: The
Button, com o clima político da
Guerra Fria como cenário.
O futuro
já tem História
História
Livro História(s) do Presente
Sexta-feira, 14 de Fevereiro
Por + 16,90€
O primeiro texto foi publicado em
Novembro de 2017, no P2. O objectivo
era “explorar determinados processos
históricos que continuassem a rever-
berar na actualidade”, descreveram
assim os autores do texto, Miguel Ban-
deira Jerónimo e José Pedro Monteiro.
E assim continuaram. Seguiram-se
mais 11, perfazendo uma série de 12
ensaios, 12 entrevistas a reputados
especialistas internacionais sobre
eventos e processos históricos que
marcaram o nosso passado, e sobre os
legados vários que nos deixaram.
Foram publicadas mensalmente, sob
o título História(s) do Presente.
Cada um dos números temáticos
obedecia a critérios relativamente
simples: “O ensaio devia explorar um
evento, problema ou processo histó-
rico a partir de um livro particular-
mente relevante que não tivesse sido
editado em Portugal. Dada a abundân-
cia, infelizmente, de obras de referên-
cia por traduzir para português, um
inequívoco sinal do nosso atraso aca-
démico e até cívico, a escolha de um
livro foi ao mesmo tempo fácil e difí-
cil”, confessam. “A entrevista, por sua
vez, seria sempre feita a um especia-
lista de reputação internacional com
obra original sobre cada um dos temas
explorados”.
Depois das regras, a motivação de
contribuir para uma esfera pública
viva, atenta, mais democrática e inclu-
siva, de ultrapassar as barreiras do
“nacionalismo metodológico”, mas a
análise passados dois anos não é das
mais positivas: “Na pequenez da nossa
contribuição, falhámos redondamen-
te”, dizem. “O balanço sobre os termos
do debate público, em Portugal e no
mundo ocidental, não é propriamente
animador. Sinais de melhoria escas-
seiam. Os trombeteiros continuam
entusiasmados, à sexta e ao sábado,
com plena consciência de contribuí-
rem para agudizar o que dizem pom-
posamente querer transformar, isto é,
a qualidade do debate público. Mani-
festações diversas apontam para uma
maior dessensibilização face à violên-
cia potencial, material ou simbólica.
Formulações sobre desigualdades de
género, ‘raciais’ ou socioeconómicas
que, até há pouco, eram dadas por
inaceitáveis, ressurgem de forma par-
ticularmente virulenta.” Mas, para
além de combater, o objetivo passou
sobretudo por informar. A crise dos
refugiados, o racismo, a globalização,
os nacionalismos, os usos dos véus, as
fake news, os abusos da história, entre
muitos outros temas, geram frequen-
temente acesos debates públicos, mas
nem sempre informados.
O resultado foi agora reunido neste
volume em formato livro que o PÚBLI-
CO edita em parceria com a Tinta da
China. Explorando as histórias plurais
dos campos de concentração, da
emergência de um discurso dos direi-
tos humanos ou das políticas do medo
e da histeria colectiva organizada, hoje
tão presentes, convida-se o leitor a
tentar perceber como aqui chegámos
e, olhando para o que se passou, de
que forma podemos imaginar um
futuro menos sombrio, menos desi-
gual e menos violento.
Para ler e reÇectir, na próxima sex-
ta-feira, com o seu jornal.
Os entrevistados
Elizabeth Buettner
É professora de História Contemporâ-
nea na Universidade de Amesterdão.
O seu último livro, Europe after Empi-
re: Decolonization, Society and Culture
(2016), é uma análise comparada
sobre como várias sociedades euro-
peias lidaram com os Æns dos impérios
e com as suas consequências. Nesta
entrevista, recorda-nos por que é fun-
damental estudar esse passado impe-
rial e compreender o modo como ele
se repercute no presente das socieda-
des pós-imperiais.
Dan Stone
Professor de História Moderna no
Royal Holloway. É um dos mais impor-
tantes especialistas mundiais sobre o
genocídio, o Holocausto, o regime
nazi e os campos de concentração,
temas sobre os quais reÇecte nesta
entrevista.
Joseph Hodge
Professor de História na West Virginia
University, é um dos mais importantes
especialistas mundiais em história do
desenvolvimento. O seu Triumph of
the Expert: Agrarian Doctrines of Deve-
lopment and the Legacies of British
Colonialism (2007) é indispensável
para perceber os legados coloniais das
políticas agrárias, ambientais e de des-
envolvimento em África.
OS AUTORES
Miguel Bandeira Jerónimo
É investigador do Centro de
Estudos Sociais da Universidade
de Coimbra. A sua pesquisa
centra-se na história global e
comparada do imperialismo e
do colonialismo. Em 2010,
publicou Livros Brancos, Almas
Negras: A “Missão Civilizadora”
do Colonialismo Português. Foi
o primeiro de muitas obras
sobre o tema. Actualmente
coordena o projecto
internacional Worlds of (Under)
Development: Processes and
Legacies of the Portuguese
Colonial Empire in a
Comparative Perspective (1945
1975).
José Pedro Monteiro
É investigador do Centro de
Estudos Sociais da Universidade
de Coimbra, tendo-se
doutorado em História no
Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa. No seu
trabalho de investigação, tem
vindo a estudar, os domínios da
história internacional e da
história imperial e colonial,
tendo publicado sobre estes
temas. Foi um dos comissários
da exposição O Direito sobre Si
Mesmo: 150 Anos da Abolição
da Escravatura no Império
Português.
Samuel Moyn
Professor de História do Direito na
Universidade de Yale, é um dos mais
reputados historiadores dos direitos
humanos. A sua obra Last Utopia:
Human Rights in History (Harvard Uni-
versity Press, 2010) constitui um mar-
co fundamental neste ramo.
David Miller
Professor de Sociologia na Universi-
dade de Bath. Especializou-se no
estudo do papel central da comuni-
cação para as relações de poder nas
sociedades contemporâneas. Mais
recentemente, tem investigado a
constituição dos saberes e o papel
dos “especialistas” associados à ques-
tão do terrorismo.
Joanna Bourke
Professora de História no Birkbeck
College da Universidade de Londres.
Autora prolíÆca sobre temas como
a violência sexual, a guerra e as emo-
ções. Na entrevista, fala sobre o
medo e a sua evolução ao longo dos
séculos.
Samantha Christiansen
É professora assistente na Universi-
dade de Marywood. Autora prolíÆca,
é uma das mais importantes vozes
emergentes no estudo da história
global do protesto e do Terceiro
Mundo.
Joan Wallach Scott
É professora emérita do Instituto de
Estudos Avançados na Universidade
de Princeton. Historiadora de pres-
tígio, com destaque para a história
de França. Esta entrevista contou
com a colaboração de três investiga-
doras portuguesas, Ana Cristina San-
tos, Anne Cova e Filipa Lowndes
Vicente, que têm trabalhado sobre
questões de género.
Peter Gatrell
Professor na Universidade de Man-
chester, tem produzido inúmeros
volumes sobre a história dos refugia-
dos na Rússia e sobre os regimes
legais que organizaram a questão. A
deslocação de populações no mundo
moderno é o seu principal objecto
de estudo.
Quinn Slobodian
Professor de História no Wellesley
College, especialista em história ale-
mã, em movimentos sociais, especial-
mente na década de 1960, e na histó-
ria intelectual do neoliberalismo.
Robert Vitalis
Professor de Relações Internacionais
e Ciência Política na Universidade da
Pensilvânia. Ao longo da sua carreira,
dedicou-se à investigação das dimen-
sões internacionais e globais das ques-
tões colonial e racial.
Sandrine Kott
Tem uma obra extensa e de referência
na história do Estado social e das rela-
ções de trabalho na Europa, sobretu-
do em França e na Alemanha. Nesta
entrevista reÇecte sobre o internacio-
nalismo.

Watchmen chega ao
universo DC e ao PÚBLICO
Banda Desenhada
Colecção Watchmen
Watchmen Vol 1 – Quem Guarda
os Guardiões?
Argumento – Alan Moore
Desenhos – Dave Gibbons
Sábado, 15 de Fevereiro
Por + 9,90€
Depois da publicação em livraria
num volume único, Watchmen, a
seminal série de Alan Moore e Dave
Gibbons regressa agora nas bancas,
numa colecção de 10 volumes, que
inclui também Doomsday Clock, a
história que integra as personagens
de Watchmen no mesmo universo
onde estão os principais heróis da
DC, como o Batman e o Super-Ho-
mem, reescrevendo de forma bri-
lhante a história desse mesmo uni-
verso e Renascimento, volume que
reúne as histórias que fazem “a pon-
te” entre essas duas sagas épicas.
Publicada
b cada originalmente
o g a e te e em 1986
986
— um ano ímpar para a história da
BD, onde
nde surgiu também Dylan Dog
— como
mo uma mini-série de 12 núme-
ros, Watchmen, a par de O Regresso
do Cavaleiro
avaleiro das Trevas, de Frank
Millerr e Maus, de Art Spiegelman,
tambémém de 1986, veio mudar a for-
ma como
omo a Banda Desenhada era
encarada
rada pelo público americano,
provando
ando que é possível
í contar his-
tóriass adultas e complexas através
da BD.
D. No caso, Moore reÇecte sobre
as consequências
nsequências da existência de
super-heróis
r-heróis no mundo real,
numa a história em que o assas-
sinato
o do Comediante, um
antigoo super-herói, leva
um dos seus antigos
colegas
gas a investigar
as causas
ausas dessa
morte,e, para con-
cluir que todos
não passavam
de peões
eões de
uma conspi-
ração muito mais vasta.
Passada em 1985, mas numa rea-
lidade paralela, em que os primeiros
vigilantes mascarados surgem na
década de 40, inÇuenciados pela
leitura dos Comics, Watchmen ana-
lisa de forma metódica o modo
como o aparecimento de alguém
com verdadeiros superpoderes vai
inÇuenciar a evolução da própria
História. Nesta ucronia, os EUA ven-
ceram a guerra do Vietname — gra-
ças ao contributo do Dr. Manhattan,
um verdadeiro super-homem nasci-
do de uma experiência nuclear
falhada — Nixon continua no poder,
o confronto nuclear com a URSS está
eminente e os vigilantes mascarados
foram ilegalizados, com excepção
daqueles que trabalham para o
governo americano, como o Dr.
Manhattan, ou o Comediante. Apre-
sentando-se como uma história de
super-heróis, Watchmen é muito
mais do que isso: é uma história
extremamente complexa e cheia de
informação,
o ação, co construída
st u da co
com a p
pre-
e Moore
cisão de um mecanismo de relojoa-
ria. Uma imagem que não podia ser
mais apropriada, pois os relógios
têm uma importância primordial
em Watchmen, desde os relógios
que Jon Osterman, o futuro Dr.
Manhattan aprendeu a desmon-
tar, até ao Relógio do o
Apocalipse, que
mede a
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 53
proximidade de um possível conÇi- pela Levoir) e Saga of the Swamp
to nuclear e que, na época em que Thing, o seu título de estreia no mer-
Moore escreveu a história, no auge cado americano. Mas com o sucesso
da Guerra Fria, estava tão perto da da versão cinematográÆca do livro
Meia-noite como actualmente, com realizada de forma tão respeitosa
Trump na Casa Branca. como conseguida por Zack Snyder
Fruto do talento de Alan Moore, em 2009 e do motion Comic que deu
um escritor em estado de graça, que movimento à arte de Gibbons, tor-
domina como poucos os mecanis- nou-se claro que seria uma questão
mos narrativos da Banda Desenhada de tempo até a DC voltar a explorar
e ilustrado com rigor e competência o universo criado pela dupla britâ-
inexcedíveis por Dave Gibbons, um nica. Isso aconteceu precisamente
excelente desenhador inglês que já em 2012 com o projecto Before
tinha colaborado com o seu compa- Watchmen, um conjunto de mini-
triota Alan Moore em histórias cur- séries assinadas por alguns dos
tas para a revista britânica 2000AD, maiores nomes dos Comics, como
Watchmen é um marco incontorná- Darwyn Cooke (DC, the New Fron-
vel na história da BD... e não só, ten- tier) Brian Azzarello e Lee Bermejo
do sido a única obra de banda dese- ( Joker), Jae Lee e Joe Kubert, entre
nhada incluída na lista Os 100 Melho- outros, que, apesar de renegada por
res Livros de Todos os Tempos, Moore, corresponde ao desejo
publicada em 2005 pela revista expresso por ele numa entrevista ao
Time. Comics Journal de, caso Watchmen
Tão importante como irrepetível, tivesse sucesso, escrever uma pre-
este livro manteve-se durante muito quela centrada no passado dos
tempo sem continuação, até porque Minutemen.
oo e ttinha
a co
cortado
tado relações
e ações com
co Finalmente,
a e te, e em 2016, no Ænal da
a Editora DC, afastando-se das his- revista que apresenta
apresen a reformulação
tórias de super-heróis, depois de ter do Universo DC iniciada em DC
criado clássicos como V de Vingan- Rebirth vemos o Ba Batman a descobrir
ça, Batman: Piada Mortal ( já edita- na Batcaverna o ccrachá do smiley
dos em Portugal pelo PÚBLICO e manchado com o sangue do come-
diante, abrindo assim
ass a porta para a
integração dos WatWatchmen no univer-
so DC, aspecto dese
desenvolvido na mini-
série The Button, quequ reúne o Batman
e o Flash, numa hist
história escrita a duas
mãos por Tom King e Joshua
Williamson e que qu culmina com
Doomsday Clock, a série em doze
partes de Geoè è Johns
Joh e Gary Frank
descobrimos que o Dr
em que descobr
Manhattan é o Deu Deus exmachina res-
ponsável pelo estado
esta actual do uni-
verso DC, um universo
uni que tem o
Super-Homem como co maior cons-
tante. É essa se
sequência de histó-
rias, que parte
part de um clássico
incontornável,
incontornáv republicado
num
n
nu m novo formato,
f com uma
série de ex
extras inexistentes
na
n edição
ediçã para livraria,
para
p
pa ra cul
culminar na sequela,
que é ssimultaneamente
uma h homenagem, con-
tinua
tinuação e reinvenção
do WWatchmen origi-
nal, que os leitores
nal
poderão acompa-
po
nhar nas próximas
nh
dez semanas num
de
quiosque perto de
qu
si. João Miguel
si
Lameiras
La
54 • Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

DESPORTO
Há 53 pessoas proibidas de entrar
em recintos desportivos em Braga
Processos respeitam quase todos ao projecto-piloto de combate à violência em espectáculos desportivos,
iniciado em Setembro de 2019, na Comarca de Braga. PSP quer estender a ideia ao resto do território nacional
RAFAEL MARCHANTE/REUTERS

Violência no desporto
Tiago Mendes Dias
O Ministério Público (MP) lançou um
projecto-piloto de combate à violên-
cia em eventos desportivos na Comar-
ca de Braga em Setembro de 2019,
altura em que estava em curso um
processo de interdição de recintos
desportivos. Cumpridos pouco mais
de cinco meses, estão em curso 53
interdições de “adeptos penalmente
responsáveis por comportamentos
de violência no desporto”, revelou
ontem, em Braga, a procuradora-ge-
ral da República (PGR), Lucília Gago.
Desses casos, dois foram alvo de pena
suspensa, acrescentou.
A sessão ilustrou as situações de
violência no desporto com um vídeo
do jogo entre Vitória de Guimarães e
BenÆca, da 15.ª jornada da I Liga, mar-
cado pela deÇagração e arremesso de
tochas, no dia 4 de Janeiro de 2020.
Esse mês Æcou depois marcado por
casos semelhantes na fase Ænal da
Taça da Liga, decorrida entre 22 e 25
de Janeiro, em Braga, que ditou a apli-
cação de multas superiores a 33.000
euros aos quatro clubes envolvidos
— Sp. Braga, FC Porto, Sporting e Vitó-
ria de Guimarães.
Para a PGR, a “interdição no acesso
aos recintos desportivos” é a “única
medida eÆcaz e dissuasora do clima
de impunidade de que certos grupos
de adeptos gozam”. O projecto-piloto Sporting, FC Porto, Sp. Braga e V. Guimarães foram multados por incidentes recentes durante a final four da Taça da Liga
lançado na Comarca de Braga dá, no
seu entender, uma resposta mais eÆ# A violência em eventos desporti- ser permitida a actuação policial em arremesso com possível “colocação
caz a esse problema por ter criado
A violência vos, frisou o responsável, subiu 19,6% situações associadas ao evento des- em perigo” de terceiros. “Iremos
uma especialização para magistrados em eventos entre o ano de 2018 e o ano de 2019, portivo que não ocorram apenas no pedir a criminalização da posse de
do Ministério Público sobre violência com 87% dessa variação a pesar sobre recinto. artigos pirotécnicos”, anunciou.
no desporto e uma base de dados que
desportivos os ombros do principal campeonato Os elogios do responsável estende- Magina da Silva rejeitou ainda as crí-
apoia a investigação. aumentou 19,6% de futebol. A PSP, disse ainda Magina ram-se à Autoridade para a Prevenção ticas de que a PSP é alvo quanto às
A violência no desporto merece da Silva, conhece bem o “sabor amar- e o Combate à Violência no Desporto, revistas de adeptos, já que artefactos
atenção a nível judicial, mas também
entre os anos go da violência nos grandes derbies”, que, no seu entender, tem “apresen- como petardos, com tamanhos a ron-
os crimes económico-Ænanceiros, de 2018 e de 2019 por se encontrar nas maiores cidades tado resultados” — segundo um tra- dar os cinco centímetros, são pratica-
como a corrupção, o branqueamento do país. “Não é de todo admissível balho publicado pelo Jornal de Notí- mente “impossíveis de detectar”.
de capitais e a viciação de resultados, “O caminho pragmático é bater onde termos de nos preparar com 700 ou cias, em Janeiro deste ano, essa auto- Entre o restante painel, destaque
tendo dito que já há um departamen- dói mais: a interdição de acesso aos 800 efectivos para grandes derbies, ridade já interditou a entrada em para a intervenção de Ricardo Tomás,
to do MP a trabalhar nesse sentido. recintos desportivos. Que isto se como se estivéssemos a preparar uma recintos desportivos a mais de 60 do DIAP de Guimarães, que realçou
estenda ao resto do território nacio- guerra, e não uma festa”, apontou. adeptos. que os meios disponibilizados à PSP
PSP quer mão mais pesada nal, para transformarmos estádios Apesar de ter criticado a tendência O director nacional da PSP criticou, para garantir a segurança são exíguos
O projecto-piloto desenvolvido na de sítio em estádios de festa”, frisou portuguesa para se limitar a rever a por outro lado, a descriminalização comparativamente a outros campeo-
Comarca de Braga mereceu os elo- durante a sessão, tendo ainda dito legislação quando algo não funciona, da posse de artigos pirotécnicos em natos, como o inglês, e acusou os
gios do director nacional da PSP, que “violência é violência”, indepen- Magina da Silva considerou adequado estádios de futebol — a situação é clubes de futebol de, até agora, não
Magina da Silva, que deseja vê-lo dentemente do espaço onde é prati- o presente quadro jurídico de respos- actualmente punida com contra-or- terem mostrado verdadeiro interesse
alargado a todo o território nacional. cada. ta à violência no desporto, até por já denação, passando a crime se houver em resolver o problema.

Planisférico
Keane e Haaland,
uma história de violência
Futebol internacional
Marco Vaza
O pai de um dos mais
promissores avançados da
actualidade tem contas
antigas com o ex-médio do
Manchester United
Não foram colegas de equipa por pou-
cos meses. Quando AlÆe Haaland
chegou ao Nottingham Forest, no
Inverno de 1993, para iniciar uma
carreira decente (mas não extraordi-
nária) no futebol inglês, Roy Keane já
tinha saído para se juntar ao Man-
chester United e a uma equipa que
iria ganhar tudo e mais alguma coisa
na década seguinte. Nunca partilha-
ram conquistas ou derrotas, mas os
seus nomes estarão para sempre liga-
dos numa história de violência e vin-
gança, que tem como personagens
secundárias um árbitro hesitante, um
treinador que Ængiu não ter visto
nada, dois joelhos que Æcaram mal-
tratados, e uma ponte para o presen-
te na forma de um dos mais promis-
sores avançados do futebol.
Keane e Haaland não foram colegas
por uma questão de meses, mas
foram adversários múltiplas vezes, o
irlandês sempre no Manchester Uni-
ted, o norueguês em três clubes dife-
rentes — Nottingham Forest, Leeds
United e Manchester City. O terceiro
desses confrontos aconteceu a 29 de
Setembro de 1997, em Elland Road,
Haaland titular na defesa do Leeds,
Keane o motor do meio-campo e capi-
tão do United. Com um português em
campo, Bruno Ribeiro, o Leeds aca-
baria por ganhar (1-0), mas o jogo
Æcaria marcado por um incidente.
Perto do Ænal, Keane faz uma apro-
ximação à baliza do Leeds, mas adian-
ta demasiado a bola e deixa-se ante-
cipar por Haaland dentro da área. O
irlandês tenta fazer um carrinho ao
norueguês, mas cai mal no relvado e
não se levanta. Haaland achava que
Keane estava a Ængir uma lesão e foi
lá gritar-lhe na cara. Levou amarelo e
Keane, que seria transportado para
lá das quatro linhas, também mere-
ceu acção disciplinar.
Como se perceberia depois, Keane
não estava a fazer Æta. Tinha-se lesio-
nado gravemente num joelho e não
jogaria mais essa época. “Estava a
tentar que ele tropeçasse, não queria
dar-lhe um pontapé”, contou o irlan-
Haaland e Keane num dos vários duelos em Inglaterra
“Já tinha esperado
demasiado tempo.
Dei-lhe com
força! Toma lá,
meu cabrão”
dês numa autobiograÆa publicada em
2002. O irlandês só voltaria a jogar na
época seguinte, que seria histórica
para o Manchester United: campeão
inglês, vencedor da Taça de Inglater-
ra e conquistador da Liga dos Cam-
peões numa épica Ænal, em Barcelo-
na, frente ao Bayern Munique.
Avancemos até 21 de Abril de 2001,
dia do sexto confronto entre Keane e
Haaland, que entretanto se tinha
mudado para o Manchester City. Nes-
ses tempos, ao contrário do que acon-
tece agora, eram os “red devils” a
força dominante do futebol de Man-
chester e o City era, como lhe chama-
va Alex Ferguson, o “vizinho baru-
lhento”. Aos 86’, estava o jogo empa-
tado em Old Traèord quando Keane
entra de chuteiras para a frente sobre
a perna direita de Haaland, que caiu
desamparado. Com o norueguês no
DARREN WALSH/ACTION IMAGES
chão, Keane repetiu o que este lhe
tinha feito quatro anos antes: incli-
nou-se e gritou-lhe na cara.
Depois de consultar o auxiliar, o
árbitro David Elleray mostrou ao
irlandês o cartão vermelho. Mas,
como contaria mais tarde ao The
Guardian, Elleray não tinha a certeza
do que estava a fazer: “Tinham sido
mais de 80 minutos sem sequer um
cartão amarelo. Até àquela falta do
Keane sobre o Haaland. Costumam
dizer que deve ter sido a decisão mais
fácil da minha carreira. Mas foi a mais
difícil. Era um derby de Manchester e
esta era a quarta vez que eu ia expul-
sar o Roy. Já se dizia que eu tinha uma
vendetta pessoal contra ele. Depois,
quando vi o lance na televisão, vi que
tinha tomado a decisão certa.”
Alex Ferguson fez de conta que não
viu nada. “Não vi nada, mas falei com
o nosso delegado e ele achou que era
caso de expulsão”, limitou-se a dizer,
na altura, o técnico do United. Por ter
visto o segundo vermelho directo da
época, Keane foi suspenso por quatro
jogos. A lesão de Haaland não foi, no
imediato, tão grave como se pensava.
“Se tivesse o pé no chão, teria feito
muito dano. Tenho de melhorar o
Público • Sábado, 8 de Fevereiro de 2020 • 55
meu seguro da próxima vez que
defrontar o Manchester United”, dis-
se, na altura, o norueguês.
Um ano depois, Keane lançou a
autobiograÆa e percebeu-se a nature-
za da agressão a Haaland. Tinha pas-
sado quatro anos a pensar nas pernas
do norueguês. “Já tinha esperado
demasiado tempo. Foda-se, dei-lhe
com força! A bola estava lá (acho eu).
Toma lá, meu cabrão. E nunca mais
venhas ter comigo a dizer que eu
estou a Ængir uma lesão”, contou o
irlandês no primeiro de dois livros de
memórias que lançou. A imprensa já
não largou Keane depois disto e o
irlandês, em várias entrevistas, refor-
çou a intencionalidade do acto. “Mes-
mo depois, não senti remorsos. Ele
teve o que merecia, ele que se foda,
olho por olho”, reforçou na autobio-
graÆa. Por esta frase, Keane recebeu
uma suspensão de mais cinco jogos e
uma multa de 150 mil libras.
Haaland ainda teve dois anos de
ligação ao Manchester City, mas nun-
ca mais fez um jogo completo e, em
2003, com 31 anos, pôs um ponto Ænal
na carreira. Depois das admissões de
Keane na autobiograÆa, ainda pensou
em processar o irlandês por ter preci-
pitado o Æm da sua vida futebolística,
mas não avançou. O que Æcou foi um
antagonismo entre os dois, com tro-
cas periódicas de mimos através da
imprensa e das redes sociais. Keane,
na segunda autobiograÆa (de 2014),
voltou atrás na intencionalidade da
agressão, mas não nos arrependimen-
tos. “Não tinha intenção de o lesionar
[…]. Mas ele irritava-me. De vez em
quando vinha atrás de mim e deixava
a sua marca nas minhas pernas. Há
coisas das quais me arrependo, mas
esta não é uma delas.”
Haaland ainda tentou um regresso
(sem sucesso) aos relvados dez anos
depois, em equipas norueguesas. Mas
a sua contribuição para o futebol não
Æcou por aqui. Em 2000, quando ain-
da jogava no Leeds, nasceu Erling, o
segundo dos seus três Ælhos, e que se
tem aÆrmado como um dos grandes
goleadores de futuro no futebol mun-
dial. com apenas 19 anos — no Borussia
Dortmund, já marcou oito golos em 181
minutos distribuídos por quatro jogos.
E com uma coisa Erling Haaland, que
esteve nos planos do Manchester Uni-
ted, não tem de se preocupar: não há
nenhum Roy Keane Júnior no futebol
para dar uma sequela a esta história.
mvaza@publico.pt
DESPORTO
Varandas
acusa Bruno
de Carvalho
em tribunal
Justiça
Actual presidente
do Sporting falou em
tentativa de intimidação
por parte de Bruno de
Carvalho aos funcionários
O presidente do Sporting, Frederico
Varandas, acusou ontem, na 27.ª ses-
são do julgamento do ataque à Aca-
demia de Alcochete, o ex-presidente
“leonino” Bruno de Carvalho de
“amedrontar os funcionários” na
véspera da invasão.
O actual líder sportinguista, que à
data era o director clínico do clube,
conÆrmou ter estado presente numa
reunião realizada a 14 de Maio, no dia
seguinte à derrota (2-1) com o Marí-
timo e na véspera do ataque à Aca-
demia, na qual estiveram presentes
elementos do departamento clínico,
secretários técnicos, roupeiros, o
director para o futebol, Manuel Fer-
nandes, o “team manager” André
Geraldes, o administrador Carlos
Vieira e o antigo presidente Bruno
de Carvalho.
“Foi uma reunião surreal. Bruno
de Carvalho disse: ‘Estou farto que
me enÆem o dedo no cu’ e que a Taça
valia tanto como um furúnculo no
cu. Disse: ‘Isto vai mudar completa-
mente” e que queria ‘toda a gente no
treino amanhã à tarde’”, explicou
Frederico Varandas, atribuindo um
tom “desaÆador” ao discurso do
antigo presidente, quando este, “de
dedo espetado”, acrescentou: “Ama-
nhã, aconteça o que acontecer, que-
ro ver quem continua comigo”.
Questionado sobre a interpretação
das palavras de Bruno de Carvalho,
Frederico Varandas — que foi ouvido
na qualidade de representante do
Sporting, assistente do processo —
confessou ter entendido que “algo
de anormal estaria para acontecer”,
embora tenha admitido que se regis-
tava já “um crescente de tensão”
entre adeptos e equipa.
Paralelamente, o actual presiden-
te do clube de Alvalade revelou tam-
bém ter falado com Jorge Jesus no
Ænal da reunião entre Bruno de Car-
valho e a equipa técnica, uma das
três reuniões conduzidas pelo antigo
líder do Sporting no dia 14 de Maio,
e que o ex-treinador dos “leões” lhe
admitiu que tinha sido demitido do
comando técnico.
Sábado, 8 de Fevereiro de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

O RESPEITINHO NÃO É BONITO

Bem-vindos ao Reino da República de Portugal

NUNO FERREIRA SANTOS
nuvem cinzenta, feita não só de com pelo menos três Presidentes
suspeitas de corrupção, da República (Soares, Sampaio e
branqueamento de capitais e Cavaco), dois primeiros-ministros
tráÆco de inÇuências, mas também portugueses (Durão e Santana) e
de namoradas, réveillons, férias na um primeiro-ministro espanhol
neve e herdades no Alentejo. Onde ( José María Aznar, grande amigo de
João Miguel Tavares

N
acaba a vida privada e começa a Dias Loureiro).
vida pública no seu caso? Onde Isto não diz nada sobre as
a passada quinta-feira, a terminam as cumplicidades pessoas envolvidas — nunca nada
propósito da referência que pessoais e começam as de ilegítimo foi encontrado no
Æz a Catarina Loureiro, Ælha cumplicidades políticas, percurso da Ælha mais nova de Dias
de Manuel Dias Loureiro, no económicas e mediáticas? A linha Loureiro. Mas diz muito sobre o
meu artigo sobre António de fronteira há muito que se ambiente em que se movimenta a
Vitorino e os negócios da esfumou. elite do país e como se entretece a
Venezuela, uma leitora enviou-me Essa é talvez a principal razão rede de cumplicidades que domina
uma sugestão de correcção. Dizia por que em Portugal é tão difícil a política portuguesa e os negócios
apenas isto: “A Ælha de Dias compreender o sistema que nos que gravitam à sua volta. A
Loureiro é Joana e não Catarina.” A rodeia — esse sistema aristocracia não desapareceu em
leitora não tem razão — é mesmo claustrofóbico que limita Portugal — ela apenas deixou de ter
Catarina Loureiro, mulher de Alejo fortemente a aÆrmação de uma sangue azul. Com uma agravante:
Morodo, que está envolvida no democracia arejada e assente no Ælho do ex-embaixador espanhol enquanto a antiga aristocracia
caso —, mas o lapso é curioso. Vale mérito individual —, sem conhecer em Portugal e na Venezuela Raúl reconhecia todos os seus
a pena olhar um pouco mais de também a teia de famílias, Morodo, a quem Nuno Ribeiro, em privilégios mas tinha uma missão
perto para a descendência de compinchas, caçadas, partidas de artigo neste jornal, chamou “o patriótica a desempenhar — e era
Manuel Dias Loureiro. golfe, férias partilhadas, jantares irmão espanhol de Mário Soares”. por isso que a nobreza partia para a
Existe um justo e prudente
pudor republicano que nos
ou matrimónios na Quinta do Lago.
Ler o PÚBLICO é muito
A aristocracia não Morodo frequentava a casa dos
Bourbon no Estoril e foi uma Ægura
guerra e morria lá —, a actual
aristocracia oÆciosa reclama todos
convida a não confundir vida importante. Ler a revista Caras desapareceu em Portugal marcante dos bastidores da política os seus direitos, mas despreza cada
pública com vida privada. também. Manuel Dias Loureiro é – apenas deixou de ter espanhola e portuguesa desde a um dos seus deveres. No Reino da
Infelizmente, em Portugal são os um bom exemplo daquilo que década de 60. Joana Dias Loureiro República de Portugal, dominam
próprios envolvidos em casos estou a dizer. sangue azul. Com uma casou em 2003 com João Ferro os barões do tipo Dias Loureiro:
duvidosos que começam por não Dias Loureiro tem duas Ælhas agravante: reclama todos Rodrigues (a união durou apenas conhecem tudo, Ængem saber nada
separar uma coisa da outra. Basta
olhar para José Sócrates — relações
com Fátima Varandas, de quem se
divorciou em 2006: Catarina, a
os seus direitos, mas dois anos, mas têm um Ælho em
comum), Ælho do presidente da
e ninguém lhes toca.

públicas, privadas e familiares mais velha, e Joana. Catarina Dias despreza cada um dos Assembleia da República Ferro Jornalista
misturam-se todas na mesma Loureiro casou com Alejo Morodo, seus deveres Rodrigues, numa boda que contou jmtavares@outlook.com

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