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ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Universidade Internacional
Centro de Estudos Multiculturais

Curso de Pós Graduação em Mediação Intercultural Aplicada ao


Serviço Social

“ Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor


Compreensão das Margens”

ANA PAULA CARVALHO DE LIMA

Maio de 2006
ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

“Ora precisamente o não fechamento implica, antes de mais, trazer


ao de cima as questões difíceis e significa também, que nesta
optica intercultural, nós temos que ter (...) a capacidade, por um
lado, perceber aquilo que são valores, preconceitos, rótulos,
estereótipos, maneiras de ver o mundo da cultura de origem,
respeita-los, dignifica-los, mas entrar também em conflito com eles.
Para que daí saia uma postura de abertura. Por exemplo, uma
abertura pautada dos Direitos Humanos. Mas, obviamente que será
sempre através de um compromisso. Será sempre através de uma
negociação. Será sempre através de uma reapropriação do conflito
para novas posturas. Mas o fundamental, acima de tudo, é fazer as
perguntas difíceis. É colocar o conflito como explicito. A partir dai a
abertura será uma possibilidade. Não digo que ela seja inevitável,
porque muitas vezes não se consegue, mas será uma
possibilidade”.

(João Teixeira Lopes 1 )

1
Director do Curso de Especialização em Animação e Mediação Cultura orador
no encontro da Mediar “Olhares Sobre a Mediação Sócio-Cultural” Fevereiro de
2006 Lisboa IPJ

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Índice

I – Introdução pág 5

II – História da Mediação pág 6

2.1 – Conceitos de Mediação e Animação

2.1.1 – Mediação Conflitos pág 9


2.1.2 – Mediação Sócio-Cultural pág 13
2.1.3 – Mediação Intercultural pág 17
2.1.4 – Outros conceitos de Mediação pág 19
2.1.5 – Animação pág 19

II – Estudo de caso – Mediação em Contexto Escolar na escola Pedro D’Orey da Cunha


– Projecto “Escola Mais”

2.1 – Apresentação do Projecto pág 21


2.2 – Finalidades do Projecto pág 21
2.3 – Público Alvo pág 22
2.4 – Principais Actividades pág 22

III – Conclusão pág 23

Bibliografia

Anexos
Anexo 1 – Lei 78/2001
Anexo 2 – Código Europeu de conduta para os Mediadores
Anexo 3 – Lei 105/2001

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ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

I - Introdução

O presente trabalho solicitado no âmbito do curso de pós graduação em Mediação


Intercultural aplicada ao serviço social assenta nas questões da mediação em Portugal.
Assim, “Mediação – Construção de Pontes para uma Melhor Compreensão das
Margens”, pretende enunciar o percurso histórico da mediação num sentido geral, bem
como os vários campos de actuação possíveis dos mediadores em Portugal.
Neste aspecto, este trabalho dá particular ênfase aos conceitos de mediação de conflitos;
sócio-cultural e intercultural. Abordar-se-ão também outros conceitos de mediação de
forma sintética.
É apresentado um estudo de caso numa escola onde decorre no segundo ano
consecutivo, um projecto no âmbito do “Escolhas 2G” o “Escola Mais” e que está a ter
resultados francamente positivos. Este projecto é exposto tendo em conta a importância
que os mediadores têm demonstrado no percurso do projecto. Podendo afirmar que
poderá ser apresentado como uma boa pratica de mediação em contexto escolar.
São apresentadas também questões pertinentes que permitem uma reflexão mais
profunda não só da importância como do percurso moroso, político e burocrático que
leva a figura do mediador a uma intervenção delicada e com pouco impacto.
Da-se-á particular ênfase à questão da revisão da Lei 105/2001, pois só através da sua
alteração e sensibilização dos vários organismos públicos e privados puder-se-á dar
“vida” profissional aos mediadores.

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II – História da Mediação

Em traços gerais, a mediação é uma forma de comunicação entre os seres humanos tão
antiga como a existência do Homem na Terra.
Se nos focalizarmos na Europa podemos confirmar também que ao longo da História
dos povos Europeus foi possível estabelecer contactos directos e regulares entre os
vários países europeus e outros países extra europeus, onde foi possível verificar no
tempo o estabelecimento de constantes fronteiras em vários aspectos, tais como: as
línguas, costumes, crenças, ideias, formas de comportamento, onde se destaca a
importância dos mediadores tão necessários para a compreensão e respeito dos povos.
Estes mediadores voluntários que surgiam e surgem como forma moral muitas vezes de
estabelecer ligações entre os povos, surtem como forma de permitirem a transferência
de um universo não só intelectual como também material e mesmo religioso, sempre
respeitando, compreendendo e fazer compreender a diversidade cultural que os rodeava.
Saindo das margens da Europa, temos excelentes exemplos de mediação como os
pombeiros 2 que mais não eram duque intermediários nos mercados de escravos. Eram
reconhecidos como mediadores de eficácia comercial, porém eram também apontados
como sujeitos de discriminação devido à aculturação e pelo facto de provocarem
condições sociais marginais.
Se fizermos uma análise à situação social actual dos mestiços em África, encontramos
uma predisposição natural desses povos para a mediação cultural entre a sua cultura e a
dos países Ocidentais, demarcado desde os tempos do mercantilismo até aos dias de
hoje.
Na actualidade, a mediação não só é necessária e urgente de ser uma prática de
facilitação na comunicação entre culturas diferentes, como entre culturas iguais.
Nos anos 90, com a adesão de Portugal à União Europeia, permitiu um maior
intercâmbio de populações entre os vários países comunitários.

2
Intermediários do tráfico de escravos na Africa

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O fenómeno da emigração é cada vez mais notório em Portugal, o que implica cada vez
mais a necessidade da existência de mediadores nos mais variados serviços e
instituições do mercado português.
Neste país, a mediação começa a ser discutida e sentida como uma prática necessária
para os mais diversos contextos de relações interpessoais dos povos numa prática
quotidiana necessária e urgente como um instrumento de integração e coesão social.
Se passarmos uma pouco pela história da mediação noutros países é possível dizer que a
mediação é uma questão nova em Portugal e com urgência do seu desenvolvimento,
implementação e conhecimento por todos da sua importância e necessidade numa
sociedade cada vez mais multicultural, contudo em outros países é desde há vários anos
uma prática corrente. A mediação em Portugal começa a sua trajectória nos anos 90,
tendo um forte impulso na última década a partir da realidade da imigração, quer por
instituições privadas e públicas, começando a ser visivel a necessidade e algum trabalho
realizado aos níveis da mediação escolar, conflitos (associando aos tribunais e Julgados
de Paz, que não deverá ser restringida somente a estas entidades), social e institucional.
Nos Estados Unidos da América, a mediação social tem tido um grande sucesso, tem
consequentemente influenciado os países da Europa a vários níveis, quer instituições
públicos e privadas.
Olhemos para a vizinha Espanha que tem um percurso mais longo na prática da
mediação, tendo inicio na mediação de conflitos no Tribunal das Águas de Valência 3
O seu propósito era solucionar o tipo de conflito mais importante no que se refere ao
uso de água. Foi um Tribunal que existiu durante vários séculos, sendo composta por
vários indivíduos de respeito no meio.
Ainda referente a Espanha, existe ainda uma outra forma de forte estrutura mediadora,
as cooperativas, é segundo Juan Carlos Seijo uma forma interpessoal de regular os
conflitos, mostrando que a política de intervenção assenta na colaboração comunitária,
ou seja “(...) o interesse particular cede perante o interesse comum, resultando daí que o
conflito passa a ser concebido dentro de um contexto comunitário e não individual. 4 ”

3
Uma das mais sólidas e antigas instituições populares de regulação de conflitos.
4
Seijo, 2003

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A ideia central não só de tempos mais remotos como presentemente nas questões da
mediação de conflitos é substituir o modelo tradicional de “ganhar-perder”, pela de
“ganhar-ganhar”.
A origem da mediação em Espanha tem uma forte influência dos Estado Unidos da
América, bem como outros países em que a língua tenha sido uma facilidade, como os
países da América do Sul
Tal como ocorre em Espanha em contexto escolar, são os professores que mais
facilmente “aderem” à implementação da mediação escolar devido exactamente à
facilidade que os profissionais do ensino têm nos conhecimentos com outras línguas.
Sendo que a Espanha não mais parou em especializar se nos conhecimentos sobre a
mediação a vários níveis. Esperemos que Portugal têm oportunidade política e
convicções institucionais e técnicas para desenvolver cada vez mais a prática da figura
do mediador em todo o território nacional.

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2.1 – Conceitos de Mediação e Animação

2.1.1 – Mediação Conflitos

A palavra conflito vem do latim conflictus. Originário do verbo confligo, confligere. O


conceito de conflito baseia-se essencialmente num choque, embate das pessoas que
lutam; discussão; desordem. Porém podemos considerar o conflito a partir de uma
concepção positiva como algo substancial aos indivíduos e às suas formas quotidianas
de viver.
O conflito, é um estado de coisas onde pelo menos duas partes reclamam o domínio da
mesma coisa quando esta não pode ser adquirida ao mesmo tempo pelas várias partes
que a querem adquirir.
Como afirma Juan Seijo, o conflito “(...) dependendo da forma como for tratado,
poderá vir a ser um factor construtivo e benéfico para as partes”.
Segundo a perspectiva da psicologia, “O conflito surge quando há a necessidade de
escolha entre situações que podem ser consideradas incompatíveis. Todas as situações
de conflito são antagónicas e perturbam a acção ou a tomada de decisão por parte da
pessoas ou de grupos. (...) As situações de conflito podem ser resultado da concorrência
de respostas incompatíveis, ou seja, um choque de motivos, ou informações
desencontradas”.
A partir da classificação das teorias da personalidade de Salvatore Maddi, este enumera
três modelos, um dos quais o de conflito. Esse modelo supõe que a pessoa esteja
permanentemente envolvida pelo choque de duas grandes forças antagónicas, que
podem ser exteriores ao indivíduo (conflito entre indivíduo e sociedade) ou
intrapsíquicas (forças conflitantes do interior do indivíduo que se dão, por exemplo,
entre os impulsos de separação, individuação e autonomia e os impulsos de integração,
comunhão e submissão). O conflito, no entanto, pode ter efeitos positivos, em certos
casos e circunstâncias, como fator motivacional da actividade criadora.
O conflito não é mais do que uma situação normal de qualquer sistema social sendo
uma condição fundamental para o desenvolvimento do sistema. Este, tem de apresentar
à sociedade condições para a própria resolução dos conflitos. Existem vários tipos de
conflitos: valores; interesses, territoriais, etc.

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Contudo, é uma facto a destacar, que na presente época conviver, torna-se por vezes uma
utopia de convívios saudáveis, marcado pela intolerância a quaisquer diferenças, expressa
na escalda da violência individual e social.
Segundo Malvina Muszkat, “Antes de mais nada, é preciso explicitar que, apesar de sempre
buscarmos mediar conflitos ente as pessoas de forma espontânea, a mediação de conflitos,
como saber, está longe de ser uma simples acção paternalista baseada no senso comum e na
intuição.
(...) a mediação de conflitos tem como finalidade buscar acordos entre pessoas em litígio
por meio da transformação da dinâmica adversarial comum no tratamento de conflitos, para
uma dinâmica cooperativa (...)”.
Torna-se importante neste momento referir que o conflito pode ter dois comportamentos
distintos no sujeito: pode ser manifestado de forma activa/imediata ou permanecer latente.
Assim, quanto mais cedo se mediar o conflito menos será a tensão dos mediados. Mas uma
das maiores dificuldades da mediação do conflito é que a actuação dos mediadores surge
quando é demasiado evidente o conflito. Por isso, é muito importante o despiste de
possíveis forma de conflito e fazerem-se prevenções do mesmo. Enquadram-se neste
aspecto os grupos de pré mediação, em que têm como finalidade dar/favorecer
empowerment aos mediados e estimular desta forma a alteridade 5 , de forma a ajudá-los a
desconstruir as posições rígidas sobre as quais os seus comportamentos se tinham
assentado.
Em Portugal, e noutros países, a mediação de conflitos é vista de forma uni direccional, ou
seja, atrás da actuação de mediadores de conflitos, inscritos nos julgados de paz , tal como é
indicado na Lei nº 78/2001 de 13 de Julho, que passo a citar:
Art 2º “Organização dos Serviços de Mediação
1 – A prestação de serviços de mediação é assegurada por mediadores de conflitos inscritos
nas listas dos julgados de paz, aprovadas e actualizadas anualmente por despacho do
Ministro da Justiça”.

5
Alteridade é a qualidade de ser-como-o-outro. Pressupõe uma consciência capaz de perceber e tolerar o
outro como a si mesmo, ou seja, colocar-se na pele do outro.

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Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

O que faz um mediador de conflitos? Quais as suas actividades?

“2 – A Direcção-Geral da Administração Extrajudicial assegura que, durante o período de


funcionamento dos julgados de paz e sempre que solicitado pelos interessados, está presente
no serviço de mediação pelo menos um mediador para:

a) Realizar sessões de pré-mediação, explicando às partes a natureza, as características e o


objectivo da mediação, bem como as regras a que a mesma obedece;
b) Informar as partes sobre as modalidades de escolha e intervenção do mediador;
c) Verificar a pré-disposição das partes para alcançar acordo através de mediação;
d) Realizar sessões de mediação;
e) Submeter o acordo de mediação assinado pelas partes a imediata homologação pelo juiz
de paz, quando o julgado de paz seja competente para a apreciação de causa respectiva;
f) Prestar outras informações úteis sobre mediação e facultar a qualquer interessado este
regulamento e demais legislação conexa. (...)” 6

Ainda segundo a Lei 78/2001, o mediador de conflitos não pode sugerir nem impor uma
decisão aos mediados, apenas deverá auxiliá-los a comunicar entre as partes, questionando-
os para melhor conhecer todas as questões de forma a poderem colaborar as partes, com o
objectivo que estes consigam avaliar as opções de forma a alcançarem um acordo.
Tendo em conta ainda o Código Europeu de conduta para os Mediadores, este enuncia as
competências e marcações; a publicidade e promoção dos serviços de mediação. 7

A mediação de conflitos, deverá ser vista de forma bi direccional, ou seja, deverá sempre
ser vista como uma facilatação à negociação entre mediados tal como é feito ao nível da
justiça, mas, também deverá comportar a componente de prevenção de conflito social, a
existir num espaço para a gestão dos conflitos (tal como é feito com os Julgados de Paz),
mas que essa gestão seja feita com base na melhoria das relações sociais através de várias
estratégias de acção de forma a não permitir a eventualidade da ocorrência de novos

6
Ver anexo 1
7
Ver anexo 2

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conflitos. Poderá ser feito este trabalho de mediação de conflitos potenciando os mediados a
adquirirem novas competências sociais e pessoais.
Este trabalho deverá ser feito de forma continuada e enquadrado num modelo sistémico de
intervenção. Isto é, os mediados ou possíveis mediados (no contexto da prevenção de
conflitos) nunca poderão comportar uma intervenção individualizada e pontual (quer seja na
prevenção, mediação ou gestão de conflitos) quando outros sujeitos (familiares, vizinhos,
amigos ou conhecidos) e formas sociais (local de trabalho, estudo, serviços públicos e ou
privados, entre outros) que os envolvem no quotidiano em que se encontram, podem
interagir com o mediado a três níveis: interacção constante, pontual ou única. Todos os
actores sociais da vida dos mediados ou possíveis mediados fazem parte da globalidade
destes, visto que: “ (...) um sistema é composto por elementos, isso não significa que seja
uma soma de elementos, (...) o sistema é um todo não redutível às suas partes. (...)
‘considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo
sem conhecer individualmente as partes 8 ’”. Este todo é a forma global e organizada de vida
dos mediados. Assim, a intervenção no contexto da mediação de conflitos tem de ser como
referia anteriormente promovida de forma continuada mesmo havendo uma outra forma de
intervenção após o conflito e sua resolução, e não ser feito uma acção meramente pontual.
Porém é do conhecimento de todos que as atitudes nos seres humanos são formas de ser e
estar na sociedade sendo o mais difícil de alterar num indivíduo. Logo, a educação para a
alteração e ou prevenção de conflitos tem de ser feita num base pedagógica e persistente.
É necessário formar e reeducar atitudes, através de três momentos importantes: a
motivação; a imitação e a actuação.
“As atitudes crescem, ligam-se a nós (...) consolidam-se pela força do desejo. (...) O desejo,
a necessidade sentida e os estímulos constituem a energia imprescindível que nos leva a
tomar as atitudes. A sua assimilação será mais rápida, eficaz e profunda na medida em que
for mais forte e mais fundo o desejo” 9 .
É imprescindível para evitar a vontade do conflito, motivar os sujeitos para a mudança de
atitudes. É necessário que o mediador de conflitos favoreça o caminho para a homeostasia
dos mediados e possíveis mediados. O mediador de conflitos deverá detectar os interesses e

8
Durand, Daniel –A Sistémica
9
Alcântara José – Como Educar as atitudes

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potencialidades dos mediados e de alguma forma “provocar” uma consciência viva e


dinâmica da necessidade de atitudes construtivas, positivas.
É a desarmonia de ideias que provoca uma alteração na harmonia mental do sujeito e que o
impele de agir de forma a superar o conflito. A percepção da desconexão, provoca no
sujeito um elevado nível de stress e que o leva a desejar a mudança de conduta e de
atitude. Por isso o mediador de conflitos deverá suscitar uma prudente dissonância interior
no mediado de forma ao próprio construir uma imagem de si na inter-relação, de forma a
permitir-lhe equilíbrio cognitivo e logo evitar o conflito.
João Teixeira Lopes afirma que: “A questão do conflito, isto é, valorizar o conflito como
forma de chegar a um compromisso, reapropriar e recontextualizar esse conflito, através da
comunicação, criando aquilo que os linguistas chamam as condições sociais de felicidade
da comunicação (...)”. 10
Por isso, é necessário que a mediação de conflitos permita acima de tudo um encontro ou
em alguns casos um reencontro do próprio sujeito (mediado) de forma a procurar e
estabelecer condições de felicidade da comunicação, para uma conviv
ência mais saudável e harmoniosa.

2.1.2 – Mediação Sócio-Cultural

João Teixeira Lopes, 11 refere que “temos então a necessidade da mediação sócio-cultural-,
em que o social e o cultural se intrincam de forma absolutamente indissociável.
Por isso mesmo, cultura e sociedade estão indissociavelmente ligadas, e por isso mesmo a
mediação tem de ser sócio-cultural e não será mediação se for apenas social, ou se for
apenas cultural.
A partir da reflexão sobre a temática da mediação sócio-cultural em Portugal, tal como é
referido por Oliveira e Galego, 12 “Encarando a mediação sócio-cultural como estratégia de

10
Discurso do Prof Doutor João Terixeira Lopes a 15 de Fevereiro de 2005 no encontro “Olhares sobre a
Mediação Sócio Cultural”
11
Discurso do Prof Doutor João Terixeira Lopes a 15 de Fevereiro de 2005 no encontro “Olhares sobre a
Mediação Sócio Cultural”
12
Mediação Sócio-Cultural – um puzzle em construção

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intervenção que pretende promover a integração social e a coesão, e perante a afirmação das
próprias culturas e da dimensão quantitativa dos imigrantes (...)”
Como as autoras referem, a mediação sócio-cultural, tem tido em Portugal um campo de
actuação restrito, ou seja, em contextos de multiculturalidade associados a grupos
socialmente desfavorecidos. Importa contudo, alargar esse campo de actuação da mediação
sócio-cultural, para áreas de intervenção não só de carácter social como o da habitação,
saúde, institucional, etc, não limitando a prática do mediador sócio cultural (como tem sido
feito até à data) a contextos escolares.
Na continuação da linha de pensamento destas autoras, refiro a importância não só da
continuidade do trabalho já realizado por mediadores sócio culturais, bem como as várias
possibilidades de abranger outras áreas de intervenção, anteriormente referidas, mas
sobretudo e reforçando a ideia de que a mediação sócio cultural tem por máxima a
promoção social e a coesão entre as várias culturas e também dentro de cada uma, passo a
citar as palavras da sessão de abertura do encontro: “Olhares sobre a Mediação Sócio-
Cultural” pelo Sr. Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Dr Rui Marques,
sobre o qual inspirei o título do presente trabalho: “Basicamente, o que nos é pedido, para
aqueles que no terreno vão desenvolvendo acções de Mediação Sócio-Cultural, é a
capacidade de construir pontes. (...)
O Sr Alto Comissário, utilizou a metáfora da construção de pontes, para explicar a
importância da mediação sócio cultural em Portugal, bem como o que este profissional
deverá fazer no seu dia-a-dia. Desta forma, e sintetizando esse discurso, o mediador para o
ACIME é o grande activador da intervenção, que deverá estar habilitado tecnicamente para
a acção. Neste ponto o Sr. Alto Comissário, chama à atenção que “(...) a mediação não é
uma ocupação de tempos livres, não é uma coisa que para tal chega-se e aceito. Não é uma
realidade que se vai fazendo e logo se vai vendo como acontece” (...) e neste sentido, o
mediador deverá ter competência técnica muito apurada.
Para que a intervenção tenha sucesso, o mediador sócio-cultural deverá ter em conta vários
passos prévios:
• Conhecer a realidade de actuação;
• Criar receptividade em todas as partes onde a sua actuação vai decorrer;
• Planear a acção incluindo todos os interventores

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Após esta preparação, o mediador sócio-cultural, passa ao trabalho de terreno propriamente


dito, em que faculta não só a comunicação entre os interventores, mas o acesso às várias
possíveis trocas. Esse trabalho, o estabelecer da ligação entre as margens, através da
edificação de uma ponte, bem como a sua manutenção. No trabalho do medidor sócio
cultural, deverá promover a comunicação numa perspectiva bidireccional. Porém, o
mediador sócio-cultural não deverá focar o seu exercício profissional somente para a
população em contextos desfavorecidos, deverá também, como chamou à atenção o Sr. Alto
Comissário dar importância que a “sociedade maioritária, possa acolher e possa oferecer
neste cruzamento mutuamente respeitador tudo aquilo que tem para dar e possa receber
tudo aquilo que pode receber.”
O Sr Alto Comissário deu destaque, como exemplo ao trabalho que tem sido desenvolvido
pelo ACIME, através do serviço CNAI (Centro de Apoio ao Imigrante) mencionando neste
sentido que a “Mediação Sócio-Cultural que quisemos integrar como parte estruturante e
fundamental das políticas publicas no domínio da acolhimento e integração de imigrantes.
(...) É por isso em termos de desafio político para nós, Alto Comissariado, uma tarefa a
continuar, a consolidação da mediação sócio-cultural como estratégia de intervenção. Em
termos internacionais, o exemplo do Centro de Apoio ao Imigrante em Lisboa e no Porto,
um dos aspectos que pelo qual é referido mais vezes como boa prática e como um exemplo
a ter em atenção, é pelo trabalho dos mediadores sócio-culturais, pela tarefa que lhes foi
entregue, uma das tarefas mais importantes de toda a estrutura dos Centros Nacionais de
Apoio ao Imigrante”.

O que faz um mediador sócio-cultural? Quais as suas principais actividades?

A partir da leitura da Lei 105/2001 13 , sendo em seguida citada, apresentam-se as principais


áreas de intervenção que o mediador sócio-cultural está habilitado a fazer:
“ Art 1º Mediador Sócio-Cultural
1 – É criada a figura do mediador sócio –Cultural, que tem por funções colaborar na
integração de imigrantes e minorias étnicas, na perspectiva do reforço do diálogo
intercultural e da coesão social.

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Ver anexo 3

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2 – Os mediadores sócio-culturiais exercem as respectivas funções, designadamente, em


escolas, instituições de segurança social, instituições de saúde, no Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, no Instituto de Reinserção Social, nas autarquias locais e nos serviços e
organismos públicos em que o exercício das suas funções se vier a revelar necessário.

Art 2º Competências e deveres do mediador sócio-cultural


1 – O mediador sócio-cultural promove o diálogo intercultural, esrimulando o respeito e o
melhor conhecimento da diversidade cultural e a inclusão social.
2 – São competências e deveres do mediador sócio-cultural, nomeadamente:

a) Colaborar na prevenção e resolução de conflitos sócio-culturais e na definição de


estratégias de intervenção social;
b) Colaborar activamente com todos os intervenientes dos processos de intervenção social
e educativa;
c) Facilitar a comunicação entre profissionais e utentes de origem cultural diferente;
d) Assessorar os utentes na relação com profissionais e serviços públicos e privados;
e) Promover a inclusão de cidadãos de diferentes origens sociais e culturais em igualdade
de condições;
f) Respeitar a natureza confidencial da informação relativa às famílias e populações
abrangidas pela sua acção”.

Para além da competência técnica, o mediador sócio-cultural deverá, segundo João Teixeira
Lopes, ser possuidor de um conjunto de três domínios:
• Ser;
• Fazer;
• Saber-fazer
Para além deste conjunto de saberes, o trabalho do mediador sócio-cultural deverá passar
necessariamente por uma avaliação, por uma supervisão. O mediador, tem que reflectir
sobre o que faz, sempre com base na tecnicidade e cientificidade.

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2.1.3 – Mediação Intercultural

É importante neste momento, distingir dois conceitos que várias vezes são aplicados de
forma menos correcta, ou seja, falar de interculturalidade, não é o mesmo que falar de
multiculturalidade.
O conceito de interculturalismo, tal como refere LaFortune 14 “ideologia que se dirige tanto
aos grupos maioritários, confrontados com as novas culturas, como aos minoritários, e que
considera que não é suficiente ‘proteger’ ou ‘tolerar’ as culturas minoritárias mas antes
favorecer a interacção dinâmica entre as diferentes culturas”.
Quanto ao conceito de multiculturalismo 15 são “Modalidades institucionais, políticas e
jurídicas que propõem determinado tratamento político da diferença cultural em relação
com a hierarquia social, as desigualdades e a exclusão”.
Antes de mais é necessário pensar, como é possível falarmos de uma sociedade intercultural
e defendermos escolas interculturais, por exemplo, quando a própria escola não tem uma
educação intercultural e não há também uma pedagogia intercultural. Como afirma Xavier
Besalú, 16 “(...) no existe educación intercultural y que no hay pedagogía intercultural. (...)
En lo que se refiere a educación intercultural me refiro más como práctica, como gestión de
la diversidad a nível social, gestión de la da diversidad en los centros educativos. (...) una
lógica interna muy potente, una fundamentación teórica y práctica muy sólida, que he dado
en llamar multiculturalismos y asimilacionismo (...)
Em Espanha, a mediação intercultural é um fenómeno muito recente, com pouco mais de
dez anos de existência. O mediador intercultural, não tem uma figura bem definida, nem
regulamentada profissionalmente, acrescentado ainda o facto de não haver um titulo oficial
para o mediador intercultural, nem um sistema de formação e acreditação.
Em Portugal, para além de praticamente os serviços públicos e privados desconhecerem a
figura do mediador, desconhecem também a sua importância como profissional. Sendo que
a figura de qualquer género de mediador não está definida nem é ainda considerada de
forma evidente, um profissional.

14
Gerir diversidades: glossário ACIME
15
Gerir diversidades: glossário ACIME
16
Coordinador de los estúdios de pedagogia de la Universidade de Girona

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Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

Para Carlos Giménez 17 a mediação intercultural é entendida em contextos pluriétnicos ou


multiculturais, como sendo uma modalidade de intervenção das terceiras partes, e ainda em
situações sociais significativas de multiculturalidade, orientada para o reconhecimento do
outro e na coesão de todas as partes. Como metodologias estratégicas de intervenção, o
mediador intercultural deve favorecer a comunicação e compreensões mutuas, a
aprendizagem e desenvolvimento da convivência, a regulação e prevenção de conflitos,
adequação institucional. Essa ligação e ou religação de partes deve ser feita entre os actores
sociais e ou institucionais etnoculturalmente diferenciados.

O que faz um mediador intercultural? Quais as suas principais actividades?

Em Portugal as experiências de mediação para além de serem praticamente nulas, não


temos a figura de mediador estruturada e posta em “bom” uso. Mas se quisermos apontar
experiências de destaque na mediação intercultural em Portugal, distingue-se novamente no
quotidiano o mediador socio-cultural do CNAI (ACIME), para melhor compreendermos a
sua vivência profissional, vejamos em semelhança o perfil apontado por Espanha em
relação ao mediador interculural: “ (...) es un profissional formado como mediador
comunitario y específicamente en el ámbito de la interculturalidad. Tiene nociones de
inmigración, diversidad cultural y mediación.
Las cualidades de escucha activa, respeto por el otro, empatía, saber colocarse en el lugar de
la otra persona, neutralidad e imparcialidad, deben estar más presentes que en ningún otro
ámbito de la mediación.
La tarea del mediador es de catalizador y de transformador del lenguaje en un único código
entendible por todas las pares que están en conflicto.
Para entender los motivos culturales del conflicto, los intereses creados y las emociones
asociadas a los mismos” 18 .

17
Professor titular do departamento de antropologia social e pensamento filosófico Espanhol na
Universidade Autónoma de Madrid e dirige o Serviço de Mediação Social intercultural (SEMSI)
18
Apontamentos da aula intercultural – la mediación intercultural autonómica

18
ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

2.1.4 – Outros conceitos de Mediação

De forma sintética e referindo novamente a obra de Oliveira e Galego, existem outras


formas de mediação que ainda não foram aqui mencionadas e que têm igual importância
que as já referidas. São formas de mediação que tentam dar resposta a novos problemas
sociais que emergem com a dinâmica das populações. As autoras citam Luison e Vastro
para a explicação de outras formas de mediação, que são:
• “Mediação cultural – referindo-se sobretudo aos aspectos culturais da
comunicação, relacionada com a problemática da migração, das sociedades
multiétnicas e interculturais;
• mediação escolar – tendo como finalidade a socialização e a produção de
identidades sociais, a criação de novos espaços de socialização e de modelos
alternativos de gestão das relações sociais;
• mediação social – tentativa de aprendizagem da vida em comum e projecto de
reconstituição de estruturas intermediárias entre os indivíduos e o Estado. Esta
apresenta um caracter de controlo social;
• mediação comunitária – como uma cultura de participação na gestão dos
conflitos e aquisição de instrumentos de aprendizagem para a mediação capazes
de recriarem os laços sociais;
• mediação institucional – como processo de profissionalização da mediação,
criação de novos campos de intervenção, confrontação com outros trabalhadores
sociais” 19 .
Existem ainda vários outros paradigmas de outros autores, mas esta citação, tem por
objectivo essencialmente enumerar o conjunto alargado de possíveis intervenções da
área da mediação.

2.1.5 – Animação

Considerei muito pertinente expor neste trabalho a animação como forma de


intervenção, tendo em conta que uma das grandes dificuldades em passar para os vários

19
A mediação sócio-cultural: um puzzle em construção, pág 29

19
ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

organismos a importância da mediação, centra-se muitas vezes na falta de conhecimentos


das diferenças significativas entre a mediação e a animação. Em que a mediação não puderá
em determinados paradigmas, desvincular da animação. Porém, torna-se claro destacar que
a animação não é mediação, mas na mediação é importante como uma das várias estratégias
utilizar técnicas de animação.
Assim, a animação sócio-cultural enquadra-se num conjunto de acções realizadas por um
indivíduo – o animador, grupos ou instituições numa dada comunidade e num território
especifico. Tem como objectivo, promover nos seus membros uma atitude de participação
activa no processo que decorre para o seu desenvolvimento social e cultural 20 .

O que faz um animador sócio-culturall? Quais as suas principais actividades?

• Enunciados que enfatizam a dimensão cultural, nas questões do desenvolvimento a


vários níveis da cultural nos públicos alvo;
• Enunciados que enfatizam a dimensão social – envolve todo o desenvolvimento
social e comunitário, a transformação social; colaborar na luta contra a exclusão;
• Enunciados de âmbito social, que favoreçam a participação e o associativismo –
favorecer a construção do tecido social e o emporwermnt;
• Enunciados que enfatizam os aspectos pessoais e educativos – a formação dos
públicos alvo no que concerne à autonomia, iniciativa pessoal, espirito critico

20
Trilla Jaume – Animação sociocultural -

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ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

II – Estudo de caso – Mediação em Contexto Escolar na Escola Pedro


D’Orey da Cunha – Projecto “Escola Mais”

2.1 – Apresentação do Projecto

O projecto “Escola Mais” é um projecto de inclusão social que pretende


cooperar para uma escola mais inclusiva, é também um espaço que para além de
socialização e educação, é um espaço de escolhas.
Por isso, apelidou-se como projecto «Escola Mais», com o objectivo de permitir que a
população estudantil tenha uma oportunidade de “Mais Caminhos” e “outros
caminhos” e “Mais Escolhas”.
Para que este percurso e ou reorientação do “caminho”, é necessário uma colaboração,
uma orientação para o seguir e percorrer. Desta forma, este projecto pretende promover
essa orientação sob a forma de rede com toda a comunidade escolar, através de várias
estratégias como afirmou a Coordenadora deste Projecto 21 “é assegurar um clima
aprazível através da animação, melhorar a comunicação entre família, aluno e escola
através da mediação, evitar na infoexclusão, e torná-los cidadãos de pleno direito,
legalizando as situações quando necessário. E assim promover a inclusão social e um
novo olhar para várias escolhas possíveis 22 ”.

2.2 – Finalidades do Projecto

O “Escola Mais”, tem por finalidades:


• Contribuir para que a população estudantil admita a importância e utilidade da
escolaridade no presente e futuro.
• “Contribuir para o combate ao absentismo e abandono escolar
Promover e dinamizar espaços lúdicos-pedagógicos que potenciem a motivação

21
Dra. Elisabete Ramos
22
Excertos da entrevista realizada à coordenadora do Projecto “Escola Mais”

21
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Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

e o interesse escolar;
• Incentivar à utilização e domínio das Novas Tecnologias;
• Contribuir para o desenvolvimento da integração social do alunos, promovendo
estratégias facilitadoras da articulação escola-família, aproximando famílias e
alunos às instituições do Estado o que passa pelo apoio ao processo de legalização 23 .

2.3 – Público Alvo

Crianças e jovens estudantes da Escola Pedro D’Orey da Cunha - Damaia

2.4 – Principais Actividades

São muitas e diversificadas as actividades desenvolvidas nesta escola, todas elas


com o interesse não só lúdico e pedagógico, mas com outros objectivos mais fortes,
como sendo a prevenção dos conflitos; prevenção de situações de risco; desenvolver a
cidadania.
As actividades, são planificadas para o calendário escolar e para as férias. São
ocupações habituais como nas mais comuns escolas (criação de um jornal escolar; ping-
pong; danças diversas) e têm outras actividades especificas que abrangem todos os
projectos Escolhas, ou seja, um centro de inclusão digital (CID) em que os jovens
aprendem através do manuseamento das novas tecnologias.
As metodologias utilizadas centram-se essencialmente na animação das crianças e
jovens, mas também envolvem mediadores e fazem todo um trabalho de facilitação a
três níveis: escola-alunos; alunos-alunos; escola-familias/comunidade.
Há uma metodologia de trabalho especifica da qual depende o contributo dos
mediadores, o envolvimento dos professores e directores de turma em todas as situações
e momentos que envolvem a escola. De forma a permitir uma rápida sinalização de
potenciais situações de risco (riscos a vários níveis: insucesso, abandono escolar,
doenças, violência, legalização de crianças e jovens, etc).

23
Excertos da entrevista realizada à coordenadora do Projecto “Escola Mais”

22
ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Mediação – Construção de Pontes Para uma Melhor Compreensão das Margens

III – Conclusão

O vocábulo mediação, assim como o verbo correspondente “mediar” foram


definitivamente assumidos pelo senso comum. Mas, ao longo do presente trabalho
pode-se verificar que a mediação é muito mais do que aquilo que o senso comum e
muito profissionais julgam que “mediem” desde sempre.
Há sem dúvida muito trabalho na área da mediação em Portugal para desenvolver e
aplicar. Mas para isso, é fundamental que a figura do mediador seja consistente e
estruturada. Há que reformular a Lei 105/2001, por varias razões. Há um aspecto
particularmente importante onde podemos verificar a falta de actualização dessa lei, ou
seja, a Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA) extinguiu-se,
logo, não pode, como está consagrado na Lei dar a certificação aos mediadores.
Outra questão pertinente, que impulsiona o percurso coerente dos mediadores, centra-se
na uniformização desta figura, é imprescindível para tal, criar um plano de formação
único de forma a dar àqueles que o frequentam a possibilidade de serem profissionais de
mediação. Por isso a Lei deverá também alterada, de forma a dar acesso a todos a
oportunidade de terem um primeiro contacto com as matérias da mediação. Por
exemplo, através de um curso de sensibilização na mediação. Estes, não poderiam ser
considerados mediadores, mas facilitadores ou auxiliares de mediadores e
posteriormente, poderiam seguir o curso (no sentido da actualização) do mediador
propriamente dito.
Como podemos ver, muitas são os ângulos que têm de ser verificados na temática da
mediação em Portugal.
Não deixa de ser louvável todo o trabalho que tem sido realizado, principalmente nas
escolas, onde a mediação está mais visível. Esperamos que haja um debruçar sobre
esses bons exemplos e que dessa forma permita uma maior sensibilização de todos os
organismos públicos, para considerarem a real importância dos mediadores a vários
níveis de intervenção, tal como está consagrado na Lei 105/2001.

23
ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Bibliografia

• Durand Daniel (1979) - A Sistémica, Dinalivro Colecção Fundamental das


Ciências Humanas; França

• Como Educar Atitudes – Atitudes: Que são?; Cultivar Quais? Como se educam?
Estratégias e Planificação para a sua Formação (1998) - Aula Prática, Plátano
Edições Técnicas ;Lisboa

• Muszkat Malvina, Summus (2005) - Guia prático de Mediação de Conflitos –


em famílias e organizações, São Paulo; Editoria

• Oliveira, Ana & Galego Carla (2005) - Mediação Sócio-Cultural: um puzzle em


construção, nº 14, Observatório da Imigração; Lisboa

• Rui & Gruzinski (1999) - Passar as fronteiras – II Colóquio Internacional sobre


Mediadores Culturais – Séculos XV a XVIII, Centro de Estudos Gil Eanes;
Lagos

• Seijo, Juan (2003) - Mediação de Conflitos em Instituições Educativas –Manual


para Formação de Mediadores, Asa Editores; Porto

• Trilla Jaume (1997) - Animação sociocultural – teorias programas e âmbitos,


Horizontes Pedagógicos Instituto Piaget; Lisboa.

Sites Consultados:

• www.acime.gov.pt
• www.aulaintercultural.org
• http://topicospoliticos.blogspot.com/2004/10/conflito-o-que.html
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito

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Anexos

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ANA PAULA LIMA MEDIAÇÃO: CONSTRUÇÃO DE PONTES

Anexo 1
(Lei 78/2001)

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Anexo 2
(Código Europeu de conduta para os Mediadores)

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Anexo 3
Lei 105/2001

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