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XII Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de Encostas

COBRAE 2017 - 2 a 4 Novembro


Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
© ABMS, 2017

Considerações para Modelagem Bidimensional de Ancoragens em


Estruturas de Contenção
Alex Micael Dantas de Sousa
Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, alex_dantas@usp.br

Yuri Daniel Jatobá Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, ydjcosta@gmail.com

Carina Maia Lins Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, cmlins@gmail.com.com

RESUMO: O uso de tirantes como ancoragens em estruturas de contenção é pratica corrente em


projetos de contenções. Entretanto, poucas são as discussões na literatura acerca da melhor forma de
modelagem numérica destes elementos. Desta forma, objetiva-se neste trabalho a apresentação de
resultados de um estudo numérico acerca do desempenho de tirantes instrumentados em estrutura de
contenção na cidade de Natal/RN, com enfoque a diferentes abordagens para simulação destes
elementos. Os dados numéricos são comparados a dados coletados em uma cortina com tirantes
instrumentados com extensômetros elétricos de resistência. A melhor concordância entre resultados
de campo e numéricos foi obtida com o método que simula a carga de protensão simultaneamente
aplicada nas duas extremidades do trecho livre do tirante. Observa-se ainda que quanto maior o fator
de espessura virtual da zona de interface menor tende a ser a concentração de tensões no trecho inicial
do bulbo do tirante.

PALAVRAS-CHAVE: Ancoragem, Tirantes, Contenção, Modelagem, Instrumentação.

1 INTRODUÇÃO execução. Uma das formas de alcançar este


aperfeiçoamento é através do conhecimento da
Tirantes podem ser compreendidos como peças magnitude e distribuição de cargas ao longo do
especialmente montadas tendo como trecho ancorado do tirante, as quais são
componente principal um ou mais elementos influenciadas pela interação solo-estrutura
resistentes à tração, que são introduzidos no desenvolvida na interface solo-bulbo. Isto
terreno por perfuração própria, nas quais, por somente é possível através da implementação de
meio de injeção de calda de cimento (ou outro instrumentação específica nos tirantes em
aglutinante), forma-se um bulbo de ancoragem campo, que pode ser de diferentes tipos. Li et al.
que é ligado à estrutura através do elemento (1988) instalaram extensômetros de resistência
resistente à tração e da cabeça do tirante (NBR elétrica ao longo de tirantes em uma estrutura de
5629, 2006, p.1). contenção do tipo parede diafragma em solos
O uso de tirantes em estruturas de contenção silto-argilosos e argilo-siltosos. Briaud et al.
com estacas de concreto justapostas ou (1998) instrumentaram o bulbo de tirantes com
espaçadas tem se consolidado na prática de cordas vibrantes em uma parede diafragma para
confecção de cortinas em solos arenosos. contenção de solo arenoso. Iten e Puzrin (2009)
Entretanto, a compreensão do desempenho utilizaram para instrumentação sensores de fibra
dessas estruturas demanda um maior número de óptica incorporadas ao elemento resistente a
estudos experimentais em busca do tração em parede diafragma para a construção de
aprimoramento dos princípios de projeto e poços em solo arenoso.

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A realização simulações numéricas, projetados em monobarras de 32 mm de
devidamente validadas através de dados diâmetro, com comprimento de 10 m, sendo 6 m
coletados em campo, constitui uma importante de comprimento livre e 4 m referente ao trecho
ferramenta, pois possibilita a realização de ancorado.
estudos abrangentes sobre o comportamento de Os tirantes são espaçados 2,80 m entre eixos
contenções, os quais complementam os e inclinados 30° em relação à horizontal.
resultados de campo. No entanto, atenção extra
deve ser dada aos detalhes da modelagem
numérica, visto que interferem diretamente no
resultado final.
Domingues (2011) contribuiu com a
descrição da importância do faseamento
construtivo na representação do problema
numérico de estruturas de contenção em solos
arenosos.
Josefino et al. (2009) apresentaram um estudo
englobando nove formas de simulação numérica
para tirantes em solos argilosos e arenosos, que
variam desde a consideração de forças Figura 1. Configuração do Trecho de Cortina
Instrumentado.
concentradas aplicadas apenas no paramento, à
modelagem do bulbo de tirantes por
Em projeto, foram especificadas cargas de
discretização de elementos de barras na malha de
trabalho de 220 kN e carga de incorporação de
elementos finitos. A forma de modelagem da
180 kN. As barras utilizada possuem diâmetro de
ancoragem é um dos mais importantes aspectos
32 mm e carga de escoamento de 400 kN. A
dos estudos numéricos de contenções.
Tabela 1 apresenta as características mecânicas
Nesta vertente, o trabalho visa contribuir com
das barras de tirante utilizadas. Apresenta-se
uma discussão acerca das diferentes abordagens
ainda a sequência de cargas dos ensaios de
de modelagem numérica de tirantes de uma
recebimento tipo D aplicados aos tirantes (NBR
contenção com estacas espaçadas construída em
5629,2006) na Tabela 2.
areia. As análises são embasadas em resultados
de campo, coletados em uma contenção Tabela 1. Características das Barras Utilizada.
construída em solo arenoso, cujos tirantes foram Diâmetro (mm) 32
instrumentados para obtenção de cargas. Tensão de escoamento (kN/m²) 500.000
Tensão de ruptura (kN/m²) 550.000
Carga de escoamento (kN) 400
2 METODOLOGIA Carga de ruptura (kN) 440
Módulo de elasticidade (kN/m²) 210.000.000
Área de seção transversal (mm²) 804
2.1 Descrição da Estrutura de Contenção
Instrumentada Tabela 2. Sequência de cargas aplicadas no ensaio de
recebimento.
Este estudo foi aplicado a uma cortina de estacas Ensaio de Recebimento
espaçadas, com uma linha de tirantes. Carregamento Descarregamento Recarregamento
Carga (kN) Carga (kN) Carga (kN)
O paramento de estacas foi executado por F0 38,5 1,2 x Ft 264 F0 38,5
escavação a seco com trado mecânico de 300 0,3 x Ft 66 1,0 x Ft 220 0,3 x Ft 66
mm de diâmetro. As estacas possuem, em sua 0,6 x Ft 132 0,8 x Ft 176 0,6 x Ft 132
maioria, comprimento de 8 m, espaçadas 400 0,8 x Ft 176 0,6 x Ft 132 0,8 x Ft 176
mm entre eixos. 1,0 x Ft 220 0,3 x Ft 66 1,0 x Ft 220
Cinco estacas foram confeccionadas com 12 1,2 x Ft 264 F0 38,5 - -
m para apoio dos pilares. A Figura 1 apresenta Onde: F0 = carga inicial do ensaio de recebimento. Ft =
uma vista frontal da cortina em análise. Os carga de trabalho prevista.
elementos resistentes à tração dos tirantes foram

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Na segunda etapa foi executado um corte de 2.3 Instrumentação dos Tirantes
2,88 m à frente da contenção para, em seguida,
executar a laje do primeiro pavimento (terceira No trecho da estrutura de contenção em análise,
etapa) que se apoiava na viga de coroamento da instrumentou-se um tirante, como indicado na
contenção. Por fim, foram executados e Fig. 1. A instrumentação do tirante permitiu
incorporados os tirantes previstos em projeto. aferir o seu desempenho em termos de
distribuição de carga ao longo do trecho
ancorado durante o ensaio de recebimento e após
a incorporação.
Para instrumentação do tirante foram
utilizados extensômetros de resistência elétrica
(strain gages). Foram utilizadas três barras
instrumentadas com extensômetros ao longo do
trecho ancorado do tirante, como ilustrado na
Figura 4.

Figura 2. Seção da Cortina Instrumentada.

2.2 Características do Subsolo

A Figura 3 ilustra a estratigrafia do terreno para


o trecho de contenção estudado. Nas sondagens
não foi identificada a presença do lençol freático.
O subsolo é composto por três camadas distintas, Figura 4. Configuração do Tirante Instrumentado.
sendo a primeira uma areia fina e média, fofa,
que se estende até o nível de -3,6 m. 2.4 Modelagens do Solo e do Paramento
A segunda camada é composta por uma areia
de graduação semelhante, mas com traços de Para este estudo foi utilizado o programa Plaxis
argila e de compacidade mais compacta, 2D, que é um código baseado no método dos
estendendo-se até o nível de -11 m. elementos finitos para a modelagem numérica de
problemas geotécnicos. No software são
adotados elementos triangulares de 15 nós para
avaliação de tensões e deformações do solo.
Para a modelagem da estrutura de contenção
em métodos bidimensionais utilizam-se os
elementos de placa, cujos principais parâmetros
de entrada são a rigidez flexional (EI), a rigidez
axial (EA) e o momento fletor resistente. Em
modelos elastoplásticos pode-se simular a
formação de rótulas plásticas. Os modelos
permitem a incorporação de interfaces para
melhor simular a interação solo-estrutura da
Figura 3. Estratigrafia do Terreno. placa com o solo, sendo os parâmetros como
ângulo de atrito e adesão na interface geralmente
A camada posterior é composta por uma areia diferentes dos valores de ângulo de atrito e
argilosa compacta à muito compacta. De acordo coesão do solo.
com o Sistema Unificado de Classificação dos O modelo constitutivo utilizado para a
Solos (SUCS), a camada 1 é classificada como modelagem do solo foi o Hardening Soil Model
areia mal graduada (SP) e a camada 2 é (HSM), que permite incorporar um número
classificada como areia argilosa (SC).

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maior de parâmetros em relação ao modelo de 2.5 Modelagem dos Tirantes
Mohr Coulomb. O HSM é um modelo
hiperbólico para a simulação do comportamento A Figura 5 apresenta uma vista global do modelo
elastoplástico do solo. Neste modelo, são numérico estudado. A Figura 6 apresenta as
utilizados os seguintes parâmetros de resistência diferentes formas de modelagem dos tirantes
e variação volumétrica do solo: ângulo de atrito estudadas, sendo algumas formas abordadas por
efetivo (φ´), coesão efetiva (𝑐´) e ângulo de Josefino et al. (2009) e outros incorporadas neste
dilatância (𝜓). A rigidez do solo é descrita no trabalho.
modelo por três parâmetros: o módulo de A Figura 6a representa o modelo (F), que
deformabilidade secante em carregamento simula o tirante apenas como uma força
triaxial para 50% da máxima tensão desviadora concentrada representativa da protensão na
(E50 ), módulo de deformabilidade em cortina. A Figura 6b representa o modelo
recarregamento triaxial (Eur ) e módulo de (FA), que simula o tirante como um elemento de
deformabilidade ao carregamento eodométrico barra ligado a um elemento de ancoragem
(Eod). indeslocável. A Figura 6c representa o modelo
A Tabela 3 apresenta os parâmetros utilizados na (FN), que simula o tirante apenas como um
modelagem numérica. Na Tabela 5 𝛾 e 𝛾𝑠𝑎𝑡 são elemento de barra carregada na extremidade
o peso específico aparente natural e saturado do vinculada à cortina. A Figura 6d representa o
solo, respectivamente, 𝑚 é coeficiente de ajuste modelo (F2N), que simula o tirante através de
da curva tensão deformação e Ri é o fator de cargas aplicadas tanto no paramento como no nó
redução de interface. representativo da ancoragem do tirante. A Figura
6e representa o modelo (FSB), que simula o
Tabela 3. Parâmetros adotados no modelo numérico. tirante como um elemento de barra (trecho livre)
Parâmetro Camada 1 Camada 2 vinculado a uma geogrelha (a geogrelha é a
γ (KN/m³) 18 18 forma que o Plaxis considera o bulbo), mas com
γsat (KN/m³) 20 20 a carga aplicada apenas na extremidade

c (KPa) 1 1 vinculada à cortina. A Figura 6f representa o

ϕ (°) 30,1 28,5 modelo (FSB-IN), semelhante ao modelo (FSB),
ψ (°) 0 0 mas que incorpora uma região de interface entre
ν 0,332 0,343 o elemento de bulbo e o solo. A Figura 6g
E50 (MPa) 20 38 representa o modelo (F2SB), semelhante ao
Eoed (MPa) 32 40 modelo (FSB), mas com a carga aplicada nas
Eur (MPa) 55 76 duas extremidades do elemento de barra. A
M 0,5 0,5 Figura 6h representa o modelo (F2SB-IN),
Ri 0,5 0,9
semelhante ao modelo (F2SB), mas com uma
região de interface entre o elemento de bulbo e o
As demais variáveis foram definidas solo. A Figura 6i representa o modelo (FPD), que
anteriormente. 𝑐 ′ foi adotada igual a 1 kPa para simula a carga de protensão como um
evitar erros no processamento do programa. deslocamento prescrito na extremidade do
A Tabela 4 apresenta os parâmetros adotados tirante vinculada ao bulbo. A Figura 6j
para a estrutura. FEV é o fator de espessura representa o modelo (FPD-IN), que é semelhante
virtual na zona de interface. ao anterior, mas incorpora uma região de
interface entre o elemento de bulbo e o solo.
Tabela 4. Parâmetros Calibrados da Estrutura.
Elemento Parâmetro Unidade
EA EI 𝜈 FEV
Contenção 4,52 𝑥 106 2,53 𝑥 106 0,2 0,1
Pilares 1,0 𝑥 106 1,5 𝑥 106 0,2 -
7
Laje 1,0 𝑥 10 2,0 𝑥 106 0,2 -
Fundação 1,0 𝑥 1012 1,0 𝑥 1012 0,2 -
Tirante 1,7 x 105 - - -
Bulbo 3,0 x 104 - - 0,1 Figura 5. Modelo numérico desenvolvido. Sem escala,
Obs.: EA e EI em KNm;  e FEV = adimensional. dimensões em m.

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contribuições deste trabalho em relação ao
anterior. Para garantir a representatividade dos
resultados das simulações numéricas
incorporou-se a sequência da execução da
cortina no modelo numérico. As etapas de
a) b) modelagem são: (1) geração do campo de
tensões iniciais no maciço; (2) implantação da
contenção; (3) escavação até a cota -2,88m; (4)
construção da estrutura adjacente; (5) construção
da laje; (6) construção da linha de tirantes e (7)
protensão dos tirantes.

c) d)
3 RESULTADOS E ANÁLISE

3.1 Previsão da Distribuição de Carga no


Tirante por Diferentes Abordagens
IN
Os únicos modelos que permitem avaliar a
e) f)
distribuição de carga no trecho ancorado do
tirante são o FS2B, FS2B-IN, FPD e FPD-IN,
sendo portanto tratados com maior detalhe. Os
demais modelos, embora não permitam avaliar a
distribuição de carga nos tirantes, podem ser
IN utilizados para avaliar deslocamentos
g) h) horizontais da cortina, bem como tensões
horizontais no solo e esforços solicitantes na
cortina. A Figura 7 apresenta os resultados da
previsão de distribuição de carga no trecho
ancorado dos tirantes.
IN

i) j)

Figura 6. Modos de consideração da ancoragem – a)


Modelo (F); b) Modelo (FA); c) Modelo (FN); d) Modelo
(F2N); e) (Modelo (FSB); f) Modelo (FSB-IN); g) Modelo
(F2SB); h) Modelo (F2SB-IN); i) Modelo (FPD); j)
Modelo (FPD-IN).

Os modelos (F), (FA), (FN) e (F2N), por não


apresentarem elementos representativos do
bulbo do tirante, não permitem a avaliação da
distribuição de carga no tirante e, portanto, não
serão aprofundados neste trabalho. Entretanto
servem para estudar o comportamento da Figura 7. Previsão de distribuição de carga no trecho
contenção em termos de deslocamentos ancorado dos tirantes por diferentes abordagens.
horizontais da cortina.
Os modelos supracitados, assim como o Na Figura 7 Nx é o esforço normal na seção e
(FSB) e (F2SB) são descritos no trabalho de L/Lb é a posição da seção no trecho ancorado
Josefino et al. (2009), sendo os modelos (FSB- normalizada pelo comprimento do bulbo do
IN), (F2SB-IN), (FPD) e (FPD-IN) tirante. São apresentados em conjunto os dados

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experimentais coletados do monitoramento da interface, onde L/Lb é a posição no bulbo
contenção em campo (Exp). normalizado pelo comprimento do bulbo (4 m) e
Observa-se, na Figura 7, que o modelo F2SB Nx é a força normal na seção do bulbo.
e F2SB-IN apresentaram melhor concordância Da Figura 9 observa-se uma tendência de
com a curva experimental. Este resultado está suavização da distribuição de cargas no trecho
coerente com o esperado, uma vez que nos inicial do bulbo com consequente aumento da
modelos FPD e FPD-IN necessitam ser avaliados solicitação no trecho posterior do tirante
quais deslocamentos prescritos devem ser conforme aumenta-se o FEV da zona de
aplicados no bulbo dos tirantes para melhor interface. Comenta-se ainda que para este estudo
simular a carga de protensão. Neste caso foi o melhor ajuste dos modelos numéricos com os
aplicado o valor do deslocamento permanente, resultados experimentais foi obtido com o valor
Dp, após ensaio de recebimento dos tirantes, de FEV igual a 0,1.
igual a 3,49 mm.

3.2 Previsão do Ensaio de Recebimento

O modelo F2SB-IN foi escolhido para a previsão


das cargas no tirante e para as análises
paramétricas abordadas no item 3.3.
Na Figura 8 apresentam-se os resultados
obtidos numericamente via modelo F2SB-IN e
experimentalmente para a distribuição de carga
no trecho ancorado dos tirantes durante o ensaio
de recebimento. A partir dos dados apresentados
observa-se que quanto maior a magnitude das
cargas envolvida menor é a aproximação com os
dados obtidos experimentalmente. Figura 9. Relação da distribuição de carga no bulbo do
tirante de acordo com o FEV.

A Figura 10 apresenta os resultados da


distribuição de carga no trecho ancorado dos
tirantes com a variação do Ri, que representa o
fator de aderência entre o solo e o bulbo no
modelo F2SB-IN.

Figura 8. Distribuição de carga durante o ensaio de


recebimento.

3.3 Análises Paramétricas

Devido a melhor aproximação obtida no modelo


F2SB-IN, prossegue-se com este modelo em um Figura 10. Relação da distribuição de carga no bulbo do
estudo paramétrico. A Figura 9 apresenta os tirante com o Ri.
resultados do estudo paramétrico envolvendo o
fator de espessura virtual (FEV) da zona de Da Figura 10 observa-se que quanto o maior

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o fator Ri maior é a concentração de tensões do forma exponencial com concentração de tensões
tirante em seu trecho inicial, aproximando-se a em seu trecho inicial. Esta constatação é
distribuição ao longo do tirante de uma curva importante no sentido do desenvolvimento de
exponencial. Verificou-se da análise que quanto formulações que permitam predizer o
maior o fator Ri melhor é o ajuste do modelo comportamento dos tirantes para diferentes
numérico com o resultado obtido cargas de trabalho, o que poderia induzir a
experimentalmente. projetos mais econômicos e confiáveis.
Para o modelo de simulação dos tirantes
através de deslocamentos prescritos no início do
trecho ancorado e com zona de interface (FPD-
IN), procedeu-se uma análise com vistas a
relacionar a forma de distribuição de cargas no
trecho ancorado de acordo com o deslocamento
aplicado (PD), o qual foi relacionado ao
deslocamento permanente obtido
experimentalmente nos ensaios de recebimento
(Dp). Os resultados desta análise estão
apresentados na Figura 11.
Observa-se da Figura 11 que quanto maior o
valor do deslocamento prescrito maior tende a
ser a distribuição de tensões no trecho inicial do
bulbo. Comenta-se ainda que valores de Figura 12. Influência da carga de ancoragem dos tirantes
deslocamento prescrito entre 0,5 Dp e 1,0Dp na distribuição de carga no trecho ancorado.
tendem a apresentar melhor ajuste com a curva
obtida experimentalmente. 3.4 Efeito da Laje de Travamento na
Distribuição de Cargas no Tirante

No que diz respeito as diferentes concepções de


estruturas de contenção, fez-se um estudo acerca
da influência de incorporação de uma laje de
travamento, bastante comum em projetos na
distribuição de carga dos tirantes.
Na prática incorre que quando incorporadas
lajes de travamento ou escoramento para as
estruturas de contenção, os tirantes
apresentariam menor solicitação pela maior
rigidez da estrutura de escoramento. Entretanto,
verificou-se na Figura 13 que o modelo
numérico não apresentou alívio de carga nos
Figura 11. Relação da distribuição de carga no bulbo do tirantes pela incorporação da laje. Pelo contrário,
tirante com o valor do Deslocamento Prescrito (PD). devido aos maiores deslocamentos da contenção
desenvolvidos pela estrutura de contenção na
Efetuou-se uma análise paramétrica
incorporação da laje, houve leve aumento na
envolvendo a carga de protensão, objetivando
carga solicitantes dos tirantes.
avaliar se a forma de distribuição de carga nas
Este comportamento, apesar de contrário ao
ancoragens obedecia a um padrão identificável.
esperado em teoria, é coerente com as medições
Os resultados estão apresentados na Figura 12.
de deslocamentos horizontais da estrutura de
Para a carga incorporada no ensaio (180kN)
contenção apresentada por Santos (2013).
obteve-se boa concordância com o observado
Oliveira (2014) sugeriu este aumento de
experimentalmente. Do exposto na Figura 12
deslocamentos pode ser atribuído a deformações
observa-se que a distribuição de carga no trecho
da laje que geraram momentos fletores na região
ancorado dos tirantes tende a obedecer uma

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de engastamento com a cortina. REFERÊNCIAS

Briaud, J. L.; Griffin, A. Y.; Soto, A.; Suroor, A.; Park, H.


(1998). Long-term behavior of ground anchors and
tieback walls. Texas Transportation Institute. Report
1391-1. Texas.
Domingues, E.C. (2011). Análise da importância do
faseamento construtivo no comportamento de
contenção flexível. Dissertação de Mestrado.
Universidade Nova de Lisboa.
Iten, M.; Puzrin, A.M. (2009). Monitoring of stress
distribution along a ground anchor using BOTGA.
Proc. SPIE, Vol. 7647.
Josefino, C. M. J. S.; Guerra, N. M. C.; Fernandes, M. M.
(2009) Modelação de Ancoragens nas Análises 2D por
Elementos Finitos de Cortinas de Contenção: A
questão da simulação do pré-esforço. Revista
Figura 13. Influência da incorporação da laje na Geotecnia n° 117, pp. 3-31.
distribuição de carga dos tirantes. Li, J.C.; Yao, H.L.; Shi, L.P.; Shy, B. I. (1988). Behavior
of Ground Anchors for Taipai Sendimentary Soils.
Proc. Second International Conference on Case
Histories in Geotechnical Engineering, St Louis, n°
4 CONCLUSÕES 6.73.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O trabalho trata de diferentes formas da TÉCNICAS. NBR 5629: Execução de Tirantes
modelagem bidimensional de ancoragens em Ancorados no Terreno. Rio de Janeiro, 2006.
tirantes e analisa a distribuição de carga no Oliveira, L. H. B.; Costa, Y. D. J.; Santos, F. A.; Costa, C.
M. L. (2014). Acompanhamento de deslocamentos
trecho ancorado destes, comparando os horizontais de uma cortina de estacas espaçadas
resultados à valores obtidos experimentalmente. atirantada. XVII Congresso Brasileiro de Mecânica
O método de modelagem que considera as dos Solos e Engenharia Geotécnica, Goiânia/GO,
cargas aplicadas nas duas extremidades do Brasil, 8 p.
trecho livre e com uma fina região de interface Santos, F. A. (2013). Avaliação do desempenho de uma
cortina de estacas espaçadas, atirantada em areia.
entre o bulbo e o solo (F2SB-IN) apresentou Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio
melhor previsão dos dados observados Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, 163 p.
experimentalmente para a distribuição de cargas
no trecho ancorado dos tirantes. Métodos que
consideram os deslocamentos prescritos na
extremidade do bulbo (FPD e FPD-IN) precisam
de dados iniciais acerca do deslocamento
permanente previsto em ensaio de recebimento
para melhor predizer a distribuição de cargas no
trecho ancorado.
Das análises paramétricas observa-se que
quanto menor o fator de espessura virtual da
zona de interface maior tende a ser a distribuição
de carga no trecho inicial do bulbo. O
comportamento contrário é observado quando
maior é o fator de aderência entre o solo e o
bulbo (Ri).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio do CNPq e da


CAPES pelo suporte financeiro à pesquisa.

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