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JUVENATRIX

JUVENATRIX – Fanzine de Horror & Ficção Científica


ANO 20 – Número 123 – JULHO 2010
JUVENATRIX – Amaldiçoado pelo Horror e Metal Extremo, em
circulação desde Janeiro de 1991, com 3.309 páginas de publicação
Editor – Renato Rosatti / Capa – Rafael Tavares

Blogs: www.infernoticias.blogspot.com & www.juvenatrix.blogspot.com


E-mail: renatorosatti@yahoo.com.br
Lançamento dessa edição: 25/07/2010 – São Paulo/SP
Distribuição gratuita – Solicite o envio por e-mail
“Metal and blood come together as one” (Exodus, EUA)

EDITORIAL
Os destaques dessa edição são a ilustração de capa de autoria de Rafael Tavares, que tem outros trabalhos
igualmente ótimos e que serão publicados oportunamente, e a HQ “Cuca”, de Fernando Maziviero, M. Guimarães
e Téo, não aproveitada pela revista “Boca do Inferno.Com”, mas que ganha espaço no “Juvenatrix”.
A partir de agora irei republicar alguns artigos de cinema de minha autoria escritos há alguns anos, que
foram publicados na versão impressa do fanzine, e que para muitos dos leitores atuais podem até ser considerados
praticamente inéditos. Começando com o clássico “O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chainsaw
Massacre, 1974), originalmente publicado no “Juvenatrix” # 77. Não se esqueça de limpar depois o sangue
escorrido da tela de seu computador...

HORROR & METAL EXTREMO


“The painful angels scream, sweet music to my ears” (Dark Funeral, Suécia)
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Música: Death Metal / Banda: Possessed (Estados Unidos)
Álbum: Seven Churches (1985)
Arise from the dead. Attack from the grave. The killing won't stop 'til first light. We'll bring you to hell. Because we want to
enslave. Your soul will be frozen with fright. We'll break through the crust. Leave from our crypts. Protected by eternal life.
Lay down the laws. From our satanic scripts. Bringing you nothing but strife. Death Metal. Death Metal. Ruling your cities.
Controlling your towns. Entrapped in your worst nightmare. Piercing your ears. With a horrible sound. Casting my elusive
stare. Lucifer laughs. His needs are fulfilled. The flames are now burning hot. Bodies are burning. The people are killed.
Torture the reason we fought. Death Metal. Death Metal. Kill them pigs. Now we take over. And rule by Death Metal. Enjoy
our long-waited reign. Blood's what we want. And we won't settle. Until we drive you insane. Attacking the young. Killing the
old. Bleeding with every heartbeat. Darkness has fallen. And your soul is sold. Claws will dig into your meat. When the sun
doesn't rise. And the day is like night. Know that your life is at its end. Rendered helpless. So scream out in fright. Death
Metal came in the wind. Death Metal.
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Divulgação de banda de Hardcore: “Trassas”, de São Paulo/SP

http://www.myspace.com/trassashardcore
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O já tradicional evento de metal extremo “Setembro Negro 2010” terá “Gorgoroth”


(Noruega) e “Enthroned” (Bélgica): dia 05/09/10 em São Paulo/SP
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“Excuse me my darling but the shadows are calling again” (Marduk, Suécia)

NOTÍCIAS & DICAS & DIVULGAÇÃO


Divulgação de projeto: novo livro de H. P. Lovecraft

NOVO LIVRO DE H. P. LOVECRAFT (disponível para compradores fora do Brasil também)


(Mensagem de Denilson)
O www.sitelovecraft.com pretende lançar um livro diferenciado sobre a obra de HP Lovecraft. Um livro diferente de todos
que já sairam no Brasil. Formato 16x23, papel off-set, capa em cartão supreme. Formato e tamanho de fontes, fotos, biografia
e introdução longa, além de contos consagrados, inéditos, ensaios e poesias.
O livro está adiantado e acho que até o fim do ano será publicado, ainda por conta pelo sistema on demand. A relação de
contos segue abaixo e quem quiser o livro, se torne um 'comprador potencial' garantindo o seu quando sair (você não precisa
gastar nada agora).
Mais detalhes vocês podem ver no site e se interessar mande um email para de3103@yahoo.com.br com dados como fone
com DDD, nome completo, e-mail fixo para contato e Cidade/Estado/País onde mora.
Introdução, biografia com fotos, indice...
Ficção (mitos de cthulhu/dreamlands e histórias de ficção e horror)
- O Chamado de Cthulhu / - O Horror de Dunwich / - A Cor que Caiu do Espaço / - A Sombra sobre Innsmouth / - Um
Sussurro nas Trevas / - Sonhos na Casa da Bruxa / - A Cidade sem Nome / - O Festival / - O Assombro das Trevas / - A
Música de Erich Zann / - O Depoimento de Randolph Carter / - O Inominável / - Celephais / - A Procura de Irannom / - O
Forasteiro / - O Sabujo
Inéditos traduzidos ou fora de catálogo há muito tempo
- A Armadilha / - O Horror em Martin´s Beach / - A História do Necronomicon /
Trabalhos de não-ficção
- Regularidade Métrica / - Algumas notas sobre algo não-existente / - Notas sobre Escrever Ficção Fantástica
Poesias/poemas/sonetos:
- Fungi from Yuggoth / - A Noiva do Mar / - Desespero / - Os Gatos / - Providence / - The Rose of England / - An Elegy on
Franklin Chase Clark, M.D.
Sugestões e idéias são bem vindas,
Denilson – de3103@yahoo.com.br
MSN: denilson-jundiai@hotmail.com

Divulgação de livro: “A Totalidade Pelo Horror”, de Caio Alexandre Bezarias

“A totalidade pelo horror” – O Mito na obra de Howard Phillips Lovecraft, por Caio Alexandre Bezarias
Annablume Editora. Formato: 14x21cm, 156 páginas. ISBN: 978-85-391-0076-7
“A totalidade pelo horror” é um livro munido da teoria crítica da Escola de Frankfurt, os estudos sobre o mito de Joseph
Campbell, Mircea Eliade e Jean Pierre Vernant, as reflexões de Fredric Jameson sobre a utopia, entre outros – sobre Howard
Phillips Lovecraft, um dos artífices da literatura fantástica moderna. A despeito de sua cada vez maior popularidade e
penetração entre os leitores e estudiosos brasileiros desse gênero tão malcompreendido, e de ser publicado no país pelo menos
desde os anos 40, estudos feitos em língua portuguesa sobre sua obra, que se afastassem da exaltação juvenil do fã bem como
da crítica preconceituosa de parte da academia, eram, até há bem poucos anos, praticamente inexistentes. O presente livro é
uma contribuição brasileira, feita por um pesquisador devotado ao autor e ao gênero, mas bastante atento e crítico, a uma
maior compreensão do ciclo de Cthulhu e de seu significado como representação exótica e alucinada das contradições e
horrores que o monstro urbano-industrial gerou e gera.
O fanzine de contos de vampirismo “Adorável Noite” número 34 está disponível para
download gratuito

(Mensagem de divulgação de Adriano Siqueira)


Está na internet o fanzine nº 34 do Adorável Noite - Contos de Vampiros e Terror, para baixar gratuitamente.
http://www.overmundo.com.br/banco/fanzine-adoravel-noite-nr-34
Segue abaixo a relação dos participantes desta edição:
Um Vampiro nos Degraus da Cripta / Abigail Lucena de Farias / abifarias@yahoo.com.br
Diga-me com quem andas que eu te direi quem és / Andréia. D. Bilenkij / andreia_kai@yahoo.com.br
À Espera do Sol / Lino França Jr. / keanefran@hotmail.com
Sede de Amor - O Reeencontro / Valquiria Diana / valquiriadiana@netsite.com.br
Morte Certa / Fernando Fesant / fernandofesant@yahoo.com.br / orudemagnetismo.blogspot.com
A Traição / Larissa Caruso / lari_lopes@uol.com.br
Aliança de Sangue / Pedro Lucas Pereira Sousa / pedro.tennaxx@hotmail.com
Para colaborar com seus contos envie para siqueira.adriano@gmail.com. O conto deve ter no máximo dois mil caracteres e o
assunto do e-mail é "conto para o fanzine Adorável Noite"
Adriano Siqueira
http://www.contosdevampiroseterror.blogspot.com / http://www.adoravelnoite.com
http://www.adoravelnoite.blogspot.com / http://www.universoinsonia.com.br
http://www.universosombrio.blogspot.com

O ator Dennis Hopper morreu aos 74 anos vítima de câncer na próstata

O ator americano Dennis Hopper faleceu em 29/05/10 devido a complicações geradas por um câncer na próstata. É mais um
ator levado por essa doença maldita. Sua filmografia é extensa, mas no gênero fantástico vale lembrar de “O Massacre da
Serra Elétrica 2” (1986), onde ele fez um xerife que tenta combater o psicopata Leatherface, e também sua participação em
“Terra dos Mortos” (2005), de George Romero.

Eventos de cinema fantástico: “VI Fantaspoa”, realizado de 02 a 18/07/10 em Porto


Alegre/RS, e “II SP Terror”, realizado de 01 a 08/07/10 em São Paulo/SP

VI FANTASPOA
Entre 02 e 18 de julho ocorreu a sexta edição do Fantaspoa. Foram exibidos 64 curtas e 74 longas-metragens, totalizando
138 obras na programação. Os filmes exibidos são do gênero fantástico (fantasia, ficção-científica, horror e thriller) e o grande
objetivo é agradar não somente fãs desses gêneros específicos, mas apreciadores de cinema em geral.
O Fantaspoa teve a honra de trazer à Porto Alegre um total de 11 convidados estrangeiros para realizarem debates com o
público. Dessa forma, o público espectador teve a oportunidade de conversar diretamente com profissionais relevantes e
promissores da indústria cinematográfica.
A sessão de abertura do VI Fantaspoa foi realizada às 19 horas no Cine Bancários, no dia 2 de julho, com exibição do filme “É
Preciso Amar a Morte”, com a presença do diretor alemão Andreas Schaap. Nos final de semana dos dias 3 e 4 de julho, foram
exibidos somente curtas-metragens, no Cine Bancários. Dos dias 6 a 9 de julho, o Fantaspoa ocupou as salas Cine Santander
(O Fantástico Mundo Animado), Sala P.F. Gastal (Mostra de Documentários) e Cine Bancários (Mostra Luigi Cozzi, com
filmes desse diretor italiano que foi homenageado nesta sexta edição do evento e fez palestras diárias).
A partir 10 de julho, foi apresentada a Mostra Competitiva de Longas-metragens, com 37 filmes de 21 países. Todos os filmes
foram lançados há no máximo 4 anos e muitos deles foram bastante premiados em festivais de cinema do mundo inteiro, tendo
ótima recepção de público e crítica. Vale sempre ressaltar que todos os filmes da Mostra Competitiva não tiveram lançamento
comercial no Brasil e a grande maioria não foi lançada em cinemas, acentuando o caráter de exclusividade da programação do
Fantaspoa.
O Fantaspoa trouxe, como atividade paralela, dois cursos teóricos ministrados pelo jornalista, pesquisador e crítico Carlos
Primati. Os cursos “O Horror no Cinema Brasileiro” e “A Ficção Científica da Década de 1950”, tiveram 8 horas cada. Carlos
Primati desenvolveu material inédito e exclusivo para apresentar no Fantaspoa. O segundo curso contou com a participação de
Marcelo Severo, especialista no tema. Os cursos ocorreram na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro.
Direção e Produção – Fantaspoa: João Fleck e Nicolas Tonsho
www.fantaspoa.com
Fantaspoa no Twitter: www.fantaspoa.com/twitter
Fantaspoa no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=40161183
Fantaspoa no Facebook: http://www.facebook.com/people/Fantaspoa-VI/100000736974072
Fantaspoa no Myspace: http://www.myspace.com/341902741

II SP TERROR
É inegável a importância do cinema de gênero, em particular do filme de fantasia e terror, em termos do domínio de bilheteria
internacional, ou em termos de estética dominante.
Pode-se afirmar que o cinema de gênero terror e fantasia possui como característica integrar as camadas sociais e grupos
ideológicos diferentes. A reação de deslumbramento frente à ameaça ao desconhecido e ao extraordinário é uma força que nos
une.
São Paulo
Acreditamos que uma metrópole com as dimensões de São Paulo, com seu perfil cosmopolita, com imensa população jovem,
informatizada e culturalmente diferenciada, mereça seu Festival de Cinema Fantástico. A penetração do cinema norte-
americano de terror e fantasia no mercado brasileiro e a duradoura fascinação pela obra de nosso único ícone, o mestre Mojica
Marins, reafirmam o interesse.
SP TERROR – Festival Internacional de Cinema Fantástico!
Informações de Serviço
II SP Terror - Festival Internacional de Cinema Fantástico
Data: 01 de julho a 08 de julho de 2010
Sala de exibição: Sala 2 - Reserva Cultural (160 lugares) e Cinesesc (326 lugares)
Reserva Cultural: Avenida Paulista, 900. - tel: (11) 3287-3529
CineSesc: Rua Augusta, 2075 – tel: (11) 3082-0213
Programação – http://www.spterror.com/programacao.html

A “Raven´s House Brasil” lançou o e-zine “Flores do Lado de Cima” número 14, com
download gratuito

http://www.4shared.com/document/yCYGL8ve/FLORES_14.html

“Apocalipse Licantrópico” – nova série de contos no blog “Escrituras da Lua Cheia”, de


André Bozzetto Junior

APOCALIPSE LICANTRÓPICO
A literatura e o cinema de horror por mais de uma vez retrataram cidades infestadas por zumbis ou sitiadas por vampiros. Mas
como seria se um núcleo urbano estivesse no limiar de uma invasão de brutais e furiosos lobisomens?
Nesta nova série de contos que se iniciou no dia 26/06/2010 no blog Escrituras da Lua Cheia, um grupo formado por Vitória
– a caçadora de lobisomens –, o mendigo Vandinho e os veteranos Francisco e Jorge precisará impedir a concretização desse
iminente apocalipse licantrópico. Contudo, Jarbas – o mais temido dos lobisomens – também dará as caras, fazendo com a
dramática missão ganhe ares de pavor e desespero.
Acesse www.escriturasdaluacheia.blogspot.com e acompanhe esta saga repleta de ação, suspense e terror.

Divulgação de site de Ficção Científica: “Vimana”

http://www.vimana.com.br

Divulgação de blog: “Atividade Paranormal”, de Fabiano Boni

Atividade Paranormal
http://ativparanormal.blogspot.com/

Está disponível a edição 103 do fanzine “Quadrinhos Independentes”

Está disponível a edição 103 (Maio / Junho de 2010) do fanzine “Quadrinhos Independentes”, editado por Edgard
Guimarães, com 24 páginas, formato meio ofício e impressão digital.
Conteúdo: quadrinhos, artigos, anúncios, seção de cartas dos leitores e divulgação de fanzines.
Contatos: A/C Edgard Guimarães – fone 35-3641-1372 (sábado e domingo)
Rua Capitão Gomes 168 – Brasópolis/MG – CEP 37530-000 – e-mail: edgard@ita.br

Divulgação de livro: “Relações de Sangue”, de Martha Argel

Maria Clara Baumgarten levava uma vida bem normal, até conhecer a vampira Lucila, cujos olhos castanhos grandes e
inocentes enganariam até o mais desconfiado dos humanos, quanto mais a pobre Clarinha.
Um vampiro traz o outro, e logo ela está às voltas com Daniel, um inescrupuloso vampiro de programa. Moreno, alto, bonito e
sensual, ele precisa da ajuda das duas para encontrar o assassino em série que está atacando suas “clientes”.
Mas... e se o assassino encontrar Clara primeiro?
Relações de Sangue é um clássico da literatura vampírica brasileira. Publicado originalmente muito antes da recente febre de
vampiros que arrebatou o coração dos leitores, o romance de estreia de Martha Argel ainda é adorado por uma legião de fãs.
Num estilo ágil e bem humorado, Relações de Sangue traz uma história de mistério, suspense e sedução ambientada na São
Paulo dos dias de hoje, capaz de prender a atenção do início ao fim.
Com esta nova edição, uma vez mais a Giz Editorial brinda os leitores com a prosa elegante e tão característica de Martha
Argel, que já há algum tempo firmou-se como um dos nomes mais importantes da Literatura Fantástica nacional.
Relações de Sangue, de Martha Argel. 254 páginas / Capa de Rafael Victor / Giz Editorial
http://vampirapaulistana.blogspot.com/2010/06/relacoes-de-sangue-vampiros-e-misterio.html

Divulgação de livro: “Na Próxima Lua Cheia”, de André Bozzetto Junior

“Na Próxima Lua Cheia” – Autor: André Bozzetto Junior


SINOPSE
Obcecado em desvendar a verdade por trás de uma história antiga e obscura narrada por seu pai no leito de morte, Lucas
decide partir na companhia de dois amigos em uma viagem a um lugarejo remoto no interior da região serrana do Rio Grande
do Sul. Chegando ao seu destino, ele descobre que há um alto preço a ser pago pelos segredos revelados, pois quando surge a
lua cheia, o trio de amigos se vê diante de horrendas criaturas dispostas a manchar de sangue os tons sombrios da noite.
Prepare-se para embarcar em uma viagem repleta de suspense, terror e reviravoltas ao acompanhar uma sinistra história sobre
vingança e lobisomens que culmina em um final surpreendente e impactante.
http://www.editoraliterata.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=70

“Demons” 1 e 2, de Lamberto Bava, são lançados em DVD no Brasil

Em Junho de 2010, a “Cult Classic” lançou em DVD no Brasil um pack contendo “Demons” 1 e 2, exemplares sangrentos do
cinema italiano dos anos 80 e itens indispensáveis para os colecionadores, e um outro filme também dirigido por Lamberto
Bava, mas erroneamente considerado “Demons 3”, chamado “O Ogro”. Na verdade, esse filme já tinha outro nome nacional
(“O Terror Não Tira Férias”, de 1989, lançado em VHS), e não tem qualquer relação com a franquia “Demons”, além também
de ser fraquíssimo e sem atrativos.

“Halloween 3” (1982) e “O Massacre da Serra Elétrica 2” (1986) são lançados em DVD no


Brasil

A notícia até poderia ser boa, mais pela nostalgia do cinema de horror dos anos 80 do que pela qualidade dos filmes, mas a
“Continental”, empresa responsável pelo lançamento nacional, está dando um show de incompetência.
“Halloween 3” já havia sido lançado anteriormente junto com “Halloween 2” pela “LW”, e agora a “Continental” lançou
novamente colocando o psicopata Michael Myers na capa, sendo que este filme é o único da franquia que justamente não tem
a participação do vilão, sendo apenas uma história ambientada dentro do universo ficcional das macabras festas de halloween.
E ainda utilizaram na arte da capa o Michael Myers da nova franquia de Rob Zombie.
Quanto ao “O Massacre da Serra Elétrica 2”, bomba dirigida por Tobe Hooper, o criador do original (mas aqui totalmente
sem inspiração), a “Continental” cometeu uma incrível sucessão de erros grotescos, começando por colocar na capa o nome da
atriz Marilyn Burns (escreveram o nome errado como Burnus), sendo que ela aparece apenas no filme original de 1974, e
também por evidenciar na capa a opcionalidade de ver o filme dublado, fato que não existe no DVD.
Enfim, nota zero para a “Continental”. Se for para lançar filmes dessa maneira “porca”, é melhor não lançar, pois os filmes e
os colecionadores merecem mais respeito.

“Re-Animator” (1985) e “O Exército do Extermínio” (1973) são lançados em DVD no Brasil

Mais dois lançamentos de filmes indispensáveis para os colecionadores, através da “Cult Classic”: “Re-Animator” (1985), de
Stuart Gordon e história inspirada em H. P. Lovecraft, e “O Exército do Extermínio” (1973), de George Romero.

“I´m your Lord crucified. Come taste the blood from my wounds before I die” (Hate, Polônia)

CONTOS
O Maior Espetáculo da Terra por Geraldo de Fraga
Marcelo notou que a foto já estava amarelada e só não tinha se rasgado ainda, por que era protegida com uma
pequena capa de vidro. Era uma foto antiga. Ela ainda não era sua esposa, só uma garota da sexta série. Ele carregava essa foto
3 x 4 dentro da carteira, desde o dia em que ela o deixou.
Marcelo colocou a foto de volta na carteira, ao perceber que Romeu estava chegando, e se ajeitou no banco do carona.
Romeu era o fotógrafo que iria acompanhá-lo na matéria daquele dia. Os dois trabalhavam juntos há um bom tempo no jornal.
Romeu sentou no banco do motorista. “Eu dirijo hoje”, disse sorrindo.
- Onde vamos? – perguntou Marcelo.
- Circo Mastroiane.
- O que é que tem lá?
- Recebemos uma denúncia de maus tratos a animais.
- Grande notícia. Quem fez a denúncia?
- Sei lá. O editor disse que alguém ligou dizendo que ouve urros durante a noite e uns barulhos esquisitos –
respondeu Romeu, fazendo gestos com as mãos e caretas.
- Só isso? Pelo amor de Deus, se é um circo é claro que os animais fazem barulhos à noite. E a polícia?
- Nenhuma delegacia que entramos em contato recebeu alguma denúncia.
- Mas eles vão com a gente? A polícia?
- Não.
- É... vamos nessa – disse Marcelo
Romeu ligou o carro e, então, partiram. O circo ficava numa área da periferia da cidade, bem afastada do centro.
Levou quase trinta minutos para chegarem. Não havia ninguém por perto quando desceram do carro.
A estrutura física do circo era decadente. A lona era velha e tinha remendos gigantescos. Além disso, parecia um
pouco pequena para um circo. Ao lado, havia um caminhão baú caindo aos pedaços e, junto a ele, um trailer em iguais
condições.
- Quem traria as crianças para um circo desses? – perguntou Romeu.
E antes que Marcelo respondesse, uma voz se encarregou disso.
- Meu circo não é para crianças, meu senhor - falou um pequeno homem que surgira do nada. – Nada de palhaços e
acrobatas no Mastroiane. Esse é o nosso lema – completou.
Era um sujeito baixinho, barrigudo e com um bigode que cobria quase toda a sua boca. Estava vestido a caráter, como
um típico apresentador de picadeiro. Smoking vermelho e uma cartola preta, apesar do forte sol que fazia.
- O senhor é o dono do circo? – perguntou Marcelo.
- Sim, sim. Sou Giácomo Mastroiane. E vocês quem são? – perguntou o velho, com um ar de simpatia.
- Somos repórteres – Marcelo entregou-lhe um cartão de visitas do jornal e continuou a falar. – Bem, senhor
Mastroiane, recebemos uma ligação anônima essa manhã a respeito de maltrato contra animais.
- Animais? – o velho riu. – Não temos animais aqui, meu filho.
- Nem acrobatas, nem palhaços, não é? – perguntou Romeu.
O velho sorriu.
- Isso mesmo, meu filho. Você presta atenção nas coisas – disse ele.
- Calma aí! – falou Marcelo, olhando para o velho com desconfiança. – Que tipo de circo não tem palhaços,
acrobatas e animais?
- O meu circo não tem, meu rapaz.
Então o velho retirou um papel enrolado, de dentro do seu Smoking, e o estendeu em frente aos dois visitantes. Era
um pôster vermelho cheio de desenhos esquisitos. Marcelo e Romeu tentavam ver o que eram, mas foi o título escrito com
letras grandes que chamou realmente a atenção dos dois.

“Grande Circo Marstroiane – Show de Horrores”

- Que legal – disse Romeu, empolgado.


Marcelo ficou sem entender.
- Como assim, “show de horrores”? – perguntou.
- Pelo amor de Deus, cara. Você nunca ouviu falar nisso? Diga-me senhor, quais são as atrações do seu circo? –
perguntou Romeu, ainda empolgado.
- Ah, meu jovem, nosso elenco é muito grande – se gabou o velho. – Temos desde as atrações mais comuns, até
coisas que só são vistas em meu circo e em nenhum outro lugar do mundo.
- Podemos ver? Quer dizer, podíamos dar uma olhadinha agora? Isso daria uma bela matéria.
- Sinto muito meu jovem, nossas atrações precisam de descanso agora – O velho mostrou o pôster mais uma vez. –
Venham ver o espetáculo. Começa à meia-noite. Agora se me dão licença, preciso ir.
A pequena figura deixou os dois e foi em direção ao trailer. Acenou e sorriu para eles antes de entrar. Marcelo ficou
furioso.
- É só nisso que eu me meto – disse.
O resto do dia correu normalmente. Marcelo fez algumas matérias sem muita importância e Romeu foi fotografar
treinos de futebol para o caderno de esportes. O editor cancelou a matéria do circo, pois achou que a denúncia deveria ser
trote. Também não se interessou pela idéia de Romeu de fazer uma matéria com as atrações.
Quando largou, Marcelo foi direto pra casa, apesar do convite feito pelo pessoal da redação para sair e beber. Já fazia
tempo que ele não tinha uma vida social ativa. Naquela sexta-feira planejava revisar umas matérias que sairiam no jornal do
domingo. Já estava se preparando para ligar o computador, quando o interfone tocou.
- Vamos para o circo! – gritou ele, do outro lado da linha.
- A matéria foi vetada. Vá dormir ou encher a cara em algum bar.
Romeu desligou o interfone. Era um sinal de que estava subindo e não haveria jeito de mandá-lo embora. Marcelo
suspirou e foi até o quarto trocar de roupa.
Quando saiu, deu de cara com Romeu sentado no corredor. Marisa estava ao seu lado. Marcelo ficou surpreso e
demorou até formular alguma frase.
- O que esse cretino fez pra te obrigar a ir a um circo numa sexta-feira à noite? – perguntou, finalmente.
- Ele disse que você iria.
Romeu piscou o olho. Marcelo ficou vermelho.
Dentro do carro o silêncio durou uns 10 minutos. Marisa virou-se para o banco de trás, onde Marcelo estava sentado.
- Por que eu nunca te vejo saindo com o pessoal da redação? – perguntou ela.
- Trabalho muito e sou anti-social.
- Eu te acho bem engraçado – disse ela.
- É. Esse aí é um poço de humor – ironizou Romeu.
- Eu, engraçado? Isso foi um elogio? – perguntou Marcelo.
- Claro. Engraçado no bom sentido. Me contaram umas histórias suas na época da faculdade. Você era bem doido
– falou, soltando um risinho.
- É, meu velho. Você virou um pé no saco – disse Romeu.
- Tive meus motivos – respondeu Marcelo, acendendo um cigarro.
O clima ficou um pouco tenso. Marisa mudou de conversa e começou a falar sobre uma matéria que estava fazendo
sobre uma banda de rock que tocava com instrumentos de brinquedo. Romeu adorava rock, então o assunto fluía sem
problemas. Marcelo percebeu que aquela troca de assunto repentina tinha sido por causa dele. Ele sempre se sentia mal quando
isso acontecia.
Já estavam perto das imediações do circo e um grande fluxo de pessoas começou a aparecer.
- Caralho. Tem muita gente aqui – gritou Marisa eufórica.
A maioria era composta por típicos fãs de heavy metal. A multidão de preto caminhava apressada em direção à lona
furada.
- E meu editor filho da puta disse que isso não renderia matéria – reclamou Romeu.
Os três desceram rapidamente do carro. Marisa pegou Marcelo pela mão.
- Acho circo muito romântico – disse ela.
- Mesmo que seja um circo dos horrores? – perguntou ele, fazendo uma careta.
Ela riu.
- Viu, você tem senso de humor.
Romeu pediu para eles se apressarem. Queria falar com o velho Mastroiane antes de começar o espetáculo.
Caminharam até o trailer, onde uma figura gigantesca estava de vigia. Ela tinha cabelos cumpridos e uma barba imensa. Seus
peitos eram enormes. Ainda usava um colante pintado de pele de onça. “Adoro esses clichês”, disse Romeu. Ele e Marisa
estavam muito empolgados, enquanto Marcelo tentava achar graça naquilo, sem sucesso.
- Boa noite. Queríamos falar com o senhor Mastroiane – pediu Romeu.
- Ele nos convidou hoje de manhã. – completou Marcelo.
A figura os encarou com um olhar desconfiado. “Quem são vocês?”, perguntou. Só que era uma voz de mulher que
saia daquela boca coberta de pêlos.
- Vi que já conheceram uma dos integrantes do meu elenco – disse o pequeno Mastroiane saindo do seu trailer.
Estava com um traje parecido com o que usava de dia, só mudava a cor. Esse era azul. “Zoraide, a mulher barbada”,
disse ele dando uma tapa na bunda da imensa figura de colante, que corou de vergonha. Romeu soltou um palavrão e deu uma
gargalhada.
- Venham já é quase meia-noite e o show vai começar – intimou o velho, distribuindo ingressos para os três.
A multidão de jovens foi ao delírio quando o pequeno senhor se aproximou do portão. Já havia um aviso de
“esgotado” pendurado na bilheteria. O velho então subiu numa pequena escada, que dois homens corcundas e deformados
seguravam.
- Um mundo novo para seus olhos – falou, erguendo os braços.

Então, os portões do Grande Circo Mastroiane foram abertos. Os três amigos esperaram o movimento de pessoas na
entrada diminuir e também foram caminhando. O velho era um sorriso só.
- Bom público hoje. Infelizmente só fazemos um espetáculo em cada cidade.
- Por quê? – perguntou Marisa.
- É um show para poucos, jovem dama.
- Mas você pode ter fama. É só nos dar uma entrevista e nos deixar fotografar o lugar – sugeriu Romeu.
- Essa sua máquina não vai funcionar aqui, filho. Vou logo avisando. Acha que deixaria você fotografar meu
circo? Sinto muito, mas a maioria das pessoas não entenderia o que acontece aqui.
- Como assim não vai funcionar? – perguntou Romeu.
O velho se aproximou dos três, bem devagar. O sorriso cativante apareceu em seu rosto de novo.
- Existem coisas nesse mundo que vão além da nossa compreensão. Acredito que já ouviram isso, ou algo
parecido. Nem todas as pessoas têm o privilégio de vir até aqui, filhos. Mas eu convidei vocês, então aproveitem.
Em seguida, o velho caminhou lentamente de volta ao trailer. Os três amigos ficaram parados, só observando.
- Em que diabos nos metemos? – perguntou Marcelo.
- Não sei, mas eu quero entrar – disse Marisa.
- Eu também – completou Romeu.
Os dois correram para dentro do circo. Marcelo os seguiu, só que a passos lentos. Caminhava olhando para os
detalhes do lugar. Notou que, por dentro, a lona não parecia velha, nem dava para ver os remendos. Aliás, o local inteiro era
como novo. No chão, um imenso tapete vermelho se estendia até onde a multidão o deixava ver. Havia várias tendas dos dois
lados do corredor. Cada uma com uma placa que indicava a sua atração.
Marisa estava parada em frente a uma que dizia: “Cartomante”. Olhou para trás e sorriu. “Quero saber se vou ter sorte
no amor”, gritou para ele. Em seguida entrou na tenda. Romeu se aproximou.
- Ela gosta de você, sabia?
- Sinto muito decepcioná-la. E a você também.
- Você não me decepciona, cara. Vamos dar uma olhada por aí.
Os dois amigos riam dos anúncios das placas. Pararam numa tenda, onde se lia: VACA DE DUAS CABEÇAS.
- Preciso tirar uma foto disso – disse Romeu.
Quando entraram, deram de cara com um pequeno grupo de pessoas ao redor de uma cerca. Dentro dela, uma vaca
que ao levantar o pescoço, deixou a vista um par de cabeças.
Cada cabeça se movimentava de uma maneira diferente, e uma delas até mugiu enquanto a outra permanecia quieta.
Ainda espantado, Romeu tirou a máquina fotográfica de dentro da bolsa. Enquadrou o bizarro animal em sua lente, mas a
máquina não registrou a foto. Não havia filme nela, nem na bolsa, nem em lugar algum. “Velho miserável, roubou meus
filmes”, pronunciou em voz baixa para Marcelo, que ainda estava admirado com a vaca.
Uma garota colocou a mão por entre a cerca. Ela tinha na mão um punhado de grama. O animal aproximou-se
calmamente e uma das cabeças começou a comer. A outra em seguida também aceitou a grama na mão da garota. O pessoal
começou a rir. “É só uma vaca”, disse Marcelo, como se falasse sozinho.
- É. Uma vaca de duas cabeças, que eu não vou fotografar.
- Se lembra do que o velho disse, Romeu? Ele disse que a máquina não iria funcionar aqui.
- Ele roubou os meus filmes, isso sim. Ou ele, ou aquela amante peluda dele.
- Vamos olhar outra coisa. Enjoei da vaca.
Ao sair, notaram que o número de pessoas no corredor havia diminuído. Todos estavam correndo para ver as atrações
que mais lhes chamavam a atenção. Fizeram uma rápida busca por Marisa, mas não a viram. Acharam que talvez a consulta
com a cartomante fosse longa, ou fila para vê-la estivesse grande. Continuaram caminhando pelo tapete vermelho. Mais e mais
anúncios: O MENINO SEM CORPO, A SEREIA, OS DUENDES, O ABOMINÁVEL HOMEM DAS NEVES.
- Caralho, esse velho maluco pensou em tudo mesmo. Quantos homens será que trabalham aqui? Devem gastar
uma grana com maquiagem e fantasia – disse Romeu.
- Devem mesmo. Mas a vaca era real.
- Ah, uma vaca de duas cabeças é fácil.
- Fácil? Já viu alguma por acaso?
- Ah porra, você entendeu o que eu quis dizer. Ele pode ter conseguido essa vaca, mas o resto é claro que é falso.
Ou você acredita que existe realmente uma sereia aqui? – perguntou Romeu apontando para a tenda.
Marcelo sorriu. “Vamos lá, conferir”, disse ele entrando na tenda. Nessa, havia um pouco mais de gente do que na
anterior. Havia um recipiente gigante coberto com uma lona amarela. Ao lado, de pé em uma pequena escada, estava um anão
vestido de marinheiro e com um enorme bigode postiço. O pequeno homem pigarreou um pouco e pediu a atenção do público.
- Caros amigos, a criatura que lhes apresentarei agora foi capturada por mim mesmo numa viagem que fiz próximo
às praias da Itália.
O público soltou uma gargalhada. O anão fingiu estar bravo e continuou.
- Estão me chamando de mentiroso? Pois não se deve julgar a coragem de um homem pela sua estatura. Do mesmo
jeito que não se pode julgar se alguma coisa é boa, pelo fato de ser bela. Essa criatura, por exemplo, tem como
atributo uma beleza que encantou os homens durante milhares de anos. Tal formosura, aliada ao seu canto
hipnótico, causaram naufrágios de várias embarcações desde a época da Grécia Antiga. Porém, meus amigos, sua
beleza não é obra de anjos. Essa criatura é um ser abominável, que trás o mal na sua forma mais pura. Por isso
esse aquário é feito de um vidro especial, para que seu canto não possa ser ouvido por ninguém nesse recinto.
Mas a sua beleza demoníaca, meus amigos, vos será apresentada nesse instante.
Então o pequeno homem saltou da escada, segurando em sua pequenina mão uma das pontas da lona. O aquário foi
descoberto, e o público pôde ver o que o pano escondia. Uma bela jovem ruiva, de cabelos compridos e olhos azuis, nadava
dentro do aquário. Da cintura para baixo, não havia pernas e sim uma imensa cauda de peixe. De cor cinza e de escamas que
refletiam a luz, fazendo um arco-íris. Algumas pessoas saíram assustadas do recinto, mas os dois amigos se aproximaram mais
ainda. A mulher era encantadora, e nem o fato dela possuir um imenso rabo de peixe afugentava-os. Outros homens também se
aproximaram mais. “É disso que eu falo meus amigos, é disso que eu falo”, gritava o anão com um sorriso de satisfação no
rosto.
Um dos homens encostou-se no aquário e pôs a palma da mão no vidro com se quisesse tocá-la. Ela instantaneamente
parou de nadar e observou o homem. No primeiro instante, desconfiada, mas logo depois sorriu e veio nadando em sua
direção. Por dentro do tanque, ela também pôs a mão no vidro, no mesmo local onde estava a dele. Então ela encostou os
lábios e seu olhar parecia implorar-lhe para beijá-la. O homem aproximou seu rosto do vidro e quando estava perto de tocá-lo,
a feição da linda ruiva já não era a mesma. Ela abriu sua boca e deixou aparecer seus dentes, agora presas. Parecia gritar, mas
o aquário impedia que o som passasse.
O anão parou em frente ao aquário. A criatura, ao vê-lo, recuou. Nadou em direção ao fundo do tanque e deitou-se lá,
enrolando sua cauda ao redor do próprio corpo. Ficou imóvel, como uma cobra dormindo. O pequenino, enfim, virou-se para a
platéia estarrecida.
- E agora? Vão continuar julgando as pessoas pela aparência? – perguntou. – Deixem minha bela amiga descansar
um pouco. Ele estará de volta na próxima sessão, daqui a alguns minutos.
E então subiu novamente na escada e cobriu o aquário. Depois fez sinal para que todos saíssem da tenda. As pessoas
abandonaram o local em silêncio.
- Isso não foi maquiagem – disse Romeu, quebrando o gelo.
- Não mesmo – concordou Marcelo.
- Preciso tirar umas fotos desse lugar
- E como vai fazer isso?
- Vou lá no carro buscar mais filmes – disse Romeu, indo em direção à saída.
Marisa deu as caras de novo. Marcelo sorriu, mas ela não sorriu de volta. Veio caminhando em direção ele, olhando-o
bem nos olhos. Estava séria. Parou na frente dele e o encarou bem de perto. Permaneceu assim por alguns segundos. De
repente seus lábios começaram a tremer e ela não conseguiu segurar o riso. Colocou as mãos no rosto, com vergonha. Havia
algo em suas mãos. Um pequeno frasco pendurado por uma fina alça de couro. Marcelo tirou-o das mãos dela e começou a
examinar mais de perto.
- Que porra é isso?
- Não vou dizer, tenho vergonha.
- Ah, dá um tempo.
- Tá, tudo bem. É uma porção do amor, mas acho que é falsa. Ou a feiticeira que me vendeu é que é. E o pior é que
ela disse que se eu pedisse o dinheiro de volta, me transformava num sapo.
- Pelo amor de Deus... – disse ele, com um ar de desprezo.
- Ela me deu esse outro aqui de graça. Disse que era pra veneno, só não disse de quê. Vou guardar de lembrança –
falou, mostrando um frasco de vidro.
Os dois começaram a caminhar juntos. Só que alguns segundos depois, Marisa atrasou o passo. Marcelo notou que ela
queria chamar a sua atenção, então parou e olhou para trás. Lá estava ela, de cabeça baixa e suspirando. Ele sentiu-se culpado
por não ter dado a merecida atenção à poção do amor, mas não estava arrependido. Aproximou-se dela e levantou seu rosto.
- Eu ainda gosto dela. Sinto muito, mas é melhor falar a verdade do que te enganar.
Marisa não disse nada, apenas assentiu com a cabeça e começou a andar de novo. Só que dessa vez fez questão de
desviar o olhar de Marcelo o tempo todo. Aquele momento de constrangimento durou poucos minutos, até Marisa dar falta de
Romeu.
- Ele foi ao carro pegar filme. Disse que o velho roubou os deles
- Será que é seguro ele andar sozinho por aí? – perguntou ela.
- O quê pode acontecer?
- Muitas coisas. Esse lugar é muito estranho.
- Ele sabe se cuidar. Vamos ver mais coisas por aí.
- Tá bom. O que vocês viram quando eu estava na cartomante?
- A vaca e a sereia.
- Sério? A sereia é bonita?
- Não mesmo. E você viu o quê?
- Os duendes e o homem das neves. Pareciam tão reais.
- Eu acho que são.
- Sério? Eu também, mas não falei pra vocês não tirarem onda com a minha cara.
- Não íamos tirar, acredite. Esse lugar parece realmente é mágico.
Os dois pararam em frente à tenda da Medusa. Não falaram nada, só se olharam e trocaram sorrisos, e então entraram.
Lá dentro, um pequeno grupo de oito pessoas estava sentado em cadeiras de plástico em frente a um palco onde havia uma
pequena cortina. Alguns riam e conversavam, enquanto outros aparentavam estar ansiosos pela atração. Porém, todos tinham
algo em comum. Seus olhos brilhavam. Era fantástico fazer parte daquilo.
De repente as luzes se acenderam. E então o velho Mastroiane surgiu ao lado da cortina, com um farto sorriso no
rosto. Atrás dele, quatro anões empurravam um grande carro de mão que transportava alguma coisa coberta com um pano
vermelho. Os anões encostaram a coisa ao lado do palco.
O velho sorriu para o público e aproximou-se dele.
- Venho pessoalmente apresentar-lhes essa atração. Uma das mais formidáveis do meu circo. E também uma das
mais perigosas. Direto da ilha de Kreta: A Medusa – anunciou, falando em um velho microfone.
Então a cortina se abriu e lá estava a própria. Sentada de costas para a platéia e de frente a um espelho gigante, por
onde sua imagem era refletida. Vestia um manto prateado de um brilho intenso. As cobras fincadas em sua cabeça se
remexiam, mordendo o ar.
- Vira ela de frente – gritou alguém da platéia.
Então o velho Mastroiane pegou o microfone de novo.
- Não, só pelo espelho. Acho que todo mundo aqui sabe o que acontece quando se vê a Medusa diretamente de
frente, não é? Para quem não sabe, temos aqui um exemplo.
Os anões descobriram a coisa que haviam encostado ao lado do palco. Uma estátua de um homem com uma máquina
fotográfica, no instante em que fazia a foto. O público caiu na gargalhada, com exceção de Marisa e Marcelo. Eles se
entreolharam assustados. Marisa pôs a mão na boca e Marcelo fez sinal para que ela não gritasse. Os dois esperaram as
pessoas se dispersarem, e assim que a cortina foi fechada, foram falar com o velho.
- Seu amigo é muito abusado – disse ele.
- E agora, o que acontece com ele? – perguntou Marisa.
- O sangue da Medusa, tanto pode matar como trazer alguém de volta. Tenho algumas gotas aqui. – respondeu o
velho, tirando um frasco do bolso.
Molhou um lenço com o líquido do frasco e passou na boca da figura de pedra. Nesse instante, a camada que cobria
Romeu se partiu e caiu no chão. Ele tossiu forte como se estivesse tentando respirar há muito tempo. Só a câmera ainda estava
petrificada.
- Mais cuidado da próxima vez – disse o velho, indo embora em companhia dos anões.
Romeu parou de tossir e agora passava a mão no cabelo para tirar a poeira.
- Sem sermão, tá? Eu sei o que houve, eu estava acordado dentro daquela porra de pedra.
- Quer ir embora? – perguntou Marisa.
- Nem a pau. Tem cerveja aqui? - perguntou rindo.
Sentaram-se numa mesa na pequena lanchonete em frente à tenda do UNICÓRNIO. E pediram três cervejas.
- Celular também não funciona aqui – Disse Marcelo mexendo em seu aparelho.
A cerveja veio em três canecas de aço, servida por uma senhora que vestia um manto negro com um capuz que lhe
cobria a parte de cima do rosto.
Alguns jovens passaram por eles comentando sobre um filhote de dragão. Na mesa ao lado um homem
conversava e fazia gestos tentando imitar alguma coisa que ele dizia ser metade homem e metade cavalo.
- Como um lugar desses consegue ficar escondido? – perguntou Marisa.
- Alguém acreditaria se ouvisse falar de um lugar assim? Acho que é assim que se mantém o segredo – respondeu
Romeu.
- Acho que poucas pessoas ficam sabendo sobre esse circo. Se lembram que o velho disse sobre termos sido
convidados. Talvez ninguém esteja aqui por acaso.
- Mas por que nós? Não vejo nada de especial em mim para estar aqui – disse Marisa.
Romeu arrotou e deu o último gole na cerveja.
- Vamos, ainda tenho uma foto pra fazer.
- O quê? – perguntou Marisa.
Ele mostrou uma pequena máquina digital que trazia no bolso.
- Se o velho ver isso vai ficar puto – advertiu Marcelo.
- Ele não vai ver. Vou tomar cuidado. Vamos escolher uma atração legal.
Chamaram a velha senhora e pediram a conta. Ela começou a remexer os bolsos do manto procurando alguma coisa.
Como não achou, gritou pela outra senhora que atendia a mesa ao lado. Essa tirou um olho do bolso e lhe entregou. A velha
então levantou o capuz, deixando à mostra as órbitas vazias. Encaixou o olho, no buraco direito, e contou quantos canecos de
cerveja havia na mesa.
- Nove reais – informou.
Romeu lhe entregou uma nota de dez.
- Darei o troco em outra moeda – disse. – Não acredite em olhos apaixonados, só em corações – falou, olhando
para Marcelo.
Quando estavam se levantando, um menino veio até a mesa.
- O senhor é Marcelo? – perguntou.
- Sim.
- Recado pro senhor.
O menino lhe entregou um pedaço de papel e saiu correndo. Marcelo abriu e leu em voz alta, a pedido de Romeu.
“Preciso de sua ajuda. Tenda do Manticora.”
- O que é um Manticora? – perguntou Marcelo.
- Não sei, mas deve ser algo legal. É o que eu vou fotografar. Vamos – disse Romeu, certificando-se de que a
câmera estava em seu bolso.
- Calma aí. Vocês não estão se perguntando quem mandou esse bilhete? – indagou Marisa.
- Eu conheço a letra – falou Marcelo, amassando o pedaço de papel.
Os três caminharam pelo corredor procurando pela tenda da qual falava o bilhete. Olhavam atentamente cada placa.
Muitas traziam nomes de atrações que eles nunca tinham ouvido falar. Romeu e Marisa se entreolharam várias vezes, mas
ninguém teve coragem de dirigir alguma palavra a Marcelo.
A tenda do Manticora era uma das maiores, porém parecia não despertar a atenção do público. A única pessoa parada
em sua entrada era o apresentador da atração. Um senhor negro, muito magro e alto, usando um turbante. Ele olhou
desconfiado quando eles chegaram.
- O movimento é meio fraco por essas bandas, não? – ironizou Romeu.
O homem não riu.
- O Manticora escolhe quem vai vê-lo – disse, lhes dando as costas e caminhando para dentro da tenda.
Fez um sinal para que o seguissem. Dentro da tenda mal iluminava por algumas velas, só havia uma cadeira, colocada
em frente a uma grande jaula. Deitado de costas para eles, estava um enorme leão de pêlo vermelho.
- O senhor é o público dessa noite – disse o negro de turbante, olhando para Marcelo.
Em seguida pôs a mão em seu ombro e o acompanhou até a cadeira. O enorme animal se levantou e caminhou em
direção às barras da jaula. Sua calda em nada lembrava a de um leão, era mais grossa e trazia um ferrão de escorpião na ponta.
Tinha um rosto de mulher, no lugar do focinho. A juba o cobria parcialmente, mas à medida que caminhava e o cabelo era
sacudido de um lado para o outro, a face ficou mais visível.
O homem começou a apresentação.
- O Manticora veio da antiga Pérsia...
- Cale a boca, Mustafá. Suma daqui – disse a fera.
- Fera estúpida – gritou o velho, nitidamente furioso, e foi embora.
- Olá – cumprimentou Marcelo.
- Olá, Marcelo – falou a fera, sorrindo.
- Imita o rosto e a letra dela. Por que? – perguntou Marcelo, extremamente calmo.
- Você não gosta?
- Não.
- Pensei que me amasse.
- Você não é ela.
O Manticora abriu um sorriso gigantesco, quase de uma orelha a outra, deixando seus dentes afiados à mostra.
- Eu posso ser. Tire-me daqui e ela será sua de novo. Não é uma troca justa?
- Por que eu?
Marcelo se levantou e caminhou um pouco mais para perto da Jaula. A fera pareceu entender aquilo como um sinal de
amizade e então rolou no chão como um cachorro tentando agradar o dono.
- Você quer muito uma coisa que só eu posso dar – respondeu o Manticora, agora deitado de barriga para cima.
- Todo mundo quer alguma coisa.
- Não como você. Não com sua intensidade. A foto dela ainda está em sua carteira, se não me engano.
- Foi você que ligou para o jornal, não foi? Uma bela cilada – disse Marcelo, tentando fugir do assunto.
- Não uma cilada. Foi só uma forma de trazer você aqui.
Romeu e Marisa observavam tudo em silêncio.
- Como vai trazê-la de volta?
- Isso é problema meu.
- E por que precisa de mim para sair?
- Você pergunta demais – disse, pondo-se novamente de quatro.
- Precisa me dizer por que sou tão importante – falou Marcelo.
- É justo. Veja bem, de todos os que estão aqui você é o único que ama alguém e é amado. Isso faz seu sangue ser,
digamos, precioso.
- Se ela me amasse não teria ido embora.
- Não falo dela. Falo de outra pessoa.
Romeu pegou a câmera em seu bolso. Procurou ângulo o certo, a pequena digital não tinha a mesma eficiência da sua
Nikon que havia se transformado em pedra. As condições de iluminação também não ajudavam. Ele caminhou
silenciosamente um pouco mais para perto da jaula e tentou focar na fera.
- Quer beber meu sangue, então?
- Só um pouco. Algumas gotas serão o bastante.
- E quando terei minha mulher de volta?
- Assim que eu estiver livre dessas grades.
O flash iluminou o local. O Manticora urrou e o rosto humano sumiu, dando lugar a uma face distorcida.
Aproveitando-se do descuido de todos, a fera lançou seu ferrão para fora da jaula e picou Marcelo no braço. Em seguida levou
a calda à boca e tomou o sangue.
O velho apresentador voltou à tenda correndo e foi golpeado no peito por uma das barras de ferro. O Manticora
estava solto e agora tinha dobrado de tamanho. Pulou por cima do corpo caído de Marcelo e correu para a saída da tenda. Uma
gritaria gigantesca começou do lado de fora.
Marcelo tremia e cuspia sangue. Seus olhos reviravam. Marisa sentou-se ao seu lado e começou a chorar.
- Ele está tendo uma convulsão – gritou Romeu.
- É o veneno do Manticora – disse o velho, caído do outro lado da tenda.
- Veneno? – perguntou Marisa.
Ela se lembrou do frasco que a bruxa havia lhe dado. Tirou do bolso e despejou um pouco do líquido azul na boca de
Marcelo. Ele parou de tremer e abriu os olhos. Estava um pouco desorientado. Romeu o ajudou a se levantar e a sentar na
cadeira.
- Onde está o monstro? – perguntou ele.
- Fugiu – respondeu Marisa.
- Temos que ir atrás dele.
- Como assim “temos”? Esse bicho quase te matou – disse Romeu.
- A câmera. Ele não gritou por que se assustou. O flash o machucou.
- Luz. Ele teme a luz – disse o velho, agora já de pé. – Joguem luz nele.
- Quer sua foto ainda? – perguntou Marcelo.
- Lógico – disse Romeu, sorrindo.
O corredor do circo estava uma bagunça. Pessoas corriam de um lado para o outro tentando achar uma saída. Alguns
tentavam inutilmente rasgar a lona. Sacos, pipocas e copos de plásticos estavam espalhados pelo chão. O Manticora estava
encurralado num canto, cercado de anões com espadas e lanças. Mastroiane comandava pequena tropa. Cada tapa da fera
jogava três anões no chão.
Ao comando de Marcelo, Romeu apontou a câmera e começou a tirar fotos, uma atrás da outra. O monstro gritava de
dor e a cada flash disparado diminuía de tamanho. Antes da bateria da máquina acabar, o Manticora já estava do tamanho de
um simples gato e seu urro não passava de um miado. Então um dos anões lançou-lhe uma rede e o prendeu.
- Meus heróis – disse Mastroiane, curiosamente com um sorriso no rosto.
O velho caminhou até eles batendo palmas. Quando chegou perto, começou a sussurrar.
- Tenho que sorrir para acalmar o público. Direi a eles que isso fazia parte do show. Falo com vocês, depois. –
disse, então, sem esconder que estava furioso.
Em seguida, foi até o público que já havia sido reunido por alguns de seus funcionários e começou a falar.
- Eu quero ir embora – disse Marisa.
- Não acredito – gritou Romeu.
Ele estava conferindo as fotos que acabara de tirar do Manticora. Nenhuma havia prestado. Ele mostrou o visor em
branco para seus amigos, com uma cara de decepção.
Atrás deles, o público começava a ir embora do circo, através da saída que acabara de ser aberta na tenda.
- Vocês também. O show acabou – disse o velho Mastroiane, dessa vez sorrindo.
- Desculpe o transtorno – falou Marcelo.
- Não se preocupem. Tudo ficou bem no final.
O pequeno homem acompanhou os três até a saída.
- E agora? – perguntou Marisa
- Daqui a alguns meses, vocês não se lembrarão de ter estado aqui – disse o velho, suspirando. – É assim que esse
lugar sobrevive.
Os três foram caminhando em direção ao estacionamento. Há essa hora, poucas pessoas ainda estavam nos arredores
do circo. O dia já estava amanhecendo. O velho lhes deu um último aceno.
Ninguém comentou nada no caminho de volta pra casa. O primeiro a descer do carro foi Marcelo. Ele parou na
calçada e olhou para os dois.
- Será que o que o velho disse vai acontecer?
- Bem provável – disse Romeu.
- Também acho – respondeu Marisa
Marcelo segurou sua mão.
- Eu te devo uma. Não me deixe esquecer disso.
- Não. Esteja pronto, quando eu for cobrar.
Ele sorriu. O carro se afastou lentamente. Era dia claro agora. Marcelo pensou se veria alguma sereia de novo ou, pelo
menos, se lembraria que já tinha visto uma.

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Um Filho Perfeito por Dimitri Kozma


O sonho de Luciano sempre foi ter um filho, um primogênito, alguém que continuasse sua existência, casara-se cedo,
tinha vinte anos, sua esposa, Julia, tinha pouco menos, moça delicada, não gostava muito de falar, aquietava-se
constantemente. Luciano, por outro lado, era falante, gostava de conversar, tinha uma extensa relação de amigos e conhecidos,
falava de sua vida com todos, e se relacionava bem com qualquer estranho.
Um dia, depois de sair do trabalho, Luciano passa numa loja no Shopping Center próximo a sua casa, escolhe um
brinco de ouro, cravejado com uma pedrinha de diamante, não era rico, mas gostava de presentear sua amada esposa. Paga em
três vezes o bem recém adquirido e ruma para a casa, um sobrado simples, porém arrumadinho num bairro de periferia.
- Ju! Querida! – Grita Luciano, abrindo o portão e rumando em direção a sala.
A esposa estava passando roupa no quintal e não pode ouvir o marido chegar, ouvia um velho rádio de pilha no
último volume, tocava um novo sucesso do grupo “Bundinha Marota”, um desses conjuntos que se formam de um dia para a
noite. Julia dançava enquanto passava uma velha calça jeans puída.
- Ju! Você está em casa? – Luciano brada, entrando na sala e invadindo a cozinha, que estava impecavelmente
arrumada, cheirando a desinfetante e o chão refletia sua imagem.
Julia ouve seu marido chegando, e grita:
- Aqui no fundo, Luciano!
Mais que depressa, Luciano corre até os fundos da casa, dando um longo abraço em Julia, beijando-a
apaixonadamente ao som de “Bundinha Marota”, depois de alguns segundos, Luciano fala:
- Olha o que eu trouxe prá você, Ju! – Diz enquanto mostra a pequena caixinha embrulhada num colorido papel de
presente. Julia pega euforicamente e exclama:
- Oh! Amor! Você sempre me dando presentes, fico até sem graça.
Enquanto Julia abre o pacotinho, Luciano diz:
- Esqueceu que dia é hoje, dona Julia? Hoje faz dois anos que estamos juntos. Dois anos! – Exclama, alegremente.
Julia pára por um instante de desembrulhar o presente e olha para Luciano.
- Dois anos? Hoje? Amor... Eu esqueci, você acredita? Eu esqueci!
- Não se preocupa, Julia, isso é normal, sei como anda sua cabeça, sei como é importante prá gente...
Antes que Luciano termine, Julia diz:
- ... Ter um filho, né? Eu sei, Luciano, prá nossa felicidade ser completa, só falta termos um filho, mas...
Nesse instante, antes mesmo de abrir o presente, lágrimas começam a brotar do rosto de Julia, Luciano percebe que
não fora feliz em seu comentário, e tenta remediar:
- Ju! Calma, querida! Eu sei que a gente está tentando, sei que não é culpa de ninguém... Olha prá mim, gatinha...
Ela permanece com os olhos voltados ao chão, Luciano delicadamente coloca o dedo indicador sob seu queixo e força
seu olhar em direção a ele, continua:
- Ju! A gente vai conseguir, tá entendendo? A gente vai conseguir ter esse filho, e vai ser a criança mais linda da face
da Terra, viu?
Enxugando as lágrimas que teimam em rolar, Julia diz:
- Eu sei como esse filho é importante prá você, amor...
Luciano interrompe:
- Prá mim só, não, Ju! Esse filho é importante prá nós dois, não é?
- Sim... claro! Prá nós dois. – desvia o olhar novamente para o chão.
- Agora, Ju, abre seu presente, abre. Tenho certeza de que vai gostar.
Ela volta novamente sua atenção a caixinha semi aberta, e termina de rasgar o papel, abre e se surpreende, não é nada
muito sofisticado, mas é delicado o suficiente para fazê-la abrir um sorriso e dizer:
- Amor! É lindo! Adorei!
Pula nos braços de Luciano, agarrando-o pelo pescoço e dando um forte abraço. Ali permanecem, por um tempo, ao
som de mais um sucesso popular tocando no rádio da lavanderia.

Um mês depois, estava Luciano em seu trabalho, um escritório de contabilidade, analisando alguns documentos,
quando o telefone toca:
- Medeiros e associados bom dia! – diz formalmente Luciano.
- Alô! Querido! Sou eu!
- Ju! Oi amor!
- Você está muito ocupado?
- Não, só estou conferindo uns documentos, nada muito importante... Por que?
- Amor... Acabo de voltar do médico... Acho que estou grávida!
Luciano emudece por alguns segundos e então solta um grito eufórico, seu colega de trabalho, Paulinho, dá um pulo
de susto na cadeira ao lado. Uma repentina alegria invade o âmago de Luciano que diz:
- Gravida! Grávida! Finalmente!
O resto do dia, Luciano não pode se concentrar no trabalho, saiu mais cedo e rumou para casa. Lá chegando, já vai
logo abraçando a esposa gestante:
- Querida! Eu sabia! Sabia que esse dia não iria demorar! Sabia!
As lágrimas rolam de alegria do rosto transfigurado, ele soluça como uma criança, transbordando de tanta felicidade:
“Esse é o dia mais feliz de minha vida. Você me fez o homem mais feliz do mundo!” – Grita sem limites, e ainda diz, com uma
euforia quase que doentia:
- Quer saber do mais? Vamos já montando o quarto do meu filho, ele vai ser a criança mais mimada da face da Terra!
Vou sair agora mesmo e comprar alguns brinquedos, vou mandar o marceneiro vir amanhã mesmo prá ir montando o
quartinho dele, a gente pode usar aquele quarto ao lado do nosso, aquele que está a escrivaninha, sabe? Acho que seria o
melhor, vou mandar pintar as paredes e...
Julia interrompe, com um sorriso no rosto, diz:
- Luciano, você não acha que está sendo um pouquinho apressado? Afinal, estou grávida de um mês e meio, ainda
nem sabemos se é menino ou menina.
Para e reflete:
- Tem razão, Ju! Então vou pintar o quarto de amarelo, aí não tem problema, né?
Julia solta um lindo sorriso e abraça Luciano, dando-lhe um beijo.

Certo dia, dois meses depois, Julia atende a uma ligação do médico, o doutor Carvalho, um velho conhecido do pai de
Julia, e que estava assistindo a gestante em todo seu período pré-natal. Doutor Carvalho já tinha anos de experiência, sabia
tudo de partos, tinha colocado no mundo mais de duas mil crianças. Era um velho simpático, cabelos brancos, uma grande
barriga e uma conversa simples e divertida, mas neste dia, ele fala friamente:
- Julia?
Ela responde efusivamente, alegre:
- Doutor Carvalho? Oi! Tudo bem? Como vai?
O velho médico diz:
- Bem. Julia, seu marido está aí? Preciso falar com ele.
- Está sim, espera um instante... – Coloca a mão no bocal do fone e chama Luciano, que está fazendo a barba
preparando-se para ir trabalhar: “Luciano, é o doutor Carvalho, ele quer falar com você.”
- Comigo? – pára de fazer a barba, enxuga a espuma numa toalha de rosto e vai atender ao telefone – “Doutor
Carvalho? Que prazer! Como vai o senhor?”
Carvalho responde com uma certa tensão:
- Eu vou bem. Luciano, acabei de receber o resultado dos exames que pedi para Julia fazer...
Luciano começa a ficar apreensivo:
- Ótimo, e então, vai ser menino ou menina?
- Luciano, acho que temos um probleminha... Você poderia vir até aqui hoje?
Ele arregala os olhos e diz:
- Probleminha? Como assim doutor? Não me deixe nessa apreensão!
Carvalho começa a dizer:
- É muito sério, Luciano...
Julia não pode escutar o que o doutor Carvalho falava, apenas pode ver o rosto de Luciano se transformando,
tornando-se pesado, grave. Ele não disse ao menos adeus ao doutor, vociferou alguma coisa e bateu o telefone. Depois de
desligar, Luciano fica por alguns segundos olhando a parede vazia, como se o mundo despencasse em suas costas. Julia olha
para ele e diz:
- Amor... O que aconteceu? Me diga, o que aconteceu? Fala!
Ele não respondia, apenas fitava a parede, olhava a porta, que dava para ver o quarto ao lado, com as paredes pintadas
de amarelo, um abajur colorido iluminando a penumbra, projetando na parede figuras infantis. Divagava. Julia então chacoalha
o corpo de Luciano, gritando:
- Fala! Fala! Luciano! Fala o que aconteceu! – Ela já parecia transtornada, já parecia antever alguma coisa.
Luciano vira-se para ela, com o olhar meio vago, engasgando entre as palavras, diz:
- A criança...
Julia olha fixamente para ele, esperando a conclusão da frase, mas a conclusão não vem, Luciano começa a chorar
copiosamente. Julia abraça-o, ele coloca as mãos na face, esfregando veementemente o rosto semi-barbado.
Julia, apesar da apreensão, da tensão, não consegue falar nada, espera que Luciano pare um pouco de chorar. Ele tenta
enxugar as lágrimas, que ainda escorrem involuntariamente, acalma-se um pouco e diz:
- A criança... vai nascer deformada...
Julia toma a notícia como um choque, ficou sem reação por alguns segundos e em seguida cai no chão, desfalecida.
Luciano a coloca na cama e liga novamente para o doutor. Ele receita um calmante e muito descanso para ambos.

No dia seguinte, mesmo dopado com meia dúzia de calmantes, Luciano deixa em casa Julia, mergulhada num sono
profundo diante da quantidade de medicamentos que tomou e foi procurar o doutor Carvalho, que contou detalhes sobre o fato:
- Bem, o caso é mais sério do que eu supunha. A criança vai nascer com paralisia cerebral, provavelmente não
sobreviverá ao parto, mas se sobreviver, terá uma vida vegetativa para sempre.
Luciano ainda tenta encontrar solução:
- Mas doutor, não tem uma maneira de resolver-mos esse problema? Nada?
- Infelizmente não, se vocês optarem por ter essa criança, terão que carregar este fardo para o resto da vida.
- Optar por ter? Como assim?
- A lei é bem clara, se vocês resolverem tirar essa criança, é perfeitamente legal, não existiria empecilho algum, vocês
teriam livre arbítrio para escolher.
Luciano foi enfático e responde sem titubear:
- Já está decidido, doutor! Meu sonho sempre foi ter um filho e agora que isso está perto de acontecer, não vou jamais
abandonar esse sonho. Nós vamos ter essa criança!
E quando saía do consultório do doutor Carvalho, já na porta, Luciano fez uma recomendação:
- Doutor, queria lhe pedir um favor...
- Pode dizer.
Vira-se e quase sussurra no ouvido do velho médico:
- Eu queria que não dissesse nada dessa história de aborto para Julia... O senhor entende, não é, doutor?
O doutor ergue a voz e diz em tom revoltado:
- Mas isso é um absurdo, Luciano! Sua mulher também tem o direito de decidir sobre o futuro dessa criança!
- Eu sei, eu sei, mas deixe que eu falo com ela, tá? Deixa comigo que eu explico tudo. Só me promete isso, doutor.
O médico, olhando para o relógio, viu que a hora do almoço já se aproximava, para encurtar conversa, concordou
com Luciano:
- Tá certo! Tá certo!

Os dias passam, e nenhum dos dois tocou no assunto com o outro, finalmente, num dia, enquanto tomavam café da
manhã na mesinha da cozinha, Julia, enquanto comia uma torrada com manteiga, pergunta:
- Luciano, nosso filho... – pausa, pensa um pouco e toma coragem: - O que o doutor disse? Como ele vai ser?
Luciano, que não estava se sentindo bem, tinha palpitações, falta de ar, tomava um café preto amargo, finalmente relata:
- Julia, o doutor disse que a criança tem paralisia cerebral. Se sobreviver ao parto vai ficar como um vegetal para o
resto da vida.
Ela pára de comer e seus olhos ficam marejados:
- Mas, não podemos tirar? Nós poderíamos tentar de novo, poderíamos ter um filho perfeito...
Luciano interrompe:
- Hei! Hei! Esqueceu que isso é ilegal no nosso país? E além do mais, essa criança que você carrega é meu filho
também, não é?
Ela fecha os olhos e esfrega a testa:
- É! Mas eu pensei... Se a gente fosse numa clínica clandestina...
Ele interrompe:
- Nem pense numa coisa dessas! Escuta, Julia, é um pouco de mim o que está dentro de você, ele vai nos dar muita
alegria, vamos amá-lo, mesmo com todos esses problemas, ele é nosso filhinho.
As lágrimas brotam sem limites dos olhos de Julia. Ela não consegue mais falar, apenas chora.

Julia leva sua gestação com uma melancolia absurda, não se alimenta direito, sai de casa apenas quando Luciano a
leva ao médico, diz apenas o essencial, seu olhar reflete uma amargura nunca vista, uma melancolia doentia e patética. Quando
fica sozinha em casa, permanece no quarto do bebê, olhando para aqueles brinquedos e imaginando, percebe que seu filho
nunca poderá brincar com eles, nunca poderá falar, nunca poderá ter amigos, que viverá sua vida enclausurado naquele quarto,
sozinho, jamais poderá viver.
Ela acaricia sua barriga, lembrando-se das vezes em que vira crianças com paralisia cerebral aparecendo naqueles
programas sensacionalistas da televisão, lembrando-se de sua reação de asco que tivera ao ver certa vez uma criança com
problemas se contorcendo diante das câmeras.
Pensava: “Será isso castigo? Castigo de Deus?”, era católica, não exercia, mas recebera uma educação católica desde
pequena de seus pais, quando era menor, ia a igreja todos os domingos, acreditava piamente em Deus, e acreditava que aquilo
que caíra sobre sua cabeça era castigo, por tudo que já havia feito de ruim na vida. Não que ela tenho feito o mal para alguém,
mas levava em sua lembrança marcas de infância de que era uma menina má. E isso ela carregara para sua vida adulta.
Os meses seguintes trouxeram cada vez mais melancolia, Julia já não podia falar, vivia em devaneios. Para ela a vida
havia acabado ali, não existiria mais perspectivas de um futuro, teria que viver em função daquele ser que viria acabar com a
paz. Imaginava que em seu ventre estava sendo gerado um demônio, algo que viria apenas para destruir.

Quatro meses depois, Luciano trabalhava quando recebeu um telefonema, uma voz feminina:
- Gostaria de falar com o Luciano... É urgente!
- É ele! Pois não?
- Senhor Luciano, aqui é do hospital Sagrado Coração, sua esposa sofreu um acidente, está internada aqui, por favor,
venha para cá urgente.
Luciano se desespera:
- Acidente? O que aconteceu? Como ela está? E meu filho?
- Infelizmente não posso dar informações pelo telefone. Venha urgente para cá.
Sem hesitar, Luciano sai correndo, sem dar satisfações para ninguém, chega ao hospital e vai direto ao balcão de
informações:
- Por favor, Julia Amorin, ela deve estar internada aqui...
A mulher do balcão, uma velha corpulenta, diz: “Só um momentinho” e liga para um ramal no telefone. Luciano olha
ao redor por um instante e finalmente ela diz:
- Ela está na Seção B, setor 47.
Nem agradece e já sai em disparada pelos corredores abarrotados de gente. Finalmente chega ao setor, começa a gritar
e interpelar todos os médicos: “Julia Amorin! Por favor, onde está Julia Amorin? Por favor!”, um jovem médico que passava
diz:
- Você deve ser Luciano?
Ele vira-se e diz ansioso:
- Sim! Sou eu, Onde está minha mulher?
- Venha comigo.
Enquanto anda por um enorme corredor, o médico vai lhe explicando:
- Senhor Luciano. Sua esposa sofreu um acidente muito grave, parece que ela se jogou na frente de um carro, pessoas
que passavam por lá disseram que ela estava enlouquecida, saiu pela rua gritando e antes mesmo que alguém pudesse evitar,
ela já tinha sido pega por um carro que passava em alta velocidade pela avenida.
Luciano fica atônito:
- Mas... Não pode ser... Ela está grávida de sete meses e meio... meu filho... eu... Julia... meu...
O médico percebe a visível perda de razão de Luciano, e diz:
- Ela está muito mal, parece até que estava drogada, mas não posso afirmar... Parece que partiu a espinha, teve lesões
cerebrais, houve perda de massa encefálica, não sabemos ainda se está com hemorragia interna, nesse momento ela está sendo
operada, também não sabemos sobre o estado de seu filho... Encontramos o telefone de seu trabalho na bolsa dela e
resolvemos chamá-lo.
Finalmente chega na porta da sala de operações, o médico diz:
- Bem, senhor, agora é só aguardar.
Ele sai e deixa Luciano ali, sentindo sua alma se esvaindo aos poucos, vendo a tênue linha da vida se partindo. Senta-
se num sofá e aguarda.
Não demora muito e finalmente surge um outro médico, mais velho, com um ar mais austero:
- Você deve ser Luciano, não?
Ele dá um pulo do sofá:
- Sim, sou eu!
Sem entremeios ele dá a notícia:
- Seu filho faleceu, senhor.
Ele esbugalha os olhos e sente um aperto no coração, uma palpitação nunca antes experimentada surgiu em seu
coração. Engole seco antes de perguntar:
- E Julia?
Enquanto anota alguma coisa numa prancheta que segura, o médico diz:
- Ela sobreviveu por um milagre, um acidente de uma gravidade dessas é raro a pessoa escapar, mas infelizmente ela
ficará inválida para o resto da vida.
Luciano tem um ataque de nervos, ajoelha-se e chora aos pés do médico, que não esboça nenhuma reação emotiva.

O que aconteceu depois estarreceu os familiares de Luciano, durante os anos que se seguiram, ele ficou feliz em
assumir os deveres de cuidar de sua esposa, ela permanecia inerte, no berço que serviria para o bebê, seu corpo era
encarquilhado, seus bracinhos eram duas varetinhas que se quebrariam a qualquer esforço, seu rosto, outrora cheio de vida,
agora era deformado, perdera os dentes, não podia mais falar devido a complicações no cérebro, não tinha mais noção de nada,
era como um objeto que jazia sobre aquele berço sujo. Os brinquedos do quarto que estavam empoeirados, muitos deles já
velhos demais, se desfaziam ao tocar, as paredes pintadas de amarelo escondia as marcas de sujeira que pairavam no lugar, o
abajur que projetava formas infantis tivera que ser apagado, Julia sentia medo de ver aquelas imagens projetadas na parede e
no teto de noite, e se debatia como uma histérica.
Luciano largou seu emprego, tinha que se dedicar tempo integral para aquela pessoa que estava em sua casa, aquele
hóspede especial precisava de toda sua atenção.

Certo dia, o ex-companheiro de trabalho liga para ele tentando convencê-lo a voltar ao emprego:
- Alô! Luciano!
Foi lacônico:
- Alô!
- Oi! Aqui é o Paulinho. Cara, você não imagina a falta que faz no escritório, o chefe me pediu prá te ligar e te
convencer a voltar a trabalhar.
Luciano, com a mais pura languidez, apenas diz:
- Não posso. Tenho que cuidar de meu filho!

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O Acidente por Emanuel R. Marques


O álcool tomava já conta dos seus espíritos adolescentes quando ouviram alguém bater descontroladamente nas teclas
do piano que ficava na sala do primeiro andar. Inicialmente, o silêncio reinou entre os três rapazes e as duas raparigas que
ocupavam a casa. Um dos rapazes, quebrando o gelo provocado pela situação, perguntou então à dona da casa:
- Mas, afinal, não estamos cá sozinhos?
A rapariga, anfitriã, amedrontada e sentindo receio nos rostos dos restantes, afirmou:
- Sim, estamos. Os meus pais só chegam amanhã.
- Eu bem disse que não devíamos fazer este tipo de jogos estranhos. Os espíritos devem ficar onde pertencem. – disse
o rapaz mais velho do grupo.
- Pode ser um ladrão? – inquiriu a outra rapariga.
Todos concordaram que deveria ser a dona da casa a subir ao andar de cima e verificar a origem do medo. Assim
sucedeu, e uma silenciosa impaciência aguardava a chegada de notícias mais tranquilizantes.
Subitamente, novas notas dissonantes foram marteladas no piano e ouviram a voz da dona da casa gritar “Lúcifer!”.
Quase em simultâneo, ouviu-se um enorme estrondo seguido por um tenebroso silêncio. O pânico, o medo metafísico e
esotérico turvavam-lhes as mentes. Quando subiram ao andar de cima, em busca da amiga, encontraram o corpo desfalecido da
jovem, sob uma inundação de sangue que lhe jorrava da cabeça e cobria o teclado do piano.
Combinaram nunca mais brincar com espíritos.
Ninguém lhes dissera que Lúcifer era o gato do vizinho. Ninguém lhes dissera que a amiga escorregara e batera com a
cabeça. Eles não acreditavam em acidentes.
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Noite de Halloween por Emanuel R. Marques


Escolheram passar a noite de Halloween na aldeia, pois queriam fugir a toda a barafunda que a cidade vivia naquele
dia. Era um casal jovem, com um gosto particular por ambientes sombrios e sinistros.
Ao passarem junto do cemitério da aldeia decidiram que fariam lá um piquenique noturno, e que lugar mais indicado
para celebrar a mística noite. O coveiro, ao perceber a conversa dos jovens, interrompeu-os e advertiu para o perigo dos
zumbis, pois eram habituais ataques daqueles seres na região. A expressão crente e sincera do homem não conseguiu demover
a vontade do casal, que ouviu atentamente, mas não deu credibilidade alguma às superstições ignorantes dos aldeões.
Como combinado, o casal levou o seu manjar, obviamente acompanhado por uma garrafa de aveludado vinho, e deu
início ao festim no cemitério. Por volta da meia-noite, corpos em decomposição começaram a abandonar os seus sepulcros e,
ao perceberem a presença de carne fresca, dirigiram-se aos dois jovens. Estes, apesar de inicialmente assustados, começaram a
rir, pois viram o coveiro a escavar uma cova, não muito longe dali, indiferente à presença dos zumbis.
Quando perceberam a gravidade da situação era tarde demais. Vários seres rasgavam já pedaços ensanguentados dos
tenros corpos. O coveiro, sem olhar e concentrado no seu trabalho, retorquia entre dentes:
- Eu bem os avisei.

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“Walpurgis rites – Deadfucked to create. Walpurgis rites – Circulos Obscurus” (Belphegor, Áustria)

ARTIGOS E RESENHAS DE CINEMA FANTÁSTICO

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA


por Renato Rosatti

“O filme que verão é baseado na tragédia que assolou um grupo de cinco jovens, especialmente Sally Hardesty e
seu irmão inválido Franklin. Foi mais trágico devido ao fato de serem jovens. Mas, se eles tivessem vivido muito,
muito longas vidas, jamais teriam esperado ou desejado ter visto a loucura e o macabro que viram naquele dia.
Para eles, um passeio de carro num verão à tarde tornou-se um pesadelo. Os acontecimentos daquele dia
guiaram o descobrimento de um dos mais bizarros crimes nos anais da história norte americana, O Massacre da
Serra Elétrica”.
Com essa introdução narrada por John Larroquette, alertando o espectador dos terríveis eventos que viriam a seguir,
tem início um dos filmes mais insanos da história do cinema de horror. Não poderia ser melhor ou mais apropriada a definição
de perturbador para “O Massacre da Serra Elétrica”, filme de baixo orçamento dirigido de forma independente em 16 mm por
Tobe Hooper em 1974. Principalmente por evidenciar vários motivos esclarecedores para a escolha de tal adjetivo. Basta citar
algumas cenas grotescas como um psicopata demente pendurar uma jovem viva e aterrorizada num gancho como se fosse um
animal a ser abatido num matadouro; ou a violência crua do assassinato de um jovem através do golpe de uma pesada mareta
em sua cabeça, com seu corpo se debatendo em horríveis espasmos do sistema nervoso, seguindo o mesmo método brutal com
que se abate um boi ou porco; ou ainda o momento em que um outro jovem paraplégico em uma cadeira de rodas é
surpreendido pelo maníaco e retalhado através da ação devastadora, sangrenta e altamente dolorosa de uma moto-serra.
É verdade que cenas como essas, ou muito piores ainda, foram exploradas à exaustão em uma infinidade de filmes
produzidos posteriormente, tendo o auxílio do crescente desenvolvimento dos efeitos especiais que conseguiram simular
situações muito próximas da realidade, obtendo-se verdadeiros espetáculos “splatter” de carnificinas. Porém, duas questões
devem ser expostas e analisadas. Primeiro, é o fato de “O Massacre da Serra Elétrica” ter sido produzido no distante ano de
1974, numa época com menos violência no cinema (tanto que o filme chocou fortemente o público e sua exibição permaneceu
proibida por vários anos em muitos países, inclusive o Brasil). Segundo, porque o verdadeiro horror é justamente aquele onde
não há o exagero de se mostrar sangue e vísceras explicitamente, funcionando muito melhor em situações sugeridas,
intensificando o medo no espectador. E o filme mostra uma violência grotesca sem no entanto apelar para a exibição de sangue
em excesso, investindo mais na incrível insanidade de uma família depravada canibal, desprovida de humanidade.
A história é sobre um grupo de cinco jovens, sendo dois casais formados por Sally Hardesty (Marilyn Burns) e seu
namorado Jerry (Allen Danziger), e Pam (Teri McMinn) e Kirk (William Vail), além do irmão inválido de Sally, Franklin
Hardesty (Paul A. Partain). Eles decidem fazer uma visita à antiga casa, agora abandonada, onde Sally e Franklin viveram a
infância, numa pequena cidade do interior do Texas. E também eles queriam verificar no cemitério local se não havia violação
do túmulo de seus ancestrais, pois haviam recebido notícias sobre saqueamentos e profanações das tumbas. Eles embarcam
numa van e percorrem uma estrada onde dão carona a um misterioso homem, “Hitchhiker” (Edwin Neal), que mostra-se
perigoso e imprevisível. Porém, o pior ainda estava por vir quando são surpreendidos e atacados por uma família sádica de
necrófilos formada, além de “Hitchhiker” (Caronista), também por seus dois irmãos, “Old Man” (Jim Siedow), um gourmet
lunático e “Leatherface” ou “Rosto de Couro” (Gunnar Hansen), um gigante deficiente mental que usa uma máscara formada
por retalhos de pele humana retirados de suas vítimas. Eles ainda mantém vivo seu avô “Grandfather” (John Duggan), um
velho meio zumbi e inofensivo, que é alimentado com sangue humano.

O diretor Tobe Hooper teve seu nome eternamente associado ao filme, que aliás, foi seu primeiro trabalho. Nascido
em 1943 em Austin, Texas, sua carreira a partir de então foi marcada pela instabilidade, alternando entre ótimos e interessantes
e também medíocres e descartáveis filmes. Seu nome é muito lembrado por dirigir o divertido “Poltergeist, o Fenômeno” em
1982, escrito e produzido pelo popular Steven Spielberg, e outros filmes importantes em sua filmografia de destaque são
“Eaten Alive” (1976), “Salem’s Lot” (1979), “Pague Para Entrar, Reze Para Sair” (The Funhouse, 1981) e “Força Sinistra”
(Lifeforce, 1985). E o mais incrível é que Hooper dirigiu “O Massacre da Serra Elétrica 2” em 1986 e conseguiu “destruir”
toda a essência e atmosfera de um horror perturbador que ele próprio criou e que envolveu o filme de 1974, fazendo agora
uma mistura de horror explícito, sangue em profusão e vísceras expostas, com elementos de comédia num resultado
insatisfatório, onde prevalece apenas um bom trabalho com os efeitos especiais. Atualmente, o diretor está trabalhando em
dois filmes seguidos da desgastada franquia “A Volta dos Mortos-Vivos”, com as partes 4 (“Rave From the Grave”) e 5
(“Battalion”).
Com roteiro escrito pela dupla Tobe Hooper e Kim Henkel, “O Massacre da Serra Elétrica” teve inspiração no famoso
“serial killer” Ed Gein para criar a família canibal e principalmente o psicopata demente “Leatherface”. Gein foi um assassino
que aterrorizou a pequena cidade de Plainfield, Winsconsin, durante a década de 1950, matando várias pessoas brutalmente e
utilizando suas peles e ossos para uma coleção particular de objetos bizarros. Outros filmes também utilizaram o caso do
conhecido psicopata para compor parte de seus argumentos como o clássico “Psicose” (1960), dirigido pelo mestre do
suspense Alfred Hitchcock, além de “Deranged” (1974), e o moderno “O Silêncio dos Inocentes” (1991), de Jonathan Demme
e com Anthony Hopkins. Ainda teve um outro filme baseado inteiramente na vida do assassino intitulado “Ed Gein”, lançado
em 2001.
O elenco é formado por nomes desconhecidos e a maioria não teve continuidade notória em suas carreiras, acabando
por ficarem eternizados no gênero por seus envolvimentos com o “O Massacre da Serra Elétrica”. O grandalhão ator Gunnar
Hansen nasceu em Reykjavik, Islândia, em 1956, e ficou para sempre como o primeiro e original “Leatherface”. Marilyn
Burns também nasceu em 1956, só que é americana de Cleveland, Ohio. Chamada por Hooper, participou também de “Eaten
Alive” e da produção para a TV “Helter Skelter” (1976), baseado na vida do assassino Charles Manson. Ela teve também uma
pequena ponta como uma homenagem em “O Retorno do Massacre da Serra Elétrica”, quarta parte da série, filmada em 1994.
Curiosamente, tanto Marilyn Burns quanto seu colega de elenco Edwin Neal (que interpretou “Hitchhiker”) estiveram também
juntos num filme obscuro lançado em 1985 chamado “Future-Kill”, dirigido por Ronald W. Moore, e cuja história mostra os
confrontos mortais entre grupos rivais de rebeldes numa cidade futurista tomada pela anarquia.

Comparado com dezenas de outras boas produções realizadas posteriormente, o filme de Tobe Hooper realmente tem
um ritmo mais lento, com menos ação e principalmente pouca exibição gratuita de “sangue”. Mas “O Massacre da Serra
Elétrica” é o filme que introduziu no cinema o psicopata “Leatherface”, o qual está figurando agora na galeria dos imortais
monstros modernos ao lado de Michael Myers (“Halloween”), Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”) e Freddy Krueger (“A Hora
do Pesadelo”), e o filme inegavelmente possui cenas perturbadoras, de uma violência crua e brutal.
Vários são os destaques dessa preciosidade do cinema fantástico. A abertura com uma seqüência de flashes macabros
destacando pedaços de cadáveres decompostos e profanados num cemitério. O desfecho com “Leatherface” furioso dançando
como um verdadeiro maníaco, fazendo acrobacias com sua feroz moto-serra rasgando o ar em movimentos bruscos. E
principalmente a perseguição insana onde “Leatherface” corre à noite numa floresta atrás da jovem Sally Hardesty com sua
moto-serra zunindo e sedento para destroçar o corpo da mulher. A cena demora tanto tempo, em vários intermináveis minutos,
que praticamente nos obriga a torcer para que ela seja logo capturada e termine assim a agonia e tortura no espectador de tanta
correria e gritos alucinados de puro desespero. É totalmente compreensível que a personagem corra por sua vida e grite de
forma selvagem, pois afinal ela está sendo perseguida por um demente que pretende esquartejar seu corpo e fazê-la sentir a
terrível dor de uma serra cortando sua carne e músculos, jorrando seu sangue em profusão para todos os lados, numa morte
torturante e coberta de um grau tão elevado de violência que torna-se difícil imaginar a intensidade da dor.
“O Massacre da Serra Elétrica” foi lançado em DVD no Brasil com preço popular e distribuição em banca de jornais,
encartado na revista “DVD News” número 38 (Abril de 2003), da “Editora NBO”, e é interessante notar que a revista não fez
nenhum comentário sobre o filme, sem publicar algum artigo ou qualquer citação mínima, mostrando um evidente descaso
com o filme. O material extra do DVD inclui “cenas não aproveitadas”, “trailer de cinema”, “erros de filmagens”, “notas de
produção”, “galerias de fotos”, “posters promocionais”, “sinopse” e “biografias do elenco”, porém tudo muito superficial e
sem grandes atrativos.
Em vídeo VHS, o filme original foi lançado duas vezes no Brasil, a primeira pela “Europa Home Vídeo” e depois
pela “Reserva Especial Vídeo”, e ambas as versões são difíceis de se encontrar nas locadoras, já estando fora de catálogo.
Passou-se doze anos e esse grande clássico do cinema de horror inevitavelmente deu origem a uma franquia composta
por vários filmes descartáveis e desnecessários, imensamente inferiores ao precursor da série. Foram mais três continuações,
“O Massacre da Serra Elétrica 2” (1986), também de Tobe Hooper, “Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3” (1990), de
Jeff Burr, e “O Retorno do Massacre da Serra Elétrica” (1994), de Kim Henkel, um dos roteiristas do filme original. Todos os
três foram lançados em vídeo VHS no Brasil e já estão fora de catálogo.
Em 1988 foi produzido um filme bizarro lançado aqui no Brasil em vídeo VHS pela “AB Vídeo” (fora de catálogo)
com o nome de “O Massacre da Serra Elétrica 3” (Hollywood Chainsaw Hookers), de Fred Olen Ray, com o ator que
interpretou o “Leatherface” no original, Gunnar Hansen. Porém, o filme nada tem a ver com o clássico de Hooper e teve o
título nacional escolhido de forma totalmente equivocada, confundindo os fãs brasileiros e demonstrando o péssimo tratamento
que os filmes de horror recebem ao chegar no país, numa incompetência que incomoda.
E como os executivos da indústria de cinema americano, incluindo os roteiristas de plantão, estão com uma incrível
escassez de idéias (ou melhor, uma vergonhosa falta de vontade de criação), no final de 2003 foi lançada nos Estados Unidos
uma refilmagem do filme de 1974 (no Brasil, somente chegou aos nossos cinemas no final de Fevereiro de 2005, e que teve
uma continuação lançada em 2006 diretamente no mercado de vídeo, sendo na verdade uma pré-seqüência, apresentando
eventos anteriores, dirigida por Jonathan Liebesman). A nova versão de “O Massacre da Serra Elétrica” tem direção de
Marcus Nispel, roteiro de Scott Kosar e traz no elenco a bela Jessica Biel como a mocinha que grita histericamente, e Andrew
Bryniarski no papel do psicopata “Leatherface” (cujo personagem, depois de Gunnar Hansen, passou a ser maltratado por Bill
Johnson, R. A. Mihailoff e Robert Jacks nos filmes seguintes).
A franquia em torno de “O Massacre da Serra Elétrica” ainda inclui um vídeo game lançado em 1983 e dois
documentários produzidos diretamente para o vídeo. “The Texas Chainsaw Massacre: A Family Portrait” (1988) foi dirigido e
escrito por Brad Shellady, trazendo depoimentos dos atores do filme original, entre eles Gunnar Hansen, Edwin Neal, John
Duggan e Jim Siedow, além da presença do famoso colecionador Forrest J. Ackerman, editor da revista “Famous Monsters of
Filmland”. E o documentário inglês com cenas de bastidores “The Texas Chainsaw Massacre: The Shocking Truth” (2000),
com direção e roteiro de David Gregory, narração de Matthew Bell e com a participação de vários nomes envolvidos com os
filmes como Tobe Hooper, Kim Henkel, Marilyn Burns, Gunnar Hansen, Paul A. Partain e Edwin Neal.
Algumas informações interessantes e que servem como curiosidade em torno de “O Massacre da Serra Elétrica” são
por exemplo o valor do orçamento do filme ser de apenas US$ 140 mil (e atualmente essa cifra é inexpressiva, com os valores
girando em torno de dezenas de milhões de dólares). O mais incrível é ainda o faturamento obtido nas bilheterias, algo como
US$ 40 milhões, ou seja, quase trezentas vezes o valor investido, comprovando seu inegável sucesso e alta lucratividade. As
filmagens ocorreram em “Austin”, uma pequena cidade do Texas onde nasceu o diretor Tobe Hooper. A atriz Marilyn Burns
foi uma das primeiras e mais autênticas “scream queen” do cinema, gritando histericamente a maior parte do tempo, fugindo
da lâmina cortante de uma moto-serra. O cineasta Hooper foi muito convincente ao filmar as expressões faciais do mais puro
horror da personagem Sally, focalizando um perturbador enquadramento de seus olhos desesperados e de sua boca
escancarada gritando por socorro. Esse recurso foi muito utilizado em vários filmes seguintes, sempre obtendo bons
resultados. O psicopata “Leatherface” aparece pela primeira vez no filme apenas após 35 minutos, e imediatamente ele coloca
sua marreta e moto-serra em ação, protagonizando um tormento que seguiria até o fim do filme. Imaginem se ele aparece
desde o início... No primeiro filme da franquia ele é claramente um retardado mental, que parece agir por impulso e
descontrole matando sem plena consciência do que está fazendo, quase como uma vítima do próprio ambiente depravado em
que vive. Porém, nos filmes seguintes o psicopata mudou suas características tornando-se um “serial killer” consciente e que
planeja suas ações assassinas. O personagem “Old Man” da família canibal, recebeu o nome de “Cook” (Cozinheiro) na
continuação de 1986, e foi interpretado pelo mesmo ator Jim Siedow nos dois filmes. Aliás, nessa mesma sequência a família
de insanos recebeu mais um membro, “Chop Top” (Bill Moseley), o irmão gêmeo de “Hitchhiker” que estava num sanatório, e
os efeitos de maquiagem ficaram a cargo do especialista Tom Savini, largamente conhecido por seus trabalhos em filmes como
“Sexta-Feira 13” (1980) e “Dia dos Mortos” (1985).
Um último detalhe que merece registro é um grande equívoco cometido pelos responsáveis em nomear os filmes que
chegam ao Brasil. O correto e ideal seria traduzir o original para algo como “O Massacre da Moto-Serra no Texas”, pois o
instrumento utilizado por “Leatherface” para retalhar suas vítimas parece ser uma moto-serra movida por combustível líquido
e não elétrica como sugere o título nacional escolhido. E curiosamente o nome original estava previsto para ser “Leatherface”
ou “Headcheese”, e somente perto do lançamento do filme é que foi escolhido o título definitivo de “The Texas Chainsaw
Massacre”. Quando eu assisti pela primeira vez em 1987, através daquelas chamadas fitas de vídeo “alternativas” que
infestavam as locadoras ainda carentes de lançamentos oficiais no mercado brasileiro, o nome que foi dado ao filme foi
“Chacina e Massacre no Texas”.
Enfim, um filme indispensável que costuma freqüentar qualquer lista de “TOP 10” promovida por especialistas e fãs
do cinema de horror, e certamente o filme se destaca na minha lista pessoal de preferências.

“O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974)


www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/12/05)
http://juvenatrix.blogspot.com/2005/12/o-massacre-da-serra-eltrica-1974.html

O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, Estados Unidos, 1974). Vortex. Duração: 82 minutos.
Direção de Tobe Hooper. Roteiro de Kin Henkel e Tobe Hooper. Produção de Kim Henkel, Tobe Hooper, Jay Parsley, Lou
Peraino e Richard Saenz. Fotografia de Daniel Pearl. Música de Wayne Bell e Tobe Hooper. Direção de Arte de Robert A.
Burns. Edição de Larry Carroll e Sallye Richardson. Elenco: Marilyn Burns (Sally Hardesty), Allen Danziger (Jerry), Paul A.
Partain (Franklin Hardesty), William Vail (Kirk), Teri McMinn (Pam), Edwin Neal (Hitchhicker), Jim Siedow (Old Man),
Gunnar Hansen (Leatherface), John Duggan (Grandfather), Robert Courtin, William Creamer, John Henry Faulk, Jerry Green,
Ed Guinn, Joe Bill Hogan, Perry Lorenz, John Larroquette (narrador da introdução).

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AS NOIVAS DO VAMPIRO por Renato Rosatti


“Transilvânia, terra de florestas escuras, montanhas secas e imensos lagos escuros. Ainda o lar de feitiçaria e
da bruxaria como o século 19 a descortinou. Conde Drácula, monarca de todos os vampiros, está morto, mas
seus discípulos vivem, para espalhar seu culto e corromper o mundo”.

“As Noivas do Vampiro” (The Brides of Dracula, 1960), lançado em DVD no Brasil pela “NBO”, é o segundo
filme da série de Drácula do cultuado estúdio inglês “Hammer”, precedido pelo clássico “O Vampiro da Noite” (Horror of
Dracula, 1958), com Christopher Lee no papel do vampiro e Peter Cushing como seu incansável oponente Dr. Van Helsing.
Depois vieram “Drácula: O Príncipe das Trevas” (1966), “Drácula, O Perfil do Diabo” (1968), “Sangue de Drácula” (1970),
“O Conde Drácula” (1970), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (1972) e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (1973).
Com direção de Terence Fisher, o principal cineasta da “Hammer”, e a presença sempre carismática de Peter Cushing,
“As Noivas do Vampiro” apresenta o ator inglês David Peel no papel do vampiro descendente do Conde Drácula, ao contrário
de todos os outros filmes da série, estrelados pelo ícone Christopher Lee.
Uma jovem professora de francês, Marianne Danielle (Yvonne Monlaur), chega a um pequeno vilarejo com o
objetivo de lecionar numa escola para moças localizada próxima ao Castelo da baronesa Meinster (Martita Hunter). Ela passa
uma noite no castelo luxuoso e conhece o jovem e misterioso filho da baronesa (David Peel), que é mantido acorrentado em
aposentos isolados, recebendo apenas os cuidados da serviçal Greta (Freda Jackson). Seduzida pelo jovem, Marianne consegue
encontrar a chave que o liberta das correntes, e novas mortes surgem nas proximidades do vilarejo, com moças encontradas
sem sangue e com duas marcas no pescoço. Para combater o vampiro, um padre local chama o Dr. Van Helsing (Cushing), que
chega para tentar salvar a jovem professora e interromper as ações do sugador de sangue.

O filme tem todas as características que marcaram eternamente as produções da “Hammer”, com um pequeno vilarejo
atormentado pela ameaça de um vampiro, aldeões amedrontados, florestas fantasmagóricas envoltas em névoas sinistras, e um
castelo imponente no alto de uma montanha. Foi o único papel de David Peel como um vampiro, aliás, sua carreira foi curta e
deixou de atuar pouco tempo depois desse trabalho. Peter Cushing ainda estava no início do grande legado que deixou na
“Hammer”, mas sua presença obviamente foi o grande diferencial para não tornar “As Noivas do Vampiro” apenas mais um
filme convencional. Pois o roteiro escrito por várias pessoas (Peter Bryan, Edward Percy, Anthony Hinds e Jimmy Sangster),
não conseguiu fugir de uma história trivial centrada no combate entre o vampiro e seu algoz, com uma bela moça indefesa
entre eles. Apesar disso, e pela presença de Cushing e da atmosfera característica da “Hammer”, o filme é indispensável no
acervo dos fãs e colecionadores.

“As Noivas do Vampiro” (The Brides of Dracula, Inglaterra, 1960) # 553 – data: 05/06/10
www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/06/10)
http://juvenatrix.blogspot.com/2010/06/as-noivas-do-vampiro-brides-of-dracula.html

HQ “Cuca”, de Fernando Maziviero, M. Guimarães e Téo


A morte é apenas o começo... de uma eterna vida de dor...

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