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Megalitismo no concelho de redondo

Investigação e comunicação em arqueologia/ Marisa Nico / aluno: 44541


Índice

- Introdução
- Megalitismo no concelho de Redondo
- Posição geográfica
- Enquadramento do conjunto megalítico
- Construção, utilização e mobiliário votivo
- Megalitismo e arte rupestre
- A Anta da Candeeira e o “buraco da alma”
- Os eremitas e as antas
- Conclusão
- Bibliografia
Introdução
O Alentejo é um território reconhecidamente rico em vestígios
arqueológicos, particularmente a partir do Neolítico, época que
teve início, nesta região, há mais de sete mil anos; no entanto,
apesar de alguns trabalhos antigos de carácter pioneiro, só nos
últimos anos e ainda muito lentamente, têm sido efetuados
trabalhos consistentes de prospeção arqueológica que permitam
ter uma ideia concreta da verdadeira dimensão dessa riqueza.
Este património sujeito a uma enorme vulnerabilidade está
confinado á inevitabilidade do desaparecimento de grande parte
do mesmo, umas vezes por causas naturais, outras devido à
intervenção do homem. Cabe a nós estudantes de arqueologia,
arqueólogos e cidadãos, difundir a existência desta riqueza
patrimonial, de modo a que desperte nas gentes um sentimento
de preservação e proteção, para que as gerações vindouras
possam ter contacto com as crenças, hábitos e mitos das origens
da nossa história como seres humanos.
Megalitismo no Concelho de Redondo
As mais antigas referências a locais arqueológicos, no concelho
do Redondo são muito anteriores ao próprio nascimento da
Arqueologia como Ciência, em meados do séc. XIX.
Nos finais do séc. XVI, mais exatamente em 1571, Frei Martinho
de S. Paulo, em carta redigida aquando da presença de D.
Sebastião no Convento de S. Paulo, na Serra d’Ossa, refere a
existência de duas antas e dos povoados onde Viriato, na sua
opinião, se teria refugiado.
Segundo alguns autores, esta é a mais antiga descrição de
monumentos megalíticos que se conhece em território
português.
Em 1877, Gabriel Pereira, ilustre investigador eborense, refere a
existência de outros monumentos arqueológicos no concelho de
Redondo. A ele se deve a identificação e publicação da Anta da
Candeeira em 1877, tal como a identificação e descrição das
antas da Quinta da Vidigueira e da Herdade das Tesouras
Este património megalítico mereceu a atenção de algumas
figuras importantes da arqueologia, como o casal Leisner e o
conceituado arqueólogo francês Émile Cartailhac.
Em 1886, Émile Cartailhac publicou Les Ages Préhistoriques de
l’Espagne et Portugal , onde concede um certo destaque à Anta
da Candeeira, que havia visitado em 1880, nesse trabalho,
recusou a hipótese de o característico orifício no esteio de
cabeceira (o “buraco da alma”) ser contemporâneo do
monumento, remetendo a sua autoria para os eremitas da Serra
d’Ossa.
No final do século passado, a Anta da Candeeira esteve no cerne
da discussão sobre a funcionalidade dos monumentos
megalíticos, pois, o referido orifício no esteio de cabeceira, era
apontado como prova cabal da sua função como simples
“choças” de pastores. Entre os grandes defensores deste último
ponto de vista, merece destaque o Padre Espanca, erudito e
estudioso regional, interessado em questões da antiguidade e
conhecedor da Anta da Candeeira, mas que refutava totalmente
a existência da Pré-História (Espanca, 1894). Nela também se
envolveu L.Vasconcelos ainda que de forma mais moderada,
claramente a favor da função funerária dos monumentos
megalíticos.
Leite de Vasconcellos deu igualmente algum destaque à Anta da
Candeeira na sua obra “Religiões da Lusitânia” onde defendeu,
ao contrário de Cartailhac, a grande antiguidade do orifício do
esteio de cabeceira, reforçando a argumentação com paralelos
extra-peninsulares.
Em 1910, Leite de Vasconcellos foi o responsável pela
classificação como “Monumento Nacional” dos três
monumentos já reconhecidos no concelho, a Anta da Candeeira,
a Anta da Quinta das Vidigueiras e a Anta 1 do Colmeeiro.
Em finais dos anos quarenta, Georg Leisner publicou na revista
“A Cidade de Évora”, em dois artigos distintos, um levantamento
bastante exaustivo sobre as Antas dos arredores de Évora , onde
são referidos alguns dos monumentos do concelho. A obra do
casal Leisner, um verdadeiro monumento no capítulo do
megalitismo peninsular, tornou-se a principal referência neste
domínio e, ainda nos nossos dias, continua a ser um manancial
imprescindível de informação sobre o mundo funerário
megalítico. Trata-se, indiscutivelmente de um repertório
metodologicamente muito avançado para a época; no entanto,
como se tem vindo a verificar em diversas áreas, como no
concelho do Redondo, o método de prospeção utilizado deve ter
sido quase exclusivamente a recolha (e confirmação) de
informação oral, procedimento que permite compreender a
exclusão de um número elevado de antas agora detetadas, pelo
facto de apresentarem escassa monumentalidade estrutural ou
de se encontrarem muito danificadas.
Nos inícios da década de 70, J.F. Ventura (1970) publica vários
locais com ocupação pré-histórica na área de Santa Suzana,
sendo atualmente dois identificados, os Velhacos e Santa Suzana.
Numa perspetiva assumidamente centrada na história da arte,
refira-se, por último, o trabalho monumental de Túlio Espanca
(Espanca, 1978) em que são feitas algumas referências a dados
arqueológicos no concelho.
Nos anos oitenta, surgiu no Redondo uma Associação de Defesa
do Património (Secção de Defesa do Património do Grupo Pró-
Amigos de Redondo), em que a arqueologia do concelho se
tornou uma das principais preocupações. Foi a primeira vez que
se desenvolveram trabalhos orientados especificamente para o
concelho de Redondo, com resultados importantes, em vários
aspetos, nomeadamente a escavação de salvamento na
necrópole das Casas, a descoberta do menir das Vinhas ou a
publicação da lápide da Capela.
Posteriormente, com os trabalhos realizados no âmbito da Carta
Arqueológica do Redondo, novos monumentos foram
identificados, fazendo ascender para o dobro o número de
monumentos megalíticos inventariados nesta área, o qual tem
vindo a ser aumentado com o registo de novas antas.
Posição geográfica

O concelho de Redondo abrange uma área de cerca de 370 Km2,


com um acentuado desenvolvimento N-S, comum à maioria dos
concelhos da região.
De Norte para Sul, considerámos o Maciço da Serra d’Ossa,
geologicamente constituído por rochas metamórficas (xistos e
gnaisses), com altitudes acima dos 350 m.
Em cotas que oscilam entre os 300 m e os 350 m, desenvolve-se,
a Sul da Serra, um Patamar bastante acidentado, mais extenso
do lado ocidental e constituido igualmente por xistos e gnaisses;
os solos não possuem grande aptidão agrícola (excepto no fundo
de alguns vales), sendo um território ocupado hoje, na sua
maioria, por montados de sobro e azinho.
Seguidamente, com cotas na ordem dos 250-300 m, estende-se a
Planície Central do Redondo, com substrato de rochas
granitóides (quartzodioritos e granodioritos, sobretudo), relevo
suavizado e solos com um potencial agrícola médio, constituindo
o prolongamento natural da planície de Montemor-Évora-
Reguengos. A delimitar, pelo lado Sul, a Planície Central do
Redondo, depara-se, de novo com uma faixa de rochas xistosas,
e solos muito pobres, correspondendo à área da Barragem da
Vigia. Nos nossos dias, são geralmente terrenos de pastoreio,
com algumas manchas de montado.
Imediatamente a Sul desta área, o relevo volta a suavizar-se, com
solos férteis e um substrato geológico.

Concelho redondo

Enquadramento do conjunto megalitico


A área do concelho do Redondo integra-se já na ampla região
megalítica do Alentejo Central, genericamente caracterizada
pelos monumentos do eixo Montemor-Évora-Reguengos
apresentando-se assim relativamente rica em termos de
património «megalítico». Ao contrário da área de Estremoz,
onde se registam localizações territorialmente mais
concentradas (com núcleos espacialmente bem delimitados), os
grupos do Redondo parecem apresentar um maior índice de
dispersão territorial.
O extenso patamar que medeia entre as elevações mais altas da
Serra d’Ossa e a Planície Central a Sul parece ser assim a área de
eleição para a instalação destes monumentos. Na verdade, a sua
maior amplitude na zona Noroeste do concelho, na envolvente
da aldeia do Freixo, talvez tenha conduzido a uma maior
concentração de monumentos, os quais superam aí as três
dezenas. As regiões mais a Sul, mais intensamente cultivadas,
não tiveram (ou não conservaram) mais que um reduzido
número de sepulcros, como os

monumentos aparentemente isolados de Zambujeiro, Pegas e


Nossa Senhora da Piedade.

A aparente escassez de sepulcros nesta área mais a Sul poderá


estar eventualmente relacionada também com condicionantes
geológicas.
As antas do concelho do Redondo enquadram-se, na sua grande
maioria, no tipo clássico do Megalitismo regional (o designado
«tipo alente-
jano»), sendo constituído por monumentos de Câmara poligonal
de sete esteios organizados a partir do esteio de Cabeceira, e
Corredor diferenciado. São usualmente construídas em granito ,
sendo também conhecidas em xisto, ou com ambos.
Ainda que a maioria dos monumentos apresente dimensões de
certo modo modestas, estão documentados alguns monumentos
de média/grande dimensão, caso da Anta da Vidigueira, Anta 1
do Colmeeiro, Anta da Candeeira
ou Anta 1 das Casas Novas («Anta Grande»).
A par destes, registam-se pequenos monumentos de
xisto e gnaisse (incluindo pequenos sepulcros de Câmara
simples, como as Antas 1 e 2 das Chãs ou Godinhos) e
monumentos intermédios.
Como dito, os monumentos concentram-se na metade Norte do
concelho (principalmente na parcela Noroeste), podendo estar
relacionados com a demarcação de áreas de ocupação,
potenciada pela ocorrência de solos graníticos propícios tanto à
construção dos monumentos como às práticas agrícolas de
subsistência, como o parece demonstrar também a concentração
de vestígios de povoamento aí documentada, próximos dos
principais cursos de agua, as Ribeiras da Pardiela, Freixo, São
Bento e Alcorovisco-Vale de Vasco, subsidiárias do Rio Degebe.
Dois núcleos principais são distinguíveis neste contexto,
nomeadamente os grupos de Vidigueira-Quinta do Freixo
(composto por seis monumentos aos quais se poderá associar
também os dois monumentos de Martes) e Colmieiro-Casas
Novas-Godinha de Cima (composto por nove
monumentos, com a associação espacial dos dois monumentos
do Paço, Hospital, Pinheiro e os cinco monumentos das Casas).
A sua relação com vias naturais de trânsito é também evidente.
O extenso Patamar onde se encontra a maioria dos monumentos
corresponde a um dos principais eixos de circulação transversal
do território, no rebordo da Serra d’Ossa, culminando numa
ampla portela aberta a Este, formada a Sudeste da serra (cabeço
da Argolia) ao extremo Norte da crista xistosa que desce desde a
área do Caladinho para Sul. Neste mesmo eixo de circulação, ao
longo do sopé Sul da serra, surgem os monumentos de Valdanta,
Zorreira, Monte Branco, Vale de Sobrados e Candeeira (esta
última já em posição destacada)
Ao longo da Crista do Redondo, junto das suas portelas,
encontramos os monumentos da Vinha, Silveira, Caladinho e
Orvalha (Antas 1 e 2).
Em relação a caminhos de travessia da serra, no sentido
longitudinal do território, encontram-se monumentos como
Candeeira (para além da qual se localizariam os dois
monumentos do Convento da Serra) ou Godinhos (acessível a
partir do núcleo de Colmieiro-Casas Novas-Godinha de
Cima)para além dos dois pequenos monumentos das Chãs.

Anta da Vidigueira
Anta do colmieiro

Construção, utilização e mobiliário votivo:


Em termos de construção e utilização destes sepulcros, esta
baseia-se principalmente nas arquiteturas dado que, apenas
uma pequena percentagem dos monumentos foi objeto de
escavação (nomeadamente, os monumentos de
Caladinho, Vidigueira, Candeeira, Vale da Anta, Godinhos e
Chãs).
As etapas iniciais do Megalitismo poderão estar representadas
em pequenos monumentos de Câmara simples, de tendência
«cistóide».O mobiliário votivo recolhido nestes monumentos é
pouco diversificado referindo-se a duas armaduras geométricas
(trapézios) e três artefactos de pedra polida (um machado e duas
enxós), três armaduras geométricas (trapézios), um artefacto de
pedra polida, e recipientes cerâmicos.
Do último quartel do 4º milénio e primeiro quartel do seguinte,
encontramos os típicos monumentos de Câmara e Corredor
diferenciados, alguns de dimensão considerável, como a Anta 1
das Casas Novas ou, de dimensão mais modestas (mas ainda
assim significativa), as Antas da Vidigueira,
Candeeira, 1 do Colmieiro ou 1 do Paço. Monumentos já típicos
do 3º milénio, poderão ser encontrados nos exemplos do
Caladinho. O sepulcro do Caladinho, não correspondendo
necessariamente a um tholos, também não corresponde a uma
anta típica (contudo encontrando-se espacialmente associado a
uma, a Anta da Silveira). Compõe-se por uma Câmara circular
formada por perto de uma dezena de esteios ”megalíticos” de
xisto à qual se acede por um estreito Corredor.
Os mobiliários votivos recolhidos nestes monumentos são
igualmente característicos desta fase crono-cultural. Apesar de a
escavação dos monumentos de Candeeira e Vidigueira terem
fornecido escasso espólio (possivelmente motivado por
perturbações ulteriores), este é ainda representativo
destacando-se um fragmento de placa de xisto gravada no
primeiro monumento
e pontas de seta de base reta a côncava e grandes lâminas de
sílex no segundo. No sepulcro do Caladinho, para além de
elementos semelhantes aos da Anta da Vidigueira (com realce
para as pontas de seta de base côncava a muito côncava, com
exemplares em xisto silicioso e lidito), destaca-se conjunto das
placas de xisto gravadas que, apesar de muito fragmentado, é
ainda ilustrativo incluindo exemplares reaproveitados,
exemplares não perfurados e até mesmo um báculo.
Regista-se ainda, tal como se atesta nos monumentos acima da
Serra d’Ossa, a presença de armaduras geométricas nestes
monumentos conforme o demonstra a sua presença na Anta da
Vidigueira ou, mais curiosamente, no sepulcro do Caladinho. Um
caso curioso parece registar-se na Anta de Vale da Anta,
tratando-se de um monumento de significativas dimensões que
parece não ter sido concluído.

MEGALITISMO E «ARTE RUPESTRE»:


Uma das particularidades registadas nos monumentos em
estudo é a sua associação ao género de «manifestações
artísticas» designadas como «covinhas». Na área do Redondo,
estão disponíveis várias dezenas de registos de rochas com
«covinhas», em afloramentos ou lajes de granito (ou diorito),
gnaisse, grauvaque e xisto. A sua associação a sepulcros é
particularmente destacada por alguns casos específicos. Na
Quinta do Freixo existe uma grande laje de diorito com cerca
de 150 «covinhas», algumas de grande dimensão (entre 10 e 25
cm de diâmetro). A cerca de 30 m deste elemento encontra-se
outra laje, igualmente de grande dimensão, com cerca de 26
«covinhas» insculpidas. Estes elementos encontram-se
associados ao núcleo megalítico da Quinta do Freixo (Antas 1 a
5), ao qual se associa também a rocha com «covinhas» da
Espinheira (mais próxima às Antas 2 e 3). Outros elementos de
interesse encontram-se em Martes 3 (espacialmente associado
às Antas 1 e 2 de Martes), Monte das Casas 4 , Monte do Cabaço
(entretanto não relocalizado, associado à Anta da Candeeira),
Paço 3 e 5 o último combinando «covinhas» e figuras
cruciformes, Aroeira de Cima, Monte Branco da Piedade e
Piedade ou Caladinho 2 .

Chapéu com covinhas na Anta da Candeeira


A Anta da Candeeira e o “buraco da alma”

Anta da candeeira

A Anta da Candeeira é um monumento megalítico que


apresenta uma câmara poligonal, ainda com tampa, o
enigmático orifício no esteio de cabeceira, designado
usualmente de “buraco da Alma”. Dada a conhecer por Gabriel
Pereira foi classificada como Monumento nacional desde 1910.
No final do século passado, a Anta da Candeeira esteve no cerne
da discussão sobre a funcionalidade dos monumentos
megalíticos, pois, o referido orifício no esteio de cabeceira, era
apontado como prova cabal da sua função como simples
“choças” de pastores. Entre os grandes defensores deste último
ponto de vista, merece destaque o Padre Espanca, erudito e
estudioso regional, interessado em questões da antiguidade e
conhecedor da Anta da Candeeira, mas que refutava totalmente
a existência da Pré-História (Espanca, 1894). Em 1886, Émile
Cartailhac publicou Les Ages Préhistoriques de l’Espagne et
Portugal , onde concede um certo destaque à Anta da
Candeeira, que havia visitado em 1880, nesse trabalho, recusou
a hipótese de o característico orifício no esteio de cabeceira (o
“buraco da alma”) ser contemporâneo do monumento,
remetendo a sua autoria para os eremitas da Serra d’Ossa.Nela
também se envolveu L.Vasconcelos ainda que de forma mais
moderada, claramente a favor da função funerária dos
monumentos megalíticos.
Leite de Vasconcellos deu igualmente algum destaque à Anta da
Candeeira na sua obra “Religiões da Lusitânia” onde defendeu,
ao contrário de Cartailhac, a grande antiguidade do orifício do
esteio de cabeceira, reforçando a argumentação com paralelos
extra-peninsulares.
Na verdade existem fortes possibilidades para pensar que a
teoria de Cartailhac será a mais plausível, uma vez que ao
observar o famoso orifício podemos observar que este foi
esculpido com um instrumento metálico deixando as marcas
deste no orifício. Também podemos observar junto á entrada, ao
nível do solo, restos de argamassa pedras e tijolos,
testemunhando que esta área terá sido em tempos
emparedada, possivelmente por algum monge que vivia em
clausura no seu interior, usando o orifício como contacto com o
exterior e obtenção de alimentos.
Esta possibilidade ganha força ao analisar o modo de vida dos
primeiros eremitas da serra D´ossa.

“ Buraco da Alma” Anta da Candeeira


Orifício no esteio da cabeceira da Anta da Candeeira
Os eremitas e as antas

Crónica dos eremitas da serra d´Ossa , Frei Henrique de Santo António

Na Chronica dos Eremitas da serra d´Ossa, Frei Henrique de


Santo Antonio refere que estes eremitas se instalaram na serra
D´ossa ainda quando esta se denominava Serra de Vénus, nome
que derivava do templo de vénus existente no alto de S Gens.
Estes primeiros eremitas, discípulos de S. Manços refugiaram-se
em choupanas e vales. Como rituais de reparação, habitavam em
covas, grutas e cavernas. Esta obra de Frei Henrique de Santo
António refere também que estes monges se emparedavam nas
mesmas grutas :
“Cujas entradas,como se já fofem fepulchros de cadáveres
ceravão com pedras e troncos de arvores. ”
Estes monges eram também grandes conhecedores da
existência destes monumentos. Alguns destes monges
identificavam a importância da antiguidade destas antas, outros
tentando destruir todo o vestígio de paganismo e atribuindo o
uso das mesmas a rituais mandaram destruir muitos destes
monumentos megalíticos como comprova mais uma vez a
mesma cronica:
“ Viriato esperou ao exército Romano, e dahi desceo a dar-lhe
batalha: como se manifesta também das muitas Antas, que
estavão ainda em nossos tempos ao redor, e fraldas desta serra,
cujos sitios conservão os nomes das ditas Anta. Dentro da cerca
do nosso Convento da Serra esteve huma, que eu ainda alcancei,
tão grande, que o Reitor, que então era do dito Convento,
mandou contra o meu voto derrubar para se aproveitar da muita
pedra, que tinha, ficando ahi de prezente a cova, donde se
tirarão as pedras; e juntamente sinal das cinzas, e carvoens de
fogo, com que se fazião os sacrificios; e da outra, que estava fora
da cerca persevera huma porta da mesma cerca que se chama a
porta da Anta . E estas Antas he certo, que erão as aras, ou
altares, em que os vencedores passada a batalha offerecião
sacrificio a seus Deoses em gratificação da vitória alcançada ou
antes, para os terem propicios na guerra .” (Frei Henrique de
Santo António, 1745: 82).
Estes monges foram os primeiros a identificar muitos destes
monumentos, pois vivendo espalhados pelos vales que ainda
hoje possuem o nome do monge que o habitara ( Vale de Abrão,
Vale de Lazaro etc…) , teriam muito possivelmente utilizados
alguns deles como refugio e lugar de penitencia, sacralizando o
espaço com os seus jejuns e renuncias.
Grutas possivelmente habitadas por eremitas
Conclusão

O património megalítico no Concelho de Redondo encontra-se


na sua maioria por intervencionar.
Nos últimos anos com a publicação da carta arqueológica e a
identificação de mais de 500 locais de interesse arqueológico,
este património ganhou maior visibilidade. Um património
seriamente ameaçado pela agricultura, pela plantação de
grandes áreas de vinha e olival, sistemas de rega, alfaias agrícolas
e até mesmo sujeito a danos causados pelo normal desgaste
causado por ação agentes climatéricos.
Cabe a todos os responsáveis do município, investir numa maior
consciencialização para a preservação do património, tomando
medidas para o reconhecimento e divulgação destes
monumentos, criando ações de sensibilização junto da
comunidade e em parceria com um maior investimento na
recuperação de monumentos do concelho e a tão necessária
salvaguarda destes sítios arqueológicos, muitos deles localizados
em propriedades privadas ficando desprotegidos e sendo por
vezes vandalizados e destruídos.
Bibliografia:

- Mataloto, Rui ; Calado, Manuel - carta arqueológica concelho de


Redondo
-Martinez, João Carlos; Diniz, Mariana; De Carvalho, Antonio F (2018) –
Gibraltar aos pirinéus - megalitismo na fachada atlântica peninsular,lapa
do lobo(Nelas)
- Oliveira Jorge, Sarantopoulos, Panagiotis; Balesteros, Carmen (1997) –
Antas capelas e capelas junto a Antas no território português , lisboa,
edições colibri.
-Frei Henrique S. antonio (1745) - Chronica dos eremitas da serra de Ossa.

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