Edição Lisboa • Ano XXX • n.º 10.

883 • 1,30€ • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

Ambiente
Pragas
de gafanhotos
levam ameaça
de fome à África
Oriental
Mundo, 26/27

Arrendar casa em Lisboa é mais

difícil que em Barcelona e Berlim
Nas três cidades, uma análise que cruza rendas e rendimentos de um agregado a residir num T2 mostra
que a taxa de esforço dos 30% é ultrapassada. Mas em Lisboa quase duplica e chega a 58% Economia, 22/23

Congresso do PSD Rui Rio aposta na reforma da justiça e sistema político p2 a 5 e Editorial “Tem-se a
ideia de que

PAULO PIMENTA
a justiça é
mais
demorada
do que é”
Advogado em quase todos
os megaprocessos, Rui
Patrício dá, em entrevista,
a sua visão crítica sobre
alguns temas na “agenda”,
como a violência doméstica
ou a corrupção p14/15

Resgatar do “Um grupo Turismo Portugal recusa

esquecimento torna-se sempre desenvolveu numa semana
Francisco mais unido se os Açores e já se 48 mil toneladas
de Holanda tiver o que odiar” fala em contê-lo de lixo importado
Exposição em Évora permite Em entrevista, o professor O primeiro arquipélago do Duplicação da Taxa de
rever “uma idade do ouro Fahali Moghaddam fala de mundo que é destino Gestão de Resíduos em
perdida” de que o pintor foi como os radicalismos se turístico sustentável quer Agosto quer desincentivar
Ägura maior p34/35 alimentam mutuamente p10/11 evitar massiÄcação p20/21 depósito em aterros p18
ISNN-0872-1548

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2 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
DESTAQUE
CONGRESSO DO PSD
Rio recupera
reformas
da justiça
e sistema
político
Líder do PSD pede reforma consciente
e séria em matéria de sistema político
e insiste no diálogo entre os partidos
Sofia Rodrigues texto
Paulo Pimenta fotografia
P
ara o seu segundo mandato à
frente do PSD, Rui Rio recu-
pera como prioritárias as
reformas na justiça e no sis-
tema político, mostrando-se
disponível para “pontos de
entendimento”. É a mesma linha de
discurso que o líder dos sociais-de-
mocratas lançou quando foi eleito
pela primeira vez, há dois anos, mes-
mo depois de falhada a tentativa para
o acordo em torno de uma reforma
na justiça.
No discurso de encerramento do
38.º congresso do PSD, Rui Rio volta
a colocar em cima da mesa um “pac-
to” para a descentralização — a única
área em que fechou um acordo com
o Governo — cuja concretização tem
sido muito criticada pelos autarcas
sociais-democratas. As reformas na
justiça, sistema político e descentra-
lização são três das cinco reformas
“inadiáveis” que constam do progra-
ma eleitoral do PSD às legislativas.
No arranque da intervenção e
depois de recentes duras críticas à
posição do CDS por causa do IVA da
electricidade, Rui Rio dirigiu um
“cumprimento em particular” à
delegação dos centristas, cheÆada
por Francisco Rodrigues dos Santos,
lembrando que foi com este partido
que o PSD “partilhou em diversos
momentos — e alguns bem difíceis
— a governação do país”. No mesmo
momento, o líder do PSD defendeu
como “decisivo para o futuro de Por-
tugal o diálogo entre os partidos polí-
ticos”. O novo líder do CDS ouviu as
palavras “simpáticas” e aproveitou
para desaÆar o PSD para uma “pla-
taforma de entendimento” para as
autárquicas com vista a conquistar
Rui Rio dirigiu um cumprimento especial a Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS-PP
câmaras ao PS.
No discurso de 50 minutos, Rui
Rio apontou a necessidade de “fazer
uma reforma que devolva a transpa-
rência, verdade e eÆcácia” ao siste-
ma político. E referiu algumas pro-
postas — que constam do programa
eleitoral do partido — como a de limi-
tar o número de mandatos no Parla-
mento e a de reduzir “moderada-
mente” o número de deputados na
Assembleia da República. “Impõe-se
uma reforma consciente e séria,
fugindo à habitual demagogia que
parte, logo de início, do princípio de
que quem está na política é, por deÆ#
nição, suspeito do que possa haver
de pior”, disse, acrescentando que
essa “lógica abstrusa pode agradar
aos tablóides que vivem do escânda-
lo”, mas não serve a “nobreza da
função pública”.
Rio não fez referências sobre se
terá condições políticas para avançar
com esta reestruturação, que precisa
do PS para se poder concretizar. O
mesmo aconteceu com a reforma na
justiça com vista a “reforçar os alicer-
ces do regime”. Como tem sido a sua
linha desde que assumiu a liderança
do partido, Rui Rio voltou a mostrar
disponibilidade do PSD “para encon-
trar pontos de entendimento com os
outros partidos e com a sociedade
em geral”. Mas não disse se terá ago-
ra mais abertura por parte do PS,
sobretudo, depois de ter falhado um
acordo na área da justiça.
Novo pacto para a Justiça
Em Outubro 2018, o líder do PSD
avançou com uma proposta para um
pacto junto dos outros partidos e do
Governo, mas acabou por não con-
seguir acolhimento. A punição de
jornalistas por violação do segredo
de justiça e o Æm da maioria de
magistrados na composição do Con-
selho Superior do Ministério Público
esbarraram na oposição do PS. Mas
Rio voltou agora, na sua intervenção,
a referir-se à “devassa de processos
judiciais na comunicação social” e
ao “corporativismo prevalecente”.
Foi também criticada a “incapacida-
de demonstrada em muitas investi-
gações que se arrastam penosamen-
te sem que os prevaricadores sejam
punidos, a relativa opacidade do seu
funcionamento”.
Uma das medidas que considera
terem contribuído para cavar “um
pouco mais” o “fosso” que separa a
justiça do “povo” foi o recente
aumento dos vencimentos dos
magistrados na componente do seu
salário que “nem sequer IRS paga”.
Defendendo um “pacto” para a
descentralização e a desconcentra-
ção, Rio omitiu que fechou um acor-
do com o Governo sobre esta refor-
ma, logo depois do congresso de há

867
Número de congressistas
que votaram na eleição
da nova direcção do PSD.
Este que foi o 38.º congresso
do partido teve 750 delegados
37,6%
Percentagem de “eleitores”
que não votaram na lista que
Rui Rio apresentou à comissão
política nacional (votos nulos
e abstenções)
dois anos e que uma das medidas
tomadas nesse âmbito foi a da cria-
ção de uma comissão independente
na Assembleia da República. Desse
trabalho resultou uma proposta para
um novo referendo sobre a regiona-
lização e a criação de regiões admi-
nistrativas. Mas, no seu discurso
perante os congressistas, o líder
social-democrata limitou-se a defen-
der que é preciso ter a “coragem” de
fazer “um pacto político abrangente”
para assegurar com “continuidade,
recursos e políticas descentralizado-
ras, que discriminem positivamente
o interior e sejam capazes de criar
investimento e postos de trabalho
nesses vastos territórios”.
Assimetrias regionais
Rio insistiu no diagnóstico sobre o
nível de assimetrias regionais, con-
siderando: “Não é próprio de um
país desenvolvido; é, sim, caracterís-
tico de um país atrasado”.
Uma outra reforma recuperada no
discurso de encerramento do con-
gresso foi a da Segurança Social, só
que desta vez Rio não desaÆou a um
entendimento com o Governo. Pediu
que haja “o sentido da responsabili-
dade para se actuar em tempo útil”,
depois de criticar o executivo por ter
“confundido a presente situação
conjuntural da Segurança Social com
o seu equilíbrio estrutural” tendo em
conta a “evolução demográÆca”.
Já no problema do “aquecimento
global” e do “combate às alterações
climáticas”, Rio assumiu que o PSD
está “empenhado em fazer tudo o
que estiver ao seu alcance para que
Portugal cumpra com a sua respon-
sabilidade para com o mundo”.
Apontando o dedo ao Governo por
não reformar e apenas “gerir a con-
juntura”, Rui Rio voltou a criticar o
estímulo ao modelo de crescimento
económico pelo consumo, “erro”
que levou ao pedido de ajuda Ænan-
ceira externa, e que é fruto da “força
da ala mais extremista do PS e da sua
união de facto com os partidos da
esquerda mais radical”.
Tal como aconteceu há dois anos,
Rio repetiu as críticas aos serviços
prestados na saúde e na educação
num discurso em que não falou de
eleições presidenciais, que estão no
horizonte do seu próximo mandato.
Foi aplaudido de pé por todo o con-
gresso no Æm da intervenção.
srodrigues@publico.pt
13
As moções temáticas
submetidas à apreciação dos
delegados. Foram todas
aprovadas por maioria
O homem da BBC que deu música a Rui Rio
Margarida Gomes
D
esta vez, o PSD esmerou-se
na selecção de músicas que
escolheu para o congresso
de Viana do Castelo. Hélder
Reis, um proÆssional da voz
e da comunicação, aceitou
o desaÆo que o partido lhe lançou
para escolher uma playlist, a partir
da plataforma musical do próprio
partido, que contém músicas com
direitos de autor. Hélder Reis acredi-
ta ter ido ao encontro das pretensões
do PSD, que deu luz verde ao estudo
prévio que apresentou. Nos interva-
los ouviu-se Nick Cave e Michael
Bublé, só para dar dois exemplos.
“Há sempre um estudo prévio
para tentar perceber que músicas é
que podem de alguma forma animar
os congressos e, ao mesmo tempo,
queimar os tempos neutros, e desta
vez não foi diferente”, aÆrma Hélder
Reis, para quem o segredo de fazer
um bom trabalho reside em colocar
a música no momento preciso. “A
música é sempre lançada no momen-
to certo; a entrada e saída de orado-
res é feita com todo o rigor, já a entra-
da do presidente do partido exige
outro tipo de música”, explica o pro-
Æssional, a voz off da reunião magna
dos sociais-democratas.
Hélder Reis escolheu as músicas que passaram nos intervalos
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 3
10
Número de listas apresentadas
ao conselho nacional. Dessas,
só uma delas não elegeu
nenhum representante
AÆnal, quem é o “DJ” que o PSD
contratou? O PÚBLICO foi encontrá-
-lo à frente de uma enorme régie de
som e imagem alinhada estrategica-
mente com o palco do congresso.
DeÆnindo-se como uma pessoa “ver-
sátil, Çexível, com uma forte capaci-
dade de adaptação aos desaÆos e um
apaixonado pelo que faz”, Hélder
Reis, de 46 anos, tem formação em
Relações Públicas, Rádio e Televisão
e leva já 25 anos a trabalhar em cam-
panhas políticas.
Uma questão de gosto
A rádio é a “sua praia”, mas foi na
televisão que aprendeu muito do que
sabe. Em 1991 teve a “felicidade” de
fazer um estágio na BBC, em Lon-
dres, o que o catapultou para novos
desaÆos que, de outra forma, seriam
difíceis de atingir. “A passagem pela
BBC foi muita intensa. Fiz um estágio
muito intenso, passei pela rádio e
pela televisão, aprendi as fases da
comunicação televisiva e radiofónica
e depois consegui transmiti-la para
o microfone com a colocação certa
da voz “, congratula-se.
Regressado a Portugal, fez direc-
ção de rádio, deu voz em televisão e
muitas outras coisas. A política sur-
giu na sua vida de “uma forma muito
interessante”. “Comecei a perceber
que havia uma lacuna na comunica-
27
As páginas que Rui Rio leu
nos dois discursos: o primeiro
foi mais curto (12 páginas)
do que o segundo (15)
ção política e tentei melhorá-la”,
conta. Antes de se lançar em projec-
tos mais ambiciosos, o “DJ” que o
PSD contratou começou por empres-
tar a sua voz aos altifalantes dos car-
ros de campanha, depois colaborou
com câmaras municipais e, com o
tempo, foram surgindo convites dos
partidos nacionais para fazer con-
gressos e para fazer as voltas nacio-
nais”, revela.
Hélder Reis conta que a comuni-
cação que existia na política não era
uma comunicação com muita quali-
dade. “Era tipicamente para portu-
guês desenrascar e eu percebi que se
a coisa fosse mais organizada, com a
voz mais colocada, com a música
certa, com certeza conseguia persua-
dir pessoas”.
Esta não é a primeira vez que cola-
bora com o PSD — a sua relação com
o partido já tem algum tempo. O con-
tacto com Rui Rio aconteceu na cam-
panha das legislativas do ano passa-
do. Antes, em 2011, fez a campanha
das legislativas de Passos Coelho e,
nos intervalos, tem ajudado nas fes-
tas partidárias, como a do Pontal.
Natural de Cinfães, no distrito de
Viseu, o homem que dá música a Rui
Rio começou por estudar a persona-
lidade do líder para ir ao encontro
do seu gosto musical. “O dr. Rui Rio
é um presidente com uma alma mui-
to forte e, nesse sentido, houve o
cuidado de escolher músicas que se
adaptassem à sua personalidade.
Houve esse cuidado e, no primeiro
dia do congresso, isso resultou”.
“Estas coisas demoram um bocadi-
nho a preparar porque, normalmen-
te, temos de adaptar as músicas a
cada personalidade dos partidos. Se
um candidato é mais exuberante,
teremos de ter um tipo de música; se
for um candidato mais calmo, temos
de optar por outro tipo de música”,
concretiza.
Neste congresso, o hino do partido
escolhido foi Paz, pão, povo e liber-
dade. O outro hino — Nós somos um
rio, da autoria de José Manuel Dias
Loureiro — foi muito usado na “cam-
panha das legislativas, por isso neste
congresso fomos às raízes do parti-
do”, aponta.
mgomes@publico.pt
4 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
DESTAQUE
CONGRESSO DO PSD
Os ausentes, os presentes e os que saíram a meio
Pedro Passos Coelho
O antigo líder do PSD não esteve
presente no congresso, apesar
de ter sido lembrado em palco.
Na última reunião magna, o
antigo primeiro-ministro passou
o testemunho a Rui Rio e, desde
então, afastou-se da actividade
partidária, salvo raras excepções.
Daqui a pouco mais de uma
semana, vai lançar o livro de
Carlos Moedas, outro dos
ausentes neste congresso.
Nenhum dos ex-presidentes do
PSD estiveram, aliás, presentes
no conclave.
Manuel Castro Almeida
Fez parte da primeira equipa de
direcção de Rui Rio, mas saiu a
meio, sem grandes explicações.
Nem sequer apareceu no
congresso. Castro Almeida foi
autarca em São João da Madeira
e governante de Pedro Passos
Coelho e foi um dos principais
vice-presidentes que Rio
escolheu em 2018. Formalizou a
saída da direcção em Junho de
2019.
Miguel Morgado
Anunciou-se como
pré-candidato à liderança e
abandonou a ideia, alegando não
ter condições. Visto como um
dos ideólogos de Passos,
Morgado deixou para mais tarde
as suas ambições de liderança.
Nem sequer se candidatou a
delegado (e não entrou nas listas
de deputados). Também não
apareceu no congresso.
Luís Montenegro
Depois de semanas de silêncio,
era esperada com expectativa a
intervenção do candidato que
perdeu as directas, mas que
conquistou quase metade dos
votos dos militantes do PSD. Luís
Montenegro disse “presente” e
defendeu “paz e unidade” para o
partido, mas garantiu que não se
vai “calar”. Se falar, vai ser fora
dos órgãos do PSD, já que não se
candidatou ao conselho
nacional. É, a partir de agora, um
militante de base.
Miguel Pinto Luz
O candidato que não passou à
segunda volta foi ao congresso
com um discurso conciliador e
virado para as autárquicas.
Miguel Pinto Luz, que é
vice-presidente da Câmara de
Cascais, pediu a Rui Rio para não
ter medo de apostar em novos
rostos para o combate
autárquico. Marcou terreno para
essas eleições, que são
essenciais para o PSD. Carlos
Carreiras não o acompanhou no
conclave.
Miguel Poiares Maduro
Entre os que são vistos como
uma reserva para o futuro do
PSD, só Miguel Poiares Maduro
apresentou uma moção ao
congresso. E esteve lá, apesar de
não ter discursado. Esteve
também nas televisões a
comentar o conclave.
Fernando Negrão
O antigo líder parlamentar do
PSD ocupou o primeiro lugar na
lista que a direcção apresentou
ao conselho de jurisdição
nacional, mas perdeu para Paulo
Colaço, tendo ficado em
segundo lugar. Na sequência do
anúncio dos resultados, Negrão
deixou o Centro Cultural de
Viana do Castelo e já não subiu
ao palco para ser empossado,
como aconteceu com todos os
elementos dos restantes órgãos
eleitos. Também não ouviu o
discurso de encerramento do
líder do PSD. Fernando Negrão
foi, assim, um dos presentes que
saíram a meio do congresso.
Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República
enquadra-se noutra categoria: a
dos ausentes-presentes. O cargo
que ocupa não lhe permite
participar em eventos deste tipo,
mas o seu nome acabou por ser
referido por Pedro Duarte, que
pediu um apoio claro à sua
recandidatura, se ela vier a
confirmar-se. Elementos da
direcção, como José Silvano,
secretário-geral do PSD,
disseram que o partido só
poderá dar um apoio a uma
candidatura de Marcelo “se ela
existir”. S.S./S.J.A./S.R.
Lista do líder perdeu
nas eleições para jurisdição
Sónia Sapage
F
ernando Negrão, que era o
candidato apoiado pela lide-
rança à presidência do conse-
lho de jurisdição nacional,
perdeu para Paulo Colaço, ex-
dirigente da JSD, que se candi-
datava pela nona vez àquele cargo. A
lista de Paulo Colaço teve a preferên-
cia da maioria dos congressistas e
elegeu cinco mandatos (em nove).
Além deste revés, no conselho
nacional, se for somada a lista apoia-
da por Luís Montenegro (liderada por
Paulo Cunha) à lista que tinha apoian-
tes de Miguel Pinto Luz (encabeçada
por Bruno Vitorino) a oposição teve
uma vantagem de quatro elementos
face à equipa oÆcial (21 mandatos),
que tinha Paulo Rangel em primeiro
lugar. A estes eleitos, somam-se sem-
pre as inerências (lugares ocupados
pelos líderes das distritais e pelos
representantes das estruturas autó-
nomas do partido, como por exemplo
a JSD, os TSD ou os ASD).
Já a lista única de candidatos à
comissão política nacional (CPN),
apresentada pelo líder do PSD, Rui
Rio, foi eleita com 541 votos a favor
(62,4%), 227 brancos e 99 nulos,
num universo de 867 eleitores. Foi
a percentagem mais baixa desde
2007, quando Luís Filipe Menezes
obteve 61,8%, mas agora, apesar de
ter Æcado aquém dos resultados de
2018, em termos percentuais, em
números absolutos Rui Rio teve
mais 65 votos.
A lista única apresentada à mesa do
congresso, a cuja presidência se
recandidatou Paulo Mota Pinto, teve
uma votação semelhante à da CPN.
Para fazer a leitura política da der-
rota de Fernando Negrão (conselho
de jurisdição), é preciso recordar o
conselho nacional de há um ano,
quando Luís Montenegro desaÆou a
liderança do PSD para eleições inter-
nas antecipadas. Nessa reunião, no
Porto, estava em causa o método de
votação de uma moção de conÆança
à direcção apresentada por Rui Rio e
Paulo Colaço acabou por pedir a des-
Paulo Cunha
tituição de Paulo Mota Pinto, que era
presidente daquele órgão e que con-
testou uma decisão da jurisdição (do
qual Colaço fazia parte).
Paulo Colaço começou por ser
apoiante de Rui Rio em 2018, mas
na sua actual lista ao conselho de
jurisdição integrou, nos dois primei-
ros lugares, apoiantes de Luís Mon-
tenegro.
No que diz respeito ao conselho
nacional, havia dez listas a concorrer,
mas uma delas não elegeu nenhum
representante para aquele que é o
órgão do partido mais importante
entre congressos.
A lista encabeçada por Paulo Ran-
gel teve 246 votos, mais 56 do que a
lista M, que foi a segunda mais votada
(liderada por Paulo Cunha e apoiada
por Luís Montenegro). Há ainda duas
listas com nove lugares: a liderada
por Carlos Eduardo Reis e a de Bruno
Vitorino.
A lista X, com sete eleitos, foi lide-
rada por José Miguel Ferreira. E a J,
de Joaquim Biancard, elegeu cinco
elementos. A de Alexandre Barros da
Cunha conseguiu dois lugares. Luís
Rodrigues, que encabeçou a lista D,
e Tiago Sá Carneiro (E) também
foram eleitos para o conselho nacio-
nal. com Sofia Rodrigues
sonia.sapage@publico.pt

PSD, back to basics
Comentário
São José Almeida
E
pronto. A normalidade parece
ter voltado ao PSD. Rui Rio foi
consagrado como presidente,
em Viana do Castelo, no 38.º
Congresso e a viu a sua moção
aprovada por “uma maioria
clara” de delegados.
Luís Montenegro reposicionou-se
como líder da oposição interna e
marcou terreno para o futuro, como
guardião de uma orientação liberal
e personalista. Tudo está como reza
a tradição e a história do PSD.
O principal partido da oposição
parece, assim, ter todas as
condições internas para iniciar o
caminho para reconquistar o poder
governativo, com o primeiro
combate eleitoral já nas autárquicas
de 2021.
A aparente normalidade do PSD
que sai de Viana não evita, porém,
que no horizonte estejam dúvidas
sobre a unidade interna depois de
dois anos de “guerras” entre
tendências. Resta esperar que o
sentido de sobrevivência política
não impeça a unidade e o respeito
pela diversidade interna que é
apanágio e está no ADN do partido.
Insisto: tudo parece ter voltado à
normalidade e o PSD estar back to
basics para o próximo ciclo eleitoral.
Foi assim no passado com Sá
Carneiro, Pinto Balsemão, Carlos
Mota Pinto, Cavaco Silva, Marcelo
Rebelo de Sousa, Durão Barroso,
Santana Lopes, Marques Mendes,
Luís Filipe Meneses, Manuela
Ferreira Leite e Pedro Passos
Coelho. Aliás, no consulado de
Passos coube a Rio a missão de
divergir, criticar e também nunca se
calou sob que pretexto fosse.
Todos cumpriram o papel que
lhes incumbia. Montenegro vai ser
militante de base, como prometeu
na noite da derrota nas directas.
Mas marcou lugar para mais tarde
ao ser o responsável por uma lista
ao conselho nacional, encabeçada
por Paulo Cunha. Até não perdeu a
oportunidade para — numa jogada
clássica, que Æca sempre bem no
PSD e arranca palmas — citar Sá
Carneiro, quando, em 1972, como
líder da Ala Liberal, aÆrmou na
Assembleia Nacional: “O que não
posso, porque não tenho esse
direito, é calar-me sob que pretexto
for”. Ficou dado o aviso. Resta
perceber em que termos
Montenegro o vai cumprir.
A consolidação da liderança de
Rio esteve em consonância com as
alterações q.b. na sua direcção, que
ganha mais um vice-presidente.
Apenas Elina Fraga e José Bolieiro
deixam este órgão, subindo a ele
Isaura Morais e André Coelho Lima.
Mantém-se o núcleo político de
outros “vices”: David Justino, Isabel
Meireles, Nuno Morais Sarmento e
Salvador Malheiro. Outro sinal de
normal consolidação é a
permanência de Paulo Mota Pinto
como presidente da mesa do
congresso.
A derrota para o conselho de
jurisdição é politicamente
irrelevante e obedece a lógicas
internas. Até a existência de dez
listas ao conselho nacional é um
[O PSD] É um partido de ideologia
social-democrata. Não somos,
pois, a direita, nem somos a
esquerda
Rui Rio
Presidente do PSD
sinal de normalidade. É tradição no
PSD esta multiplicação de
candidaturas ao órgão máximo
entre congresso, numa lógica de
grupos que está para lá da divisão
de tendências, as quais se
distribuem muitas vezes por várias
listas. Raramente o líder eleito
conseguiu ter maioria absoluta na
eleição do conselho nacional, o que
não impede que depois consiga a
quase unanimidade nas reuniões
deste órgão.
Agora, com o PSD normalizado —
o que não signiÆca paciÆcado ou
unanimista, já que nunca na sua
história o foi, basta lembrar os
primeiros anos com Sá Carneiro —,
Rio terá de fazer aquilo a que se
comprometeu quando chegou a
líder há dois anos: reformar o
partido para, depois, conquistar o
poder.
Aguarda-se assim o congresso
extraordinário para a renovação
dos estatutos. Mudança de regras
em que se espera que seja tida em
conta a moção sectorial
apresentada por Miguel Poiares
Maduro, António Leitão Amaro,
Duarte Marques, Lídia Pereira e
Carlos Coelho, aprovada no sábado
à noite. Sobretudo, no diz respeito à
criação de uma comissão de ética
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 5
PAULO PIMENTA
no partido e a transformação de
directas em primárias.
Mas se decidirem manter as
directas, é importante que
aproveitem a ideia de congressos
prévios para escolha dos
candidatos. O modelo agora
adoptado pelo PSD e pelo PS de
congressos depois da eleição do
líder transÆgura as assembleias
magnas em palcos de sagração e em
missas sem verdadeiro confronto e
debate.
Quanto à orientação
ideológico-política, não se esperam
novidades. Rio é o herdeiro da linha
social-democrata de que, na
fundação do PSD, foram pais
Barbosa de Melo e Carlos Mota
Pinto. Logo na abertura, Rio foi
cristalino: “[O PSD] É um partido de
ideologia social-democrata. Não
somos, pois, a direita, nem somos a
esquerda. Não somos liberais nem
conservadores, assim como não
somos socialistas nem estatizantes.”
E até teve a preocupação de alertar
para o risco de correr atrás do
populismo.
Rejeitando extremismos, Rio
manteve também a sua estratégia de
crescimento eleitoral sublinhando
que o “crescimento do PSD depende
da sua capacidade de conquista de
votos ao centro”. Uma opção que
Æcou clara em Viana também na
intervenção do vice-presidente
Nuno Morais Sarmento, ao defender
que o “centro é a primeira trincheira
da direita ou a última da esquerda”,
advertindo que “abandonar essa
trincheira seria oferecer o centro ao
PS e tornar mais difícil uma
maioria”.
A aÆrmação de uma estratégia
eleitoral que dispute eleitorado com
o PS não impede Rio de manter a
disponibilidade de
“entendimentos” para fazer
reformas de regime com os
socialistas e com outros partidos.
Nomeadamente, na Justiça e no
sistema político, como deixou claro
no discurso de encerramento do
congresso.
Quanto à estratégia de alianças
eleitorais, coube também a Morais
Sarmento marcar “linhas
vermelhas” ao garantir que “o
espaço natural de entendimentos
do PSD são os partidos da direita
democrática”. Uma estratégia de
alianças a testar já nas autárquicas.
Embora Rio tenha apontado os
objectivos para mínimos:
“recuperar” presidentes de câmara,
vereadores e eleitos de freguesia.
Uma meta prudente para um
partido que há mais de uma década
tem tido uma acentuada erosão
eleitoral nas autárquicas. Foi, aliás,
o reeleito secretário-geral, José
Silvano, quem lembrou: “Só com
vitória nas autárquicas estaremos
mais perto de ganhar as
legislativas.”
A preparação das eleições locais
começou logo em Viana. O
candidato a líder derrotado, Miguel
Pinto Luz, pediu a Rio para escolher
“novas caras”. O entusiasmo por
renovação não impediu Pinto Luz,
que é vice-presidente da Câmara de
Cascais — e o número dois de Carlos
Carreiras, que cumpre o último
mandato —, de se oferecer: “Estou
disponível para ajudá-lo a si e ao
PSD. A derrota do PS nas próximas
autárquicas será a primeira de
muitas vitórias do PSD.”
sao.jose.almeida@publico.pt
6 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
Era um jogo difícil para o Sporting. Frente a
um dos últimos da classificação e sabendo
dos deslizes de Sp. Braga e Famalicão, seus
adversários mais directos na luta pelo terceiro lugar,
os “leões” estavam obrigados a vencer. A somar a
isto tudo, o ambiente de fricção interna continua,
com manifestação no exterior do estádio e protestos
nas bancadas. A tudo isto e a uma desvantagem no
marcador, a equipa de Silas soube reagir, vencendo
Silas e subindo ao pódio da Liga. (Pág. 44/45) J.M.M.
Foi uma noite inesquecível aquela que
Antonio Conte viveu ontem. No derby de
Milão, a equipa do treinador italiano chegou
ao intervalo a perder por 2-0. Mas quatro golos sem
resposta na segunda parte deram a volta ao
marcador e transformaram a partida num pesadelo
para o Milan. A somar a tudo isto, o triunfo do Inter
conjugado com a derrota da Juventus na véspera,
permitiu-lhe alcançar a equipa de Cristiano Ronaldo
Antonio Conte no topo da classificação da Série A. (Pág. 46) J.M.M.

Para que serve um congresso?

duas semanas, só veio tornar isso
ainda mais claro.
Se seria de esperar que os
congressos fossem os momentos
máximos da vida dos partidos e,
David Pontes como tal, capazes de captar a
Editorial atenção de simpatizantes e de todos
deveriam marcar esse maior
envolvimento e participação de
militantes — ou até de simpatizantes,
mas hoje é também mais ou menos
consensual que não representaram
nenhuma mudança signiÆcativa na
forma como os portugueses
fundam os seus pequenos poderes
em manter essas estruturas
letárgicas para as despertar só nos
momentos de sufrágio.
Por isso, uma das coisas
importantes que se têm visto no PSD
de Rui Rio é a vontade de acabar

A
pergunta começa a tornar-se
uma irritação permanente, de
maneira alguma especíÆca do
PSD, mas aplicável a todos os
partidos que optaram por ter
eleições “directas”, em vez de
escolherem as suas lideranças na
reunião magna do partido.
O contraste entre o conclave dos
sociais-democratas — um momento
de consagração de um líder já
escolhido, onde faltou novidade,
debate e incerteza — e o carácter
decisivo do congresso do CDS-PP, há
os que se interessem pela vida
política, momentos em que se
concentre a troca de ideias e se
deÆnam as opções futuras, hoje é
por de mais evidente que estão
esvaziados desse propósito. Mais: ao
manterem todo o cerimonial de
momentos únicos sem a substância
respectiva, podem servir para
reforçar a ideia de que a política é
uma “coisa deles”, onde o que é
determinante não está à vista de
todos.
Em troca de esvaziar os congressos
do seu carácter decisivo, as directas
encaram a vida partidária.
A realidade é que o que poderia
mesmo fazer diferença dá muito
trabalho. Muito mudaria se
houvesse envolvimento constante
das bases, nas secções, nas
concelhias, nas distritais, na procura
de debate, de pensamento sobre os
problemas locais e nacionais, em
processos em escada que
culminariam nas reuniões
partidárias maiores, como os
congressos. Dá trabalho e, em
muitos casos, podem representar
uma ameaça para aqueles que
com trapalhadas como as quotas
pagas às resmas na altura das
eleições e que a digitalização
patente no congresso foi mais uma
demonstração.
E o congresso do PSD, aÆnal, para
que serviu? Para quase nada, até
porque uma das principais
características que Rui Rio tem para
mostrar é a sua coerência. E em
coerência ele mostrou que
prossegue o rumo já traçado antes
do congresso.
david.pontes@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
Carlos Alexandre
e o segredo de justiça
Parece que o juiz Carlos
Alexandre Æcou incomodado
com o facto de o
primeiro-ministro publicar no
site do Governo as respostas que
deu ao inquérito de Tancos. E,
como tal, fez uma queixa ao
Ministério Público.
Portanto, a ver se eu entendi
bem: quando o juiz Carlos
Alexandre foi à SIC e à RTP falar
da Operação Marquês (mais ou
menos pela mesma altura em
que toda a gente percebeu que é
possível que um juiz possa não
ser totalmente imparcial em
relação ao caso que investiga ou
que possa publicamente emitir
opiniões sobre trâmites judiciais
de processos em curso), não
houve aí qualquer ameaça ao
segredo de justiça...
Bem vistas as coisas, é capaz de
ter razão: o primeiro-ministro
não tinha nada que se antecipar
em furar o segredo de justiça.
AÆnal, um juiz é alguém com
muito mais habilitações para o
fazer eÆcazmente.
A atitude do primeiro-ministro
conÆgura, portanto, uma
usurpação de funções
perfeitamente inqualiÆcável!
Alípio J. M. Soeiro,
Lisboa
António Costa
e o segredo de justiça
Quando António Costa publicou
no site do Governo as suas
respostas às perguntas
relacionadas com o assalto a
Tancos e formuladas pelo juiz
Carlos Alexandre, comportou-se
como um qualquer delinquente
que não cumpre
deliberadamente a lei.
Se o Ministério Público não
levantar um processo à conduta
de António Costa, então, a partir
de tal situação, todo e qualquer
cidadão poderá agir da mesma
forma. A partir desse momento
valerá tudo para divulgar o que
qualquer um, arguido ou
testemunha, quiser.
Nunca me tinha passado pela
cabeça a hipótese de ver o
primeiro-ministro de Portugal a
colaborar, activa e
conscientemente, na fuga de
informação.
Foi dado um péssimo e
inadmissível exemplo. Foram
ultrapassados todos os limites e
o Ministério Público não pode
olhar para o lado.
Aguardemos para ver se a justiça
em Portugal ainda tem hipótese
de ser algo que possa ser lavado
a sério pelos portugueses ou
não...
Manuel Morato Gomes,
Senhora da Hora
O tiro no pé
Acerca da discussão, na AR, do
OE, parece-me que não foi Rui Rio
quem deu um tiro no pé quando
propunha a redução do IVA sobre
a electricidade para 6%, acabando
por deixar cair esta proposta. A
maneira quase insultuosa como
António Costa se referiu a esta
proposta de Rui Rio/PSD foi uma
provocação que vinha a calhar, às
maravilhas, à sua governação,
pois parecia um duplicado da
crise dos professores que deu o
empurrão à vitoria do PS. Só que
Rio retirou-se a tempo e deixou
Costa e Centeno a remoerem um
trunfo que lhes fugiu por entre os
dedos à ultima hora; daqui em
diante, o PS já não pode continuar
a atirar para a troika e para o
Governo do PSD/CDS as
diÆculdades que vai ter nesta
legislatura sem a “geringonça”.
Duarte Dias da Silva, Lisboa
 Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 7

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Num congresso sem grandes novidades e
sem história, o reconfirmado líder do PSD
pode fechar o momento com um bom
discurso em que nomeou algumas das prioridades
políticas, tais como as alterações climatéricas e o
declínio demográfico, abriu a porta a entendimentos
com o PS em questões como a reforma do sistema
político e de justiça e apazigou as relações com os
parceiros de sempre, o CDS-PP. Estar ao centro é
Rui Rio mais ou menos isto. (Pag. 2) D.P.
Este é o ex-coronel da Polícia Militar que é
governador do estado da Rondónia, no Brasil,
e de cujo executivo saiu a ordem para
recolher 43 obras de autores clássicos e
contemporâneos por terem “conteúdos
inadequados às crianças e adolescentes”. Esta é
uma das caras do conservadorismo bafiento que se
ergue no Brasil e que tem a Cultura como um dos
principais inimigos. Jair Bolsonaro faz escola, e é a
Marcos Rocha dos analfabetos. (Pag. 37) D.P.

ESCRITO NA PEDRA
Por quem é
Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos:
são a maioria
Leão Tolstoi (1828-1910), escritor

SEM COMENTÁRIOS XANGAI

ALY SONG/REUTERS

EM PUBLICO.PT
Boto-cor-de-rosa da Amazónia
em risco de passar a lenda
Os botos-cor-de-rosa estão sob ameaça no
estado do Amazonas: todos os anos são
caçados quase 2500.
publico.pt/p3
Coronavírus: advogado de
“quarentena obrigatória”
Relatos de Chen Qiushi mostraram falhas
na actuação das autoridades chinesas em
Wuhan. Está desaparecido publico.pt
O
Atirador tailandês que matou
29 pessoas abatido após cerco
“Ninguém consegue evitar a morte”,
escreveu militar no Facebook, que usou
para interagir enquanto disparava sobre
civis publico.pt
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
maior erro que uma celebridade
pode cometer — certamente o
mais ridículo — é zangar-se
quando essa celebridade não é
reconhecida.
Ser famoso é sempre relativo e,
de qualquer maneira, as pessoas
que são mesmo famosas fazem
tudo para passar despercebidas,
na esperança de poderem estar à
vontade, como seres humanos.
A imprensa britânica faz questão de
coleccionar incidentes “Do you know who I
am?” porque há poucas coisas mais divertidas
do que assistir ao acesso de cólera de um VIP
a exigir tratamento especial por ser quem é.
Um clássico contemporâneo é a birra de
Ronnie Pickering, um ex-pugilista que há
coisa de 30 anos terá sido reconhecido na rua
no bairro onde nasceu, a perguntar a um
ciclista se ele não sabe quem ele é.
O ciclista, sincero, diz que não. E depois
pergunta: “Vá lá, então, quem é?” E Ronnie
Pickering, pensando que se trata da genuína
curiosidade de um ignorante, faz o favor de
revelar: “Ronnie Pickering”.
“Who?” responde o outro. “Ronnie
Pickering!”, volta a esclarecer a sumidade.
“Who?”, insiste. “Ronnie Pickering!” Até que
o ciclista, tendo Æcado na mesma, exclama
“Who the fuck’s that?”. E Pickering responde
imortalmente: “Me”.
Assisti hoje, na esplanada de um
restaurante, à mesma birra por parte do
embaixador de um país da União Europeia:
“Mas você sabe quem eu sou?”, repetia
apopleticamente.
Na mesa ao lado almoçava um casal pacato
e simpático que come sempre um bom peixe.
Estavam tão embrenhados nas amêijoas que
não deram por nada.
Perguntei quem eram. Eram Philippe e
Jasmine Starck.
8 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
As contra-ordenações do dia
O
Ricardo Cabral
Banco de Portugal, através de
edital publicado no PÚBLICO na
passada segunda-feira, notiÆcou
Tomás Correia, antigo
presidente do Montepio, de seis
contra-ordenações, tendo
igualmente notiÆcado
separadamente outros antigos
membros do conselho de
administração do Montepio.
O PÚBLICO informa que, entre essas
contra-ordenações, a mais importante, com
coima prevista entre 4000€ e 5.000.000€,
resulta de uma violação dos limites de
investimento: (1) em dívida pública (de nível
especulativo, i.e., com rating “lixo”) — no
Ænal de 2013 o Montepio tinha 3 mil milhões
de euros (3 mil M€) aplicados em títulos de
dívida com rating BB, a maior parte da qual
seria dívida pública nacional, quando os
limites deÆnidos pelo Banco de Portugal
seriam de 1,5 mil M€ — ; (2) em dívida da PT
Internacional (200 M€) e em produtos
derivados (75 M€), não tendo o PÚBLICO
indicado quais os limites deÆnidos pelo
Banco de Portugal para estas rubricas.
Segundo o PÚBLICO, na perspectiva do
Banco de Portugal, o conselho de
administração do Montepio teria cometido
uma infração ao “não ter reÇectido nas
contas divulgadas aos investidores a
informação acerca do impacto potencial na
solidez da instituição” das “obrigações
especulativas” (leia-se, dívida pública
portuguesa e dívida da PT) e “de produtos
complexos e de alto risco” (leia-se, os
referidos 75 M€ de produtos derivados).
Demasiado neste processo de
contra-ordenação incomoda
Foquemo-nos apenas no mais importante:
a violação do limite de investimento em
dívida pública nacional. O relatório e
contas da Caixa Económica Montepio Geral
(CEMG) relativo a 2013 revela na sua página
49: “A política de investimento da CEMG
pautou-se pela preferência por aquisição
de títulos de dívida pública nacional, o que
implicou signiÆcativas alterações na
estrutura da carteira de obrigações por
classe de rating (excluindo obrigações
hipotecárias e titularizações), com
aumento do peso das emissões com
notação de risco da República Portuguesa
(BB), de 62,6% para 76,6% do total da
carteira”, sendo que a carteira de títulos
mais do que duplica, com o banco a
aumentar o investimento em 2,1 mil M€.
Ou seja, a conÆrmar-se a referida notícia
do PÚBLICO, a contra-ordenação parece em
parte basear-se no facto d o conselho de
administração do Montepio ter decidido
MIGUEL MANSO
que essas obrigações devem ser ponderadas
com risco 0% para os rácios de capital da
banca.
É certo, as autoridades europeias
obrigaram, nessa altura, os bancos
portugueses a reconhecer perdas nessa
carteira de activos e passaram a realizar
testes de stress que impunham rácios de
capital elevados a títulos de dívida pública
portuguesa.
Banco de Portugal diÄcultou dívida ao
Estado e à banca em 2013
Com esta contra-ordenação, Æca-se a saber
que, numa altura em que Portugal ensaiava
um regresso aos mercados, pela porta das
traseiras, o Banco de Portugal diÆcultava a
vida ao Governo português, ao impedir os
bancos portugueses de aumentarem a sua
exposição à dívida pública portuguesa. Mas
também diÆcultava, e diÆcultou muito, a
vida à banca portuguesa, ao impedi-la de se
recapitalizar com as mais-valias que
resultaram da aquisição da dívida pública
portuguesa nesse período crítico.
De facto, em 2013, a dívida pública
a dez anos transaccionou-se, no mercado
secundário, a uma taxa de juro entre 6,8%
(no início de 2013) e 5% (em Dezembro de
2013). Ao longo de 2014, essa taxa de juro foi
caindo, atingindo 2,4% no Ænal desse ano. Ou
seja, o preço (valor) dos títulos de dívida a
dez anos, que se move numa relação inversa
aumentar a carteira de títulos de dívida da taxa de juro, subiu muito.
pública portuguesa de cerca de 1,1 mil M€ no Por conseguinte, essa “aposta
Ænal de 2012 para 3,0 mil M€ no Ænal de 2013. especulativa” do conselho de administração
Ora, uma das coisas que incomodam neste da CEMG em dívida pública portuguesa em
caso é saber que o 2013 terá sido muito lucrativa, tendo tido um
Banco de Portugal efeito favorável (i.e., positivo) nos resultados
estava a deÆnir e nos capitais próprios do banco em 2014 e
limites ao anos seguintes.
investimento em E agora vem o Banco de Portugal, segundo
dívida pública o PÚBLICO, argumentar que o conselho de
Que sinal portuguesa a bancos administração da CEMG cometeu uma
manda o a operar em infracção porque não divulgou
Banco de Portugal.
Com que direito?
suÆcientemente o facto que essa “aposta
especulativa” — que entretanto se sabe deu
Portugal aos muitos lucros —, poderia ter dado prejuízos
conselhos de Não deveria caber
ao Banco de
e, nesse caso, colocado em risco os rácios de
capital da CEMG?
administração Portugal impor Aliás, poder-se-ia até argumentar que o
de bancos limites ao conselho de administração da CEMG teve
investimento dos uma atitude “patriótica” ao investir em
portugueses? bancos em dívida dívida pública portuguesa, ajudando o
Que interesses pública nacional Governo português a Ænanciar-se e
defende nesta De facto, a dívida
pública portuguesa,
contribuindo para uma redução dos custos
de Ænanciamento da República, no
matéria o BdP? apesar do (então) momento-chave da intervenção da troika e
seu rating lixo, não numa altura em que o regresso aos mercados
deixa de ser dívida parecia incerto e que a economia portuguesa
pública e os acordos estava em recessão.
de Basileia e as Que sinal manda o Banco de Portugal aos
directivas e conselhos de administração de bancos
regulamentação portugueses? Que interesses defende nesta
europeias deÆnem matéria o Banco de Portugal?
A propósito de contra-ordenações…
Hesitei ao escolher estes tópicos. Seria fácil
escolher outro, também com interesse, mas
muito menos polémico, muito menos contra a
corrente do que “um diz mata e o outro diz
esfola” que parece dominar a actualidade.
Quase seis anos depois do facto, a CMVM
acusa Ricardo Salgado (e outros quatro
administradores do BES) de enganar
investidores no aumento de capital do BES de
2014, através de um processo de
contra-ordenação grave com coimas entre
25.000€ e 5.000.000€.
O aumento de capital do BES de Junho de
2014, de 1045 M€, ocorreu já após se conhecer
um buraco de 1200 M€ na ESI, holding do
Grupo Espírito Santo baseada no
Luxemburgo. O prospecto desse aumento de
capital, de 375 páginas, incluía 25 páginas
dedicadas aos factores de risco.
Se este caso tivesse sido único, poder-se-ia
pensar que, de facto, as autoridades de
supervisão foram enganadas e, sob pressão,
consentiram em aumentos de capital que
pouco mais tarde vieram a ser consumidos
por perdas escondidas.
Mas este não foi o único caso. Para citar
apenas dois:
Em Espanha, o Banco Popular realiza um
aumento de capital de 2,5 mil M€, em Junho
de 2016, sob exigência do BCE que, um ano
depois, é totalmente perdido em resultado da
aplicação de uma medida de resolução ao
banco, que cumpria os requisitos de capital,
com venda do mesmo por um euro (1€) ao
Santander.
Em Itália, investidores — incluindo uma
família italiana abastada que investe 400 M€
— participam em aumentos sucessivos de 2,2
mil M€ de capital no Banca Carige entre 2014
e 2017, que são sucessivamente consumidos
por perdas, para, perante mais uma exigência
de aumento de capital, baterem o pé ao BCE,
recusando-se investir mais 400 M€
(posteriormente revistos em alta para
900 M€). Os investidores (e accionistas) que
participaram nos aumentos de capital do
banco entre 2014 e 2017 perderam
praticamente tudo.
São demasiados casos para ser mera
coincidência. Até parece ter sido uma
estratégia deliberada. Para alguns, poucos, o
colapso de um banco como o BES (como o
colapso do Banco Popular e do Banca Carige,
entre outros) não foi uma crise, foi uma
oportunidade. E o aumento de capital no BES
um mês antes do seu colapso — colapso esse
determinado pela autoridade de supervisão e
de resolução, através da aplicação de uma
medida de resolução e da revogação de acesso
à liquidez do Euro-sistema —, parece ter sido,
para esses poucos insiders, o derradeiro
“engordar do banco antes do abate”!
Economista. Escreve à segunda-feira

Aeroporto de Lisboa:
o imperativo de corrigir um erro
Os acidentes ocorridos
recentemente com aviões de
médio-curso deveriam fazer
soar um alarme sobre a
proposta da Vinci para a pista
P
do aeroporto do Montijo
ortugal espera há 50 anos por um
novo aeroporto de Lisboa e não por
uma pista pequena, sem as
distâncias mínimas aconselháveis
de segurança na aterragem. Para
analisar este tema, é importante ter
em conta:
– É estimado que o movimento
aéreo em Lisboa aumente de 30
milhões de passageiros atualmente
para 65 milhões até 2062;
– A proposta da Vinci consiste em construir
no Montijo uma pista de dimensões reduzidas
e que apresenta sérias limitações de
segurança na aterragem;
– Esta pista de pequenas dimensões obriga
a manter a maioria do tráfego na Portela (~75%
do total, incluindo o longo curso), o que afeta
a saúde de mais de 300.000 pessoas na zona
de Lisboa e Loures devido ao ruído e gases
poluentes emitidos, e aumenta o risco de
acidentes sobre áreas densamente povoadas.
A pista que está planeada para o
aeroporto do Montijo tem um déÆce de
610m na distância de segurança na
aterragem
Os acidentes no Æm de pista são os mais
frequentes e não surgem apenas por uma
razão — “a aeronave viu-se forçada a
sobrevoar mais alto o ponto de aterragem”,
“o vento estava por trás”, “estava a chover”,
etc. —; nestes casos, a dimensão da pista e da
sua margem de segurança é crítica para
evitar consequências graves.
Os acidentes ocorridos recentemente com
aviões de médio curso deveriam fazer soar
um alarme sobre a proposta da Vinci para a
nova pista no aeroporto do Montijo e
lembrar-nos dos riscos que estas pistas
representam: nem há um ano em
Jacksonville, EUA, um avião caiu na água
depois de esgotar os 2750m de pista; no mês
passado, no Irão, um avião terminou numa
estrada depois de esgotar os 2800m da pista;
mais recentemente, em Istambul, na Turquia,
um avião caiu numa ribanceira depois de
esgotar os 3070m (mais 930m do que o
disponível no Montijo).
A extensão mínima de pista hoje em dia
recomendada na aterragem em aeroportos
para voos de médio curso é de 2450m. Esta é
a extensão que tem a pista de Faro e que, por
exemplo, o Governo francês impôs
recentemente no aeroporto de Nantes
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 9
ESPAÇO PÚBLICO
DANIEL ROCHA
aeroporto do Dubai), o que teria capacidade
para absorver 75% do tráfego, incluindo os
voos de longo curso.
O projeto que propomos conta com uma
pista híbrida, com parte em solução de
estrutura em betão armado (1400m), igual à
do aeroporto da Madeira, mas de menor
altura, desenvolvida pelo engenheiro
Segadães Tavares. O custo total estimado da
construção da pista em Alverca seria inferior a
150 milhões de euros, face aos 250 milhões de
euros da pista no Montijo.
A solução hub Alverca-Portela está a ser
desenvolvida desde 2016 e foi apresentada à
tutela no ano seguinte. Foi entregue também
uma Avaliação Ambiental Estratégica no Ænal
de 2018 e disponibilizada em www.
hubalvercaportela.com para consulta pública.
Em Janeiro de 2019 foi formalizada a
candidatura a Alternativa do Concedente ao
NAL, que é uma Ægura prevista no contrato de
concessão para a eventualidade da
concessionária apresentar uma alternativa
(concessão também Vinci). Com uma faixa within 1200 m longitudinally from the que não satisÆzesse as condições mínimas, o
RESA (Runway End Safety Area) superior a threshold.” que é o caso.
300m, as aeronaves devem ter no mínimo Na proposta da Vinci, o Montijo terá uma
uma distância disponível superior a 2750 m pista com uma distância de segurança na Há sempre tempo para priorizar a
antes de embater num obstáculo ou cair. A aterragem de 2140m até ao ano de 2062 segurança e saúde das pessoas e optar
pista que se propõe construir no Montijo tem (termo da concessão da Vinci), o que por outro caminho
uma distância total na aterragem de 2140m, o representa um déÆce de segurança inaceitável Com o hub Alverca-Portela, a capital do país
que Æca muito aquém do necessário. numa pista onde se querem movimentar 17 poderá ter um aeroporto com um excelente
milhões de passageiros em aeronaves nível de serviço e segurança, que respeite o
O problema da pista do Montijo é a maiores, transportando em média perto de bem-estar dos habitantes da cidade e com
distância de 2140m de segurança na 200 passageiros (actualmente 130). uma operação eÆciente e de qualidade. Com
aterragem e o facto de esta ser Esta pista terá, grosso modo, um custo direto a solução que propõe a Vinci, quem
inalterável de construção de 100 milhões de euros (65 assumirá a responsabilidade se ocorrer um
A pista do Montijo está limitada em milhões indicado no estudo de impacto acidente de Æm de pista no Montijo, ou no
comprimento a norte e a sul. A norte, devido ambiental mais a substituição de aterro por último quilómetro antes de aterrar na
ao muro de suporte que será necessário plataforma de betão sobre estacas). O custo da Portela? Será quem propõe a solução, quem
construir para manter o uso da estrada pista e da mudança militar signiÆca um total a defende, quem a aprova, ou seremos todos
militar. A sul, devido à superfície livre de de 250 milhões de euros numa pista com nós que fomos coniventes?
obstáculos necessária no canal navegável. menos 300m de distância de segurança na
Mesmo que a pista crescesse para sul, a aterragem que a pequena pista do aeroporto José Furtado, engenheiro civil, especialista
soleira de aterragem não se poderia mover, de Ponta Delgada. em Planeamento Estratégico de
continuando a 900m do bordo do canal, Infra-estruturas de Transporte;
para preservar uma altura livre de 18m na Uma alternativa em Alverca António Gonçalves Henriques,
aproximação das aeronaves (tal como em A envolvente da base aérea de Alverca engenheiro civil, professor do IST,
Veneza). O caso do permite a construção de uma nova pista ex-presidente da Agência Portuguesa do
Montijo é ainda mais paralela à atual da Portela, no mouchão da Ambiente;
exigente devido às Póvoa, atualmente degradado devido à Ricardo Reis, professor da Universidade
dimensões em altura inundação por água salgada, junto da Católica de Lisboa;
das embarcações margem do rio Tejo. Esta pista teria um Rui Vallejo de Carvalho, professor da
Com o hub que navegam no alinhamento sobre plano de água nos dois Universidade Católica de Lisboa;
canal. O lados, uma extensão de 4200m e uma largura António Segadães Tavares, engenheiro
Alverca- regulamento ICAO de 75m, disposição que ofereceria o mais civil, autor dos projectos premiados da
-Portela, a (International elevado nível de segurança tanto em termos ampliação do aeroporto da Madeira e do
Pavilhão de Portugal da Expo ’98, entre
capital do país Standards and
Recomended
de saída de Æm de pista ou saída lateral,
como em termos da população de Lisboa. outros;
poderá ter um Practices — Anexo 14) Esta nova pista permitiria a construção de António Carmona Rodrigues, engenheiro
aeroporto com é claro no seu art.º
10.1.1: “Mobile objects
um hub com quatro pistas, duas em Alverca
(uma já existente) e duas na Portela (que já
civil, professor da UNL, ex-presidente da
Câmara Municipal de Lisboa;
um excelente (vehicles on roads, existem). Alverca e Portela funcionariam Fernando Nunes da Silva, engenheiro civil,
nível de serviço trains, etc.) at least como dois núcleos interligados por um Urbanista, professor do IST;
within that portion of comboio ligeiro automático. A área do núcleo Luís Póvoa Janeiro, professor da
e segurança the approach area de Alverca seria de 1200ha (similar à do Universidade Católica
10 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
POLÍTICA
“Um grupo torna-se sempre mais
unido se tiver algo para odiar”
Fathali Moghaddam, iraniano e professor
de Psicologia na Universidade de
Georgetown, diz que os extremos em
conÅito beneÄciam da tensão que criam.
E critica a sua crescente radicalização
Democracia
Liliana Borges
“As revoluções mudam regimes, mas
nem sempre conduzem a democra-
cias.” As palavras são de Fathali
Moghaddam, professor de Psicologia
na Universidade de Georgetown, nos
Estados Unidos. Natural do Irão,
Moghaddam especializou-se em Psi-
cologia da Democracia e das Ditadu-
ras depois de ter vivido as conse-
quências da revolução iraniana em
1979. Fala das consequências da glo-
balização, culpa os responsáveis
políticos pelo medo e ansiedade que
os desaÆos de uma sociedade mais
aberta trouxeram consigo e lembra
que a união de um grupo é tanto
maior se existir um alvo para odiar.
Pelo meio, aponta o dedo à comu-
nicação social por dar palco a vozes
autoritárias que “fazem uso da
democracia para a destruir”. O aviso
de Moghaddam é feito a pisar Lisboa,
a convite da Universidade Católica
Portuguesa, na Winter School for
The Study of Communication, onde
falou da “ameaça à democracia
numa época de incerteza”.
A viver nos Estados Unidos há 30
anos, não hesita em tecer críticas ao
Presidente norte-americano. Para o
psicólogo e académico iraniano,
Donald Trump é um exemplo perfei-
to dos líderes autoritários que se tem
dedicado a estudar: “Antidemocrá-
tico, Trump age em função do que
mantém as suas bases de apoio em
alerta, o que frequentemente o con-
duz ao extremismo e radicalização
de posições”. O que é uma estratégia
usada pelos líderes autoritários
“para distrair das suas próprias fra-
quezas e problemas e manter o foco
nas ameaças externas”, explica
Moghaddam.
De acordo com o professor e inves-
tigador, o “populismo e a liderança
forte de homens é uma reacção con-
tra experiências psicológicas que as
pessoas têm e que resultam da glo-
balização”. Isto porque a globaliza-
ção trouxe o aumento de ansiedade,
de medo e de percepção de ameaças.
“O medo de ser invadido, de as cul-
turas serem invadidas, de as terras
serem atacadas ou das formas tradi-
cionais de vida serem enfraqueci-
das”, enumera. Medos que chegaram
porque os responsáveis políticos não
souberam educar os cidadãos sobre
os desaÆos da globalização. “Se as
pessoas se sentirem ameaçadas, vão
dar menos importância à defesa e
igualdade dos direitos humanos”,
exempliÆca.
Para Moghaddam, durante as últi-
mas décadas, não soubemos defen-
der a democracia. “Não Æzemos o
suÆciente. E, como não o Æzemos, as
consequências são resultados como
o ‘Brexit’”, considera. “As pessoas
deviam ter previsto isto nos anos 80,
com a imigração em massa para o
Reino Unido. Nada foi feito. Se o
tivessem feito, se tivessem tranquili-
zado as pessoas, não teríamos o ‘Bre-
xit’, que se deve, em larga parte, à
ignorância, tensão e medo”, consi-
dera. Sentimentos explorados pelos
líderes autoritários para potenciali-
zarem o seu poder.
O conÇito entre o Irão e os Estados
Unidos, exempliÆca, mostra dois
líderes “muito agressivos e autoritá-
rios” que olham para essa tensão
como uma forma de mobilizarem
mutuamente a sua base. A estratégia
é recorrer à união de um grupo atra-
vés do ódio a um elemento em
comum. “Infelizmente, o processo
psicológico mostra que é muito mais “É um processo dinâmico em que as Mais do que enfraquecer o regime o medo criado em sociedade. “O
fácil unir as pessoas contra outros. duas partes se empurram uma a iraniano, Donald Trump está a forta- medo de que estejamos a declinar, o
Se eu quiser unir um grupo, posso outra, respondendo ao que procu- lecê -lo, considera Fathali medo de que nos estejam a atacar, o
fazê-lo muito mais facilmente se tiver ram as suas bases”, continua o psicó- Moghaddam. Isto porque potencia medo de que os refugiados nos este-
um outro grupo para odiar. E é este logo. É um processo muito destruti- uma “tensão suspensa” entre ambos jam a invadir, o medo de que a nossa
o processo que os líderes autoritários vo, nota, porque aumentam os extre- que fortalece a base de apoio do regi- cultura esteja sob ataque, o medo de
usam”, conta o psicólogo iraniano mistas e diminuem as alas mais me iraniano. “Neste caso, os dois que ataquem a nossa religião. Toda
numa conversa com o PÚBLICO. moderadas. líderes em conÇito não querem guer- esta ansiedade cria espaço para
O processo de radicalização é E na era do imediato, essa radica- ra. Eles apenas precisam desta tensão potenciais líderes autoritários e dita-
mútuo, beneÆciando os dois lados do lização recebe um empurrão: as para manter o seu poder em alta, ali- dores.”
conÇito. “Os grupos e nações empur- redes sociais. “Infelizmente, perde- mentando-se um do outro”, avalia o Para contrariar essa narrativa, é
ram-se mutuamente para os extre- se o discernimento, como aconte- académico. Um exemplo que pode- preciso criar mais compreensão face
mos, até porque a radicalização não ceu com os EUA e Irão, e somos mos transportar para várias lutas de ao outro. “É por isso que falo de
acontece num vácuo. Acontece na submetidos a uma liderança mais poder na sociedade, diz. ‘omniculturalismo’”, uma aborda-
relação com outra parte”, sublinha. agressiva.” O maior amigo da radicalização é gem de interacção que foca nas seme-

lhantes para com o outro, em vez de
destacar as diferenças. “Posso focar-
me em si, e em como é diferente de
mim, ou posso olhar para si e ver
quão semelhantes somos também”,
simpliÆca.
Para Moghaddam, um dos desaÆos
é a pressão para que a comunicação
social dê o mesmo espaço e tempo a
todos os grupos. “Acredito que devía-
mos ser mais corajosos e excluir gru-
pos que mintam. Se um partido disser
muitas mentiras, então é legítimo que
alguém decida que não merece o
mesmo tempo de antena”, defende.
O iraniano
Fathali
Moghaddam
especializou-se
em Psicologia
da Democracia
e das Ditaduras
SARA JESUS PALMA
Antecipando que esse é um cená-
rio que trará críticas e um potencial
recurso à vitimização, o psicólogo é
peremptório. “É um julgamento,
concordo. Mas é imperativo escolher
um lado. Se não o Æzermos, estamos
a dar poder a pessoas que querem
acabar com a democracia. Acredito
que se não lhe dermos essa platafor-
ma, a sua carta de vitimização torna-
-se menos eÆcaz.”
Sobre a ineÆcácia de algumas revo-
luções, Moghaddam responde com
o mais moroso processo: o da
mudança de mentalidades. “A demo-
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 11
Se as pessoas se
sentirem O centro vai engordar
ameaçadas, vão
dar menos
responsável e rejeitou onerar as
importância à contas públicas, mesmo que isso
defesa e igualdade o tivesse feito passar por
momentos de aÇição, como o
dos direitos caso das votações sobre o tempo
humanos de serviço dos professores ou
Opinião sobre a redução do IVA da
Os grupos e nações Sónia Sapage electricidade para 6%.
Não sei se já terá sido essa
empurram-se O populismo, os terrores do tentativa de mudar a geograÆa
autoritarismo e a radicalização do partido (para o aproximar
mutuamente dos discursos são três das daquilo que ele era em 1978) que
para os extremos, preocupações mais actuais de pôs o PSD numa conversa
uma parte da classe política. improvável com o Bloco de
até porque Enquanto uns partidos nascem Esquerda e com o PCP sobre o
a radicalização e se aproximam dos extremos, IVA da electricidade, cavando
outros, mais tradicionais, com um fosso em relação ao CDS no
não acontece mais história, aproximam-se do Parlamento. DesconÆo bem que
num vácuo. centro. É o caso do PS e, não. Não serão assim tão largas
sobretudo, do PSD. as margens da
Acontece na Rui Rio deixou claro, na sua social-democracia.
relação com intervenção inicial no congresso Uma coisa é certa: ao
do partido, que é ao centro que o verbalizar o afastamento do
outra parte PSD pertence. O PSD não é da partido em relação a tudo o que
direita, é do centro — rejeita podem ser extremismos, o líder
populismos e extremismos. “As do PSD vai contribuir para
Toda esta nossas margens são, desde engordar o centro e aumentar a
ansiedade cria sempre, a social-democracia e o pressão sobre os eleitores desse
nosso caudal é a conÆança dos espaço político, o que é uma
espaço para portugueses”, disse, na estratégia política perfeitamente
potenciais líderes sexta-feira, o líder do PSD, aceitável. “É onde estão os votos
usando a analogia entre o e se ganham eleições”, lembrou
autoritários partido e um rio (com margens e Nuno Morais Sarmento. “O
e ditadores caudal), o que combina centro é a primeira trincheira da
perfeitamente com o seu próprio direita, e a última da esquerda.
Fathali Moghaddam apelido. Nessa linha da frente está o
Professor “Somos um partido nosso partido”, disse ainda o
moderado, reformista e vice-presidente do PSD.
personalista”, acrescentou, para O que não parece tão certo é
depois citar Francisco Sá que esse plano agrade a todo o
Carneiro, que, em 1978, disse: PSD, que nos próximos meses
“Nós, PSD, não temos qualquer vai ter de gerir uma estratégia de
aÆnidade com as forças da alianças, desta feita com o CDS,
cracia precisa de tempo para ser direita, nós não somos nem em matéria autárquica. Sim, o
construída, tem de haver mudanças seremos nunca uma força de PSD de Rui Rio (que critica o
psicológicas na forma como as pes- direita”. Rui Rio quis Governo por estar marcado pela
soas pensam e agem. E isso leva tem- reposicionar o seu PSD ao ideologia comunista) quer
po”, analisa. “Somos alunos lentos. centro, conquistando-o à direita, negociar com o PS a reforma do
E isso é problemático. Para aprender para onde se deslocou em vários sistema político e da justiça, mas
com a história, temos de aprender momentos do seu passado em não vai desistir de governar com
História, o que nem sempre aconte- que assumiu responsabilidades o CDS. O PSD é centro, mas
ce. Não aprendemos sobre ela, não governativas. também é direita. Negá-lo é
lemos sobre ela.” “A História é mais A viragem do partido ao negar o patchwork de várias
valiosa do que tudo. Mas não diga centro foi tudo o que o líder do sensibilidades que esteve na
isso aos meus amigos de Psicologia”, PSD não foi capaz de fazer, sem origem do próprio partido.
termina, com um sorriso. contestação, nos últimos dois
anos. Rio moderou o discurso, Jornalista. Escreve à segunda
liliana.borges@publico.pt tentou fazer uma oposição sonia.sapage@publico.pt
12 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
POLÍTICA
Eu sou português!
Opinião
Elísio Macamo
É uma sensação estranha emitir
uma opinião algo divergente sobre
um assunto que constitui uma
espécie de standard para vários
amigos com os quais estou
plenamente de acordo. Corro, com
isso, o risco não só de
comprometer o excelente trabalho
cívico de consciencialização que
eles fazem, mas também de
parecer dar alento a pessoas que
me parecem pôr em causa os
fundamentos éticos que viabilizam
a democracia portuguesa. Mas é
assim, eu acho que, no fundo,
somos todos racistas. Há racistas
bons, nós, portanto, e racistas
maus, os outros. Nós, os bons,
reconhecemos tacitamente a
validade da categoria racial pela
forma como a usamos para exigir
que a existência de humanos mais
escuros que outros não constitua
razão, nem justiÆcação, para que
sejam tratados de forma injusta. Os
maus, pelo contrário, partem do
princípio de que essa existência
constitui razão mais do que
suÆciente para que o tratamento
seja diferente.
Nós, os bons, vivemos um
paradoxo doloroso que consiste em
reaÆrmar justamente o que
queremos fazer desaparecer da
cabeça das pessoas como forma de,
um dia, prescindirmos dessa coisa
em prol duma vida decente. A
resistência que os maus opõem
tranca-nos nesse paradoxo e faz de
nós reféns do nosso apurado
sentido de civismo. Quanto mais
insistimos em apelidar os maus de
(mais) racistas, mais perdemos o
controlo sobre a narrativa porque
eles podem, sem vergonha na cara,
usar o nosso ponto de partida, que
consiste na ideia de que do ponto de
vista biológico a ideia de raça não
faz absolutamente nenhum sentido,
para nos dizerem que “somos todos
humanos”. Nós sabemos, e eles
também sabem, que todos sabemos
que eles sabem que estão a
perverter o sentido do que nós
dizemos. A nossa preocupação é
NUNO FERREIRA SANTOS
com a justiÆcação do trato
diferenciado, enquanto a deles é
com a melhor maneira de ocultar a
vileza cívica da sua postura.
É essencialmente a mesma coisa
quando uma pessoa de pele clara, e
normalmente sensata, reage ao
nosso discurso anti-racista com
recurso à ideia de que ela também
seria vítima de racismo em África ou
em meios dominados por pessoas
de pele escura. Essa pessoa também
sabe que nós sabemos que ela sabe
que todos sabemos que não
estamos a falar da mesma coisa. Ela
refere-se ao tratamento que recebe
dos escuros, muitas vezes em
circunstâncias em que essa pessoa
foi colocada no lugar onde se
encontra por toda uma estrutura
histórica de privilégios, a qual, por
vezes, reduz drasticamente o
mérito que essa pessoa possa ter
tido para alcançar essa posição. A
pessoa de pele clara não tem culpa
por ter beneÆciado disso — e há
também pessoas de pele clara que
pouco benefício tiram duma dia, fazer o mesmo recurso contra Então, um agente policial ou de
história viciada a seu favor —, mas o “alentejanos”, “minhotos”, segurança maltrata um
argumento dos racistas bons é “comunistas”, “portugueses na afro-descendente e nós reagimos
justamente esse. Nós não temos diáspora”, etc.. Essa é a história da dizendo que ele é racista. Tudo
nenhuma obsessão especial com a demagogia por todo o lado. É, para bem. Mas antes de ser racista é um
“raça”. Nós insurgimo-nos contra as Na verdade, usar uma imagem empregue uma mau agente policial, é um
condições estruturais que ditam a vez por um Presidente americano, brutamontes, é, nos termos de
sorte de alguns por conta da não há bons como urinar nas próprias calças. algumas leis, um criminoso. E se ele
instrumentalização ideológica de racistas e maus Num primeiro momento, é bem diz que age assim porque os
aparentes diferenças. quentinho, mas depois esfria e “negros” merecem, então ele é pior
O que acontece aqui, na verdade, racistas. Há incomoda. do que isso. É um imbecil. Não
é que somos todos vítimas dum pessoas com Há aqui um problema intelectual existe nenhum sistema moral que
processo de racialização, daí a bicudo. Nós, os bons racistas, sancione a brutalidade contra
importância do conceito “sujeitos sentido cívico somos intelectualmente profundos. aquele que é tido como sendo
racializados” empregue por alguns. apurado, O “sujeito racializado”, para nós, é diferente e continue incólume do
O que essa racialização faz não é uma metáfora dolorosa sobre o que ponto de vista ético. Esse sistema
necessariamente reaÆrmar a raça, portanto, ainda falta fazer para que o desumaniza-se automaticamente. E
mas sim usá-la para perverter a portugueses fundamento normativo que dá os bons racistas são pela
nossa humanidade que é real. substância à ordem política humanização. Na verdade, não há
Portanto, a nossa luta não é de verdade portuguesa entre em sintonia bons racistas e maus racistas. Há
necessariamente contra quem acha consigo próprio. O mau racista, pessoas com sentido cívico apurado,
que a existência de diferenças regressar “às origens”, ele não está esse não tem imaginação. Toma as portanto, portugueses de verdade.
raciais justiÆca que os mais escuros apenas a ser (mau) racista. Ele está a coisas ao pé da letra e faz uso da E há pessoas que não aceitam os
ou os mais claros sejam tratados de revelar a distância que o separa dos “raça” para articular todos os valores que deÆnem Portugal,
forma diferente, mas sim contra valores democráticos (assim como, preconceitos que o desqualiÆcam portanto, súbditos das suas paixões.
quem acha que essa diferenciação pelo recurso à falácia do ataque à como membro da sociedade São imbecis. Não sabem quão
seria compatível com o sentido de pessoa, a incapacidade de discutir) política, por a ela ser nocivo. grande é a humanidade. Porque
humanidade que a ordem política e, acima de tudo, ele manifesta uma Curiosamente, não é por causa dele acredito que Portugal é, pelo
portuguesa promove e protege. Dito postura política oportunista que e de gente da sua laia que Portugal fundamento normativo posto a
doutro modo, nós somos os não devia deixar ninguém é, apesar de tudo, aquilo que o país descoberto por todos aqueles que
defensores do que de mais nobre sossegado, sobretudo aqueles que de bom tem, mas sim apesar dele e lutam contra a racialização, a
existe nesta ordem política e hoje se sentem protegidos por esse de gente da sua laia. Quando humanidade, sou também
estamos perante os seus inimigos. deputado. Da mesma forma que insistimos em chamar a esta gente português. Bom, até certo ponto!
Os “portugueses” somos nós, não hoje convém ao deputado racista, proporcionamos a ela uma
eles. instrumentalizar a opinião popular excelente cobertura para ocultar o Professor de Sociologia
Quando um deputado diz que contra as minorias raciais, vai-lhe seu ténue compromisso com a e Estudos Africanos,
uma colega deputada devia interessar (potencialmente), um humanidade. Universidade de Basileia
 Interrogar
o passado
para perceber
o presente
Uma colectânea de 12 ensaios e 12 entrevistas a reputados
especialistas internacionais sobre eventos históricos
que marcaram e construíram o presente. Partindo de temas
como os direitos humanos, a questão racial, a globalização,
as políticas do medo e da histeria colectiva organizada,
este livro resulta numa versão desenvolvida da série
com o mesmo nome publicada no P2. Uma visão
retrospectiva do passado que questiona o mundo

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Co-edição Sandrine Kott
14 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
SOCIEDADE
Há países europeus onde a justiça
é mais demorada do que a nossa
Rui Patrício O primeiro-ministro
António Costa aludiu ao caso Madoæ
para condenar a lentidão da justiça
portuguesa. Só por ignorância se pode
fazer esta comparação, diz o advogado
Entrevista
Ana Henriques (texto)
e Nuno Ferreira Santos(foto)
Tem defendido arguidos de
praticamente todos os
megaprocessos que surgiram em
Portugal: Operação Marquês, Face
Oculta, Operação Fizz. A exercer há
duas décadas e meia, o penalista
Rui Patrício fez até há pouco tempo
parte do Conselho de Prevenção da
Corrupção e também já integrou o
Conselho Superior da Magistratura.
Membro do conselho de
administração da Fundação
Berardo, órgão em que representa
os interesses do Estado, não
descarta tornar-se um dia
bastonário dos advogados ou
mesmo deputado.
O Presidente da República
aludiu, uma vez mais, à lentidão
da justiça na abertura do ano
judicial, no mês passado.
Continua a ser um problema?
Tem-se a ideia de que a justiça é
mais demorada do que aquilo que é
na realidade. Desde que me tornei
advogado, há 25 anos, em geral
melhorou muito. As pessoas falam
muitas vezes de cor, com base em
impressões e sem saberem de que
estão a falar. Se o Presidente da
República se referia a casos
concretos, não sei comentar. Se
pretendia fazer uma metáfora sobre
a importância da celeridade
processual para exortar o legislador
e os actores judiciários a
empenharem-se a serem mais
céleres, sem prejuízo da
profundidade necessária ao tempo
da justiça, estou de acordo. Mas a
celeridade não pode ser conseguida
à custa de coisas essenciais como as
garantias de arguidos e ofendidos e
a busca da verdade material —
embora também seja verdade que
quando demora muito tempo já não
chega a tempo. Não podemos
avaliar o sistema em função de 20
ou 30 megaprocessos.
Essa lentidão estende-se às
acções executivas e aos
tribunais administrativos e
Æscais...
Existem áreas onde a demora ainda
é patológica. Mas os exemplos que
deu não representam a totalidade
do sistema de justiça. A maioria dos
processos demora hoje um tempo
razoável a resolver-se. E há países
como a Espanha, Itália e França
onde a justiça é mais demorada do
que a nossa. Nas áreas onde as
demoras se fazem sentir só lhe
posso falar dos megaprocessos, que
é aquela que conheço. E há
megaprocessos que, por serem
grandes e complexos, têm de levar
o seu tempo — que não é compatível
com o tempo das notícias.
Os megaprocessos são
inevitáveis?
Não há uma obrigação legal de
juntar tudo no mesmo processo.
Bem sei que há uma tradição e
também regras de conexão
processual. Que há um certo gosto
por parte das autoridades da
investigação em fazer
megaprocessos. Mas não há
nenhum impedimento legal à
separação dos processos. Às vezes opinião pública e das Dê-me um exemplo concreto...
tenho diÆculdade em compreender consequências que isso tem no Numa sala com 20 cadeiras o
por que não se fatiam os próprio processo. Quanto maior for, princípio da legalidade obriga-me a
megaprocessos. mais impressiona. investigá-las a todas. O da
Será possível fazê-lo em todos os Por outro lado, há 15 anos que ouço oportunidade permite-me escolher
casos? Tenho dúvidas o discurso da falta de meios. Se quais delas investigo, de acordo
Na maior parte. Nomeadamente calhar não há um problema de falta com critérios pré-Æxados: as coisas
naqueles que juntam muitos sobre a de meios em Portugal. A questão é mais importantes, mais urgentes...
arguidos e factos sem ligação entre necessidade de como é que os usamos. A justiça os anglo-saxónicos usam este
si. E não é preciso rever a lei. São portuguesa tarda em enfrentar uma princípio. Nós adoramos comparar
opções. Vamos lá a ver: os classiÄcar questão inevitável, apesar de ela ser coisas incomparáveis. Ouço às
megaprocessos têm vantagem do legalmente todos contrária à nossa ordem jurídica: a vezes: “Noutros países os processos
ponto de vista do aligeiramento da da legalidade versus oportunidade andam tão rapidamente”. Não é tão
prova: podem criar-se padrões de os processos de nos processos. verdade quanto isso e, nalguns
prova do sector A e exportá-los para violência O que é isso? casos, estamos a fazer comparações
o sector B. E têm peso, têm força. Não podemos continuar a lamentar com realidades anglo-saxónicas, e
É uma questão de prestígio do doméstica como a demora e ao mesmo tempo a não com a Europa continental.
Ministério Público? urgentes. Isso investigar tudo o que surge num Existem também na justiça
É uma questão de dimensão: tendo caso, da linha de coser até ao anglo-saxónica soluções de justiça
uma certa dimensão, o processo provoca um alÆnete, à agulha e ao dedal. negociada, ligadas também ao
esmaga. E isso, do ponto de vista da afogamento do Enquanto vigorar este princípio de princípio da oportunidade, que são
dinâmica processual, tem alguma legalidade, vamos ter outra forma de conseguir soluções
importância, pela repercussão na Ministério Público megaprocessos intermináveis. mais céleres. Não é com mais quatro

peritos e três magistrados que se vai
resolver o problema dos
megaprocessos.
E pode não se investigar
matérias que conÆgurem ilícitos
criminais?
É isso que acontece no Reino Unido
e nos EUA. Quem tem a
responsabilidade de investigar
escolhe. Os critérios podem ser
Æxados numa lei de orientação de
prioridades de investigação
criminal, ou pela hierarquia do
Ministério Público, ou pelo titular
do processo concreto, que justiÆca a
sua opção. Nos países em que este
princípio vigora, nunca ninguém
morreu por causa disto. Vamos
imaginar que em determinado ano
se dá prioridade à investigação dos
crimes A, B e C. Deixam-se de lado
os crimes D, E e F. Enchemos a boca
com comparações com os EUA — às
vezes até com comparações
erradas. Quando se diz: “Ah, o
processo Madoè foi tão rápido...”
Não foi nada, é ignorância.
Está a chamar ignorante ao
primeiro-ministro, que fez
recentemente uma aÆrmação
desse género?
Não. Estou a dizer que aÆrmar que
o processo Madoè foi rápido é
ignorância. Demorou até bastantes
anos, e tem muito que se lhe diga.
As pessoas é que só lhe conhecem
o Æm.
Se a celeridade não é um
problema, quais são os
problemas da justiça
portuguesa?
A fundamentação das sentenças dos
juízes, que deve ser mais simples e
mais ligada ao caso concreto, com
menos citações. E questão das
custas judiciais, que afecta a
esmagadora maioria dos utentes da
justiça, por não estarem ao alcance
do cidadão médio.
O que defende, a esse nível?
Uma redução signiÆcativa e a
adaptação das custas às verdadeiras
possibilidades das pessoas, como
nos impostos. Podemos medir isso
pelo IRS ou de outra forma. Outro
tema importantíssimo é o do apoio
judiciário É preciso que o Estado
pague bem e a tempo e horas aos
defensores oÆciosos. É preciso
rever os honorários. E depois tem
de se avaliar o modo como o apoio
judiciário é exercido, porque neste
momento não há mecanismos de
escrutínio.
Os jovens advogados que
trabalham para as grandes
sociedades são mantidos em
situações precárias?
Isso é um mito total, uma ideia
demagógica. Na generalidade das
grandes sociedades, a sua situação é
confortável. São bem remunerados.
Ganham mais do que o ordenado
médio português e têm direitos, não
são proletarizados. Se calhar têm
uma situação precária é nos
escritórios mais pequenos.
Também tem tido casos de
violência doméstica. Como
encara este fenómeno na
sociedade portuguesa, que
parece não regredir, e as
medidas anunciadas pelo
Governo?
Embora seja um problema real, o
discurso sobre a violência
doméstica também está na moda.
É preciso não
cairmos no
exagero. Do ponto
vista jurídico,
é discutível
se os animais
têm direitos
Não estou com isto a tirar
dramatismo a estas situações,
algumas das quais são tenebrosas.
O que estou a dizer é que, enquanto
sociedade, funcionamos por ciclos,
e agora não se fala noutra coisa —
o que tem o efeito de se achar que
Portugal é um país cheio de
violência doméstica, quando hoje
há muito menos violência
doméstica do que há 30 anos.
O perigo é o de se banalizar o
discurso sobre o assunto. E existem
muitas queixas que são armas de
arremesso: as pessoas têm
desavenças e queixam-se de
violência doméstica para ganharem
vantagem processual ou se
vingarem da outra parte.
Tenho dúvidas sobre a necessidade
de classiÆcar legalmente todos os
processos de violência doméstica
como casos urgentes, como sucede
actualmente, porque isso provoca
um afogamento por parte do
Ministério Público, que tem de lidar
com eles e signiÆca que os
verdadeiramente urgentes andam
com a mesma celeridade ou falta
dela do que aqueles que o não são.
Como encara a delação
premiada?
Se falamos de um sistema como o
brasileiro, em que há um contrato
escrito que incentiva sobretudo a
incriminação de terceiros em troca
de uma determinada consequência
processual, sou contra. Se estamos
a falar de uma colaboração como a
que já existe na nossa Lei da Droga,
em que a assunção de determinadas
responsabilidades e o contributo
para a descoberta de eventuais
responsabilidades de terceiros pode
ter determinada consequência ao
nível da pena, sou a favor. Aqui a
pessoa não sabe em que pena vai
ser condenada. As declarações do
colaborador premiado não podem
ser encaradas como uma verdade
absoluta e universal, como acontece
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 15
no Brasil, em que tudo o que ele diz
está certo, sobretudo quando dá aos
investigadores aquilo que eles
querem. Têm de ser valoradas com
a devida cautela e conÆrmadas por
outros meios de prova.
As intenções do Governo
português nesta matéria
agradam-lhe?
Não são suÆcientemente
detalhadas. Mas o que retiro como
orientação geral é mais uma solução
próxima do que defendo do que da
solução brasileira.
Marcelo Rebelo de Sousa instou
os parceiros da justiça a
Ærmarem um pacto contra a
corrupção...
Tudo o que sejam exortações para
que os operadores judiciários se
entendam, acho muito bem. Eu
preferia um pacto para a justiça.
A corrupção, tal como a violência
doméstica, passou a estar na
agenda.
A procuradora-geral da
República mencionou, na
abertura do ano judicial, a
forma como a criminalidade
económico-Ænanceira se cola à
pele do poder político e
económico. Quer comentar?
Admiro a coragem das pessoas que
hoje em dia aceitam certos cargos,
apesar de isso as colocar
imediatamente sob suspeita. Hoje
em dia as notícias são sobre meia
dúzia de temas, com os processos
criminais à cabeça. Tornou-se quase
um entretenimento. Tudo isto
conjugado, mais a crise e o maior
escrutínio dos cidadãos, levou a um
caldo sociológico em que há uma
enorme presunção de culpa. O que,
a continuar, nos poderá conduzir à
complicada situação de não termos
pessoas disponíveis para
desempenhar esses cargos.
Vê-se a desempenhar um desses
cargos?
Executivos, não.
E bastonário dos advogados?
Vou dar-lhe aquela resposta que dão
os políticos quando não querem
dizer que sim nem que não: não
vejo nem deixo de ver. Não está nos
meus projectos, mas também não é
uma coisa que exclua. Se me
perguntar se me vejo como
ministro, digo-lhe que não, não
tenho apetência nem perÆl.
E como deputado?
Talvez.
O Tribunal Constitucional vai
Leia a entrevista na íntegra em
www.publico.pt
pronunciar-se um destes dias
sobre a lei que criminaliza os
maus tratos aos animais. Como
vê o súbito interesse da
sociedade portuguesa por estas
questões?
Adoro animais e tive vários cães ao
longo da vida, um deles durante 15
anos, de quem gostava muitíssimo.
Morreu de velhinho. Não posso ser
mais sensível à questão dos animais.
Dito isto, é preciso não cairmos no
exagero. Do ponto de vista jurídico,
é discutível se os animais têm
direitos. Ainda que os possuam,
tenho muitas dúvidas de que
constituam um bem jurídico que
implique a intervenção do direito
penal.
Quais são, neste momento, os
principais problemas que
enfrentam os advogados?
A falta de trabalho. Há mais de
30 mil advogados no país.
Como se resolve?
A quantidade de trabalho não
aumenta por decreto. Tem a ver
com a dinâmica da economia, com
a sociedade, com circunstância não-
-domináveis. Reduzir o número de
advogados é um problema, porque
é uma proÆssão libertal. Teríamos
de lidar com questões como quotas,
um acesso mais restrito à proÆssão
ou então fechar a torneira nas
faculdades de Direito. Mas não sei
como se resolve esta equação. A
OCDE e as autoridades da
concorrência estão a tentar acabar
com os advogados, abrindo a outras
proÆssões actos que são próprios
dos advogados. E isso é um
problema não só para os advogados
como para as pessoas, piorando a
cidadania e a defesa dos direitos,
liberdades e garantias.
Como encara a polémica em
torno dos poderes das cheÆas
do Ministério Público?
Como muito barulho por pouco. O
Ministério Público é hierarquizado,
e isso não pode ser uma fórmula
vazia ou protocolar. Autonomia é
compatível com hierarquia, e
existem mecanismos vários de
salvaguardar essa compatibilidade,
e ainda a consciência do magistrado
e a transparência. E os
procuradores não são juizes. Já
para não falar nos vários “processos
de intenções” e no costumado
bicho papão da politização.
ana.henriques@publico.pt
16 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
SOCIEDADE
Tribunal de Braga inicia
instrução do processo da
AIMinho com 126 arguidos
Justiça
Natália Faria
Em causa está desvio de
quase dez milhões de
euros. Ex-presidente da
AIMinho, António Marques,
é acusado de 76 crimes
O processo judicial que envolve a
extinta Associação Industrial do
Minho (AIMinho) entra hoje na fase
de instrução no Tribunal de Instru-
ção de Braga, quase um ano depois
de o Ministério Público ter deduzido
acusação contra 126 arguidos (79
singulares e 47 empresas) suspeitos
de associação criminosa, burla qua-
liÆcada, branqueamento, falsiÆcação
e fraude Æscal e na obtenção de sub-
sídios no valor de quase dez milhões
de euros.
De acordo com a acusação, a AIMi-
nho e várias empresas que gravita-
vam à sua volta foram utilizadas
pelos arguidos, entre 2008 e 2013,
para obterem subsídios de forma
fraudulenta, “surgindo, no contexto
de operações co-Ænanciadas por fun-
dos europeus, como fornecedores
de bens e serviços que, na realidade,
não eram prestados” ou “candida-
tando-se a subsídios com projectos
que nunca tencionavam executar”.
“Ficou igualmente indicado que os
arguidos agiam de forma organizada
e recorriam à emissão de facturas
falsas, através de acordos estabeleci-
dos entre as várias entidades deste
universo, conseguindo também
diminuir artiÆcialmente a matéria
colectável e pagar menos impostos”.
E os proveitos obtidos com tais con-
dutos eram “reintroduzidos na eco-
nomia lícita depois de passarem por
circuitos Ænanceiros triangulados e
enganosos”, acrescenta a acusação,
na qual, ao longo de mais de três mil
páginas, se pormenoriza a forma
como o dinheiro era reintroduzido
na “economia lícita”, fosse pela cria-
ção de prémios complementares a
salários em montantes superiores
a 25 mil euros anuais, fosse pela cria-
ção de falsas deslocações para justi-
Æcar o pagamento de ajudas de custo
e quilómetros ou pela oferta de car-
tões-presente em estabelecimentos
comerciais, bem como de telemóveis
ou vinhos. Nas contas dos investiga-
dores, que analisaram 109 operações
distintas co-Ænanciadas pelos fundos
Abertura de instrução visa decidir se os arguidos vão a julgamento
A acusação
sustenta que
ex-presidente
da AIMinho
recebeu 2,6
milhões do BES
por “rendimentos
de trabalho”,
apesar de nunca
ter trabalhado
no banco
europeus e pelo Orçamento do Esta-
do, os arguidos obtiveram uma van-
tagem ilícita “num montante supe-
rior a 9 milhões e 700 mil euros”.
Ligações ao BES
Na sequência deste inquérito, inicia-
do em 2012, o Ministério Público
requereu a aplicação das sanções
acessórias de proibição do exercício
da proÆssão a vários contabilistas
certiÆcados e à privação do direito a
subsídios ou subvenções. Entre os
arguidos estão dois ex-professores
da Universidade do Minho (além da
ex-vice-reitora, também o director
do curso de Ciência e Tecnologia Ali-
mentar) que foram acusados de
terem obtido uma vantagem patri-
monial superior a 247 mi l euros por
um projecto que nunca Æzeram e
nunca planearam fazer.
Mas a abertura de instrução (uma
fase intermédia e facultativa do pro-
cesso penal que visa avaliar se há
HUGO DELGADO
indícios suÆcientes para levar
alguém acusado de um crime a jul-
gamento) terá sido pedida, entre
outros arguidos, pelo ex-presidente
da AIMinho, António Marques, que
está acusado de 76 crimes em nome
individual, além de responder pelos
13 crimes imputados à associação a
que presidia, e que alegará que nada
furtou ou desviou para si próprio,
tendo actuado em prol da associação
a que presidia.
Não é isso que sustenta a acusação:
as ligações de António Marques, que
“tratava por tu” vários governantes,
incluindo os titulares da área dos Fun-
dos Estruturais, chegariam ao Gover-
no e à banca, nomeadamente por, em
2002, ter sido nomeado administra-
dor do Banco Internacional de Crédi-
to e, em 2006, quando este foi inte-
grado pelo BES, como administrador
não-executivo da companhia de segu-
ros Tranquilidade.
Apesar de nunca ter trabalhado no
BES, Marques terá recebido do ban-
co 2,6 milhões de euros entre 2008
e 2016, “a título de rendimentos de
trabalho”. Da Tranquilidade, rece-
beu no mesmo período cerca de 938
mil euros, mais do que os restantes
administradores não-executivos,
sendo que, ainda segundo a acusa-
ção, se limitou a estar presente em
109 reuniões do conselho de admi-
nistração. As actas destas reuniões,
porém, não reportam qualquer par-
ticipação sua no decurso dos traba-
lhos, e nunca lhe chegou a ser atri-
buído um serviço de secretariado ou
um posto de trabalho físico.
nfaria@publico.pt
Epidemia causada
pelo novo coronavírus
já fez mais mortos
do que a SARS
Saúde
Espanha confirmou
segundo caso de infecção.
A epidemia já causou
813 mortos, segundo
último balanço
Com 813 mortos registados, quase
todos na China, a epidemia causada
pelo novo coronavírus já provocou
mais vítimas mortais do que a SARS
(síndrome respiratória aguda grave),
que, entre Novembro de 2002 e Julho
de 2003, matou 774 pessoas em todo
o mundo. No entanto, a taxa de mor-
talidade da SARS era mais elevada:
9,6%, segundo a Organização Mun-
dial de Saúde. A do coronavírus será
de cerca de 2%.
Além de na China e nas regiões de
Macau e Hong Kong, onde o último
balanço dava conta de mais de 37 mil
infectados, há outros casos de infec-
ção por coronavírus conÆrmados em
mais de 20 países. E Espanha conÆr-
mou ontem um segundo caso de
infecção, além dos registados na Ale-
manha, Finlândia, Suécia, Bélgica,
França, Reino Unido e Itália.
Segundo as autoridades espanho-
las, o segundo caso de infecção por
coronavírus no país foi detectado
depois de terem sido feitos testes a
quatro casos suspeitos em Maiorca –
os outros tiveram resultado negativo.
O doente faz parte de uma família
britânica de quatro — um casal e duas
Ælhas de sete e dez anos — que estava
em observação desde sexta-feira,
O novo coronavírus já infectou
mais de 37 mil pessoas
depois de ter estado em contacto com
uma pessoa infectada em França. Só
o teste do pai deu positivo.
O director do Centro de Coordena-
ção de Alertas e Emergências Sanitá-
rias, Fernando Simón, salientou que
este novo caso não implica o aumen-
to do risco porque o doente foi con-
tagiado no estrangeiro. O primeiro
caso em Espanha, recorde-se, tinha
sido registado também num cidadão
estrangeiro: um alemão que teve con-
tacto com o vírus na Alemanha, mas
que adoeceu já nas Canárias.
Ontem, surgiu a informação de que
o cidadão chinês que tem divulgado
informação sobre a forma de actua-
ção das autoridades chinesas em
Wuhan, a cidade onde teve origem o
surto, está desaparecido. O advogado
Chen Qiushi, conhecido por fazer
denúncias de questões sociais nas
redes sociais, terá sido colocado em
“quarentena forçada”. “A mãe per-
guntou de imediato para onde e quan-
do ele tinha sido levado, mas recusa-
ram-se a dizer”, explicou Xu Xiao-
dong, um amigo da família, em
declarações à CNN.
Chen chegou a Wuhan a 24 de
Janeiro, um dia depois de as autorida-
des terem colocado toda a cidade sob
quarentena. Através de vídeos publi-
cados no YouTube, resultantes das
suas visitas a casas funerárias e a hos-
pitais, o homem de 34 anos mostrou
o que parecem ser as diÆculdades do
Governo chinês para controlar o
vírus. Os amigos do advogado manti-
nham-se em contacto para garantir
que ele se encontrava em segurança.
Na noite de quinta-feira, Chen não
atendeu qualquer chamada. Na
manhã de sexta-feira, um dos amigos
publicou um vídeo da mãe de Chen
no Twitter, em que a mulher dava
conta do desaparecimento do Ælho.
O isolamento forçado de Chen
Qiushi tornou-se viral no Weibo, uma
rede social chinesa semelhante ao
Twitter, com muitos utilizadores a
pedirem ao Governo que liberte o
advogado.
Este caso ocorre pouco tempo após
a morte de Li Wenliang, um médico
chinês que tentou alertar a comuni-
dade médica para a possibilidade de
se estar perante um novo vírus quan-
do apareceram os primeiros casos de
pneumonia atípica em Wuhan. O
oftalmologista foi acusado de ter
“espalhado rumores” e investigado
pelas autoridades chinesas. Morreu
no sábado, às 2h58.
 PATROCÍNIO

Portugal...
e agora?
Após uma “década perdida” por causa da estagnação económica
e de dificuldades financeiras que resultaram na ajuda da troika em 2011,
Portugal foi capaz de resistir a um processo de ajustamento e ganhar músculo
para uma recuperação no final da década. A combinação de resiliência social
com estabilidade política revelou uma sociedade mais cosmopolita
e qualificada e uma série de instituições capazes de produzir novas formas
de capital social para o futuro. Entre esse passado penoso e a luz
de optimismo que se abriu, sobra a ideia de que o país está numa fase
de transição entre um passado duro e um futuro mais esperançoso.
Uma série de entrevistas para pensar os desafios do país
a curto prazo. Conversas para reflectir sobre
o Portugal que vem aí
18 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
SOCIEDADE
Cinco
agressões
por dia
a animais
Maus tratos
Autoridades abriram 1993
inquéritos em 2019. Casos
de abandono subiram
7%, maus tratos desceram
8,4% face aos de 2018
As autoridades portuguesas inves-
tigaram uma média de 5,4 novos
casos de violência contra animais
por dia, em 2019. Os dados foram
avançados pelo Jornal de Notícias,
que recolheu informações junto da
GNR e da PSP.
No ano passado, foram abertos
1993 inquéritos por crimes contra
animais de companhia: 1225 foram
relativos a crimes de maus tratos, 768
disseram respeito a abandono de
animais.
Estes números representam uma
descida global face ao ano de 2018.
Nesse ano, as autoridades abriram
2055 inquéritos.
Apesar da descida nos dados
gerais, as investigações relativas a
casos de abandono aumentaram,
subindo 7%.
Os inquéritos relativos a maus tra-
tos desceram 8,4%. Lisboa e Setúbal
são os distritos onde se registaram
mais casos: na capital, as autoridades
investigaram 173 casos de abandono
e 239 de maus-tratos.
Em Setúbal, registaram-se 134
casos de abandono de animais e 153
de maus tratos. Este distrito, porém,
possui uma particularidade destaca-
da pelo Jornal de Notícias : um pro-
tocolo único entre a GNR e o Minis-
tério Público que permite que as
queixas sejam trabalhadas com uma
maior celeridade, evitando, dessa
forma, a continuação dos maus tra-
tos. Na comarca de Setúbal, existe
um procurador que trata em exclu-
sivo os casos relacionados com cri-
mes cometidos contra animais.
O estatuto jurídico dos animais,
que os reconhece como seres vivos
dotados de sensibilidade e os auto-
nomiza face a pessoas e coisas, foi
publicado em Março de 2017 no Diá-
rio da República e entrou em vigor a
1 de Maio.
A legislação que alterou o Código
Civil, segundo o qual os animais
eram “coisas”, resultou de projectos
de lei do PS, PAN, PSD e BE, que
foram aprovados por unanimidade
na Assembleia da República.
Em 2019, terão entrado no país 230 toneladas de lixo oriundo do exterior para eliminação
Portugal recusou 48 mil
toneladas de resíduos
estrangeiros numa semana
Ambiente
A Taxa de Gestão de
Resíduos para os aterros
vai duplicar no próximo
Verão, para desincentivar
a deposição em aterro
Portugal recusou a entrada nos seus
aterros de “48 mil toneladas de resí-
duos” provenientes de países estran-
geiros só na última semana, anunciou
ontem o Ministério do Ambiente e da
Acção Climática (MAAC).
“Em apenas uma semana, a publi-
cação do despacho [que limita a
deposição de resíduos em aterros]
permitiu já objectar à entrada de 48
mil toneladas de resíduos provenien-
tes de outros países”, avançou o
MAAC, anunciando que a Taxa de
Gestão de Resíduos (TGR) para os
aterros em Portugal vai duplicar no
Verão de 11 para “22 euros por tone-
lada”. Segundo o MAAC, a decisão
de subir os valores da TGR pretende
“desincentivar o encaminhamento
de resíduos nacionais e de outros
países para aterro, numa decisão
complementada com uma revisão
das taxas de apreciação dos procedi-
mentos de notiÆcação de transferên-
cia de resíduos para importação ou
exportação.
A subida da TGR insere-se no Plano
de Acção de Aterros 2020, uma inicia-
tiva do MAAC para “fazer face às preo-
cupações sobre os aterros” e cuja
acção vai ser concertada e articulada
entre as várias entidades com compe-
tências de inspecção, Æscalização,
licenciamento e monitorização, desi-
gnadamente a Agência Portuguesa do
Ambiente (APA), Inspecção-Geral do
Mar, Ambiente e Ordenamento do
Território (IGAMAOT) e as cinco
comissões de coordenação e desen-
volvimento regional (CCDR).
Dados referentes a 2018 indicam
que os resíduos vindos de países
estrangeiros para eliminação em Por-
tugal representaram 6% do total de
resíduos industriais eliminados em
território nacional.
Portugal
encontra-se nas
“últimas posições”
da Europa
como destino
de resíduos
para aterro
ADRIANO MIRANDA
Apesar de esse lixo oriundo do
exterior representar 6%, o MAAC
revela que desde 2017 se tem vindo a
assistir a um “aumento” da entrada
destes resíduos, com os dados provi-
sórios de 2019 a “registarem as 230
mil toneladas”.
“Esta constatação levou a que mui-
tas individualidades se referissem à
TGR de 11 euros/tonelada em 2020
como uma das causas para esta evolu-
ção (...), embora outras causas possam
ser apontadas, tais como as restrições
da China à importação de resíduos em
2018”, explica o ministério.
Apesar do aumento da chegada de
resíduos de outros países para aterros
portugueses, fonte do MAAC frisou
que “Portugal não é o caixote do lixo
da Europa” e que até se encontra nas
“últimas posições” da Europa como
“destino de resíduos para aterro”,
conforme indicam dados últimos
compilados pelo Eurostat.
“São quatro os países que recebem
90% dos resíduos importados para
eliminação (que inclui aterro, incine-
ração e outras operações de elimina-
ção): a Alemanha com 62%, a França
com 14%, a Bélgica com 9% e a Áustria
com cerca de 5%” e “Portugal é res-
ponsável por 1,61% dos resíduos
importados para eliminação”, lê-se
num comunicado enviado à Lusa.
Um terço dos
cidadãos em
“condições
indignas”
Território
Estudo mostra que 30%
dos cidadãos vivem em
condições habitacionais
“indignas”, na região das
Beiras e da serra da Estrela
Cerca de um terço dos habitantes das
Beiras e serra da Estrela “vive em
condições indignas” e em situação
de “grave carência habitacional”,
concluiu um estudo do Instituto Poli-
técnico da Guarda (IPG), divulgado
ontem.
“O número de famílias que vivem
situações de grave carência habita-
cional na região das Beiras e serra da
Estrela ultrapassa os 30%”, de acor-
do com o estudo feito por investiga-
dores que participam em projectos
promovidos na Unidade de Investi-
gação do Desenvolvimento do Inte-
rior daquela instituição de ensino.
Do diagnóstico, feito em conjunto
com as câmaras da região, resultou
que “o número de pessoas a viver em
situações precárias é maior do que
se imaginava”, refere o presidente
do IPG, Joaquim Brigas, segundo o
qual o objectivo é encontrar alterna-
tivas para eliminar problemas como
acessibilidade, habitabilidade, sanea-
mento e conforto térmico. “Com
estas medidas, tornamos possível a
habitação como um direito e garan-
timos melhores condições a quem
não tem possibilidade de as ter”,
aÆrmou. “Estamos a delinear estra-
tégias na nossa área de inÇuência
através de uma visita porta a porta a
famílias que vivem tanto em zonas
rurais como em zonas urbanas”,
explica ainda Joaquim Brigas.
O documento pretende desenhar
a Estratégia Local de Habitação para
um concelho em Portugal e possibi-
litará a elaboração de uma candida-
tura ao programa 1.º Direito, uma
medida de apoio público à promo-
ção de soluções habitacionais desti-
nadas a cidadãos e agregados em
condições de carência Ænanceira.
O 1.º Direito insere-se numa série
de outros programas criados pela
Estratégia Nacional para a Habitação,
cujo objectivo é facilitar o acesso das
famílias portuguesas à habitação
através da reabilitação urbana,
arrendamento habitacional e requa-
liÆcação dos alojamentos, lembra o
IPG. Lusa

Muda-se tudo, menos o que
verdadeiramente interessa
Opinião
José Eduardo Lemos
A sociedade e o mundo de hoje
vivem tempos de acelerada
mudança provocada pelos
enormes avanços tecnológicos,
pela globalização da informação
e do conhecimento, pelo digital
e pelos novos problemas que
condicionam a vida da
humanidade, como acontece com
as alterações climáticas.
As escolas não escapam a esta
tendência e mesmo que,
hipoteticamente, alguma não
quisesse mudar ou não dispusesse
de massa crítica favorável que a
impelisse, a força da mudança é
inexorável e impõe-se às escolas.
A dependência das escolas
portuguesas da Administração
Educativa e, nalguns casos,
também das Administrações
Autárquicas torna-as reféns, não
apenas das políticas, estratégias
e decisões dos governantes e
autarcas de cada momento, mas
também da interpretação que delas
faz toda a cadeia hierárquica
existente entre estes e as escolas.
Vejam-se as mudanças
introduzidas nos últimos 15 anos
nos programas, metas,
aprendizagens, currículos...
Veja-se a sucessão de projetos,
planos e estratégias disto e daquilo
para “salvar” as escolas e os alunos.
Alguns com a curiosa
particularidade de diagnosticarem
as doenças do sistema educativo,
de se apresentarem como os
melhores remédios para as curar
e por avaliarem os resultados
obtidos, ainda antes de Ænalizada a
prescrição. Todos nos lembramos
dos admiráveis contratos de
autonomia, dos Fénix e Turma
Mais, dos revolucionários quadros
interativos ou, mais recentemente,
do “Teach for Portugal”, do
Programa Nacional de Promoção
do Sucesso Escolar e do, também
com qualidades salvíÆcas, projeto
de autonomia e a Çexibilidade
curricular.
Todos vieram introduzir
mudanças nas escolas e, contudo,
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 19
ninguém sabe para que lado está
o norte.
Se não surpreende que, em cada
momento, os governantes surjam
no espaço público a falar de
mudanças e a tentar
implementá-las — faz parte —, já me
espanta vermos dirigentes da
administração, diretores das
escolas, professores, alunos,
especialistas, enÆm, a seguirem
atrás dessas mudanças e das
“novas” ideias, algumas com
décadas, como se, agora sim,
resolvessem os problemas que as
mudanças que anteriormente
seguiram com a mesma devoção,
aÆnal, não resolveram.
Defendem que a escola deve
preparar os jovens para lidar com o
desconhecido, com o que está para
vir, não percebendo, ou fazendo-se
despercebidos, que uma escola
que prepara os alunos para o
desconhecido e para exercerem
Na Educação,
muitas das
mudanças
introduzidas
nos últimos 15 anos
não têm sido
sinónimo
de melhoria, antes
demonstrativas
de falta de rumo
proÆssões que ainda não existem,
como dizem, é uma escola que não
pode ser escrutinada nem avaliada,
nem responsabilizada na exata
medida em que, faça o que Æzer,
estará sempre alinhada com
o vento que soprar.
As mudanças da moda têm os
mesmos traços que as anteriores:
a ideia de que o que se fazia até
surgirem na agenda educativa
estava errado ou não promovia as
boas aprendizagens; a ideia de que
as atuais mudanças se constituem
como novidades quando, na
verdade, veriÆcamos que se
resumem a velhas práticas, já
SOCIEDADE
estudadas, implementadas no
passado e abandonadas,
precisamente, porque os resultados
dos alunos Æcavam nos patamares
mais baixos dos indicadores
internacionais; a terceira é a ideia
de que mudança é sinónimo de
melhoria. Ora, nos últimos 15 anos
sucederam-se várias e a última veio
sempre resolver as incapacidades
da antecedente, o que prova à
saciedade que muitas das
mudanças não têm sido sinónimo
de melhoria, antes demonstrativas
de falta de rumo.
São recorrentes o apressado
planeamento e a deÆciente
operacionalização das mudanças,
pelo que muitas delas surgem aos
olhos dos destinatários bastante
desarticuladas e com objetivos
impercetíveis, o que obriga a
administração a produzir
sucessivos esclarecimentos e regras
interpretativas que permitam às
escolas implementá-las.
A título de exemplo, veja-se a
incongruência entre as cargas
horárias dos alunos dos 10.º/11.º
anos e do 12.º ano; veja-se a
desarticulação entre as
competências previstas no PerÆl
dos Alunos e a formação inicial de
professores e as normas de
constituição e funcionamento de
turmas, de distribuição do serviço
e organização do ano letivo;
compagine-se a política de
reutilização de manuais escolares
com os espaços para escrita e
colagem; veja-se a chocante falta de
equidade entre escolas públicas
com instalações de categoria
europeia e, mesmo ao lado, escolas
públicas com amianto e onde
chove. EnÆm, muda-se muito, mas
melhora-se pouco!
Sintomaticamente, não se vê
nenhuma nova ideia para melhorar
a qualidade da formação inicial dos
professores, nem para melhorar as
suas condições de trabalho (muitos
são agredidos no trabalho), muito Menção honrosa ASSINATURA
PÚBLICO
menos o seu estatuto (trabalhos sobre o PÚBLICO) DIGITAL ANUAL
socioproÆssional. Nem sequer se
veem ideias para assegurar o direito
básico de todos os alunos terem
professor. Ou seja, muda-se tudo,
menos o que verdadeiramente
interessa e está no centro de uma
educação de qualidade.
Director da Escola Secundária de
Eça de Queirós, Póvoa de Varzim
20 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
LOCAL
O turismo já é o motor do
desenvolvimento dos Açores
Os Açores são o primeiro arquipélago
do mundo certiÄcado como destino
turístico sustentável. O número de
turistas tem aumentado e discutem-se
estratégias para evitar a massiÄcação
Sustentabilidade
Rui Pedro Paiva
Dezembro de 2019, Terceira, Açores.
No Ænal do congresso anual do Global
Sustainable Tourism Council (GSTC),
praticamente todos os cerca de 250
participantes de 42 nacionalidades
puxaram do telemóvel com espanto
para retratar o sol avermelhado a
deitar-se no Atlântico, visível da
panorâmica do pátio do Centro de
Congressos de Angra do Heroísmo.
O Ænal do dia marcou o Æm dos
trabalhos do congresso da GSTC,
entidade formada em 2007 através
de uma coligação entre 32 parceiros
— que incluem o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambien-
te (PNUMA) e a Organização Mundial
de Turismo (OMT), por exemplo. A
edição de 2019 teve um atractivo
especial: a atribuição do certiÆcado
de destino turístico sustentável aos
Açores, o primeiro arquipélago do
mundo e a primeira região do país a
consegui-lo. Sustentabilidade ao nível
ambiental, social e económico, veri-
Æcado pela auditoria da EarthCheck
em três ilhas da região, São Miguel
(grupo oriental), Terceira (grupo cen-
tral) e Flores (grupo ocidental).
Para uma região que só “recente-
mente” começou a encarar o turismo
como um sector determinante para
o desenvolvimento, o galardão é
motivo de “orgulho e reforça que
estamos, de facto, no caminho cer-
to”, aÆrma ao PÚBLICO Marta Guer-
reiro, secretária regional da Energia,
Ambiente e Turismo dos Açores. Mas
o trabalho não Æca por aqui. O certi-
Æcado atribuído aos Açores é de grau
silver (prata) e é renovado anualmen-
te. Depois, existem os patamares
gold, platinum (com um período de
permanência de cinco a nove anos)
e o master (permanência de dez a 14
anos). “Não é um ponto de chegada,
mas sim uma etapa muito positiva
que nos permite, seja internamente,
seja externamente, ter um posiciona-
mento determinante”, aÆrma a
governante, ciente de que “agora a
responsabilidade é ainda maior”.
Com responsabilidades acrescidas,
é este “posicionamento” que está em
causa para o futuro do turismo na
região. Em 2020, cumprem-se cinco
anos da liberalização do espaço
aéreo (até então monopolizado pela
SATA) e das chegadas das compa-
nhias low-cost. Desde aí, os Açores
aumentaram as dormidas em mais
de um milhão, passando de um
milhão e 231 mil em 2014 para dois
milhões e 894 mil em 2019, segundo
o Serviço Regional de Estatística
(SREA). Entre Janeiro e Novembro de
2019 (os últimos dados apurados) as
dormidas aumentaram 17% face ao
período homólogo e espera-se que
em 2020 os indicadores continuem
a subir na ordem dos dois dígitos.
São Miguel, a ilha mais populosa
(cerca de 137 mil habitantes, numa
região com perto de 246 mil) é a que
tem registado o maior crescimento,
tendo encerrado 2019 com um
milhão e 993 mil dormidas. É sobre-
tudo nessa ilha que já se sente, em
alguns períodos da época alta, um
intenso Çuxo de turistas, levando a
queixas de alguns sectores da socie-
dade. São “dores de crescimento”,
descreve o governo regional.
Esta é a fase na história dos Açores
em que se delineia o papel que o
turismo poderá vir a assumir no de-
senvolvimento da região. Quer gover-
no, quer sociedade açoriana debatem
estratégias para conseguir o melhor era conhecido”, os preços eram “ele- que, segundo o professor catedráti- desses locais e com uma diversiÆca-
de dois mundos: promover o turismo vadíssimos”, e onde não existia “pro- co, trazia uma clientela “completa- ção da oferta” considera, dando o
como catalisador do crescimento moção, actividade turística organiza- mente diferente” num “mercado exemplo das realidades virtual e
económico, mas sem tornar o arqui- da nem vontade política”, explica. A muito especial”, começou a fazer a aumentada que poderiam ser “com-
pélago num destino de massas. partir de 2001, na segunda fase, ligação entre Nova Iorque e Ponta plementares” à experiência da natu-
começou a existir “vontade política”, Delgada em 2015, mas anunciou o Æm reza. Para o docente catedrático, os
“O grande desafio da gestão com a atribuição de subsídios ao da rota em 2020. Açores devem seguir uma estratégia
investimento, que Æzeram aumentar “Actualmente, estamos num perío- de “maximização de volume das
turística é a própria gestão” o número de camas, mas “distorce- do de espera entre fases”, aÆrma, receitas turísticas e não do número
Para o professor de gestão e turismo ram” os preços no mercado. A libe- defendendo que “não existe qual- de turistas” através da “qualiÆcação
da Universidade dos Açores e presi- ralização do espaço aéreo e a vinda quer fenómeno de excesso de turis- da procura e da oferta”.
dente do Observatório de Turismo das low-cost em 2015 marcam a ter- mo, apesar de reconhecer que os Uma gestão mais eÆcaz dos pontos
dos Açores, Carlos Santos, a evolução ceira fase, enquanto a saída da Delta “locais ícones de São Miguel já têm turísticos em São Miguel também é
histórica do turismo nos Açores pode Airlines, companhia aérea america- uma carga excessiva de turistas nas defendida pela Associação Ecológica
ser divida em quatro fases. Uma pri- na, a segunda maior do mundo, mar- épocas altas”. “Em princípio, isso Amigos dos Açores. Os ambientalistas
meira, até 2001, onde o “destino não ca a quarta fase. A Delta, empresa resolve-se com uma gestão eÆcaz reconhecem que não existe um

“número exagerado de turistas”, mas
antes uma “falta de planeamento”.
“Estamos mal-organizados, devía-
mos ter mais actividades que disper-
sassem os turistas pelo território para
reduzir a pressão”, defende Diogo
Caetano, presidente da associação,
denunciado o intenso trânsito auto-
móvel que se sente em certos perío-
dos da época alta em zonas com as
Furnas, a lagoa das Sete Cidades ou
a lagoa do Fogo, em São Miguel.
Para resolver a situação das duas
lagoas, por exemplo, o governo
regional criou parques de estaciona-
mento nas Sete Cidades e tem pro-
Todos
concordam
num ponto:
o crescimento
do turismo
nos Açores
só é bom
enquanto
for bom para
os açorianos
FOTOS: ENRIC VIVES-RUBIO
jectado uma requaliÆcação do aces-
so à lagoa do Fogo que prevê um
novo miradouro, uma área técnica,
casas de banho e parque de estacio-
namento. Sobre esta última medida,
que até motivou uma petição públi-
ca, Diogo Caetano diz ser um exem-
plo da falta de planeamento na ges-
tão das zonas turísticas. “Devíamos
era abordar o problema pela raiz,
que é a forma como as pessoas che-
gam lá e de que modo podemos
regular o acesso”, aponta, destacan-
do que não se trata do “impacto
visual do projecto”, mas sim da defe-
sa de uma “abordagem diferente”
que privilegie o transporte colectivo.
O ambientalista considera ainda que
o “planeamento deve-se antever” e
não ser “feito em cima do aconteci-
mento” e alerta para os riscos de a
imagem do destino sair prejudicada
caso a experiência não acompanhe
“a expectativa trazida”, uma vez que
“ninguém” espera ter “constrangi-
mentos de trânsito” numa visita aos
Açores.
Sobre o assunto, Marta Guerreiro
assinala que as intervenções em cau-
Desde a chegadas sa se enquadram na monitorização
das companhias feita pelo governo nos acessos aos
pontos turísticos, reconhecendo que
aéreas low-cost, em a maior parte das questões levanta-
2015, as dormidas das pela população dizem respeito
“ao estacionamento e à circulação”.
nos Açores A responsável pelo turismo e
aumentaram ambiente assegura que existiu “sem-
pre resposta” e que trata um “traba-
em mais de um lho que continua a ser feito”. “O
milhão, atingindo grande desaÆo no que diz respeito à
gestão turística é a própria gestão”,
2,89 milhões diz. Defende uma abordagem “mais
em 2019 restritiva” em “algumas zonas sensí-
veis”, como são a montanha do Pico,
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 21
a caldeira do Faial, os ilhéus de Vila
Franca e Graciosa, onde já existe
limitação de visitantes. “É nossa
obrigação, enquanto governo, ir
acompanhando a procura por deter-
minados locais e monitorizá-la para,
em caso de haver pressão excessiva
para o local com prejuízo para o
ecossistema, introduzir naturalmen-
te algumas limitações. Isso deve ser
sempre feito”, frisa, acrescentando
que têm sido criados outros pontos
de interesse nas ilhas para a “disper-
são dos turistas”.
Os transportes e a pouca
qualificação
A distribuição dos turistas também
se faz pelas nove ilhas do arquipéla-
go. O alerta é do presidente da Câma-
ra do Comércio e Indústria dos Aço-
res, Rodrigo Rodrigues, para quem
os Açores ainda têm um “grande
potencial de crescimento” turístico.
Para o alcançar, o representante dos
empresários destaca a importância
da companhia aérea SATA, empresa
pública regional, que deve assegurar
a “conexão entre várias ilhas”, para
assegurar a “mobilidade entre resi-
dentes”, mas “essencialmente para
uma maior distribuição dos Çuxos
turísticos”.
Numa altura em que o grupo SATA
sofre elevadas diÆculdades económi-
cas, apresentando um passivo de
mais de 200 milhões de euros, tendo
registado em 2018 um prejuízo de
53,3 milhões de euros, Rodrigues
pede um maior “enfoque” da empre-
sa no cumprimento da sua “principal
missão”. “No dia em que a SATA não
conseguir cumprir a principal missão
para que foi fundada, que é transpor-
tar os açorianos e os turistas entre
ilhas, deixa de fazer sentido ser uma
empresa pública”.
Em 2019, apenas a Terceira e o
Corvo não subiram o número de dor-
midas e no objectivo de fazer chegar
turistas a todas as ilhas do arquipé-
lago, Carlos Morais, presidente da
Associação de Turismo dos Açores
(ATA), responsável pela promoção
turística da região, defende a libera-
lização total do espaço aéreo da
região. “Penso que no futuro será
preciso repensar a questão e se
calhar liberalizar o espaço aéreo
para outras ilhas, não só em ligações
directas ao continente, mas com
outras capitais da Europa”, aÆrma,
sinalizando que a promoção da
região irá “passar muito para o onli-
ne” e far-se-á sobretudo nos merca-
dos português, alemão, americano,
espanhol, suíço e francês.
Para o responsável da ATA, os
transportes são mesmo o maior
entrave ao desenvolvimento do turis-
mo na região, a que se junta a pouca
qualiÆcação da mão-de-obra. Opi-
nião partilhada pela Câmara do
Comércio e validada pelos inquéritos
promovidos pelo Observatório de
Turismo dos Açores aos turistas que
visitam o arquipélago. Os empresá-
rios defendem que só a qualiÆcação
dos activos permite “um destino de
qualidade”, que consiga atrair turis-
tas com “poder de compra. O Gover-
no também reconhece, apontando a
necessidade de qualiÆcação como
“um dos principais desaÆos”, como
o deÆne a secretária regional, que
destaca as 800 pessoas formadas no
sector do turismo em 2019.
Quer ambientalistas, empresários,
promotores e governantes acreditam
que o turismo pode vir a ter uma
importância ainda maior na econo-
mia de uma região profundamente
assimétrica e que regista a mais ele-
vada taxa de risco de pobreza (31,8%).
“O turismo tem sido o motor do des-
envolvimento. Não tem de ser o úni-
co, não deve. Mas tem uma diferença
face a quase todos os outros sectores.
É um sector que puxa pelos outros”,
aÆrma Marta Guerreiro, que acredita
que o “turismo pode vir a ter uma
intensiÆcação do papel que hoje já
tem”. Para o futuro, mais uma certe-
za consensual expressa por todos: o
crescimento do turismo nos Açores
só é bom enquanto for bom para os
açorianos.
22 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
ECONOMIA
Arrendar casa em Lisboa é mais
difícil que em Barcelona e Berlim
Análise, que fez cruzamento entre rendas e rendimentos de
um agregado a residir num T2 em cada uma das três cidades,
mostra que em todas a taxa de esforço dos 30% é ultrapassada.
Mas, em Lisboa, a taxa quase duplica e chega a 58%
Habitação
Luísa Pinto
A escalada dos preços de habitação
tem vindo a diÆcultar o acesso ao
arrendamento nos centros da cidade
um pouco por toda a Europa. Tal
como em Lisboa e no Porto, o assun-
to tem enchido páginas de jornais e
motivado diversos protestos da
população em várias cidades euro-
peias, com o objectivo de convencer
os poderes políticos e económicos a
tomar medidas para que as rendas
habitacionais voltem a ser acessíveis
à classe média. E numa altura em
que se multiplicam os anúncios fei-
tos por governos locais e nacionais
sobre as iniciativas que se vão fazen-
do para travar essa escalada dos
preços — a última foi a cidade de Pra-
ga, que proibiu os alojamentos locais
na cidade —, o PÚBLICO comparou
os problemas de acesso à habitação
em três grandes cidades que ilus-
tram a situação a nível europeu:
Lisboa, Berlim e Barcelona. E as con-
clusões dão conta de que é mais
difícil arrendar casa em Lisboa do
que na cidade espanhola e na capi-
tal alemã.
A análise foi desenvolvida pelo
grupo de investigação Morfologia e
Dinâmicas do Território do Centro
de Estudos de Arquitectura e Urba-
nismo da Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto (FAUP) e
mostra como a realidade na cidade
de Lisboa é muito mais grave do que
aquela que é encontrada em Barce-
lona e em Berlim, cidades que, nes-
te contexto, também já se tornaram
referência em termos de resposta ao
nível de políticas públicas de habi-
tação.
O estudo assenta no cruzamento
entre rendas e rendimentos de um
agregado simulado composto por
um casal com um menor dependen-
te, que reside num T2 de 95 metros
quadrados (m2), em cada uma das
três cidades.
Com base nos dados disponíveis,
a equipa de investigadores simulou
o valor que este tipo de apartamen-
to teria em cada uma das cidades
com a maior desagregação de preços
disponível (71 códigos postais em
Berlim; 73 bairros em Barcelona, e
24 freguesias de Lisboa).
O resultado é um mapa do ediÆ#
cado de cada uma das cidades onde
se representa, a tons quentes, as
localizações onde o agregado desti-
na mais do que 30% dos seus rendi-
mentos para pagar a renda e, a tons
frios, os lugares onde a taxa de
esforço não ultrapassa esse valor-
limite. Enquanto em Berlim e em
Barcelona é possível ainda encon-
trar algumas bolsas a tons frios, em
Lisboa a totalidade da área está pin-
tada de cores quentes.
916
valor da renda mediana em
Lisboa, por mês; em Barcelona
é de 1170 euros; e em Berlim é de
1491 euros (mas inclui despesas
com electricidade e água)
1563
é o rendimento mediano líquido
de um agregado português, em
comparação com 2614 euros
em Barcelona e 3727 euros em
Berlim
Há várias razões que podem aju-
dar a justiÆcar estas diferenças — ain-
da antes de se entrar nas respostas
públicas que o poder político está a
levar a cabo em cada uma das cida-
des (ver texto ao lado), e tendo pre-
sente o domínio de habitação pró-
pria, estimulado pelo acesso relati-
vamente facilitado a crédito.
Os rendimentos medianos de um
agregado português Æcam muito mal
em comparação com os rendimen-
tos de um agregado catalão ou ber-
Onde é que um casal com um dependente consegue
arrendar um T2?
O rendimento de um agregado tipo (casal com um menor dependente) é
suficiente para arrendar um T2 de 95 metros quadrados? Os cálculos
efectuados pelo grupo de investigação Morfologias e Dinâmicas do
Território da FAUP mostram as dificuldades que existem nas cidades de
Lisboa, Barcelona e Berlim.
Os três mapas aqui reproduzidos mostram, para o T2-tipo, tanto a
linense: 1563 euros em Lisboa, 2614 distribuição como a extensão das zonas inacessíveis como o seu grau de
euros em Barcelona, 3727 euros em desfasamento relativamente ao orçamento familiar. Os gráficos mostram,
Berlim. Se a esta equação juntarmos em cada cidade, a relação entre o orçamento total disponível e a parcela
consumida pelo pagamento da renda mediana. Os rendimentos foram
o valor mediano que é pedido pela
renda mensal de um T2 de 95 metros retirados das Estatísticas Europeias sobre Rendimentos e Condições de
quadrados, Lisboa sai ainda pior da Vida (2018). Em Lisboa, foi calculado o valor da renda de mercado de um
fotograÆa: a renda mediana em Lis- T2-tipo em cada freguesia segundo os critérios do Programa de Arrenda-
boa é de 916 euros por mês; em Bar- mento Acessível (dados do 2.º semestre 2018). Em Barcelona, as rendas
celona é de 1170 euros e em Berlim foram calculadas pelo valor por m2 em cada bairro disponibilizados pelo
é de 1491 euros (note-se que o apar- Observatori Metropolità de l’Habitatge de Barcelona (dados de 2018). Em
tamento em Berlim inclui despesas Berlim, os valores por m2 em cada código postal foram obtidos no Estudo
Housing Market Report Berlin 2019 Berlin HYP & CBRE (dados de 2018).
com electricidade e água).
Cruzar estes dois vectores — ren-
das e rendimento — mostra que nas
três cidades a taxa de esforço de BARCELONA
referência de 30% foi ultrapassada.
Em Berlim é de 40% e em Barcelona Taxa de esforço
é de 45%. Mas, no caso de Lisboa, Inferior a 30%
esse valor-limite é praticamente 30,0 - 34,0
duplicado e chega aos 58%. 34,0 - 38,0
Os dados relativos ao “rendimen- 38,0 - 42,0
to mediano equivalente por tipo de 42,0 - 46,0
agregado” usados nesta análise 46,0 - 50,0
foram retirados das Estatísticas 50,0 - 60,0
Europeias sobre Rendimentos e Con-
60,0 - 70,0
dições de Vida relativos a 2018, e per-
mitem comparar a situação do agre-
gado proposto em cada uma das
cidades analisadas.
A equipa da FAUP cruzou ainda os
valores auferidos nas três cidades
com outras fontes disponíveis a nível
nacional (mediana do rendimento
bruto deduzido do IRS liquidado por
sujeito passivo em Lisboa; dados do
INE-AEAT para o caso de Barcelona;
estudo do Gabinete de Estatística de
Berlim-Brandeburgo, para o caso de
Berlim).
No cálculo das rendas foram utili-
zados dois tipos de fontes: em Lis-
boa e Barcelona foram utilizados
dados públicos, disponibilizados
pelo INE e pelo Observatori Metro-
polità de l’Habitatge de Barcelona.
Para Lisboa usaram-se as medianas
das rendas dos novos contratos de
45%
arrendamento para o segundo
semestre de 2018, obtendo o valor
Ænal a partir dos coeÆcientes desi- 30% 15%
gnados pelo Programa de Arrenda-
mento Acessível (PAA). 1170 renda mensal T2 2614 rendimento líquido
€/mês (mediana) €/mês mensal do agregado
No caso de Berlim, os dados foram
(mediana)
obtidos de um estudo da Berlin HYP
& CBRE, uma consultora privada Fonte: Público/Grupo Morfologias e Dinâmicas do Território do CEAU-FAUP
 Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 23

O Mietendeckel, o
novo regime de
congelamento de
rendas em Berlim,
está em vigor
desde Janeiro

mas que, consideram os investiga-

LISBOA
Taxa de esforço
dores, “por estar construído sobre
anúncios privados, pode estar, como Berlim e Barcelona, exemplos
em Barcelona, a apresentar valores
Inferior a 30%
30,0 - 34,0
superiores aos reais”. de intervenção musculada
Com o cruzamento de toda esta
34,0 - 38,0 informação percebe-se uma grande
38,0 - 42,0 disparidade entre as três cidades. “E
42,0 - 46,0 que prova que, num contexto onde poder suÆciente para avançar com
46,0 - 50,0 os preços são locais e o mercado é Luísa Pinto acções próprias, como as que limitam
50,0 - 60,0 global, podem existir actores auto- os preços de arrendamento e estipu-
60,0 - 70,0 maticamente excluídos da dita con- As diÆculdades no acesso à habitação lam regras severas à venda e constru-
corrência”, escreve Aitor Vareo Oro, estão a agudizar-se em varias cidades ção nova.
um dos membros da equipa. da Europa. O problema tem origens Não é a primeira vez que a cidade
Os investigadores da FAUP identi- semelhantes e, para o mesmo dia- de Berlim tenta travar a escalada do
Æcaram vários tipos de desigualda- gnóstico de “excesso” de fogos colo- preço da habitação Æxando tectos
des nestas análises, a começar pelas cados no mercado turístico, toma- máximos às rendas — houve um paco-
desigualdades entre os próprios ram-se medidas semelhantes, tais te legislativo nesse sentido que avan-
cidadãos: “O mais grave é o caso como a limitação do alojamento local. çou já em 2015. Mas é com as novas
português, já que nas outras duas Essa é uma medida que foi tomada regras que entraram em vigor em
cidades é mais comum que mais tra- tanto em Lisboa como em Barcelona Janeiro deste ano que, em resposta a
e Berlim. Mas, nos casos berlinense e algumas questões colocadas pelo
catalão, têm vindo a ser tomadas PÚBLICO, o director-geral da Associa-
Análise é do grupo outras medidas com um maior grau ção de Inquilinos de Berlim, Reiner
58% de investigação de intervenção dos poderes públicos Wild, admitiu que são esperados os
— que estão apoiados, também, numa efeitos desejados.
Morfologia e sociedade civil bem mais interventiva
30% 28%
Dinâmicas do e mobilizada. Desde Janeiro
Em Barcelona, por exemplo, há que na capital
916 1563 rendimento líquido mensal do Território do uma nova vaga de promoção de habi- alemã o governo
€/mês €/mês agregado tipo (mediana)
renda mensal T2 Centro de Estudos tação pública, a nível nacional, regio- estadual impõe
regras mais
nal e municipal, assim como a obri-
(mediana) de Arquitectura gatoriedade de os novos empreendi-
apertadas ao
arrendamento
BERLIM e Urbanismo da mento imobiliários que surjam na
cidade alocarem uma percentagem
Taxa de esforço Faculdade de de fogos para a habitação com renda O Mietendeckel, o novo regime de
Inferior a 30%
30,0 - 34,0
Arquitectura da condicionada. congelamento de rendas, que está
Avançaram também parcerias agora em vigor, assenta numa tabela
34,0 - 38,0 Universidade do entre entidades públicas e privadas, administrativa em que o governo da
38,0 - 42,0 Porto (FAUP) que permitem criar bolsas de habita- cidade deÆniu o preço por metro qua-
42,0 - 46,0 ção de proprietários privados que drado que pode ter cada edifício.
46,0 - 50,0 possam dar resposta às necessidades. A tabela tem em atenção a localiza-
50,0 - 60,0 balhadores se afastem, e por uma Tudo isto ao mesmo tempo — e tanto ção do edifício, assim como caracte-
60,0 - 70,0 maior margem, do ordenado míni- o Estado espanhol como o Governo rísticas do imóvel, nomeadamente o
mo”, explica Vareo Oro. Autonómo da Catalunha contribuí- ano de construção e as valências como
Mas também desigualdades entre ram com subsídios ao arrendamento aquecimento central e quarto de
agentes no mercado “que se veriÆca e à reabilitação de edifícios. banho, entre outras. Essa tabela pode
até no caso de Berlim, também alvo O governo estadual de Berlim será, começar nos 6,45 euros de renda por
de investimentos de países com porém, aquele que está a avançar metro quadrado num edifício cente-
maior poder de compra e, como as com medidas mais assertivas. O facto nário, que tenha aquecimento central
outras duas cidades, da acção de de 85% dos residentes na cidade a e quarto de banho, e passar para 9,80
agentes poderosos como grandes ocuparem em regime de arrenda- euros de renda por metro quadrado
fundos imobiliários”. mento poderá explicar as medidas a cobrar nos edifícios construídos
“Convém referir que a desigualda- anunciadas. E o poder reivindicativo entre 2003 e 2013, com as mesmas
de não se cinge ao poder de compra, da Associação de Inquilinos de Berlim características de aquecimento cen-
mas, também, à possibilidade de (a Berliner Mieterverein) também. tral e quarto de banho.
40%
aceder aos Ænanciamentos, de con- Os movimentos sociais de Berlim Todos estes exemplos vão estar em
tornar a legislação ou até de inÇuir têm, por exemplo, dinamizado uma discussão esta segunda-feira, na
30% 10% na sua criação, graças a um capital campanha para obrigar a administra- segunda conversa do ciclo A Cidade
técnico que o cidadão comum não ção local a municipalizar fracções de Pelas Pessoas, organizado pelo colec-
1491 renda mensal T2 3727 tem e o poder público não lhes for- habitação de empresas que possuam tivo Habitar Porto, em colaboração
tipo €/mês (mediana) €/mês nece”, argumenta o investigador. um número superior a três mil unida- com a Fundação Friedrich Ebert
des. A nível institucional, e sendo Stiftung, sob o tema A Cidade Legisla-
luisa.pinto@publico.pt Berlim uma cidade-estado, tem tido da Pelas Pessoas.
24 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
ECONOMIA
Catarina, Caterina e Katrin
Opinião
Aitor Varea Oro
e Ana Silva Fernandes
Para a Catarina, tudo começou de
uma maneira súbita. Pessoas que
não arranjam casa para estudar ou
trabalhar em Lisboa. Familiares
que têm diÆculdade em responder
a encargos domésticos por causa
do valor das rendas. Amigos que
recebem uma carta de despejo e
devem sair das suas casas.
Conhecidos que, apesar de tudo,
decidem Æcar na cidade e o fazem
à custa de aceitar condições
indignas. Testemunhos de pessoas
que, tendo-se resignado a sair,
Æcam presos a demorados
percursos diários para aceder ao
trabalho. Perda de tempo e
dinheiro, mas também de
auto-estima para aqueles com
ordenado e contrato, que
descontam e fazem o que devem, e
não encontram alternativa que não
seja partilhar casa e despesas. Se
aÆrmássemos que se trata de
situações individuais ou pontuais,
seriamos rapidamente corrigidos
pela Caterina e a Katrin.
Junto ao Tejo, entre o Llobregat e
o Bessós, e mesmo ao pé do Spree,
três cidades partilham mais do que
a proximidade a um rio. São o
testemunho da vulnerabilidade dos
residentes face ao mercado
globalizado. Contudo, Berlim
e Barcelona apresentam
singularidades, com um poder
público mais descentralizado
e com um maior peso dos
movimentos sociais. Pelo mundo
fora, os sindicatos de inquilinos vão
convencendo a opinião pública e os
decisores políticos de que a
desadequação entre rendas e
rendimentos, mais do que um
fenómeno natural, tem causas
socioeconómicas. Contribuem,
para o agravamento desta
distância, uma dinâmica do
mercado imobiliário fortemente
alimentada por processos
especulativos, a par com uma
reduzida regulação dos seus
excessos. Não são condições
propícias para a dita
“concorrência” num mercado que
não é assim tão “livre”, quando as
desigualdades são tão acentuadas.
Cientes da limitação das
respostas padronizadas face ao
espectro das necessidades, Berlim e
Barcelona ensaiam fórmulas em
que a implementação de cada
mecanismo de acção não substitui
as restantes vertentes: a promoção
de habitação pública não contém os
efeitos de um mercado
desregulado, como o investimento
privado não substitui o público.
Nestas cidades, os problemas do
cidadão comum já levaram à
actuação em várias frentes e em
simultâneo, combinando a mais
corrente promoção pública de
habitação com outras
possibilidades de acção tanto a
nível da regulação (com a limitação
do uso turístico de habitações, a
integração de uma percentagem de
habitação a custo justo nos
investimentos privados ou o
estabelecimento de valores de
referência para o arrendamento)
como da promoção de iniciativas
colectivas e cidadãs.
Entretanto, em Portugal a
situação é mais grave, mas as
respostas mais reduzidas. A acção
pública, para já, está concentrada
no apoio ao arrendamento ou à
reabilitação (não só insuÆciente,
como limitada na disponibilidade e
elegibilidade). Por cá, a experiência
diz-nos que a desigualdade não
reside apenas no poder de compra
mais reduzido, mas também na
impossibilidade de aceder aos
Ænanciamentos, de contornar a
legislação ou até de inÇuir na sua
criação. Quem usa a habitação para
lucrar no mercado tem acesso a um
capital técnico inatingível para o
cidadão comum. Há esperança,
porque as soluções existem. Só
temos é de puxar por elas. Mas,
acima de tudo, é essencial começar
a tornar menos desigual a
Em Portugal,
a situação é mais
grave, mas as
respostas mais
reduzidas
MARTA RODRIGUEZ
concorrência entre actores que, na
área da habitação, procuram
objectivos que se excluem
mutuamente.
A nível transnacional, faríamos
bem em usar as instituições
europeias para alterar os quadros
regulamentares e Ænanceiros, que
só funcionam para uma minoria,
em prejuízo dos muitos. E a nível
nacional também é bastante o que
se pode fazer, sem esperar por
muito mais do que duas coisas
bastante simples: uma articulação
mais ágil e célere entre os vários
níveis da administração (porque as
ferramentas já existem, só que
estão desfasadas do contexto de
forte pressão urbanística que
sofremos) e uma implementação
rápida de alguns princípios da Lei
de Bases de Habitação (que não só
promove uma maior proximidade
aos territórios e uma maior
autonomia das autarquias como
prioriza, a nível de Ænanciamento
estatal, aqueles municípios que
declarem fundamentadamente a
carência habitacional).
Não fazer isto será tanto como
assistirmos a cenários cada vez
mais negativos em pelo menos dois
planos. O primeiro, o do acesso a
uma habitação condigna (e,
cuidado, irão aumentar as rendas e
Três cidades todos os custos associados à Æleira
da construção, tornando
partilham mais do irrelevantes os programas criados).
que a proximidade Por outro, na deslegitimação das
entidades públicas que devem
a um rio. São o garantir uma habitação para a toda
testemunho da a gente (o que, a nível democrático,
traz enormes riscos associados).
vulnerabilidade Em Portugal, estão criados os
dos residentes face princípios, faltará chegar aos seus
Æns. A Katrin já se mexeu, e a
ao mercado Caterina começou a mexer-se. Pode
globalizado não ser suÆciente, mas a situação é
grave e é preciso reagir. De uma
coisa estamos certos: com toda a
probabilidade, a Catarina esta
mesmo a precisar que o cenário
mude rápida e assertivamente.
Investigadores do grupo
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26 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
MUNDO
Dar de comer à praga: gafanhotos
adoram as alterações climáticas
Uma das pestes migratórias mais antigas
do mundo está a pôr em perigo a
segurança alimentar na África Oriental a
grande velocidade. FAO pede 76 milhões
de dólares para ajudar no combate
África
António Rodrigues
No mês passado, um avião da Ethio-
pian Airlines proveniente do Djibuti
preparava-se para aterrar no aeropor-
to de Dire Dawa, segunda maior cida-
de da Etiópia, quando um enxame de
gafanhotos envolveu a aeronave, cho-
cando com os pára-brisas e entrando
no motor, pondo em perigo o apare-
lho e obrigando os pilotos a alterarem
a rota para Addis-Abeba, a capital.
Há um quarto de século que a Etió-
pia não enfrentava uma praga de
gafanhotos desta dimensão, que
ameaça a segurança alimentar da sua
população pondo em perigo as colhei-
tas de cereais. Etiópia, Quénia, Somá-
lia, Djibuti, Eritreia e, dentro de pou-
co tempo, Uganda e Sudão tentam
combater com meios escassos milha-
res de milhões de insectos esfomea-
dos (comem diariamente o equivalen-
te ao seu peso) que deixam um rasto
de destruição nos campos cultivados.
Estes dois últimos países não têm
registos destas pragas desde 1961.
O Governo ugandês decidiu enviar
dois mil militares e civis para o Nor-
deste do país para tentar combater os
enxames assim que entrarem no país.
“É apenas uma questão de horas para
o gafanhoto entrar no Uganda. Outro
enxame está a ir em direcção à Tanzâ-
nia, depois de passar o Quénia, vindo
da Somália”, refere um comunicado
do executivo.
“A velocidade de alastramento da
peste e a dimensão da infestação são
tão inesperadas que estão a esticar
até ao limite os recursos das autorida-
des locais e nacionais”, escreveu
recentemente a Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura (FAO). Até porque “as
comunidades na África Oriental já
estavam a sofrer o impacto de secas
prolongadas, que fragilizaram a sua
capacidade de produzir alimentos e
ganhar a vida”, como explicou o
director-geral da FAO, Qu Dongyu.
As famílias mais vulneráveis
“enfrentam agora a perspectiva de
ver as suas colheitas destruídas à fren-
te dos seus olhos”, referia Mark
Lowcock, subsecretário-geral da ONU
para assuntos humanitários. Quase 12
milhões de pessoas estão em risco,
sobretudo no Corno de África.
No Quénia, não se via nada assim
desde há 70 anos. “Nem as vacas per-
cebem o que se está a passar”, dizia o
agricultor Ndunda Makanga ao South
China Morning Post.
Chuvas anormais
Os gafanhotos começaram a ver-se
na África Oriental em Junho do ano
passado, no Leste da Etiópia e no
Norte da Somália. Temperaturas
altas e um dos anos mais chuvosos
registados na região (entre Outubro
e Dezembro a precipitação foi 400
vezes superior ao normal) contribuí-
ram para a multiplicação dos gafa-
nhotos do deserto que se reprodu-
zem a um ritmo vertiginoso nessas
condições ideais de água e abundan-
te vegetação: o ciclo de gestação é de
três meses e cada fêmea deposita 80
a 360 ovos de cada vez. Há 70 anos que o Quénia não enfrentava uma praga de gafanhotos do deserto, que ganham músculo e mudam
Os cientistas calculam que o núme-
ro de gafanhotos, já na casa dos milha- Praga de gafanhotos
res de milhões, pode multiplicar-se
por 500 até Junho, altura em que se
Irão Paquistão
prevê que o combate à praga comece
a fazer efeito.
Egipto
“Este surto de gafanhotos é o maior
dos últimos 25 anos na Etiópia e na EAU Índia
Arábia Saudita
Somália, dos últimos 26 anos na Índia Omã
e dos últimos 70 anos na Quénia”,
aÆrma Keith Cressman, especialista
em pragas de gafanhotos da FAO. Terá Iémen
sido originado pelos dois ciclones de Eritreia
Maio e Outubro de 2018, que liberta- Sudão Mar Arábico
ram muita precipitação na Península Djibuti
Etiópia
Arábica e na África Oriental e permi-
tiram o nascimento de três gerações Sudão
novas de gafanhotos de Junho de 2018 do Sul
a Março de 2019. “Chuvas fortes Somália Enxames
levam ao crescimento de vegetação Bandos
em zonas áridas onde os gafanhotos Uganda
Grupos
do deserto podem crescer e reprodu- Adultos
zir-se” e terá sido o que aconteceu no Quénia Saltões
deserto de Omã, refere Cressman. Tanzânia
“Ninguém sabia o que estava a Fonte: FAO (3 de Fevereiro) PÚBLICO

DAI KUROKAWA/EPA
acontecer numa das zonas mais
remotas do planeta”, diz Cressman.
“Ali não há nada — não há estradas,
não há infra-estruturas, não há Face-
book, nada de nada. Tudo o que há
são dunas de areia gigantes, tão altas
como arranha-céus.”
Só no Ænal de 2018, quando os gafa-
nhotos se começaram a deslocar para
o Sul de Omã é que os observadores
lançaram o alerta tardio. Numa altura
em que a multiplicação de insectos
obrigara à sua migração em busca de
outras fontes de alimento.
Os gafanhotos são uma das pestes
migratórias mais antigas do mundo,
a ponto de Ægurarem entre as pragas
bíblicas, e formam-se a partir de espé-
cimes solitários que mudam a sua
Æsionomia (ganham músculo e pas-
sam a ter cores mais garridas) e com-
portamento, formando enxames
agressivos que podem percorrer lon-
gas distâncias (chegam a fazer 150
quilómetros por dia). Um enxame
pode estender-se por 1 km2 (40 a 80
milhões de gafanhotos) ou mais.
As alterações climáticas estão a aju-
dar a criar as condições para que estes
fenómenos se multipliquem. Fortes
chuvas que fazem crescer a vegetação
seguidos de períodos de grande seca
são ideais para a sua procriação
(experiências feitas pela Global
Locust Initiative na Austrália mostram
que os gafanhotos podem estar até
um mês sem beber água) e os fenó-
menos climáticos extremos são aqui-
m de cor quando se juntam em grupos lo a que estamos a assistir cada vez
FEISAL OMAR/REUTERS
mais no planeta.
Quando o deserto de Omã foi devol-
vido à condição árida, sem vegetação,
os exércitos de gafanhotos do deser-
to, movidos pela busca de alimento e
com a coragem da multiplicação,
espalharam-se em várias direcções.
No vizinho Iémen, devastado pela
guerra e sem meios para enfrentar os
enxames, não se recorreu ao meio
mais eÆcaz para lidar com a praga,
usar aviões para espalhar o pesticida
que os mata em poucas horas. Chuvas
fortes ajudaram ao banquete dos
insectos que, no Verão passado, cru-
zaram o Golfo Pérsico para a Somália,
outro país onde a capacidade do Esta-
do de mobilizar meios de combate às
pragas também é diminuto e onde
dois milhões de pessoas vivem em
condições alimentares precárias.
Também no Irão, Índia e Paquistão,
a quantidade anormal de chuva aju-
dou à propagação da espécie. Os gafa-
nhotos multiplicaram-se na Primave-
ra iraniana e seguiram para leste. “A
reprodução de Verão, nos dois lados
da fronteira indo-paquistanesa, foi
muito mais alta do que o normal devi-
do à invasão de enxames e as chuvas
da monção que duraram mais um
mês do que o normal, permitindo que
nascessem mais três gerações”, acres-
centou Cressman.
Roxy Matthew Koll, climatólogo no
Instituto de Meteorologia Tropical
Indiano, em Pune, explicou à The
Week que as alterações climáticas
acentuaram o Dipolo do Oceano Índi-
co, também conhecido por El Niño do
Índico, com águas mais quentes do
que o habitual a oeste e mais frias do
que o normal a leste. “A somar a isso
tudo, a subida da temperatura devido
ao aquecimento global tornou o ocea-
20%
Num ano de praga, uma em cada
dez pessoas no mundo sente o
impacto da passagem dos
gafanhotos, que chegam a cobrir
20% da superfície do planeta
450
Para combater a praga de
2003-2005, que causou 2,5 mil
milhões de dólares de prejuízo
em África, foram gastos 450
milhões de dólares
35
Os gafanhotos do deserto
comem o equivalente ao seu
peso num dia: um enxame de um
km2 consome a comida de 35
mil pessoas
500
Nas actuais condições
climatéricas, os cientistas
calculam que o número de
gafanhotos possa aumentar
500 vezes até Junho
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 27
Temos de agir
imediatamente, os
gafanhotos não esperam::
vão chegar e destruir
Maria Helena Semedo
Vice-directora-geral da FAO
no Índico ocidental especialmente
quente”, disse.
Ajuda urgente
“Temos de agir imediatamente por-
que os gafanhotos não esperam: vão
chegar e destruir”, avisou no Ænal de
Janeiro Maria Helena Semedo, vice-
directora-geral da FAO para o Clima
e os Recursos Naturais. “Temos de
enfrentar a emergência, mas também
temos de pensar nos meios de subsis-
tência e no longo prazo”, acrescentou
a economista cabo-verdiana.
A FAO pediu 76 milhões de dólares
para enfrentar a praga nos cinco paí-
ses onde já há presença de enxames:
Etiópia, Somália e Quénia, onde as
condições são piores, e Djibuti e Eri-
treia, que também já estão a ser afec-
tados. No entanto, mais dinheiro será
preciso para ajudar o Sudão do Sul e
o Uganda a enfrentar o problema. Até
sexta-feira, este organismo das
Nações Unidas já tinha conseguido
juntar 18 milhões de dólares.
Um milhão de dólares vem do Fun-
do Fiduciário de Solidariedade Afri-
cana (ASTF), criado por países do
continente para ajudar projectos de
desenvolvimento. “Temos uma jane-
la de oportunidade antes da próxima
época de plantio. Temos de agir ago-
ra. Fundos Çexíveis, como o ASTF,
ajudam-nos a avançar rapidamente”,
explicou Maria Helena Semedo.
Uma nova geração de gafanhotos
vai nascer em Fevereiro e novos enxa-
mes devem formar-se em Abril, coin-
cidindo com a próxima colheita. Altu-
ra em que os ventos começam a
soprar para norte, tornando provável
que novos enxames formados no
Quénia voltem a invadir a Somália e
a Etiópia e migrem para novas áreas
no Sudão do Sul e Sudão.
“Os gafanhotos comem pratica-
mente tudo”, explica Cressman,
citado pelo The Telegraph. “Um
enxame pode chegar a um campo
agrícola de manhã e a meio do dia já
não haver mais nada. Um campo que
facilmente poderia representar a
comida para uma família durante um
ano.” Para o subsecretário-geral da
ONU para assuntos humanitários,
Mark Lowcock, “famílias vulneráveis
que já estavam a lidar com a escassez
de alimentos enfrentam agora a pers-
pectiva de ver as suas colheitas des-
truídas diante dos seus olhos. Temos
de agir agora.”
antonio.rodrigues@publico.pt
PERGUNTA E RESPOSTA
Onde se iniciou a praga e por
que foi detectada tão tarde?
A Organização das Nações
Unidas para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) coordena
uma rede de observadores
humanos e de dados de
satélite, monitorizados em
tempo real, mas esta praga
surgiu no deserto de Omã, um
dos lugares mais remotos do
planeta, iludindo a vigilância.
Só quando os observadores
encontraram gafanhotos no
Sul de Omã, no final de 2018,
é que se fez soar o alarme.
Qual a dimensão da praga?
É a maior praga de gafanhotos
do deserto em 70 anos no
Quénia, em 26 anos na Índia
e em 25 anos na Etiópia e na
Somália, de acordo com a FAO.
Os enxames já atingiram Omã,
Iémen, Somália, Etiópia,
Quénia e dirigem-se para
o Sudão do Sul e o Uganda.
Como chegam a viajar 150
quilómetros por dia, são muito
difíceis de travar, até porque a
sua dimensão está a esgotar
os recursos para o seu
combate. “Este surto
devastador de gafanhotos está
a destruir a vegetação da
África Oriental a uma
velocidade e ferocidade
alarmantes”, afirmou Mark
Lowcock, subsecretário-geral
da ONU para Assuntos
Humanitários. A FAO já
angariou mais de 18 milhões
de dólares dos 76 milhões que
precisa para combater a praga.
Que áreas estão ameaçadas?
A área mais afectada é a do
Corno de África, com grande
ameaça à segurança alimentar;
nas margens do mar Vermelho
há enxames nas fronteiras do
Sudão com a Eritreia e com o
Egipto, e do Iémen chegaram à
Arábia Saudita; no Sudoeste da
Ásia, os enxames aproveitaram
as fortes chuvas na costa Sul
do Irão para depositar ovos e
as condições favorecem o
nascimento de, pelo menos,
duas gerações. A.R.
28 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
MUNDO
Comboio militar turco a entrar na Síria na sexta-feira da semana passada
Turquia avança sobre as forças
sírias se Assad não retirar
de Idlib até ao fim do mês
Médio Oriente
Centenas de veículos
blindados turcos entraram
na Síria nos últimos dias.
“Todas as opções estão
sobre a mesa”
A Turquia enviou reforços substan-
ciais para a região de Idlib, no Noroes-
te da Síria, e mantém “todas as opções
sobre a mesa”, disse uma fonte oÆcial,
numa altura em que Ancara tenta
contrariar o rápido avanço das forças
governamentais.
A ofensiva do Governo em Idlib, o
último grande enclave da oposição ao
Presidente Bashar al-Assad, levou
mais de meio milhão de pessoas a
abandonar as suas casas e a dirigir-se
para a fronteira da Turquia, abrindo
mais uma crise humana no país. A
Turquia já alberga 3,6 milhões de
refugiados sírios e diz que não pode
receber mais — exigindo que Assad
recue em Idlib até ao Æm de Fevereiro
ou arrisca-se a uma ofensiva turca.
Longos comboios militares consti-
tuídos por tanques, veículos blinda-
dos de transporte de tropas e outro
equipamento cruzou a fronteira para
reforçar o contingente turco na Síria
posicionado numa dúzia de postos,
alguns deles cercados pelas tropas
sírias que progridem no terreno.
“Houve um substancial reforço de
tropas e equipamento militar, envia-
dos para a região de Idlib nas últimas
semanas”, disse a fonte da Reuters.
Trezentos veículos entraram em
Idlib no sábado, o que perfaz um total
de mil enviados só em Fevereiro,
acrescentou, não querendo especiÆ#
car a quantidade de tropas destaca-
das para a Síria, mas dizendo que foi
“uma quantidade considerável”. “Os
postos de observação foram total-
mente reforçados”, disse a fonte. “A
frente em Idlib foi fortalecida”.
Segundo o Observatório Sírio dos
Direitos Humanos, um organismo
com sede em Londres em contacto
com fontes no terreno, 1240 veículos
militares cruzaram a fronteira em
direcção a Idlib na semana passada,
assim como cinco mil soldados.
Os combates em Idlib abalaram a
frágil cooperação entre a Turquia,
que apoia a oposição, e a Rússia, cujo
apoio, inclusive aéreo, ajudou o Pre-
sidente Assad a fazer regressar quase
todo o território ao seu controlo.
Na segunda-feira passada, oito mili-
tares turcos foram mortos em bom-
bardeamentos das forças sírias, levan-
do a Turquia a dizer à Rússia para “se
YAHYA NEMAH/EPA
manter afastada”, enquanto as suas
tropas retaliavam.
“O regime, com o apoio da Rússia,
tem estado a violar todos os acordos”,
disse a fonte oÆcial sob anonimato.
“Estamos preparados para todas as
eventualidades. E, claro, todas as
opções estão sobre a mesa”.
Segundo um acordo de cessar-fogo
acertado em 2018 entre a Turquia e a
Rússia, Ancara estabeleceu 12 postos
de observação que estão agora cerca-
dos. Apesar do desentendimento
sobre Idlib, os dois países vão voltar
a reunir-se esta semana.
Do lado sírio, as Forças Armadas
Æzeram saber ontem que recaptura-
ram 600 quilómetros quadrados de
território, recuperando o controlo de
várias cidades e vilas nos últimos dias,
e que os combates vão continuar.
O Governo de Ancara, do Presiden-
te Recep Erdogan, pediu a Moscovo
para conter a ofensiva em Idlib, que
já levou as forças do Governo de
Damasco a posicionarem-se a 16 qui-
lómetros da capital da província, a
cidade de Idlib, que tem mais de um
milhão de pessoas. O ministro da
Defesa turco, Hulusi Akar, sublinhou
ontem que as tropas de Damasco
devem retirar-se. “Se o regime não
retirar até ao Ænal de Fevereiro,
vamos agir”, disse Akar ao Hurriyet.
Será este o fim
da política
bipartidária
na Irlanda?
Eleições
António Rodrigues
Mary Lou Mcdonald fez
do Sinn Féin uma força
capaz de disputar o poder
e sonha agora com uma
coligação de esquerda
Há quase 100 anos que a Irlanda não
tem um Governo do Sinn Féin. No
entanto, as eleições deste sábado tor-
naram plausível a possibilidade de que
o próximo inclua a formação de cen-
tro-esquerda. Daí que Mary Lou McDo-
nald, a líder do partido que foi duran-
te anos o braço político do Exército
Republicano Irlandês (IRA), aÆrmasse
este domingo que se tratou de “uma
eleição sobre a mudança”.
“Quero que tenhamos um Governo
para o povo. Idealmente, quero que
tenhamos um Governo sem o Fianna
Fáil e o Fine Gael. Já iniciei contactos
com outros partidos para nos próxi-
mos dias perceber se há essa possibi-
lidade”, disse McDonald, a primeira
a ser eleita deputada no círculo de
Dublin Central. O Sinn Féin preferia
uma coligação de centro-esquerda
com o Partido Verde, os sociais-de-
mocratas e o Solidariedade-Pessoas
antes do Lucro, porém, pragmática,
a sua líder admite que falarão com
toda a gente e ouvirão toda a gente.
O Fine Gael (democrata-cristão)
está no Governo desde 2011 e desde
1932 que não há um executivo que
não inclua um dos dois grandes par-
tidos que dominam a política do país.
Simbólico foi o facto de nem o líder
Mary Lou McDonald
do conservador Fine Gael, o primei-
ro-ministro Leo Varadkar, nem o líder
do Fianna Fáil (centro-direita),
Michéal Martin, terem conseguido ser
os candidatos mais votados nos seus
respectivos círculos eleitorais, batidos
por candidados do Sinn Féin.
Varadkar aÆrmou este domingo
que não irá conversar com Mary Lou
McDonald sobre a possibilidade de
uma coligação de Governo, “pelo
menos para já”. Martin, que durante
anos aÆrmou que nunca se juntaria
ao Sinn Féin, não fechou a porta a
essa possibilidade: “Sublinho que há
uma grande incompatibilidade entre
nós e o Sinn Féin, mas o mais impor-
tante é que o país está em primeiro
lugar e há uma grande responsabili-
dade a pesar sobre todos nós para
que se forme um Governo.”
Num partido habituado ao poder
como o Fianna Fáil (desde 1932 esteve
no Governo 71 anos), a margem de
manobra para o seu líder é diminuta
e esta era a última oportunidade para
chegar a primeiro-ministro. Ideal-
mente, Martin preferia ter deputados
para acertar uma coligação com o
Partido Verde (PV) e os Trabalhistas,
mas estas duas formações não tive-
ram o resultado esperado nas urnas.
Os ecologistas subiram, embora não
tanto como esperavam, e o Labour
teve um “mau dia”, como aÆrmou o
seu líder, Brendan Howlin.
O PV não conseguiu mobilizar o
eleitorado com o discurso das altera-
ções climáticas, porque nesta eleição
esse foi um assunto secundário, domi-
nada que foi a campanha pelo proble-
ma da habitação (que mobilizou o
eleitorado jovem) e a deterioração do
serviço nacional de saúde (que cati-
vou os votantes mais idosos).
Mary Lou McDonald assentou a sua
campanha nesses dois grandes temas,
conseguindo, dessa forma, superar o
preconceito do eleitorado em relação
a um partido que surgiu como arma
política de um grupo armado e intro-
meter-se na luta das duas grandes
forças da política irlandesa.
“Já não é um sistema bipartidário.
As pessoas querem um tipo de gover-
no diferente”, disse McDonald. “O
Sinn Féin foi ter com as pessoas e con-
venceu muitas delas de que somos a
alternativa, somos o veículo da
mudança”, disse, antes de acrescen-
tar que não pode haver “mais cinco
anos de crise da habitação”.
antonio.rodrigues@publico.pt
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30 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
MUNDO
Aos 40, o PT combate um Governo
“inimigo” e digere as tensões internas
Um partido operário fundado num colégio católico foi
só a primeira das muitas contradições do Partido dos
Trabalhadores ao longo de 40 anos. Derrotar Jair Bolsonaro
é agora o grande objectivo de Lula da Silva
Brasil
João Ruela Ribeiro
A 10 de Fevereiro de 1980, o Colégio
Nossa Senhora de Sion, uma escola
católica centenária num dos bairros
mais exclusivos de São Paulo, foi o
local escolhido para o acto fundador
do Partido dos Trabalhadores (PT).
Nesse dia, o elegante edifício de linhas
clássicas recebia um grupo heterodo-
xo composto por dirigentes sindicais,
académicos, antigos guerrilheiros e
católicos progressistas. A aparente
contradição entre o luxo de um colé-
gio católico privado e as raízes operá-
rias de um partido que pretendia
representar a classe trabalhadora
brasileira foi apenas a primeira nas
quatro décadas de história do PT.
O partido que estrutura o sistema
político brasileiro comemora as qua-
tro décadas num dos momentos mais
críticos da sua existência. O seu líder
histórico, Lula da Silva, permanece
nas malhas da justiça, apesar de ser
mais decisivo do que nunca, ao mes-
mo tempo que o “antipetismo” pare-
ce ser uma força capaz de mover
montanhas — ou de eleger para Presi-
dente alguém como Jair Bolsonaro.
Depois da derrota de 2018, o momen-
to seria para o PT assumir a liderança
da oposição, mas a desconÆança
entre os seus aliados naturais e as pró-
prias tensões internas estão a adiar
esse passo.
Eduardo Suplicy era um dos pre-
sentes no Colégio Sion há 40 anos.
Era então deputado estadual em São
Paulo, eleito, um ano antes, pelo
Movimento Democrático Brasileiro
(MDB) — o partido que congregava a
oposição ao regime militar —, mas há
muito que se tinha aproximado do
grupo que viria a fundar o PT. Entre
eles destacava-se o presidente do Sin-
dicato dos Metalúrgicos de São Ber-
nardo do Campo, um operário caris-
mático chamado Luiz Inácio Lula da
Silva, cujo rosto era já conhecido em
todo o país pela liderança das maiores
greves no coração industrial do Brasil
no Ænal dos anos 70.
Na época, Suplicy era professor de
Economia na Fundação Getúlio Var-
gas e costumava assinar uma coluna
na Folha de São Paulo. As suas análises
à conjuntura económica, em que
também abordava a desigualdade
social, chamaram a atenção de Lula,
que em 1976 foi assistir a uma das suas
palestras e bombardeou Suplicy de
perguntas, conta o agora vereador
municipal de São Paulo ao PÚBLICO,
por telefone. “Um professor disse-
me: ‘O que irá dizer o director da
faculdade quando souber que está
aqui um perigoso líder sindical?’.
Depois da palestra saí com o Lula e
passámos a conversar.”
Carácter agregador
Nas primeiras eleições nacionais a
que o PT concorreu, em 1982, Suplicy
fez história e tornou-se num dos pri-
meiros deputados federais eleitos
pelo partido. Lula teria de esperar um
pouco mais para alcançar o seu desí-
gnio — duas décadas depois, o operá-
rio nordestino iria subir a rampa do
Palácio do Planalto para receber a
faixa presidencial. Relações pessoais
como a estabelecida entre Lula e
Suplicy — uma aliança entre o instinto
Quando [o PT]
se torna Governo
e implementa
políticas sociais,
por mais tímidas
que fossem, que
aproximam a base
da sociedade muito
pobre da classe
média, a classe
média aproxima-se
da direita
Lincoln Secco
Historiador
político e a análise crítica — são essen-
ciais para se perceber o percurso do
PT, as suas contradições, e o carácter
excepcional do partido.
Uma das marcas distintivas do PT
desde a sua fundação é o carácter
agregador do partido. Vários secto-
res sociais, aparentemente inconci-
liáveis, convergiram para a sua cria-
ção, como os sindicatos, intelectuais,
antigos guerrilheiros marxistas, estu-
dantes e católicos progressistas. Esta
amálgama obrigou o PT a uma cons-
tante conciliação entre as diferentes
sensibilidades e a debater políticas
— uma lufada de ar fresco num con-
texto em que os partidos que se cria-
vam mais não eram do que instru-
mentos ao serviço de interesses
pessoais.
Afonso Magalhães era activista
estudantil na Universidade de Brasília
em 1980, onde promovia debates
com sindicalistas, incluindo Lula.
Descreve a relação entre os estudan-
tes universitários e os operários como
uma “simbiose perfeita”, muito mais
do que com os intelectuais, por
exemplo. “O movimento estudantil
era mais um movimento de combate
à ditadura e identiÆcou-se com a
audácia dessa direcção operária de extrema-esquerda que renunciaram O PT atravessa
organizar greves no principal centro à ideia de uma revolução socialista no um dos
industrial do país”, recorda, em con- Brasil e que viram nos sindicalistas momentos
versa com o PÚBLICO, por telefone. uma oportunidade de terem uma mais críticos
Para Magalhães, que hoje é econo- base social. E os sindicalistas viram da sua
mista, a característica que mais o neles a possibilidade de terem uma existência.
atraiu no PT foi o “funcionamento formulação ideológica mais consis- Lula da Silva, a
democrático” do partido, onde “não tente, sobretudo para combater a braços com a
existe ‘coronelismo’”. esquerda do partido que usava uma justiça,
O partido debateu-se com lutas linguagem marxista, académica, que continua a ser
internas, levando à criação da princi- eles não dominavam”, diz o historia- o seu líder
pal tendência, conhecida como Arti- dor. histórico e
culação. “Foi uma resposta do grupo incontestável.
ligado ao Lula e aos sindicalistas con- Força estrutural Ao lado, o
tra algumas tendências de esquerda Os anos antes da chegada à presidên- sindicalista
mais ideológicas que queriam contro- cia foram de pequenas vitórias locais, Lula com
lar o partido”, conta ao PÚBLICO o em prefeituras, alguns governos esta- metalúrgicos
professor do Departamento de Histó- duais e na eleição de deputados e em São
ria da Universidade de São Paulo senadores federais. Mas Brasília con- Bernardo do
(USP), Lincoln Secco, através do tinuava longe. O PT continuava sem Campo
Skype. Na época, tratou-se de um ser aceite pelo sistema político cons- (estado de São
casamento de conveniência para evi- truído pela chegada da democracia. Paulo), em
tar a radicalização do PT, permitir a O grande golpe foi a campanha presi- 1979
criação de pontes e chegar ao poder. dencial de 1989, em que a inÇuente
“Foi uma união entre pessoas de Globo manipulou as imagens do

RICARDO MORAES/REUTERS
debate entre Lula e Fernando Collor
de Mello, beneÆciando o segundo. Os
“petistas” nunca mais esqueceram.
Lincoln Secco nota que uma das
principais funções do PT foi estrutu-
rar o sistema político, entre “petis-
mo” e “antipetismo”, uma espécie de
bipartidarismo oculto. Desde 1989,
em todas as eleições presidenciais a
candidatura do PT Æcou sempre num
dos dois primeiros lugares. “Os outros
partidos que representam o ‘antipe-
tismo’ mudam, mas o PT permane-
ce”, observa o autor de História do
PT, publicado em 2015.
“O PT é um partido que surge na
sociedade mais desigual no planeta,
se considerarmos os grandes países”,
diz o historiador, e, por isso, a redis-
tribuição de rendimentos foi sempre
uma das grandes bandeiras. O projec-
to político do PT era integrar a enor-
me camada de pobres na sociedade
de consumo que se formava no perío-
do de redemocratização. As elites
tremiam. A poucos meses das elei-
ções presidenciais de 2002, Lula
publicou a sua Carta ao Povo Brasilei-
ro, em que se comprometia a cumprir
as obrigações Ænanceiras e a manter
muitas das políticas orçamentais de
Fernando Henrique Cardoso. Trata-
va-se de vencer a desconÆança do
mercado. Lula punha o pé na porta e
obrigava o establishment político-Æ#
nanceiro a aceitar o PT. Resultou.
Curiosamente, antes de chegar ao
Planalto, o PT gozava de apoio de
CLOVIS CRANCHI/REUTERS
grande parte da classe média, tendo
no Partido da Social-Democracia Bra-
sileira (PSDB) o grande adversário
pelo voto deste eleitorado. Um dos
principais apelos do PT junto deste
sector era o “forte discurso ético”, diz
Secco. “Como não estava no Governo,
[o PT] ocupava algumas prefeituras e
governos estaduais e podia ter esse
discurso que também o diferenciava
dos outros partidos”, explica o histo-
riador.
Ascensão e queda
Os anos no poder mudaram o partido
e a sua imagem. O PT sempre tinha
sido um partido com uma forte mili-
tância, mas a permanência de Lula, e
depois Dilma Rousseè, em Brasília fez
o número de militantes disparar. De
419 mil inscritos em 2003, o Partido
dos Trabalhadores passou a ter 1,5
milhões em 2018, de acordo com
dados do Tribunal Superior Eleitoral.
A base de apoio também se alterou,
sobretudo a nível geográÆco. No iní-
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 31
Não vamos Äcar
a imolar-nos ou
a martirizar-nos
por conta de erros
Afonso Magalhães
Militante do PT
cio, os estados de São Paulo, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul eram os
bastiões eleitorais do PT.
Nos anos seguintes, a implementa-
ção dos vários pacotes de assistência
social converteu milhões de nordes-
tinos — os estados mais pobres do
Brasil — em eleitores do PT. “O peso
dos sindicatos diminuiu, porque o
Nordeste é menos sindicalizado”,
acrescenta Secco.
Ao mesmo tempo, operava-se uma
mudança mais silenciosa, mas com
impacto mais profundo. A classe
média que tinha apoiado inicialmen-
te o PT estava a abandonar o partido,
em parte por repúdio aos programas
sociais. “Quando [o PT] se torna
Governo e implementa políticas
sociais, por mais tímidas que fossem,
que aproximam a base da sociedade
muito pobre da classe média, a classe
média aproxima-se da direita”, diz
Lincoln Secco.
Os escândalos de corrupção Æze-
ram o resto e aceleraram a expulsão
do partido do establishment. “O Lula
chegou a dizer que não era mais de
esquerda nem de direita, o PT trans-
formou-se no partido da ordem esta-
belecida, mas foi expelido”, aÆrma o
professor da USP. A 31 de Agosto de
2016, Dilma Rousseè foi afastada da
presidência, marcando um dos
momentos mais baixos da história do
PT — talvez apenas superado pela pri-
são de Lula, em Março de 2018.
No partido ninguém se convence
de que tudo não passou de uma
manobra do establishment de direita
para punir o PT por ter lutado contra
as desigualdades económicas no Bra-
sil. De fora, mesmo quem é próximo
do PT pede o reconhecimento dos
erros e dos abusos cometidos duran-
te os anos da governação, mas para
os “petistas” é injusto que se faça essa
exigência apenas ao partido, quando
os casos de corrupção apanharam
todo o sistema. “Não vamos Æcar a
imolar-nos ou a martirizar-nos por
conta de erros”, aÆrma Afonso Maga-
lhães.
Oposição a Bolsonaro
Um ano depois de Jair Bolsonaro ter
derrotado o PT, o uso da corrupção
para penalizar o partido perdeu for-
ça, analisa Lincoln Secco. “O discur-
so degenerou em algo muito pior,
que é o discurso protofascista, de
que o PT é igual ao comunismo, coi-
sas muito mais radicais e que susten-
tam o ‘bolsonarismo’.”
MUNDO
Poucos políticos terão encarnado
de forma tão violenta e visceral o
“antipetismo” como Bolsonaro, que,
a poucas semanas de ser eleito, pro-
metia “fuzilar a ‘petralhada’”. A elei-
ção de um Governo de extrema-direi-
ta — apologista da ditadura militar,
defensor de uma política de seguran-
ça punitiva, ofensivo para as minorias
e empenhado em enfraquecer os pro-
gramas económicos sociais — muda o
jogo para todos, especialmente para
o PT. Bolsonaro “não é um adversário
do PT, é um inimigo”, aÆrma Secco.
Um Governo tão radical obriga uma
oposição diferente. Assim que saiu da
prisão, Lula retomou o lugar de líder
indisputado do PT, que na verdade
nunca perdeu. O objectivo primordial
são as eleições presidenciais de 2022,
mas uma candidatura de Lula é alta-
mente improvável — o ex-Presidente
não foi ilibado dos crimes de corrup-
ção pelos quais foi condenado e res-
ponde ainda por outros processos.
Até agora, o discurso é de oposição
a toda a linha ao Governo de Bolsona-
ro, sobretudo no campo económico.
Mas internamente discute-se se o par-
tido não deveria também ser mais
incisivo na defesa dos direitos huma-
nos, tendo em conta os ataques quase
diários por parte de Bolsonaro. “Há
uma forte inclinação no PT para dei-
xar de lado o discurso de costumes,
que seria visto como uma cortina de
fumo em que Bolsonaro esconde as
suas reais intenções”, diz Secco.
Por outro lado, também há divisões
regionais que diÆcultam a vida do
partido. Os governadores “petistas”
no Nordeste receiam hostilizar em
demasia o Governo federal, com o
qual precisam de negociar orçamen-
tos e obras públicas. O governador da
Bahia, Rui Costa, pediu recentemen-
te ao PT que trabalhe pela “paciÆca-
ção” do país.
Porém, não parece possível vis-
lumbrar outro líder no PT que não
Lula da Silva, que continua a ser um
garante de votos infalível. A última
sondagem da Datafolha mostrava
que o ex-Presidente continua entre
os políticos em quem os brasileiros
mais conÆam. O militante Afonso
Magalhães não tem problemas em
reconhecer que, sem Lula, o Partido
dos Trabalhadores teria muito
menos votos. “O ‘lulismo’ é um
movimento popular e o PT é um
partido.”
joao.ruela@publico.pt
32 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
CIÊNCIA
“Estamos, claramente, num novo
capítulo da história geológica”
Dipesh Chakrabarty Historiador
indiano não tem dúvidas: os impactos
dos seres humanos no planeta
levaram-nos a uma nova época
geológica, o Antropocénico
Entrevista
Teresa Sofia Serafim
Enquanto estava na Austrália em
2003, Dipesh Chakrabarty
presenciou grandes incêndios.
A partir daí, começou a estudar
a história destes fenómenos e
deparou-se com o tópico das
alterações climáticas. InÇuenciado
por elas, o historiador indiano
confrontou-se com o conceito de
antropocénico e de como estamos
numa nova época geológica devido
às mudanças causadas pelos
humanos no planeta. Actualmente
é professor de História e Estudos do
Sudeste Asiático na Universidade de
Chicago e veio a Lisboa para dar
uma conferência na Culturgest com
o título O Clima da História: Dez
Anos Depois, organizada pelo
Centro Interuniversitário de
História das Ciências e da
Tecnologia no âmbito da iniciativa
Anthropocene Campus Lisboa:
Parallax.
Embora o Antropocénico ainda
não seja oficialmente
considerado uma época
geológica, na sua opinião, já
estamos no Antropocénico?
Para mim, já estamos no
Antropocénico devido aos impactos
dos seres humanos no planeta. Se
observarmos o que está a acontecer
à biodiversidade ou ao uso da água,
o impacto dos humanos é
incontestável. Provavelmente, estes
impactos já serão visíveis para os
futuros geólogos. Neste sentido,
acho que estamos claramente num
novo capítulo da história da
periodização geológica. Mas a base
cientíÆca que está a ser construída
para a denominação [formal] do
Antropocénico levará ainda muito
tempo até ser aceite.
Quais são as razões para
estarmos no Antropocénico?
Quando deÆniram a história
geológica do planeta, os geólogos
criaram diferentes períodos e
outras divisões, que estão
dependentes de certas mudanças
que consideram signiÆcativas. Para
que possam dizer que aconteceu
alguma mudança, tem de haver
provas cientíÆcas suÆcientes nas
rochas do planeta que deverão estar
disponíveis para futuros geólogos.
A partir do momento em que um
grupo de animais chamado
“humanos” produziu tanta energia,
isso mudou a história do planeta. Há
ainda geólogos que dizem que,
formalmente, o Antropocénico
poderá não existir. Mas estão a ser
publicadas provas cientíÆcas
realmente signiÆcativas.
De que provas estamos a falar?
Por exemplo, a maior população de
aves no planeta tem 21 mil milhões
de exemplares. Existem, assim, três
dessas aves por cada ser humano.
E que aves são essas? São os frangos
que produzimos para comer. É este
o tipo de poder que temos. A maior
população de aves formou-se por
nossa causa! A pessoa que
popularizou a expressão
Antropocénico foi Paul Crutzen
[juntamente com Eugene F.
Stoermer], que não estudava
Geologia, e fê-lo num momento de
irritação para nos dizer: “Temos de
ser capazes de reconhecer qual é o
verdadeiro poder dos seres
humanos.” Agora, os geólogos estão
a tentar encontrar as provas que o
fundamentem.
Podemos então dizer que somos geologia e a biologia estavam sobretudo dos estudantes de
uma força geológica? interligadas. Pensava que eram História e Filosofia, era a
Somos uma força geológica, tal áreas diferentes. Por isso, escrevi distinção entre a história natural
como uma erupção vulcânica ou a que os humanos eram agentes e a humana. Ainda é um
colisão de um asteróide. Podemos biológicos. Agora também sei que problema?
causar o mesmo tipo de mudanças. Temos de saber são geológicos. Na verdade, ao Até uma certa altura, ver a história
Há mais de dez anos publicou O
Clima da História: Quatro Teses,
como sincronizar longo da história do planeta, a
biologia e a geologia estão muito
humana e a natural juntas tinha
uma interpretação cristã: Deus
em que analisava a ideia de o calendário dos interligadas. Por exemplo, o tinha criado o mundo, os animais
Antropocénico como uma nova
época geológica através da
interesses oxigénio na atmosfera é algo que faz
com que haja vida da forma como a
e os humanos. Desde o século XVII
que existe a ideia de que há uma
história e da filosofia. O que humanos com conhecemos e o planeta tem mais diferença entre a criação de Deus,
mudou desde então?
Oh, tanta coisa! Quando estava a
o calendário do minerais devido à presença do
oxigénio.
a criação dos humanos e que os
humanos apenas conseguem
trabalhar n’O Clima da História, não planeta Nesse trabalho, referia que um compreender o que criaram. No
estava mesmo consciente de como a dos nossos problemas, século XIX, devido ao surgimento

de novas áreas como a Sociologia, a
Antropologia ou a História, a
história natural e a história social
Æcaram totalmente separadas.
Agora essa separação está a
quebrar-se. Para lhe dar um
exemplo, sabemos que
o nosso corpo é uma residência de
micróbios: o microbioma. Mas,
durante muito tempo, não sabíamos
da sua existência. Esses micróbios
têm um determinado papel na
produção de compostos químicos
que contribuem para os nossos
sentimentos. Podemos pensar que
estamos apaixonados por alguém,
RUI GAUDÊNCIO
mas talvez seja só um efeito dos
micróbios.
Tem feito questão de distinguir
os conceitos de planeta e globo.
O que é que isto significa?
O globo é tudo o que os humanos já
Æzeram. É algo “humanocêntrico”.
O planeta é uma entidade que não
conseguimos controlar. Na história
humana, encontramos o planeta
nas erupções vulcânicas ou quando
no século XVIII um terramoto
ocorreu em Lisboa. Chamo planeta
a algo muito maior do que o globo e
muito maior do que aquilo que
conseguimos controlar.
Por que é importante fazer estas
distinções ao nível das alterações
climáticas?
É importante porque as alterações
climáticas são um problema que
acontece em diferentes escalas.
Quando se perde biodiversidade,
não depende da capacidade humana
renová-la, porque leva milhões de
anos a restabelecer-se. Os humanos
conseguem inÇuenciar estes
processos de forma negativa porque
conseguem destruir, mas não está
dentro das suas capacidades
restaurar. Quando entramos na
dimensão do planeta, entramos nos
limites do jogo político.
O planeta não pode ser
politizado?
Não pode, mas o globo pode. O
globo é uma construção nossa. Mas,
quando estamos perante o planeta,
somos como qualquer outra
criatura que aí vive. Um exemplo
são os recentes incêndios na
Austrália: o planeta reduz-nos a
uma criatura que quer sobreviver
tal como qualquer outra.
As alterações climáticas devem
ser politizadas…
Devem ser politizadas porque estão
ao nível do globo e devem ser
politizadas com o argumento da
justiça climática: as nações mais
ricas são as mais responsáveis.
Depois, se os cientistas dizem que
deve haver um certo orçamento de
carbono, por que é que não agimos
como eles dizem? Porque queremos
criar mais desenvolvimento e
negociamos esses números. Mesmo
as Nações Unidas foram criadas
com base na ideia de que os
humanos têm muito tempo para
resolver estas questões. Temos um
calendário deÆnido em aberto,
enquanto o problema climático nos
dá calendários Ænitos.
Mas agora temos tido
calendários bem mais
apertados…
Os cientistas dão-nos calendários
apertados. Há uma tensão entre o
mundo global que não vê as
alterações climáticas a acontecer
e um outro calendário de como o
planeta funciona. Temos de saber
como sincronizar o calendário dos
interesses humanos com o
calendário do planeta. Esta é uma
das razões por que temos o
problema do negacionismo
climático. Os negacionistas dizem
que tudo isto é um disparate e que
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 33
O globo é uma construção
nossa. Mas, quando estamos
perante o planeta, somos
como qualquer outra
criatura que aí vive
temos todo o tempo do mundo para
resolver o que está mal. Durante
a história da industrialização, a
resposta humana frequente para
o ambiente é que podemos poluir
hoje, mas vamos Æcar ricos [e
resolvemos depois o problema].
As alterações climáticas não
funcionam com este modelo:
quanto mais industrial se Æca, mais
gases com efeito de estufa são
emitidos. Na verdade, se se Æcar
mais rico, só se vai tornar o
problema maior.
Qual era o objectivo quando
publicou O Clima da História?
Basicamente, queria dizer: “Uau, o
clima está a fazer com que a história
humana pareça diferente.”
Algumas pessoas perguntam-me
qual era mesmo a questão do artigo.
Digo-lhes que não sou político e, por
isso, não sei como solucionaremos
este problema. Não sou cientista e
não tenho soluções cientíÆcas. Sou
historiador e sei que um dia os
manuais escolares terão de dizer
algo sobre este tema às crianças.
Como pode a História ajudar a
compreender as alterações
climáticas?
A história dá-nos um sentido para
sabermos quem somos. Na minha
infância, os meus livros de História
preparavam-me para a
modernização. Em 20 ou 30 anos,
os livros de História prepararão as
crianças para que não pensem de
forma tão tranquila sobre os
humanos. Talvez as futuras crianças
tenham mais humildade e não
pensem que o mundo é só para nós.
Há dez anos, também referia que
era difícil que os cientistas
sociais, em países como a Índia,
tivessem interesse nas alterações
climáticas…
Até hoje isso é difícil. A China
está interessada no seu
desenvolvimento. Podemos dizer
que Xangai ou Pequim são cidades
muito poluídas e que isso afecta toda
a gente, mas a prioridade continua a
ser desenvolver o país para que seja
mais rico. Quanto se fala da China ou
da Índia, a principal questão é a
pobreza e não as alterações
climáticas. Eles acham que antes têm
de Æcar ricos e depois podem
resolver o problema com esse
dinheiro.
Mas não associam a poluição às
alterações climáticas?
Não, não associam. Pensam que a
poluição é uma prática da sua
produção imediata e que
conseguem solucioná-la. Isto é, há a
poluição atmosférica dos carros e
das queimadas agrícolas e essas são
poluições temporárias. O problema
a longo prazo é o aquecimento.
Esses países não pensam bem no
aquecimento que a poluição
temporária pode causar. Só pensam
nos problemas respiratórios, como
a asma. Isto acontece sobretudo nos
países que estão numa corrida para
Æcarem mais ricos. Estão focados no
presente e em crescer rapidamente.
Ora, as alterações climáticas são um
problema a longo prazo.
O seu interesse nas alterações
climáticas começou quando
estava a fazer o doutoramento
na Austrália em 2003 e
presenciou grandes incêndios.
O que o despertou exactamente?
Vivi na Austrália durante 20 anos e
adoro a natureza lá. Em 2003, os
incêndios destruíram a maioria dos
lugares naturais de que eu mais
gostava. Por isso, comecei a Æcar
com interesse na história desses
incêndios. Foi aí que descobri o
tema das alterações climáticas. Já
muito tarde, eu sei [risos]. Em 2007,
o quarto relatório do Painel
Intergovernamental para as
Alterações Climáticas destacou a
Austrália sobretudo devido à seca
e os animais a morrer. Nas eleições
desse ano, o clima tornou-se um
tema político e o Governo em
funções foi derrotado porque o
futuro primeiro-ministro disse que
iria assinar o protocolo de Quioto.
Como vê os incêndios na
Austrália deste ano?
Segundo aquilo que sei, a Austrália
tem uma longa história de incêndios
devido aos eucaliptos no país.
Depois, a intensidade desses
incêndios vem do calor porque o
país é tão seco que isso funciona
como um combustível. Nos últimos
20 ou 30 anos, é um dos países mais
desenvolvidos, não teve recessão,
sobretudo porque tem vendido
combustível à China. Contudo, o
combustível da China tem aquecido
o planeta. Além disso, tudo isto tem
sido acompanhado por políticas
que negam as alterações climáticas.
Mais uma vez, há um conflito
entre o planeta e o globo?
Claramente.
teresa.serafim@publico.pt
34 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
CULTURA
A Évora de Francisco de Holanda
é “uma idade de ouro perdida”
Exposição no Museu Frei Manuel do Cenáculo reúne livros,
manuscritos e pinturas que fazem parte do universo deste
artista do século XVI. Através dela Äcamos a saber que obras
leu, quem foram os seus mestres e por que razão podemos
dizer que chegou a Évora na altura certa
Museus
Lucinda Canelas texto
Sara Jesus Palma fotografia
Ouve-se Sylvie Deswarte-Rosa falar
sobre Francisco de Holanda e não há
como não sentir que também a His-
tória da Arte pode ser injusta. Por que
razão não Ægura o seu nome entre os
dos grandes teóricos da arte do Renas-
cimento, se é autor de tratados pio-
neiros de reconhecida qualidade?
Porque nasceu em Portugal e não em
Itália? Porque optou por escrever
algumas das suas obras em portu-
guês? Porque a maneira como olhava
para o pintor e para a pintura não
agradava à Inquisição e isso o obrigou
a ser mais discreto do que outros?
Quando se trata de Francisco de
Holanda (1517-1584), são sempre mais
as perguntas do que as respostas,
adverte Sylvie Deswarte-Rosa, histo-
riadora de arte francesa especializada
em Renascimento que descobriu o
artista nos anos 70 e que há muito
estuda o percurso do autor de trata-
dos como Da Pintura Antiga (1548),
terminado no regresso da sua viagem
a Itália, e Do Tirar Polo Natural (1549),
o primeiro sobre o retrato publicado
na Europa.
“Holanda fala muito pouco da sua
vida e, por isso, torna-se muito difícil
para os historiadores. É preciso adi-
vinhar”, brinca esta investigadora
emérita do prestigiado Centre Natio-
nal de la Recherche ScientiÆque a
quem se devem obras de referência
como Les Enluminures de la Leitura
Nova, 1504-1552. Étude sur la culture
artistique au Portugal au temps de
l’Humanisme, escrita a partir da colec-
tânea de cópias de documentos oÆ#
ciais, ricamente iluminada, que D.
Manuel I manda fazer em 1504 e que
tem António de Holanda, artista edu-
cado nos Países Baixos e pai de Fran-
cisco, entre os autores.
Francisco de Holanda em Évora —
Nascimento de um artista humanista,
exposição que até 31 de Março pode
ser vista no Museu Nacional Frei
Manuel do Cenáculo, em Évora, é o
mais recente instrumento desta histo-
riadora de arte para dar a conhecer a
obra do artista e teórico, depois de em
2018 ter comissariado na Biblioteca
Nacional de Portugal (BNP) Sob a Cha-
ma da Candeia, em torno dos livros
que contribuíram para a formação
deste homem singular que, garante,
poucos portugueses sabem quem é.
“Costumo dizer que a maioria das
pessoas sabe, no máximo, onde Æca
a rua de Lisboa que tem o seu nome
[no Bairro do Rego]. Na escola não se
diz quem foi Francisco de Holanda
quando se fala das grandes Æguras
portuguesas das artes e do conheci-
mento no século XVI [como Luís Vaz
de Camões, Pedro Nunes ou Garcia
de Orta], o que é simplesmente
incompreensível. A cultura de
Camões e de Holanda é a mesma, só
que a de Holanda é mais sólida em
termos visuais.”
Com esta exposição, Sylvie Deswar-
te-Rosa quer mostrar o ambiente
intelectual e artístico em que Francis-
co de Holanda, nascido em Lisboa,
faz a sua formação ao chegar a Évora
e à casa do cardeal infante D. Afonso,
de quem se torna moço de câmara
nos anos 30 do século XVI, um esta-
tuto que lhe permitia ser educado
entre Ædalgos.
D. João III (1502-1557) decidira
transferir a corte para esta cidade
alentejana depois do terramoto que
atingiu Lisboa em 1531. No seu paço
real funcionava a escola criada pelo
frade André de Resende — “talvez o
homem que mais inÇuência teve em
Holanda nestes anos cruciais da sua
formação, entre 1534 e 1537” — e onde
também eram professores Pedro San-
ches, Aires Barbosa ou Nicolaus Cle-
nardus. “Évora no tempo de D. João
III é uma idade de ouro perdida”, diz
esta investigadora que muito tem
escrito sobre Holanda.
As obras que agora reúne nesta
exposição são, na sua maioria, livros
— de História, de cultura clássica, de
astronomia —, mas há também folhas
de música do Convento de Nossa
Senhora do Paraíso, uma das muitas
casas religiosas da cidade e arredores,
recortes de letras de iluminuras,
genealogias em que a heráldica e o
retrato se cruzam, a píxide da Sé de
Évora, que a comissária acredita ter
sido desenhada por Francisco de
Holanda, e até o Livro das Cortes de
Évora de 1535 que tem passagens que
parecem inspiradas em crónicas de
costumes.
“Através de tudo isto vemos em que
mundo viveu e como, depois de rece-
ber os ensinamentos do pai na arte da
iluminura, Holanda aprofunda as
suas leituras e abre a sua cabeça à
cultura clássica e a outras inÇuên-
cias”, acrescenta a comissária da
exposição, apontando para uma obra
do historiador romano Plínio, o Velho
(23-79), “que era como uma Bíblia”
para o artista, e para De Crepusculis
Liber Unus, do matemático português
Pedro Nunes (1502-1578). “Holanda
não é simplesmente um artista, mas
um artista humanista, o que muda a
maneira como ele olha para o mundo
e como dá a ver o mundo.”
André de Resende, o mestre Em 1533, António de Holanda teria
Na exposição, que convida a um per- já uma oÆcina em Évora. Foi com o
curso pelos lugares ligados a este pai que Francisco de Holanda apren-
artista do Renascimento em Évora e deu a desenhar e a pintar. Uma vez na
até propõe um roteiro, há uma das cidade, deu continuidade à sua for-
suas raras pinturas, Veneração de Nos- Na escola não se mação artística, mas combinou o uso
sa Senhora de Belém (c. 1550), um de tintas e pincéis com as aulas de
pequeno óleo que hoje integra a diz quem foi André de Resende e dos outros pro-
colecção do Museu Nacional de Arte Francisco de fessores do paço.
Antiga, mas é com outra — Adoração Resende, que acabara de chegar da
dos Magos (c. 1520-1525), de Jorge Holanda quando Europa e ensinava fora dos muros do
Afonso — que abre. se fala das grandes convento, apercebe-se rapidamente
A comissária escolheu-a para que das capacidades e do interesse do
se visse o ambiente da corte de D. Äguras jovem Holanda pela Antiguidade,
Manuel I, para quem o pai do artista portuguesas das uma das paixões deste frade domini-
trabalhava. “A cada epifania o rei cha- cano que leccionou nas universida-
mava os seus oÆciais de armas para artes e do des de Lisboa e Coimbra e está entre
receberem os fardamentos e eu gosto conhecimento no os primeiros a interessar-se pela
de imaginar que António de Holanda arqueologia, e prepara-o para viajar
é um destes três”, diz, ao apontar século XVI, o que é para Roma.
para um pequeno grupo. “E gosto simplesmente “Francisco de Holanda, tal como o
que se veja a moda de roupa e de seu mestre, é um apaixonado pelo
cabelos da corte porque isso me per- incompreensível Mundo Antigo e trabalha sempre sob
mite regressar à infância de Francisco Sylvie Deswarte-Rosa o olhar benevolente de Resende.”
de Holanda, em Lisboa.” Historiadora de arte Entre 1538 e 1540 Holanda está em

Itália, onde conhece a poetisa Vittoria
Colonna e o pintor, escultor e arqui-
tecto Miguel Ângelo, na altura a tra-
balhar na Capela Sistina. O português,
então com 20 anos, chega a represen-
tar-se junto a este mestre do Renasci-
mento, já com 63.
Uma colecção fabulosa
Foi a sua estadia em Roma e o encon-
tro com Miguel Ângelo que o levaria
a escrever os Diálogos no tratado Da
Pintura Antiga, redigido em portu-
guês, sublinha Sylvie Deswarte-Rosa,
o que viria a restringir muitíssimo a
sua circulação.
“Ainda hoje me pergunto como é
que este tratado não faz parte do
cânone da literatura portuguesa, já
que é uma obra absolutamente fun-
damental.” Em Itália, entrou em
contacto directo com o mundo clás-
sico, mas também com a arte do seu
tempo, chegando a comprar dese-
nhos de Rafael Sanzio, de Leonardo
da Vinci ou de Miguel Ângelo.
“Muitos historiadores de arte não
gostam do Holanda porque ele não
fala de outros artistas portugueses, à
excepção de Nuno Gonçalves [autor
dos Painéis de São Vicente, c. de 1470,
a mais célebre pintura portuguesa],
salvando-o do esquecimento. Quei-
xava-se muito da falta de cultura artís-
tica de Portugal, mas refere muitos
pintores italianos e Çamengos. Miguel
Ângelo é, de todos, o que mais admi-
ra. É para ele o pintor perfeito, aque-
le cuja ‘ideia’, no sentido neoplatóni-
co de ‘génio’ ou de ‘inspiração divina’,
aniquila os outros.”
Sylvie Deswarte-Rosa, que traba-
lhou no gabinete de desenho do
Louvre, lembra-se bem de ter repara-
do numa anotação escrita pela mão
de Holanda num retrato de Polidoro
de Caravaggio e de, em seguida, ter
identiÆcado outras semelhantes em
desenhos de Leonardo ou de Miguel
Ângelo.
A exposição convida a um percurso
pelos lugares ligados a este artista
do Renascimento em Évora e propõe
um roteiro. Ao lado, Sylvie
Deswarte-Rosa junto à Adoração
dos Magos, de Jorge Afonso.
E, em baixo, a edição fac-similada
de De Aetatibus Mundi Imagines
“Hoje há desenhos que lhe perten-
ceram no Louvre, nos Uêzi e no Cas-
telo de Windsor. A sua colecção de
desenho e gravura seria fabulosa.”
Regressado a Portugal em 1540, já
depois da morte do cardeal infante D.
Afonso, Holanda passa para o serviço
de D. João III com o cargo de escudei-
ro Ædalgo, uma evidente promoção
que incluía uma pensão paga pelo
irmão do rei, D. Luís. É no Verão des-
se ano que o artista começa a escrever
Da Pintura Antiga, obra em dois volu-
mes que viria a concluir já em 1548.
Logo no ano seguinte publica Do Tirar
Polo Natural.
“Da Pintura Antiga introduz o neo-
platonismo na teoria da arte 50 anos
antes dos italianos”, ao falar do pri-
mado da ideia e da inspiração divina
do artista. Mas mesmo um livro tão
fundamental como este”, cujo origi-
nal se perdeu, Æca “escondido, como
o próprio Holanda, na história da teo-
ria da arte quase até hoje”, lamenta
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 35
Sylvie Deswarte-Rosa, acrescentando
em seguida: “Holanda torna-se um
intelectual, um teórico, mas nunca
deixa de ser um artista, um ilumina-
dor. A sua arte é de pormenor, precio-
síssima.”
O seu talento como artista está bem
patente em De Aetatibus Mundi Ima-
gines (As Imagens das Idades do Mun-
do), “a sua obra maior”, presente na
exposição numa edição fac-similada.
O original está na Biblioteca Nacional
de Espanha, em Madrid, onde foi des-
coberto em 1953 pelo historiador de
arte português Francisco Cordeiro
Blanco.
Holanda começou a trabalhar nes-
ta “crónica do mundo em imagens”
em 1545 — a corte voltara a residir em
Évora no ano anterior — mas só em
1580 a deu por terminada, pouco
antes de morrer.
É uma obra que começa no auge da
sua carreira e já como artista ao servi-
ço do casal real. Terá sido feita a pedi-
do de D. João III e da sua mulher, Cata-
rina da Áustria, que provavelmente
teriam em mente usá-la na formação
do príncipe herdeiro D. João. Deswar-
te-Rosa não se cansa de olhar para ela:
“É de uma inovação… A Criação do
Mundo [uma das suas páginas] faz-nos
logo pensar em William Blake, [o pin-
tor e poeta inglês que só nasceu mais
de 300 anos depois].”
A Inquisição
Com a morte do rei D. João III e do seu
irmão, D. Luís, Holanda perde apoio
na corte e vê o seu trabalho ensom-
brado pela Inquisição, que entrara
em Portugal em 1536. É talvez por
isso, argumenta a comissária, que
dedica De Aetatibus Mundi Imagines à
Igreja Católica. “Quando a termina,
Holanda está menos arrogante e sabe
que precisa de se proteger da Inqui-
sição, a quem o neoplatonismo não
agrada. Está com medo do que pode
vir a acontecer-lhe e, por isso, nem
sequer assina a obra.”
E é porque não está assinada que
durante tanto tempo esteve mal cata-
logada na biblioteca madrilena. Cor-
deiro Blanco conseguiu atribuí-la ao
artista porque ela tem, à semelhança
do tratado Da Pintura Antiga, uma
representação de Afrodite e Eros em
forma de esqueleto, explica Deswarte-
Rosa. Uma representação em tons
escuros que em tudo contrasta com o
anjo azul, luminoso, de feições ideais
que guarda esta crónica do mundo.
Apesar de formalmente ter apenas
uma sala, Francisco de Holanda em
Évora pode crescer para as outras
galerias do museu, convidando o visi-
tante a percorrer a exposição perma-
nente para encontrar obras contem-
porâneas deste autor do Renascimen-
to, como o Tríptico do Bom Jesus de
Valverde (1544), de Gregório Lopes, e
o cenotáÆo de D. Afonso de Portugal
(c. 1540-1542), do escultor Nicolau de
Chanterene.
“Holanda tem consciência de que
não é um artista como os outros. É
por isso que, no Ænal do tratado Da
Pintura Antiga, pede desculpa aos
outros pintores porque sabe que mui-
tos não vão compreender o que escre-
veu. E isto não quer dizer que os des-
preze, muito pelo contrário, quer
dizer apenas que ele tem noção de
que a sua formação em Évora foi a de
um privilegiado. Ele chegou à cidade
na altura certa.”
lcanelas@publico.pt
36 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
CULTURA
João Malaca Casteleiro, mais
do que obreiro do acordo
ortográfico
Obituário
Vítor Belanciano
(1936-2020) É considerado
o “pai” do Acordo, mas o
seu papel no dicionário da
Academia das Ciências é
talvez a sua grande marca
O linguista João Malaca Casteleiro,
coordenador do dicionário da
Academia das Ciências e Ægura
central do novo Acordo
OrtográÆco, morreu na sexta-feira,
aos 83 anos, no Hospital da Cruz
Vermelha, onde estava internado,
mas só ontem foi divulgado.
Pela exposição mediática do
Acordo OrtográÆco, é provável
que venha a ser recordado por ter
sido um dos principais
responsáveis pela elaboração do
respectivo acordo em 1990 — que
viria a entrar em vigor em
Portugal em 2009. Mas para
quem com ele privou, e
acompanhou o seu percurso
proÆssional, mais signiÆcativa foi
a coordenação cientíÆca do
Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea, da Academia das
Ciências de Lisboa, que viria a ser
publicado em 2001, resultante de
12 anos de trabalho.
“Ele coordenou, e interveio
activamente, na elaboração do
dicionário que estava há 200 anos
parado, o que é uma grande
marca”, reÇecte o jornalista e
investigador António Valdemar,
amigo do professor catedrático.
“O [Almeida] Garrett dizia que o
dicionário começava em A e tinha
acabado em ‘azurrar’. Depois o
[crítico literário, ensaísta e
professor] Jacinto Prado Coelho
fez uma tentativa, há cerca de 50
anos, de um 1.º volume para não
acabar em ‘azurrar’, e o [linguista]
Lindley Cintra fez uma diligência,
mas quem concluiu o dicionário
foi o Malaca Casteleiro. Havia uma
espécie de maldição que vinha
desde o tempo do Garrett e a sua
acção foi determinante.”
À terceira, foi de vez. Em 1793,
fez-se uma primeira tentativa, mas
foi compilado só o primeiro
volume. Em 1956, o projecto foi
retomado, mas, por falta de
Ænanciamento, não se cumpriram
os objectivos. E em 1988,
Ænalmente, com Malaca Casteleiro,
o projecto ganhou vida novamente,
graças ao apoio da Fundação
Calouste Gulbenkian, em
colaboração com o Ministério da
Educação. “Foram precisos 12 anos
para compilar todas as palavras”,
dizia Malaca Casteleiro, em 2001,
ao PÚBLICO. “São quatro mil
páginas, com 70 mil entradas
lexicais, divididas em dois
volumes.”
Mas como se escrevia no
PÚBLICO na época, passada uma
semana do lançamento o
dicionário já estava envolto em
polémica e foi contestado por
outros especialistas.
Com as investigadoras Maria de
Lourdes Crispim e Maria Francisca
Xavier, João Malaca Casteleiro
trabalhou também no Dicionário
da Língua Portuguesa Medieval.
No Acordo OrtográÆco defendeu
que a uniÆcação do português era
uma medida de pragmatismo que
visava, acima de tudo, promover a
língua portuguesa no mundo, ao
mesmo tempo que facilitaria “a
comunicação entre os países da
Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa.”
Em 2008, dizia ao PÚBLICO que
no “plano da lusofonia interna é
lamentável que não exista um
acordo”, argumentando que a
língua portuguesa “é a única com
duas variantes que têm de ser
traduzidas nas Nações Unidas.”
Apesar das polémicas que
enfrentou, recusou sempre
qualquer cenário de se voltar atrás,
mantendo-se como defensor do
Acordo, do qual foi o principal
responsável da Academia das
Ciências de Lisboa, pela elaboração
do documento e autor do anexo de
seis páginas que o encerra,
acreditando que poderia
“fortalecer a lusofonia” e
“promover o idioma em todos os
países” e organismos
internacionais.
“Ele deu o seu contributo para o
acordo, que não é perfeito, mas
nenhum acordo o é. Assumiu uma
posição sujeita a todas as
controvérsias. Mas espero que não
seja recordado apenas por isso”,
sintetiza António Valdemar.
Natural de Teixoso, Covilhã,
licenciou-se em Filologia
Romântica em 1961, tendo obtido
o doutoramento pela Faculdade
de Letras da Universidade de
Lisboa em 1979, com uma
dissertação sobre a sintaxe da
língua portuguesa. Professor
MIGUEL MADEIRA/ARQUIVO
catedrático naquela faculdade
desde 1981 e membro da Academia
das Ciências de Lisboa, foi
também director de investigação
do Centro de Linguística da
Universidade de Lisboa,
conselheiro cientíÆco do Instituto
Nacional de Investigação CientíÆca
e presidiu ao Conselho CientíÆco
da Faculdade entre 1984 e 1987.
Foi ainda presidente do Instituto
de Lexicologia e LexicograÆa entre
1991 e 2008. Em 2001 foi feito
grande-oÆcial da Ordem do
Infante D. Henrique.
A 5 de Maio próximo, no Dia
Mundial da Língua Portuguesa, no
âmbito de um colóquio a efectuar
na Academia das Ciências, em
Lisboa, António Valdemar irá
realizar uma intervenção de
evocação a Malaca Casteleiro.
“Tinha proposto ao professor
Telmo Verdelho, que preside à
comissão, que se Æzesse isso há
algum tempo. Agora é importante
salientar a importância da sua
obra, sobretudo a coordenação do
dicionário.”
Não foram, até ao fecho da nossa
edição, adiantados pormenores
sobre as cerimónias fúnebres.
vbelanciano@publico.pt
Breves
Clermont-Ferrand
Invisível Herói
premiado como
melhor filme europeu
Invisível Herói, da realizadora
luso-francesa Cristèle Alves
Meira, foi premiado como
melhor filme europeu no
Festival de Curta-Metragem
de Clermont-Ferrand, em
França. A curta-metragem
tinha sido seleccionada para a
competição internacional do
festival, tendo recebido o
prémio de melhor filme
europeu, no valor de 1500
euros. O júri era composto por
Alain Gomis (realizador), Marta
Prus (realizadora), Yuko
Shimizu (ilustradora), Olivier
Smolders (realizador) e Ken
Wardrop (realizador).
Cristèle Alves-Meira recebe o
prémio quando prepara a sua
primeira longa-metragem, a
rodar em Abril na região de
Trás-os-Montes.
Teatro
Luísa Cruz regressa
ao Teatro Aberto com
A Criada Zerlina
A actriz Luísa Cruz regressa ao
palco, no Teatro Aberto, em
Lisboa, no próximo dia 12, para
protagonizar a peça A Criada
Zerlina, com a qual venceu o
Globo de Ouro 2019 para
Melhor Actriz de Teatro.
Estreada em Fevereiro de
2019, no Centro Cultural de
Belém (CCB), com encenação
de João Botelho e cenografia
de Pedro Cabrita Reis, esta
peça do dramaturgo austríaco
Hermann Broch (1886-1951)
sobe agora ao palco da Sala
Azul daquela sala à Praça de
Espanha, onde estará em cena
até 1 de Março, segundo o
teatro. A versão que vai estar
em palco parte do trabalho
feito na década de 80 para o
Teatro Nacional D. Maria II, por
António S. Ribeiro e José
Ribeiro da Fonte, a partir da
tradução de Suzana Muñoz.

Machado de Assis, Rubem Fonseca e
Kafka censurados em estado brasileiro
A Secretaria de Educação de Rondónia, no Brasil, ordenou que fossem recolhidas das escolas públicas
43 obras de autores clássicos e contemporâneos por “conteúdos inadequados às crianças e adolescentes”
Livros
Muitos em Portugal nunca terão ouvi-
do falar do estado de Rondónia, no
Brasil. Mas depois do que lá aconte-
ceu nesta semana, não o vão esque-
cer. Na passada quinta-feira, dia 6 de
Fevereiro, um documento da Secre-
taria de Educação de Rondónia man-
dava recolher 43 livros de escolas
públicas do estado, entre os quais
clássicos da literatura brasileira como
Macunaíma, de Mário de Andrade, Os
Sertões, de Euclides da Cunha, ou
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, por considerarem
conter “conteúdos inadequados às
crianças e adolescentes”.
Mas da lista fazem também parte
obras de autores como Franz Kafka
(O Castelo) e Edgar Alan Poe (Contos
de Terror de Mistério e Morte). E con-
temporâneos como Carlos Heitor
Cony, Nelson Rodrigues, Caio Fernan-
do Abreu ou os Prémios Camões Fer-
reira Gullar e Rubem Fonseca.
O memorando, que começou a cir-
cular nas redes sociais antes de che-
gar aos jornais, além de pedir aos
coordenadores regionais de Educa-
ção que procedessem à recolha dos
livros, referia ainda “a importância
dos senhores coordenadores estarem
atentos às demais literaturas já exis-
tentes ou que chegam às escolas para
uso nas actividades, a Æm de que
sejam analisadas e assegurados os
direitos do estudante de usufruir do
mesmo com a intervenção do profes-
sor ou sozinho, sem constrangimen-
tos e desconfortos”.
À frente do governo do estado de
O Prémio Camões 2003, Rubem Fonseca, tinha 19 obras na lista dos livros que deviam ser “recolhidos”
Rondónia está Marcos Rocha, um ex-
coronel da Polícia Militar que se Æliou
no PSL quando este ainda era o par-
tido de Jair Bolsonaro, agora Presi-
dente do Brasil.
Da lista de 43 livros, 19 eram obras
do escritor brasileiro de 94 anos
Rubem Fonseca, como Diário de Um
Fescenino, Bufo & Spallanzani, Secre-
ção Excreções e Desatinos, Os Prisionei-
ros, Agosto, Amálgama, O Doente
Molière, A Coleira do Cão, O Seminaris-
ta, Histórias de Amor, O Buraco na
Parede, Feliz Ano Novo, Calibre 22,
Mandrake, A Bíblia e a Bengala, Lúcia
MacCartney e Romance Negro e Outras
Histórias. O Prémio Camões 2003 está
editado em Portugal pela Sextante.
Só outro autor é alvo de uma cen-
sura ainda maior. É referido no fundo
PEDRO MAIA
da lista: “Todos os livros do Rubem
Alves devem ser recolhidos.”
Havia oito obras de Carlos Heitor
Cony (entre elas O Irmão Que Tu Me
Deste, A Volta Por Cima, O Ventre, Rosa
Vegetal de Sangue) e três obras de Nel-
son Rodrigues, editado em Portugal
pela Tinta da China: A Vida como Ela
É…, O Melhor de Nelson Rodrigues e
Beijo no Asfalto.
“Missão abortada”
Num primeiro momento, o secretário
de Educação do estado, Suamy Vive-
cananda Lacerda Abreu, disse à Folha
de S. Paulo tratar-se de “fake news”,
mas o jornal brasileiro conÆrmou que
os documentos eram oÆciais e esta-
vam disponíveis no sistema de pro-
cessos da Secretaria de Educação de
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 37
Rondónia.
O secretário explicou depois, numa
entrevista ao site G1, que foi devido a
uma denúncia da existência de “pala-
vrões” num dos contos de Rubem
Fonseca no livro Amálgama que o
caso estava a ser analisado pela área
técnica do gabinete. Apesar de o seu
nome constar no memorando, Suamy
Lacerda de Abreu disse que não tinha
conhecimento da ordem para reco-
lher os livros. O documento é assina-
do electronicamente, mas pela direc-
tora Irany de Oliveira Morais.
Segundo a Folha de S. Paulo, cir-
cula uma nova mensagem para os
coordenadores regionais de Educa-
ção: “Missão de recolhimento dos
livros abortada. Caso façam contac-
to com vocês sobre o tema, por
CULTURA
favor, peçam que entrem em con-
tacto com a CRE — Coordenação
Regional de Educação”.
“Repúdio à censura”
A Academia Brasileira de Letras
(ABL), através de um comunicado
publicado no seu site, manifestou
publicamente o seu “repúdio à cen-
sura” que atinge, uma vez mais, a
literatura e as artes. “Trata-se de ges-
to deplorável, que desrespeita a Cons-
tituição de 1988, ignora a autonomia
da obra de arte e a liberdade de
expressão. A ABL não admite o ódio
à cultura, o preconceito, o autorita-
rismo e a auto-suÆciência que emba-
sam a censura”, aÆrma a ABL no
comunicado.
“É um despautério imaginar, em
pleno século XXI, a retomada de um
índice de livros proibidos. Esse des-
censo cultural traduz não apenas um
anacronismo primário, mas um sin-
toma de não pequena gravidade,
diante da qual não faltará a acção
consciente da cidadania e das autori-
dades constituídas.”
Por sua vez, ao El País Brasil, o pre-
sidente do Supremo Tribunal Fede-
ral, Antonio Dias Toèoli, disse: “Se
um caso desses chegar ao Supremo,
cai na mesma hora. É absolutamente
inacreditável que no século XXI
alguém tente censurar livros como
esses”.
Depois da polémica, o estado
decretou-os como documentos sigi-
losos. E na sexta-feira, segundo o
“Estadão”, o Ministério Público Fede-
ral brasileiro disse estar a investigar o
caso e quer saber quem determinou
o sigilo dos documentos.
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38 • Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020

&RQYRFDWyULD
Candidatura abertas ao Fundo para Assembleia de Empresa
TAP PORTUGAL
a Segurança Interna Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a
Nos termos do disposto nos Estatutos, convoco a Assem-
Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes
(FSI) - Cooperação Policial de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição
bleia de Empresa dos Pilotos da TAP Portugal, a reunir-se
em Sessão Extraordinária no próximo dia 28 de Fe-
vereiro de 2020, pelas 14:00 horas, nas Salas
Aviso/Concurso n.º 100/FSI/2020 Particular de Solidariedade Social. É a única organização Alfama do Hotel Tryp Lisboa Aeroporto, com a seguinte
Ordem de Trabalhos:
em Portugal, de âmbito nacional, especificamente PONTO UM
1. A Secretaria-Geral do Ministério da Justiça, na qualidade de Autoridade Delegada Análise e discussão da situação laboral na TAP Portugal,
no âmbito do Fundo para a Segurança Interna – Cooperação Policial, informa que, constituída para promover a qualidade de vida das pessoas
incluindo, entre outros assuntos, os descontos nos venci-
nos termos do artigo 10.º da Portaria n.º 43/2016, de 11 de março, se encontra a com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem mentos relativos à formação e a facilidade de passagem
NOTKTPIL.
decorrer, entre 06 de fevereiro e 18 de fevereiro de 2020 período para apresentação cerca de dez mil associados em todo o país. PONTO DOIS
de candidaturas ao Aviso-Concurso do Programa Nacional do Fundo para a Segu- Oferece Informação sobre a doença, Formação para Análise, discussão e deliberação sobre as estratégias
rança Interna (FSI) respeitante ao seguinte Objetivo Específico: 6 – Riscos e crises e medidas a adoptar em relação ao Ponto anterior da
e Objetivo Nacional 6 – Alerta rápido e Crises. cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Ordem de Trabalhos, as quais poderão determinar o
recurso a formas de luta laboral.
2. Para efeitos de financiamento, os projetos/atividades deverão enquadrar-se na se- Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da
A Assembleia terá início à hora marcada, desde que se
guinte tipologia de ações previstas no Programa nacional: Especialidade. encontrem presentes mais de um quarto do número de
• Criação e manutenção de salas ao nível nacional, distrital e regional com a capa- Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Associados, ou meia hora depois, com qualquer número
cidade para assegurar a coordenação, controlo e a interoperabilidade com todos de Associados.
os sistemas nacionais e internacionais relevantes para tomada de decisão na res- Portugal participa ativamente no movimento mundial e O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
posta a crises de grande mobilidade territorial. europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar
3. Para os efeitos previstos no presente Aviso, podem candidatar-se as entidades que os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de António Manuel da Costa Ramalho
se enquadrem do artigo 3.º da Portaria n.º 43/2016, de 11 de março. Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das
4. No âmbito do presente aviso, cada entidade apenas pode apresentar uma candida-
tura. suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
5. No âmbito do presente Aviso, encontra-se afeta a dotação de Fundo de Segurança Contactos:
Interna, de 100 507,00€ (cem mil e quinhentos e sete euros). Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
6. A taxa máxima de cofinanciamento para as candidaturas apoiadas pelo presente Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa
Aviso é de 75% do custo total elegível de cada projeto aprovado, sendo o restante Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
custo do projeto assegurado pela entidade beneficiária, diretamente ou através de
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia
2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org OFEREÇA
OFEREÇA LITERATURA
LITERATURA
financiamento de outras entidades. Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
7. As candidaturas são apresentadas, através da submissão de formulário eletrónico, - Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
na plataforma SI GFC, sistema integrado de informação e gestão do QFP 2014- Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente
n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
2020, disponibilizada em https://www.sigfc.sg.mai.gov.pt, designado por SIGFC. Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato
8. Estão disponíveis para consulta no endereço https://sgmj.justica.gov.pt/ todos os n.º 17, 3100-523 Pombal
- Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
elementos relevantes. Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha 3810
9. Os pedidos de informação devem ser dirigidos para o endereço: gestao.f.europeus@ Aveiro, Telefone: 234 940 480
sg.mj.pt, podendo ainda ser obtidos através do número 213222300. - E-mail: geral.aveiro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.
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 Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 39

CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO

AVISO AVISO AVISO

Encerramento administrativo do estabelecimento de apoio social sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes caracterís-
ticas:
y exerce a atividade de Apoio Social para Pessoas Idosas, com alojamento;
y com fins lucrativos;
y não estando licenciado;
y funciona sob a propriedade de Anabela Silva Pitarma;
y está instalado em Rua 10 de Junho, n.º 20, Santa Joana - Aveiro.
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Deli-
beração n.º 18/2020, de 23 de janeiro de 2020, porque o estabelecimento estava em atividade com
deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e
conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 23 de janeiro de 2020
Rui Fiolhais - Presidente CD
Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes caracterís-
ticas:
y exerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
y com fins lucrativos;
y não estando licenciado;
y funciona sob a propriedade de Ana Lúcia Martins Lameiras;
y está instalado em Urbanização Quinta Santo António, Lt. 23 Bombarral.
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Deli-
beração n.º 01/2020, de 9 de janeiro de 2020, porque o estabelecimento estava em atividade com
deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e
conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou coa-
ção sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 9 de janeiro de 2020
Rui Fiolhais - Presidente do Conselho Diretivo
Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de Apoio Social a Pessoas Idosas, com alojamento;
ycom fins lucrativos;
ynão estando licenciado;
yfunciona sob a propriedade de Ana Clara de Jesus Silva;
yestá instalado em R. Prof. António Lopes Costa, n.º 50, Várzeas Vila Facaia.
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Deli-
beração n.º 271/2019, de 19 de dezembro de 2019, porque o estabelecimento estava em atividade
com deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, hi-
giene e conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade
de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 19 de dezembro de 2019
Rui Fiolhais - Presidente do Conselho Diretivo

CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO

AVISO
Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes caracterís-
ticas:
y exerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
y com fins lucrativos;
y não estando licenciado;
y funciona sob a direção e responsabilidade de Cristina Maria Domingues Francisco Ferreira;
y está instalado em Rua de São Sebastião, 215, Carrasqueira, 2420-271 Leiria.
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Delibe-
ração n.º 264/2019, de 12 de dezembro de 2019, porque o estabelecimento estava em atividade com
deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e
conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou coa-
ção sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 12 de dezembro de 2019
Rui Fiolhais - Presidente
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA
DO PORTO ESTE
Juízo Central Criminal de Penafiel - Juiz 2
Processo: 864/05.1TAPNF - Processo Comum (Tribunal Coletivo)
ANÚNCIO
O Mm.º Juiz de Direito, Dr. Sandro Lopes Ferreira, do Tribunal
Judicial da Comarca do Porto Este - Juízo Central Criminal
EDIFÍCIO de Penafiel - Juiz 2:
FAZ SABER que no Processo Comum (Tribunal Coletivo)
DIOGO CÃO n.º 864/05.1TAPNF, em que é arguida Isabel Conceição de
Melo Beça filha de Joaquim Beça Ribas do Couto e de Maria
DOCA DE ALCÂNTARA Augusta de Melo natural de: Recezinhos (São Mamede) [Pe-
NORTE, LISBOA nafiel]; nacional de Portugal nascido em 05-07-1980 estado
(JUNTO AO civil: Casado (regime: Desconhecido), profissão: Desconhe-
MUSEU DO ORIENTE)
cida ou sem Profissão, BI - 11700715, domicílio: Estrada de
Santa Cristina, 1459, Nogueira, 4620-084 Lousada, foi a mes-
ma condenada pela prática do crime 1 crime de Fraude na
obtenção subsídio ou subvenção, p.p. pelo art.º 36.º, n.º 1, al.
c), n.º 2 e n.º 5, al. a), do Dec.-Lei n.º 28/84, de 20 de Janei-
ro, praticado em 2004; por acórdão proferido nos presentes
HORÁRIO: autos e transitado em julgado em 04-12-2017, na pena de:
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H • Três anos e seis meses de prisão, cuja execução se sus-
SÁBADO: 11H – 17H pende pelo período de três anos e seis meses, mediante a
sujeição da arguida a um regime de prova assente num plano
individual de readaptação social a ser executado com vigilân-
cia e apoio da DGRS.
Penafiel, 01-08-2019
O Juiz de Direito - Dr. Sandro Lopes Ferreira
A Escrivã Adjunta - Maria Adelaide Pereira
INFO: 210 111 010 Público, 10/02/2020
AVISO
Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação Publicita-se a abertura de procedimentos de
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo recrutamento de pessoal para a NOVA School of
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
Business and Economics, aos quais podem candidatar-
ycom fins lucrativos; se indivíduos que reúnam as condições fixadas nos
ynão estando licenciado;
yfunciona sob a direção e responsabilidade de Cátia Alexandre Fernandes Pereira Carrilho; avisos disponíveis no seguinte endereço:
yestá instalado em Rua da Graça, n.º 1, Atouguia da Baleia, 2525-044 Atouguia da Baleia (concelho
de Peniche e distrito de Leiria). https://www2.novasbe.unl.pt/pt/sobre-nos/junte-se-a-
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes nova-sbe.
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Delibe-
ração n.º 265/2019, de 12 de dezembro de 2019, porque o estabelecimento estava em atividade com
deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e
Referência n.º NOVASBE/CT-107/2020 – 1 Lugar
conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade de vida. de Técnico Superior (m/f) para a área de estudo pré-
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
experiência da Faculdade de Economia em regime
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência. contrato de trabalho a termo resolutivo certo.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou coação Referência n.º NOVASBE/CT-108/2020 – 1 Lugar
sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será sujeito a
procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais. de Técnico Superior (m/f) para a área de tecnologia
Lisboa, 12 de dezembro de 2019 e informação e em regime contrato de trabalho por
Rui Fiolhais - Presidente
tempo indeterminado.
O prazo-limite para submissão das candidaturas é de 6
dias úteis a contar da data da publicação do presente
Largo do Paço
4704-553 Braga – P Universidade do Minho
anúncio.
Direção de Recursos Humanos
ANÚNCIO
M/F
Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a contratação de um Técnico
Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho a Termo Resolutivo Certo, ao abrigo do Código
do Trabalho.
Ref.ª CTTC-151/19-PRT-PC(1) – Um trabalhador para exercer as funções correspondentes à carreira
de Técnico Superior, na Divisão de Conservação e Manutenção da Universidade do Minho, em Braga.
REQUISITOS DE ADMISSÃO: Associação Portuguesa das Empresas dos Sectores
Possuir Licenciatura em Engenharia Mecânica, Engenharia Eletromecânica, Engenharia de Sistemas Térmico, Energético, Electrónico e do Ambiente
de Energias Renováveis e outras áreas afins.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 10/02/2020 a 21/02/2020.
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em https://intranet.
ASSEMBLEIA GERAL
uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
O Diretor de Serviços, Luís Carlos Ferreira Fernandes CONVOCATÓRIA
Nos termos dos art.ºs 14.º, n.º 1 e 15.º, n.º 1, ambos dos Estatutos,
convoco a Assembleia Geral da “APIRAC- Associação Portuguesa das
Empresas dos Sectores Térmico, Energético, Electrónico e do Ambien-
Largo do Paço
4704-553 Braga – P Universidade do Minho te”, a reunir em primeira convocação no SANA Malhoa Hotel, sito na
Direção de Recursos Humanos
ANÚNCIO Av. José Malhoa, n.º 8, em Lisboa, no dia 31 de março de 2020, pelas
M/F
17:00 horas, com a seguinte Ordem de Trabalhos:
Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a contratação de um Espe-
cialista de Informática, na modalidade de Contrato de Trabalho a Termo Resolutivo Certo, ao abrigo Ponto Um: Deliberar sobre o Relatório e Contas da Direção e o Pare-
do Código do Trabalho.
Ref.ª CTTC-155/19-HASLab(1) – Um trabalhador para exercer as funções correspondentes à carreira cer do Conselho Fiscal relativos ao exercício de 2019;

EMPREGO de Especialista de Informática, no Laboratório de Investigação em Software Confiável da Escola de

Engenharia da Universidade do Minho, em Braga.
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir grau de Mestre em Engenharia Informática ou áreas afins.
Ponto Dois: Discutir, modificar e votar o Orçamento para 2020;
Ponto Três: Eleição dos Corpos Gerentes para o triénio de 2020 a
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 10/02/2020 a 14/02/2020. 2022;
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em https://intranet.
uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais Ponto Quatro: Outros assuntos de interesse para a Associação.
O Diretor de Serviços, Luís Carlos Ferreira Fernandes

É ALTURA DE MUDAR
Se à hora marcada não estiverem presentes pelo menos metade dos
associados de pleno direito, a Assembleia reunirá trinta minutos de-
pois, em segunda convocação, com qualquer número de associados,
com a mesma Ordem de Trabalhos.

DE EMPREGO? Hospital do Espírito Santo de Évora, EPE contrata:

Médico(a) especialistas em Pediatria
Para integração no Serviço de Urgência
Regime:
Os órgãos sociais a preencher por eleição serão a Mesa da Assembleia
Geral, a Direção e o Conselho Fiscal.
Nos termos dos art.ºs 2.º, n.º 3, alínea c) e 5.º, n.º 2 do “Regulamento
Eleitoral”, a apresentação das candidaturas deverá ser feita ao Presi-
dente da Comissão Eleitoral até 30 dias antes da data designada
para o ato eleitoral.
INSCREVA-SE EM EMPREGO.PUBLICO.PT • Especialista em Pediatria - Prestação de Serviços
(Valor hora - 39€) e (ou) celebração de Contrato
Lisboa, 10 de fevereiro de 2020.
EM PARCERIA COM O Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral
Individual de Trabalho. Miguel Jorge de Sá Rocha Mourão
Enviar CV para: sec.administracao@hevora.min-saude.pt por ENGIE- Energias Novas, Geração Renovável, Inovação, Eficiência Energética, S.A.)
40 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
SAIR
CINEMA
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Dor e Glória M16. 13h20; Parasitas M14.
21h30; Uma Vida Escondida M14. 15h35;
1917 16h, 18h30, 21h; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h50; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 19h; Mulherzinhas M12.
13h10, 15h55, 18h40, 21h25; Birds of Prey (e
a Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h, 15h10, 17h20,
21h45; Corpus Christi - A Redenção M16.
19h30
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Parasitas M14. 16h30; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 14h, 18h50, 21h15
CinemaCity Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca
M6. 15h40 (V.Port./2D); Armados em
Espiões M6. 13h25, 15h35 (V.Port./2D); The
Grudge: Maldição M16. 00h30; As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 15h25, 17h35
(V.Port./2D); Bad Boys Para Sempre M14.
13h35, 21h20, 00h10; Tudo Pela Justiça
M12. 00h25; A Princesa e o Dragão M6.
13h40 (V.Port./2D); Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 13h35, 15h30, 17h25 (V.
Port./2D); 1917 19h15, 13h25, 15h55, 17h50,
18h40, 19h20, 21h50, 22h, 00h30;
Bombshell - O Escndalo M12. 20h, 22h10,
00h20; Jojo Rabbit M12. 13h30, 17h35,
19h45, 21h55, 00h15; Mulherzinhas M12.
13h20, 16h10, 18h55, 21h40; Birds of Prey (e
a Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h10, 15h20, 16h,
17h30, 18h30, 19h40, 21h30, 22h, 23h55,
00h20
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
Calafrio M14. 16h25, 18h40, 21h; Joker M14.
20h50; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h50 (V.Port.2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h55, 17h10; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 13h25; Bad Boys Para Sempre M14.
13h10, 16h, 18h45, 21h30; Tudo Pela Justiça
M12. 17h, 20h55; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 13h35, 15h45, 18h (V.P.2D);
1917 13h15, 15h55, 18h35, 21h15; Bombshell
- O Escndalo M12. 13h45, 16h15, 18h50,
21h25; J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
19h; Jojo Rabbit M12. 13h30, 16h05, 18h50,
21h40; Mulherzinhas M12. 14h10, 17h10,
21h05; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h20, 15h50, 18h25, 21h10; Ladrões Com
Arte M16. 14h05, 16h30, 18h55, 21h20;
Thriller: Assassino na Noite M16. 21h35
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Parasitas M14. 18h20; Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 13h30, 16h, 18h40
; 1917 12h50, 15h30, 18h10, 21h30, 00h10;
Bombshell - O Escndalo M12. 13h, 15h40,
21h40, 00h10; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 14h, 17h20, 20h40, 23h30; Jojo
Rabbit M12. 12h50, 15h20, 18h, 21h20,
23h55; Mulherzinhas M12. 13h50, 17h10,
20h50, 23h50; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h10, 15h50, 18h30,
21h10, 23h40; Corpus Christi - A Redenção
M16. 21h, 23h45
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Calafrio M14. 22h, 00h25; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 18h; Bad Boys Para Sempre M14. 13h,
15h40, 18h40, 21h30, 00h10; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 13h20, 16h10 (V.
Port.2D); 1917 12h40, 15h45, 18h30, 21h20,
24h ; Bombshell - O Escndalo M12. 18h25;
Jojo Rabbit M12. 13h10, 15h50, 18h35,
00h05; Mulherzinhas M12. 12h30, 15h20,
18h15, 21h35, 00h30; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 12h50, 15h30, 18h10,
21h, 23h50; Ladrões Com Arte M16. 13h05,
15h35, 21h15, 23h55; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. Sala IMAX 13h30, 16h,
18h50, 21h40, 00h20
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Joker M14. 17h; Bad Boys Para Sempre M14.
12h40, 15h30, 21h, 23h50; 1917 13h10, 16h,
18h50, 21h30, 00h10; Bombshell - O
Escndalo M12. 18h20; Jojo Rabbit M12.
13h20, 16h10, 18h40, 21h10, 23h40;
Mulherzinhas M12. 13h40, 20h50, 24h;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h, 13h30, 15h50, 16h20, 18h30, 19h, 21h20,
21h50, 24h, 00h25
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
Era Uma Vez em... Hollywood M16. 21h30;
1917 19h15; J’accuse - O Oficial e o Espião
M12. 16h45; Mulherzinhas M12. 14h15; PJ
Harvey: A Dog Called Money M12. 12h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Calafrio M14. 14h, 24h; Era Uma Vez em...
Hollywood M16. 18h30; Joker M14. 13h15,
18h40; Parasitas M14. 13h35, 16h20, 21h45,
00h30; Judy M12. 19h05; Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 16h15, 21h35,
00h15; Mr. Jones - A Verdade da Mentira
16h, 21h15, 23h50; O Caso de Richard
Jewell M12. 13h35, 18h55; A Despedida M12.
13h40, 19h10; As Aventuras do Dr. Dolittle
M6. 13h15, 15h40 (V.Port./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 16h10, 21h30, 00h10;
Tudo Pela Justiça M12. 13h25, 18h50; Uma
Vida Escondida M14. 18h, 21h25; 1917 14h10,
16h45, 19h20, 21h55, 00h30; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h55, 16h30, 19h05, 21h30,
23h55; O Filme do Bruno Aleixo M14. 14h15,
16h20, 21h35, 23h40; J’accuse - O Oficial e
o Espião M12. 13h20, 16h05, 18h50, 21h35,
00h20; A Ama Perfeita M14. 16h30, 19h,
21h30; Jojo Rabbit M12. 13h45, 16h15,
18h45, 21h20, 23h50; Mulherzinhas M12.
13h25, 16h10, 18h55, 21h40, 00h25; Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 14h05, 16h40,
19h15, 21h50, 00h15; Corpus Christi - A
Redenção M16. 16h25, 21h40, 00h05
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de
Mourelos. T. 16996
Calafrio M14. 13h50, 16h15, 22h, 00h25; Era
Uma Vez em... Hollywood M16. 17h; Joker
M14. 18h55; Parasitas M14. 19h05; Jumanji:
O Nível Seguinte M12. 13h55, 20h40,
23h40; Bad Boys Para Sempre M14. 12h45,
15h40, 18h40, 21h40, 00h30; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 13h20, 15h50,
18h05 (V.Port.2D); 1917 12h50, 15h45, 18h30,
21h20, 00h15; Bombshell - O Escndalo M12.
13h10, 16h, 21h35, 00h20; O Filme do Bruno
Aleixo M14. 21h55, 00h15; J’accuse - O
Oficial e o Espião M12. 1h25, 15h25, 18h25;
Jojo Rabbit M12. 12h40, 15h25, 18h, 20h45,
23h20; Mulherzinhas M12. 12h20, 15h20,
18h20, 21h15, 00h20; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 12h30, 13h30, 14h,
15h30, 16h10, 16h40, 18h10, 18h50, 19h10,
20h50, 21h30, 21h45, 23h30, 00h10,
00h20; Ladrões Com Arte M16. 13h45,
16h30, 19h, 21h50, 00h25
Amadora
CinemaCity Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide.
T. 214221030
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h30,
15h35 (V.Port./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 21h25; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 15h50, 00h10; Star Wars:
Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
M12. 13h; Armados em Espiões M6. 13h50
Em estreia
lazer@publico.pt
A Ama Perfeita
De Lucie Borleteau. Com Karin
Viard, Leïla Bekhti, Antoine
Reinartz. FRA. 2019. 100m.
Drama, Crime. M14.
Assoberbada com o nascimento
do segundo Ælho, Myriam
percebe que precisa de
regressar ao trabalho. Apesar da
relutância inicial do marido, dá
início ao processo de busca de
uma ama. É assim que
conhecem Louise, que parece
perfeita, mas que se vai revelar a
pior escolha das suas vidas.
Bigger: A História
de Joe Weider
De George Gallo. Com Julianne
Hough, Tyler Hoechlin, Kevin
Durand. EUA. 2018. 107m.
Drama, Biografia. M12.
Filhos de imigrantes polacos de
origem judia, Joe e Ben Weider
cresceram na pobreza em
Montreal (Canadá). Já adultos,
tornam-se grandes adeptos do
desporto de força e fundam, em
1946, a Federação Internacional
de Culturismo e Fitness (IFBB).
Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação
De Uma Harley Quinn)
De Cathy Yan. Com Margot
Robbie, Mary Elizabeth
Winstead, Ewan McGregor,
Rosie Perez, Jurnee
Smollett-Bell. EUA. 2020.
109m. Acção, Aventura. M12.
Depois de romper
deÆnitivamente com Joker, seu
amante, a instável Harley Quinn
sente-se uma mulher nova. Ao
tentar encontrar o seu lugar no
mundo - e escapar de todos os
que a querem assassinar -, acaba Edwards. EUA. 2018. 87m.
por se ver envolvida numa
parceria muito improvável.
Corpus Christi - A Redenção
De Jan Komasa. Com
Bartosz Bielenia,,
Aleksandra
Konieczna, Eliza
a resulta na morte de um
Rycembel, Lukaszsz
Simlat. POL. 2019.
19.
Drama. M16.
Quando Daniel é
enviado para um
m detenção juvenil.
centro de
detenção, não
imagina a
transformação que
ue Ladrões com Estilo
daí decorrerá. A relação
próxima com o padre da
instituição faz nascer nele um
chamamento divino. Após
cumprir pena, vai trabalhar
numa povoação distante, onde
se vai deparar com a
oportunidade da sua vida.
Ladrões Com Arte
De Matt Aselton. Com Theo
James, Emily Ratajkowski, Fred
Melamed. EUA. 2019. 100m.
Drama, Crime. M16.
Ivan é um habilidoso ladrão de
arte. Contudo, mesmo que tudo
lhe corra de feição, o que mais
deseja é abandonar o mundo do
crime e viver de rendimentos.
Tudo se alinha na perfeição
quando conhece Elyse, uma
burlona que deseja usar os seus
enormes talentos de
dissimulação na proÆssão de
actriz.
Snow: Os Domínios do Espelho
De Aleksei Tsitilin, Robert
Lence. RUS. 2018. 80m.
Animação, Comédia, Aventura.
M6.
O rei da Terra dos Espelhos
quase perdeu tudo o que tinha
devido à magia da Rainha da
Neve. Por causa disso, tomou
uma decisão que deixou
descontentes muitos dos seus
súbditos: banir todas as
criaturas com poderes.
Inconformada, Kiara resolve
desaÆar as ordens do soberano e
salvar os prisioneiros.
Thriller: Assassino na Noite
De Dallas Jackson. Com Jessica
Allain, Luke Tennie, Mitchell
Terror. M16.
Vários adolescentes decidem
pregar uma partida a Chauncey,
um colega, e levá-lo para uma
casa abandonada, onde
pretendem assustá-lo. A
brincadeira corre mal e
deles. Chauncey é
acusado de homicídio
e enviado para um
centro de
Lá, revive vezes
sem conta a
injustiça de que foi
vítima.
(V.Port./2D); The Grudge: Maldição M16.
00h30; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
15h25, 17h35 (V.Port./2D), 13h25, 19h45 (V.
Orig./2D); Bad Boys Para Sempre M14.
13h35, 16h10, 19h, 21h35, 00h15; Tudo Pela
Justiça M12. 00h05; 1917 13h50, 16h20,
17h50, 18h50, 19h25, 21h20, 21h55, 23h50;
Bombshell - O Escndalo M12. 19h10, 21h45;
Jojo Rabbit M12. 13h, 15h10, 17h20, 19h30,
21h40, 24h; Mulherzinhas M12. 13h20,
15h55, 18h40, 21h25, 00h10; Seberg -
Contra Todos os Inimigos 13h30, 15h30,
17h30, 00h25 (V.Port./2D); Bigger: A
História de Joe Weider M12. 13h20, 15h30,
16h, 17h40, 18h30, 19h50, 21h30, 22h,
23h55, 00h20
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Calafrio M14. 19h20, 21h55; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 13h30, 16h30 (V.
Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
19h10, 21h45; Armados em Espiões M6.
13h50, 16h40 (V.Port./2D); As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 14h, 16h25 (V.Port./2D),
18h55, 21h15 (V.Orig./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 13h40, 16h20, 19h05,
21h45; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
14h30, 16h55 (V.Port./2D); 1917 13h30,
16h25, 18h55, 21h30; Bombshell - O
Escndalo M12. 19h10, 21h40; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 14h10, 16h35 (V.
Port./2D); O Filme do Bruno Aleixo M14.
19h10, 21h50; Jojo Rabbit M12. 13h50,
16h35, 19h05, 21h35; Mulherzinhas M12.
13h15, 16h10, 18h55, 21h40; Birds of Prey (e
a Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 14h05, 16h50, 19h20,
21h50; Ladrões Com Arte M16. 13h50,
16h45, 19h20, 21h50
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
CascaiShopping-EN 9. T. 16996
Calafrio M14. 20h30, 23h10; Bad Boys Para
Sempre M14. 13h20, 16h10, 18h40, 21h10,
23h40; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
13h, 15h, 17h40 (V.Port.2D); 1917 13h05,
15h50, 18h50, 21h30, 00h10 ; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h10, 15h40, 18h10, 20h40,
23h; Jojo Rabbit M12. 12h45, 15h10, 17h50,
21h40, 00h20; Mulherzinhas M12. 12h30,
15h30, 18h25, 21h20, 00h15; Birds of Prey (e
a Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 12h50, 15h20, 18h, 21h,
00h20; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
Sala IMAX 13h, 16h, 18h20, 20h50, 23h20
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla
Shopping Center). T. 215887311
Parasitas M14. 18h40, 21h20; 1917 14h15,
17h, 19h15, 21h30; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h20;
Mulherzinhas M12. 13h10, 15h50, 18h30,
21h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
14h30, 16h45, 19h, 21h20; Corpus Christi - A
Redenção M16. 14h, 16h20
Caldas da Rainha
Cineplace - Caldas da Rainha
La Vie Caldas da Rainha Shopping Center.
As Aventuras do Dr. Dolittle M6. 16h20 (V.
P./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 18h50,
21h20; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
15h40, 17h30, 19h20 (V.P./2D); 1917 16h30,
19h, 21h30; O Filme do Bruno Aleixo M14.
19h30; Mulherzinhas M12. 21h10; Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 17h, 19h20, 21h40;
Corpus Christi - A Redenção M16. 17h,
21h30
Carcavelos
Atlântida-Cine
R. Dr. Manuel Arriaga, CC. Carcavelos.
T. 214565653
1917 15h, 21h30; Mulherzinhas M12. 15h,
21h30

Sintra
Cinema City Beloura
Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9,
Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643
Armados em Espiões M6. 15h25 (V.P./2D);
As Aventuras do Dr. Dolittle M6. 15h20,
17h30 (V.Port./2D), 19h55 (V.Orig./2D) ; Bad
Boys Para Sempre M14. 21h55; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 15h30, 17h25 (V.
Port./2D); 1917 16h10, 17h35, 18h40, 19h20,
21h35; Bombshell - O Escndalo M12. 19h40,
21h50; Jojo Rabbit M12. 15h35, 17h40,
19h45, 21h50; Mulherzinhas M12. 15h45,
18h30, 21h20; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 15h30, 16h, 17h40,
18h50, 19h50, 21h30, 22h
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Calafrio M14. 13h, 15h10, 19h35, 21h45;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h
(V.Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
18h30, 21h15; Armados em Espiões M6.
17h20 (V.Port./2D); As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 13h50, 16h20, 18h45 (V.P./2D);
Tudo Pela Justiça M12. 21h; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 13h, 15h, 17h, 19h
(V.P./2D); 1917 13h20, 16h, 18h40, 21h20;
Bombshell - O Escndalo M12. 21h20; Birds
of Prey (e a Fantabulástica Emancipação
De Uma Harley Quinn) M12. 14h, 16h30, 19h,
21h30
Leiria
Cinema City Leiria
Rua Dr. Virgílio Vieira da Cunha, Ponte das
Mestras. T. 244845071 As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 15h20, 17h30 (V.Port./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 16h20,21h35; Snow:
Os Domínios do Espelho M6. 15h30, 17h25
(V.Port./2D); 1917 16h10, 18h40, 19h20,
21h40; O Filme do Bruno Aleixo M14. 15h45,
17h45, 19h45; Jojo Rabbit M12. 19h40,
21h50; Mulherzinhas M12. 21h45; Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 15h30, 16h, 17h40,
18h30, 19h50, 21h30, 22h; Corpus Christi -
A Redenção M16. 19h10
Cineplace - Leiria Shopping
CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
Calafrio M14. 17h50, 19h50; Bad Boys Para
Sempre M14. 16h30, 19h, 21h30; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 16h, 17h50, 19h40
(V.Port./2D); 1917 16h30, 19h, 21h30;
Bombshell - O Escndalo M12. 21h40; Jojo
Rabbit M12. 16h (V.P/2D); Mulherzinhas M12.
18h20, 21h10; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 17h, 19h20, 21h40;
Ladrões Com Arte M16. 15h40, 21h50;
Corpus Christi - A Redenção M16. 16h20,
21h20; Thriller: Assassino na Noite M16.
19h10
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Calafrio M14. 21h50; As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 16h30 (V.Port./2D); Bad Boys
Para Sempre M14. 18h50, 21h20; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 16h20, 19h10, 20h
(V.Port./2D); 1917 16h30, 19h, 21h30;
Bombshell - O Escndalo M12. 19h10; Jojo
Rabbit M12. 18h50; Mulherzinhas M12. 16h,
21h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
17h, 19h20, 21h40; Ladrões Com Arte M16.
17h30, 21h50; Corpus Christi - A Redenção
M16. 16h40, 21h30; Thriller: Assassino na
Noite M16. 19h40
Montijo
Cinemas Nos Fórum Montijo
C. C. Fórum Montijo. T. 16996
Calafrio M14. 21h40; Bad Boys Para
Sempre M14. 12h55, 15h40, 18h25, 21h20;
Snow: Os Domínios do Espelho M6. 13h,
AS ESTRELAS
DO PÚBLICO
Alva
Bombshell
O Caso de Richard Jewell
Corpus Christi: A redenção
A Despedida
Diamante Bruto
J’Accuse: O Oficial e o Espião
Jojo Rabbit
Ladrões com Arte
1917
Mulherzinhas
Uma Vida Escondida
a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
15h10, 17h20, 19h30 (V.Port.2D); 1917 12h50,
15h30, 18h30, 21h10; Bombshell - O
Escndalo M12. 21h; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 13h20, 16h, 18h40 (V.P.2D);
Mulherzinhas M12. 12h30, 15h20, 18h10,
21h05; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h10, 15h50, 18h20, 21h30
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
Bad Boys Para Sempre M14. 13h, 15h40,
18h40, 21h40, 00h25; 1917 13h10, 15h50,
18h30, 21h10, 24h; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 12h30, 15h10, 18h, 20h50,
23h45; Jojo Rabbit M12. 12h50, 15h15,
18h10, 21h, 23h30; Mulherzinhas M12.
12h40, 15h25, 18h20, 21h20, 00h20; Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 13h20, 16h, 18h40,
21h30, 00h10
Torres Novas
Castello Lopes - TorreShopping
Bairro Nicho - Ponte Nova. T. 249830752
Bad Boys Para Sempre M14. 18h30, 21h15;
1917 13h20, 16h, 18h40, 21h20; Bombshell -
O Escndalo M12. 13h40; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 16h10 (V.Port./2D); Birds of
Prey (e a Fantabulástica Emancipação De
Uma Harley Quinn) M12. 14h, 16h30, 19h,
21h30
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h25 (V.
P./2D); Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 13h05; As Aventuras do
Dr. Dolittle M6. 13h10, 15h50, 18h15 (V.
P./2D), 21h (V.O./2D); Bad Boys Para Sempre
M14. 16h05, 18h45, 21h20; Snow: Os
Domínios do Espelho M6. 13h, 15h, 17h, 19h
(V.P./2D); 1917 13h15, 16h, 18h40, 21h30;
Bombshell - O Escndalo M12. 21h05;
Mulherzinhas M12. 15h30, 18h20, 21h10;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h40, 16h15, 18h50, 21h35
Setúbal
Auditório Charlot
Av. Dr. António Manuel Gamito, 11.
T. 265522446
Parasitas M14. 21h30
Cinema City Alegro Setúbal
C. C. Alegro Setúbal. T. 265239853
Jorge
Mourinha
Luís M.
Oliveira
Vasco
Câmara
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm – mmmmm
– mmmmm mmmmm
mmmmm – –
mmmmm mmmmm mmmmm
– mmmmm mmmmm
– mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
– mmmmm – 17h10 (V.Port./2D); Jojo Rabbit M12. 19h20,
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
mmmmm mmmmm mmmmm
Calafrio M14. 21h55, 24h; Frozen II - O Reino
do Gelo M6. 13h40 (V.Port./2D); A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h45
(V.Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
13h40, 15h55; The Grudge: Maldição M16.
00h30; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
15h35, 17h45 (V.Port./2D), 19h55; Bad Boys
Para Sempre M14. 13h15, 15h50, 19h10,
21h45, 00h25; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 13h30, 15h30, 17h55 (V.
Port./2D); 1917 13h25, 16h10, 17h35, 18h50,
19h, 21h20, 21h50, 23h50 ; Bombshell - O
Escndalo M12. 23h55; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 13h20 (V.Port./2D); O Filme do
Bruno Aleixo M14. 19h50, 00h25; Jojo
Rabbit M12. 15h25, 20h, 22h10, 00h30;
Mulherzinhas M12. 15h45, 18h30, 21h25,
00h10; Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
13h25, 15h35, 16h, 17h30, 18h40, 19h40,
21h30, 22h, 00h20
Seixal
Cineplace - Seixal
Qta. Nova do Rio Judeu.
Calafrio M14. 15h30, 19h40; Armados em
Espiões M6. 16h30 (V.P./2D); As Aventuras
do Dr. Dolittle M6. 16h30 (V.P./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 18h50, 21h20;
Snow: Os Domínios do Espelho M6. 16h,
17h50, 19h40 (V.P./2D); 1917 16h30, 19h,
21h30; Bombshell - O Escndalo M12. 21h30;
Jojo Rabbit M12. 16h; Mulherzinhas M12.
18h20, 21h10; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 17h, 19h20, 21h40;
Ladrões Com Arte M16. 17h30, 21h40;
Corpus Christi - A Redenção M16. 18h50,
21h20
Évora
Cinemas Nos Évora Plaza
Rua Luís Adelino Fonseca, lote 4.
Armados em Espiões M6. 13h20, 16h, 18h15
(V.Port.2D); Bad Boys Para Sempre M14.
12h40, 15h30, 18h10, 21h10; 1917 12h50,
15h30, 18h30, 21h20; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 20h50; Jojo Rabbit M12. 13h10,
15h40, 18h20, 21h; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h, 15h20, 18h40,
21h30
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Bad Boys Para Sempre M14. 12h45, 15h35,
18h25, 21h05; Snow: Os Domínios do
Espelho M6. 13h15, 15h15, 17h25 (V.P.2D);
Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 41
1917 12h55, 15h45, 18h45, 21h25, 24h
Bombshell - O Escndalo M12. 19h30
J’accuse - O Oficial e o Espião M12. 21h55
Mulherzinhas M12. 12h35, 15h25, 18h15,
21h15, 23h45; Birds of Prey (e a
Fantabulástica Emancipação De Uma
Harley Quinn) M12. 13h05, 15h55, 18h35,
21h35, 00h05
Albufeira
Cineplace - AlgarveShopping
Estrada Nacional 125 - Vale Verde.
Calafrio M14. 17h50, 21h50; Jumanji: O
Nível Seguinte M12. 15h20; As Aventuras
do Dr. Dolittle M6. 16h (V.Port./2D); Bad
Boys Para Sempre M14. 16h20, 18h50,
21h20; Snow: Os Domínios do Espelho M6.
16h10, 18h, 19h50 (V.Port./2D); 1917 16h30,
19h, 21h30; Bombshell - O Escndalo M12.
21h40; Mosley e a Cidade Secreta M6. 15h,
21h40; Mulherzinhas M12. 18h20, 21h10;
Birds of Prey (e a Fantabulástica
Emancipação De Uma Harley Quinn) M12.
16h50, 19h10, 21h30; Ladrões Com Arte
M16. 17h30, 19h40, 21h50; Corpus Christi -
A Redenção M16. 16h20, 18h50, 21h20;
Thriller: Assassino na Noite M16. 19h50
TEATRO
Lisboa
Teatro Villaret
Av. Fontes Pereira Melo, 30A. T. 213538586
Roda Bota Fora Com Guilherme Fonseca,
Daniel Carapeto, Pedro Durão, Pedro Sousa,
Duarte Correia da Silva e Diogo Abreu. Dia
10/2 às 21h30. Dia 17/2 às 21h30. M/16.
MÚSICA
Lisboa
Fundação e Museu Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45A. T. 217823000
Martha Argerich e Mischa Maisky
Dia 10/2 às 20h.
LAV - Lisboa Ao Vivo
Av. Infante D. Henrique, Armazém 3.
T. 215847000
Ride Dia 10/2 às 21h. 1.ª parte: Crushed
Beaks.
EXPOSIÇÕES
Lisboa
Centro Português de Serigrafia
Rua dos Industriais, 6. T. 213933260
Exaltação da Natureza De Humberto
Marçal. De 24/1 a 22/2. 2ª a 6ª das 09h30 às
19h30. Sáb das 13h às 19h.
Cordoaria Nacional
Avenida da Índia. T. 213646128
Dinossauros Explorer De 21/12 a 22/3. 2ª a
6ª das 10h às 18h. Sáb, Dom e feriados das
10h às 20h.
Fundação e Museu Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45A.
T. 217823000
Art on Display. Formas de Expor 1949-69
De 8/11 a 2/3. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das
10h às 18h (6ª até às 21h). Downtime/Tempo
de Respiração De Manon de Boer. De 31/1 a
13/4. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 18h.
Oeiras
Parque dos Poetas
Quinta do Marquês.
T. 214408300
Os Cérebros da Ciência – da Ideia às
Descobertas De 1/2 a 28/2. Todos os dias
das 10h às 18h. Fotografia.
SAIR
FARMÁCIAS
Lisboa-Serviço Permanente
Alegria (Jardim Zoológico) - Estrada de
Benfica, 180 A-B - Tel. 217780511 Castro Suc.
(Cortes - Rato) - Rua de S. Bento, 199 - A - Tel.
213960573 Colonial (Anjos) - Rua do Forno do
Tijolo, 40 - Tel. 218141122 Vila Rio (Expo - Zona
Sul) - Alameda dos Oceanos, Lt. 3.13.01 Loja C -
Tel. 213543938
Outras Localidades-Serviço Permanente
Abrantes - Santos (Rossio ao Sul do
Tejo)Alandroal - Santiago Maior, Alandroalense
Albufeira - Santos PintoAlcácer do Sal -
AlcacerenseAlcanena - Correia PintoAlcobaça -
EpifânioAlcochete - Nunes, Póvoas (Samouco)
Alenquer - VarelaAljustrel - PereiraAlmada -
ReisAlmeirim - CentralAlmodôvar -
RamosAlpiarça - AguiarAlter do Chão - Alter,
Portugal (Chança) Alvaiázere - Ferreira da
Gama, Castro Machado (Alvorge), Pacheco
Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. Maria)
Alvito - Nobre SobrinhoAmadora - Nunes,
Remédios Ansião - Medeiros (Avelar), Rego
(Chão de Couce), Pires (Santiago da Guarda)
Arraiolos - MisericórdiaArronches - Batista,
Esperança (Esperança/Arronches) Arruda dos
Vinhos - Da MisericórdiaAvis - Nova de
AvizAzambuja - Dias da Silva, Nova, Peralta
(Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do
Intendente) Barrancos - BarranquenseBatalha -
Ferraz, Silva Fernandes (Golpilheira) Beja -
SantosBelmonte - Costa, Central (Caria)
Benavente - BatistaBombarral - FrancaBorba -
Carvalho CortesCadaval - MisericórdiaCaldas
da Rainha - CaldenseCampo Maior - Campo
MaiorCartaxo - Pereira Suc.Cascais - D’Aldeia,
Sacoor do Riviera (Junqueiro), Aragão (Parede)
Castelo Branco - ReisCastelo de Vide -
RoqueCastro Verde - AlentejanaChamusca -
Joaquim Maria CabeçaConstância - Vila Farma
Constância, Carrasqueira (Montalvo) Coruche -
HigieneCovilhã - da AlamedaCuba - Da
MisericórdiaElvas - SousaEntroncamento -
Almeida GonçalvesEstremoz - GrijóÉvora -
BrancoFaro - Almeida, Da Penha Ferreira do
Alentejo - SalgadoFerreira do Zêzere -
Graciosa, Soeiro, Moderna (Frazoeira/Ferreira
do Zezere) Figueiró dos Vinhos - Campos
(Aguda), Vidigal Fronteira - Vaz (Cabeço de
Vide)Fundão - Sena Padez (Fatela)Gavião -
Mendes (Belver), Gavião Golegã -
SalgadoGrândola - PabloIdanha-a-Nova -
Andrade (Idanha A Nova)Lagoa - José
MacetaLoulé - Almancil (Almancil), Martins,
Algarve (Quarteira) Loures - Do Prior Velho,
Fátima Lourinhã - Correia Mendes (Moita dos
Ferreiros), Leal (Rio Tinto) Mação -
CatarinoMafra - Barros (Igreja Nova), Falcão (Vila
Franca do Rosário) Marinha Grande -
DuarteMarvão - Roque PintoMértola -
PancadaMonchique - HigyaMonforte -
JardimMontijo - Nova CircularMora - Canelas
Pais (Cabeção), Falcão, Central (Pavia) Moura -
FariaMourão - CentralNazaré - Sousa, Maria
Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa - Ferreira
PintoÓbidos - Vital (Amoreira/Óbidos), Senhora
da Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odivelas - Central
Odivelas, de Caneças (Caneças) Oeiras -
CombatentesOleiros - Martins Gonçalves
(Estreito - Oleiros), Garcia Guerra, Xavier Gomes
(Orvalho-Oleiros) Olhão - PachecoOurém -
VerdascaOurique - Nova (Garvão), Ouriquense
Pedrógão Grande - Baeta RebeloPenamacor -
MeloPeniche - HigiénicaPombal - BarrosPonte
de Sor - Varela DiasPortalegre - Cunha
MirandaPortel - FialhoPortimão - CarvalhoPorto
de Mós - LopesProença-a-Nova - Roda, Daniel
de Matos (Sobreira Formosa) Redondo - Xavier
da CunhaReguengos de Monsaraz -
ModernaRio Maior - CentralSalvaterra de
Magos - Costa (Foros de Salvaterra/Salvaterra
de Magos)Santarém - ConfiançaSantiago do
Cacém - Corte RealSardoal - PassarinhoSerpa -
Serpa JardimSertã - Lima da Silva, Farinha
(Cernache do Bonjardim) Sesimbra - da
CotoviaSetúbal - Avenida, Bonfim Silves -
Algarve, Dias Neves Sines - Atlântico, Monteiro
Telhada (Porto Covo) Sintra - Clotilde Dias, Belas
(Belas), Claro Russo (Mercês) Sobral Monte
Agraço - CostaSousel - Mendes Dordio (Cano),
Andrade Tavira - CentralTomar - Torres
PinheiroTorres Novas - LimaTorres Vedras -
Calquinha (Carvoeiro-Runa)Vendas Novas -
NovaViana do Alentejo - NovaVidigueira -
Pulido Suc.Vila de Rei - Silva DomingosVila
Franca de Xira - Nova Alverca, Central Vila Nova
da Barquinha - Tente (Atalaia), Carvalho (Praia
do Ribatejo), Barquinha Vila Real de Santo
António - CarrilhoVila Velha de Rodão -
PintoVila Viçosa - TorrinhaAlvito -
BaroniaAnsião - Moniz NogueiraChamusca -
Central da Parreira (Parreira)Montemor-o-Novo
- SepúlvedaRedondo - Alentejo
42 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
FICAR
CINEMA
Piranhas - Os Meninos
da Camorra
TVCine Edition, 20h15
Um grupo de adolescentes
aterroriza as ruas de Nápoles, no
Sul de Itália, a mando de um
poderoso chefe da máÆa. Eles
buscam dinheiro fácil e a sensação
de poder que as armas que
empunham lhes dão. Agem como
irmãos e, na sua rebeldia, julgam
estar a fazer justiça. Para eles, o
seu destino está traçado e, dadas
as circunstâncias, esta é a
existência possível. Mas o que os
torna verdadeiramente perigosos é
uma total ausência de medo face
às consequências. De Claudio
Giovannesi, que adapta o romance
Os Meninos da Camorra, de
Roberto Saviano (o jornalista que
vive ameaçado pela máÆa e em
permanente escolta e que também
participa como argumentista), o
Ælme conquistou o Urso de Prata
em Berlim pelo argumento.
Sinónimos
TVCine Edition, 22h
Yoav não é francês, mas quer sê-lo:
chegado de Israel para fugir a um
país que diz “estar condenado”,
procura reinventar-se. Com um
ligeiro sotaque, uma gramática
arcaica e um dicionário no bolso,
vai percorrendo as ruas de Paris
entoando palavras francesas.
Vencedor do Urso de Ouro da 69.ª
edição do Festival de Cinema de
Berlim, um drama autobiográÆco
com assinatura do realizador
israelita Nadav Lapid (O Polícia).
O Vendedor
RTP2, 23h05
O iraniano Asghar Farhadi — que,
em 2011, conquistou a crítica
internacional com Uma Separação,
galardoado com o Óscar de melhor
Ælme estrangeiro — está de volta
com um Ælme vencedor de dois
prémios em Cannes: melhores
argumento e actor (Shahab
Hosseini). O Vendedor gira à volta
de um casal de actores
protagonista de uma produção
local da emblemática peça A Morte
de Um Caixeiro Viajante, escrita
por Arthur Miller em 1949 e
premiada com o Pulitzer. A sua
vida íntima é virada do avesso
quando se mudam para uma casa
que terá pertencido a uma
prostituta.
DOCUMENTÁRIO
Birth of Planet Earth
RTP1, 23h45
O trajecto do planeta Terra, desde
os seus primeiros anos de vida...
Os mais vistos da TV
Sábado, 08
A Máscara
Jornal da Noite
Televisão
Primeiro Jornal
Mental Samurai
Jornal das 8
lazer@publico.pt
FONTE: CAEM
RTP 1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.10
Bem-vindos a Beirais 15.00 A Nossa
Tarde 17.30 Portugal em Directo 19.08
O Preço Certo 19.59 Telejornal 21.00
Joker 22.00 Prós e Contras 23.45 Birth
of Planet Earth 0.45 Unidos ao Clube
1.15 19-2 3.00 O Sábio 3.45 Televendas
RTP 2
7.00 Espaço Zig Zag 10.30 As Mitford:
Uma História de Duas Irmãs 11.20 Irmãs
13.05 Os Daltons 13.20 O Amanhecer
dos Croods 13.40 O Carlos Escolhe
13.55 Folha de Sala 14.00 Sociedade
Civil 15.00 A Fé dos Homens 15.30 E2 -
Escola Superior de Comunicação
Social 16.00 Europa Desconhecida
17.00 Espaço Zig Zag 20.50 Mighty
Mustangs 21.15 Hora da Sorte - Lotaria
Nacional 21.30 Jornal 2 22.06 Folha de
Sala 22.12 Uma Escolha Imperfeita
23.05 O Vendedor 1.10 Premonições
1.55 Sociedade Civil 2.55 Esec-Tv 3.25
Euronews 5.15 A Criação 5.45 Os
Nossos Dias
SIC
6.00 Malucos do Riso 6.30 Edição da
Manhã 9.00 Alô Portugal 10.00 O
Programa da Cristina 13.00 Primeiro
Jornal 14.30 Amor Maior 16.00 Júlia
18.00 Amor à Vida 19.00 Amigos
Improváveis 19.57 Jornal da Noite
21.40 Nazaré 22.15 Terra Brava 23.20 A
Dona do Pedaço 1.45 Amigos
Improváveis 3.10 Televendas 2.30 Em
Nome da Lei
TVI
6.00 1.ª Hora 7.00 Diário da Manhã
10.14 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma
14.45 Belmonte 15.42 Doce Tentação
16.15 A Tarde é Sua 19.13 Ver P’ra Crer
19.57 Jornal das 8 21.45 Na Corda
Bamba 23.00 Prisioneira 0.00 First
Dates, O Primeiro Encontro 1.00 Castle
2.00 Mundo ao Contrário 2.30 Louco
Amor 3.00 Apanha se Puderes 4.00
Saber Amar 4.30 TV Shop
TVCINE TOP
10.20 Bohemian Rhapsody 12.35 Com
Amor, Simon 14.25 Monstros
Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
16.35 Vingança em Manila 18.05
Captain Marvel 20.05 Parque das
% Aud. Share
SIC 10,6 22,0
SIC 8,7 18,4
SIC
TVI
7,7
7,5
23,1
15,6
TVI 7,4 15,6
Maravilhas (VO) 21.30 Alita: Anjo de
Combate 23.30 O Espião Que Me
Tramou 1.25 Teen Spirit - Conquista o
Sonho 2.55 Miss Bala 4.35 Crimes
Sombrios
FOX MOVIES
10.22 Almas em Fúria 12.06 Bala Sem
Destino 13.19 A Morte de um Pistoleiro
14.48 Homem Sem Rumo 16.13
Invasores 17.29 Sob o Signo do Mal
18.48 Jornada de Heróis 20.15 As
Aventuras do Capitão Wyatt 21.51 O
Fugitivo (1955) 23.19 Ulzana, o
Perseguido 1.00 Óscares 2020 2.30
Shalako 4.20 A Velha Raposa
CANAL HOLLYWOOD
9.25 O Gene Rosa 11.00 Sarilhos em
Família 12.40 Moonrise Kingdom 14.15
Ao Ritmo do Hip Hop 2 15.45 Paranóia
(2013) 17.30 Battleship: Batalha Naval
19.35 Homem Demolidor 21.30 Os Três
Duques 23.20 Evereste 1.20 Dos
Homens Sem Lei 3.15 Fiel
Companheiro 5.00 A Teoria de Tudo
AXN
13.45 Mentes Criminosas 14.33 Anjos
e Demónios 16.50 Agentes de Reserva
18.45 Investigação Criminal 21.15 The
Blacklist 22.05 S.W.A.T.: Força de
Intervenção 22.57 Chicago Fire 23.49
Salt 1.35 Resident Evil: Retaliação 3.07
Investigação Criminal 3.52 The Brave
AXN BLACK
13.34 Melhor é Impossível 15.53
Whiplash - Nos Limites 17.41 Rocky V
19.35 Depois da Terra 21.14 Cavalos
Destroçados 22.56 Distrito 9 0.45 L.A.
Confidencial 3.02 Uma Entrevista de
Loucos 4.55 Dreamgirls
AXN WHITE
13.37 O Professor 15.55 Amigos
Coloridos 17.47 O Mentalista 19.17 A
Teoria do Big Bang 21.24 Arrow 22.09
O Grande Ano 23.56 O Dia Antes do
Fim 1.43 Arrow 3.09 The Catch
FOX
9.52 Hawai Força Especial 11.23
Chicago P.D. 14.22 Investigação
Criminal: Los Angeles 15.52 Hawai
Força Especial 17.23 C.S.I. Miami 18.55
RTP1 11,3
RTP2 1,2
SIC 16,3
TVI 13,9
Cabo 41,4
Investigação Criminal: Los Angeles
20.31 Hawai Força Especial 22.15
Deputy 23.05 Hércules - A Lenda
Começa 0.53 C.S.I. Miami 4.29
Investigação Criminal: Los Angeles
FOX LIFE
10.12 Harvest Love 11.39 Anatomia de
Grey 13.08 9-1-1 13.54 Chicago Med
14.39 Frozen in Love 16.08 One Winter
Proposal 17.41 A Wish Come True 19.09
Lei & Ordem: Unidade Especial 20.44
9-1-1 21.31 Chicago Med 22.20 9-1-1:
Lone Star 23.11 Lei & Ordem: Unidade
Especial 0.03 Summer in the Vineyard
1.34 Lei & Ordem: Unidade Especial
3.02 9-1-1 3.46 Chicago Med 4
DISNEY
15.00 A Irmã do Meio 15.49
Acampamento Kikiwaka 16.36 Coop &
Cami 17.25 Phineas e Ferb 17.47 Star
Contra as Forças do Mal 18.35 Os
Green na Cidade Grande 19.20 Gravity
Falls 20.06 Sadie Sparks 20.30
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
20.55 A Raven Voltou 21.43
Acampamento Kikiwaka
DISCOVERY
17.30 A Minha Família Vive no Alasca
19.15 Desmontar a História 21.00
Aventura à Flor da Pele XL 22.55
Aventura à Flor da Pele 0.40 Aventura à
Flor da Pele XL 2.15 Curiosidades da
Terra 3.00 Já Estavas Avisado! 4.30
Negócio Fechado 5.00 Guerra de
Propriedades 5.25 Zoo de Bronx
HISTÓRIA
17.40 O Mistério das Pirâmides 20.07
O Livro Egípcio dos Mortos 21.34 O
Preço da História 1.03 O Inexplicável
2.26 Alienígenas 3.49 O Inexplicável
5.15 A Maldição de Oak Island
ODISSEIA
17.03 Zâmbia Selvagem 17.50 Nova
Zelândia Vista do Céu 18.35 Resgate na
Praia 19.18 Clima Extremo Viral 20.01
Guerreiros do Ar 20.53 Porta-Aviões
em Guerra 21.45 Voos Perigosos 22.30
Guerreiros do Ar 23.21 Porta-Aviões em
Guerra 0.13 Voos Perigosos 0.59
Guerreiros do Ar 1.51 Porta-Aviões em
Guerra 2.42 Clima Extremo Viral 3.26
Supermegacaro 4.11 Resgate na Praia
Como é que se tornou um planeta
vivo? O que nos diz a sua história
sobre possíveis oportunidades de
encontrar outros planetas
semelhantes à Terra?
REALIDADE
Caçadores de Lagostas
Blaze, 22h
Estreia. Os caçadores de lagostas
voltam às aguas mais mortíferas da
Austrália e só dispõem de dez
semanas, até ao Æm da temporada
de Inverno, para apanhar a
lagosta-espinhosa-da-tasmânia.
Com cinco embarcações no mar,
vão arriscar tudo para
conseguirem o marisco mais
apreciado do mundo.
SÉRIES
FBI: Most Wanted
TVCine Action, 22h10
O dia-a-dia de uma divisão do FBI
que se ocupa dos criminosos mais
procurados do mundo (Força de
Intervenção para Fugitivos). Jess
LeCroix e a sua equipa de agentes
de elite localizam um médico em
fuga após um telefonema o ter
registado a matar a mulher com
um tiro. Com Julian McMahon (o
vilão Doom de Quarteto Fantástico)
Uma Escolha Imperfeita
RTP2, 22h12
Estreia de uma mini-série, de
quatro episódios, envolta em
assédio, traição, perseguição e
crime. Quando Yvonne Carmichael
(Emily Watson), uma eminente
geneticista, encontra um
desconhecido (Ben Chaplin)
durante a apresentação de um
trabalho na Câmara dos Comuns,
sente uma atracção tão forte que
momentos depois se envolve numa
tórrida aventura amorosa. Mas
Yvonne está longe de prever a
espiral de desilusões e violência
que se segue e que irá mudar a sua
vida para sempre.
INFANTIL
Parque das Maravilhas (V. Orig.)
TVCine Top, 20h05
Com uma imaginação
transbordante, a pequena June
diverte-se a inventar histórias e
lugares onde todos vivem em paz e
harmonia. Entre as suas criações
mais interessantes está um enorme
parque de diversões cheio de
escorregas, rodas-gigantes, jardins
e animais falantes. Quando, anos
mais tarde, ela se apercebe que o
local está cada vez mais
desorganizado, decide arranjar
forma de o recuperar.
 Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 43

JOGOS

CRUZADAS 10.883 TEMPO PARA HOJE

Horizontais: 1. Metal branco empregado Verticais: 1. Bico metálico que se adapta
na fabricação de talheres, moedas, etc. A à caneta. Elemento de formação de pala-
terceira letra do alfabeto grego. 2. Abalei. vras que exprime a ideia de mais de um.
Dar-se por vencido. 3. Aperto com nó. 2. Descaramento (fam.). Estender ao Viana do Bragança
Asseverar. 4. Órgão das plantas vascula- comprido. 3. Interdito. Interjeição utiliza- Castelo 8º 15º
res de fixação e absorção, normalmente da para chamar a atenção ou para cum- 13º 16º
subterrâneo. Terreno arroteado ou des- primentar. 4. Autoridade Tributária e Braga
bastado em volta das matas para evitar Aduaneira. Indivíduo parvo. Época. 5. 12º 16º Vila Real
comunicação de incêndios. 5. Tecido Serviços Secretos dos EUA. Dentista 10º 15º
14º Porto
grosseiro de lã. 6. Divisão de uma coisa pouco hábil (regional). 6. Carruagem
em duas, e assim sucessivamente. 7. ligeira descoberta e de quatro rodas. 7. 13º 17º
Bocado. Engana-se. 8. Atilho. Quadril. Sucessão de fenómenos sistematica- Viseu
Símbolo do coulomb (Física). 9. Antigo mente reproduzida em períodos regula- 8º 13º Guarda
4m Aveiro
nome da nota musical dó. Impedir que res. Tombar. 8. Administra. Que vai em 5º 12º
um líquido corra. 10. Vassourar o forno, meio. 9. Aceitar. Preposição que indica 13º 18º Penhas
depois de aquecido. Sequência. 11. companhia. 10. Dividir ao meio. Grande Douradas
Matizar. Manobrar os remos. caixa com tampa plana. 11. Planta gramí- Coimbra 4º 13º
nea. Inaugurar. 11º 16º
Castelo
Depois do problema resolvido encontre Branco
o título de uma obra de António Costa Leiria 7º 17º
Santos (2 palavras). 10º 17º

Santarém
Portalegre
Solução do problema anterior: 9º 18º
Horizontais: 1. Modos. Leme. 2. QUE. Fenecer. 3. Ui. Meneio. 4. Canhos. AS. 5. Ota. 8º 15º
Sol. Rn. 6. Esgar. MAIS. 7. Amor. Afonso. 8. Sal. Areal. 9. OS. Ladra. LA. 10. Ião. Ceado. Lisboa
11. Zomba. Ralho. 9º 18º
Verticais: 1. Quão. Aboiz. 2. Mui. Tem. SÃO. 3. OE. CASOS. Om. 4. Ma. Gral. 5. Ofensa.
Laca. 6. Senhora. De. 7. Neol. Farar. 8. LEIS. Morada. 9. Eco. Rane. Ol. 10. Me. Anisal. 11. Setúbal
Eros. Solado. 7º 18º Évora
Provérbio: Mais são os casos que as leis. 7º 18º
AMANHÃ

15º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 10º 17º
7º 19º

Dador: Sul desse naipe a apenas uma. Contudo, a Problema 3m

Vul: Ninguém distribuição 3-1 dos trunfos, para mais
tendo Este três, impossibilita-nos a rea- 9540 Sagres
lização dos dois cortes, pois Este recor- Dificuldade: 9º 20º
Faro
NORTE taria. O que fazer, então? 11º 22º
Ƅ 54 Apesar de a situação parecer desespe-
Fácil
16º
Ɔ AQ64 rante, na realidade o jogo está sobre a 1m
Ƈ QJ98 mesa, seja qual for a colocação do Rei
ƅ Q73 de ouros! A boa linha de jogo: Ás de es-
Açores
padas, Ás e Rei de copas (no qual confir- Corvo
mamos a tal distribuição 3-1 dos trun- Graciosa
Terceira
OESTE ESTE fos), Ás de ouros (!), Ás e Rei de paus, Solução do Flores
S. Jorge 16º 19º
Ƅ KQ1073 Ƅ 92 copa para a Dama e a Dama de paus problema 9538 15º 18º
Ɔ9 Ɔ 1075 onde baldamos o 2 de ouros! Agora res- 17º
Ƈ K1054 17º Pico
Ƈ 763 ta-nos jogar espada e cobrir economi-
ƅ J96 ƅ 108542 camente a carta de Este!
Faial
2,5-3m
Oeste fará a vaza e será forçado a ceder-
-nos uma vaza, quer voltando uma es- 15º 18º
3m S. Miguel
SUL pada, que apurará o nosso Valete (ou o
14º 18º
Ƅ AJ86 8 se na vaza anterior tivermos sido obri- Ponta
Ɔ KJ832 gados a cobrir o 9 ou o 10 com o Valete 17º Delgada
Ƈ A2 e perdido para a Dama de Oeste), quer
2-2,5m
ƅ AK voltando um ouro para a Dama do mor-
to (não importa se Este cobre com o Rei,
Madeira Sta Maria

pois o Valete ficará apurado), que per-

Porto Santo
mitirá uma vaza a ouros e a balda de Problema 15º 19º
uma espada da nossa mão. A última es-
pada será cortada com o último trunfo 9541 19º
Oeste Norte Este Sul
1Ɔ do morto. Dificuldade:
Funchal
1Ƅ 2Ƈ passo 2Ƅ1
Considere o seguinte leilão:
Médio 1m
1,5-2m
passo 3Ɔ passo 5Ɔ2 19º 16º 21º
passo 6Ɔ Todos passam Oeste Norte Este Sul
1Ƈ ?
Sol Lua Quarto Minguante
Leilão: Qualquer forma de Bridge. 1.
Perante um leilão competitivo, o cue-bid Como interviria com a seguinte mão? Nascente 7h34
é a única voz forcing. 2. Josefina: Poente 18h08 15 Fev. 22h17
“Parceiro, estou interessado em chele- ƄKQJ10982 ƆA8 Ƈ3 ƅAJ6 Solução do
me, se houver duas grandes figuras de problema 9539
copas na sua mão” Resposta: Dobre. São 15 pontos, mas
que valem muito mais. Comece por do-
Marés
Carteio: Saída: KƄ. Qual o seu plano de
jogo (Oeste tem um singleton a trunfo)? brar para, de seguida, poder marcar o Leixões Cascais Faro
Solução: Pelo leilão, não deverão restar seu naipe de espadas, definindo, assim,
dúvidas quanto à colocação do Rei de um unicolor forte. Mesmo que os adver-
Preia-mar 03h27 3,8 03h04 3,8 03h13 3,6
ouros: só poderá estar em Oeste. sários pensem em competir a um nível
15h54 3,6 15h30 3,6 15h36 3,5
Afastamos, assim, a hipótese da passa- bastante alto, sendo o seu naipe o nai-
gem e temos de contar com uma per- pe-mestre – espadas – poderá sempre Baixa-mar 09h43 0,3 09h19 0,4 09h12 0,3
dente nesse naipe. explicar a sua mão.
21h54 0,4 21h29 0,5 21h24 0,4
Se os trunfos estivessem 2-2, consegui-
ríamos cortar duas espadas no morto e João Fanha/Pedro Morbey Fonte: www.AccuWeather.com
limitaríamos as nossas três perdentes (bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
44 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020
DESPORTO
Sporting regressa às vitórias
e sobe ao pódio do campeonato
“Leões” estiveram a perder em Alvalade, mas conseguiram dar
a volta ao resultado e chegar ao terceiro lugar da classiÄcação.
Fora e dentro do estádio a contestação a Frederico Varandas
mantém-se e ontem houve mesmo uma manifestação
Sporting
Mathieu 32’, Jadson (p.b.) 72’
2 Crónica de jogo
Portimonense
Jackson Martínez 26’
Jogo no Estádio José Alvalade, em
Lisboa.
Assistência 28.763 espectadores
Sporting Maximiano, Ristovski,
Coates, Neto (Jovane Cabral, 45’),
Mathieu (Doumbia, 77’), Acuña,
Battaglia, Wendel, Camacho (Plata,
60’), Vietto a68’ e Sporar. Treinador
Silas.
Portimonense Gonda, Anzai,
Possignolo, Jadson, Henrique
Custódio, Pedro Sá a30’ (Beto, 78’),
Lucas Fernandes (Fernando, 65’),
Bruno Costa, Dener, Aylton Boa Morte
e Jackson Martínez (Ricardo Vaz Tê,
84’). Treinador Bruno Lopes.
Árbitro Hugo Miguel (AF Lisboa)
Positivo/Negativo
Mathieu
Um grande golo de livre
directo do veterano defesa
central. O francês mostrou
que aos 36 anos continua a
ser uma peça fundamental
na equipa “leonina”.
Gonda
O guarda-redes japonês
salvou a sua equipa de sair
de Alvalade com um
resultado mais desnivelado.
Neto
Muita passividade no golo
de Jackson Martínez.
Acabou substituído no
arranque da segunda
metade, sacrificado pela
mudança do sistema
táctico de Silas.
Primeira parte Sporting
Demonstrou muito pouco
perante um adversário
acessível.
REACÇÕES
Paulo Curado
1 Entre uma manifestação a exigir a “Ainda é cedo, há muito
demissão do presidente Frederico jogo pela frente,
Varandas no exterior do Estádio José
Alvalade e um público frio e descren-
agrada-nos estar em
te nas bancadas, o Sporting conseguiu terceiro, podemos
regressar aos triunfos no campeona-
to ontem, batendo o Portimonense
começar a pensar nos dois
por 2-1. A equipa de Silas esteve em que estão à nossa frente.
desvantagem, mas conseguiu dar a
volta ao resultado e subiu ao terceiro
Chegámos com a equipa
lugar da classiÆcação. em nono, agora estamos
No meio deste clima de constante em terceiro e estamos
instabilidade, os “leões” acabaram
por ser felizes na 20.ª ronda da Liga.
satisfeitos”
Para beneÆciar dos desaires do Sp. Silas
Braga (empate caseiro com o Gil Treinador do Sporting
Vicente a duas bolas) e do Famalicão
(goleado em casa pelo Vitória de Gui-
marães, por 7-0), os lisboetas estavam
obrigados a derrotar a turma algarvia,
“Não viemos aqui jogar
desesperada por pontos para a sobre- para perder, viemos jogar
vivência no primeiro escalão. para ganhar, por isso, não
O silêncio sepulcral nas bancadas
nos minutos iniciais do encontro con- estou preocupado. Poucas
tagiou os jogadores sportinguistas. pessoas conseguem vir a
Entraram tímidos na partida, sem
agressividade, assistindo com passi-
Alvalade e impor o jogo
vidade ao adversário a instalar-se no como nós fizemos. Quando
seu meio-campo.
Com o recém-chegado reforço Spo-
tivemos bola, soubemos
rar a estrear-se a titular na frente ata- ter bola e causámos
cante, a equipa “leonina” demorou dificuldades ao Sporting”
quase metade do jogo a assentar o seu
futebol. Os lances de perigo dos lis- Bruno Lopes
boetas foram escassos no primeiro Treinador do Portimonense
tempo e sempre na sequência de lan-
ces de bola parada.
Um deles acabou por originar um ESTATÍSTICA
golo brilhante ao defesa central
SPORTING PORTIMONENSE
Mathieu, na cobrança de um livre
60,5% posse de bola 39,5%
directo, à passagem da meia-hora. A
20 remates 10
bola entrou com velocidade junto ao
4 remates à baliza 3
poste direito, sem qualquer hipótese
106 disputas de bola 106
de defesa para o guarda-redes japo-
57,5% disputas ganhas 42,5%
nês Gonda. Antes, já um cabeceamen-
30 disputas aéreas 30
to de Battaglia, após um canto, testou
56,7% disputas aéreas ganhas 43,3%
os reÇexos do dono das redes porti-
13 dribles bem sucedidos 5
monenses, logo aos 3’.
18 faltas sofridas 9
Pelo meio, as frias bancadas ainda
2 foras-de-jogo 1
Æcaram mais geladas quando os algar-
3 cantos concedidos 2
vios chegaram à vantagem no marca- Depois de ter ficado em desvantagem, o Sporting voltou aos triunfos ao de
 Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 45
PODCASTS

ANTÓNIO COTRIM/LUSA
dor, na primeira vez que criaram
perigo. Num lance bem desenhado e CLASSIFICAÇÕES
melhor Ænalizado, Dener circulou
com a bola em zona frontal, assistiu I LIGA
o veterano Jackson Martínez e o ex- Jornada 20
avançado do FC Porto fez recordar os Paços Ferreira-Boavista 0-1
Famalicão-V. Guimarães 0-7
melhores momentos da sua carreira. Belenenses SAD-Santa Clara 0-2
Tirou Neto da frente e rematou colo- Sp. Braga-Gil Vicente 2-2
FC Porto-Benfica 3-2
cado à meia-volta, com a bola ainda a
Tondela-Marítimo 0-0
ser desviada pelos dedos de Maximia- Moreirense-V. Setúbal 1-1
no para o ferro, antes de caprichosa- Sporting-Portimonense 2-1
Desp. Aves-Rio Ave 0-4
mente entrar.
J V E D M-S P
Protestos contra Varandas 1. Benfica 20 18 0 2 49-11 54
2. FC Porto 20 16 2 2 44-14 50
O empate ao intervalo não agradava 3. Sporting 20 11 2 7 31-22 35
aos donos da casa, que regressaram 4. Sp. Braga 20 10 4 6 32-23 34
para o segundo tempo com uma alte- 5. Famalicão 20 9 5 6 33-36 32
6. Rio Ave 20 9 5 6 28-20 32
ração. Silas desmontou o seu habitual
sistema de três centrais, fazendo sair
Neto e chamando Jovane para refor-
7. V. Guimarães
8. Boavista
9. Santa Clara
20
20
20
7
7
7
7
7
5
6
6
8
33-22
17-17
16-21
28
28
26
Conversas
çar o ataque. A equipa ganhou mais
equilíbrio e criatividade a partir dos
10. V. Setúbal
11. Tondela
12. Gil Vicente
20
20
20
6
6
5
8
6
8
6
8
7
14-21
18-24
21-26
26
24
23
sobre a
60’ quando Plata rendeu Camacho.
Seis minutos depois, um dos dois
únicos erros defensivos do Portimo-
13. Moreirense
14. Marítimo
20
20 4
5 7
9
8
7
28-29
18-27
22
21 América de
Donald Trump
15. Belenenses SAD 20 5 3 12 16-37 18
nense esteve muito perto de dar golo, 16. Paços de Ferreira 20 4 4 12 12-27 16
17. Portimonense 20 2 8 10 14-29 14
mas Vietto isolado perante Gonda,
18. Desp. Aves 20 4 0 16 21-39 12
acabou por permitir a defesa do seu
adversário.
Próxima jornada V. Setúbal-Gil Vicente,
Santa Clara-Tondela, Portimonense-Moreirense,
Um programa
de Alexandre Para tornar
os podcasts
Mas aos 72’ o guarda-redes dos Benfica-Sp. Braga, Rio Ave- Sporting,
Marítimo-Paços Ferreira, V. Guimarães-FC Porto,
algarvios seria impotente para evitar Boavista-Belenenses SAD, Famalicão-Desp. Aves Martins
o autogolo de Jadson. Após um cru-
zamento de Acuña e um cabeceamen-
to de Jovane, o defesa brasileiro foi
II LIGA
Jornada 20 grandes
outra vez
Mafra-Nacional 1-1
infeliz na tentativa de corte. Ac. Viseu-Feirense 0-1
Cova Piedade-Penafiel 2-2
O mais difícil estava feito, com o Leixões-Varzim 1-0
Sporting a passar para a frente do Oliveirense-Benfica B 5-0
marcador. O Portimonense teve de Vilafranquense-Sp. Covilhã 1-0
Desp. Chaves-Académica 1-2
arriscar mais, mas também abriu FC Porto B-Farense 1-1
espaço na sua retaguarda, aproveita- Estoril-Casa Pia 4-1
do pelos “leões” para criarem muito
J V E D M-S P
perigo em várias transições ofensivas. 1. Nacional 20 11 7 2 26-13 40
O terceiro golo rondou a baliza do 2. Farense 20 12 2 6 25-19 38
Portimonense, mas Gonda e o poste 3. Mafra 20 9 8 3 31-21 35
(Wendel, aos 89’) acabaram por evitar 4. Estoril 20 11 1 8 31-21 34
5. Académica 20 9 4 7 31-24 31
um resultado mais desnivelado. 6. Sp. Covilhã 20 9 4 7 28-22 31
O público saiu de Alvalade menos 7. Feirense 20 7 9 4 22-17 30
tenso, mas a contestação a Frederico 8. Leixões 20 7 7 6 21-20 28
Varandas está para durar. Pouco antes 9. Desp. Chaves 20 8 3 9 22-23 27

do início da partida, a demissão do

10. Ac. Viseu
11. Varzim
20 7
20 7
6 7 17-20
6 7 24-28
27
27
Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
presidente foi exigida por cerca de 12. Penafiel 20 6 8 6 22-19 26
três mil adeptos, concentrados no 13. Oliveirense 20 7 4 9 30-25 25 1 | Abra a sua app de podcasts
exterior do estádio. Uma manifesta- 14. FC Porto B 20 6 7 7 28-29 25 IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
14. Benfica B 20 6 6 8 27-30 24 Android: Descarregue uma app na Playstore;
ção organizada que cresceu após o
16. Vilafranquense 20 5 6 9 23-33 21
Ænal do derby com o BenÆca em futsal Computador: No site em publico.pt/podcasts
17. Cova da Piedade 20 3 4 13 16-36 13
(2-0 para os “leões”), quando muitos 18. Casa Pia 20 2 4 14 16-40 10 2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
elementos das claques se juntaram Próxima jornada Académica-Mafra,
Varzim-Estoril, Nacional-Vilafranquense, 3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
aos insatisfeitos. Protestos que se
Feirense-Leixões, Casa Pia-FC Porto B,
transformaram em agressões ao vogal Benfica B-Cova Piedade, Sp. Covilhã-Ac. Viseu,
da direcção Miguel Afonso e sua Ælha, Farense-Oliveirense, Penafiel-Desp. Chaves
e tentativas de agressão ao vice-pre- Disponível no

sidente Filipe Osório Castro. MELHORES MARCADORES

I Liga 14 golos Vinícius (Benfica)
errotar no seu estádio o Portimonense pcurado@publico.pt
46 • Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020

DESPORTO

Inter roubou a coroa de Ibrahimovic

e igualou a Juventus na liderança
Com um golo e uma assistência do sueco, o AC Milan esteve a vencer o derby de Milão por 2-0, mas os
“nerazzurri” deram a volta em 39 minutos. Em Espanha, Real e Barcelona mantêm três pontos de diferença
DANIELE MASCOLO/REUTERS
Em Espanha, Real Madrid e Barce-
Futebol internacional lona reagiram bem ao afastamento a
David Andrade meio da semana da Taça do Rei, mas
os catalães ainda passaram um mau
Durante 45 minutos, Zlatan Ibrahimo- bocado na Andaluzia. Ao contrário
vic pareceu condenado, mais uma dos “merengues”, que golearam em
vez, a assumir o papel de rei de Milão, Pamplona o Osasuna (4-1), o Barcelo-
mas a história do regresso do sueco na esteve por duas vezes em desvan-
aos derbies milaneses não teve um tagem em Sevilha frente ao Betis, mas
Ænal feliz. Com um golo e uma assis- um golo do francês Clement Lenglet,
tência de Ibrahimovic, o AC Milan a 18 minutos do Æm, assegurou os três
teve dois golos de vantagem sobre o pontos aos campeões espanhóis.
rival, mas quatro golos do Inter nos A atravessar um mau momento
últimos 39 minutos colocam a equipa (duas derrotas consecutivas), Pep
de Antonio Conte no topo da Serie A, Guardiola teve uma folga inesperada.
a par da Juventus. Em Espanha, o Bar- Devido à tempestade Ciara, que está
celona sofreu em Sevilha, contra o a fustigar o norte da Europa, o Man-
Betis, mas mantém os três pontos de chester City-West Ham foi adiado,
atraso para o Real Madrid, que não pelo que ontem apenas se realizou
teve problemas em Pamplona. um jogo da 26.ª jornada da Premier
Poucas semanas antes de ser anun- League: em Sheêeld, o United refor-
ciado o seu regresso ao AC Milan, çou o estatuto de equipa-sensação. O
Ibrahimovic deu uma entrevista na Bournemouth ainda esteve a vencer
qual disse que Milão era a sua “segun- no Bramall Lane, mas o clube anÆ#
da casa”, da qual tinha “memórias trião deu a volta com golos de Billy
maravilhosas". Porém, na segunda Sharp e John Lundstram, garantindo
passagem pelos “rossoneri”, o sueco a subida ao 5.º lugar, com mais dois
não guardará boas recordações do Lukaku, autor do último golo do Inter de Milão, tenta dominar a bola perante a pressão de um adversário pontos do que o Tottenham de Mou-
primeiro derby. rinho.
Com Rafael Leão no banco — entrou Os estragos provocados pela Ciara
aos 80’ —, o duelo entre rivais come-
çou tenso e com cautelas, mas o génio
CLASSIFICAÇÕES estenderam-se também à Bundesliga,
onde o Borussia M’gladbach-Colónia
de “Ibracadabra” serviu de gatilho ESPANHA FRANÇA ALEMANHA foi adiado, mas em Munique houve
para um dos melhores jogos da época Jornada 23 Jornada 24 Jornada 21 um duelo pela liderança, que defrau-
Alavés-Eibar 2-1 Angers-Lille 0-2 Eintracht Frankfurt-Augsburgo 5-0
na Serie A. O sueco assistiu Rebic aos Levante-Leganés 2-0 Marselha-Toulouse 1-0 Schalke 04-Paderborn 1-1
dou as expectativas: com o domínio
40’ e marcou aos 45’, mas a reacção Getafe-Valência 3-0 Amiens-Mónaco 1-2 Werder Bremen-União Berlim 0-2 repartido (começou melhor o Bayern,
do Inter foi mordaz. Aos 53’ (golos de Valladolid-Villarreal 1-1 Rennes-Brest 0-0 Hertha Berlim-Mainz 1-3 acabou por cima o RB Leipzig), nin-
Atlético de Madrid-Granada 1-0 Nice-Nimes 1-3 Wolfsburgo-F. Dusseldorf 1-1
Brozovic e Vecino) os “nerazzurri” já Espanyol-Maiorca 1-0 Metz-Bordéus 1-2 Friburgo-Hoffenheim 1-0 guém marcou golos na Allianz Arena.
tinham restabelecido o empate e a Real Sociedad-Athletic Bilbau 2-1 Dijon-Nantes 3-3 B. Leverkusen-Borussia Dortmund 4-3 Com o nulo, o Bayern mantém a lide-
Osasuna-Real Madrid 1-4 Montpellier-Saint-Etiénne 1-0 Borussia M’glabach-Colónia adiado
reviravolta da equipa de Conte Æcou Celta de Vigo-Sevilha 2-1 Estrasburgo-Reims 3-0 Bayern Munique-RB Leipzig 0-0
rança, com um ponto de vantagem
consuma com mais dois golos: Vrij Betis-Barcelona 2-3 PSG-Lyon 4-2 sobre o Leipzig.
(70’) e Lukaku (90’+3’). J V E D M-S P J V E D G P J V E D M-S P Na Grécia, a luta portuguesa pelo
Tal como o Inter, a Lazio também 1. Real Madrid 23 15 7 1 44-14 52 1. PSG 24 20 1 3 63-17 61 1. Bayern Munique 21 13 4 4 58-23 43 título teve mais um capítulo, com
aproveitou o deslize na véspera da 2. Barcelona 23 15 4 4 55-28 49 2. Marselha 24 14 7 3 33-21 49 2. RB Leipzig 21 12 6 3 53-25 42 mais uma vitória para Olympiacos e
3. Getafe 23 12 6 5 35-20 42 3. Rennes 24 12 5 7 29-22 41 3. Borussia Dortmund 21 11 6 4 59-32 39
Juventus e intrometeu-se entre as 4. Atlético de Madrid 23 10 9 4 23-15 39 4. Lille 24 12 4 8 29-25 40 4. Borussia M’gladbach20 12 3 5 38-23 39
PAOK. A equipa do Pireu, comandada
equipas de Milão e de Turim. No 5. Sevilha 23 11 6 6 29-23 39 5. Montpellier 24 10 7 7 32-27 37 5. Bayer Leverkusen 21 11 4 6 35-27 37 por Pedro Martins, tinha a missão
Ennio Tardini, casa do Parma de Bru- 6. Real Sociedad 23 11 4 8 39-31 37 6. Estrasburgo 24 11 3 10 31-28 36 6. Schalke 04 21 9 8 4 32-27 35 mais complicada, mas mesmo tendo
no Alves, um golo do ex-sportinguista 7. Valência 23 10 7 6 33-32 37 7. Mónaco 24 10 5 9 40-40 35 7. Hoffenheim 21 10 3 8 31-32 33 jogado desde o minuto 73 reduzida a
8. Villarreal 23 10 5 8 40-31 35 8. Bordéus 24 9 7 8 33-26 34 8. Friburgo 21 9 5 7 30-30 32
Caicedo no Ænal da primeira parte 9. Lyon 24 9 6 9 37-25 33
dez jogadores, derrotou o Atromitos,
9. Athletic Bilbau 23 7 10 6 23-19 31 9. Eintracht Frankfurt 21 8 4 9 37-31 28
bastou para a Lazio conquistar os três 10. Granada 23 9 3 11 27-30 30 10. Reims 24 8 9 7 22-19 33 10. Wolfsburgo 21 7 7 7 25-26 28 com um golo nos descontos de Has-
pontos e colar-se à líder Juventus. 11. Levante 23 9 2 12 29-34 29 11. Nice 24 9 6 9 34-34 33 11. União Berlim 21 8 2 11 25-32 26 san, egípcio emprestado pelo Sp.
Sem solução à vista parece estar o 12. Osasuna 23 6 10 7 30-32 28 12. Nantes 24 10 3 11 25-27 33 12. Augsburgo 21 7 5 9 33-44 26 Braga. Bem mais tranquila foi a tarde
13. Betis 23 7 7 9 32-37 28 13. Brest 24 7 9 8 29-31 30 13. Colónia 20 7 2 11 27-38 23
Nápoles. Após duas prometedoras de Abel Ferreira: em Salónica, o PAOK
14. Alavés 23 7 6 10 25-33 27 14. Angers 24 8 6 10 24-32 30 14. Hertha Berlim 21 6 5 10 25-37 23
vitórias na Serie A, frente à Juventus 15. Valladolid 23 5 11 7 19-25 26 15. Saint-Étienne 24 8 4 12 25-38 28 15. Mainz 21 7 0 14 31-48 21
goleou o OFI, por 4-0. Com estes
e Sampdória, a equipa de Gattuso 16. Eibar 23 6 6 11 22-32 24 16. Metz 24 6 9 9 24-32 27 16. Fortuna Dusseldorf 21 4 5 12 20-42 17 triunfos, as duas equipas continuam
regressou aos maus resultados (der- 17. Celta de Vigo 23 4 8 11 19-32 20 17. Dijon 24 6 7 11 22-29 25 17. Werder Bremen 21 4 5 12 25-48 17 separadas por dois pontos, com van-
18. Maiorca 23 5 3 15 22-39 18 18. Nimes 24 6 6 12 24-37 24 18. Paderborn 21 4 4 13 26-45 16
rota em casa frente ao Lecce, por 3-2) tagem para Pedro Martins.
19. Leganés 23 4 6 13 18-36 18 19. Amiens 24 4 8 12 25-43 20
e já está a 12 pontos dos lugares que 20. Espanyol 23 4 6 13 19-40 18 20. Toulouse 24 3 4 17 21-49 13
dão acesso à Liga dos Campeões. dandrade@publico.pt
 Público • Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020 • 47

DESPORTO

Patríci Mamona alcançou a segunda

Patrícia
melhor marca mundial do ano no
melho
triplo-salto em pista coberta,
triplo-
registando 14,22m, em Pombal
regista

Breves
Motociclismo Futebol
Miguel Oliveira acaba Judo Nove anos depois, Riner perdeu um combate Benfica quer árbitros
testes de MotoGP estrangeiros nos seus
CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

entre os mais velozes jogos e nos do FC Porto

Miguel Oliveira terminou ontem O Benfica reagiu ontem à
o terceiro e último dia dos arbitragem de Artur Soares Dias
primeiros testes oficiais de no jogo contra o FC Porto,
pré-temporada de MotoGP na queixando-se de vários lances
11.ª posição, cumprindo uma e de dualidade de critérios por
volta à pista em 1m58,764s, a parte do árbitro. Na opinião dos
apenas quatro décimos de “encarnados” a “verdade
segundo do mais rápido do dia, desportiva foi claramente
o francês Fabio Quartararo desvirtuada”, elencando no
(Yamaha). Há um ano, o texto publicado no site oficial
português estava a 1,710s do clube vários lances em que
do piloto mais rápido acreditam terem sido
dos testes de Sepang. prejudicados e pedindo para
que sejam nomeados árbitros
internacionais para os
Râguebi encontros que os dois clubes
França reparte com vão disputar até ao final da
época. Os benfiquistas
a Irlanda a liderança lamentam ainda “as constantes
no Seis Nações insinuações, ameaças,
coacções, pressões e suspeitas
Um dia depois da Irlanda bater sobre as equipas de arbitragem”
o País de Gales (24-12) e de a lançadas por “diversos
Inglaterra vencer na Escócia responsáveis do FC Porto”.
(13-6), a França derrotou a Itália.
No Stade de France, os gauleses
chegaram ao intervalo com 13
pontos de vantagem (23-10) e
controlaram o resultado nos
últimos 40 minutos, vencendo
por 35-22. Cumprida a 2.ª
jornada do Torneio das Seis
Nações, franceses e irlandeses
são os únicos 100% vitoriosos.

Futsal Andebol
Sporting vence derby “Águias” entram
e sobe à liderança do a ganhar na Taça EHF
campeonato e lideram Grupo A
O Sporting derrotou ontem o O Benfica entrou da melhor
Benfica, por 2-0, em partida da maneira na fase de grupos da
17.ª jornada do Campeonato Taça EHF, ao vencer ontem o
Nacional de futsal. Um derby Bjerringbro-Silkeborg por 33-24.
disputado no Pavilhão João O melhor marcador das “águias”
Rocha e ganho graças aos golos foi Petar Djordjic, com 11 golos
de Taynan e Pauleta, no em 20 remates. Belone Moreira
decorrer da primeira parte. Os também esteve em destaque, ao
“leões” impuseram a primeira apontar seis golos pelas águias.
derrota da época no O judoca francês Teddy Riner japonês Kokoro Kageura na derrotado pela última vez em 13 Com este resultado, a formação
campeonato ao rival e saltam sofreu ontem a primeira derrota terceira ronda de +100kg do de Setembro de 2010, também liderada por Carlos Resende
para a liderança da prova, com após mais de nove anos de Grand Slam de Paris. Riner, por um judoca japonês, Daiki segue na frente do Grupo A,
46 pontos, contra 44 do invencibilidade e 154 combates bicampeão olímpico e 10 vezes Kamikawa, na Ænal dos Mundiais juntamente com o Melsungen,
Benfica. disputados, ao perder com o campeão mundial, tinha sido de Tóquio. que vai receber a 15 de Fevereiro.
Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

CONSOANTE MUDA

Ana Gomes e o paradoxo das presidenciais

extrema-direita as usasse para República é uma coisa que ela visão sobre o seu modelo de
conquistar mais espaço político em genuinamente não quer, e pelas desenvolvimento e a forma de
Portugal. E o segundo mandato de melhores razões que mencionei preservar e reforçar o seu estado
Marcelo Rebelo de Sousa já é de tal acima de querer preservar a sua social.
forma dado como adquirido que é liberdade para fazer o que faz bem. Ana Gomes seria excelente em
mesmo possível que a principal Mas é aí que o paradoxo destas pelo menos um desses temas e
Rui Tavares

A
s próximas eleições
presidenciais são um
paradoxo: ao mesmo
tempo parecem já
decididas e escondem
perigos importantes. Por
um lado, serão as da muitíssimo
provável reeleição de um
presidente popular e que tem feito
um mandato avaliado como
positivo pela maioria da
população. Por outro lado, essa é
uma situação que cria uma certa
desmobilização, e é aí que
espreitam os perigos. O facto de já
se ter apresentado como candidato
presidencial o líder da
extrema-direita recém-chegada ao
parlamento não deve ser
menorizado. Umas eleições
presidenciais que fossem um
passeio para Marcelo, ao mesmo
tempo que abrissem caminho a um
resultado fortuitamente
inÇacionado do candidato da
extrema-direita, seriam perigosas
para o país. Não por quem viesse a
ocupar o Palácio de Belém —
porque o risco não estaria aí — mas
antes pela possibilidade de que a
mensagem a retirar das
presidenciais seja não o resultado
de Marcelo mas o dos outros
candidatos, em particular o de
extrema-direita.
Também por tudo o que Æca
dito, as condições destas eleições —
que decorrerão daqui a menos de
um ano — fazem com que haja
menos espaço para candidaturas
com ambições reais de vir a exercer
o cargo, como a de António
Sampaio da Nóvoa, que apoiei nas
eleições passadas e que gostaria
muito de ver no futuro chegar à
Presidência da República. Sendo
assim, Æcaríamos apenas reduzidos
às candidaturas rotineiras de
partidos como o PCP e o BE, para
além da de Marcelo e da do líder da
extrema-direita. Não chega para
afastar os perigos.
É nesse contexto que se tem
falado cada vez mais de uma
possível candidatura de Ana
Gomes à Presidência da República.
A verdade é que Ana Gomes faz
bem o que está a fazer, com a
máxima liberdade possível:
denuncia a evasão Æscal e a
lavagem de dinheiro, a corrupção
nacional e transnacional, as
injustiças da globalização e a
degradação das democracias e dos
estados de direito na Europa e no
resto do mundo. Ana Gomes é das
poucas pessoas que têm uma visão
de conjunto destes temas e um
discurso articulado sobre eles que,
sendo aÆrmativo, é acima de tudo
cívico e democrático. Além disso,
Ana Gomes é Ærmemente de
esquerda, numas eleições em que o
centro-esquerda parece preferir não
ir a jogo, e convictamente europeísta
sem ingenuidades, numas eleições
em que os candidatos dos partidos
da esquerda eurocética não deixarão
certamente de picar o ponto. À
esquerda europeísta não deve deixar
de ter representação.
Sou amigo e admirador de Ana
Gomes, e sei que ser Presidente da
presidenciais pode apresentar muito boa nos outros dois.
possibilidades onde antes Conseguiria remeter o candidato
apresentava perigos. Com toda a da extrema-direita à sua Ægura de
probabilidade, estas não serão repetidor de banalidades
umas eleições para demagógicas, teria mais rasgo do
verdadeiramente ganhar a que os candidatos da rotina
presidência. Estas serão eleições partidária, e conseguiria também
para marcar os temas de futuro que Marcelo Rebelo de Sousa se
para o país. Isso é o que de mais esforçasse mais para um melhor
positivo se poderá retirar delas. segundo mandato. Por todas estas
Vejo apenas três grandes grupos razões, seria excelente que Ana
de temas inter-relacionados que Gomes considerasse a sério a
valeria a pena trazer para umas hipótese de uma candidatura.
eleições com as características Nada desdoura mais a
especiais que têm as presidenciais. democracia do que eleições sem
Por um lado, os temas da crise verdadeiro conteúdo nem
ecológica e da necessidade de lhe verdadeira competição. A pouco
fazer frente, como forma de tempo de a nossa democracia
mobilizar mais as consciências completar cinquenta anos,
para as políticas de que Portugal precisa de fazer o seu
necessitaremos na próxima Grande Debate Nacional antes —
década. Em segundo lugar, os e não depois — de ter uma grande
temas da crise de representação crise como a que estão a viver
democrática e da falta de conÆança alguns dos nossos parceiros
na política, a merecerem um europeus. As próximas eleições
tratamento sério quando muitas presidenciais serão uma excelente
vezes só encontram respostas ocasião, que convém não
populistas. E em terceiro lugar — e desperdiçar, para lançar esse
provavelmente mais importante no debate. Seja como for, é bom
contexto das próximas começar a levá-las a sério.
presidenciais — a necessidade
urgente de Portugal recuperar uma Historiador

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